Buscar

Capitulo_4

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 43 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 43 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 43 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

IV
AS ESPÉCIES DOMÉSTICAS E SUA ORIGEM
Esquisser rapidement l'histoire de ces animaux c'est tracer les 
premiers linéaments de la civilisation – H.HOEFER.
The knowledge of the evolution of animals in its historical 
development enables the breeder to reform and improve animal breeding 
according to the agricultural needs of the country. The problem does not 
restrict itself merely to questions of the origin and the time of the wild 
animals domestication; it deals, too, with those of the formation of new 
productive races and their evolution. - S. N. BOGOLJUBSKY.
1 Nomenclatura das espécies domésticas
Foi estudado como e porque se deu a domesticação dos animais. A partir daqui 
serão estudadas as espécies domésticas, e sua, provável origem. Provável porque, como 
se verá adiante, essa origem é muito difícil de ser determinada com precisão, porquanto 
se trata de fatos da pré-história ou dos primeiros tempos da vida da humanidade, dos 
quais muito pouco ou quase nada se sabe com segurança.
As espécies animais domésticas distribuem-se por três, senão quatro, Classes 
zoológicas: 1. Mammalia - 2. Aves- 3. Insecta. E ainda a dos Pisces, que para alguns 
autores não devem ser considerados, em nenhum caso, como animais domésticos, 
embora possam ser criados pelo homem.
Na primeira Classe acham-se as espécies mais importantes e o maior número 
delas. Nas Aves, estão algumas poucas espécies domésticas, sendo a Galinha a 
principal. Na Classe dos Pisces, têm-se a Carpa e a Tilápia como representantes, mas 
que ainda não se pode admitir estarem em domesticidade franca. Por fim, entre os 
Insecta estão os maravilhosos obreiros que são o Bicho-da-seda e a Abelha.
Dentre as que mais interessam, têm-se ao todo 32 espécies, no mínimo, 
incluindo dois Insetos, dois Peixes, onze Aves e dezessete Mamíferos, distribuídos 
como se verá a seguir. Nesta lista não foram incluídas algumas espécies de Bovinae 
como o Iaque, o Gaial e o Batengo, bem como o Elefante, pelas razões explicadas a 
seguir.
As espécies de Bovinae não incluídas são as seguintes:
Os Bisões constituídos por duas espécies distintas: Bison bonasus (europeu) e o 
Bison bison (americano). Embora já existam animais domesticados e até raças formadas 
a partir do cruzamento com bovinos, o Bisão americano vive ainda em bandos, nos 
parques florestais a eles reservados, nos Estados Unidos e Canadá, oficialmente 
protegidos contra extinção. É muito comum se confundir o Bisão com o Búfalo, nos 
Estados Unidos, o que parece impossível visto tratar-se de espécies de gêneros 
diferentes, uma vivendo no continente americano e a outra na Ásia, originária da índia.
O Iaque, Bos (Poephagus) grunniens do Tibé, é uma espécie parcialmente 
vivendo em domesticidade, pois ainda há uma população de Iaque em estado selvagem; 
e seu valor como espécie doméstica se restringe ao Tibé.
Os três Bibos - o Bantengo, o Gaial e o Gaur - ou são de domesticidade restrita 
(Bantengo, Gaial) ou permanecem em estado selvagem, tendo falhado as tentativas de 
domesticação do Gaur.
Quanto ao Elefante, cuja espécie mais importante é o Elephas maximus, da Asia 
(de orelhas reduzidas), é de remota utilização pelo homem (muito antes da era cristã) 
como animal de trabalho, e como meio de transporte, e ainda como animal de guerra. 
Os Elefantes africanos pertencem a outras espécies, mesmo a outro gênero - Loxodonta, 
36
e apresentam-se bem diferentes, na dimensão das orelhas, por exemplo, que são muito 
desenvolvidas.
O Elefante não deve ser considerado uma espécie doméstica porque sua 
reprodução e criação não são conduzidas pelo homem, a não ser excepcionalmente. Isto 
em face das dificuldades provenientes da própria fisiologia desses animais.
Sua gestação varia de 18 a 24 meses. A fêmea pare a cada três ou quatro anos. 
Sua cria mama pelo menos durante um ano, e acompanha a mãe até os cinco anos de 
idade, atingindo o estado adulto aos 16 anos. Somente depois dos 14 anos é que o 
elefante é utilizado no trabalho, e esta utilização só aos 30 para 40 anos é que tem sua 
maior eficiência.
Não é para admirar-se, diz ZEUNER (1963), que o homem prefira não ter o 
encargo de tudo isto, uma vez que é mais econômico deixar que a espécie viva 
livremente, e capturar e amansar os indivíduos quando necessários para o trabalho.
Seu amansamento e treinamento para o trabalho são tarefas fáceis.
Conclui-se então que o Elefante não é doméstico, mas é perfeitamente 
domesticável. O obstáculo ê a grande soma de esforços, de tempo e de despesas para 
mantê-los em domesticidade. Seria demais antieconômico.
Assim o número muitíssimo maior de indivíduos, que levam vida selvagem, em 
comparação com aqueles em domesticidade não permite classificar a espécie como 
doméstica. Além de sua criação e reprodução não serem conduzidas pelo homem.
Classe MAMMAI.IA
Ordem PERlSSODACTYLA
I - Família Equidae1 
Espécies: Equus caballus Cavalo 1
 Equus asinus Jumento 2
Ordem ARTIODACTYLA
Sub-ordem Suiformes
II - Família Suidae
Espécie: Sus scrofa Porco 3
Sub-ordem Tylopoda
III – Família Camelidae
Espécies: Camelus bactrianus Camelo 4
 Camelus dromedarius Dromedário 5
 Lama glama Lhama 6
 Lama pacos Alpaca 7
Sub-Ordem Ruminantia
IV - Família Cervidae
Espécie: Rangifer tarandus Rena 8
V - Família Bovidae
Sub-Família Caprinae
Espécies: Capra hircus Cabra 9
 Ovis aries Carneiro 10
1 Deve-se pronunciar équidae, pois o i é breve ou átono, e em português tem-se Équidas ou Eqüídeos. O 
mesmo para Bovidae (bovidae) e em português, Bóvidas ou Bovídeos (Codificação da Nomenctatura 
Zoológica).
37
Sub-Família Bovinae
Espécies: Bos taurus taurus Boi 11
 Bos taurus indicus Zebu 12
 Bubalus bubalis Búfalo 13
Ordem CARNIVORA
VI - Família Felidae
Espécie: Felis domestica Gato 14
VII - Família Canidae
Espécie: Canis familiaris Cão 15
Ordem LAGOMORPHA
VIII - Família Leporidae
Espécie: Oryctolagus cuniculus Coelho 16
Ordem RODENTIA
IX - Família Cavidae
Espécie: Cavia cobaya Gmlin Cobaia 17
Classe AVES
Sub-Classe Neornithes
Ordem ANSERIFORMES
X - Família Anatidae
Espécies: Anser domesticus Ganso 18
 Anas boschas Marreco 19
 Cairina moschata Pato 20
 Cygnus olor Cisne 21
Ordem GALLIFORMES
XI - Família Phasianidae
Espécies: Gallus domesticus Auct. Galinha 22
 Phasianus colchicus Faisão 23
 Numida galeata Pallas Galinhola 24
 Pavo cristatus Pavão 25
XII - Família P.enelopidae
Espécie: Meleagris gallopavo Peru 26
Ordem COLUMBIFORMES
XIII - Família Columbidae
Espécie: Columba livia domestica Gm Pombo 27
Ordem STRUTHIONIFORMES
XIV - Família Struthionidae
Espécie: Struthio camelus Avestruz 28
38
Classe PISCES (ACTINOPTERYGII)
Ordem OSTARIOPHYSI
XV - Família Cyprinidae
Espécie: Cyprinus carpio Carpa 29
ClasseINSETA (HEXAPODA)
Ordem LEPIDOPTERA
XVI - Família Bombycidae
Espécie: Bombyx mori Bicho-da-seda 30
Ordem HYMENOPTERA
XVII - Família Apidae
Espécie: Apis mellifera mellifera
 Apis mellifera ligustica Abelha 31
 Apis mellifera adansonii
2 Origem das espécies domésticas
A domesticação das espécies foi um acontecimento por demais remoto, no 
tempo, para a maioria das espécies que o homem cria. Daí não ter havido nem mesmo 
tradição oral, que explicasse como ele procedeu nessa tarefa extraordinária, de 
domesticar os animais. Por isso se torna difícil, senão impossível, determinar a origem 
precisa dos animais domésticos, na maioria das vezes. Em muitos casos se apresenta 
como uma empreitada na qual faltam elementos suficientemente seguros, capazes de 
oferecerem conclusão livre de qualquer dúvida. Mas as hipóteses são inúmeras, e com 
estas é que se deve trabalhar e ficar contente, na maioria das vezes.
De modo geral, a doutrina mais aceita é a de que os animais domésticos são 
originários das regiões onde se processou sua domesticação. Não é permitido mais 
acreditar-se que todos eles se originaram da Ásia, como certos autores pretendiam. Os 
povos asiáticos, emigrando para a Europa e para África, e talvez para a América, 
levaram consigo certos animais seus auxiliares, e introduziram nas regiões, que iam 
invadindo, não só esses novos animais, em alguns casos, como introduziram também o 
uso de se aproveitar o animal selvagem, criando-o para dele tirar proveito maior. Ou 
seja, domesticando-o. Disso deve ter resultado ainda, certamente, também, uma mistura 
entre as espécies introduzidas pelos invasores e as locais, de possível domesticação, 
como é o caso do Porco, o que se verá adiante.
Um fator, que pode ajudar a esclarecer a origem de uma espécie doméstica, é o 
estudo paleontológico dessa espécie. Como diz GROMOVA (1933), "há uma série 
inteira de problemas que não podem ser resolvidos sem a paleontologia"1. E afirma que 
por vezes a incerteza no determinar o antepassado selvagem de certa espécie doméstica 
resulta da “insuficiência do material paleontológico.”
3 Os cães
O Cão deve ter sido o primeiro animal domesticado pelo homem, que nele 
encontrou auxiliar insubstituível na caça, e talvez mesmo na apreensão de outras 
espécies. São palavras de CORRÊA (1926): "O período neolítico corresponde à 
aparição da agricultura e dos animais domésticos, o primeiro dos quais foi o Cão, que 
surge nos kjökkenmöddings de Muge, talvez ainda no estado selvagem, e nos da 
1 Part of Paleontology in the study of the origin of domestic animals.
39
Dinamarca já por certo como animal doméstico. O Cão teria sido o auxiliar do Homem 
na domesticação sucessiva de outros animais". Os detritos fósseis de uma espécie 
canina, encontrados na Dinamarca, de época anterior àquela das habitações lacustres, 
constituem prova dessa prioridade do Cão, como animal de domesticação anterior à das 
outras espécies. "A anterioridade da domesticação do Cão à de todos os outros animais 
– diz CORNEVIN (1897)- não desperta qualquer objeção; ele foi aprisionado no 
começo do período neolítico, na época dos kjökkenmöddings, que QUATREFAGES 
(1891) chamou algures, época do Cão 
Ele foi primeiramente utilizado como alimento, o que não se deve estranhar, 
pois, consoante CORNEVIN (1897), os indígenas da Nova Guiné faziam de espécies 
caninas autóctones, seu alimento principal.
Sua primeira domesticação deve ter sido realizada pelos homens do Norte, 
porquanto nos fósseis da Península Ibérica são raros os ossos de cães, assim como na 
Itália, onde não se encontrou traço algum dessa espécie nos palafitas, nem no fundo das 
cabanas neolíticas de origem ibero-ligúrica. Para I. G. SAINT-HILAIRE, entretanto, "é 
no Oriente que vemos o cão mais remotamente domesticado (1861)."
Os autores, a respeito da origem do Cão, dividem-se em dois grupos. Uns com 
BLAINVILLE, QUATREFAGES, HUNTER e ZIMMERMANN, são propensos a 
acreditar que uma espécie selvagem única deu origem ao Canis familiaris. As 
expressões de DIFFLOTH (1915), a esse propósito, são claras: "Em resumo - conclui 
ele - é bem esta última espécie - Canis pallipes Sykes (pequeno lobo indiano), que deve 
ser considerada como fonte principal, senão única, de todas as raças européias e 
asiáticas do Cão doméstico". Para BLAINVILLE, essa espécie única procurada já 
estaria extinta. Para QUATREFAGES (1891) seria o Chacal, enfim HUNTER e 
ZIMMERMANN consideravam o Lobo como a fonte dos nossos Cães.
Em favor desta hipótese, citam-se dois argumentos. O primeiro seria a 
esterilidade entre as espécies selvagens, que teriam dado origem às raças de cães, e a 
fecundidade entre estas. Teria a domesticação feito desaparecer a esterilidade entre 
esses animais?
O outro argumento ter-se-ia no hábito de latir, próprio do Cão doméstico, e que 
falta nas espécies selvagens, das quais se supõe que ele descende. Apesar disso o Canis 
latrans, da América do Norte, emite certos sons parecidos com o latido, e o Cão 
doméstico, que passa ao estado selvagem, perde o hábito de ladrar, com exceção dos 
cães do Prata, citados por AZARA (1800), nos quais persistiu esse hábito, e todos os 
demais do Cão em domesticidade.
Razões mais poderosas levam, entretanto, a maioria dos autores a opinar pela 
origem múltipla do Cão doméstico. Dentre estes devem ser citados em primeiro lugar 
GULDENSTADT e PALLAS, aos quais cabe a iniciativa, e depois EHRENBERG, 
HAMILTON, SMITH, MARTIN, Dr. MORTON, NOTT e GLIDDON, DAVID LOW, 
GERVAIS, TILESIUS, SAINT-HILAIRE (1861), e ainda DARWIN (1956) que 
prolixamente discutiu o assunto.
As razões principais, que conduzem a esta conclusão, mais de acordo com a 
história da espécie, são as seguintes. Desde o começo dos tempos históricos, que se 
depara com a existência de múltiplas e variadas raças de cães. Por documentos valiosos 
verifica-se que, na era romana clássica, a diversificação da espécie canina, em raças, já 
constituía um fato. No ano 640 antes de J. C., figurava num monumento assírio um cão, 
algo semelhante aos que ainda ali existem. Nos monumentos egípcios das 14ª e 12ª 
dinastia (3400 a 2100 anos a.C.), estão bem representadas diversas variedades de cães, 
cuja conformação lembra a do Galgo ou ainda a dos Bassés atuais. Ora, sendo tão 
remota a existência do Cão doméstico, e desde cedo tão diversificada a espécie em raças 
40
inúmeras, ocupando quase todas as regiões do globo, é visivelmente insustentável, pelo 
raciocínio, que tenha havido uma origem única para todos esses cães; e que essa espécie 
originária se tenha espalhado por todos os recantos, em tão breve espaço de tempo para 
isso, e ainda diferenciado tão prontamente em tão grande número de raças, bem 
distintas.
Figura 4 – Este é o pequeno Lobo da Índia 
(Canis pallipes Dykes) menor e mais esbelto do que o Lobo europeu, e que apresenta 
também pêlos mais curtos e de cor mais avermelhada. Seu porte é o de um cão Pastor de 
tamanho médio.
Em segundo lugar, a notória parecença dos cães domésticos, com as espécies 
selvagens autóctones, é outra prova favorável. Assim nas Guianas, o Cão doméstico 
resultou do aproveitamento de duas espécies de Canis selvagens; América do Norte a 
semelhança dos lobos (Canis lupus occidentalis) com o Cão dos índios é evidente, 
observa "RICHARDSON (1829); os cães dos esquimós, por sua vez, lembram os lobos 
pardos das regiões árticas, não somente pela coloração como pelo tamanho e, além 
disso, quando cruzados, mostram-se fecundos entre si, donde aproveitarem os íncolas a 
espécie selvagem,para melhorar seus cães; na América do Sul, nos túmulos peruanos, 
anteriores à conquista espanhola, o Cão dos Incas foi encontrado em estado de múmia, o 
que permitiu a NEHRING, segundo CORNEVIN (1897), reconstituir três raças, uma 
análoga aos cães de pastor, outra aos Bassés e outra ao Bull-Dog; na Europa, os Cães 
lembram o Lobo pela conformação e pelagem; os Chacais, ali, segundo SAINT- 
HILAIRE (1861), têm os mesmos hábitos do Cão, quando mansos, se chamados pelo 
dono, abanam a cauda, murcham as orelhas, lambem-lhe as mãos, deitam-se, tal como 
se fossem cães domésticos.
Sabe-se ainda que os índios das regiões, que o homem civilizado foi 
descobrindo, serviam-se ou se servem ainda de cães semidomésticos ou quase, que 
relembram, em geral, espécies de Canis selvagem da mesma região.
Demais, a facilidade de reprodução entre o Cão e o Canis selvagem muito 
fortalece a hipótese em exame. Segundo a afirmação de PALLAS (1780) o Chacal 
reproduz-se fàcilmente com o Cão no Oriente e igual fato foi observado na Argélia. 
PLÍNIO refere o costume dos pastores gauleses, que deixavam, nas florestas, suas 
cadelas em cio, para serem fecundadas pelos lobos.
O acasalamento do lobo com a cadela, ou inversamente, da loba com o cão, 
opera-se sem dificuldade, seja com a intervenção do homem, seja livremente. As 
experiências que foram feitas, nesse sentido por BUFFON, CUVIER, FLUORENS, e 
KUHNE provaram a formação fácil de mestiços entre as duas espécies; isto é, de 
41
híbridos fecundos de Lobo com o Cão doméstico. A reprodução do Cão com o Chacal 
também foi obtida experimentalmente, por FLOURENS, durante quatro gerações de 
descendentes, assim como por KUHNE.
A fecundidade entre essas espécies e o paralelismo de formas e de hábitos 
apresentados por elas é que levam a concluir-se que os Lobos e Chacais são espécies 
que originaram certas raças de cães domésticos. Acrescente-se a estas mais uma ou duas 
espécies caninas da América do Sul, e ainda outras espécies de Lobo da América do 
Norte, da África e da Ásia, e teremos as estirpes selvagens, que certamente formaram, 
por domesticação, através de cruzamentos ou não, as inúmeras e variadas raças de Cão 
hoje conhecidas.
As diferentes raças, hoje reunidas sob a denominação de Canis familiaris, têm 
portanto como espécies originárias, provàvelmente, as seguintes: Canis pallipes Sykes 
da índia; o Canis lupus ou Lobo comum europeu; o Canis aureus, que é o Chacal, 
talvez origem dos cães de menor porte; o Canis simensis Rüppel da Abissínia, que 
parece haver produzido certas raças cães Galgos; o Canis lupus occidentalis de Kay, ou 
Lobo americano,que parece ter dado certos cães dos índios, e que se mostra tão 
semelhante a estes, que RICHARDSON confessa tê-los confundido, mais de uma vez, 
deixando de atirar num, bando de lobos americanos, pensando que fossem cães 
domésticos; o Canis latrans Kay, chamado Cão dos prados, e que deu outra forma de 
Cão dos íncolas americanos; e ainda espécies de influência muito secundária, mas que 
mostram essa facilidade do Canis selvagem ser domesticado, aqui e ali, tais como: o 
Canis ingae Tschudi. dos Incas; o Canis cancrivorus Desmarest, das Guianas; o Canis 
mesomelas Schreber, África meridional, e outras.
4 A Cabra e o Carneiro
Depois do Cão é possível colocar a Cabra, em ordem de antiguidade, no estado 
doméstico. Seus detritos fósseis, da mesma época que os do Carneiro, são mais 
abundantes, o que denuncia pelo menos maior generalização de seu uso. É o ponto de 
vista de CORNEVIN (1891).
Participando dessa mesma opinião, CRÉPIN (1906) imagina ter sido ela o 
primeiro animal leiteiro, que o homem conheceu e utilizou. Em apoio disso, é possível 
lembrar certa coluna existente no Museu de Hal, Bélgica, onde se descobre uma cena 
formada por pastores, que se entregam à ordenha de diversas cabras. Essa coluna 
remonta a quatro mil anos antes de Cristo.
BRANDT (1885), que exclusivamente estudou a etnografia dos Caprinae, pôs 
fora de dúvida o ponto de vista de GULDENSTADT, PALLAS (1780), A. WAGNER, 
CUVIER de que a Cabra provém de uma espécie única asiática, a Capra aegagrus Pall, 
ou Cabra-bezoar, dos planaltos mais ocidentais da Ásia. Para 'BRANDT (1885) houve a 
colaboração provável da Capra talconeri A. Wagner, da área geográfica já mais oriental 
do que aquela, ou melhor, indiana, e cujos chifres são em espiral. A Cabra-bezoar ainda 
sobrevive em certos pontos da Ásia menor, no maciço do Cáucaso e nas montanhas da 
antiga Pérsia.
Entretanto, com a descoberta fóssil, de mais um tipo remotíssimo de Capra, por 
ADAMETZ (1926), pensa-se ser esta a mais primitiva. A Capra prisca, de ADAMETZ, 
extinta, parece então ser o tronco primitivo procurado.
42
Figura 5 - Capra aegragus Pall, ou Cabra-bezoar (Cópia tomada em Kronacher - 
Allgemeine Tierzucht), é uma das formas primitivas que originaram a Cabra doméstica.
No decorrer dos tempos pré-históricos ainda, acredita-se que a Capra aegagrus 
diversificou-se em duas formas: uma, a Capra hirdus das turfeiras (Rütimeyer), de 
chifres médios e pouco torcidos para fora, e outra, a Capra hircus de Keller, ou da idade 
do bronze, de grandes chifres espiralados e de porte maior.
Quanto ao Carneiro, sabemos que ele foi companheiro do Homem, já nas 
habitações lacustres da Suíça, mas deve ter sido domesticado primitivamente na Ásia, 
de onde passou à África e ao sul da Europa, já em domesticidade. Nesta questão da 
origem do Carneiro, o ponto de vista de KELLER (1902-1905), parece ser o mais 
aceitável, porque com ele é possível explicar, até certo ponto, a grande variação que 
apresentam as raças ovinas. Assim, três seriam as fontes das modernas raças de 
carneiro: o Ovis musimon Schreber, o Ammotragus tragelaphus Gray e o Ovis arkal.
Figura 6 – Crânio de Muflon (Ovis musimon Schereber) visto de frente (Nathusius, 
1872).
43
.
Figura 7 – Crânio de Ammotragus tragelaphus Gray visto de frente (Nathusius, 1872).
O primeiro é o Mouflon (carneiro selvagem da Europa), ainda hoje encontrado 
ali, e que fundou o grupo de ovinos europeus, propriamente ditos. O segundo é um 
Pseudovino, e originou os carneiros africanos. O terceiro e último citado, Ovis arkal, 
deverá ser o mais antigo e ainda o mais importante: asiático de origem emigrou já 
domesticado. Depois, certamente cruzando-se com aqueles dois outros, constituiu a 
maioria dos ovinos domésticos conhecidos. Sua cauda longa é característica. Chamam-
no Carneiro das estepes da Ásia. E o Carneiro das turfeiras (Ovis aries palustris 
Rütimeyer) seria, então, um derivado desta espécie.
44
Figura 8 – Capra falconeri A. Wagner, do Tibé (Parque zoológico de Hagenbeck) – Da 
Zootecnia de Kronacher – É considerada um dos antepassados da Cabra doméstica.
A hipótese de NEHRING é semelhante a esta. Para ele, três foram também os 
troncos originários do ovino doméstico: o Mouflon, o Carneiro das estepes da Ásia, de 
cauda longa, e algumas raças selvagens da Ásia central.
45
Figura 9 – Mouflon (Ovis musimon Schreber) que é o Carneiro selvagem da Europa, e 
uma das formas primitivas do Ovis aries ou Carneiro doméstico ( Da “Vida dos 
Animais “de Brehm).
JULIUS KUHN (1919) é de opinião, porém, que o Mouflon (Ovis musimon) é o 
tronco de onde partiram as raças domésticas, de hoje. Opinião esta a menos aceita pelos 
autores.
5 Os Bovinos
Todos os Bovidae (Gray, 1821), domésticos ou não, descendem de um tronco 
filogênico comum: o Antilope do mioceno e plioceno, o qual originou, aliás, todos os 
cavicórneos também: Ovis, Capra, Antílope, Bos, etc.
Três são as espécies de Bovinae (Gill, 1872) citadas, nomapa das espécies 
domésticas, normalmente exploradas pelo homem: o Boi - Bos taurus, o Zebu, Bos 
indicus: e o Búfalo, Bubalus bubalis.
Além destas três espécies, existem mais algumas da subfamília Bovinae, que ou 
são de domesticação restrita ou duvidosa, ou que não são domésticas, sendo reduzida, 
ou nenhuma, sua importância zootécnica, em face daquelas duas primeiras citadas. São 
elas:
O Bantengo (Bos (Bibos) banteng Wagner), que vive em domesticidade, bem 
como no estado selvagem na península de Málaca, Java, Borneo, Bali, é o animal mais 
belo deste grupo, sendo muito apreciado como animal de sela e como animal para corte.
O Iaque (Bos (Poephagus) grunniens), chamado "Boi grunhidor" e também "Boi 
de cauda de cavalo", cuja cabeça se aproxima dos taurinos, e o andar e o corpo se 
assemelham aos do Cavalo - habita os altiplanos do Tibé, sendo próprio de regiões frias 
e é muito utilizado como animal de carga. Seu leite é muito apreciado e ainda seus 
pêlos. Nas regiões sem vegetação,- seu estrume serve de combustível. Ali ele vive 
também ainda em estado selvagem.
O Gaial (Bos (Bibos) frontalis Lambert) ou Boi das selvas da Indochina e índia é 
criado pela sua carne e pelo seu couro.
As espécies consideradas selvagens deste grupo, são os Bisões e o Gaur.
46
Os Bisões: Bison bonasus Wagner (europeu) já está desaparecido ou quase, e o 
Bison bison L. é criado em liberdade nos Parques Nacionais dos Estados Unidos e do 
Canadá.
O Gaur (Bos (Bibos) gaurus H. Smidt) é um dos maiores bovinos atuais, 
habitando as montanhas da Índia, na Birmânia, Assam e Málaca. Não pode, de nenhum 
modo, ser considerado uma espécie doméstica; estando no mesmo caso dos Bisões; 
todos os ensaios de domesticação, tentados na índia, não deram resultado positivo. E a 
propósito E. H. BAYNES nega sua domesticidade, embora acredite em uma possível 
domesticação, erroneamente, aliás, e explica: "Ele é atualmente um park animal", isto é, 
um animal de vida livre nos parques florestais do governo, selvagem, portanto.
DUERST (1886) dividiu esta subfamília em três grupos:
1. Bubalina, subdivididos em Probubalinos: Probubalus depressicornis; e os 
Bubalinos: Búfalos asiáticos e africanos.
2. Taurina, subdivididos em Protaurinos: Gaur, Gaial, Bantengo; e taurinos: Boi 
europeu e Zebu. 
3. Bisontina, subdivididos em Probisontinos: Iaque; e Bisontinos: Bisão 
americano e Bisão europeu.
Destes, os dois tipos étnicos mais aproximados são o Bos taurus e o B. indicus, 
isto é, o Boi europeu e o Zebu, ou ainda, o Boi taurino ou europeu, e o Boi zebuíno ou 
indiano, os quais, alguns pretendem reunir numa mesma espécie, e, então, o Boi giboso 
seria apenas uma variedade de Bos taurus por causa da fecundidade indefinida dos 
híbridos (ou mestiços) entre as duas espécies em questão.
Dentre os animais primitivamente domesticados, observa SAINT-HILAIRE 
(1861), são esses dois - Bos taurus e Bos indicus, os de origem mais difícil de 
determinar, depois do caso da origem do Cão doméstico. Esta observação continua 
exata, ainda hoje. Consultem-se os autores, e não se encontrará uma harmonia de 
opiniões, ou coisa que satisfaça. O que, se possa colher a respeito será, sempre, matéria 
para controvérsias.
Os taurinos foram domesticados parece que posteriormente ao Cão, à Cabra e ao 
Carneiro; todavia na mesma época pré-histórica da pedra polida. Desde os tempos mais 
remotos da civilização egípcia (antes da 3ª dinastia, 4.000 anos a.C.) admite-se ter 
havido ali bois de trabalho, utilizados pelo homem nos trabalhos de remoção da terra 
para mudar o curso do Nilo.
Pelo ano de 1550 o único bovino selvagem, ainda encontrado na Europa, e que 
parece ter responsabilidade na formação das raças atuais, era o Auroque ou Urus, 
identificado como sendo o Bos primigenius, de Bojanus. Segundo CUÉNOT (1932), o 
último representante dessa espécie desaparecida teria morrido em 1627, no Jardim 
Zoológico de Masovia. 
A domesticação do Boi, animal de grande porte, pode levar a indagar-se, 
segundo ZEUNER(1963), porque essa preferência do homem primitivo, se ele bem 
podia dedicar-se à domesticação de espécies menores.
Pela necessidade de carne não deve ter sido, argumenta ele, visto que naquela 
época não deveria esta ter escasseado, em face do recurso da caça e da pesca. 
Na opinião de ZEUNER, o interesse estava no couro do Boi, material para a 
confecção de escudos de arma, muito mais resistente, além de poder servir para outras 
aplicações de enumeração desnecessária.
Para ZEUNER, não deve ser considerado exagero, dizer que a domesticação do 
Boi foi o passo mais importante dado pelo homem, no sentido da exploração dos 
animais, depois da domesticação do Cão.
47
Figura 10 - Gaial, Iaque e Gaur - respectivamente, Bos frontalis, Bos grunniens e Bos 
gaurus.
O Bos primigenius teria sido criado pelo homem, que habitava as cidades 
lacustres da Suíça, no período neolítico.
LINEU e BUFFON, e também PALLAS (1780), na verdade, foram os primeiros 
a considerar o Auroque como uma forma do Boi doméstico, sem confundi-lo, porém, 
com o primigenius, pois somente em 1825 é que BOJANUS imaginaria a existência 
deste. VUVIER (1834), discordando, com DAUBENTON, desse ponto de vista, achava 
que a fonte remotamente primitiva, de todas as raças bovinas, devia ser alguma espécie 
já extinta, que se encontraria entre os fósseis de bovinos tirados dos terrenos de aluvião.
BOJANUS, então, naquele ano atrás citado, classificou com a designação de Bos 
primigenius, certa forma bovina fóssil, que foi achada em vários pontos da Europa: 
Suíça, Grécia, Itália e ainda na África (Argélia) e na Ásia. Como se vê, numa área 
geográfica enorme.
Figura 11 - Manada de Búfalos pretos, leiteiros e mansos no curral da Fazenda São 
Joaquim, Marajó.
O Auroque era um bovino de grandes proporções, com 2 m garrote, e 3 m a 3½ 
de comprimento. Os animais, vistos por CÉSAR, segundo sua própria descrição no De 
bello galico, e que viviam aos bandos, livres, na imensa floresta herciniana daqueles 
tempos, parece que não seriam outra coisa que o Auroque, forma sobrevivente provável 
do Bos primigenius. DARWIN (1879) é um dos que assim pensam. Eram pouco 
menores do que um elefante, porém com os característicos de um touro, explica 
CÉSAR.
48
Em DARWIN (1897), encontrar-se-á a afirmação de que certos bovinos semi-
selvagens, ainda em seu tempo (segunda metade do século dezenove) existentes no 
parque de Chillingham, na Inglaterra, devem ser considerados como formas muito 
aproximadas dos Auroques. RÜTIMEYER (1861), examinando o crânio de um desses 
animais, opinou serem eles os que mais deviam se assemelhar ao Bos primigenius 
Bojanus, dentre todas as raças conhecidas. Em 1907, descendentes desses animais ainda 
viviam, segundo contou o LOISEL, ao narrar a visita, que fizera, a Chillingham, e ainda 
ao parque e Cadzow, do duque de HAMILTON, onde também deparou bovinos 
semelhantes àqueles.
A extensa área geográfica, na qual parece ter vivido esta espécie pré-histórica de 
bovinos, a julgar pelas ossadas encontradas até na Ásia, e ainda a existência de bois 
domésticos na Assíria e no Egito, absolutamente não confundíveis com o Zebu, segundo 
o testemunho das gravações em monumentos muito anteriores à civilização ocidental, 
levam à convicção de que o Bos primigenius deve ter sido domesticado na Ásia, e dali 
trazido, já como auxiliar do homem, para a Europa e África.
Esta hipótese é ainda defendida pela filologia, como o provaram JOLY e 
PICTET, escreveu DARWIN (1879): "Segundo estes dois sábios, os nomes dados ao 
Boi, ao Touro e à Vaca, nos diversos povos europeus,são de origem asiática, 
particularmente zenda e sânscrita, e, por conseguinte ariana, segundo PICTET".
Cabe agora a citação daquela forma bovina, imaginada por MEYER, o Bos 
trochoceros. Trata-se, porém, de uma espécie mais do que duvidosa, porquanto 
RÜTIMEYER determinou como sendo a de uma fêmea do próprio Bos primigenius.
Outro bovino, que se presume ter existido na Europa, caracterizado pelos seus 
cornos, seu tamanho reduzido, suas, pernas finas, cujos detritos ósseos foram 
descobertos na Suíça, no Tirol, na Silésia, na Inglaterra, é o Bos brachyceros ou "Boi 
das turfeiras", segundo a nomenclatura de RÜTIMEYER, ou Bos longifrons de Owen, 
conforme a sinonímia proposta por WILKENS. Constitui uma espécie anterior ao Bos 
primigenius, e não tem representantes selvagens ou precursores europeus. Deve, pois, 
ter vindo da Ásia já com uma forma definida. E segundo DAWKINS (1866), teria sido 
levado para a Inglaterra, já doméstico, onde serviria de vitualha aos legionários 
romanos.
A última forma de bovinos primitivos aparecida foi o Bos frontosus de Nilsson, 
um dos tipos naturais mais bem definidos, segundo DECHAMBRE (1914). Ela parece 
ser o resultado de um cruzamento entre as duas primeiras: Bos primigenius e Bos 
brachyceros. Fósseis de Bos frontosus foram encontrados na Suíça, no último período 
geológico, ao lado do Bos longifrons, por NILSSON (1911), assim como nos palafitas 
da Suíça, por RÜTIMEYER. Caracteriza-se por uma marrafa alta, en toit demaison, 
como diz ZWAENEPOEL (1920), e de porte maior do que o Bos longifrons.
Finalmente, deve ser citado ainda o Bos akeratos ou boi sem chifres, de 
Arenander, que o considerou o Boi pré-histórico mais remoto. Este ponto de vista do 
eminente professor de zootecnia sueco é insustentável, em face do que sabemos hoje a 
respeito da mutação mocha, nos bovinos modernos.
Aliás, bem balanceadas as coisas, talvez não se deva levar tanto a rigor essa 
classificação em três ou quatro tipos bovinos pré-históricos. A franca fecundidade entre 
elas, a possibilidade de se misturarem umas com as outras, a grande variabilidade do 
característico fundamental considerado - o crânio, que não apresenta, de nenhum modo, 
a extrema fixidez suposta pelos naturalistas classificadores - são os motivos suficientes, 
para isso. Tanto é assim que alguns autores reduzem essas formas a duas apenas, ou até 
a uma única, por não encontrarem elementos bastante convincentes de diferenciação.
49
Figura 12 – Bison bison ou Bisão da América.
DAWKINS (1866), autoridade indiscutível na matéria, identifica o Bos 
frontosus, de Nilsson, com o Bos longifrons de Owen. Por outro lado o Bos longifrons, 
já passou à sinonímia do Bos bracyceros de Rütimeyer, para quase todos os 
paleontologistas, Enfim, DAWKINS, NEHRING e WERNER acham que o Bos 
longifrons não passa de uma variação do Bos primigenius, operada na Europa. MORSE 
(1910), depois de citar essas formas fósseis, fortemente relacionadas com o Bos 
primigenius, remata: "De fato elas são tão estreitamente aproximadas que algumas ou 
talvez todas elas possam ser consideradas com variedades do Bos primigenius".
Figura 13 – Urus ou Boi selvagem primitivo europeu, e suposto antepassado do Boi 
doméstico, identificado como Bos primigenius Bojanus. Cópia de uma pintura 
estampada por primeiro no livro de Cuvier “Reino animal”, editado em 1827 – Essa 
pintura presume-se datar de 1500 (indicações de Nehring) – Da Cycl. Of Am. Agric.).
Outro problema a resolver é quando se procura filiar as raças bovinas atuais às 
formas primitivas. O Bos primigenius, por exemplo, teria dado o tipo retilíneo da 
classificação de BARON (1888), segundo DECHAMBRE (1914), ou o Bos taurus 
ligeriensis de Sanson; ou o Bos taurus batavicus, raça dos Países-Baixos, e o Bos taurus 
asiaticus, grande raça parda das estepes, conforme RÜTIMEYER e outros.
O Bos brachyceros, para RÜTIMEYER, seria a fonte do Schwyz, autóctone do 
sudoeste da Suíça, ou em geral do gado cinzento da Europa central e do sul, consoante o 
ponto de vista de DECHAMBRE (1914); e ainda das raças Tarantesa, da Gasconha, da 
50
Córsega, de Aubrac e outras afins; enquanto SANSON (1907) já vê nele o tronco do 
Bos taurus alpinus, o que se harmoniza com as opiniões anteriores.
O Bos longifrons, ou tipo concavilíneo de DECHAMBRE (1914), é para OWEN 
a forma primitiva do gado Highland e da raça do País de Gales, e segundo outros sê-lo-
ia também da raça dos Países-Baixos (DECHAMBRE, 1914).
O Bos frontosus teria dado, para DECHAMBRE, os tipos convexilíneos atuais; 
segundo NILSSON, o gado montanhês da Escandinávia; e para SANSON, o Bos taurus 
jurassicus, ou seja, as raças Simental, Friburguesa, Pinzgau e mais outras afins.
Certos autores suíços acham que o gado melhorado, da Suíça, não é autóctone; 
deve ter vindo com os Burgôndios, quando invadiram aquela região. O gado dos 
invasores deveria ser de fonte escandinávica, daí pretender-se filiar aqueles bois 
malhados aos Bos frontosus, que NILSSON (1911) encontrou em estado fóssil naquela 
península. SANSON opinava, entretanto, que havendo os Burgôndios partido do norte 
da Germânia, onde não foram encontrados fósseis do Bos frontosus, é bem provável que 
essa raça de bovino pré-histórico tenha sido levada para a Suíça de outra parte da 
Europa e não da Escandinávia. A seu ver, provavelmente do planalto da Bresse, na 
França, no extremo sul do Jura, donde o nome de Bos taurus jurassicus dado por ele.
Quanto à forma bovina sem chifres, ARENANDER (1898) ao depará-la nos 
palafitas, considerou-a um tipo étnico distinto, denominando-o Bos akeratos. Para ele, 
esta seria a fonte e origem das outras formas bovinas. SANSON (1907), inspirando-se 
em HERÓDOTO (500 anos a.C.), achou que o gado mocho deve ser originário da Cítia, 
sudoeste da Rússia asiática, pelo que lhe deu nome de Bos taurus scythicus. Dali ter-se-
ia espalhado pela Europa e por toda a parte.
A forma mocha é das mais encontradiças, em todos os países, acentuadamente 
nas regiões européias do Norte. Gado mocho existiu na Suíça palafita, nas turfeiras na 
Irlanda, na Holanda, no Egito das primeiras dinastias, na Cítia, no Turquestão, na 
Arábia, nas índias Ocidentais. Sua existência remota, entre os Citas, foi denunciada não 
somente por HERÓDOTO, mas também por TÁCITO, ESTRABÃO, HIPÓCRATES. 
Presentemente existe em quase todos os países, onde se criam raças bovinas. Até na 
África há raças mochas.
Por tudo isso se torna pouco aceitável admitir-se um tipo étnico único, a servir 
de tronco a todo o gado mocho. Este o ponto de vista de BARON (1888), embora sua 
explicação, sobre o aparecimento do mocho, seja por demais imaginosa. Achava ele que 
a perda dos chifres devia ter-se operado a partir da forma mais chifruda que, de repente, 
apresentaria variação em seus descendentes.
Para DUERST (1886) seria antes um dos resultados da domesticidade. Para 
prová-lo, chama a atenção para o fato de serem Cabras de chifres enormes as que se 
acham figuradas nos monumentos egípcios, enquanto que os atuais representantes são 
de corpos reduzidos ou sem chifres. E lembra ainda que, no tempo dos Faraós, todos os 
Carneiros eram armados, o que hoje já não é regra geral.
HERÓOOTO (500 anos a.C.) ao registrar a existência de um gado sem chifres, 
entre os Citas, procura explicar o fato atribuindo-o ao rigor do frio, que reprimia o 
crescimento ou a formação deles, do mesmo modo que o calor o aceleraria.
51
Figura 14 – Bos primigeiuns Bojanus (Cornevin – Zootechnie Générale).
Nenhuma dessas hipóteses é aceitável. O aparecimento do caráter mocho pode 
ser, hoje, convenientemente explicado, tendo-se como base a teoria da mutação. Trata-
se certamentede uma variação do gênero das mutações. Variação de que a espécie é 
capaz, sem consideração de tempo ou de espaço. Não constitui, entretanto, apanágio do 
Bos taurus, pois surge também em caprinos e ovinos.
Seu aparecimento só pode, então, ter-se operado posteriormente à formação da 
espécie provida de chifres, como todas as espécies do mesmo gênero, e da mesma 
família, as quais têm, no Antílope do mioceno e do plioceno (armado de chifres), o seu 
antepassado remoto e comum. E isso tanto se deu antes da domesticação, como já no 
estado de domesticidade. Certamente quando a variação ocorreu em domesticidade, ela 
deve ter sido mais facilmente insulada e fixada pelo homem, que viu nela talvez uma 
vantagem, ou, no mínimo, uma novidade.
Figura 15 – Bos frontosus Rt., Nilsson; Bos trochocheros Meyer (Cornevin – 
Zootechnie Générale).
Os Zebuínos, como ficou explicado, devem ser considerados como espécie 
diferente dos Bos taurus, obedecendo-se à classificação de LINEU, e tendo em vista o 
esquema de CUÉNOT (1936): diferenças morfológicas e fisiológicas, e de natureza 
ecológica. Essas diferenças são, em síntese, as seguintes: o Zebu é uma espécie 
tipicamente tropical, contrariamente aos taurinos, que são de clima temperado; possui 
uma giba típica, que já está presente no feto de poucas semanas; seu frontal fica quase 
ao nível dos parietais; tem a menos uma vértebra sacra e três coxigianas, e suas 
52
vértebras dorsais apresentam a apófise espinhosa muito desenvolvida, mormente a 
primeira, além de voltada para trás; suas orelhas são desenvolvidas e pendentes, e a 
barbela é característica pelo seu desenvolvimento, estendendo-se até ao "prepúcio ou 
umbigo"; pele ampla e provida de maior número de glândulas sebáceas (das 
observações de NAY e HYMAN (1956), sabe-se que em média os zebuínos apresentam 
1.300 glândulas sudoríparas por cm2 e os taurinos 994, apenas; gestação geralmente um 
pouco mais longa (290 dias); voz distinta e inconfundível; aparelho digestivo de maior 
atividade assimiladora; pronunciada resistência ao calor e à insolação. Como se vê, não 
se trata de um ou dois caracteres distintos, mas sim de alguns e de vária natureza, que 
tornam as duas espécies inconfundíveis.
A domesticação do Zebu deve ter-se operado muito remotamente, pois os 
Babilônios, Assírios, Egípcios deixaram em seus monumentos provas de que criavam 
esta espécie. A demonstração mais positiva, porém, de sua remota domesticidade, 
devemos aos Egípcios, cujos monumentos, de 2.100 anos a.C. (1ª dinastia), apresentam 
bois com giba inconfundíveis, ao lado de outros sem ela.
Segundo DASGUPTA (1945) deve ser um acontecimento dos mais remotos - 
uns 3.000 anos a.C. É o que se pode depreender do famoso sinete Mahenjodaro, que 
data dessa antiguidade, e no qual se depara um Zebu com chifres em lira alta.
Sua origem parece ser asiática, e indiana, pois é na Ásia onde se encontram as 
diversas formas selvagens de Bovinos, sobreviventes. Mas se assim é, houve uma 
diversificação na espécie, donde ser aceitável a classificação de WERNER (1902) em 
Bos zebu variedade indicus (Zebu asiático ou indiano) e Bos zebu variedade africanus 
(Zebu africano).
O que nos interessa, porém, é o Bos zebu indicus Werner, ou simplesmente Bos 
indicus L. É o mais importante economicamente e é a espécie que criamos no Brasil, 
vitoriosamente. Sua área geográfica é imensa, maior do que a do Bos taurus taurus, 
considerando as duas subespécies de WERNER, conjuntamente: Índia, Indochina, 
Pérsia, Arábia, China, Austrália, Africa, Brasil, Antilhas, Estados Unidos, México e 
países sul-americanos, com exceção do Chile e Uruguai.
Qual será sua origem étnica? Não se conhece.
Segundo a hipótese de KELLER (1909-1913), o Bos sondaicus, Mull ou 
Bantengo seria o suposto antepassado do Bos indicus. Donde sua classificação: Bos 
sondaicus indicus, para o Zebu da índia, e Bos sondaicus africanus para o Sanga ou 
Zebu africano. A semelhança na conformação craniana foi o que levou a essa hipótese 
de parentesco direto entre o Zebu e o Bantengo.
LYDEKKER (1898) vê no Bos namadicus Falconeri uma das formas primitivas 
de Bovino indiano. O Bos namadicus ou Bos acutifrons foi um Bovino selvagem do 
pleistoceno, cujos fósseis abundantes no vale do Nerouda (Índia), Falkner e Lydekker 
tanto estudaram. Tais fósseis apresentam enorme variabilidade, indo desde sua 
aproximação com o Bos primigenius de um lado, até com o gênero Bibovino, de outro – 
diz Adametz (1926), e podem ser considerados com segurança como descendentes do 
Boi selvagem asiático, aproximado do Bos primigenius europeu, e procedente direto do 
Bos namadicus.
53
Figura 16 - O Zebu, na expressão artística da remota civilização egípcia (De Saint-
Hilaire- Acclimatation et Domestication).
Por outro lado verifica-se a presença, na Ásia, de um Bovino pequeno, 
cornicurto, provido, em algumas regiões, de pequena giba de gordura, cujo crânio se 
aproxima do Bos brachyceros europeu, mas que não pode ser com este confundido, o 
que faz crer que a forma namadicus originou certamente, por mutação, as duas formas: 
Bos asiático primigeniforme, e Bos asiático braquícero.
Nenhuma forma selvagem do Zebu se conhece.
ZEUNER (1963) acha admissível que o Zebu é o "descendente direto" daquela 
forma selvagem, encontrada através de todo o Pleistoceno, na índia, e que não é outro 
que o Bos namadicus.
O Búfalo (Bubalus bubalis Lyd.) é criado em todo o sul da Ásia (Índia, 
Paquistão), no Japão, China, arquipélago malaio; no sudoeste da Europa (sul da Rússia, 
Balcans, Hungria, Itália meridional); na África (Egito); e na América (Antilhas, e 
principalmente no Brasil em todos os estados).
Originário da Ásia, sua introdução na Europa data dos meados do primeiro 
milênio de nossa era, e na Itália parece que desde o ano 595 depois de Cristo, vem 
sendo utilizado nas regiões pantanosas meridionais. No Brasil, os primeiros rebanhos se 
estabeleceram em Marajó, no começo deste século.
O Búfalo doméstico descende do Bubalus Arni.
6 O Porco
Este é o único artiodátilo monogástrico, vivendo em domesticidade. Pertence ao 
gênero Sus, aparecido no velho mundo durante a época quaternária. A América não 
possuía nenhum representante desse grupo, entretanto nela vive o Dicotyles, gênero que 
dele se avizinha, mas que não é absolutamente domesticável (nossos porcos do mato), 
como não o são os animais pertencentes ao gênero Babirussa Cuv. (Porco-cervo, de 
Celebes, Malucas, Índia), Phacochoerus Cuv. (Porco-de-verruga, da África) e 
Potamochoerus Gray (da África) todos da família dos Suidae.
Durante muito tempo discutiu-se a respeito das espécies constituintes do gênero 
Sus, espalhado numa extensa área geográfica, e apresentando grande variabilidade de 
forma. Isto deu margem a multiplicar-se o número de espécies, o que, em vez de 
simplificar a questão, mais a tem dificultado. CORNEVIN (1897), pondo esse fato em 
evidência, chegou a organizar um pequeno quadro, no qual estão arroladas as opiniões 
de alguns dos principais naturalistas, que cuidavam do assunto, naquele tempo (1891). 
Esse quadro é o seguinte:
54
Classificação segundo vários autores
De Claus De Brehm De Chenu De Forsyth 
Major
De Nathusius 
Major
Sus scrofa Lineu Sus scrofa Lineu Sus scrofa Lineu Sus scrofa Lineu Sus scrofa Lineu
Sus indicus 
Pallas
Sus leucomystax 
Br.
Sus papuensis 
Lesson
Sus vittatus 
Temmink
Sus indicus 
Pallas
Sus verrucosus 
Muller & 
Sechlegel
Sus vittatus 
Wagner
Sus verrucosus 
Muller & 
Sechlegel
Sus verrucosus 
Muller & 
Sechlegel
» » »
Sus pliciceps 
Gray
Sus 
andamanensisSus cristatus 
Temmink
Sus barbatus » » »
Sus vittatus 
Temmink
— — — » » »
Como se vê, o único ponto no qual há concordância é quanto ao Sus scrofa, que 
aparece em todas as classificações. No mais, reina visível desarmonia. Ora, isto é uma 
prova de fragilidade de tais diferenciações específicas, quando elas se esmeram em criar 
sempre espécies novas, em face de cada forma que aparece para ser identificada.
O ponto de vista de NATHUSIUS (1872), partilhado por grande número de 
autores, é que todas as raças conhecidas de porcos podem ser filiadas a dois grandes 
grupos específicos: Sus scrofa, de Lineu, e o do Sus indicus de Pallas. Na verdade, a 
maioria dos paleontologistas chegou à conclusão de que só podem ser aceitas como 
espécies distintas, duas formas fósseis do período neolítico, exatamente o Sus scrofa, 
representado pelo Javali, atual, da Europa, e o Sus indicus de Pallas, pois o Sus palustris 
de Rütimeyer deve ser filiado ao grupo indicus e o Sus vittatus Temmnik (de Java) está 
equiparado, por NATHUSIUS, ao porco oriental (Sus indicus).
Figura 17 - Javali ou Sus scrofa, que é o Porco selvagem europeu, e uma das espécies 
que deram origem ao Porco doméstico. A única sobrevivente, aliás.
Estas duas formas fósseis foram encontradas, não apenas nos pala fitas da Suíça, 
mas ainda nas turfeiras do Lonato (Itália), e na estação lacustre de Ripac (Bósnia). A 
mais abundante, contudo, é a do Sus indicus, cuja freqüência é esmagadoramente maior 
do que a do Sus scrofa. Esta é uma forma mais desenvolvida do que o Sus indicus, e 
para alguns a primitiva e originária. Sua área geográfica é extensa. Possui hoje ainda 
representantes selvagens na Europa na Ásia. "O Sus scrofa da Europa e os Javalis 
orientais assemelham-se tanto - escreve I.G. SAINT-HILAIRE (1861)- que não é 
possível ainda determinar exatamente as diferenças específicas entre eles".
55
O Sus indicus só é conhecido atualmente por suas formas domésticas, pois dele 
não existe nenhuma forma selvagem, salvo uma, muito aproximada, que é o Sus 
vittatus, de Java, e outros tipos próximos. Daí o Sus vittatus ser citado como a espécie 
asiática que, com o Sus scrofa deu origem ao Porco doméstico.
A coexistência das duas espécies fósseis, nas mesmas regiões exploradas, a 
grande área geográfica onde se acha disperso o gênero Sus, a extrema maleabilidade que 
ele apresenta e mais a fecundidade franca entre todas as formas porcinas, selvagens ou 
domésticas, hoje conhecidas, permitem concluir que se trata de duas formas, uma 
derivada da outra, mais remota. Para CORNEVIN (1897), o Sus indicus seria anterior: 
"As descobertas dos paleontologistas impõem esta conclusão" (1891). Aliás, esse é o 
ponto de vista de SAINT-HILAIRE, NATHUSIUS e KARL VOGT.
CUVIER, BUFFON e NEHRING são pela unidade específica de todas as raças 
de Porcos. O primeiro e o último, pelo menos, são partidários de dar prioridade ao Sus 
scrofa, do qual todos os outros seriam derivados, inclusive o Sus indicus, espécie 
considerada não legítima.
SANSON (1907), mais Zootecnista do que etnólogo, colocou-se nesta questão 
em posição unilateral e solitária, negando parentesco direto entre os porcos domésticos 
e o Sus scrofa. São palavras suas: "Quanto ao seu parentesco com o Javali da Europa, 
cremos ter há muito demonstrado não ser admissível tal coisa, baseando-nos ao mesmo 
tempo sobre os caracteres essenciais da fórmula vertebral, sobre os do crânio e sobre os 
outros caracteres exteriores". Adiante, referindo-se à opinião de CUVIER e à de 
SAINT-HILAIRE (1861), escreve que nem uma nem outra podem ser admitidas, após o 
que suas pesquisas provaram, isto é, a existência de uma diferença numérica de 
vértebras, entre os porcos domésticos da Europa ocidental e meridional, da Ásia oriental 
e o Javali europeu. "Como não é permitido supor que, tornando-se doméstico, o Javali 
tenha ganhado uma vértebra na Europa e perdido outra na Ásia, é-se forçado a concluir 
que todas essas espécies de Suídeos são igualmente naturais, e que tiveram origens 
distintas". E não querendo entrar na filogenia remota das espécies, appartenant ou 
domaine de la pure imagination, divide os suínos atuais nos três tipos clássicos: Sus 
asiaticus, Sus ibericus e Sus celticus, de acordo com o perfil craniano e as orelhas1.
Asiático: perfil ultra-côncavo e orelhas pequenas, em pé, Ibérico: perfil côncavo e 
orelhas médias, semi-eretas. Céltico: perfil subcôncavo e orelhas grandes cabanas.
Esta classificação pode servir como elemento de trabalho, em zootecnia. Falta-
lhe, contudo, rigor, porquanto se propõe estabelecer distinções e firmar grupos dentro de 
uma população que, certamente, sofreu cruzamento apreciável, e cuja variabilidade é 
tida como uma das mais extensas entre as espécies domésticas.
DARWIN (1879), por outro lado, aceitando a conclusão a que chegou 
HERMAN VON NATHUSIUS (1872), opina pela dualidade de espécies. "Depois de ter 
lido as descrições e as observações de NATHUSIUS - escreveu ele - parece-me que 
seria fazer jogo de palavras, por em dúvida a distinção específica do Sus indicus, pois as 
diferenças assinaladas (na largura do crânio, nos ossos lacrimais e palatinos, e na 
dentição) são mais.fortemente acentuadas do que as que se apontariam, por exemplo, 
entre o Lobo e a Raposa ou entre o Jumento e o Cavalo."
É preferível, pois, considerar dois grupos específicos, um scrofa e outro indicus 
(ou melhor, asiático, pois este nome é apenas uma deferência feita por NATHUSIUS a 
PALLAS, que primeiro assim classificou esta forma do gênero Sus). Isto seria, aliás, 
aceitar o critério não só de NATHUSIUS e de DARWIN, seu comentarista, mas ainda o 
de PALLAS (1800) e BLAINVILLE.
1 Asiático: Perfil ultracôncavo e orelhas pequenas, em pé. Ibérico: perfil côncavo e orelhas médias, semi-
eretas. Céltico: perfil subcôncavo e orelhas grandes cabanas.
56
Sus scrofa e Sus indicus (Sus vittatus, forma sobrevivente) misturando-se em 
domesticidade, certamente é que deram origem a esse grande número de raças porcinas, 
hoje exploradas em todas as partes do mundo. As raças napolitanas, andaluzas, 
húngaras, krause de NATHUSIUS, etc. são raças grandemente cruzadas com o Sus 
indicus, o que se descobre pelos caracteres cranianos. Diz NATHUSIUS que a infusão 
de 1/32 de sangue indicus, numa variedade tipicamente scrofa, será o bastante para 
modificar o crânio desta.
A aptidão à engorda foi um dos característicos trazidos pelo porco oriental, nos 
seus cruzamentos com o porco europeu no qual esse atributo não se apresentava tão 
acentuadamente, ou talvez mesmo estivesse ausente.
O porco foi o último, na ordem cronológica, dos animais domesticados na 
Europa, no período neolítico, ou então, ali existentes. RÜTIMEYER chegou a supor, 
examinando certas particularidades dos fósseis por ele encontrados, que o Porco das 
turfeiras (Sus palustris) deveria ser ainda selvagem na primeira parte da idade da pedra 
polida, e só entrou em domesticidade para o fim do mesmo período.
Na Ásia, sua domesticação é antiqüíssima, parecendo que há 5.000 anos os 
chineses já o criavam em domesticidade. Na verdade, a diversificação intensa, por que 
ele passou, leva a aceitar-se essa remota domesticação para uma espécie, cuja forma 
selvagem é considerada como já tendo desaparecido, acreditando-se ainda que o Porco 
asiático só foi conhecido dos europeus quando já doméstico e, em tal estado, trazido e 
espalhado pela extensíssima área geográfica, que veio a ocupar. Os Árias, vindos da 
Ásia, pelo sul da Europa, introduziram, provavelmente, nas regiões invadidas, seus 
animais domésticos, inclusive o Porco; ou pelo menos ensinaram osmeios de o 
domesticar. Assim, na Europa, sua domesticação começou, então, no sul, com a vinda 
dos Árias.
Convém não esquecer, entretanto, que alguns povos asiáticos não aprenderam a 
tirar proveito do porco, considerando sua carne nociva à saúde. Tal é o caso dos Hindus, 
dos Israelitas e dos Maometanos de hoje, e ainda dos antigos Egípcios, entre os quais o 
Porco não figurava em seus baixos-relevos ou pinturas, como fizeram com outras 
antigas espécies domésticas. Chegaram ao extremo de ver, na sua criação, um ofício dos 
mais vis1. Nem HERÓDOTO, nem ESTRABÃO, lembra CORNEVIN (1891) citam o 
Porco como animal da Arábia.
7 O Cavalo e o Jumento
Paleontologicamente a história do Cavalo se tornou das mais conhecidas. 
OSBORN, LEIDY e, sobretudo MARSH, estudando os fósseis de Pré-Eqüídeos 
americanos, oferecem elementos facilmente convincentes, para que fosse abandonada, 
de modo definitivo, a concepção de uma origem paleontológica asiática do Cavalo, e se 
formasse a convicção de que os Eqüídeos são formas, cuja evolução se processou na 
América, e não na Ásia. Do novo continente é que, por sucessivas migrações, passaram 
à Ásia, à Europa e África, onde foram encontradas formas fósseis, mostrando sua 
extensa área geográfica. Daí a síntese de GUYÉNOT (1947): "O gênero Equus, 
1 Essa superstição, contra o Porco, passou, modificada e atenuada, aos nossos antigos sertanejos, que 
não pronunciavam o nome do porco sem pedir licença, e mesmo assim utilizando-se de uma alcunha, que 
contorna o embaraço. A alcunha, de sua invenção, é "o cabeça baixa"... A origem dessa ojeriza ao suíno 
foi explicada para o caso dos Egípcias, por ELLIEN, que escreveu: "O Porco é de tal modo voraz que não 
poupa nem seus filhos, e devora os cadáveres humanos. Eis porque os Egípcios têm-lhe tanto horror". 
Enquanto isso, os gregos, parece, gostavam muito dele, "a julgar pelo epíteto de divino, que Homero deu 
ao primeiro porqueiro de Ulysses" - (HOEFER).
57
aparecido no fim do plioceno, extinguiu-se no quaternário, em sua pátria de origem 
(América); emigrou para a América do Sul, onde também desapareceu. Somente as 
famílias emigradas para a Eurásia persistiram, e é delas que derivam todos os Eqüídeos 
atuais" 
Em verdade pode-se dizer que os Eqüídeos, surgidos na América, se espalharam 
por todas as partes do mundo, com exceção da Austrália (onde, aliás, não foi encontrada 
nenhuma . forma de Mammalia, a não ser fósseis inferiores) e também Madagáscar e 
ilhas nipônicas.
Se na América foi onde se formou o gênero Equus, não foi ali, entretanto, que o 
Cavalo passou à domesticação. Nem mesmo formas selvagens lá sobreviveram, 
desaparecendo o Cavalo, por completo, do Novo Mundo, durante o quaternário. Tanto 
foi assim que os europeus, ao chegarem à América, não encontraram Eqüídeo algum. 
Ficaram, todavia, seus fósseis, para revelarem ao paleontologista o que hoje sabemos: 
ser a América o berço dos pré-Eqüídeos.
A conquista do Cavalo, para a civilização, de cujo progresso foi ele um fator 
inegável, deve-se aos arianos e protomongóis. Foram, não há dúvida, esses povos da 
Ásia que domesticaram o Cavalo, seja na Ásia mesmo, seja na Europa, onde 
encontraram Eqüinos, que resultaram de um processo provável de evolução, a partir das 
formas sucessivamente emigradas de seu berço americano. Evolução paralela àquela 
que se operou no Novo Continente. Ou senão, Eqüinos inteiramente emigrados do 
Oriente e da América, como o foram as formas fósseis sucessivas, que não teriam 
continuado sua evolução, extinguindo-se umas após outras, consoante o ponto de vista 
de LÉON MOULÉ.
"Pergunta-se - escreveu CORNEVIN (1897) - se a filiação foi verificada 
paralelamente nos dois continentes, ou se um deu ao outro as espécies, à medida que 
estas foram se formando: As duas hipóteses têm sido defendidas; como as passagens 
entre as formas americanas apresentam menos hiatos do que as do antigo continente, a 
hipótese da aparição exclusiva dos pré-Eqüídeos no Novo Mundo conta com partidários 
muito decididos. Sabe-se que os dois continentes comunicavam-se um com o outro, 
pelo menos durante boa parte da época terciária" (região do Kantschatka).
Sua domesticação, ou pelo menos sua utilização como auxiliar do homem, na 
Europa, parece ter sido praticada já fora do período neolítico, na idade do bronze. É a 
opinião de alguns, tendo-se em vista que os fósseis, abundantes do período paleolítico, 
tornam-se raros durante o neolítico, na Europa central e ocidental, reaparecendo em 
grande abundância, justamente, quando o homem primitivo entrou a utilizar-se do 
bronze.
Isso não quer dizer que o homem não o conhecesse e não tirasse dele algum 
proveito, desde a idade da pedra lascada, conhecia-o. Mas, supõe-se que não o houvesse 
ainda domesticado; pelo menos se presume que, na Europa, não era ele doméstico. Nos 
fósseis mais remotos de Eqüinos, notam-se indícios, mais ou menos certos, de que a 
utilização única do Cavalo, nessa época, seria como alimento. Depreende-se isso da 
ausência quase completa, em tais jazidas, de vértebras e costelas, partes essas mais 
pobres de carne, denunciando que o homem caçava o animal, e transportava, para sua 
caverna, apenas as regiões mais carnudas, isto é, os quartos. Demais, as ossadas se 
mostravam quebradas, em quase todos os casos, com marcas de instrumento cortante, 
indicando que delas fora retirada, provàvelmente, a porção muscular, e ainda 
aproveitada a medula ou tutano, dos ossos longos.
58
Figura 18 - O Eohippus, cavalo do Eoceno, considerado o antepassado, provavelmente 
mais remoto do cavalo do Quaternário. Possuía quatro dedos nos membros anteriores e 
três nos posteriores. Fotografia do quadro do Museu de Zootecnia da Faculdade de 
Veterinária de Buenos Aires (CABRERA, 1925).
Outro argumento, desfavorável à domesticação mais remota do Cavalo, é a 
observação feita por TOUSSAINT, sobre grande número de ossadas fósseis, nas quais 
verificou que as superfícies articulares são mais pronunciadas, e mesmo os ossos se 
apresentam mais desenvolvidos do que nas espécies domésticas.
CORNEVIN, partidário da domesticação mais recente do Cavalo, disse: "Não 
deve ser motivo para admiração, aliás, que o Cavalo não tenha sido um dos primeiros 
animais domesticados; o que se sabe de seus hábitos, no estado selvagem, tão afastado 
de toda a tendência à servidão; do medo que ele inspira aos povos ainda selvagens, 
também; das dificuldades em domar-se o Cavalo, que se asselvajou – bem o justifica. 
Mas, se a conquista do Cavalo foi tardia, mostrou-se fecunda em resultados. Com ela, a 
força e a velocidade do homem foram decuplicadas; ele pode ir, longe, atacar seus 
inimigos, surpreendê-los pela rapidez de sua chegada ou deles fugir facilmente; transpôs 
as estepes, contornou as montanhas e os pântanos, espalhou-se em extensões enormes, 
procurou, para seus rebanhos, as melhores pastagens, e para eles as regiões mais 
convenientes. Com esse auxiliar, as migrações longínquas e em massa vão começar, e 
com elas as grandes invasões e as guerras sangrentas!"
Como se sabe, o gênero Equus é um grupo zoológico notável pelo fato de se 
poder acompanhar sua longa evolução através das idades paleontológicas (fala-se em 
cinqüenta milhões de anos!). E essa evolução foi bem determinada para o Cavalo fóssil 
americano; da América parece que devem ter partido, periodicamente, algumas formas 
que chegaram até a Europa, e ali se extinguiram, com exceção da última, do Equus 
caballus, que foi a única a sobreviver ali, tendo desaparecido no Novo Continente, onde 
o colonizador não encontrou cavalo algum, como já foi dito.
59
Essa evolução parece ter-se processado assim, a partir do Eoceno inferior,com o 
Eohippus, cujo tamanho lembrava o de uma raposa (outros dizem de um cão Fox-
terrier), e com quatro dedos nos membros anteriores (do 2° ao 5°, já tendo desaparecido 
o 1°) e três dedos nos posteriores (2°, 3° e 4°, e vestígios do 5°). (Outros dizem que os 
membros anteriores não guardavam mais vestígio do 1° dedo, mas nos posteriores havia 
vestígios do 1° e do 5°). A seguir, verifica-se um aumento do porte e a redução dos 
dedos. Surge a forma Orohippus, ainda no Eoceno, na qual não se encontram mais 
vestígios do 1° e.do 5° dedos, dos membros posteriores; e o 5° dedo dos anteriores se 
apresenta menor. A forma Epihippus não foi bem determinada, por ser um fóssil muito 
incompleto, mas pensa-se ser a última do Eoceno.
Vem depois o Mesohippus, já no Oligoceno. Porte mais ou meios de um 
Carneiro; dedos mais reduzidos, em número de três em cada membro. Segue-se o 
Miohippus, que é uma forma aproximada e também do Oligoceno.
Agora no Mioceno, e então se dá a diversificação do phylum, em quatro formas, 
que não sobrevivem, com exceção de uma delas, o Merychippus, que continua a evoluir 
dando o Protohippus. (Uma dessas formas, o Anchitherium, emigrou até a Eurásia, e lá 
feneceu). Merychippus e Protohippus são as formas que se mostram já altamente 
especializadas, para a vida das planícies, cobertas de ervas, deixando as florestas. A 
primeira continua com três dedos, porém o dedo médio é o único a pousar no chão; os 
dois laterais (2° e 4°) regridem. O Protohippus, forma que se segue, pouco difere da 
anterior. Seu porte é quase o de um jumento. Diversifica-se, todavia, e dá uma forma 
que desce para o sul do continente, pouco evoluindo, e extinguindo-se depois 
(Hippidion, depois Orohippidion, esta no Pleistoceno); e outra, o Hipparion, que passa 
ao velho continente, e se extingue.
No plioceno aparece o Pliohippus, com um porte já grande, quase o Equus, e que 
continua a apresentar a regressão dos dedos laterais, já sem casco, e o único dedo 
normal (o 3º) constitui o pé. Esta é a forma mais antiga, com o pé evoluído do solípede. 
Segue-se o Plesihippus, e depois o Equus, ainda no Plioceno. Este Equus do Plioceno se 
60
Figura 19 – Modificações surgidas nos 
ossos dos membros do gênero Equus 
através das idades. (Boule e Piveteau).
diversifica em mais duas outras formas: uma que passa à América meridional, e a outra, 
que vão à Eurásia. Desta descende o Equus que vai ao Pleistoceno, forma eurasiática.
O Equus eurasiático, do Pleistoceno, por sua vez, parece ter-se diversificado em 
Equus zebra e Equus asinus, passando para a África; mas continuou a evoluir ainda, 
originando o Equus do quaternário, que povoou toda a Eurásia. Enquanto isso, o Equus 
da mesma espécie pleitocênica, que permaneceu na América, extinguiu-se.
O Cavalo doméstico é, pois, uma forma que descende de espécies de Equus 
eurasiático, do quaternário. Na América, nenhuma forma de eqüino foi domesticada.
Para CUVIER (1834), para PRIEM e poucos mais, o Equus fossilis, que é uma 
forma de Cavalo do quaternário europeu, seria a espécie que teria dado todas as raças de 
cavalo atuais. Essa opinião, contudo, não é fácil de ser sustentada.
Para DARWIN (1879) “é duvidoso que a totalidade das diferenças existentes, 
atualmente, entre as diversas raças, se tenha processado inteiramente no estado de 
domesticidade”. LÉON MOULÉ, por sua vez, opina que: “Todas as pesquisas feitas 
pelos sábios franceses, alemães, belgas e ingleses, nos fósseis das estações do Salutré, 
de Vézère, de Cro-Magnon, de Madeleine, etc., autorizam a concluir-se que os cavalos, 
desde o quaternário, já se achavam muito diferenciados, e que a espécie Equus caballus 
compreendia certo número de espécies menores, de raças geográficas ou primitivas, que 
podem ser consideradas como fontes dos cavalos atuais”.
“Os antepassados do nosso Cavalo atual, escreve MUMFORD (1908), nem 
sempre podem ser claramente definidos. De acordo com EWART, RIDGEWAY, 
OSBORNS e outros (1908), diversas foram as formas selvagens distintas diretamente 
predecessores do Cavalo de hoje”.
E que formas foram essas? Eis uma indagação muito difícil de ser respondida. 
Em geral os autores estão em desacordo, por via mesmo da impossibilidade de ligar as 
diferentes formas fósseis às raças atuais, do Cavalo doméstico. Dentre esses autores, 
DUERST, professor da Universidade de Zurique (Berna, diz DECHAMBRE) que 
estudou, ujustamente, com particular interesse, a origem dos animais domésticos, é o 
criador da hipótese mais citada (DECHAMBRE (1914), MASCHERONI, 
MARTINOLLI).
Para DUERST (1908), a forma Equus caballus fossilis, assim classificada por 
RÜTIMEYER, e considerada por CUVIER como a forma primitiva mesmo, seria o 
tronco que teria dado os atuais eqüinos, mas através de três espécies:
1 Equus caballus robustus de Nehring, que seria própria das estepes, e 
corresponderia a um tipo de cavalos grandes, de porte acima da média. Fonte provável 
dos cavalos de tiro.
2 Equus caballus pumpelli (Duerst) forma de cavalo do deserto. Trata-se de um 
tronco étnico a que talvez se possa filiar o chamado Cavalo “oriental”. Sua origem deve 
ser asiática; há mais de três mil a.C. já o Cavalo vivia doméstico na China.
3 Equus caballus Nehringi (Duerst) das florestas da Alemanha, seria o 
antepassado dos Pôneis da Grã-Bretanha e Irlanda.
Para Duerst (1886) o Equus fossilis Rütimeyer teria um representante 
sobrevivente, habitando as estepes da Ásia Central e Setentrional. Seria aquele Cavalo 
selvagem, descoberto em 1879, no deserto da Dzungária, por PRZEWALSKI, 
considerado como um descendente vivo do cavalo fóssil de Rütimeyer, por DUERST, e 
que não deve ser confundido com aquelas formas de cavalos asselvajados, encontradas 
em vários lugares, inclusive na América do Sul.
Em KRONACHER (1919) depara-se outra explicação sobre a origem dos 
cavalos domésticos, explicação que se aproxima da de DUERST, e que examinada com 
61
atenção, não esclarece melhor o árdua problema, mas que aqui vai exposta para 
demonstrar como divergem os pontos de vista.
Figura 20 – Equus Przewalski, forma de cavalo selvagem primitiva e sobrevivente na 
Ásia setentrional (de Pusch).
Para KRONACHER (1937), três seriam as origens das raças eqüinas domésticas: 
duas provenientes do Equus fossilis Rütimeyer, que identificou ao Equus caballus 
Stenonis Chochi, e outra seria aquela forma sobrevivente de Cavalo primitivo, o Equus 
Przewalski. Então, ter-se-ia a seguinte seriação:
1 Equus caballus Przewalski, forma asiática sobrevivente, a que já foi feita 
referência, vivendo na Ásia setentrional, em pleno estado selvagem. Cavalo pequeno de 
porte (1,30 m), porém forte, de perfil ligeiramente acarneirado ou reto, muito difundido 
pela Europa, no quaternário, e que parece ter sido domesticado dois a três mil anos a.C.
2 Uma forma “ligeira” do Equus Stenonis, ou seja, o Equus Gmelini Ant., que é 
o Tarpan da Rússia, selvagem, não extinto até o século passado. Forma pequena, 
difundida no paleolítico, na Europa central e ocidental. Domesticada dois mil anos a.C., 
deve ter vindo com os Árias, da Ásia. Parece ter sido a fonte do chamado cavalo 
oriental.
3 Uma forma “pesada” do Equus Stenoni, ou sejam os grandes cavalos do 
quaternário, de “sangue frio”, também chamados cavalos ocidentais, cujo centro de 
domesticidade deve ter sido a Europa central, um; e a Península Ibérica, outro. Dos 
cavalos da Península Ibérica deve descender a forma de cavalo Bérbere, que parece ter-
se conservado puro, e em parte mesclado com o Árabe.
62
Figura 21 – Filogenia do Cavalo (Segundo Lull, modificado por Lindsey )
Como se vê, ambasas explicações estão longe de satisfazer completamente, mas 
não há melhores.
63
 ÁFRICA EURÁSIA AMÉRICA AMÉRICA
 ETIÓPIA PALEÁRTICA DO NORTE DO SUL
 + NEÁRTICA NEOTRÓPICA
 ORIENTAL
 Equus Equus Cavalo das Cavalo das
 MODERNO florestas florestas 
 Zebras Tarpan
 Jumentos Jumentos
PLEISTOCENO Equus Equus Equus
 Extinto Extinto
 Onohippidion
 Extinto
 Equus Equus Equus
PLIOCENO Hipparion ↑
 Extinto Plesihippus Hippidion
 ↑
 Pliohippus
 Hipparion
MIOCENO
 Protohippus
 Hipohippus
 Extinto
 Anchiteriun Merychippus
 Extinto
 Parahippus
 Extinto
 Miohippus
 ↑
OLIGOCENO Mesohippus ?
 ↑
 Epihippus
EOCENO ↑
 Orohippus
 ↑
 Hyracotheriun Eohippus
E, então, pode-se dizer, em resumo, que a origem do Cavalo doméstico é 
polifilética. E não é uma afirmativa vaga. “A evidência, escrevem BABCOCK e 
CLAUSEN, é mais fortemente em apoio de uma origem polifilética, das raças de 
Cavalo moderno. Nos caracteres desses remotos antepassados do Cavalo, pode-se 
encontrar praticamente representados todos os caracteres dos atuais eqüinos” (1927).
Quanto ao Jumento, sabe-se que no período neolítico, período crítico da 
domesticação das espécies na Europa, não se depara com a presença dele, nem nos 
palafitas, nem nos depósitos de fósseis da Dinamarca e Escandinávia. Mas o Jumento 
selvagem, lembra ZWAENEPOEL (1922), foi encontrado nos altiplanos do Tibé por 
PRZEWALSKI (1887), e na Núbia e Etiópia é ele abundante.
Quanto à sua domesticação, prevalece a idéia de que o Jumento, embora de 
utilização posterior ao Cavalo, na Europa, foi utilizado mais remotamente na África e 
Ásia. Os mais antigos monumentos egípcios apresentam figuras do Jumento e “a partir 
da viagem de Abraão, ao Egito, o Jumento é citado em cada página do Gênese, 
enquanto que sobre o Cavalo, só há referência na época de José (CORNEVIN, 1891)”.
Assim prevalece a opinião de PIÉTREMENTE (1883), de que o Jumento foi 
domesticado anteriormente, ao Cavalo. Do mesmo modo opinaram SAINT-HILAIRE 
(1861) e GODRON (1858). É que, como descrito acima, sua domesticação se processou 
na África, e não na Europa (onde não havia e não há Jumento selvagem). Na África, 
particularmente, no vale do Nilo (ZEUNER, 1963).
Figura 22 – Equus taeniopus Huglin, ou Jumento selvagem da Núbia e Abssínia.
Parece provir, portanto, da Núbia e Etiópia, e a espécie selvagem que o originou, 
supõe-se ser o Equus taeniopus de Huglin, ali selvático.
Sua utilização, pelos povos europeus, foi bem posterior à do Cavalo, donde a 
conclusão errônea de que sua domesticação foi também processada depois da deste. 
Antes de os europeus terem o Cavalo em domesticidade, os povos da Núbia já se 
utilizavam do Jumento. A filologia nos ajuda a aceitar essa hipótese. Segundo A. 
PICTET (1853) todos os nomes modernos do Cavalo são de origem sânscrita ou zenda, 
enquanto que os Jumentos ou Asnos são de fonte semita.
Graças ao seu temperamento calmo e sua sobriedade, foi ele um animal que deve 
ter começado a prestar serviço ao homem assim que este o conheceu.
Embora de origem francamente tropical, é o Jumento hoje uma espécie 
doméstica que vive muito bem nos climas temperados, onde se encontram, aliás, suas 
raças melhoradas.
64
A grande contribuição do Jumento lembra ZEUNER (1963), à pecuária – foi ter 
dado origem a esse animal excepcional de trabalho - o Burro.
Uma das maiores realizações deste animal, registrado na história, foi o fato de 
Alexandre, o Grande, ter sido conduzido da Babilônia para Alexandria, nas costas de 
mulas, em número de 64, que constituíam o elemento de transporte do poderoso rei.
No Brasil, seu papel, foi mais extraordinário ainda, pois como sabemos, foi o 
Burro que ajudou a transportar em dado momento, nossas ingentes riquezas: o ouro das 
minas, o açúcar dos engenhos e o café das fazendas.
É o Onagro (Equus hemionus), que tem sido apontado como o antepassado do 
Jumento. Trata-se de uma espécie que, segundo ZEUNER (1963), viveu na 
Mesopotâmia anteriormente à introdução, ali, do Cavalo.
O Onagro foi amansado pelo Sumerianos (povo do vale do Eufrates) e 
largamente utilizado como besta de carga. Com a introdução do Cavalo, muito mais 
dócil e domesticável, desapareceu da lista dos animais a serviço do homem.
Ele nada tem a ver com o Asno africano, do qual descende o nosso prestimoso 
Jumento, disseminado em toda área tropical da Terra.
8 O Gato
O gato é uma espécie cuja vida em domesticidade foi admiravelmente resumida 
naquele dito italiano: Libertas sine labore. E na sua vida livre, sem trabalho, ele vem 
acompanhando o homem desde séculos. Assim, é que muito antigos são os vestígios de 
sua domesticação. BLYTH (1856) cita a referência encontrada em uma obra de 
sânscrito, mostrando

Continue navegando