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Lesões Não Cariosas

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TraTamenTo de lesões cervicais
Ana Regina Cervantes Dias 
Katia Regina H. Cervantes Dias 
Silvia Alencar Gonçalves
Marcos Barceleiro
11
 o INTRODUÇÃO
A Odontologia, como ciência em constante evolu-
ção, tem observado grandes mudanças nos últimos 
anos no tocante à evolução de materiais restauradores, 
procedimentos restauradores e, também, técnicas e 
materiais voltados para a prevenção no surgimento e 
evolução da cárie. Sabe-se que a cárie e o trauma ainda 
são os maiores responsáveis pela perda de tecido dental 
duro, entretanto a queda na incidência de lesões cario-
sas, a evolução da Odontologia preventiva, o aumento 
da longevidade dos pacientes e a melhor manutenção 
da dentição natural têm provocado um crescimento na 
prevalência de lesões não cariosas.1-3
Essas chamadas lesões não cariosas são, na verdade, 
um desgaste de tecido dentário não relacionado à cárie. 
Elas acometem principalmente a porção cervical vestibu-
lar ou palatina dos dentes, têm origem multifatorial e po-
dem ocorrer em virtude do envelhecimento natural do 
dente.4 Sabe-se que a perda da estrutura dental é, até certo 
ponto, um processo fisiológico, porém um desgaste maior 
que 10 µm/ano em faces proximais e 20 µm em faces 
oclusais deve ser considerado patológico.5 As alterações 
provocadas por essas lesões nas estruturas mastigatórias 
costumam ser consideradas uma forma de adaptação do 
organismo, e não doenças.1 Porém, quando comprome-
tem a função, prejudicam a estética ou causam descon-
forto e sensibilidade, são consideradas patológicas e ne-
cessitam de intervenção. 
Normalmente, as lesões não cariosas são classificadas 
de acordo com o mecanismo que gera a perda tecidual. A 
perda provocada por ácidos não bacterianos é denomina-
da erosão, ao passo que a perda provocada pelo atrito de 
um dente com o outro designa-se atrição. Já a perda de 
tecido dental provocada por contatos oclusais excessivos 
e forças excêntricas chama-se abfração, e a provocada por 
desgaste mecânico causado pelo atrito de um objeto que 
não o dente chama-se abrasão.1-4
É fundamental que o cirurgião-dentista conheça os 
fatores etiológicos para prevenir esses tipos de lesão e, em 
sua instalação, evitar a progressão e determinar o trata-
mento de escolha. Atualmente, muitas são as técnicas vol-
tadas para o tratamento dessas lesões não cariosas, invasi-
vas ou não, restauradoras ou não. A escolha do esquema 
terapêutico correto está intimamente ligada ao grau de 
severidade da lesão e ao grau de comprometimento do ele-
mento dentário envolvido. Problemas principalmente li-
gados à estética e/ou à hipersensibilidade costumam ser os 
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196 o Dentística: Uma Abordagem Multidisciplinar
que mais levam os pacientes a procurar a ajuda de um pro-
fissional. Nesse sentido, uma gama muito grande de pos-
sibilidades encontra-se à disposição dos profissionais para 
o tratamento de tais lesões, como tratamentos restaurado-
res convencionais, com substâncias químicas (como o 
flúor, cloreto de estrôncio ou sais de potássio), com laser 
cirúrgico ou terapêutico, com dessensibilizantes dentiná-
rios resinosos e até mesmo técnicas cirúrgicas periodon-
tais de recobrimento radicular.
Assim, este capítulo tem por objetivo permitir que o 
leitor conheça a etiologia das lesões não cariosas, saiba 
identificar a sua presença, realize o seu correto diagnósti-
co e, a partir daí, indique o seu correto tratamento, quan-
do este for necessário.
TIPOS DE lESõES NÃO caRIOSaS
Erosão
A erosão é um tipo de lesão não cariosa que se carac-
teriza como um desgaste crônico e químico provocado 
por ácidos de origem não bacteriana, os quais, para terem 
capacidade erosiva, devem ter pH inferior a 5,5. Esse tipo 
de lesão acomete locais sem biofilme, uma vez que este, 
na verdade, protege o dente contra a erosão.4 
Os ácidos que conseguem provocar erosão dentária po-
dem ter origem extrínseca, quando provenientes da ali-
mentação, de medicamentos ou do meio ambiente. Entre 
alguns elementos ácidos provenientes da alimentação que 
provocam erosão, destacam-se: frutas e sucos de frutas cí-
tricas (limão, laranja, maracujá, abacaxi etc.); refrigerantes 
(sobretudo à base de cola); vinhos; vinagre; isotônicos; áci-
do ascórbico – (vitamina C) presente em bebidas, refrige-
rantes e doces –; tônicos de ferro; e reposição de ácido para 
ser ministrado a pacientes com acloridria ou para dissolver 
pequenos cálculos renais.4 As bebidas esportivas, cujo con-
sumo aumentou recentemente, merecem atenção, já que a 
maioria das existentes no mercado é altamente erosiva por 
causa de seu conteúdo ácido, incluso para apresentar sabor 
refrescante e prolongar o tempo de duração do produto. O 
risco de erosão dental em pessoas que consomem bebidas 
energéticas é quatro vezes maior, principalmente quando 
consumidas durante atividades extenuantes ou com alto 
grau de desidratação. Elas são indicadas apenas para atle-
tas profissionais, que se exercitam mais de 90 minutos, 
pois proporcionam energia por conta da concentração ele-
trolítica balanceada e dos carboidratos, mas, mesmo as-
sim, deve ser dada preferência às bebidas enriquecidas com 
cálcio (Figuras 11.1 e 11.2).6
Já a erosão provocada por ácidos de origem do meio 
ambiente ocorre pela permanência em locais ácidos ou 
pelo contato com ácidos do ambiente de trabalho, como 
industriais e aqueles presentes em laboratórios quími-
cos. A cloração de piscinas também pode causar erosão, 
já que a água reage com o gás cloro, formando, assim, o 
ácido clorídrico.4
A erosão pode ainda ser originada em virtude de ácidos 
de origem intrínseca, quando é provocada pelo ácido clorí-
drico presente no estômago, que volta à cavidade oral por 
causa de vômito, regurgitação ou refluxo causado por dis-
túrbios alimentares (como anorexia e bulimia), gravidez, 
alcoolismo, tratamento do alcoolismo, disfunção gástrica, 
hérnia de hiato, úlcera péptica e duodenal, refluxo gastreso-
fágico, gastrite, úlcera e hipertireoidismo.4 O aparecimento 
de lesões cervicais tem sido ainda relacionado com relativa 
frequência a pacientes submetidos à cirurgia bariátrica.5,7
Clinicamente, a lesão inicia-se com um desgaste su-
perficial do esmalte, deixando o dente com uma superfí-
cie rasa e lisa, sem manchas ou acúmulo de biofilme. Os 
dentes que apresentam erosão sofrem perda de brilho e 
exposição dentinária vestibular, palatina e lingual. As ca-
vidades podem ser definidas e localizadas ou ocorrer em 
toda a superfície do esmalte, com contorno arredondado 
ou em forma de pires, sem término nítido. Observa-se 
ainda maior desgaste em um arco do que em outro, e os 
pacientes apresentam sensibilidade, incisivos encurtados 
e cavidades dentinárias oclusais ou incisais. Os casos 
mais graves podem provocar exposição pulpar e até mes-
mo perda da vitalidade (Figuras 11.3 e 11.4)
 o Figura 11.1
Erosão extrínseca. Percebe-se a perda de brilho das faces vestibulares.
 o Figura 11.2
Erosão extrínseca provocada por consumo excessivo de refrigerante à 
base de cola.
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 Tratamento de Lesões Cervicais o 197
Quando a erosão atinge a dentina, o paciente costuma 
relatar que essa lesão apresenta-se muitosensível a varia-
ções térmicas por causa da dissolução ácida e da amplia-
ção da entrada dos túbulos dentinários expostos. E mais: 
quando o elemento dentário apresenta restaurações, 
principalmente as realizadas com amálgama de prata, 
nota-se que essas restaurações podem projetar-se na su-
perfície dentária, formando “ilhas” de amálgama, uma 
vez que não sofrem desgaste pelo ácido4 (Figura 11.5).
As características das lesões variam de acordo com 
sua origem, visto que o desgaste erosivo segue a trajetó-
ria do ácido. Na erosão provocada por ácido extrínseco, 
por exemplo, as superfícies mais atingidas são as vesti-
bulares dos dentes superiores. Já quando a erosão é pro-
vocada por ácidos intrínsecos, pode atingir o dorso da 
língua, as faces palatinas dos dentes superiores e as faces 
oclusais dos elementos inferiores. Estas últimas, inclusi-
ve, recebem a denominação de perimólises (Figura 
11.3). Mas, quando a lesão é provocada por vômito, o 
ácido atuará mais nas faces palatinas dos dentes ante-
riores e, quando a causa for regurgitação, atuará prefe-
rencialmente nos molares superiores, na sua face lingual 
e oclusal. No momento em que o paciente está provo-
cando vômitos e a lesão está em atividade, esta é unifor-
me, não exibe manchas e geralmente não é sensível ao 
frio ou ao calor; porém, quando a lesão cessa, costumam 
ocorrer manchas nos dentes.7
A erosão intrínseca atinge as faces palatinas e oclusais 
dos elementos superiores, mas somente as faces vestibula-
res e oclusais dos pré-molares e molares inferiores. As faces 
vestibulares dos dentes superiores não entram em contato 
com ácido, sendo protegidas pela glândula parótida. As su-
perfícies linguais dos dentes inferiores são cobertas pela 
língua e pelas glândulas submandibular e sublingual. 
A erosão é uma lesão de difícil diagnóstico, que é rea-
lizado por meio de uma anamnese dirigida, na qual se 
questiona o paciente acerca de seus hábitos alimentares e, 
também, se ele sofre de algum distúrbio gástrico ou se está 
fazendo algum tipo de tratamento (com fármacos ou ra-
dioterapia). Deve-se avaliar a possibilidade de disfunção 
das glândulas salivares, a eficiência da higiene e a exposi-
ção ambiental a ácidos, sendo também muito importante 
a colaboração do paciente no correto preenchimento de 
um diário alimentar de cinco dias. 
Em relação à cronologia evolutiva da lesão, observa-se 
que a perda de estrutura dentária só começa a aparecer 
após um a dois anos de ataque regular várias vezes por 
semana, e a erosão só passa a ser evidenciada clinicamen-
te quando o paciente relata sensibilidade ou fratura das 
bordas incisais. O grau de desgaste depende da frequên-
cia e da duração de exposição ao ácido, da higiene bucal e 
de fatores constitucionais, como grau de mineralização, 
conteúdo de flúor, quantidade e qualidade da saliva. É 
ainda muito importante salientar que a erosão está geral-
 o Figura 11.3
Erosão intrínseca. Observa-se a perda tecidual das faces palatinas e 
perimólises nas pontas das cúspides dos pré-molares.
 o Figura 11.4
Erosão intrínseca. Observa-se o encurtamento dos incisivos superiores.
 o Figura 11.5
Erosão intrínseca. Notam-se “ilhas” de amálgama.
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198 o Dentística: Uma Abordagem Multidisciplinar
mente associada a fatores mecânicos, como escovação, 
atrição e mastigação, o que dificulta ainda mais o diag-
nóstico correto da lesão.
Quando for diagnosticado que a causa da erosão pode 
estar relacionada à ingestão de bebidas ácidas, deve-se 
avaliar seu pH, a capacidade de tamponamento (quanto 
maior, pior), as propriedades de quelação do ácido, a fre-
quência de ingestão, o conteúdo de cálcio, fosfato e flúor, 
e o fluxo salivar. É importante salientar que, em virtude 
da dieta ácida e da ingestão de medicamentos em forma 
de xarope, essas lesões podem ocorrer também em crian-
ças e adolescentes.
Ainda dentro das características da lesão, para se ob-
ter o correto diagnóstico é importante considerar que o 
paciente que sofre de distúrbios gástricos costuma sentir 
acidez na boca e dor gástrica pela manhã. As faces palati-
nas dos elementos superiores são as primeiras a serem 
atingidas; em seguida, as faces oclusais de pré-molares e 
molares e as faces vestibulares dos superiores são atingi-
das (Figura 11.6).
Para se tentar prevenir a erosão, a ingestão de ácido deve 
ser rápida e restrita às refeições principais. Após tal exposi-
ção, recomenda-se a neutralização com leite (mantendo-o 
na boca por alguns instantes), queijo, pastilhas antiácidas, 
bochechos com bicarbonato ou fermento em pó dissolvido 
em água. O uso de goma de mascar sem açúcar estimula a 
salivação e promove a neutralização do meio bucal, já que a 
saliva estimulada é mais rica em bicarbonatos. Ocorrerá 
ainda a remineralização das zonas descalcificadas, já que 
toda a saliva é hipersaturada em cálcio e fosfato.7-10 As go-
mas de mascar mais indicadas são as enriquecidas com 
flúor ou com fosfato de cálcio ou com Recaldent™.5,9 As pas-
tilhas de vitamina C devem ser substituídas por cápsula 
(após avaliação médica), e pode-se ainda aplicar creme den-
tal com bicarbonato nas lesões antes de dormir.
Sabe-se que a erosão pode ser exacerbada pela abrasão 
e pela atrição, as quais serão descritas de maneira deta-
lhada posteriormente neste capítulo. Com base nesse 
fato, deve-se orientar o paciente no sentido de se utilizar 
um creme dental de baixa abrasividade, que contenha 
flúor e bicarbonato, e de escovar os dentes com uma esco-
va macia e realizar a técnica vertical, evitando a escova-
ção imediatamente após a ingestão ácida. O objetivo de 
postergar a escovação é permitir que a saliva, atuando 
como doadora de cálcio e fosfato, favoreça a reminerali-
zação e o consequente reendurecimento da superfície ata-
cada pelo ácido. Esse processo é lento, porém a escovação 
pode ser realizada após o período de uma hora. O paciente 
também deverá diminuir a frequência de ingestão do áci-
do, concluir as refeições com alimento neutro, beber rapi-
damente substâncias ácidas ou usar canudo e enxaguar a 
boca com água, evitando bochechar bebidas gasosas.
Uma outra forma de se controlar a erosão é pelo uso 
de flúor, o qual detém a desmineralização, diminui a sen-
sibilidade ao ácido e endurece a camada superficial dos 
tecidos dentários. Esse flúor pode ser aplicado na forma 
de fluoreto de sódio a 1,2% por 48 horas, e/ou por boche-
cho com solução fluoretada a 0,05% duas ou mais vezes 
ao dia e/ou, ainda, pela aplicação de gel fluoretado duas 
vezes por semana.11 Vários estudos mostram que o flúor 
aumenta significativamente a remineralização do esmal-
te amolecido, além da resistência contra erosão. Apesar 
disso, deve-se observar que a erosão dental está aumen-
tando, embora a maioria dos cremes dentais seja fluoreta-
da. Assim, a eficácia do flúor contra erosão dental, na 
concentração em que é encontrado nos cremes dentais, é 
bastante limitada e depende do ataque ácido sofrido pelo 
dente. A indústria tem o desafio de encontrar produtos 
ou tratamentos que mantenham a liberação lenta de flúor 
tanto para uso caseiro quanto para consultório e que pro-
movam resultados de longa duração e direcionados prin-
cipalmente aos grupos de risco.12
A proteção mecânica da superfície dentária atingida 
pode ser realizada com selantes, vernizes e, em casos avan-
çados, inclusive com restaurações diretas/indiretas. O ci-
rurgião-dentista deve avisar o paciente sobre a erosão, 
aconselhá-lo acerca da higiene oral, proceder à remoção de 
corantes,aplicar verniz fluoretado quatro vezes ao ano e 
monitorar o desgaste em um período quadrimestral por 
meio de modelos de gesso, de fotos ou da avaliação do des-
gaste das restaurações. Quando for diagnosticado que a 
causa da erosão pode estar ligada à regurgitação ou a qual-
quer outro distúrbio gástrico, pode-se utilizar uma placa 
semelhante à de clareamento no paciente e, também, enca-
minhá-lo ao médico.
 o Figura 11.6
Erosão intrínseca em estágio avançado causada por refluxo gastreso-
fágico atingindo as faces proximais.
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 Tratamento de Lesões Cervicais o 199
abrasão
A abrasão é um tipo de lesão não cariosa que se carac-
teriza pelo desgaste mecânico da estrutura dental que 
ocorre por causa do contato repetido de um corpo estra-
nho na superfície dental, desde que não seja relacionado 
à oclusão. Na maioria das vezes, a abrasão ocorre em vir-
tude de uma escovação inadequada, do uso abusivo de 
palito ou de escova interdental, e do consumo de drogas. 
Assim, o abrasivo da pasta de dentes, o tipo de escova 
utilizada e a técnica de escovação são os fatores mais im-
portantes a serem avaliados.4
As lesões de abrasão atingem a porção cervical das 
faces vestibulares de vários dentes. Elas são rasas e apre-
sentam superfície lisa (ou arranhada), polida, dura, com 
contornos regulares, margens agudas e bem-definidas, 
sem biofilme e sem descoloração. A abrasão acomete 
mais as faces vestibulares, o lado esquerdo (para destros) 
e a maxila. Nunca é subgengival, sendo comum a gengiva 
sofrer recessão (Figuras 11.7 e 11.8)
Uma vez constatada a possibilidade de que o paciente 
possui lesões de abrasão, o cirurgião-dentista deve ava-
liar, no que concerne às escovas, o tipo de material, a rigi-
dez e o arredondamento das cerdas, a flexibilidade e o 
comprimento do cabo, a força da escovação, a técnica, a 
frequência e o tempo gasto durante a escovação, bem 
como o local por onde ela se inicia. 
Em relação ao creme dental, sabe-se que os dentifrí-
cios atuais são produtos multifuncionais, nos quais ocor-
re a incorporação de ingredientes como fluoretos, triclo-
san, nitrato de potássio, peróxidos e polifosfatos para que 
se tornem substâncias preventivas ou até mesmo curati-
vas. Pacientes em fase ativa de lesões cervicais não cario-
sas não devem usar dentifrícios do tipo anticálculo ou 
clareadores, pois estes possuem substâncias quelantes 
para sequestrar o cálcio presente na saliva, impedindo, 
assim, a formação do cálculo, porém prejudicando tam-
bém o processo de remineralização do dente.5 O dentifrí-
cio ideal para pacientes com lesões cervicais não cariosas 
deve ter baixa abrasividade, alto teor de flúor, além de 
fosfato e cálcio que permaneçam disponíveis por várias 
horas. Mas, infelizmente, existem poucos cremes dentais 
remineralizadores no mercado nacional.
Em casos de abrasão, a técnica de escovação deve ser 
realizada com força reduzida para ± 150 gramas-força, 
ou seja, de forma que as cerdas se f lexionem muito pou-
co. Exemplos de escovas para lesões cervicais não cario-
sas são a “Advantage Plus” e a “Triumph Smart Guide”, 
ambas da Oral B, que alertam quando uma pressão ex-
cessiva é aplicada.5
Com relação ao consumo de drogas, a abrasão pode 
ocorrer em pacientes que fazem uso de cocaína, friccionan-
do-a na gengiva, uma vez que a substância promove reces-
são gengival e abrasão do cemento exposto (Figura 11.7). 
atrição
A atrição, cada vez mais comum nos dias atuais, é 
uma lesão não cariosa provocada pelo contato dos den-
tes sem nada interposto entre eles. Esse contato ocorre 
durante a deglutição, a mastigação e a fonação, e como 
 o Figura 11.7
Abrasão associada à fricção de substâncias na área gengival.
 o Figura 11.8
Abrasão associada à perda de inserção e exposição de cemento em 
virtude de doença periodontal.
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200 o Dentística: Uma Abordagem Multidisciplinar
a longevidade e o tempo de permanência dos dentes nas 
arcadas hoje é maior do que no passado, essas lesões 
têm se tornado cada vez mais comuns. Tal lesão ocorre 
por conta da idade e é fisiológica, exceto nos casos de 
apertamento ou bruxismo.4 Nesse caso, o estresse, consi-
derado por muitos a principal doença do homem moder-
no, é um agente potencializador dos efeitos da atrição, 
fazendo com que cada vez mais pacientes apresentem esse 
tipo de lesão. 
A atrição é um dos principais mecanismos envolvidos 
na formação das lesões não cariosas, em que o desgaste 
geralmente é uniforme, resultando em facetas planas e 
coincidentes nos dentes antagonistas. No entanto, caso 
haja um componente ácido presente, haverá a formação 
de concavidades nas regiões de dentina exposta, levando 
à formação de lesões oclusais côncavas.5
A atrição envolve as faces oclusais, incisais e até mes-
mo proximais (Figuras 11.9 e 11.10), e a lesão apresenta-
-se clinicamente como facetas brilhosas na superfície 
dentária, sendo que, em casos mais avançados, observa-
-se até mesmo perda de dimensão vertical e/ou de guias 
anteriores e laterais de oclusão, além de graves prejuízos 
estéticos para o sorriso do paciente. O tratamento con-
siste na confecção de placas miorrelaxantes quando o 
paciente apresentar sintomatologia ou quando se tratar 
de preservação da estrutura dentária. A reabilitação das 
guias incisais e mesas oclusais pode ser realizada para 
devolver a dimensão vertical perdida, a capacidade de 
corte dos elementos dentários anteriores e as guias ante-
riores e laterais de oclusão.
abfração
A abfração é um tipo de lesão não cariosa em que ob-
serva-se perda de estrutura dental decorrente da flexão 
da coroa durante a função oclusal, geralmente associada 
a esforço excessivo em virtude de interferências oclusais, 
problemas ortodônticos, ausências dentárias ou parafun-
ções (como bruxismo e apertamento) – Figura 11.11.1,3,4
Durante a flexão do dente, as forças oclusais são dire-
cionadas para a região cervical, que tem uma fina cama-
da de esmalte, geralmente aprismático, por onde se inicia 
o rompimento da união dos cristais de hidroxiapatita. 
Isso causa fendas e fissuras que provocam microfraturas 
no esmalte, as quais se propagam até que haja desloca-
mento de uma parte do esmalte, formando, então, uma 
cavidade. Para que se forme a lesão, é necessário que o 
dente esteja bem implantado no osso, já que, em dentes 
com comprometimento periodontal, a mobilidade im-
possibilita a flexão dentária. 
Clinicamente, as lesões por abfração apresentam-se 
em forma de cunha ou “V”, com contornos bem delimi-
tados e bordas afiadas. São lesões isoladas, que acome-
tem com maior frequência os pré-molares, podem ser 
subgengivais e atingir dentes extensamente restaurados 
(Figura 11.12). Esse tipo de lesão é comum em pacientes 
com mesas oclusais extensamente restauradas, onde os 
dentes apresentam interferência oclusal em lateralidade 
e facetas de desgaste.
A maneira de se tentar evitar a progressão das lesões 
consiste em ajuste oclusal e instalação de uma placa mior-
relaxante em pacientes com bruxismo ou apertamento. Os 
 o Figura 11.9
Atrição patológica provocada por hábito parafuncional (bruxismo).
 o Figura 11.10 
Atrição fisiológica provocada pelo envelhecimento.
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 Tratamento de Lesões Cervicais o 201
efeitos da abfração, ou seja, a cavidade formada, normal-
mente recebem um tratamento restaurador em que se de-
volvem a forma e a estética perdidas.
lesões multifatoriais
Como descrito anteriormente, as lesões não cariosas 
geralmente estão associadas. Dificilmente se encontram 
lesões causadas por apenas um fator etiológico, e isso di-
ficulta ainda mais o diagnóstico e o tratamento dessas 
lesões não cariosas.
Por exemplo, na associação entre abrasão e erosão, 
logo após o contato do ácido com a estrutura dental, 
tanto por alimentos ácidos quanto por regurgitação do 
ácido clorídrico, o paciente escova os dentes e remove a 
estrutura dental amolecida previamente pelo ácido (Fi-
gura 11.13). Já na associação entre atrição e abfração, 
também muito comum, observa-se que os hábitos para-
funcionais de bruxismo ou apertamento causam trincas 
em todo o esmalte dentário e excesso de esforço sobre os 
dentes (Figura 11.14).
 o Figura 11.11
Lesão do tipo abfração associada à ausência dentária.
 o Figura 11.12 
Pré-molares inferiores com lesões do tipo abfração. Notam-se cavida-
de em forma de cunha e bordas afiadas.
 o Figura 11.13
Associação entre erosão e atrição. Observam-se as ranhuras na super-
fície da restauração dos elementos 11 e 21.
 o Figura 11.14 
Associação de atrição (perda de estrutura incisal) com abfração (per-
da de tecido cervical).
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Camilla Peixoto
202 o Dentística: Uma Abordagem Multidisciplinar
Outro exemplo bem comum de associação ocorre 
quando o paciente utiliza a técnica de escovação horizon-
tal em um elemento dentário com lesão provocada por 
abfração, sendo comum observar-se exposição do ce-
mento e a consequente associação entre abfração e abra-
são (Figura 11.15). 
É importante também verificar que, na associação en-
tre abrasão, erosão e abfração, esta última leva à perda do 
esmalte dental na região cervical, expondo cemento e 
dentina, que são mais facilmente corroídos pelo ácido. 
Após a desmineralização, a remoção do tecido é exacer-
bada pela escovação.
As lesões cervicais não cariosas, isoladas ou origina-
das por associação de fatores etiológicos, podem progre-
dir para uma lesão cariosa. Isso acontece ou porque as 
cavidades promovem retenção de biofilme, ou porque 
tais lesões provocam sensibilidade durante a escovação, o 
que desencoraja o paciente a realizar o controle de biofil-
me dessa região (Figura 11.16).
TRaTaMENTO
O correto diagnóstico é, na verdade, o mais importante 
e mais difícil passo para o tratamento das lesões não cario-
sas. Deve-se iniciar o tratamento dessas lesões cervicais 
com uma anamnese dirigida, buscando colher informações 
sobre hábitos alimentares, tipo de escova, pasta de dentes, 
técnica de escovação e questões médicas, como uso de me-
dicamentos e doenças sistêmicas. Vale ressaltar que remo-
ver o fator etiológico é, na verdade, mais importante do que 
restaurar ou tratar eventual sensibilidade dentinária.4
O tratamento das lesões cervicais consiste na remo-
ção do fator etiológico, na terapia dessensibilizante (se 
houver sensibilidade) e na restauração em casos específi-
cos (Figura 11.17).
A progressão da abrasão é evitada por meio de instru-
ção relativa à higiene oral, dando-se preferência à técnica 
vertical, sempre no sentido gengiva-dente, com uma es-
cova de cerdas macias ou extramacias e pontas arredon-
dadas. Deve-se evitar excesso de força e utilizar uma pas-
ta de dentes de baixa abrasividade, evitando-se o gel 
dental. Essa progressão é de difícil controle, pois depende 
unicamente de colaboração por parte do paciente, no sen-
tido de se mudarem hábitos nocivos na escovação, o que 
nem sempre é muito fácil de ser obtido.
A erosão é tratada inicialmente por meio de diagnós-
tico da fonte de ácido. Caso a fonte seja extrínseca, deve-
-se orientar o paciente a evitar alimentos ácidos. Caso 
haja necessidade de tal ingestão, esta deve ser feita rapi-
damente, com canudo e associada a alimentos neutros. O 
profissional tem de orientar o paciente quanto à neutrali-
zação do meio bucal. Quando se tratar de erosão intrín-
seca, cabe ao cirurgião-dentista encaminhar o paciente 
ao médico para tratamento do distúrbio gástrico (azia, 
gastrite, hérnia de hiato etc.) ou psiquiátrico (anorexia, 
bulimia etc.). Já em caso de erosão provocada por am-
bientes ácidos, não sendo possível evitar o contato com 
estes, o profissional pode confeccionar uma placa de ace-
tato ou silicone, semelhante à de clareamento, para o pa-
ciente proteger mecanicamente o dente contra o ataque 
ácido. Pacientes com erosão intrínseca também podem 
 o Figura 11.15
Paciente de 84 anos com lesões multifatoriais. A ausência de guia 
canina provocou sobrecarrega os pré-molares e incisivos laterais, que 
apresentam abfração. A escovação com força provocou lesões tipo 
abrasão na arcada superior.
 o Figura 11.16
Molar estruído com consequente exposição radicular apresentando 
lesão cariosa em dentina.
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 Tratamento de Lesões Cervicais o 203
ser beneficiados por essa placa se a utilizarem durante os 
episódios de regurgitação, mas é importante salientar 
que o uso dessas moldeiras é mais indicado para aplica-
ções diurnas, pois nas noturnas poderia servir de zona de 
retenção do conteúdo gástrico regurgitado.5
O tratamento da atrição consiste na confecção de uma 
placa miorrelaxante e no encaminhamento ao especialis-
ta em disfunção temporomandibular, caso necessário. Já 
o tratamento da abfração é realizado por meio do ajuste 
oclusal e/ou tratamento ortodôntico.
Restauração
Considerando-se que o fator etiológico da lesão já foi 
descoberto e está sob controle, nos casos onde houver real 
necessidade restauradora ou reabilitadora isso pode ser 
feito a partir desse momento. A restauração da lesão cer-
vical só é indicada quando a lesão está ativa, o dente tem 
sua integridade ameaçada ou sofre risco de exposição 
pulpar, a lesão prejudica a estética, ou quando o dente 
apresenta sensibilidade que não regride com dessensibili-
zantes, antes da reabilitação com próteses parciais remo-
víveis nos dentes que receberão grampos ou na presença 
de lesão cariosa ativa em dentina.1
Mesmo na presença de lesão cariosa, a restauração da 
região cervical só é indicada em casos avançados e já dis-
seminados em dentina. A área cervical oferece acesso di-
reto para escovação e observação, sendo alvo ideal para a 
promoção de saúde caseira e, até mesmo, o controle de 
uma lesão cariosa em dentina.13-15
Ao se realizar a restauração de lesões cervicais, é pos-
sível melhorar a higiene e a eventual sensibilidade, evitar 
a exposição pulpar, impedir lesões de abrasão/erosão, re-
duzir o desconforto da língua e da bochecha, melhorar a 
estética, reforçar o remanescente e diminuir o processo 
de desgaste.1,3,11 As restaurações, no entanto, também 
apresentam desvantagens, como sensibilidade pós-ope-
ratória, cárie secundária, mudança do perfil anatômico 
– que pode prejudicar higiene – e possíveis excessos no 
sulco gengival. Por esses motivos, devem ser evitadas 
sempre que possível.1
Antes do advento das resinas compostas, os únicos 
materiais estéticos para as restaurações dessas lesões 
eram os cimentos de silicato e as resinas acrílicas autopo-
limerizáveis. Os primeiros não apresentavam uma dura-
bilidade desejável e, além disso, exibiam uma rugosidade 
superficial muito grande. Já as resinas acrílicas apresen-
tavam exagerada contração de polimerização, permitin-do que as restaurações falhassem em pouco tempo. Atu-
almente, os materiais utilizados para a restauração de 
lesões cervicais são as resinas microparticuladas, as do 
tipo flow e os cimentos de ionômero de vidro convencio-
nais ou híbridos, associados ou não a resinas compostas 
(restauração tipo “sanduíche”).16
 o Figura 11.17
Diagrama de tratamento da lesão cervical.
Fonte: Adaptada de Dias e Dias.4
Remoção fator etiológico
Tratamento da lesão não cariosa
Lesão ativa
Integridade ameaçada
Risco pulpar
Antes de reabilitação com P.P.R.
Lesão cariosa disseminada em dentina
Estética
Perda maior que 1 mm
Abrasão Técnica de escovação
Erosão Instrução de dieta, encaminhamento ao médico
Atrição Placa miorrelaxante, tratamento da 
 dor temporomandibular (DTM)
Abfração Ajuste oclusal
Sim
Restauração + proservação
Não Sensibilidade
Sim
Terapia dessensibilizante
Não resolveu 
restauração + proservação
Não
proservação
Resolveu 
proservação
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204 o Dentística: Uma Abordagem Multidisciplinar
O módulo de elasticidade é uma propriedade importante 
a ser considerada na escolha do material restaurador, sobre-
tudo na restauração de dentes com abfração. Os materiais 
restauradores com baixo módulo de elasticidade tendem a 
deformar e a não se desprender da cavidade.1-3, 11, 17
As resinas compostas microparticuladas e as do tipo 
flow possuem baixo módulo de elasticidade e alta lisura 
superficial, o que contribui para a saúde gengival. No 
caso das resinas tipo flow, estas, por possuírem uma resi-
liência maior do que a das estruturas dentais, acompa-
nham o flexionamento das estruturas dentais, mas a pos-
sibilidade de sofrerem deformações permanentes é 
menor. Contudo, possuem baixa resistência ao desgaste, e 
o polimento superficial não oferece durabilidade.17
A adesão na área cervical é prejudicada na ausência 
de esmalte, fato comum na parede cervical desse tipo de 
cavidade. Uma boa alternativa é a associação de resina 
com o cimento de ionômero de vidro.1-3,14,16 O biselamen-
to do ângulo cavo-superficial oclusal para restaurações 
de resina é opcional e restrito ao esmalte. A confecção de 
bisel no ângulo cavo-superficial gengival deve ser evitada 
por causa do pouco esmalte presente na região.1-3
Os cimentos de ionômero de vidro apresentam benefício 
terapêutico, pois endurecem o tecido amolecido e dimi-
nuem a sensibilidade por meio do flúor. Além disso, ofere-
cem adesão mesmo em cemento e dentina esclerosada. Os 
ionômeros de vidro híbridos apresentam resistência mecâ-
nica, tempo de presa controlado e boa estética. Contudo, em 
lesões nas quais a estética é primordial, as resinas compostas 
têm um desempenho estético melhor (Figura 11.18).
Todos os materiais restauradores são extremamente 
sensíveis à umidade bucal. Em se tratando de restaura-
ções cervicais, a possibilidade de contaminação por sali-
va, fluido gengival ou sangue é mais crítica por sua proxi-
midade com o sulco gengival. Por esse motivo, o 
isolamento ideal para a confecção dessas restaurações é o 
absoluto, com dique de borracha, normalmente associa-
do a grampos especiais para a região cervical (grampos 
212 R, 212 L, W8A, entre outros), os quais são normal-
mente estabilizados com godiva de baixa fusão (Figu-
ra 11.19). Se ocorrer lesão subgengival e/ou insucesso na 
instalação do grampo, convém realizar afastamento sul-
cular. Tentativas frustradas, porém, causam lesões irre-
versíveis ao tecido gengival, o que gera defeitos e recessão. 
Em virtude da dificuldade de se obter um bom isola-
mento absoluto nessas lesões, uma boa alternativa é o iso-
lamento relativo, realizado com dois fios retratores e/ou 
tiras de poliéster4 (Figura 11.20). Embora o controle de 
umidade seja parcial, esse isolamento é indicado por agre-
dir menos a gengiva e possibilitar que vários dentes sejam 
restaurados simultaneamente. Existem no mercado afasta-
dores gengivais que auxiliam nesse tipo de restauração, 
evitando excessos no sulco e melhorando tanto o acesso 
quanto a visualização1 (Figuras 11.21 a 11.24).
 o Figura 11.18
A Quadrante inferior esquerdo apresentando cervicais restauradas com cimento de ionômero de vidro. Ob-
servam-se a opacidade e menor resultado estético. B Primeiro pré-molar superior apresentando cervical 
restaurada com resina composta fotoativada. Observam-se o brilho e a estética. 
 o Figura 11.19
Isolamento absoluto com grampo 212 modificado estabilizado com 
godiva para acesso à região cervical.
BA
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 Tratamento de Lesões Cervicais o 205
 o Figura 11.20 – Caso clínico
A Foto inicial. Primeiro pré-molar inferior com lesão tipo abfração que necessita de restauração por motivos estéticos. B Caso inicial, vista pro-
ximal. C Inserção de fio retrator no sulco gengival para controle da umidade, como auxiliar no isolamento relativo. D Fio retrator já posicionado 
no sulco gengival – vista por vestibular. E Fio retrator já posicionado no sulco gengival – vista por proximal. F Condicionamento com ácido fos-
fórico a 37% por 20 segundos em esmalte e dentina. G Aplicação de sistema adesivo monocomponente. H Inserção do primeiro incremento de 
resina composta na parede oclusal. I Inserção do último incremento de resina composta, preenchendo toda a cavidade. J Remoção do fio retra-
tor. K Acabamento inicial na região sulcular com lâmina de bisturi, para remoção de excessos cervicais. L Restauração após o acabamento inicial 
– vista por vestibular. M Restauração após o acabamento inicial – vista por proximal. Observa-se o respeito ao contorno anatômico. N Restau-
ração concluída após polimento final.
B
E
H
K
N
C
F
I
L
A
D
G
J
M
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206 o Dentística: Uma Abordagem Multidisciplinar
 o Figura 11.22
A Recontorno estético com resina composta fotoativada (vista intraoral). B Tratamento concluído.
 o Figura 11.21
A Paciente apresentando lesões tipo abfração e atrição. B Sorriso inicial.
BA
 o Figura 11.23
Arcada superior apresentando erosão extrínseca (caso inicial).
 o Figura 11.24
Selamento das cavidades oclusais com resina composta fotoativada 
(caso concluído).
BA
Hipersensibilidade
A hipersensibilidade dentinária é caracterizada por 
dor de curta duração, aguda e súbita, em resposta a estí-
mulos térmicos (principalmente frio), evaporativos (jato 
de ar da seringa tríplice), tácteis (escovação dentária e son-
dagem com instrumento metálico), osmóticos (doces) ou 
químicos (alimentos ácidos). A principal explicação para a 
hipersensibilidade ainda se baseia na teoria hidrodinâmi-
ca, proposta por Brännström, que afirmou que qualquer 
estímulo que atinge a superfície dentinária promove mo-
vimentação do fluido presente nos túbulos dentinários em 
direção à polpa ou em sentido contrário, deformando me-
canicamente as terminações odontoblásticas presentes no 
interior do túbulo ou na interface polpa/dentina, que é 
transmitida como uma sensação dolorosa.18,19 
Normalmente, a hipersensibilidade dentinária ocorre 
após a perda de esmalte ou cemento, o que expõe a dentina 
e atinge dentes com lesões não cariosas após tratamentos 
periodontais, traumas oclusais, hábitos deletérios ou pa-
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 Tratamento de Lesões Cervicais o 207
rafunção. A dor da hipersensibilidade dentinária pode ser 
confundida com aquela decorrente de cáries, trincas, fra-
turas, infiltrações, dor pulpar de origem inflamatória ou 
falha técnica durante a execução de restaurações. O diag-
nóstico diferencial é realizado com o auxílio de uma son-
da exploradora, que é aplicada em posição mésio-distal na 
região de cada dente em que o paciente relata dor. O dente 
com hipersensibilidade é extremamente sensível ao jatode 
ar/água ou à sondagem com instrumento metálico. 
Por ser um problema de origem normalmente multi-
fatorial, a hipersensibilidade é de difícil tratamento. Infe-
lizmente, não existe um protocolo que seja totalmente 
confiável quando se tenta tratar a hipersensibilidade. Sa-
be-se que, de fato, o tratamento da hipersensibilidade 
consiste na remoção do fator etiológico e na diminuição 
da permeabilidade dentinária por meio do vedamento 
mecânico dos túbulos dentinários e/ou alteração da 
transmissão do impulso nervoso pelas fibras nervosas.
Baseado nisso, antigamente muitos cirurgiões-dentis-
tas tratavam a sensibilidade dentinária apenas com apli-
cação tópica de flúor, hidróxido de cálcio ou com a res-
tauração da lesão. Hoje, sabe-se que o flúor, apesar de 
reduzir a permeabilidade dentinária e tornar a dentina 
mais resistente e menos solúvel, é pouco eficaz no contro-
le da dor e que a restauração da lesão é a última alternati-
va de tratamento. Dessa maneira, atualmente o cirur-
gião-dentista pode tratar a sensibilidade dentária no 
consultório e/ou de forma caseira. Podem ser prescritos e 
aplicados tratamentos a laser, pastas dentais, soluções 
para bochecho, géis e vernizes, todos à base de flúor asso-
ciado a substâncias específicas para o controle da dor, 
como é o caso do cloreto de estrôncio e dos produtos à 
base de sais de potássio. Além disso , novos produtos têm 
sido lançados mais recentemente, como os derivados de 
caseína, Novamin®, arginina e nano-hidroxiapatitas, 
também com o objetivo de auxiliarem no tratamento da 
hipersensibilidade. Hoje, também existem técnicas de ci-
rurgia periodontal de recobrimento radicular que podem 
ser utilizadas com esse fim. 
laser
Desde o advento dos primeiros sistemas de laser para a 
Odontologia, muitos foram os aprimoramentos nos equipa-
mentos, e cada vez mais se entende o mecanismo de intera-
ção entre os lasers e os tecidos. Da mesma maneira, a cons-
tante evolução dessa tecnologia permite que hoje se 
conheçam melhores protocolos de utilização desse tipo de 
energia em várias patologias que acometem a cavidade bucal. 
Atualmente, a hipersensibilidade dentinária pode ser 
tratada com lasers de alta potência, também conhecidos 
como lasers cirúrgicos, ou de baixa potência, também co-
nhecidos como lasers terapêuticos. 
No tratamento com lasers de alta potência, podem ser 
utilizados lasers com diferentes meios ativos, como o la-
ser Nd:YAG (que apresenta um meio ativo sólido, o cristal 
de ítrio-alumínio-granada, dopado com o elemento quí-
mico neodímio) ou o laser de CO2 (que apresenta um 
meio ativo gasoso, tendo como facilitadores os gases de 
He, N2 e CO2). O tratamento com laser de alta intensidade 
poderá ser efetivo, desde que os fatores etiopatogênicos 
da dor não estejam mais presentes. O laser Nd:YAG pode 
ser efetivo para o tratamento da hipersensibilidade, com 
resultados muitas vezes imediatos. Por ser um laser pul-
sado de alta intensidade, promove a fusão da dentina e, 
consequentemente, a obliteração dos túbulos dentinários, 
diminuindo, portanto, a movimentação de fluidos no in-
terior destes.20 Todavia, a principal desvantagem desse 
método ainda é o alto custo dos aparelhos.
A opção mais econômica para tratamento de hiper-
sensibilidade dentinária com laser recai sobre os de baixa 
potência, como o laser gasoso de HeNe (hélio e neônio), 
ou o laser de diodo de GaAlAs (arseneto de gálio e alumí-
nio). Esses aparelhos de laser que existem no mercado 
baseiam sua ação em alguns dos efeitos biológicos já co-
nhecidos quando da utilização desse tipo de energia, 
como ativação na produção de ATPs, auxílio na multipli-
cação de fibras de colágeno, formação de enzimas especí-
ficas, auxílio ao sistema linfático, benefícios no desenvol-
vimento de novos vasos sanguíneos e aumento na 
produção de proteínas e DNA. De fato, os lasers terapêu-
ticos são mais utilizados para biomodulação da resposta 
celular em face de uma situação de inflamação instalada, 
que atua no local da irradiação com efeitos anti-inflama-
tórios, bioestimulante e analgésico local.21
O laser de baixa intensidade, ou “soft laser”,22 atua 
com baixo comprimento de onda e gera um aumento de 
temperatura inferior a 0,1°C. Esses comprimentos de 
onda estimulam a circulação e a atividade celular, atuam 
na bioestimulação e acarretam um aumento do limiar de 
excitabilidade das terminações nervosas livres, o que re-
sulta em ação analgésica imediata e tardia. A ação ime-
diata se deve à diminuição da intensidade da dor logo 
após a aplicação do laser em virtude da manutenção do 
potencial de repouso da membrana do receptor nocicep-
tivo pulpar, com supressão do potencial evocado das fi-
bras nociceptivas pulpares.23 Já o efeito tardio é conse-
quência de um aumento da atividade metabólica do 
odontoblasto, que, em grande atividade, produz dentina 
reparativa ou terciária, promovendo o selamento dos ca-
nalículos e a eliminação do trânsito do fluido no túbulo 
dentinário, e interrompendo a comunicação do meio in-
terno pulpar com o meio bucal.21
Embora os aparelhos mais modernos de laser tera-
pêutico já venham pré-programados com parâmetros es-
pecíficos para o tratamento de hipersensibilidade denti-
nária, um protocolo ainda válido para esse tipo de 
tratamento, mesmo nos aparelhos mais antigos, envolve a 
aplicação pontual do laser na região cervical, utilizando-
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208 o Dentística: Uma Abordagem Multidisciplinar
-se 4 J/cm2 (quatro pontos de 1 J/cm2, sendo um na mesial 
da lesão, um no ponto central da lesão, um na porção dis-
tal da lesão e mais uma aplicação lingual, varrendo-se o 
dente de mesial para distal). Devem ser realizadas 1 a 2 
aplicações semanais com intervalo de 48 a 72 horas entre 
as sessões, obtendo-se remissão dos sintomas normal-
mente na terceira sessão (Figuras 11.25 e 11.26).21 
Flúor
O flúor atua na hipersensibilidade dental, diminuin-
do a permeabilidade dentinária e tornando a dentina 
mais resistente e insolúvel. Sua aplicação pode ser feita 
tanto pelo paciente quanto pelo profissional.11
Para a aplicação de flúor caseiro no tratamento da hi-
persensibilidade, indicam-se pastas dentais, bochechos 
com soluções fluoretadas a 0,05% de fluoreto de sódio 
duas vezes ao dia e aplicação em moldeira de gel neutro a 
2% de fluoreto de sódio por 15 minutos diários.11 Para a 
aplicação profissional semanal, são indicados o gel a 
1,23% de flúor fosfato acidulado, o gel a 2% de fluoreto de 
sódio e/ou o verniz com 6% de fluoreto de sódio. Nesse 
último caso, previamente à aplicação do verniz, são ne-
cessários profilaxia com pedra-pomes, lavagem e seca-
gem, isolamento relativo do campo operatório com role-
tes de algodão e aplicação do verniz com pincel.
cloreto de estrôncio e sais de potássio
O cloreto de estrôncio promove oclusão dos túbulos 
dentinários por meio da precipitação de suas partículas 
sobre a superfície dentinária exposta, o que provoca uma 
diminuição da exposição das terminações nervosas dos 
odontoblastos, gerando alívio na sintomatologia doloro-
sa.1,3 Alguns exemplos comerciais são Desensibilize, da 
FGM, cloreto de estrôncio 10% e nitrato de prata 5% (para 
aplicação em consultório, sob isolamento relativo, por 10 
minutos) e creme dental Sensodyne® Original.
As substâncias à base de sais de potássio (nitrato de po-
tássio, citrato de potássio, oxalato de potássio e cloreto de 
potássio) promovem despolarização das terminações ner-
vosas dos odontoblastos, o que impede a propagação do 
impulso nervoso e faz cessar a dor.1,3 Alguns exemplos co-
merciais são Desensibilize KF 0,2% (gel de nitrato de po-
tássio 5% e fluoreto de sódio 0,2% para aplicação em mol-
deira por 15 minutos) e Desensibilize KF 2% (gel de nitrato 
de potássio 5% e fluoreto de sódio 2% para aplicação no 
consultório, sob isolamentorelativo, por 10 minutos), am-
bos da FGM, Oxa-Gel, da empresa homônima (oxalato de 
potássio), creme dental Sensodyne® Proteção Total Bran-
queadora, bicarbonato de sódio, fresh mint e vitaminas.
A aplicação do fosfato de potássio associado ao clore-
to de cálcio e fluoreto de sódio (Sensi Kill™ − DFL) pro-
move um esfregaço dentinário que oblitera os canalículos 
dentinários.
O cloreto de estrôncio e as substâncias à base de sais 
de potássio estão presentes em cremes dentais específicos 
para dentes sensíveis ou na forma de gel associado ao 
flúor, para aplicação no consultório. Deve-se aplicar o gel 
por dez minutos, sob isolamento relativo, e após friccio-
nar o produto aplicado na cavidade.
Dessensibilizantes dentinários resinosos
A técnica do condicionamento ácido total promove 
selamento dos canalículos dentinários. Por essa razão, 
também pode ser empregada para redução da hipersensi-
bilidade dentinária, já que as resinas vedam mecanica-
mente os túbulos dentinários. Porém, o condicionamento 
prévio com ácido fosfórico aumenta a permeabilidade, e 
qualquer falha técnica durante a sua aplicação (por exem-
plo, lavagem e secagem incorretas) ou durante a aplicação 
do adesivo (por exemplo, falha na impregnação das fibras 
colágenas) pode resultar em maior sensibilidade. Além 
disso, os adesivos convencionais são facilmente removi-
dos.24 Uma alternativa aos sistemas adesivos convencio-
nais, que necessitam do condicionamento ácido total, são 
os novos adesivos dentinários autocondicionantes, que 
promovem o mesmo efeito de selamento dos canalículos 
sem a necessidade do condicionamento prévio e livre de 
todos os problemas que surgem após sua utilização.
 o Figura 11.25
Laser terapêutico de AsGaAl posicionado para tratamento de hipersen-
sibilidade.
 o Figura 11.26
Aplicação do laser terapêutico vermelho. A proteção ocular do profissional 
e do paciente é extremamente importante para se evitar danos oculares.
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 Tratamento de Lesões Cervicais o 209
Deve-se lembrar de que alguns produtos à base de re-
sinas, utilizados para diminuição da hipersensibilidade, 
diminuem a permeabilidade e a hipersensibilidade sem o 
risco de sensibilidade residual e com retenção maior. São 
substâncias à base de hidroxietil metacrilato (HEMA), 
glutaraldeído e cálcio. O glutaraldeído é associado ao 
HEMA e coagula as proteínas do fluido dentinário pre-
sentes nos túbulos dentinários (Gluma® Desensitizer – 
Hareus Kulzer).24
Além disso, deve-se lembrar também de que a litera-
tura científica enfatiza que a realização de qualquer tipo 
de tratamento sem a remoção da causa pode ser ineficien-
te a longo prazo.25 A remoção do fator etiológico é funda-
mental e primordial para o tratamento das lesões cervi-
cais, uma vez que a restauração da cavidade por si só não 
gera saúde (Figura 11.27).1-3,13-15 
Derivados de caseína
Agentes baseados em produtos do leite têm sido pes-
quisados há vários anos.5,10,26,27 Antigamente, acreditava-se 
que a propriedade redutora de desmineralização do leite 
era causada pela presença de Ca e P; entretanto, em estudos 
conduzidos pela Universidade de Melbourne, na Austrália, 
foi demonstrado que o efeito protetor do leite ocorre por 
causa da caseína, proteína encontrada nesse líquido. Suge-
re-se que parte desse efeito está relacionada à redução da 
adesão bacteriana provocada pela caseína, indicando que 
ela altera a estrutura química da superfície dentária.9,26,28
São encontrados atualmente no mercado alguns pro-
dutos desenvolvidos a partir da caseína, que são cremes 
dentais e chicletes à base de nanocomplexo de fosfopeptí-
deo de caseína (CPP) com fosfato de cálcio amorfo (ACP). 
O fosfopeptídeo de caseína consegue estabilizar o ACP e 
tem demonstrado propriedades preventivas no processo 
de erosão, inibindo a desmineralização do esmalte e da 
dentina. O complexo CPP-ACP (Recaldent™) atua como 
um veículo para o cálcio e o fosfato, transportando-os 
para a superfície do dente e localizando-os na placa e na 
película salivar, o que promoverá um estado de supersa-
turação próximo ao do tecido duro do dente, retardando 
a desmineralização de forma significativa e promovendo 
a regressão de lesões iniciais.9,26-28
O CPP-ACP está disponível nas gomas de mascar Tri-
dent Xtra Care™ (que no Brasil foi lançado como Trident 
Total®) e no creme para aplicação tópica GC Touth Mous-
se MI Paste Plus, que apresenta 0,2% de flúor no seu con-
teúdo. O MI significa “minimamente invasivo”.5,9 Esses 
produtos, apesar do nome “paste”, não são dentifrícios e 
devem ser utilizados em moldeiras ou aplicados com a 
ponta dos dedos. A caseína e o flúor têm efeito na redução 
da dissolução da hidroxiapatita sob condições de cárie e 
apresentam melhores resultados na redução da erosão 
quando têm seu uso combinado.27
Novamin®
NovaMin® é um material cerâmico bioativo que visa a 
fornecer íons cálcio e fosfato quando exposto ao meio 
aquoso. Trata-se de um mineral sintético à base de sílica, 
sódio, Ca e fosfato que não contém flúor. Seu ingrediente 
ativo é o fosfossilicato sódico de cálcio, que, após reação, 
forma hidroxiapatita carbonatada (HCA).29
Alguns produtos formulados com o ingrediente ativo 
NovaMin® têm sido utilizados para prevenção de sensibi-
lidade, redução no sangramento e gengivite, clareamento 
e erosão, como também em estudos de remineralização, 
porém seu maior efeito tem sido na sensibilidade denti-
nária. Produtos comerciais disponíveis incluem o creme 
dental Oravive® Revitalizing Paste e pastas para uso em 
consultório, como SootheRx™, Denshield® e NuCare®. 
Existem, ainda, produtos lançados com indicação para 
diminuir sensibilidade e promover remineralização, 
como dessensibilizante Vitalmin®, verniz fluoretado Du-
rashield® e dentifrício Renew® (com 5.000 ppm de flúor).29
Em termos de remineralização com produtos Nova-
Min®, sabe-se que o primeiro mineral a ser dissolvido no 
esmalte é exatamente o que contém apatita carbonatada. 
O rápido alívio nas superfícies sensíveis pode derivar da 
precipitação rápida desse mineral que oclui os túbulos 
dentinários, porém este não é indicado para longa dura-
ção, já que é mais solúvel.29
Nano-hidroxiapatita
O nano-hidroxiapatita é um agente dessensibilizante 
e remineralizante baseado na nanotecnologia. Sua fór-
mula consta de nanopartículas de hidroxiapatita, além de 
9.000 mil ppm de fluoreto de sódio e 5% de nitrato de 
potássio. Atua na obliteração dos túbulos dentinários, 
sendo indicado para o tratamento de hipersensibilidade 
dentinária, para prevenção de lesão cariosa e, também, 
para auxiliar na prevenção de erosões e remineralização 
de lesões de manchas brancas. É encontrada comercial-
mente no produto Desensibilize Nano P® (FGM).
 o Figura 11.27
Paciente apresentando lesões tipo abfração associadas à mordida 
cruzada. A restauração das cervicais sem remoção do fator etiológico 
não consegue impedir o avanço da lesão. 
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210 o Dentística: Uma Abordagem Multidisciplinar
Ele funciona como fonte de cálcio, fosfato e fluoreto 
liberados na superfície desmineralizada do dente, preve-
nindo a erosão dental pelo alto grau de saturação desses 
íons no esmalte.6
Trabalhos realizados recentemente demonstraram 
que a erosão dental foi efetivamente evitada quando o 
nano-hidroxiapatita foi empregada como aditivo em uma 
bebida esportiva; exibiram também que a pasta Desensi-
bilize Nano-P® mostrou-se eficaz no processo de remine-
ralização dental desde a 1ª semana de tratamento.6,8
arginina
A tecnologia Pro-Argin™, cujo componente principal 
é a arginina, um aminoácido com pH fisiológico entre 6,5 
e 7,5, e um composto de cálcio insolúvel, o carbonato de 
cálcio, tem sido utilizada para tapar e selar os túbulos 
dentinários expostos, promovendoalívio para hipersen-
sibilidade dentinária.30
A Colgate® adquiriu os direitos dessa tecnologia e, em 
2009, lançou a Colgate® Sensitive Pró-Alívio™, uma pasta 
dessensibilizante para uso profissional. O produto deve ser 
aplicado nos dentes com sensibilidade usando taça de bor-
racha em baixa rotação e com pressão moderada sobre os 
túbulos expostos. A pasta pode ser aplicada com cotonetes 
ou microbrush em áreas de difícil acesso, e deve-se evitar 
lavar imediatamente após a aplicação, para aumentar o re-
sultado clínico. Alguns trabalhos mostram que o alívio é 
imediato e dura por 28 dias após uma única aplicação.30
A Colgate desenvolveu a tecnologia Pro-Argin™ com-
binando os componentes básicos com o flúor na tentativa 
de promover uma melhora significativa no tratamento 
diário da hipersensibilidade dentinária. Um novo denti-
frício foi lançado contendo 8,0% arginina, carbonato de 
cálcio e 1.450 ppm de flúor (MFP). Ele produziu redução 
imediata quando aplicado diretamente ao dente sensível 
e massageado por 1 minuto, sendo o alívio mantido com 
2 escovações diárias.31
Procedimentos cirúrgicos
Os procedimentos periodontais estéticos enquadra-
dos nas técnicas de cirurgia plástica periodontal são ma-
nobras cirúrgicas realizadas na gengiva, na mucosa ou no 
osso alveolar, para prevenir ou corrigir defeitos anatômi-
cos, adquiridos, traumáticos ou induzidos por biofilme. 
São indicados também para o recobrimento de recessões 
do tecido marginal.32
 o Figura 11.28
A Caso inicial; observe a retração do canino superior. B Cirurgia de recobrimento radicular no elemento 13, utilizando-se a 
técnica de enxerto de tecido conjuntivo, retirado do palato do paciente. C Suturas realizadas e caso concluído. 
Fonte: Caso gentilmente cedido pelo Prof. Dr. Sergio Kahn, Universidade Veiga de Almeida, RJ.
B CA
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 Tratamento de Lesões Cervicais o 211
Embora várias técnicas já tenham sido descritas para se 
obter o recobrimento de áreas expostas, como o retalho po-
sicionado lateralmente, hoje, o recobrimento radicular por 
meio das técnicas de enxerto conjuntivo subepitelial é o que 
apresenta maior previsibilidade em casos classificados como 
classe I e II de Miller.33 Os princípios dessa técnica consistem 
em remover o enxerto da porção conjuntiva do palato, posi-
cioná-lo sobre a raiz descoberta e recobri-lo com um retalho. 
Prepara-se o leito receptor com a técnica de retalho dividido 
e remove-se da região palatina uma porção interna com 
maior quantidade de tecido conjuntivo, suturando-o na área 
receptora, sendo então recoberto pelo retalho dividido da 
área para uma melhor nutrição inicial (Figura 11.28).
 o cONSIDERaÇõES FINaIS
As lesões cervicais não cariosas são classificadas em 
erosão, abrasão, atrição e abfração, porém geralmente se 
apresentam de forma multifatorial, acometendo grande 
parte da dentição da população adulta, e costumam ser 
uma adaptação do organismo. Apenas quando geram da-
nos ao paciente são consideradas patológicas e necessi-
tam de tratamento. Entretanto, a realização de qualquer 
tipo de tratamento sem a remoção da causa pode ser ine-
ficiente a longo prazo, sendo a remoção do fator etiológi-
co fundamental e primordial para o tratamento das le-
sões cervicais. Portanto, o profissional deve conhecer os 
fatores etiológicos das lesões cervicais não cariosas para 
poder previni-las e, uma vez instaladas, evitar sua pro-
gressão e tratá-las corrretamente. Sempre que possível, 
devemos optar pelo tratamento com terapias não invasi-
vas. Em caso de sensibilidade, indica-se a terapia com os 
diversos agentes dessensibilizantes presentes no mercado 
para uso tópico e/ou profissional, além do laser. A restau-
ração da cavidade por si só não gera saúde e deve ser vista 
como mais uma alternativa terapêutica a ser utilizada 
apenas em casos específicos.
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