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A IDEOLOGIA POR TRÁS DO QUE É DITO


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A IDEOLOGIA POR TRÁS DO QUE É DITO: UMA ANÁLISE DOS DICIONÁRIO DE PAULISTANÊS E GUIA DE CONVERSAÇÃO PARA ESTRANGEIROS PARA A COPA DO MUNDO DE 2014[1: Trabalho solicitado afim de aprofundar a compreensão da Análise do Discurso. Este surgiu a partir das discussões em sala de aula, na disciplina de Estudos Linguísticos III, da Universidade Federal Rural de Pernambuco]
Carlos Alberto de Moura Cavalcanti[2: Graduando em Letras pela Universidade Federal Rural de Pernambuco – Unidade Acadêmica de Garanhuns. E-mail: cajrmoura@yahoo.com.br]
Sara Rocha Vanderley[3: Graduanda em Letras pela Universidade Federal Rural de Pernambuco – Unidade Acadêmica de Garanhuns. E-mail: sarinharocha_@hotmail.com]
Juliene Barros-Gomes[4: Professora do curso de Licenciatura em Letras da Universidade Federal Rural de Pernambuco – Unidade Acadêmica de Garanhuns. ]
Resumo: Com a vinda de grandes eventos para o Brasil, vê-se a necessidade de se adequar para que haja entre brasileiros e turistas a devida comunicação – que esta seja entendida. Com o evento da Copa do Mundo no país não seria diferente. Foram criados entre outras coisas, manuais e guias com o objetivo de oferecer essa ponte para o entendimento de certas expressões nos idiomas mais falados. Entretanto, com a mídia vem a ideologia – mesmo que esta não precise necessariamente estar atrelada à mídia –, e por trás do que é dito há algo que não foi dito. Este trabalho busca analisar, com base na perspectiva da análise de discurso, a ideologia por trás dos discursos presentes nos compêndios utilizados para ensinar os idiomas aos falantes da língua.
Palavras-chave: Análise de Discurso; Copa do Mundo; Ideologia.
Introdução
Por meio da realização de diversos eventos importantes que acontecem no mundo (Olímpiadas, Copa do Mundo de Futebol, Panamericano, diversas campanhas), observamos que os países têm a chance de moldar seus meios de comunicação e a forma como trabalha o turismo para atender às necessidades dos visitantes. Nos últimos anos, o Brasil tem experimentado um crescimento (econômico) significativo e isso faz com que os olhos dos estrangeiros se voltem para esta terra da América do Sul, muitas vezes em busca de trabalho ou estudo. Com a Copa do Mundo de 2014 sendo sediada no Brasil os olhares voltam-se para o país, mas com outro foco, ou outro direcionamento: sob o objetivo de “assistir aos jogos da Copa”, muitas pessoas de outros países começam a explorar o país nos seus pontos turísticos ao redor das cidades em que acontecerão os jogos. 
Segundo dados do Ministério do Turismo, cerca de 3 milhões de turistas circularão pelo país e por sua vez, grande parte de valores, conceitos e ideologias. Pensando na interação que se pode desenvolver entre os indivíduos foi-se criado um Pequeno Dicionário do Paulistanês e um Guia de Conversação para Estrangeiros para a Copa do Mundo de 2014, aos mesmos utilizamos como corpus para análise discursiva. O presente trabalho busca analisar, com base na teoria da Análise de Discurso (AD), a ideologia por trás dos dois compêndios criados para facilitar a comunicação entre os falantes da língua.[5: SPTURIS. “Manual do Torcedor” reúne informações para turistas na Copa. Disponível em: < http://imprensa.spturis.com.br/saiu-na-midia/manual-torcedor-reune-informacoes-para-turistas-na-copa>. Acesso em: 9 fev 2014.][6: MAROPO, M. Paulistanês Dicionário. Disponível em: <http://cidadedesaopaulo.com/paulistanes/>. Acesso em: 7 fev 2014.][7: COTRIM, J. de B.; SILVA, T. de A. e. Guia de Conversação para Estrangeiros para a Copa do Mundo de 2014. Brasília: UnB, 2013. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Licenciatura em Letras Português do Brasil como Segunda Língua)]
O corpus: O Pequeno Dicionário do Paulistanês e O Guia de Conversação para Estrangeiros para a Copa do Mundo de 2014
Paulistanês Dicionário é um site na internet, assim nomeado, que contém cerca de 150 expressões faladas apenas na região de São Paulo. Tais expressões acompanham áudio, sua tradução no inglês, além de uma gravura. É um projeto da prefeitura de São Paulo tendo por responsável da equipe organizadora, Mateus Maropo. Este projeto entrou no ar por volta do dia 7 de fevereiro de 2014, levando-se em conta a proximidade dos dias da Copa do Mundo (cerca de 120 dias aproximadamente). 
O Guia de Conversação para Estrangeiros para a Copa do Mundo de 2014 é produto do trabalho de conclusão de curso de duas estudantes de graduação – agora formadas – Jhessyka Cotrim e Thalita de Araújo. Foi desenvolvido com o intuito de criar subsídios que possibilitem a comunicação dos turistas durante o período de Copa no país.
Texto, Ideologia e o sujeito por trás do corpus de pesquisa
Temos diante de nós, inicialmente dois textos. Materializados e veiculados em suportes comunicacionais diferentes – um é mostrado por meio de site enquanto o outro, embora exista no formato digital, foi criado para ser distribuído impresso –, publicados em datas diferentes, um em 2013 e outro em 2014. Podemos levar em conta o fato de que com as novas tecnologias de informação e comunicação (TIC’s) a velocidade com que recebemos a linguagem é surpreendente, mas com ela, recebemos também uma grande quantidade de ideologias. Ideologias estas que fazem e que estão no discurso de que é composta a notícia, por exemplo. O discurso está dentro do texto e ganha sentido a partir do que o sujeito diz referente a uma formação discursiva que representa por sua vez a formação ideológica em que o sujeito está inserido.
Logo no prefácio do dicionário do paulistanês, a equipe coloca o seguinte parágrafo: 
Deste modo, aqui são faladas palavras e gírias únicas, provenientes desta grande variedade cultural que habita São Paulo. Por isso, para ajudar turistas e até mesmo curiosos da capital, fizemos o Pequeno Dicionário do Paulistanês, um compilado bem-humorado e descontraído de palavras e expressões locais pra você não ficar “boiando”.
Enquanto isso, Cotrim e Silva afirmam que: 
“É nesse contexto de ascensão da língua portuguesa no mundo que reside a relevância do nosso trabalho, pois nosso objetivo é trazer à tona subsídios capazes de fomentar a produção de um guia de conversação para estrangeiros de todas as nacionalidades durante a realização da Copa do Mundo em 2014.”[8: Ibd., p. 1.]
Levando em conta o conceito de ideologia, sujeito e discurso, conforme Orlandi, podemos perceber que há um dizer em comum nos dois excertos representados por meio de duas paráfrases: no primeiro, os turistas teriam dificuldades em entender o dialeto paulistano, no segundo, os mesmos teriam também dificuldades em entender o próprio idioma português. Ainda entre eles, pessoas do próprio Brasil não entenderiam o paulistano ou outras línguas (inglês e espanhol). Ora, bem sabemos que isto não é de todo verdade, o contato com os falantes faz com que o usuário da língua conheça e interprete expressões do seu próprio idioma ou de outro. [9: ORLANDI, E. P. Análise De Discurso. Campinas: Pontes, 2002.][10: Usamos apenas o termo “paráfrase” para referirmo-nos ao que foi dito por ambos os sujeitos nos textos, mas as paráfrases, como indicadas, estão atreladas a outro conceito exposto por Orlandi, o de polissemia. Ao passo que algo é dito de novo, é dito de duas maneiras diferentes que assumem significados distintos enraizados nas formações discursivas em que se enquadram os sujeitos.]
O sujeito que fala, não é um ser físico, no caso o autor dos textos. É sim uma posição que deve ser ocupada por qualquer indivíduo para que ele possa ser sujeito do diz. O sujeito é sujeito de e sujeito à. Sujeito à língua e a história, portanto sujeito à ideologia. A ideologia que citamos anteriormente. [11: Para Orlandi (op. cit.) “O autor é o lugar em que se realiza esse projeto totalizante, o lugar em que se constrói a unidade do sujeito.”]
Considerações Finais
A ideia de analisar o dicionário e o guia surgiu a partir da busca por assuntos relacionados à Copa do Mundo e do modo como a mídia usa para estabeleceruma comunicação, digamos, bem sucedida com os turistas. Assim logo definiu-se o corpus de análise e a partir da mesma, sob a perspectiva da AD, podemos notar que há neles, como há em todo tipo de texto marcas discursivas que expressam, ou tornam expressas, as ideologias a que os sujeitos são assujeitados. Dessa forma, podemos discutir as ideologias por trás do que está dito nos meios usados para ajudar turistas e curiosos no “aprendizado” da língua falada aqui no Brasil. Ainda pudemos compreender que tudo está repleto de algum tipo de ideologia, seja uma marca, uma propaganda, uma frase ou até um dicionário. 
Anexos