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Buco II – Aula 11 – 24/11/16 Fraturas do Complexo Zigomático-Orbitário Nós temos os pilares verticais anterior, médio e posterior que montam a estrutura facial e podem ser chamados de contrafortes faciais. A órbita está situada entre o rebordo orbitário superior, inferior, medial e lateral e estes são considerados contrafortes faciais. A órbita é formada pelos ossos frontal, zigomático, maxilar, etmoidal, esfenoide, lacrimal e palatino. Parede superior (teto) frontal e asa menor do esfenoide; Parede medial processo frontal da maxila, lâmina orbitária do etmoide, esfenoide e lacrimal; Assoalho da órbita maxila, zigomático e processo orbitário do osso palatino; Parede lateral processo frontal do zigomático e asa maior do esfenoide. A órbita é um cone onde se tem uma abertura delimitada pelo rebordo orbitário inferior, superior, medial e lateral. O teto da órbita também é o assoalho do seio frontal e o assoalho da órbita é o teto do seio maxilar. A parede medial é um ponto de contato com a fossa nasal/abertura piriforme. A parede lateral da órbita é o osso mais espesso. O fundo da órbita é aberto por onde passa o nervo óptico e outras estruturas importantes. O globo ocular está dentro da órbita, não é apoiado no assoalho de órbita e sim suspenso a partir dos ligamentos suspensórios medial e lateral. Além disso, é composto pela musculatura extrínseca do globo ocular que são responsáveis pelos movimentos do mesmo. O conteúdo orbitário é feito de gordura e é muito importante pois ele que mantêm o globo ocular “para fora”, na posição correta. Se esse conteúdo for perdido, o paciente não terá nenhum prejuízo na visão, porém ele apresentará enoftalmia (“o globo fica mais fundo”). As lâminas papiráceas compõem o assoalho e a parede medial da órbita. Essas são compostas pela lâmina perpendicular e horizontal do osso palatino. Elas são responsáveis por separar a órbita do seio maxilar e da fossa nasal. Por serem muito finas, com uma simples pressão no globo, essas lâminas se rompem e, geralmente, são os locais mais comuns da fratura de órbita. A musculatura facial da órbita é composta pelos músculos frontal, orbicular do olho, corrugador do supercílio e elevador da pálpebra superior. A musculatura extrínseca da órbita é composta pelos músculos reto superior, reto inferior, reto lateral, reto medial superior oblíquo e inferior oblíquo. Essa musculatura pode ficar encarcerada limitando o movimento do globo ocular, isso é conhecido como oftalmoplegia. A oftalmoplegia pode ser a partir de um fator mecânico ou por lesão do SNC. Para o paciente olhar para cima ele precisa contrair o músculo reto superior e relaxar o reto inferior; se, por algum acaso tiver um pedaço de osso prendendo o reto inferior, o paciente não conseguirá movimentar o globo ocular para cima. Isso pode ocorrer em todos os sentidos só que o mais comum de ocorrer é no movimento de olhar para cima, também chamado de oftalmoplegia a supraversão. A lágrima serve para fazer a lubrificação da córnea e é produzida pela glândula lacrimal. Na porção medial da órbita são encontrados ductos lacrimais que são responsáveis por drenar a lágrima até o saco lacrimal. Este, por sua vez, é comunicado no tubo nasolacrimal com a fossa nasal. Em uma fratura de maxila, órbita ou NOE pode ter o estrangulamento do ducto lacrimal, interrompendo a via de drenagem da lágrima. A etiologia das fraturas orbitárias são os acidentes esportivos, acidentes automobilísticos, agressão física e quedas, tiro e etc. O osso zigomático (malar) é muito importante uma vez que ele está associado diretamente a estética facial, é ele que faz a “maçã do rosto”. Ele se articula com quatro ossos dando origem a crista zigomático-maxilar, crista zigomático-frontal, crista zigomático-temporal e asa maior do esfenoide. O corpo do zigomático é uma estrutura muito resistente/dura então, quando se tem um impacto nessa região, o local de fratura é, normalmente, nas articulações. Dessa forma, o zigomático pode girar para dentro, para fora ou afunda. Em qualquer deslocamento, afetará bastante a estética do paciente. A fratura de arco zigomático é a única do complexo zigomático-orbitário que não tem relação com a órbita. Esse osso se insere no zigomático e no temporal. O principal dano – além do estético – que a fratura de arco zigomático pode dar ao paciente é a limitação de abertura de boca uma vez que dentro dele corre o processo coronóide. OBS: A área de maior projeção que temos no terço médio da face é a projeção do corpo do zigomático. Fratura Blow-out É a fratura isolada da lâmina papirácea do assoalho de órbita e/ou parede medial, com herniamento do conteúdo orbitário para dentro do seio maxilar. Não possui fratura do rebordo orbitário inferior; é uma fratura exclusiva do assoalho e/ou parede medial de órbita. Em uma fratura blow-out os conteúdos da órbita vão para dentro do seio maxilar; o tecido gorduroso fica “pendurado” no seio maxilar formando uma gota. O achado radiográfico desta condição chama-se “sinal de gota pendente”. Quando fratura o assoalho de órbita o globo ocular não “cai” pois ele é suspenso pelos ligamentos suspensórios medial e lateral. O herniamento para dentro do seio maxilar promove a diminuição do conteúdo orbitário, ou seja, o globo ocular recua um pouco ficando mais fundo que o outro (enoftalmia). Fratura Blow-in É a fratura isolada do assoalho orbitário, sem herniamento do conteúdo para dentro do seio maxilar, ocasionando uma proptose ocular. Não é uma fratura muito comum. A avaliação clínica do paciente incluirá a inspeção do complexo naso-orbital, complexo zigomático, maxila e processo alveolar. Normalmente, o impacto em região orbitária irá gerar um edema de pálpebra fazendo com que o paciente não consiga abrir o olho, atrapalhando a avaliação clínica (palpação). Os sinais e sintomas que podemos observar nos pacientes com fratura do complexo zigomático-orbitário são: Assimetria facial; Hematomas; Edema; Equimose do sulco gengivo-labial; Hemorragia subconjuntival; Parestesia do nervo infra-orbitário; Rinorragia unilateral acontece do lado da fratura; Enfisema subcutâneo; Limitação de abertura de boca; Diplopia binocular visão dupla; Hipoftalmia um globo ocular está mais baixo que o outro; Enoftalmia; Exoftalmia; Amaurose (isquemia); Oftalmoplegia. O hematoma tende a descer da região acometida pelo impacto por conta da gravidade. Nos primeiros dias ele possui coloração roxa – devido ao acúmulo de sangue na região –, depois fica amarronzado, esverdeado, amarelado (está sendo absorvido pelo organismo e, por isso, a coloração vai clareando) e some. Em uma fratura que ocorra próxima a algum nervo é possível ocorrer o estiramento, compressão, laceração ou rompimento do nervo e isso evoluirá para parestesia. A rinorragia – saída de sangue pelo nariz – ocorre, pois, o seio maxilar é preenchido de sangue e, na parte superior do seio maxilar tem o óstio que comunica o seio maxilar com a fossa nasal. OBS: Rinorragia ≠ Rinorréia ≠ Epistaxe Saída de sangue pelo nariz; saída de uma secreção pelo nariz; sangramento pelo nariz espontânea. O enfisema subcutâneo é quando se tem uma fratura do osso zigomático e fratura a parede anterior do seio maxilar. Dessa forma, o ar que está dentro do seio maxilar pode sair e ficar aprisionado no tecido subcutâneo. Quando pressiona a região, você sente borbulhar. A limitação de abertura de boca pode ser por miosite traumática pois o músculo que se insere na região entra em espasmo (ex.: fratura de osso zigomático acometerá os músculos masseter e temporal) gerando uma inflamação do músculo. Além disso, pode acontecer por aprisionamento, ou seja, quando tem uma fratura com deslocamento do arco zigomático impedirá a apófise coronóide de correr normalmente por dentro do arco zigomático. A hipoftalmia, que ocorre nas fraturas do osso zigomático, é ocasionada porque quando o zigomático “cai” – devido a fratura – ele leva consigo o ligamento suspensório. Sendoassim, os globos oculares estarão desnivelados. Pode causar diplopia. Quando se tem a distopia/diplopia monocular o paciente está diante de um quadro de descolamento de retina ou luxação do cristalino. Quando a distopia/diplopia é binocular e, se fecha um olho o paciente enxerga normalmente, ele está diante de um quadro de desnivelamento pupilar. A enoftalmia é quando o olho está mais “fundo” que o outro. Pode ocorrer por perda do conteúdo orbitário ou por uma fratura que aumenta o volume da órbita. Quando ocorre por uma fratura, o tratamento consiste em redução da fratura e isso fará com que o paciente volte a enxergar normalmente. A grande questão da enoftalmia é que ela pode ocorrer no pós-operatório devido a lipólise da gordura que compõe o conteúdo orbitário e é muito difícil de ser tratada. OBS: sempre que houver hematoma/edema retrobulbar ele deverá ser drenado para evitar que o aumento de pressão na cavidade orbitária leve a lipólise dessa gordura. Quando se tem uma quebra da relação normal entre o conteúdo orbitário e o tamanho da órbita podemos encontrar casos de enoftalmia ou exoftalmia (olho está para fora). Ambas podem provocar diplopia. Para o paciente apresentar exoftalmia ele deverá ter um edema retrobulbar muito grande ou então uma diminuição do volume da órbita (a órbita foi fraturada e ficou menor). Amaurose não tem uma causa específica (idiopática ou pós-traumática). Ela é uma cegueira lenta e progressiva provocada por algum tipo de isquemia no nervo óptico. Oftalmoplegia ocorre devido ao encarceramento da musculatura extrínseca do globo ocular – 99% das vezes ocorre o encarceramento do músculo reto inferior. Quando vamos avaliar um paciente com suspeita de fratura de órbita ou do complexo zigomático-orbitário vamos avaliar a função da musculatura extrínseca do globo ocular a partir do diagrama de Hering. Pede-se para o paciente olhar para a esquerda, direita, para baixo e para cima; se ele conseguir fazer todos os movimentos pode-se afirmar que não há encarceramento dessa musculatura. O diagnóstico se dá a partir da anamnese, exame clínico que inclui a palpação e a comparação do lado traumatizado com o lado oposto, exames por imagem (TC, Rx convencional – PA mentonaso, PA mentonaso modificada e Hirtz para arco zigomático). Sempre que houver uma assimetria facial devemos perguntar ao paciente como era antes do trauma, isso faz com que não seja feito um diagnóstico errado. Quando o paciente tem uma fratura de arco zigomático isolada ele apresentará essa região afundada. O tratamento consiste em fazer uma pequena incisão na pele do paciente na região afetada, entra com um gancho por trás do arco zigomático e traciona para o lugar correto. Avaliação radiográfica: Panorâmica não serve para visualização de fraturas do complexo zigomático-orbitário; Perfil para ossos nasais; PA dos seios paranasais (Waters/ PA mentonaso) avalia a sutura zigomático-frontal, rebordo orbitário superior e inferior, abertura piriforme e a crista zigomático-maxilar; PA de crânio (PA frontonaso) rebordo orbitário inferior, crista zigomático-maxilar. Submentovértex (Axial de Hirtz) arco zigomático; TC. Quando devemos operar?! Fraturas orbitais com encarceramento do tecido periorbital; Diplopia binocular; Encarceramento da musculatura extrínseca do globo ocular; Enoftalmo igual ou maior que 2 mm, com 2 semanas pós-trauma; Fraturas que envolvam mais de 25% do assoalho orbital; Assimetria facial. O acesso cirúrgico para o tratamento de fratura do osso zigomático é na sutura frontozigomática – incisa com o bisturi na pele até o periósteo, não apresenta nenhuma estrutura importante na região – e na crista zigomático-maxilar. O acesso cirúrgico para o tratamento das fraturas orbitárias são: Subpalpebral risco maior de cicatriz, acesso mais amplo, menor risco de gerar hematoma, menor risco de necrose tecidual, maior risco de causar ectrópio (pálpebra fica virada para o lado de fora); Subtarsal o acesso ao campo operatório é médio e é mais estético que o acesso subpalpebral; Transconjuntival não há cicatriz, baixo risco de ectrópio, acesso mais restrito e difícil, o fechamento requer cuidado, risco de entrópio (inversão da pálpebra – fica virada para o lado de dentro). Dacriocistite É a inflamação do saco lacrimal. Ocorre quando se tem uma obstrução do ducto do saco nasolacrimal, acumula lágrima no saco lacrimal e, uma vez envelhecida, ela endurece e contamina a região. Dessa maneira haverá saída de secreção purulenta por esses ductos o que gerará uma infecção geral na conjuntiva. O tratamento é a partir da dacriocistorinostomia que é a recanalização do ducto nasolacrimal para a fossa nasal (devemos reestabelecer a drenagem das lágrimas). As complicações pós-operatórias do complexo zigomático-orbitário são: Diplopia; Amaurose; Lesão do nervo infra-orbitário pode ser reversível dependendo da extensão da lesão; Lesão das pálpebras; Lesão do aparelho lacrimal, dacriocistite; Hemorragia; Enoftalmo; Exoftalmo; Infecção ou migração do enxerto por isso é preferível a colocação da tela de titânio nas fraturas de assoalho de órbita. Esse material não retém liquido, não favorece infecção e todo o tecido mole se acomoda ao seu redor.