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1MEDICINA LEGAL I MARCUS VINICIUS J. BARBOSA INTRODUÇÃO À MEDICINA LEGAL DEFINIÇÃO Medicina Legal é o ramo da medicina que põe seus conhecimentos a serviço das ciências jurídicas e sociais, na elaboração e execução das leis que deles necessitem. HISTÓRICO Os primeiros traços da prática da medicina legal são encontrados no Código de Hamurabi (Mesopotâmia), nas legislações egípcia e grega. Numa Pompílio, em Roma, ordenou o exame médico na morte de grávidas. Adriano e Justiniano utilizaram-se dos conhecimentos médicos para o esclarecimento de alguns fatos de interesse da justiça. Antístio examinou o cadáver de Julio César e constatou que, dos muitos ferimentos recebidos, apenas um foi mortal. Inocêncio III decretou legislação canônica em 1209, que convidava médicos a visitarem os feridos que estivessem à disposição da justiça. Gregório IX, em 1234, decretou legislação que exigia a opinião médica para distinguir, entre várias lesões, aquela cujo resultado era mortal; e colocava a nulidade de casamento ao exame da mulher cujo resultado coincidia com a não consumação da conjunção carnal. A medicina legal foi exercida de forma rudimentar nos séculos XIV e XV, entretanto foi no século XVI que houve o início de seu desenvolvimento propriamente dito. O Papa Leão X ao morrer, em 1521, foi necropsiado sob suspeita de envenenamento. Em 1525, inicia-se a medicina legal prática com o “Edito della Gran Carta della Vicaria di Napoli”. Em 1532, Carlos V decreta o Código Criminal Carolino, lei básica do Império Germânico que determinava o parecer de médicos e parteiras para esclarecimentos de juízes, em casos de lesões corporais, homicídios, infanticídios, abortamentos, etc. Em 1575, Ambroise Paré escreve o primeiro livro onde são tratadas várias questões de medicina legal; é considerado por alguns como o “Pai da Medicina Legal”. No entanto, Paolo Zacchias, em 1601, lança obra monumental e que, pela sua importância e qualidade científica, ainda hoje pode ser consultada com proveito. É considerado o verdadeiro “Pai da Medicina Legal”. Em 1818, Bernt em Viena cria o primeiro Instituto Médico- Legal. Em 1821, Orfila cria a toxicologia. No Brasil, Gonçalves Gomide (1814), médico mineiro e senador do Império, publica o primeiro trabalho brasileiro na área de medicina 2MEDICINA LEGAL I MARCUS VINICIUS J. BARBOSA legal. Em 1832, com a criação das Faculdades de Medicina no Brasil, começa o ensino oficial da medicina legal no país. Nina Rodrigues, em 1894, estabelece a independência da medicina legal brasileira, ao começar o período de pesquisas originais. Outros nomes expoentes da medicina legal no Brasil que devem ser lembrados são: Flamínio Fávero, Oscar Freire, Odo Maranhão, Genival Veloso de França, Hélio Gomes e outros. CAMPO DE ATUAÇÃO x Doutrinário: Auxílio à elaboração das leis. x Pericial: Ato propedêutico ou exame, feito por médico legista, com a finalidade de contribuir com a autoridade policial ou judiciária, na formação de juízos a que estão feitas. RELAÇÕES A medicina legal relaciona-se com as mais diversas áreas do conhecimento humano, não se restringindo à área médica ou biológica. São elas: x Física: calorimetria, espectroscopia, microscopia, fotografia, radiografia, etc; x Química: microcristalografia, toxicologia, etc; x Entomologia: estudo da fauna cadavérica; x Microbiologia e Parasitologia: estudo dos germes, parasitas, infecções, etc; x Balística: estudo das armas de fogo e seus projéteis, assim como as lesões concernentes; x Antropologia: identificação de cadáveres; x Infortunística x Anatomia: sede das lesões, relações dos órgãos, idade, raça, cor, dentes, ossos, etc; x Odontologia: identificação de carbonizados e esqueletizados; x Fisiologia e Bioquímica: asfixias, viabilidade fetal, inanição, etc; x Patologia: Estudo das lesões e estados mórbidos, feridas mortais, sobrevivência, lesões in vitam e post mortem, etc; x Imunologia: diagnose específica do sangue, tipagem sanguínea, paternidade, etc; x Genética: investigação de paternidade, crimes sexuais, etc; x Ginecologia e Obstetrícia: parto, puerpério, aborto; x Psiquiatria: capacidade civil, imputabilidade, etc. x Outros. PERÍCIAS, PERITOS E DOCUMENTOS MÉDICO-LEGAIS LEGISLAÇÃO x Código de Processo Penal 3MEDICINA LEGAL I MARCUS VINICIUS J. BARBOSA Artigo 158 – Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado. Artigo 159 – Os exames de corpo de delito e as outras perícias, serão feitos por dois peritos oficiais. §1o. Não havendo peritos oficiais, o exame será realizado por duas pessoas idôneas, portadoras de diploma de curso superior, escolhidas, de preferência, entre as que tiverem habilitação técnica relacionada à natureza do exame. §2o. Os peritos não oficiais prestarão o compromisso de bem e fielmente desempenhar o encargo. Artigo 160 – Os peritos elaborarão o laudo pericial, onde descreverão minuciosamente o que examinarem, e responderão aos quesitos formulados. Parágrafo único. O laudo pericial será elaborado no prazo máximo de dez dias, podendo este prazo ser prorrogado, em casos excepcionais, a requerimento dos peritos. Artigo 161 – O exame de corpo de delito poderá ser feito a qualquer dia e a qualquer hora. Artigo 162 – A autópsia será feita pelo menos seis horas depois do óbito, salvo se os peritos, pela evidência dos sinais de morte, julgarem que possa ser feita antes daquele prazo, o que declararão no auto. Parágrafo único. Nos casos de morte violenta, bastará o simples exame externo do cadáver, quando não houver infração penal que apurar, ou quando as lesões externas permitirem precisar a causa da morte e não houver necessidade de exame interno para a verificação de alguma circunstância relevante. Artigo 163 – Em casos de exumação para exame cadavérico, a autoridade providenciará para que, em dia e hora previamente marcados, se realize a diligência, da qual se lavrará auto circunstanciado. Parágrafo único. O administrador de cemitério público ou particular indicará o local da sepultura, sob pena de desobediência. No caso de recusa ou de falta de quem indique a sepultura, ou de encontrar-se o cadáver em lugar não destinado a inumações, a autoridade procederá às pesquisas necessárias, o que tudo constará do auto. Artigo 164 – Os cadáveres serão sempre fotografados na posição em que forem encontrados, bem como, na medida do possível, todas as lesões externas e vestígios deixados no local do crime. Artigo 165 – Para representar as lesões encontradas no cadáver, os peritos, quando possível, juntarão ao laudo do exame provas fotográficas, esquemas ou desenhos, devidamente rubricados. 4MEDICINA LEGAL I MARCUS VINICIUS J. BARBOSA Artigo 166 – Havendo dúvida sobre a identificação do cadáver exumado, proceder-se-á ao reconhecimento pelo Instituto de Identificação ou repartição congênere, ou pela inquirição de testemunhas, lavrando-se auto de reconhecimento e de identidade, no qual se descreverá o cadáver, com todos os sinais e indicações. Parágrafo único. Em qualquer caso, serão arrecadados e autenticados todos os objetos encontrados, que possam ser úteis para a identificação do cadáver. Artigo 167 – Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem desaparecido os vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta. Artigo 168 – Em casos de lesões corporais, se o primeiro exame pericial tiver sido incompleto, proceder-se-á a exame complementar por determinação da autoridade policial ou judiciária, de ofício, ou a requerimento do Ministério Público, do ofendido ou do acusado, ou de seu defensor. §1o. No exame complementar, os peritos terão presentes o auto de corpo dedelito, a fim de suprir-lhe a deficiência ou retificá-lo. §2o. Se o exame tiver por fim precisar a classificação do delito no artigo 129, §1o., n.I, do Código Penal, deverá ser feito logo que decorra o prazo de 30 dias, contados da data do crime. §3o. A falta de exame complementar poderá ser suprida pela prova testemunhal. Artigo 180 – Se houver divergências entre os peritos, serão consignadas no auto de exame as declarações e respostas de um e de outro, ou cada um redigirá separadamente o seu laudo, e a autoridade nomeará um terceiro; se este divergir de ambos, a autoridade poderá mandar proceder a novo exame por outros peritos. Artigo 181 – No caso de inobservância de formalidades, ou no caso de omissões, obscuridades ou contradições, a autoridade judiciária mandará suprir a formalidade, complementar ou esclarecer o laudo. Parágrafo único. A autoridade poderá também ordenar que se proceda a novo exame, por outros peritos, se julgar conveniente. Artigo 182 – O juiz não ficará adstrito ao laudo, podendo aceitá-lo ou rejeitá- lo, no todo ou em parte. PERÍCIAS DEFINIÇÃO Perícia: É a capacidade teórica e prática para empregar, com talento, determinado campo do conhecimento alcançando sempre os mesmos resultados. 5MEDICINA LEGAL I MARCUS VINICIUS J. BARBOSA Perícia Médico-Legal: É o conjunto de atos propedêuticos ou exames, feitos por médicos, com a finalidade de contribuir com autoridades na formação de juízos a que estão obrigados, para o esclarecimento de fatos de interesse da justiça. OBJETIVO O objetivo principal é determinar a materialidade do crime. A perícia médico-legal precisa demonstrar, para que se possa admitir a hipótese, a existência de nexo causal entre a ação e o resultado desta ação. OBJETO Pessoas Vivas: exames de lesões corporais, conjunção carnal, ato libidinoso, gravidez, abortamento, parto, puerpério, embriaguez, toxicomania e insanidade mental. Cadáver: identificação, realidade da morte, época da morte, determinação da causa médica (causa mortis) e jurídica (natural ou violenta) da morte, além de distinguir lesões intra vitam e post mortem. AUTORIDADES REQUISITANTES Poderá requisitar a perícia o delegado de polícia, o juiz de direito e os oficiais militares (na direção de um inquérito policial militar). O Ministério Público por si só não pode requisitar a perícia. CONCEITOS Corpo de Delito: É o conjunto de todos os elementos materiais de uma conduta incriminada inclusive meios e instrumentos de que sirva o criminoso. Falsa Perícia: É a afirmação contra a verdade, a negação da verdade e o silêncio sobre a verdade; é crime previsto no artigo 342 do Código Penal. Imperícia: É a ignorância, falta de conhecimento técnico- científico, inabilitação específica para a prática de determinado ato; é uma das formas de crime culposo, previsto no artigo 18, inciso II do Código Penal. OBS: A prática médico-legal é prova, quase sempre objetiva, em qualquer fase do processo. PERITOS DEFINIÇÃO São pessoas qualificadas e experientes em determinados assuntos e que, designados pela justiça, recebem a incumbência de ver e 6MEDICINA LEGAL I MARCUS VINICIUS J. BARBOSA referir (visum et repertum) fatos de natureza permanente, cujo esclarecimento é de interesse num processo. Os peritos médico-legais podem ser: Oficiais: Pessoas físicas investidas de cargos públicos pertencentes a carreiras do funcionalismo público federal ou estadual, mediante concurso de ingresso. Louvados: São também chamados de nomeados, designados, não oficiais ou Ad Hoc. São auxiliares da justiça que assessoram o Juízo sempre que a prova do fato dependa de conhecimento técnico, científico ou artístico. Assistentes Técnicos: Inexistem no juízo criminal, é admissível no juízo cível (artigo 421-431 do Código de Processo Civil). OBSERVAÇÕES O perito deve evitar qualquer interferência que possa constrangê-lo no desempenho de suas funções, não admitindo, em nenhuma hipótese, subordinar sua apreciação a qualquer fato ou situação que possa comprometer sua independência intelectual e profissional. O perito não cria e não crê, isto é, apenas insere em seu laudo os fatos e atos examinados e estudados, não fundamentado em simples suposições ou probabilidades, devendo apresentar suas conclusões com toda a objetividade, mantendo sempre a isenção e a imparcialidade. As conclusões devem ser legitimadas de acordo com fundamentação técnico- teórica bem estabelecida. O artigo 120 do Código de Ética Médica proíbe o médico de “Ser perito de paciente seu, de pessoa de sua família ou de qualquer pessoa com a qual tenha relações capazes de influir em seu trabalho”. DOCUMENTOS MÉDICO-LEGAIS Notificação: Trata-se de uma comunicação compulsória, por força legal pura e simples, de um fato médico à autoridade competente, para que sejam tomadas as providências cabíveis. Atestado: É a afirmação simples e por escrito de um fato médico e suas conseqüências. Relatório: É a descrição mais minuciosa de uma perícia médica, a fim de responder à solicitação de uma autoridade. É um processo inicialmente analítico e por fim sintético. Pode ser de dois tipos: Laudo: Quando escrito pelo próprio perito (contém resposta aos quesitos); 7MEDICINA LEGAL I MARCUS VINICIUS J. BARBOSA Auto: Quando ditado ao escrivão e assinado pelo perito (não contém resposta aos quesitos). Parecer: É uma opinião pessoal sobre determinados fatos médicos. Geralmente são solicitados a profissionais de prestígio e bom conceito na matéria. Consulta: É o esclarecimento prestado em conseqüência de dúvidas ou omissões de ordem médica. Depoimento Oral: É a informação prestada, de viva voz pelo perito, perante a autoridade policial ou judiciária. 8MEDICINA LEGAL I MARCUS VINICIUS J. BARBOSA QUESTÕES 1. Um médico atende no pronto socorro uma vítima de acidente de trânsito. Como ele é também um dos médicos legistas da cidade (ML - SP 1/02): a) é sua obrigação fazer o laudo de corpo de delito da vítima em questão, porque você já o atendeu no mesmo caso. b) embora não seja sua obrigação, é recomendável que você faça o laudo de corpo de delito da vítima em questão, já que você conhece bem o caso. c) você deve fazer o laudo apenas se você for também o plantonista do IML, quando a vítima se apresentar para o exame de corpo de delito. d) você está impedido de fazer um laudo de corpo de delito da vítima de questão, pois ela é ou foi seu paciente no mesmo caso. 2. Corpo de delito é o conjunto de elementos (ML - SP1/02): a) Materiais. b) Biológicos. c) Virtuais. d) Cadavéricos. 3. Na legislação brasileira pertinente às autópsias, está correto afirmar (ML - SP 1/02): a) A autópsia só pode ser realizada 6 horas após a constatação da morte. b) A autópsia pode ser realizada a qualquer hora, incluindo as noites. c) Nas autópsias é obrigatório o estudo cavitário. d) Nas vítimas fatais de acidentes de trânsito é obrigatório a coleta de amostras para determinação de alcoolemia. 4. O exame complementar, único ou primeiro, para a avaliação da gravidade de lesão corporal (Art. 129 e parágrafos do CP) deve ser realizado (DP – SP 4/93): a) 30 dias após o exame inicial do corpo delito. b) logo depois de decorridos 30 dias do fato que produziu a lesão corporal em causa. c) quando o médico legista o determinar. d) quando a autoridade policial o determinar. 5. O médico legista realiza perícias (ML - SP 1/02): a) a pedido das partes. b) mediante solicitação através de advogados diretamente ao mesmo. c) quando requisitadas por autoridade policial ou judiciária. d) por requisição da autoridade policial ou do ministério público. 6. Quando a necrópsia for compulsória esta deve ser realizada (DP – PR 94): a) Após 24 horas doóbito. b) Após 48 horas do óbito. 9MEDICINA LEGAL I MARCUS VINICIUS J. BARBOSA c) Imediatamente após a morte, não podendo ser adiada. d) Pelo menos 6 horas após o óbito, podendo ser antecipada a critério do médico-legista. e) Após 12 horas do óbito, nunca podendo ser antecipada. 7. A exumação está indicada quando é necessário (DP – PR 94): a) Identificar cadáver inumado. b) Realizar necropsia que deixou de ser feita quando compulsória. c) Dirimir dúvidas acerca da necropsia anterior. d) As alternativas “1” e “3” estão corretas. e) Apenas as alternativas “2” e “3” estão corretas. 8. Perícia médico-legal baseada exclusivamente em prontuário médico de pronto-socorro denomina-se (DP – SP 2/94): a) Subsidiária. b) Complementar. c) Documental. d) Indireta. 9. Entende-se por perícia contraditória (DP – SP 1/94) a) A que está em contradição com os fatos. b) A que não se baseia nos fatos ocorridos. c) Aquela em que os peritos chegaram a conclusões conflitantes. d) Aquela em que os peritos não conseguiram chegar a nenhuma conclusão. 10. Estão desobrigados de prestar compromisso (DP – SP 1/94): a) Os peritos oficiais. b) Os peritos louvados. c) Os peritos nomeados. d) Os assistentes técnicos. 11. Uma paciente com síndrome da imunodeficiência adquirida pulou do 7º. Andar de um hospital onde estava internada. Seu corpo foi removido para o IML. Lá, os peritos constataram fratura cominutiva dos ossos do crânio e perda parcial do encéfalo como causa de morte, além de fraturas de ossos longos, escoriações irregulares e antecedente hospitalares sem alterações importantes. Encerraram a perícia sem fazer o exame interno do cadáver. De acordo com o Código de Processo Penal, os peritos (DP – RJ/00): a) Eram obrigados a fazer o exame interno. b) Agiram corretamente porque nada de relevante havia mais a apurar. c) Teriam que colher amostras das vísceras para exame complementar. d) Teriam que pedir autorização ao delegado para concluir sem o exame interno. e) Equivocaram-se, já que a mulher poderia ter sido jogada. 1MEDICINA LEGAL II MARCUS VINICIUS J. BARBOSA ANTROPOLOGIA FORENSE (IDENTIDADE E IDENTIFICAÇÃO MÉDICO-LEGAL) DEFINIÇÕES Identidade: É o conjunto de caracteres físicos, funcionais e psíquicos, natos ou adquiridos, porém permanentes, que fazem com que uma pessoa seja ela mesma e não outra, definindo-a como um ser. Identificação: É o processo pelo qual se determina a identidade de uma pessoa ou coisa. Os processos de identificação são sempre comparativos. APLICABILIDADE Identificação Pessoal: Identificação de pessoa ou cadáver desconhecido. Identificação Sexual: Nos crimes contra os costumes, nas anulações de casamento, etc. Identificação Etária: na apuração de responsabilidade, no levantamento dos elementos de determinados crimes, no registro civil, na adoção, etc. MATERIAL DE ESTUDO Vivos: nos atos civis e criminais. Morto: no cadáver desconhecido. Locais de Crime: pêlos, manchas de sangue ou esperma, pegadas, impressões digitais, etc. REQUISITOS TÉCNICOS Existem requisitos para que características possam ser utilizadas no processo de identificação, são eles: Unicidade: Deve permitir a distinção entre um indivíduo e todos os demais. Perenidade: Deve existir durante toda a vida do ser humano. Imutabilidade: Deve permanecer idêntico a si próprio, a partir do momento em que se constitui, nada podendo modificá-lo: idade, doença, etc. Praticabilidade: Deve ser facilmente obtido. Classificabilidade: Devem ser facilmente classificável, permitindo o seu arquivamento e facilitando a sua localização sempre que se fizer necessária. ELEMENTOS DE IDENTIFICAÇÃO MÉDICO-LEGAL Identificação Física: espécie, raça, sexo (cromossomial, gonadal interno e externo, genital interno e externo, jurídico, psíquico e 2MEDICINA LEGAL II MARCUS VINICIUS J. BARBOSA médico-legal), idade, estatura, sinais individuais (malformações, sinais profissionais, tatuagens e cicatrizes) e dentição. Identificação Funcional Identificação Psíquica Biotipologia Identificação Judiciária: datiloscópica, impressões dentárias, palatoscopia (estudo do pálato ou “céu da boca”), superposição de fotografias (prosopografia – ex. caso Menguele), pegadas e estudo através da análise do DNA. FASES DA IDENTIFICAÇÃO MÉDICO-LEGAL 1a. Fase: Registro ou Fichamento; 2a. Fase: Inspeção; 3a. Fase: Julgamento ou confronto dos registros. IDENTIFICAÇÃO DA ESPÉCIE A identificação da espécie se faz através do estudo dos seguintes elementos: OSSOS O estudo macroscópico e microscópico dos ossos, principalmente dos canais de Havers, torna fácil a distinção entre seres humanos e os demais animais. SANGUE O sangue pode ser submetido a ensaios genéricos de orientação (presume se o material é sangue ou contém sangue) e de certeza (confirmam que o material é sangue); específicos (exames morfológicos e reação morfológica antígeno-anticorpo), humanos e não-humanos; tipológicos ou grupais e regionais (racial, clínica, genética, jurídico-penal e jurídico cível). É o melhor elemento biológico para o diagnóstico da espécie animal. A pesquisa de cristais de Teichmann (cristais de hematina) define a identificação de sangue; é bastante usado como ensaio de certeza de sangue. PÊLOS Através da análise é possível a distinção entre pêlos humanos e animais. ARCADA DENTÁRIA Grande valia se houver planilha comparativa ou fotográfica. 3MEDICINA LEGAL II MARCUS VINICIUS J. BARBOSA IDENTIFICAÇÃO DA RAÇA A espécie humana tem várias subespécies, que possuem características genéticas distintas, caracterizando raças distintas. Os caracteres morfológicos que são valorizados na identificação da raça são: estatura, envergadura, forma da face e ângulos faciais, índices dentários, fenda palpebral, cor da íris, forma do nariz, espessura dos lábios, tipo e cor dos cabelos, forma do pavilhão auricular, pigmentação cutânea e distribuição pilosa. O estudo do crânio é o melhor elemento para o diagnóstico da raça. Os tipos étnicos fundamentais são: caucasiano (branco), negro, amarelo, indiano, australóide, cafuso (negro + índio), mameluco (branco + índio) e mulato (branco + negro). IDENTIFICAÇÃO DO SEXO A identificação do sexo pode ser necessária em casos de sexo dúbio (hermafroditismo verdadeiro e pseudo-hermafroditismo), mutilações no cadáver, exame de ossadas, etc. Os tipos de identificação sexual são: Sexo Cromossomial: Definido pelos cromossomos sexuais – 46XX (feminino) e 46 XY (masculino), pelos corpúsculos de Barr ou cromatina sexual (é negativo no homem e positivo na mulher) e pelo corpúsculo fluorescente (é positivo no homem e negativo na mulher – é encontrado até 75h post mortem). Sexo Gonadal ou da Genitália Interna: homem com testículos e mulher com ovários Sexo da Genitália Externa: homem com pênis e escroto; mulher com vulva, vagina e mamas. Sexo Jurídico: Designado no registro civil. Sexo Psíquico: É a identificação que o indivíduo faz de si mesmo. Sexo Médico-Legal: É o constatado em exame pericial médico-legal. No exame do esqueleto humano completo é possível a identificação do sexo, pelo exame dos ossos, em cerca de 50% nas crianças e 90% nos adultos. IDENTIFICAÇÃO DA IDADE A idade não pode ser determinada com precisão e a margem de erro é tanto maior quanto mais idoso for o indivíduo examinado. Quanto maior o número de elementos avaliados maior as possibilidades de acerto. Os elementos examinados são: 4MEDICINA LEGAL II MARCUS VINICIUS J. BARBOSA Aparência: Válida somente para uma avaliação grosseira. Pele: Podemos observar a presença do vérnix caseoso, camada esbranquiçada do recém-nascido, pregueamento da pele das mãos e pés,características próprias da pele (firmeza, elasticidade, rugas, flacidez, etc). Pêlos: Presença de pêlos pubianos (a partir de 12-13 anos), pêlos axilares (após cerca de 2 anos após o aparecimento dos pubianos), calvície, encanecimento (cabelos brancos), etc. Olhos: Verificar a presença do arco senil (faixa periférica e acinzentada na íris). Tem início a partir dos 45 anos, mais constante no sexo masculino. Dentes: Difícil avaliação nos países subdesenvolvidos. Existem tabelas de referência. Mandíbula: Apresenta variações de acordo com a idade. Apagamento das Suturas Cranianas: Válidas no estudo de esqueletos. Existem tabelas de referência para consulta. Radiografia dos Ossos: É o melhor elemento de estudo para a avaliação da idade cronológica. Pesquisa-se os pontos de ossificação e o estado de desenvolvimento do osso. Geralmente avalia-se a radiografia de uma das mãos e punho. IDENTIFICAÇÃO DA ESTATURA Fácil de ser determinada no vivo e no cadáver íntegro. Pode ser importante em casos de cadáveres carbonizados. Utiliza-se como referência um osso longo. IDENTIFICAÇÃO ATRAVÉS DOS SINAIS INDIVIDUAIS Há sinais que podem identificar uma pessoa e outros que servem para excluí-la. São valorizados: Malformações: lábio leporino, polidactilia (número aumentado de dedos), sindactilia (fusão de um ou mais dedos), pé torto congênito, etc. Cicatrizes Calosidades Ósseas: História de fraturas, vícios posturais em vida, etc. Estigmas Profissionais: Calosidades dos sapateiros e alfaiates, alterações nas unhas dos fotógrafos e tipógrafos, calos nos lábios dos sopradores de vidro, etc. Tatuagens: As tatuagens podem ser étnicas, profissionais, amorosas, políticas, criminais, obscenas, etc. 5MEDICINA LEGAL II MARCUS VINICIUS J. BARBOSA IDENTIFICAÇÃO ATRAVÉS DA SUPERPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIAS (Prosopografia) Utilizando fotos do indivíduo tiradas em vida e fotos do esqueleto do crânio, deve encontrar a perfeita correspondência dos vários pontos ósseos e das partes moles da face (fronte, nariz, mento e órbitas). IDENTIFICAÇÃO ATRAVÉS DE PESQUISAS BIOLÓGICAS Podem ser utilizados os grupos sanguíneos (permitem a exclusão de suspeitos e não a inclusão); antígenos de histocompatibilidade (HLA) – moléculas individuais, presentes na superfície das células e o exame do DNA podem ser determinantes. IDENTIFICAÇÃO FUNCIONAL O indivíduo pode ser reconhecido por sua dinâmica funcional. São observados: Atitude: normal x patológica. Mímica: atenção a paralisias, tiques, etc. Gesticulação Marcha: verificar anomalias. Voz: pode ensejar o reconhecimento de idade, sexo e até mesmo de indivíduos. Escrita (gesto gráfico): É o mais complexo dos gestos. Utiliza-se o exame grafotécnico ou grafológico. IDENTIFICAÇÃO DACTILOSCÓPICA É o método de identificação que mais preenche os requisitos técnicos para fins judiciais. Está baseado na disposição das cristas papilares que se encontram nas pontas dos dedos; estas cristas são saliências da pele que reveste a polpa digital, limitando sulcos entre si, e constituindo em conjunto, um desenho característico, individual e imutável. Desenho Digital: É o desenho formado pelas cristas papilares da superfície palmar da falange distal. Datilograma (impressão digital): É a reprodução do desenho digital. SISTEMA DATILOSCÓPICO DE VUCETICH Vucetich criou um sistema de identificação baseado na análise dos desenhos formados pelas cristas papilares, classificando-os com o uso de uma fórmula. 6MEDICINA LEGAL II MARCUS VINICIUS J. BARBOSA Há 3 conjuntos de cristas papilares: central ou nuclear, basal e marginal ou lateral. A confluência destes 3 conjuntos, forma uma figura em forma de delta. A reunião dos conjuntos ou deltas forma 4 figuras básicas: Arco: Ausência de deltas; Presilha Interna: Presença de delta à direita do examinador; Presilha Externa: Presença de delta à esquerda do examinador; Verticilo: Presença de 2 deltas. A fórmula datiloscópica é constituída atribuindo-se letras ao polegar e números aos demais dedos, nos diferentes tipos de impressão digital, segundo a seguinte convenção: - Arco = A ou 1; - Presilha Interna = I ou 2; - Presilha Externa = E ou 3; - Verticilo = V ou 4; - Desenho anômalo ou Cicatriz = X; - Amputação (ausência) = O; - Mão Direita = Numerador; - Mão Esquerda = Denominador. EXEMPLO: E 4 3 1 2 E(polegar) 4(indicador) 3(médio) 1(anular) 2(mínimo) V 2 2 4 2 V(polegar) 2(indicador )2(médio) 4(anular) 2(mínimo) A fórmula datiloscópica é fundamental para a classificação e arquivamento de impressões. Nas cristas papilares encontramos diversos tipos de pontos ou acidentes. Os mais comuns são: ponto, linha cortada, bifurcação, encerro, forquilha, ilhota, anastomose, delta, princípio de linha, fim de linha e haste. A identificação datiloscópica se faz quando se encontra de 8 a 12 pontos de coincidência entre uma impressão pesquisada e uma arquivada. TRAUMATOLOGIA FORENSE LEGISLAÇÃO CÓDIGO PENAL BRASILEIRO - Artigo 129 - Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: Pena: detenção de três meses a um ano. §1o. Se resulta: 7MEDICINA LEGAL II MARCUS VINICIUS J. BARBOSA I - incapacidade para as ocupações habituais por mais de trinta dias; II - perigo de vida; III - debilidade permanente de membro, sentido ou função; IV - aceleração do parto. Pena: reclusão de um a cinco anos. §2o. Se resulta: I - incapacidade permanente para o trabalho; II - enfermidade incurável; III - perda ou inutilização de membro, sentido ou função; IV - deformidade permanente; V - aborto. Pena: reclusão de quatro a oito anos. §3o. Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado nem assumiu o risco de produzi-lo: Pena: reclusão de quatro a doze anos. §4o. Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral ou sob domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço. §5o. O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir a pena de detenção pela de multa: I – Se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior; II – Se as lesões são recíprocas. §6o. Se a lesão é culposa: Pena: detenção de dois meses a um ano. §7o. No caso de lesão culposa, aumenta-se a pena de um terço, se ocorre qualquer das hipóteses do artigo 121, §4o. CONCEITOS Lesão é a conseqüência de um ato violento capaz de produzir, direta ou indiretamente, qualquer dano à integridade ou à saúde de alguém, ou responsável pelo agravamento ou continuidade de uma perturbação já existente. A traumatologia forense estuda as lesões e estados patológicos, imediatos e tardios, produzidos por violência sobre o corpo humano. CLASSIFICAÇÃO DAS LESÕES CORPORAIS - Segundo a intenção: dolosas ou culposas; - Segundo a causa: energias de ordem mecânica, física, físico-química, química, bioquímica, biodinâmica e mista; 8MEDICINA LEGAL II MARCUS VINICIUS J. BARBOSA - Segundo a sede: na estrutura somática, na respectiva fisiologia e na atividade psíquica. - Segundo a quantidade e qualidade: lesões leves, graves ou gravíssimas. LESÕES CORPORAIS DE NATUREZA LEVE São as ofensas à integridade ou a saúde de outrem (caput do artigo 129 do Código Penal), de modo não mortal e que não se enquadrem nos parágrafos 1o. ou 2o. do mesmo artigo. A dor física não se configura como caráter de lesão sem que se registre dano anatômico ou funcional associado. A simples crise nervosa, sem comprometimento funcional, físico ou mental, não configura lesão corporal. LESÕES CORPORAIS DE NATUREZA GRAVE São aquelas lesões que se enquadram no parágrafo 1o. do artigo 129 do Código Penal. INCAPACIDADEPARA AS OCUPAÇÕES HABITUAIS POR MAIS DE TRINTA DIAS É um critério de avaliação econômica do dano. Atividade habitual inclui todos os atos realizados durante as atividades diárias comuns; levantar, caminhar, tomar banho, etc. A incapacidade cessa com a consolidação morfológica e funcional da lesão, ainda que parcial, de modo que a vítima possa voltar em condições razoáveis, sem maiores danos, nem perigo as suas ocupações. Para que se caracterize como tal, é necessária perícia complementar após 30 dias do acidente. PERIGO DE VIDA É a avaliação vital do dano. É necessário que o perigo exista ou tenha existido de fato, e não que ele poderia ou deveria ter existido. O perigo de vida não deve estar na vontade do agente, caso contrário trata-se de tentativa de homicídio. DEBILIDADE PERMANENTE DE MEMBRO, SENTIDO OU FUNÇÃO Debilidade é o enfraquecimento permanente da capacidade funcional. Deve ser permanente, independente da hipótese de haver melhoria do resultado final pela adoção de processos terapêuticos especiais ou excepcionais. 9MEDICINA LEGAL II MARCUS VINICIUS J. BARBOSA Os membros são os 4 apêndices do corpo. Os sentidos incluem a visão, audição, olfato, gustação e tato. A função é o modo de ação de um órgão, aparelho ou sistema.Exemplos: perda de um dedo, olho, rim, testículo, ovário, desde que o contralateral esteja íntegro. ACELERAÇÃO DO PARTO A agressão leva à expulsão precoce do feto, porém com vida. LESÕES CORPORAIS DE NATUREZA GRAVÍSSIMA São aquelas lesões que se enquadram no parágrafo 2o. do artigo 129 do Código Penal. INCAPACIDADE PERMANENTE PARA O TRABALHO Deve haver gravíssima perturbação da capacidade, tida como definitiva ou só excepcionalmente curável. É importante a informar se há incapacidade para o trabalho e se esta incapacidade permanente se refere ao trabalho específico ou ao trabalho em geral. ENFERMIDADE INCURÁVEL Enfermidade é a falta ou a perturbação de uma ou mais funções, quer por ausência congênita, quer por alteração ou abolição definitiva das mesmas, e compatível com um relativo estado de saúde; é o resultado de uma moléstia ou afecção; por exemplo: paralisias oriundas de acidente de trânsito, ferimentos por arma de fogo, epilepsias pós-traumáticas, etc. Há enfermidades que não invalidam para o trabalho, porém permanecem alterando inteiramente a situação anterior da vítima e produzindo-lhe sério vexame. PERDA OU INUTILIZAÇÃO DE MEMBRO, SENTIDO OU FUNÇÃO É o grau mais acentuado da debilidade. A perda poderá ser total ou parcial, desde que o comprometimento do membro, sentido ou função seja equivalente a inutilização (perda). Exemplos: amputação parcial de um membro, secção de um nervo que traga paralisia a um membro, etc. DEFORMIDADE PERMANENTE Deformidade significa alteração da forma habitual, que deve ser permanente e aparente, não se caracterizando se oculta. 10MEDICINA LEGAL II MARCUS VINICIUS J. BARBOSA Há circunstâncias que modificam a aparência da deformidade, aumentando-a ou diminuindo-a, são elas: o sexo (partes mais expostas nas mulheres); idades (rugas escondem cicatrizes); profissão (modelos, dançarinas, etc) e raça (formação de quelóides). Deve ser considerada a evolução da lesão, submetida a tratamento comum, sem coação, sem técnica de exceção e sem artifícios. A dissimulação (próteses) não satisfaz a exigência de reparação (cirurgia plástica). ABORTO A lesão pode provocar a morte intra-útero ou durante a expulsão. A lei pretende proteger os dois interesses: a mãe e o concepto. Se o produto da concepção for uma formação patológica (mola, teratoma, feto já morto, etc), não se caracteriza aborto, pois falta um dos interesses a proteger. LESÕES MORTAIS As lesões mortais são consideradas no Código Penal, nos artigos 121 e seus parágrafos e no parágrafo terceiro do artigo 129, além do infanticídio no artigo 123 e morte de recém-nascido por abandono, para ocultação de desonra própria, no artigo 134, os quais serão tratados nos capítulos específicos. A lesão corporal seguida de morte difere do homicídio na medida em que não há dolo; por exemplo: alguém esmurra outrem, este cai, fratura o crânio e morre; um pequeno ferimento que evolui para o tétano, etc. Causa: É o que leva a resultados imediatos e responsáveis por determinadas lesões, suscitando uma relação de causa-efeito. Concausa: É o conjunto de fatores pré-existentes ou supervenientes, passíveis de modificar o curso natural do resultado; fatores que o agente desconhecia. No caso de agravamento de lesões por negligência, imperícia ou imprudência da vítima ou de terceiros (concausa voluntária), o agressor não pode ser responsabilizado pelo agravamento. Em casos de lesão agravada pelo resultado, o agente é responsabilizado; por exemplo: ferimento transfixante de pescoço, tamponado por coágulo e não percebido em uma perícia imediata, e que depois destampona e mata. Em caso de ação de terceiros, como por exemplo uma vítima que é operada e morre na mesa por choque ou anafilaxia, a jurisprudência tem entendido que o procedimento era imprescindível para salvar a vítima, e que a cirurgia foi condicionada pela agressão recebida, portanto responsabilidade do agressor. 11MEDICINA LEGAL II MARCUS VINICIUS J. BARBOSA QUESTÕES 1. Cristais de Teichmann se formam a partir do (DP – SP 1/90): a) Esperma. b) Colostro. c) Sangue. d) Mecônio. 2. Uma impressão digital com o delta à direita e outro à esquerda é classificada como (DP – SP 1/90): a) Bidelta. b) Verticilo. c) Presilha dupla. d) Arco. 3. Um indivíduo agrediu uma gestante no oitavo mês de gravidez, provocando a expulsão prematura do feto pesando 2.700 gramas, que, por falta de cuidados médicos, faleceu cinco minutos após a expulsão. Diante disso, o agressor será indiciado por (DP – SP 3/93): a) Lesão corporal seguida de aborto. b) Infanticídio. c) Lesão corporal com aceleração de parto. d) Homicídio. 4. A classificação de Vucetich para a identificação decadactilar de identificação está calcada em três grupos de cristais papilares paralelas aproximadamente, entre si denominados de sistemas (DP – SP 3/93): a) Basal, do arco, da presilha externa. b) Da presilha interna, do verticilo, do arco. c) Basal, marginal, nuclear. d) Nuclear, do arco, da presilha externa. 5. Impressão digital com uma figura de delta à direita e outra à esquerda é classificada no sistema de Vucetich, como (DP – SP 4/93): a) Verticilo. b) Presilha dupla. c) Arco déltico. d) Ambidéltico. 6. Em relação ao sistema de identificação por impressões digitais, na fórmula dactiloscópica, V3213 E1442 apresentam a figura do arco os seguintes dedos (ML – SP 1/02): a) Médio e anular da mão esquerda. b) Anular da mão direita e indicador da mão esquerda. c) Indicador e mínimo da mão direita. d) Médio da mão direita e mínimo da mão esquerda. 12MEDICINA LEGAL II MARCUS VINICIUS J. BARBOSA 7. Para que se possa afirmar que uma determinada impressão digital pertença a um indivíduo, no Brasil faz-se necessário o encontro de no mínimo (ML – SP 1/02): a) 6 a 12 pontos de coincidência. b) 12 a 18 pontos de coincidência. c) 8 a12 pontos de coincidência. d) 10 a 20 pontos de coincidência. 8. Em perícia dactiloscópica, empregamos os seguintes pontos característicos (ML – SP 1/02): a) Cortada, confluência, depressão e haste. b) Ilhota, bifurcação, encerro e anastomose. c) Crista, ponto, confluência e haste. d) Extremidade de linha, ilhota, bifurcação e papila. 9. O exame antropológico de uma ossada não oferece elementos para investigar ou estimar (ML – SP 1/02): a) Sexo. b) Estatura. c) Idade. d) Peso. 10. Sobre identificação podemos dizer (ML – SP 1/02): a) Todos os processos de identificaçãoindividual são comparativos. b) Na identificação de ordem gral é possível pesquisar a identidade individual da pessoa. c) Na identificação do ordem geral são apresentados documentos para comparação, que compõem o primeiro registro. d) A dactiloscopia e o reconhecimento são exemplos de processos de identificação. 1MEDICINA LEGAL III MARCUS VINICIUS J. BARBOSA CLASSIFICAÇÃO DA CAUSALIDADE DO DANO CONCEITOS Os agentes vulnerantes, causadores de lesão, são classificados em instrumentos ou meios. Instrumento é o modo como um objeto, em ação sob manipulação, age sobre a vítima. Um mesmo objeto, usado de forma diversa pode caracterizar um instrumento diferente. Por exemplo: uma faca deslizando sobre a pele no sentido do fio, age como instrumento cortante; deslizando no sentido transversal causa escoriação, agindo como instrumento contundente; cravada na pele, age como instrumento pérfuro-cortante. Os meios são as demais circunstâncias pelas quais as energias atuam lesivamente sobre o indivíduo. As energias causadoras de lesão podem ser classificadas em: energias de ordem mecânica, física, físico- química, química, bioquímica, biodinâmica e mista. ENERGIAS DE ORDEM MECÂNICA Correspondem a 90% da traumatologia forense. São aquelas energias capazes de modificar, no todo ou em parte, o estado de repouso ou de movimento de um corpo, causando lesões. A modificação do estado de repouso pode ocorrer de duas maneira: - Trauma Direto: Agente lesivo em movimento (ativo) contra corpo parado; - Trauma Indireto: Agente lesivo está parado (passivo); o corpo se projeta contra ele. Os agentes são classificáveis em: - Armas Naturais: mãos, pés, cabeça, dentes, unhas, etc; - Armas propriamente ditas: armas de fogo, punhais, etc; - Armas eventuais: navalha, machado, canivete, etc. As energias de ordem mecânica podem agir de diversos modos na formação das lesões: - Ação por um ponto: instrumentos perfurantes; - Ação por uma linha: instrumentos cortantes; - Ação por um plano: instrumentos contundentes; - Ação por ponto e linha: instrumentos pérfuro-cortantes; - Ação por linha que se estende a um plano: instrumentos corto- contundentes; - Ação por um ponto que até um plano: instrumentos pérfuro-contundentes. 2MEDICINA LEGAL III MARCUS VINICIUS J. BARBOSA RELAÇÃO INSTRUMENTO / LESÃO INSTRUMENTO LESÃO Perfurante Puntiforme ou Punctória Cortante Cortante ou Incisa Contundente Contusa Pérfuro-Cortante Pérfuro-Cortante ou Pérfuro-Incisa Pérfuro- Contundente Pérfuro-Contusa Corto-Contundente Corto-Contusa A. LESÕES PRODUZIDAS POR ENERGIAS DE ORDEM MECÂNICA A.1. Lesões Produzidas por Instrumentos Perfurantes São lesões produzidas por objetos finos, alongados e pontiagudos, de diâmetro transverso reduzido, produzindo lesões punctórias; ou de diâmetro maior, produzindo lesões ovaladas. Por exemplo: estilete, sovela, agulha, florete, espinho, alfinete, etc. Produzem as feridas puntiformes ou punctórias. Suas principais características são: - Abertura estreita; - Raro sangramento; - Profundidade geralmente mais lesiva que a lesão superficial; - Menor diâmetro que o instrumento causador (elasticidade e retratilidade dos tecidos). A ferida é constituída por um orifício de entrada, um trajeto e pode terminar em um orifício de saída ou fundo cego. Quando o objeto é de médio calibre, a forma das lesões assume aspecto diferente, obedecendo às seguintes leis: - Primeira Lei de Filhos: As soluções de continuidade destas feridas assemelham-se às produzidas por instrumentos de dois gumes, ou aparência de “casa de botão” (semelhança). - Segunda Lei de Filhos: Quando estas feridas se mostram numa mesma região, onde as linhas de força tenham um só sentido, seu maior eixo tem sempre a mesma direção, orientada no sentido das fibras musculares (paralelismo). - Lei de Langer: Na confluência de linhas de forças diferentes, a extremidade da lesão toma o aspecto de “ponta de seta”, de triângulo, ou mesmo de quadrilátero, resultante do equilíbrio destas forças (elasticidade). As leis de Filhos e Langer indicam reação vital e não são observadas no cadáver. 3MEDICINA LEGAL III MARCUS VINICIUS J. BARBOSA As feridas punctórias podem ser decorrentes de; atos médicos (injeções, cateterismos, etc), toxicomania (picos), acidentes (picadas de cobra, furada de prego, etc) e criminosas (infanticídio). Causa Jurídica: Geralmente homicida ou suicida e mais raramente acidental. A.2. Lesões Produzidas por Instrumentos Cortantes São lesões produzidas por objetos que agem por uma borda delgada, linear e, de modo geral, mais por deslizamento do que por pressão. Por exemplo: laminas metálicas, vidros, navalha, bisturi, folha de papel, etc. Produzem as feridas cortantes ou incisas. Suas principais características são: - Regularidade das bordas; - Regularidade do fundo da lesão; - Ausência de vestígios traumáticos em torno da ferida; - Hemorragia abundante; - Predominância do comprimento sobre a profundidade; - Afastamento das bordas da ferida; - Presença de cauda de escoriação voltada para o lado onde terminou a ação do instrumento; - Vertentes cortadas obliquamente; - Centro da ferida mais profundo que as extremidades; - Perfil de aspecto angular ou em forma de bisel, quando o instrumento atua no sentido oblíquo. Sinal de Chavigny: É utilizado nos casos em que ocorrem duas lesões sobrepostas, qual foi a primeira. Para tanto basta coaptar-se as margens da ferida, sendo ela a primeira a haver sido produzida, a outra não segue uma trajetória em linha reta. - Esgorjamento: É a lesão mais ou menos profunda na porção anterior do pescoço, por ação de instrumento cortante. - Degolamento: Ocorre quando a mesma lesão e realizada na porção posterior do pescoço. Geralmente há lesão associada de coluna cervical. As feridas cortantes ou incisas podem ser: cirúrgicas (atos médicos), de defesa (antebraços, mãos e pés), em retalho (objeto atinge obliquamente a superfície corporal), mutilante (com perda de tecido ou segmento) e autoproduzidas (paralelas e superficiais, em partes alcançadas pelas mãos da vítima). Causa Jurídica: São mais acidentais e homicidas que suicidas. Deve-se levar em conta o número de lesões, as regiões atingidas, a direção de sua produção e a profundidade e eventualmente o estudo da arma ou armas incriminadas. 4MEDICINA LEGAL III MARCUS VINICIUS J. BARBOSA A.3. Lesões Produzidas por Instrumentos Contundentes São lesões produzidas por objetos que atuam sobre uma superfície mais ou menos plana, por pressão, deslizamento, explosão, percussão, compressão, descompressão, distensão, torção, contragolpe ou de forma mista. São exemplos: órgãos naturais (mãos, pés, joelhos, etc), objetos de defesa ou ataque (bastão, cassetete, etc), martelo, pedra, tijolo, veículos, solo, etc. Produzem as chamadas lesões contusas. Os Instrumentos Contundentes constituem as causas mais freqüentes de lesões. Suas principais características são: - Bordos irregulares, escoriados e equimosados (ferida desigual, etc); - Fundo irregular; - Vertentes irregulares (ação traumática disforme; pode haver pontes de pele); - Pequeno sangramento - Integridade dos vasos, nervos e tendões no fundo da lesão (maior resistência); - Ângulos tendendo à obtusidade, em geral em número de 2 ou mais. As lesões contusas podem ser classificáveis em: SUPERFICIAIS Ɣ Rubefação: É a mais leve e transitória de todas as lesões contusas. O trauma produz vasodilatação, responsável pelo aspecto avermelhado, efêmero e fugaz. Ɣ Edema: Ocorre maior vasodilatação permitindo extravasamento de líquido do vaso para o espaço entre as células. É o inchaço. Sem outras lesões desapareceem até 24 horas. Ɣ Bossa Linfática: Extravasamento de linfa por lesão dos vasos linfáticos. Ocorre mais freqüentemente quando a ação do objeto é tangencial. São incolores e desaparecem em menos de 24 horas. Ɣ Bossa Sanguínea: Derrames sanguíneos que decorrem de ação traumática sobre um plano ósseo, com formação de coleção sanguínea que faz saliência na pele. São mais comuns sob o couro cabeludo. A coloração é azulada e a resolução ocorre em 20 dias ou mais, seguindo a mesma seqüência de uma equimose. Ɣ Hematomas: Ocorre por lesões dos vasos de maior calibre. Formam uma cavidade ou coleção. Ɣ Equimose: São derrames sanguíneos, secundários à ruptura de pequenos vasos, que se infiltram na intimidade dos tecidos, sem formar coleções. Podem ser imediatos ou tardios. Podem ser classificados quanto à forma em: 5MEDICINA LEGAL III MARCUS VINICIUS J. BARBOSA - Sugilação: pequenos grãos; - Pontilhadas: pontilhadas; - Víbices: estrias; - Equimona: equimoses extensas; - Sufusão: equimose “em lenços”. A forma das equimoses é importante, pois muitas vezes imprimem com fidelidade a forma do objeto agressor. Apresentam variação de cor que dá indícios o tempo de sua existência, pois são alteradas por vários fatores. Trata-se do Espectro Equimótico de Legrand du Saulle. Na conjuntiva ocular não ocorre esta evolução devido a grande oxigenação da hemoglobina. Lesões pequenas e superficiais tem evolução mais rápida. No cadáver o colorido da equimose é o mesmo que foi fixado em vida. Valor Médico-Legal: - Pode indicar a sede do dano; - Traduz fenômeno vital; - Pode indicar o objeto que a provocou; - Pode denunciar a natureza do atentado; - Pode indicar a data provável da violência. ESCORIAÇÕES São feridas contusas superficiais que se caracterizam pela perda da epiderme e exposição da derma (sem lesá-la). Pode formar crostas. Quase sempre são resultado da ação tangencial do objeto contundente (ação abrasiva). A regeneração se faz por reepitelização, não deixando cicatrizes. A lesão regenera-se em torno de 15 dias. COLORAÇÃO EVOLUÇÃO CAUSA Avermelhada 1º dia Extravasamento de sangue, visto através da pele Violácea 2º - 3º dia Saída da hemoglobina da hemácia Azulada 4º - 6º dia Hemossiderina (hemoglobina com ferro) Esverdeado 7º - 12º dia Hematoidina (hemoglobina sem ferro) Amarelado 13º - 21º dia Hematina Desaparecimento Após 22º dia Reabsorção 6MEDICINA LEGAL III MARCUS VINICIUS J. BARBOSA Nas escoriações post mortem não há formação de crostas; a derme é branca e não há extravasamento de seroma ou sangue; o leito da escoriação é seco e apergaminhado. PROFUNDAS Estão incluídas as luxações, fraturas, lacerações, esmagamentos e roturas viscerais. As características podem orientar o perito sobre a direção do instrumento; se os ferimentos forma realizados em vida ou após a morte, a forma do instrumento e a natureza da violência. As feridas contusas, por ultrapassarem a derme, formam cicatrizes. Toda ferida contusa é uma lesão contusa, porém nem toda lesão contusa é uma ferida contusa. Causa Jurídica: Na maioria das vezes acidental ou homicida e esporadicamente suicida. A.4. Lesões Produzidas por Instrumentos Pérfuro-Cortantes São lesões produzidas por instrumentos de ponta e gume, atuando por mecanismo misto; agem simultaneamente por pressão afastando as fibras e por corte seccionando-as. Conforme o número de gumes de um instrumento, os ferimentos variam em sua forma. Um gume: Causam ferimentos em forma de botoeira, com fenda regular e quase sempre linear, com um ângulo agudo e outro arredondado. A largura é maior que a espessura da lâmina e o comprimento varia em função do fio do gume, do ângulo de entrada, das linhas de força e da ação do objeto ao sair da pele. São exemplos: a faca, o canivete, etc. Dois gumes: Causam ferimentos em forma de fenda de bordas iguais e ângulos agudos. São exemplos: o punhal, a faca vasada, etc. Três ou mais gumes: Causam ferimentos de forma triangular ou estrelada. São exemplos: o estilete, a lima, etc. Para a identificação genérica do objeto deve ser considerada: a abertura da lesão e sua profundidade; a eventual presença de contusão das bordas, ângulos, dimensões, tamanho e trajeto. A posição da vítima e do agressor pode ser avaliada através do estudo da localização, da direção dos ferimentos e da presença de cauda de escoriação. A ordem da sucessão das lesões fundamenta-se na direção e na quantidade de hemorragia das feridas e do Sinal de Chavigny. Causa Jurídica: A mais comum é o homicídio, sendo o suicídio e o acidentes menos freqüentes. 7MEDICINA LEGAL III MARCUS VINICIUS J. BARBOSA A.5. Lesões Produzidas por Instrumentos Corto-Contundentes São ferimentos produzidos por instrumentos cuja ação e efeitos se explicam não só pelo gume que apresentam, como também pelo seu peso e pela força viva com que são acionados. Há gume, mas a pressão se faz sem deslizamento. Estes instrumentos atuam principalmente por percussão e pressão. São exemplos: o facão, a foice, o machado, a enxada, a guilhotina, a serra elétrica, as rodas de um trem, os dentes, as unhas, etc. Os ferimentos tem forma variável, dependendo da região atingida, da inclinação, do peso, do gume e da força viva com que atuam. Se o gume for afiado, os bordos da ferida podem ser nítidos e regulares e as vertentes se adaptam perfeitamente. Quando o instrumento é rombo (p.ex. dentes), os bordos são irregulares, com equimose nas adjacências e com pontes de pele. As lesões por instrumentos corto-contundentes geralmente são graves, profundas, causando lesões complexas e envolvendo vários planos (ossos e vísceras). Podem levar também a mutilações em nariz, dedos, orelha, etc. São muito comuns em brigas de mulheres, por uso de unhas e dentes e nos acidentes do trabalho. Causa Jurídica: Geralmente homicida ou acidental e mais raramente suicida. A.6. Lesões Produzidas por Instrumentos Pérfuro-Contundentes São lesões produzidas por um mecanismo de ação que perfura e contunde; habitualmente existe mais ação perfurante que contundente. O exemplo mais típico deste tipo de instrumento é o projétil de arma de fogo, podendo também ser a ponta de um guarda chuva, uma chave de fenda, um espeto de churrasco, etc. Por ser o responsável por mais de 90% deste tipo de lesão, estudaremos os projéteis de arma de fogo e as características de suas lesões. Nos disparos de arma de fogo, o projétil é lançado à distância pela ação da força explosiva dos gases produzidos pela combustão da pólvora. Além do projétil, saem pelo cano da arma gases superaquecidos, chama, partículas de pólvora incombusta, a bucha e seus fragmentos. Os componentes das lesões características são: um orifício de entrada (sempre), um trajeto (sempre) e um orifício de saída (às vezes). ORIFÍCIO DE ENTRADA Em geral são únicos para cada projétil (exceto se houver transfixação de mais de um segmento corporal); podem não aparecer quando o projétil entra por uma cavidade natural (nariz, ouvido, boca e ânus); em 8MEDICINA LEGAL III MARCUS VINICIUS J. BARBOSA geral são menores que o calibre dos projéteis e que o orifício de saída; são circulares nos tiros perpendiculares, ovalados nos oblíquos ou labiados nos tangenciais. Podem apresentar as seguintes alterações: Ɣ Aréola Equimótica: Região superficial, de limites pouco precisos, decorrente de hemorragia na pele, pela ruptura de pequenos vasos nas vizinhanças do ferimento. Tem tonalidade violácea e pode estar encoberta por outros ferimentos. Ɣ Orla de Escoriação ou Contusão: Ponto onde o projétil contunde a pele, arrancando a epiderme por sua ação rotatória. É absolutamente característico de orifício de entrada.Ɣ Orla de Enxugo: Ocorre pela passagem do projétil através dos tecidos, limpando nele suas impurezas. É de difícil diferenciação da orla de contusão. São sempre estudadas em conjunto e este denomina-se anel de Fisch. Ɣ Zona de Tatuagem: Resulta da impregnação de grãos de pólvora incombusta que alcançam o corpo e se incrustam na pele. Orienta a perícia quanto à posição da vítima e do agressor. É sinal indiscutível de orifício de entrada. Tem cor variável dependendo do tipo de pólvora. Pode não aparecer na pele protegida pelas vestes. Não sai com a lavagem. Ɣ Zona de Esfumaçamento: Formada pela fuligem resultante da combustão da pólvora. É chamada de zona de falsa tatuagem, pois sai com a lavagem. Pode não aparecer na pele protegida por vestes. Ɣ Zona de Queimadura ou Chamuscamento: Resultado da ação superaquecida dos gases, com pele apergaminhada, de tonalidade vermelho escuro e pelos crestados, quebradiços, recobertos com partículas carbonizadas. Geralmente queimaduras de 1o. grau e raramente 2o. grau. Pode faltar com o uso de pólvoras mais modernas. Ɣ Zona de Compressão de Gases: Vista somente nos primeiros instantes e no vivo. Os gases saem sob pressão e rapidamente se equilibram com a pressão atmosférica. É o resultado da ação mecânica e não térmica dos gases. TRAJETO É o caminho percorrido pelo projétil no interior do corpo. Pode ser: transfixante (termina no orifício de saída), terminar em fundo cego ou perder-se em uma cavidade (coração, estômago, etc). Órgãos contendo líquidos, podem apresentar o fenômeno da explosão (pelo princípio físico de Pascal). Pode haver a formação de projéteis secundários por fragmentação em planos ósseos. A redução da força viva do projétil, torna-o cada vez mais contundente e menos perfurante, fazendo com que o trajeto se expanda em amplitude, em forma de cone, com o vértice voltado para o orifício de entrada. 9MEDICINA LEGAL III MARCUS VINICIUS J. BARBOSA ORIFÍCIO DE SAÍDA Em geral tem a forma irregular, com bordas evertidas, anfractuosas, maior sangramento que o orifício de entrada e com aréola equimótica. Geralmente são maiores que o orifício de entrada e não apresentam os demais comemorativos da lesão de entrada (orlas e zonas). As características independem da distancia do tiro. A lesão é determinada por projétil em geral deformado, associado a pequenos projéteis secundários e com menor energia cinética. As lesões podem ser classificadas segundo a distância do disparo em: TIRO ENCOSTADO: Todos os elementos do disparo alcançam o alvo. O orifício de entrada tem a forma irregular, denteada ou com entalhes, pela ação resultante dos gases que descolam e dilaceram os tecidos. As bordas são evertidas, em geral não há sinais de outros elementos do disparo na pele, pois penetram na ferida juntamente com o projétil a este fenômeno chamamos Câmara de Mina de Hoffmann, sendo mais comum nos tiros encostados na fronte. Nos tiros encostados no crânio, nas costelas e escápulas, podemos encontrar um halo fuliginoso na lâmina externa do osso referente ao orifício de entrada chamado de Sinal de Benassi. Ainda na entrada podemos observar o Sinal de Werkgartner, que representa o desenho da boca e da alça de mira da arma (pela zona de tatuagem e esfumaçamento). - Tiro a Curta Distância: Apresentam a forma arredondada ou ovalar, bordas invertidas, aréola equimótica, orla de contusão e enxugo, as zonas de tatuagem e esfumaçamento; - Tiro a Queima Roupa: É semelhante à lesão do tiro de curta distância e além de todas as situações anteriores, apresenta também zona de queimadura e zona de compressão do gases. - Tiro a Longa Distância: Apresenta a forma arredondada ou ovalar, bordas invaginadas, aréola equimótica e orlas de contusão e enxugo. Há somente ação mecânica do projétil. Na hipótese de tiros com projéteis múltiplos (tiro de cartucheira), há que se considerar, além dos elementos constitutivos do mecanismo de disparo, a existência destes vários projéteis, que de início caminham juntos, e que depois vão se separando, abrindo-se em área de projeção, de diâmetro cada vez maior e constituindo-se o que se chama de “Rosa de Tiro”. Cada um destes projéteis poderá se comportar de maneira símile àquela descrita para projéteis únicos, embora deva-se considerar que há menor penetração, não são freqüentes os orifícios de saída, a letalidade da lesão ocorre mais devido à multiplicidade do que a ação individualizada de 10MEDICINA LEGAL III MARCUS VINICIUS J. BARBOSA cada um deles e que cada um possui orlas próprias (em cada entrada), porém as zonas são comum a todos. Nos traumatismos por arma de fogo, as questões médico- jurídicas a serem determinadas são; - Orifícios de entrada e saída, para determinação da direção do tiro; - Distância do tiro (exame das zonas de contorno); - Autoria do crime, principalmente na determinação de homicídio ou suicídio. O exame das vestes é de suma importância, pois pode conter eventualmente elementos do disparo e mostrar a posição relativa entre a localização da perfuração nestas e no corpo. A avaliação geral deve levar sempre em consideração os elementos que se apresentam em cada eventualidade como: a possibilidade de sobrevivência, a hipótese de múltiplos disparos suicidas, a região atingida pelo disparo, o fato da vítima ser canhota, a existência de esfumaçamento nas mãos, etc. Assim pode-se orientar melhor sobre a provável causa jurídica. Causa Jurídica: Geralmente homicídio e suicídio e eventualmente acidental. ENERGIAS DE ORDEM FÍSICA São energias capazes de modificar o estado físico dos corpos e, consequentemente, causarem lesões ou morte. As formas de energia mais comuns são: temperatura, eletricidade, pressão atmosférica, radioatividade, luz e som. 11MEDICINA LEGAL III MARCUS VINICIUS J. BARBOSA QUESTÕES 1. Não se pode estimar o ângulo de trajetória do projétil de arma de fogo, em relação ao corpo da vítima, pela (DP – SP 1/90): a) Trajetória do projetil dentro do corpo. b) Forma da orla de contusão e enxugo. c) Forma da zona de tatuagem. d) Forma do orifício de saída. 2. Em um ferimento pérfuro-inciso, o número de caudas (DP – SP 1/90): a) Coincide sempre com o número de gumes do instrumento que o produziu. b) É necessariamente diferente do número de gumes do instrumento vulnerante. c) Pode não ser igual ao número de gumes que o produziu. d) Independe do número de gumes do instrumento vulnerante, pois é produzido pela sua ponta. 3. Um instrumento que, através de seu gume, atua exclusivamente por pressão, provocando solução de continuidade dos tecidos é (DP – SP 1/90): a) Corto-contundente. b) Cortante. c) Contundente. d) Inciso. 4. Diz-se que um instrumento vulnerante é passivo (DP – SP 1/90): a) Quando ele, por não ter movimento próprio, deve ser acionado por uma pessoa. b) Porque ele é inanimado e é apenas um meio pelo qual agente ativo comete o crime. c) Quando a vítima vai de encontro a ele, que permanece estático. d) Quando ele não é parte do corpo do agressor, como os pés e as mãos. 5. Utilizando a lâmina de um facão você não poderá produzir um ferimento (DP – SP 2/90): a) Corto-contuso. b) Contuso. c) Inciso. d) Punctório. 6. Nos ferimentos por projéteis de arma de fogo, pode-se eliminar, com água e sabão a (DP – SP 2/90): a) Zona de tatuagem. b) Zona de esfumaçamento. c) Zona de chumascamento. d) Aréola equimótica. 12MEDICINA LEGAL III MARCUS VINICIUS J. BARBOSA 7. Penetrando no abdômen da vítima, o projetil de um fuzil-metralhadora, ao atravessar o baço provoca um ferimento (DP – SP 2/90): a) Punctório. b) Pérfuro-contuso. c) Lacerante. d) Perfurante. 8. Comparando-se o orifício de entrada do projétil de arma de fogo, em tiro à distância, com o instrumentoque o produziu, verifica-se geralmente, que o diâmetro daquela em relação ao deste é (DP – SP 2/90): a) Menor, devido à elasticidade da pele da vítima. b) Maior, devido a deformação do projétil ao atingir a vítima. c) Igual, devido à elasticidade da pele da vítima. d) Maior, devido à elasticidade da pele da vítima. 9. Verifica-se a formação de zona de tatuagem ao redor do ferimento pérfuro-contuso, quando o tiro, é disparado (DP – SP 2/90): a) À curta distância. b) À longa distância. c) Encostado. d) A qualquer distância. 10. O instrumento vulnerante que age por pressão sobre um ponto, e é penetrante, recebe o nome de instrumento (DP – SP 2/90): a) Pérfuro-cortante. b) Perfurante. c) Punctório. d) Inciso. 11. Numa briga, um dos contendores mutilou a orelha de outro, tirando-lhe um pedaço com uma violenta dentada, produzindo-se, então, um ferimento (DP – SP 2/90): a) Inciso. b) Cortante. c) Corto-contuso. d) Contuso. 12. Os instrumentos contundentes produzem os seguintes ferimentos (DP – SP 3/93): a) Hematomas e incisos. b) Escoriações e equimoses. c) Puntiformes e contusos. d) Pérfuro-cortantes e lacerantes. 1MEDICINA LEGAL IV MARCUS VINICIUS J. BARBOSA TEMPERATURA CALOR O calor pode lesar por exposição: a. DIFUSA (termonoses); b. LOCALIZADA (queimaduras); c. OSCILANTE. DIFUSA São chamadas de termonoses e podem se apresentar de duas maneiras: INSOLAÇÃO (quando a fonte produtoras de calor é o SOL) ou INTERMAÇÃO: (quando a fonte produtora de calor é artificial – fornalha, caldeira, saunas, aquecedores, etc). Fatores que concorrem para a produção das síndromes: ambientes fechados, ausência de renovação do ar, fadiga, excesso de vapor d’água no ambiente, estado de repouso corporal ou atividade física, patologias preexistentes, hábitos de exposição, fatores raciais, alcoolismo, uso de veste inadequadas, etc. Quadro Prodrômico: aceleração do pulso e da respiração, angústia precordial, fotofobia, aumento inicial e depois queda da pressão arterial, sede intensa, perturbações gastrointestinais, câimbras, pele quente e avermelhada. Quadro Sindrômico: Existem diversas formas de manifestações. Ɣ Forma Instantânea: desmaio, queda da pressão arterial, depressão, pulso fino, palidez, hipotermia e coma; Ɣ Forma Hiperpirética ou Congestiva: temperatura elevada, pele seca, pulso rápido e cheio, congestão da face e dos olhos e midríase; Ɣ Forma Meníngica: agitação, fotofobia, tremores, espasmos, convulsões, vômitos e hipertensão; Ɣ Forma Asfíxica: cianose, pulso rápido e irregular, dispnéia e apnéia. Os achados de necrópsia incluem: rigidez cadavérica precoce, putrefação rápida, congestão e hemorragias viscerais, temperatura elevada do cadáver e espuma sanguinolenta nas vias respiratórias. A causa jurídica mais freqüente é acidental, principalmente acidentes do trabalho. LOCALIZADA São as chamadas queimaduras que podem ser resultantes da ação direta (gases, líquidos ou sólidos superaquecidos; ou chama) ou indireta (radiação ionizante). 2MEDICINA LEGAL IV MARCUS VINICIUS J. BARBOSA A classificação médico-legal leva em consideração a profundidade das lesões, porém para caracterização de perigo de vida a extensão ou área corporal afetada é importante. Considera-se 4 graus: 1º Grau: Eritema simples. Apenas a epiderme é afetada; há edema associado e freqüentemente descamação. Não produz cicatriz; não se evidencia no cadáver. Ex. queimadura solar. 2º Grau: Caracterizada por bolhas, vesículas ou flictenas, contendo líquido seroso. Mostra a derme quando se rompe. É muito dolorosa. Reconstitui-se sem cicatriz. 3ºGrau: Caracterizada pela formação da escara (coagulação necrótica dos tecidos moles); pode acometer desde a derme até os planos musculares. Não são dolorosas e reconstitui-se com cicatriz. ҏ4ºGrau: Caracterizada por carbonização, até o plano ósseo. Se for generalizada, há redução do comprimento corporal. A posição de lutador (boxeador) é característica (semiflexão dos membros superiores, dedos em garra, hiperextensão da cabeça e do tronco, cabelos crestados, fendas no couro cabeludo, fraturas ósseas, abertura das cavidades naturais, pele acartonada, dentes expostos e calcinados. Estimativa da data da queimadura Deve-se pesquisar lesões distintas da queimadura, sinais de respiração na presença de incêndio (fuligem nas vias aéreas, pesquisa de monóxido de carbono no sangue), elementos celulares nos líquidos das flictenas, pesquisa de reação vital nos tecidos, etc; para caracterização de queimadura intra vitam ou post mortem. A causa jurídica mais freqüente é o acidente, suicídio e homicídio. OSCILANTE Caracterizada pela exposição intermitente a altas e baixas temperaturas durante o dia. Levam a exaltação da virulência de germes ou redução da resistência individual. Debilitam o organismo e podem propiciar o aparecimento de infecções. Tem importância como causa de lesões de interesse da infortunística (Ex. açougueiros). TEMPO LESÕES Menos de 36 horas Eritem a, flitenas, escarificação ou carbonização, presença de edem a considerável De 36 horas a 06 dias Presença de pus sob as crostas 07 dias Desprendimento das crostas 15 dias Superfície da ferida com granulação, livre de crostas 3MEDICINA LEGAL IV MARCUS VINICIUS J. BARBOSA FRIO O frio pode produzir lesões: a. LOCAIS (geladuras); b. SISTÊMICAS (hipotermias). As geladuras são lesões locais causadas por vasoconstrição inicial, palidez, pele de aspecto anserino e posteriormente vasodilatação paralítica, levando à necrose e gangrena, principalmente nas extremidades (nariz, orelhas, dedos, pés), com subsequente perda das mesmas. Ex. Mal das trincheiras. Podem ser classificadas em 4 graus: 1o Grau: palidez ou rubefação e aspecto anserino da pele; 2º Grau: eritema e formação de bolhas ou flictenas; 3º Grau: necrose dos tecidos moles e crostas; 4º Grau: gangrena ou desarticulação. A hipotermia (temperatura retal < 35ºC) leva a lesões sistêmicas, conseqüentes à isquemia e congestão compensadoras da alteração vascular periférica levando a cefaléia, sonolência, câimbras, convulsões, infartos, delírios, perturbação dos movimentos e morte. Temperaturas corporais menores que 25oC invariavelmente levam à morte. É de difícil diagnóstico, que geralmente é feito pela análise das circunstâncias do óbito. Os achados de necrópsia incluem: rigidez precoce, intensa e duradoura, hipóstases vermelho claro, sangue de tonalidade mais clara, isquemia cerebral, congestão polivisceral, disjunção das suturas cranianas, sangue fluido, repleção das cavidades cardíacas, espuma sanguinolenta nas vias respiratórias, flictenas na pele, equimose no pescoço, na mucosa gástrica e nas pleuras. A causa jurídica mais comum é o acidente. PRESSÃO ATMOSFÉRICA As alterações da pressão ambiente pode levar a danos à saúde ou à vida. As alterações patológicas dependem do comportamento físico dos gases atmosféricos. A pressão atmosférica total é a resultante da somatória das pressões parciais dos diversos gases (Nitrogênio - 79% + Oxigênio -20,97% e Gás carbônico - 0,03%). As pressões parciais dos gases individuais da atmosfera, de acordo com a lei de Dalton, variam diretamente em função da pressão atmosférica total; essas alterações ocorrem tanto no ar alveolar quanto no sangue, afetando as trocas gasosas. Os efeitos clínicos decorrentes das alterações da pressão atmosférica podem ser: 4MEDICINA LEGAL IV MARCUS VINICIUS J. BARBOSA Diretos (mecânicos): Desenvolvimento de diferenciais de pressão que se criam através das paredes dos espaços que contém ar no organismo, ou sobre a sua superfície. Indiretos: Pelas alterações nas pressões parciais dos gases individuais da atmosfera.DIMINUIÇÃO DA PRESSÃO ATMOSFÉRICA (MAL DAS MONTANHAS) - Ação Direta: diminuição da pressão ambiente: sangramento nasal, hemorragias oculares, bucais e até cerebrais; - Ação Indireta: diminuição do oxigênio alveolar: taquicardia, náuseas, vômitos, diarréia, insônia, cianose dos lábios e unhas, dor abdominal, cefaléia e debilidade; - A ação lesiva é exacerbada por doenças prévias como hipertensão arterial e insuficiência cardíaca. - Os distúrbios são acentuados pela subida rápida, pelo exercício físico e pelo mal condicionamento físico. AUMENTO DA PRESSÃO ATMOSFÉRICA - Patologia da Compressão (Aumento Acentuado) - Ação Direta: Aumento da pressão ambiente: hemorragias internas, ruptura do tímpano e acometimento pulmonar. - Ação Indireta: Aumento da pressão parcial dos gases: intoxicação por oxigênio (depressão do centro respiratório, tetania, espasmos e coma); pelo nitrogênio (embriaguez); pelo gás carbônico (dores nos seios paranasais e ouvidos). - Patologia da Descompressão Súbita (Mal dos Caixões): Basicamente ação indireta. É uma doença causada por embolia gasosa levando a dores articulares, equimoses generalizadas, surdez, paraplegia, dificuldade de fala, paralisia dos nervos cranianos, coma e morte. Esta situação ocorre tipicamente em um mergulhador, cujos tecidos estão saturados de nitrogênio, a uma profundidade superior a 10 metros, e que sobe rapidamente; ou de um aviador que sobe depressa do nível do mar para uma altitude acima de 5.500 metros. > A causa jurídica das lesões é habitualmente acidental e basicamente ocupacional. ELETRICIDADE A eletricidade é uma forma poderosa de energia, com potencial de causar lesões no organismo. São comuns lesões de dois tipos: a. Queimadura: causada pela conversão de energia elétrica em térmica. b. Interrupção da Função Fisiológica: especialmente no tecido neural e neuromuscular, mesmo sem quaisquer efeitos anatômicos óbvios nestes tecidos. 5MEDICINA LEGAL IV MARCUS VINICIUS J. BARBOSA Se a corrente elétrica está entrando e saindo do corpo através das mãos, a vítima é incapaz de livrar-se por si mesma do eletrodo. As duas formas de eletricidade mais comuns são: Energia Atmosférica: Irá determinar dois tipos de lesões: Fulminação: ação letal sobre o indivíduo; Fulguração: ação provoca lesões corporais não letais. O mecanismo de morte por fulminação decorre da inibição de centros nervosos, principalmente do centro respiratório. Outros fatores podem intervir: fibrilação ventricular, lesões traumáticas por ação mecânica do raio, como fraturas e queimaduras. As Lesões Arborescentes de Lichtenberg são lesões características que aparecem na pele, ramificadas, formadas por vasoplegia ou pela simples difusão da energia elétrica na pele. Achados de necrópsia: cabelos e pelos chamuscados, hemorragias musculares, roturas de vasos ou do coração, sangue fluido, fraturas ósseas, congestão e hemorragias das pálpebras e globos oculares, lesões da língua e mucosa oral, equimoses subpleurais e subpericárdicas, carbonização dos órgãos, hemorragias internas, etc. ENERGIA INDUSTRIAL A ação da energia elétrica industrial sobre o organismo constitui uma série se alterações chamada de eletroplessão. Os efeitos da corrente são máximos dentro de certos limites de tensão: abaixo de 200 V a morte só sobrevém em condições especiais e, em voltagens extremamente altas, de 5.000 a 10.000 V, os efeitos são proporcionalmente menores. A corrente alternada é mais prejudicial que a contínua. O estado do indivíduo também condiciona o efeito da corrente elétrica (o corpo é um mal condutor). A pele molhada tem a resistência muito diminuída, fazendo com que o efeito da corrente seja muito maior, podendo sobrevir à morte, mesmo com tensões relativamente baixas. Se a corrente escoa pelo organismo, terá um efeito deletério; se o indivíduo estiver isolado, não haverá efeito nocivo. A localização dos pólos do corpo e as superfícies de suas zonas de contato também são importantes: quando o coração se acha incluído no trajeto da corrente, a ação desta será mais deletéria, ocorrendo freqüentemente fibrilação ventricular; quanto maior as superfícies de contato dos pólos, maiores serão os efeitos nocivos. A intensidade do dano elétrico é diretamente proporcional ao tempo de exposição da corrente. As correntes de alta tensão ocasionam mais inibição do sistema nervoso, que nem sempre são as mais graves; as 6MEDICINA LEGAL IV MARCUS VINICIUS J. BARBOSA correntes de média ou baixa tensão podem causar fibrilação ventricular, que é letal. Os achados de necrópsia são semelhantes aos encontrados na morte por fulminação. A pele, nos pontos de entrada e saída da corrente, podem ser observadas lesões de alto valor diagnóstico: as marcas elétricas de Jellinek. Estas geralmente tem forma circular, elíptica ou estrelada, de consistência endurecida, bordas altas, leito deprimido, tonalidade branco- amarelada ou escura, fixa e indolores quando há sobrevida. Pode-se encontrar também lesões cutâneas decorrentes da ação de acidificação no pólo positivo e de alcalinização no pólo negativo; outro ferimento superficial é a metalização elétrica, cuja característica é o destacamento da pele, com fundo da lesão impregnada de partículas de fusão e vaporização dos condutores elétricos. A marca elétrica é diferente da queimadura elétrica. A primeira representa a porta de entrada da corrente elétrica, podendo até estar ausente. A segunda representa o resultado do calor de uma corrente elétrica; tem a forma de escara escura, com bordas nítidas, sem área de congestão ou flictenas. O diagnóstico das mortes por energia elétrica nem sempre é fácil. Às vezes há a marca elétrica, mas a morte foi decorrente da queda após o indivíduo receber o choque. A causa jurídica mais freqüente é a acidental (acidente do trabalho). RADIOATIVIDADE A energia radiante produz uma diversidade de manifestações clínicas que dependem da magnitude e da duração da exposição à radiação e da extensão e função da área do corpo que foi irradiada. Alguns exemplos de fonte de radiação incluem: os raios X, rádio e cobalto radioativos, compostos do bário, tório, etc. A lesão tecidual pode ser produzida por interações celulares com radiações de qualquer parte do espectro eletromagnético, incluindo o que provém do sol, dos raios lasers ou de equipamentos de microondas. As radiações atuam impedindo a divisão celular em alguns tecidos e destruindo as células de outros. Causam leucemia, dermatoses (radiodermites), lesões das gônadas e moléstias profissionais. As radiodermites podem ser agudas ou crônicas: Agudas: São classificadas em: > 1o. grau – eritematosa; > 2o. grau – pápulo-eritematosa; > 3o. grau – ulceradas com necrose. Crônicas: Apresenta-se de 3 formas – úlcero-atrófica, teleangectásica ou neoplásica (câncer). 7MEDICINA LEGAL IV MARCUS VINICIUS J. BARBOSA Podem ocorrer lesões culposas por tratamento radioterápico inadequado. A causa jurídica destas lesões normalmente é acidental ou ocupacional. LUZ E SOM Estas formas de energia comprometem principalmente os órgãos dos sentidos e dificilmente acarretam lesões graves. A exposição à luz intensa ou de intensidade muito variável pode causar alterações do sistema nervoso central (epilepsia) e alterações de ordem psíquica. A exposição a ambientes muito ruidosos pode levar à surdez, alterações psicológicas e a epilepsia acustogênica. A causa jurídica das lesões é mais acidental ou de ordem ocupacional. ENERGIAS DE ORDEM FÍSICO-QUÍMICA Englobam todas as formas de asfixia (“a” = sem; “sphyxia” = pulso – ausência de pulso”). Asfixia sob o ponto de vista médico-legal é a síndrome, eventualmente terminada pela morte, caracterizada
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