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CAPÍTULO 4 AUTO-EFICÁCIA: QUEM NÃO TEM COMPETÊNCIA [PARA ACREDITAR EM SI MESMO] NÃO SE ESTABELECE. Bandura (1986), ao investigar o surgimento e a relevância dos conceitos auto- refenciados, propõe a existência de um auto-sistema que possibilita o exercício do controle dos pensamentos, emoções e ações. Esse auto-sistema abriga estruturas cognitivas e afetivas, incluindo as capacidades de simbolizar, aprender com os outros, planejar estratégias alternativas, regular o próprio comportamento e dedicar-se à auto-reflexão. Também desempenha um papel importante ao fornecer mecanismos de referência e um conjunto de subfunções para perceber, regular e avaliar o comportamento, resultantes da interação do indivíduo com as influências do ambiente externo. Assim, o auto-sistema provê uma função auto-regulatória que fornece aos indivíduos a capacidade de alterar o ambiente e influenciar suas próprias ações. Bandura desenhou o retrato do comportamento e da motivação dos seres humanos, mostrando que as crenças que as pessoas mantêm acerca de si mesmas são elementos-chave para o exercício do controle e do agenciamento pessoal. Segundo a Teoria Cognitiva Social de Bandura (1986), o pensamento auto-referencial é responsável pela mediação entre pensamento e ação, e através da auto-reflexão, os indivíduos avaliam suas próprias experiências e processos de pensamento. O conhecimento, as habilidades e as conquistas anteriores são normalmente maus preditores das conquistas subsequentes, porque as crenças que os indivíduos têm sobre suas capacidades e sobre os resultados de seus empenhos influenciam enormemente o modo com que se comportam. Essa perspectiva é consistente com o que os teóricos têm argumentado, que a natureza potente das crenças atua como um filtro através do qual novos fenômenos são interpretados e comportamentos subsequentes são mediados. A maneira com que os indivíduos interpretam suas conquistas e os resultados de seu desempenho informa e altera o ambiente que os cerca, assim como suas crenças pessoais, que por sua vez informam e alteram seus desempenhos subsequentes. Este é o fundamento da concepção de Bandura de determinismo recíproco (1978b, 1986). Portanto, os fatores pessoais sob a forma de cognição, afeto e eventos biológicos; o comportamento e as influências ambientais, criam interações que resultam em uma reciprocidade triádica. Como o agenciamento pessoal é socialmente enraizado, operando segundo as influências socioculturais, os indivíduos são percebidos como produtos e produtores de seus próprios ambientes e de seus sistemas sociais. Bandura refina a idéia de autoconceito e define um constructo derivado deste primeiro, a auto-eficácia. Através da auto-reflexão, a mais sofisticada capacidade humana, o pensamento auto-referenciado é capaz de avaliar e alterar o próprio pensamento e comportamento. Essas auto-avaliações incluem as percepções de auto-eficácia, ou seja, “as crenças que alguém tem sobre sua própria capacidade para organizar e executar os cursos de ação requeridos na administração de situações prospectivas” (Bandura, 1986). Essa crença de competência pessoal afeta o comportamento de diferentes maneiras. Ela influencia as escolhas individuais alterando o curso de ação perseguido, pois as pessoas tendem a só se comprometerem com tarefas em que se sentem competentes e confiantes, evitando aquelas que não geram tal sensação. Embora os pressupostos defendidos pela Teoria Cognitiva Social sejam bastante pertinentes aos propósitos desta investigação, devido ao fato desta teoria ser relativamente recente e ainda pouco empregada pelos pesquisadores nacionais, mostra-se relevante esclarecer alguns de seus conceitos fundamentais para a melhor compreensão da natureza e dos processos referentes à auto-eficácia, uma das componentes mais importantes desta teoria conforme veremos a seguir. AS PERSPECTIVAS DA TEORIA COGNITIVA SOCIAL Ao formular os pressupostos da Teoria Cognitiva Social, Bandura enfatiza a necessidade que as pessoas manifestam de se empenharam para obter o controle sobre os eventos que afetam suas vidas. Esse empenho tem como objetivo garantir a concretização de projetos e a evitação de situações indesejadas. O acúmulo de conhecimentos que testemunhamos ao longo da história da humanidade permitiu a ampliação da capacidade humana de prever acontecimentos, o que possibilitou o exercício de um certo controle sobre eles. A capacidade relativa de moldar o próprio destino promoveu alterações marcantes na autoconcepção humana e, assim, os homens cada vez mais se dedicam a encontrar formas de exercer controle sobre quase todas as circunstâncias que podem afetá-los de modo a obterem inúmeros benefícios pessoais e sociais. A capacidade de prever e antecipar consequências boas e/ou ruins encerra prontidão adaptativa, visto que a incapacidade de exercer influência sobre os fatos que afetam adversamente a própria vida gera apreensão, apatia ou desespero. A preditividade nos aproxima dos desfechos desejados e nos protege das circunstâncias indesejáveis, o que se constitui como um poderoso estímulo para o desenvolvimento e exercício do controle pessoal. Quanto mais as pessoas conseguem exercer sua influência nos eventos que compõem sua vida, mais aptas se encontram para modelá-los a sua maneira. Mas o auto-agenciamento se desenvolve em um ambiente social, o funcionamento humano está permeado por condições sociais. Por sua vez, os suportes ambientais instituídos e aceitos coletivamente são criados tanto individualmente como coletivamente. É através da ação coletiva que as pessoas podem melhorar suas vidas ao modificarem o caráter e as práticas dos seus sistemas sociais. Contudo, a imensa capacidade humana de transformar o ambiente pode apresentar efeitos penetrantes não só na vida cotidiana como nas futuras gerações. E, além disso, o exercício do controle pode se degenerar em fortes conflitos pessoais e grupais, uma vez que a capacidade de controle humano pode ser exercida tanto o bem como para o mal. Outro aspecto de suma importância defendido pela Teoria Cognitiva Social é que o nível de motivação das pessoas, seus estados emocionais e suas ações são mais fundamentados no que elas acreditam do que no que as coisas realmente são. Essa constatação amplia a necessidade de investigarmos a extensão da ação das crenças pessoais. Embora a maioria das teorias afirme que a necessidade de controle é um impulso inato, Bandura acredita que as pessoas contribuem ativamente para o seu próprio funcionamento psicossocial através de mecanismos de auto-agenciamento. Dentre os mecanismos de agenciamento, nenhum deles é mais central ou imprescindível do que a crença de eficácia pessoal. A menos que as pessoas acreditem que podem produzir os efeitos que desejam com suas ações, elas terão pouco incentivo para agir. A crença na própria eficácia é a maior base para a ação. As pessoas orientam suas vidas segundo as crenças que mantêm a respeito de sua própria eficácia. Conforme já foi exposto, a auto-eficácia percebida se refere às crenças que alguém possui sobre suas capacidades de organizar e executar cursos de ação necessários à produção de um dado objetivo. Os acontecimentos sobre os quais a influência pessoal é exercida variam enormemente. A influência pode regular a própria motivação pessoal, os processos de pensamento, os estados afetivos e os comportamentos, também podendo acarretar a modificação do ambiente, dependendo do que se deseja empreender. É através do auto-agenciamento e da auto-reflexão que se estruturam as crenças pessoais que influenciam e determinam a escolha dos objetivos individuais, o grau de empenho dedicadoa cada empreendimento, a persistência diante dos obstáculos e fracassos, a plasticidade às adversidades, o desenvolvimento de pensamentos autodesestimulantes ou auto-reconfortantes, e a intensidade do estresse e depressão experimentada diante da necessidade de atender às exigências e demandas ambientais e sociais, assim como o nível de realizações pessoais. ➔ NATUREZA E CARACTERÍSTICAS DO AGENCIAMENTO HUMANO Segundo Bandura, embora as pessoas possam exercer influência sobre o que fazem, a maioria dos comportamentos humanos é determinada por muitos fatores interatuantes. Logo, as pessoas mais contribuem do que determinam isoladamente o que lhes acontece. Ao propor a investigação do auto-agenciamento, Bandura se refere aos atos executados intencionalmente. Contudo como alertou Davidson (1971) as ações intencionais que servem a um certo propósito podem provocar diversos acontecimentos, inclusive acontecimentos não intencionados e mesmo indesejados. Mas no comportamento auto-agenciado, a auto-reflexão da própria eficácia torna-se a principal característica do processo, sendo os efeitos as consequências que permitirão a continuidade do próprio processo de auto-reflexão, promovendo o reforço ou a reelaboração das crenças pessoais da eficácia percebida. O poder de originar ações para um propósito determinado é o aspecto principal do agenciamento pessoal; as crenças de eficácia pessoal são o fator principal do agenciamento humano. A Teoria Cognitiva Social acredita que o senso de eficácia pessoal é representado através das crenças proposicionais. As crenças, por sua vez, são descritas pela linguagem da mente e, portanto, os eventos mentais que as processam são atividade cerebral, fazendo com que as crenças não possam ser encaradas como entidades imateriais que existem à parte do sistema neurológico. Os processos do pensamento são atividades cerebrais emergentes que não podem ser reduzidos ontologicamente. As propriedades emergentes dos produtos do pensamento diferem das dos elementos que o criaram, não são simplesmente o resultado da soma dos estímulos ou uma complexidade ampliada das propriedades elementares. Para esclarecer podemos empregar uma analogia, a água, como substância, apresenta propriedades específicas que em muito diferem das propriedades atribuídas aos elementos - hidrogênio e oxigênio – que a compõe. Embora os processos do pensamento também exerçam influência determinativa, operando interativamente em diferentes pontos e níveis para a produção de experiências coerentes a partir de uma multiplicidade de informações processadas, as leis que expressam as relações funcionais na teoria psicológica não podem ser reduzidas às leis da teoria neurofisiológica. Deve-se distinguir entre o funcionamento dos sistemas cerebrais e os meios pessoais e sociais através dos quais os estímulos processados são orquestrados para produzir cursos de ação individuais que servem a diferentes propósitos pessoais e coletivos. Infelizmente o entendimento do funcionamento cerebral não fornece meios que fundamentem regras ou leis para a produção de pais, professores ou políticos mais eficazes. Embora os princípios psicológicos estejam vinculados às capacidades neurofisiológicas, eles precisam ser estudados em seu próprio campo. O maior desafio para os neurofisiólogos é que os processos mentais são gerativos, criativos, proativos e não apenas reativos aos estímulos. As pessoas realizam produções cognitivas através do exercício intencional do agenciamento pessoal. A intencionalidade e o agenciamento levantam a questão de como as pessoas acionam com maior ou menor propriedade os processos cerebrais que caracterizam o exercício do agenciamento e levam à realização suas intenções particulares. Essa questão extrapola as teorias que justificam o processamento mental unicamente através de inputs sensoriais e de outputs motores para a produção do pensamento que estabelece os cursos de ação futuros. Pois, quando o auto-agenciamento está em ação, ocorre a avaliação da eficácia pessoal sob diferentes circunstâncias, organizando e orientando a execução das opções escolhidas. Além do mais permanece a questão, como as pessoas produzem a autopercepção, a auto-reflexão e as atividades de auto-reconhecimento? Os sistemas cerebral, motor e sensorial são ferramentas empregadas para a realização de tarefas e objetivos que dão significado e direção à vida (Harré & Gillet, 1994). Ao regularem sua própria motivação e ao determinarem as atividades que almejam, as pessoas produzem as experiências que servirão de substrato neurobiológico para as suas habilidades simbólicas, psicomotoras, etc. A partir deste pressuposto, a Teoria Cognitiva Social não reconhece a dualidade do self, visto que a dupla natureza deste constructo emerge no caso da auto-influência e do auto-agenciamento. Em suas transações cotidianas, as pessoas analisam as situações com que se confrontam, consideram os diferentes cursos de ação alternativos, julgam suas capacidades de executá-los com sucesso, e estimam os resultados das ações que estão propensos a realizar. Portanto, é a mesma pessoa que atua sobre o ambiente fundamentada em suas auto-reflexões acerca de si mesma e de suas competências, conhecimentos e estratégias de ação. A mudança de perspectiva não transforma a pessoa de agente em objeto. Continua-se sendo um agente mesmo quando se está refletindo sobre as próprias experiências e exercendo auto-influência no curso da ação. Os indivíduos são simultaneamente agentes e objetos. ➔ O AGENCIAMENTO HUMANO E A CAUSAÇÃO RECÍPROCA TRIÁDICA Neste contexto causação significa a dependência funcional entre eventos. Na Teoria Cognitiva Social, o agenciamento humano opera dentro de uma estrutura causal interdependente que envolve a causação recíproca triádica. Nesta visão transacional do self e da sociedade, os fatores internos pessoais sob a forma de eventos cognitivos, afetivos e biológicos operam como determinantes interatuantes que influenciam uns aos outros bidirecionalmente. Sua influência relativa varia segundo as diferentes atividades e sob diferentes circunstâncias. As mudanças e a adaptação humana estão enraizadas nos sistemas sociais, fazendo com que o auto-agenciamento opere dentro de uma ampla rede de influências sócio-estruturais que são criadas pela própria atividade humana de modo a organizar, orientar e regular as relações humanas. As estruturas sociais tanto impõem restrições como proporcionam os meios para o desenvolvimento pessoal e para o funcionamento cotidiano. As regras sócio-estruturais estão sujeitas a diferentes interpretações, podendo ser reforçadas, adotadas ou mesmo rejeitadas por oposição ativa. Mas não podemos pensar em dicotomizar a relação indivíduo-sociedade, visto que não existe uma estrutura social desincorporada e nem tampouco um agenciamento pessoal descontextualizado. A Teoria Cognitiva Social não endossa o dualismo entre indivíduos e sociedade e nem entre a estrutura social e o agenciamento pessoal: o comportamento humano requer uma perspectiva causal integrada, no qual as influências sociais operam através dos autoprocessos que produzem as ações do indivíduo sobre o contexto social em que está inserido. Embora o self seja constituído socialmente, ao exercer sua auto-influência, ele permite que os indivíduos se tornem contribuintes parciais de sua própria história, do que se tornam e do que fazem. O agenciamento humano opera de forma a gerar e criar proativamente, mais do que apenas reativamente. Na causação recíproca triádica, os determinantes socioestruturais e pessoais são tratados como cofatores interatuantes dentro de uma estrutura causal unificadacomo pode ser observado na Figura 1. Figura 1 . As relações entre as três grandes classes de determinantes na causação recíproca triádica. C representa o comportamento; P os fatores pessoais internos sob a forma de eventos cognitivos, afetivos e biológicos; e A representa o ambiente externo P C A ➔ DETERMINISMO E EXERCÍCIO DA AUTO-INFLUÊNCIA Na Teoria Cognitiva Social o termo determinismo – determinante - é usado para significar a produção de efeitos e não no sentido rígido de que as ações são completamente determinadas por uma sequência anterior de causas independente da ação individual. Normalmente a liberdade é tomada como par antitético do determinismo, mas neste caso ela é definida positivamente como o exercício da auto- influência para gerar os resultados desejados. Essa causação de agenciamento se fundamenta fortemente na auto-regulação cognitiva, alcançada através do pensamento reflexivo, do uso criativo do conhecimento e das habilidades disponíveis, e de outros instrumentos de auto-influência, que a escolha e a execução de uma ação requer. Diante das mesmas condições ambientais, pessoas que apresentam a capacidade de exercitar muitas opções e conseguem regular sua própria motivação e comportamento revelam mais liberdade para fazerem as coisas acontecerem a seu favor do que aqueles que possuem recursos mais limitados de agenciamento pessoal. A escolha de uma ação dentre as várias alternativas não é completa e involuntariamente determinada pelos eventos externos. As escolhas são realizadas através de pensamento reflexivo e, assim, as pessoas exercem sua influência sobre o que fazem, ao considerarem as alternativas e ao anteciparem e avaliarem seus possíveis resultados. A atuação causal através do auto-agenciamento implica a capacidade de se comportar diferentemente, se necessário, do que é estabelecido pelas forças ambientais. Nas situações de coação e de tentação, o agenciamento pessoal se expressa através da capacidade de contenção. Assim se constróem os padrões pessoais que são utilizados para orientar, motivar e regular o comportamento individual humano. A auto-regulação se expressa através do auto-respeito antecipatório, o qual se preserva pelas escolhas coerentes com os padrões pessoais, e da autocensura que refreia as ações que violentam tais padrões. Na perspectiva operante (Skinner, 1974), as pessoas são meros recipientes de estímulos passados e condutores que servem à estimulação externa – nada acrescentam de realmente pessoal ao seu desempenho. A influência dos estímulos ambientais sobre o pensamento é incontestável, contudo o pensamento não é simplesmente um produto moldado pelos estímulos passados. Não é possível negar a ação da liberdade, a existência de uma componente individual que cria, altera e destrói o próprio ambiente através de escolhas. Como explicar as criações artísticas e científicas que em muito superam os estímulos ambientais recebidos? Um excelente exemplo é a obra de Michael Faraday (1791-1867), mundialmente conhecido pelas suas descobertas sobre a indução eletromagnética e pelas leis da eletrólise. Faraday era filho de um ferreiro e recebeu quase nenhuma educação formal. Ao falecer, Faraday recebera todos os títulos e honras já creditados a outros expoentes da Sociedade Real (Encarta, 1997) A menos que Faraday mantivesse uma enorme crença a respeito de sua auto-eficácia, teria se conformado em seguir a profissão paterna e teria se acomodado a uma vida muito mais simples, o que seria uma lástima para a sociedade atual que em muito se beneficia de suas descobertas. A AUTO-EFICÁCIA E A TEORIA COGNITIVA SOCIAL. A Teoria Cognitiva Social postula uma estrutura causal multifacetada que influencia tanto o desenvolvimento de competências como a regulação da ação (Bandura, 1986a). As estruturas de conhecimento que representam as regras e as estratégias de ação efetiva atuam como orientadores cognitivos. Essas estruturas são formadas a partir dos resultados da aprendizagem por observação, através das atividades exploratórias, da instrução verbal e das sínteses cognitivas dos conhecimentos adquiridos. São essas estruturas que especificam as habilidades que devem ser selecionadas, integradas e seqüenciadas para se adequarem a um propósito particular. A execução das habilidades deve se adequar às circunstâncias sempre modificáveis de modo a servir a propósitos variados. Assim, o funcionamento adaptativo requer a reelaboração constante de concepções pessoais que capacitem os indivíduos a empregarem as suas capacidades com plasticidade e flexibilidade. Quando os modos de comportamento adquirem uma certa maestria, eles se tornam rotineiros e deixam de exigir um alto grau de controle cognitivo. Depois que a pessoa desenvolve os meios mais apropriados para lidar com uma dada situação recorrente, ela passa a atuar através de sua auto- eficácia percebida sem mais solicitar continuamente o direcionamento proporcionado pelo pensamento reflexivo. Esse tipo de maestria pode ser observado no trânsito. Após conquistarmos a eficácia necessária à condução do veículo, dominando todos os comandos e comportamentos motores, em condições normais que não ofereçam riscos ou desafios, simplesmente executamos as operações permitindo que as nossas funções cognitivas se voltem para uma conversa com os demais passageiros, para a apreciação de uma música, ou mesmo para um bate-papo no celular. Mas se ocorrerem mudanças significativas nas demandas de uma tarefa ou nas circunstâncias que envolvem uma situação, a eficácia pessoal deverá ser prontamente reavaliada, autorizando e orientando o tipo de ação mais adequado sob as condições alteradas. Os comportamentos e ações rotineiros são vantajosos quando as capacidades pessoais já adquiridas se encontram em um nível ótimo de desenvolvimento capazes de atender as mais diversas circunstâncias. Contudo, os comportamentos e ações rotineiros podem interferir na obtenção do uso ótimo das capacidades pessoais. Isso ocorre quando as pessoas agem de maneira rígida em situações que requerem adaptabilidade discriminativa. Assim, os comportamentos que se tornam rotineiros passam a ser autolimitantes, especialmente se as pessoas estabelecem para si próprias objetivos que se encontram aquém de suas reais competências por apresentarem dúvidas acerca de sua própria eficácia, o que as impede de reavaliarem suas capacidades e melhorarem a visão que têm de si mesmas. No entanto, quando os comportamentos rotineiros não produzem os resultados esperados, o sistema de controle cognitivo entra em ação, exigindo uma reavaliação tanto dos comportamentos empregados como das circunstâncias ambientais de modo a identificar a fonte do problema. Desta forma, novos modos de ação serão considerados e testados. A Teoria Cognitiva Social afirma que um amplo conjunto de fatores opera de modo a regular e motivar as habilidades sociais, cognitivas e comportamentais, dando uma ênfase especial ao mecanismo de pensamento antecipatório. Esse tipo de antecipação mental é denominado pensamento instrumental. Através do pensamento instrumental planejamos o futuro que desejamos e, desta forma, promovemos os comportamentos que mais provavelmente nos permitirão realizá-lo. A capacidade de vislumbrar a propensão dos possíveis resultados de uma ação em andamento constitui uma outra forma de contribuição dos mecanismos de antecipação para a adaptação e motivação humanas. A auto-eficácia percebida ocupa umpapel fundamental na Teoria Cognitiva Social por atuar sobre os demais determinantes. Ao influenciarem a escolha das atividades e o nível de motivação, as crenças de eficácia pessoal contribuem para a aquisição das estruturas de conhecimento que fundamentam o desenvolvimento das capacidades e habilidades pessoais. A eficácia pessoal percebida também regula a motivação ao modelar as aspirações pessoais e as expectativas acalentadas para cada ação desempenhada. Devemos nos ater para o fato de que uma capacidade só é percebida como boa à medida que sua execução é assim considerada. A auto- segurança demonstrada na maneira com que lidamos com as situações complexas que se apresentam revela se fazemos um bom ou mau uso de nossas capacidades. ➔ NATUREZA E ESTRUTURA DA AUTO-EFICÁCIA O sistema de crenças pessoais, ao qual pertence a auto-eficácia, se constrói continuamente segundo as experiências e escolhas individuais que, ao solicitarem posicionamentos e ações, permitem o desenvolvimento e a avaliação das competências pessoais. Por sua vez, as competências humanas se desenvolvem e se manifestam de diversas maneiras, fazendo com que a auto-eficácia percebida seja cultivada em diferentes áreas de atuação e em graus de intensidade ou empenho variáveis. É importante observar que a teoria da auto-eficácia reconhece a diversidade das capacidades humanas, não se referindo ao sistema de crenças de eficácia como um traço ou bloco único. O sistema de crenças de eficácia pessoal é estudado como um conjunto de autocrenças diferenciadas que se encontram associadas aos diferentes domínios de funcionamento humano. As crenças de eficácia não se relacionam unicamente com o exercício do controle sobre as ações, elas também estão ligadas à auto-regulação dos processos de pensamento, motivação, afetividade e aos estados fisiológicos. Sendo assim, é preciso compreender com maior clareza as relações da auto- eficácia percebida com esses demais processos. ▪ AUTO-EFICÁCIA PERCEBIDA COMO CAPACIDADE GENERATIVA. O funcionamento eficaz de cada pessoa não se resume simplesmente à questão de saber o que fazer e a estar motivado a fazê-lo. Por outro lado, a eficácia pessoal não é uma capacidade fixa que alguém ou possui ou não possui em seu repertório de comportamentos. A eficácia é uma capacidade generativa que depende da organização e da orquestração de subcapacidades cognitivas, emocionais, sociais e comportamentais para que possa servir a inúmeros propósitos. Algumas pessoas apresentam várias subcapacidades e as executam com um elevado grau de maestria. Contudo, há uma enorme diferença entre apresentar diferentes subcapacidades e saber integrá-las de modo a servirem efetivamente a um objetivo determinado, especialmente sob circunstâncias desafiadoras. O pensamento auto-refenciado ativa os processos cognitivos, motivacionais e afetivos que governam a passagem do conhecimento adquirido e das capacidades à ação proficiente. A auto-eficácia percebida, como um elemento do pensamento auto-referenciado, não diz respeito apenas ao número de capacidades e habilidades que uma pessoa possui, mas ao que essa pessoa acredita que pode fazer com esses recursos diante das mais diferentes situações. Logo, a crenças de eficácia operam como um fator essencial à geração e ao desenvolvimento da competência humana (Collins, 1982). As capacidades e as habilidades podem ser facilmente minadas e comprometidas pela autocrítica depreciativa, gerando insegurança e fazendo com que mesmo as pessoas mais talentosas utilizem suas capacidades de modo empobrecido sob circunstâncias que abalam e debilitam as crenças mantidas sobre si mesmo (Bandura & Jourden, 1991; Wood & Bandura, 1989a). Uma atuação efetiva tanto requer a existência das capacidades necessárias a sua execução como a crença pessoal de que elas poderão ser empregadas adequada e eficazmente. Ora, as situações que a vida oferece apresentam constantes desafios e mudanças, são ambíguas, imprevisíveis e normalmente encerram elementos geradores de estresse e tensão pela frustração latente ou potencial que prenunciam. A percepção da eficácia pessoal depende de como conseguimos integrar nossas múltiplas capacidades e habilidades para lidar com essas situações em constante mutação. Embora alguns autores tenham interpretado erroneamente a auto-eficácia, confundindo-a com julgamentos de atos motores ou como uma quantidade descontextualizada de capacidade percebida (Eastman & Marzillier, 1984; Kirsch, 1995), é importante esclarecer que a auto-eficácia percebida não é uma medida das capacidades nem das habilidades que uma pessoa apresenta, ela se refere exclusivamente à crença que possuímos sobre o que podemos fazer sob diferentes conjuntos de condições com quaisquer capacidades e habilidades que tenhamos desenvolvido. As subcapacidades necessárias a um bom desempenho contribuem para o julgamento da eficácia operativa mas não a substituem. O trabalho de Mone (1994) exemplifica bem essa questão: ele comparou a preditividade relativa das crenças de alunos universitários acerca de sua eficácia para atingirem diferentes níveis de desempenho – eficácia de consecução - no seu curso acadêmico com as crenças que esses mesmos alunos apresentavam com relação a sua eficácia em algumas subfunções cognitivas – concentração em sala de aula, memorização, compreensão de conteúdo. Mone concluiu que a crença na eficácia das subfunções contribui para o desempenho apesar da crença na eficácia de consecução decorrente de aquisições acadêmicas passadas. Mas a eficácia de consecução é um melhor preditor do nível de modificações nas aspirações acadêmicas e do desempenho acadêmico do que as crenças de eficácia nas subfunções cognitivas. Isso se deve ao fato de a eficácia percebida produzir diferentes níveis de desempenho aos quais pode estar subordinada a eficácia relativa às subfunções cognitivas. As crenças sobre o quão bem as subcapacidades podem ser colocadas em prática variam de acordo com as atividades a que estão subordinadas. Portanto, as crenças de eficácia pessoal podem ser mais baixas para as mesmas subcapacidades quando estas são aplicadas a atividades técnicas do que quando aplicadas a atividades não técnicas (Matsui & Tsukamoto, 1991). Daí a necessidade da auto- eficácia percebida ser estudada dentro de domínios de funcionamento particulares e contextualizados. ▪ PRODUTORES ATIVOS E PREDITORES PASSIVOS DE DESEMPENHO. As crenças na auto-eficácia não são preditores inertes do desempenho futuro. As pessoas que duvidam de suas capacidades em certos domínios de funcionamento normalmente recuam das tarefas que consideram difíceis nestes determinados domínios. Não conseguem se motivar, esmorecem seus empenhos e desistem mais rapidamente diante dos obstáculos. Quando a baixa auto-eficácia percebida se generaliza aos demais domínios de funcionamento, o indivíduo apresenta baixa aspiração pessoal e seu grau de comprometimento com as tarefas e os objetivos escolhidos revela-se fraco. Nas situações opressivas, essas pessoas hesitam, hipervalorizam suas deficiências, superestimam tanto a complexidade e as adversidades da situação como as consequências da frustração diante do fracasso ou de um mau desempenho. Essa sequência de pensamentos perturbados corrompe e prejudica os esforços e o pensamento analítico, desviando a atenção das melhores maneiras de executar as atividades que superariam as deficiências pessoais e as temidas calamidades. Consequentemente, essas pessoas também recuperam vagarosamente seu senso de auto-eficácia após os fracassos e impedimentos. Como já estão propensas a diagnosticarem seu desempenho insuficientecomo uma atitude pessoal deficiente, o fracasso não precisa ser retumbante para que percam a fé em suas capacidades, tornando-se fáceis vítimas do estresse e da depressão. Por outro lado, aqueles que apresentam uma forte auto-eficácia percebida enfrentam os problemas complexos mais como se fossem desafios a serem dominados do que como se fossem ameaças a serem evitadas. Implicam-se nas tarefas com crescente interesse, concentração e comprometimento, estabelecem objetivos desafiadores. Investem seu empenho no que fazem e elevam seus esforços diante de obstáculos e fracassos e pensam estrategicamente diante das dificuldades. Quando fracassam recuperam rapidamente seu senso de auto-eficácia e reavaliam seus empenhos, reorientando-os para desfechos mais bem sucedidos. ▪ A MULTIDIMENSIONALIDADE DOS SISTEMAS DE CRENÇA DE AUTO-EFICÁCIA Conforme já foi citado anteriormente a auto-eficácia percebida deve ser pesquisada sempre dentro de um domínio particular e de forma contextualizada, ou seja, as crenças em eficácia pessoal devem ser medidas em termos de julgamentos particulares de competência que variam segundo o domínio de atividade pesquisada, sob diferentes níveis de solicitação e sob diferentes circunstâncias situacionais. Um elevado senso de auto-eficácia em um domínio de ação não é necessariamente acompanhado por uma auto-eficácia positiva em outros domínios (DiClemente, 1986; Hofstetter, Sallis & Hovell, 1990). Logo, para que as medidas de auto-eficácia apresentem um valor preditivo e um poder explanatório, elas devem ser obtidas em domínios de funcionamento bem especificados e devem representar corretamente as gradações existentes nas tarefas referentes ao domínio pesquisado. No capítulo que trata sobre a metodologia constam maiores detalhes e especificações relativos à construção das escalas de auto-eficácia. Não obstante, apesar de ser importante determinar o domínio de funcionamento para a mensuração da auto-eficácia devido a sua multidimensionalidade, isso não exclui a possibilidade de generalização ou de existência de uma estrutura comum capaz de associar às crenças em eficácia pessoal. ▪ GENERALIZAÇÃO DISCRIMINATIVA DA AUTO-EFICÁCIA. As capacidades que desenvolvemos e exercitamos ficariam seriamente restritas se não fosse possível transferir as crenças de eficácia de uma atividade ou situação para outra. Tanto o excesso de especificidade como uma transferência indiscriminada contrariariam e impediriam as necessidades adaptativas. Um comportamento adaptativo bem sucedido requer a discriminação e a generalização da eficácia percebida. A generalização discriminativa da auto-eficácia acontece através de cinco processos principais. 1. O primeiro processo de generalização discriminativa é ativado quando percebemos que classes diferentes de atividades requerem capacidades e habilidades semelhantes. Assim, as pessoas que se concentram nos aspectos familiares de uma nova atividade conseguem transpor ou transferir sua auto- eficácia percebida com maior facilidade do que as pessoas que se concentram nas exigências completamente novas que a tarefa apresenta (Cervone, 1989) 2. O segundo processo se dá através do codesenvolvimento, ou seja, quando o desenvolvimento das competências necessárias a diferentes domínios acontece simultaneamente. 3. O terceiro processo de generalização discriminativa se refere à aplicação de metaestratégias aprendidas em um domínio de atividade que tendem a ser aplicadas nos demais domínios (Meichenbaum & Asarnov, 1979; Zimmerman, 1989). Essas metaestratégias também são conhecidas como capacidades auto-reguladoras, incluem a capacidade geral de diagnosticar as exigências de uma tarefa, a construção e avaliação dos cursos de ação alternativos, o estabelecimento de objetivos de curto, médio e longo prazos, e a criação de auto-incentivos que possam sustentar a ação quando surgirem adversidades, estresse e pensamentos desanimadores. 4. O quarto processo diz respeito ao desenvolvimento de capacidades de confrontação e enfrentamento generalizáveis. Por exemplo, mulheres que aprenderam técnicas marciais com o objetivo de se defenderem da violência nas megalópoles, ampliaram sua auto-eficácia percebida em vários outros domínios em que freqüentemente surgem situações ameaçadoras (Ozer & Bandura, 1990). As capacidades de autoproteção são altamente generalizáveis mesmo em situações e atividades muito díspares. 5. O quinto processo diz respeito à estruturação cognitiva de aspectos comuns a diferentes domínios de atuação e a reestruturação cognitiva das crenças relativas à própria eficácia. A reestruturação metacognitiva das crenças de eficácia é o processo que mais promove a generalização discriminativa da auto-eficácia, promovendo o potencial de atuação e de mudanças pessoais. FONTES DA AUTO-EFICÁCIA As crenças que se referem à auto-eficácia são adquiridas através de quatro fontes principais de informação: as experiências vivenciadas de mestria que servem de indicadores das capacidades; as experiências vicárias que alteram as crenças de eficácia pela comparação com modelos sociais, através da comparação de desempenhos e pela transferência de competências; a persuasão verbal e outros tipos de influências sociais que destacam indivíduos que dominam certas competências; e os estados afetivos e fisiológicos que permitem que as pessoas julguem parcialmente suas capacidades diante de situações novas e desafiadoras. Qualquer influência, dependendo de sua forma de manifestação, opera através de uma dessas fontes de informação de eficácia ou através de uma combinação dessas fontes. Cabe ressaltar que qualquer informação de eficácia só se torna instrutiva quando é processada cognitivamente através do pensamento reflexivo. O processamento cognitivo das informações de eficácia envolve duas funções. A primeira se refere aos tipos de informações que as pessoas percebem e empregam como indicadores de eficácia pessoal. A segunda função diz respeito às regras ou heurísticas empregadas na avaliação e na integração das informações de eficácia. Conjuntamente, essas duas funções permitem a seleção, interpretação e integração das informações de eficácia que permitirão a emergência da eficácia pessoal. ➔ EXPERIÊNCIAS VIVENCIADAS DE MESTRIA. Os comportamentos ativos de ordem adaptativa são a fonte mais influente de desenvolvimento das crenças de eficácia. Comportamentos que promovem desfechos bem sucedidos proporcionam a construção de um sistema de crenças positivas de eficácia que, por sua vez, fortalece o comportamento individual diante de desafios e impedimentos, fazendo com que o sujeito saia cada vez mais forte e capaz de cada situação adversa (Elder & Liker, 1982). Já, as experiências de fracasso o debilitam, especialmente quando o senso de auto-eficácia ainda não se encontra fortemente consolidado. As experiências vivenciadas de mestria produzem crenças de eficácia mais potentes e mais generalizadas do que os demais modos ou fontes de influência. Os desempenhos exigem a orquestração mais complexa de competências que são, em grande parte, organizadas hierarquicamente e controladas pelas capacidades cognitivas e de auto-regulação. Mas para que as pessoas se apliquem de modo consistente e persistente na execução de atividades adaptativas é necessário que estejam convencidas de suas capacidades. Normalmente, os desempenhos bem sucedidos tendem a aumentar a auto-eficácia positiva percebida, assim como repetidos fracassos tendem a diminui-la. Mas os desempenhos bem sucedidos, embora sejam bastante persuasivos, não necessariamente ampliam a auto-eficácia positiva percebida.Na verdade, o impacto das conquistas bem sucedidas depende mais do que é feito com elas. O mesmo nível de desempenho pode elevar, não afetar, ou mesmo diminuir a auto-eficácia percebida, dependendo de como as contribuições pessoais e situacionais são interpretadas e valorizadas (Bandura, 1982a). A avaliação da auto-eficácia é um processo inferencial no qual a contribuição relativa dos fatores de capacidade ou de não capacidade para os desempenhos bem sucedidos ou fracassados devem ser ponderados. A alteração da auto-eficácia percebida após a vivência de uma experiência de mestria depende de como são integradas as estruturas de autoconhecimento pré-existentes - os preconceitos com relação ao exercício de certas capacidades -; das dificuldades percebidas em algumas tarefas – como a quantidade de empenho que requerem e o tipo de apoio recebido -; das circunstâncias em que as capacidades devem ser expressadas; do padrão temporal dos sucessos e fracassos no desempenho e da forma com que essas experiências são organizadas cognitivamente e reconstruídas pela memória. Sob condições variáveis, como as cotidianas, a auto-eficácia percebida é um melhor preditor do desempenho atual do que as conquistas passadas, porque o julgamento da eficácia envolve mais informações do que a execução de uma ação. ➔ EXPERIÊNCIA VICÁRIA. A avaliação da própria eficácia também é em parte influenciada pelas experiências vicárias mediadas pelos modelos de consecução. Portanto, o processo de aprendizagem vicária ou modelação se constitui como uma outra fonte geradora de crenças de auto-eficácia. Quando as capacidades pessoais atendem a objetivos sociais valorizados, as crenças de auto-eficácia são mais facilmente desenvolvidas (Jacobs et al., 1984; Litt, 1988). No entanto, para a maioria das atividades adaptativas, não existem medidas claras de adequação das capacidades requeridas. Um aluno que obtém uma nota aparentemente alta em um exame – 9,5, por exemplo -, não tem parâmetros para julgar o quanto se saiu bem a menos que venha tanto a conhecer as notas dos demais alunos como os critérios e as exigências dos examinadores. Assim, sempre que a competência pessoal é solicitada e confrontada com o desempenho alheio, a comparação social entra em ação, assumindo o papel de fator principal na auto-avaliação das capacidades (Festinger, 1954; Goethals & Darley, 1977; Suls & Miller, 1977). As crenças de eficácia são elevadas quando apresentamos um desempenho superior às normas do grupo, mas são diminuídas quando a nossa posição está abaixo do rendimento médio do grupo. Logo, no que se refere à influência da experiência vicária, a avaliação da auto-eficácia vai variar substancialmente de acordo com as competências e talentos daqueles que são escolhidos para servirem de modelos de comparação social. Esses modelos tanto podem gerar crenças positivas de eficácia, como podem reafirmar percepções de eficácia negativas. Assim, pessoas convencidas de sua incapacidade, ao assistirem seus modelos falharem, aceitam mais prontamente seus fracassos subsequentes como indicadores das suas deficiências pessoais. Inversamente, as influências de modelação capazes de convencer as pessoas de sua eficácia enfraquecem o impacto direto das experiências de fracasso, dando suporte ao empenho necessário a novos desafios em face dos fracassos já existentes (Brown & Inouye, 1978; Weinberg et al., 1979). ➔ PERSUASÃO VERBAL A persuasão social também se apresenta como mais uma fonte de desenvolvimento e fortalecimento das crenças que as pessoas possuem acerca de suas capacidades de realização. Todos nós já experimentos o poder do apoio verbal de pessoas significativas quando nos encontramos diante de situações difíceis. A persuasão verbal por si só pode se mostrar limitada quanto a sua capacidade de gerar crenças de eficácia percebida duradouras, mas ela é capaz de catalisar mudanças pessoais de caráter mais permanente se a avaliação positiva estiver dentro de limites realistas. A informação a respeito da eficácia é persuasiva quando é oferecida como um feedback de avaliação após o desempenho. Schunck e seus colaboradores (1982, 1986) estudaram essa questão submetendo crianças com deficiências de aprendizagem em matemática e leitura a um programa de instrução autodirecionado. Durante o processo elas receberam feedback atribuicionais pré-arranjados, a despeito do desempenho que apresentaram. De tempos em tempos, os avaliadores podiam valorizar suas capacidades, afirmar que estavam trabalhando com afinco, ou que precisavam de mais empenho. Os resultados mostraram que o feedback que enaltecia as capacidades pessoais era capaz de aumentar a crença de eficácia percebida. O poder da persuasão verbal nas etapas iniciais do desenvolvimento das capacidades pessoais é fundamental para a criação e fortalecimento da auto-eficácia percebida. Porém, deve ficar claro que o modo com que as influências de persuasão verbal são organizadas e estruturadas podem vir a afetar intensamente a avaliação da eficácia pessoal. Assim, a influência da persuasão verbal normalmente interage com as demais fontes geradoras de auto-eficácia percebida. ➔ ESTADOS FISIOLÓGICOS E AFETIVOS. A avaliação das capacidades pessoais também sofre a influência de informações somáticas sobre os estados fisiológicos e afetivos. Essa influência se torna mais expressiva quando as capacidades em questão afetam o desempenho físico e a performance diante de situações desafiadoras, geradoras de estresse. Em geral, os sintomas fisiológicos são tomados como sinais de vulnerabilidade. Se as reações fisiológicas diante de circunstâncias estressantes forem interpretadas como ineficácia pessoal, em situações similares posteriores, sob o efeito da generalização, surgirão efeitos fisiológicos e afetivos antecipatórios. A evocação de pensamentos aversivos que implicam a avaliação da eficácia pessoal, eleva a tensão interna que, por sua vez, ativa as disfunções tão temidas. Os tratamentos que visam a eliminação das reações emocionais às ameaças subjetivas através da vivência de experiências de maestria aumentam as crenças referentes à capacidade para lidar com situações difíceis – desafios, confrontações, exposição, etc. -, com a conseqüente melhora do desempenho (Bandura, 1988c). Logo, a quarta maior fonte de formação e desenvolvimento das crenças de eficácia pessoal está associada à promoção das condições físicas, à redução dos níveis de estresse e à correção das distorções cognitivas acerca dos estados corporais (Bandura, 1991a; Cioffi, 1991a). INTEGRAÇÃO DAS INFORMAÇÕES SOBRE A AUTO-EFICÁCIA. As informações provenientes dessas quatro fontes de formação e desenvolvimento da auto- eficácia percebida são combinadas e integradas de modo a gerar uma crença pessoal de auto-eficácia. Contudo, ainda não existem muitas pesquisas a respeito de como as pessoas processam as informações multidimensionais acerca de sua eficácia. Os fatores que encerram o valor da eficácia pessoal variam quanto ao peso atribuído a cada um deles. Os fatores relevantes também variam em complexidade de suas relações com o julgamento da auto-eficácia percebida. Uns se relacionam linearmente, de modo que quanto maior o nível de um dado fator, maior a eficácia percebida. Outros se relacionam curvilineamente, como o caso dos estados afetivos e fisiológicos. Por exemplo, a excitação moderada é interpretada como um nível ótimo de ativação para o bom desempenho, enquanto que níveis baixos de ansiedade podem ser interpretados como desmotivantes, e níveis extremamente elevados se mostram dilacerantes (Brehmer, 1980; Hammond, McClelland & Mumpower, 1980) Asregras empregadas para a formação das crenças de eficácia pessoal também são variáveis. Os fatores podem ser adicionados, quanto maior o número de indicadores, mais forte é a crença de eficácia. Outros podem atribuir pesos diferenciais relativos a cada um desses fatores. Também é possível aplicar uma regra multiplicativa, o que faz com que o impacto conjunto sobre as crenças de eficácia pessoal se torne ainda mais expressivo. Anderson e seus colaboradores (1981, 1984) têm despendido a maior parte de suas pesquisas à tentativa de identificar as regras empregadas pelas pessoas para integrarem as informações multidimensionais em um julgamento unitário. PROCESSOS MEDIADOS PELA AUTO-EFICÁCIA. Os sistemas de crenças influenciam a forma com que as pessoas pensam, sentem, se motivam e agem. As crenças de eficácia regulam o funcionamento humano através de quatro grandes processos: cognitivo, motivacional, afetivo e seletivo. Alguns desses eventos ativados pela eficácia, como os estados emocionais, não devem ser vistos apenas como meras influências intervenientes de ação. Esses diversos processos normalmente operam em conjunto na regulação do funcionamento humano. ➔ PROCESSOS COGNITIVOS. As crenças de auto-eficácia afetam os padrões de pensamentos que podem estimular ou depreciar o desempenho. As pessoas que apresentam um senso elevado de auto-eficácia assumem perspectivas futuras ao estruturarem seus objetivos de vida. Grande parte do comportamento humano é regulado por pensamentos antecipatórios que estão associados aos processos cognitivos. Por sua vez, o estabelecimento dos objetivos é influenciado pela avaliação das capacidades pessoais. Quanto mais forte a auto-eficácia percebida, mais arriscados são os objetivos estabelecidos e mais firmemente as pessoas se comprometem com eles (Bandura & Wood, 1989; Locke & Lathan, 1990). O mesmo ocorre com a eficácia percebida nos grupos, ou seja, quanto maior a eficácia percebida nos grupos, mais elevados são os objetivos que o grupo estabelece para suas conquistas coletivas. As construções cognitivas e o pensamento inferencial são as duas funções mais empregadas na promoção dos processos cognitivos que atuam como mediadores entre auto-eficácia percebida, estabelecimento de objetivos e desempenho. As construções cognitivas orientam a ação para o desenvolvimento de proficiências (Bandura, 1986a; Carroll & Bandura, 1990). As crenças sobre a própria eficácia influenciam como as pessoas constróem as situações, circunstâncias antecipatórias e a visualização de seu próprio futuro. O pensamento inferencial permite a previsibilidade e a sensação de um certo tipo de controle sobre os resultados de nossas ações. As capacidades implicadas na resolução de problemas exigem o processamento cognitivo de informações multifacetadas, normalmente ambíguas, complexas e incertas. As pessoas, ao avaliarem as suas chances de sucesso diante de um desafio, consultam os resultados de seus desempenhos passados para construírem suas estratégias de ação. Pesam e integram os elementos conhecidos de forma a criarem regras compostas que garantem uma certa previsibilidade. Um elevado senso de eficácia é necessário se quisermos permanecer fiéis aos nossos objetivos diante das ambigüidades, das demandas e tensões situacionais, e do julgamento de um possível fracasso que venha a ter grandes implicações pessoais e sociais. Wood e Bandura (1989a) constataram a forte influência das crenças de auto-eficácia nos processos de tomada de decisões em ambientes organizacionais. Quando a pesquisa sobre tomada de decisões é realizada no próprio ambiente organizacional – natural e natureza dinâmico -, as escolhas precisam ser feitas a partir de um amplo espectro de informações que estão em constante mudança e processamento, com prazos temporais, e capazes de acarretar consequências sociais e de auto-avaliação. Além do mais, as decisões anteriores e seus resultados modelam as escolhas posteriores conforme já foi explicado. Muitas das regras criadas para a tomada de decisões em ambientes dinâmicos são aprendidas através de experiências exploratórias que se desdobram conjuntamente com os problemas que precisam ser solucionados. Diante dessas condições transacionais mais complexas, os fatores de auto- regulação, afetivos e motivacionais exercem um impacto substancial na qualidade das escolhas realizadas. As pessoas normalmente desistem de situações desafiadoras em que poderiam ser bem sucedidas por acreditarem que esses desafios só serão vencidos se elas apresentarem aptidões extraordinárias, Certamente, as capacidades inatas podem favorecer ou limitar nossas conquistas, mas o que é potencial só pode ser convertido em real através de treinamento e aprendizagem constantes. Muitos observam os feitos alheios, mas não se dão conta do grau de comprometimento e empenho que lhes foi exigido, nem das inúmeras horas de práticas persistentes que lhes permitiram desenvolver as capacidades necessárias a tais conquistas. As capacidades não devem ser tomadas como características inatas, traços monolíticos que nos governarão ao longo da vida. Essa posição reduz a auto-eficácia percebida, retarda o desenvolvimento de habilidades, e diminui o interesse pela atividade em questão. (Jourdan, Bandura & Banfield, 1991). Elliott & Dweck (1988), ao pesquisarem crianças que se mostravam facilmente debilitadas por seus fracassos por os atribuírem a deficiências inatas, constataram que essas mesmas crianças apresentavam desempenho superior ao serem persuadidas de que as capacidades podem ser adquiridas. Um outro sistema de crença que afeta o modo com que a informação sobre a eficácia é cognitivamente processada são as crenças que as pessoas nutrem sobre a possibilidade de controlar ou influenciar o ambiente a que pertencem. As pessoas que estão presas em dúvidas pessoais costumam antecipar seus fracassos e acreditam que seus esforços são em vão. Estão muito menos propensas a assumir e manter atividades que promovam modificações situacionais do que as pessoas que apresentam uma crença firme na sua capacidade de promover mudanças sociais significativas. Outras pesquisas demonstram que as crenças de eficácia pessoal afetam a geração e o emprego de estratégias para a resolução de problemas. Entre alunos que apresentam a mesma capacidade mas que diferem em termos de auto-eficácia percebida, constatou-se que os que apresentam uma crença de auto-eficácia positiva são mais rápidos ao descartarem estratégias cognitivas falhas em busca de outras melhores, mostrando-se menos inclinados a rejeitarem as boas saídas prematuramente (Bouffard-Bouchard, Parent & Larivée, 1991; Collins, 1982). ➔ PROCESSOS MOTIVACIONAIS. A ação intencional ou proposital e a capacidade de automotivação se fundamentam na atividade cognitiva. O futuro que projetamos só pode ser concebido à luz dos pensamentos antecipatórios que se processam cognitivamente no momento presente e, desse modo tais pensamentos se tornam motivadores e reguladores dos nossos comportamentos. Um objetivo por si só não é agente de sua própria realização. Os pensamentos premeditados traduzem-se em incentivos e cursos de ação com o auxílio dos mecanismos de auto- regulação. A grande parte da motivação humana é processada cognitivamente. Assim, ao se motivarem com suas conclusões cognitivas, as pessoas orientam suas ações segundo seus pensamentos premeditados. É o processamento desses pensamentos antecipatórios que formam e reforçam as crenças do que podemos ou não fazer, que nos alertam para os supostos desfechos positivos e negativos, que nos proporcionam com maior ou menor clareza os recursos internos aserem utilizados para conquistarmos o futuro que almejamos e para evitarmos resultados aversivos. Portanto, as crenças de auto-eficácia exercem um papel fundamental na regulação cognitiva da motivação. Podemos distinguir três diferentes formas de motivadores cognitivos: atribuições causais, expectativa dos resultados e objetivos conhecidos. Para cada um deles foi construída uma teoria: A Teoria da Atribuição de Bernard Weiner (1985), a Teoria da Expectativa- Valor que recebeu contribuições de muitos pesquisadores (Ajzen & Fishbein, 1980; Atkinson, 1964; Rotter, 1982; Vroom, 1964) e a Teoria do Objetivo. Segundo a Teoria da Atribuição (Weiner, 1985), os julgamentos restropectivos das causas que influenciaram um dado comportamento provocam efeitos motivacionais. As pessoas que creditam seus sucessos as suas capacidades pessoais e seus fracassos a empenho insuficiente (lócus de controle interno), estão mais propensas a se comprometerem com situações desafiadoras e costumam persistir na mesma tarefa mesmo após um fracasso. Isso acontece porque essas pessoas se responsabilizam pelos resultados de seu desempenho, e acreditam que colhem o que plantaram, ou seja, se estiverem comprometidas e persistirem mesmo diante das dificuldades, são capazes de influenciar seu futuro. Por outro lado, aqueles que atribuem seus sucessos e fracassos as circunstâncias externas ou à influência do ambiente (lócus de controle externo) não demostram o mesmo empenho e desistem prontamente assim que encontram as dificuldades. Muitas pesquisas têm sido conduzidas com o intento de melhor compreender o papel da atribuição de causalidade nos comportamentos humanos. No que se refere às crenças de auto- eficácia, Relich, Debus e Walker (1986); Schunck e Gunn (1986); e Schunck e Rice (1986) concluíram que, diante de diferentes explicações causais para a qualidade de desempenhos em processamento (uso da persuasão verbal), as atribuições de causalidade associadas às crenças de auto-eficácia influenciam o empenho para a realização de tarefas, mas o efeito é mediado pela mudança na auto-eficácia percebida. Assim, quanto mais as razões arbitrárias elevaram as crenças de auto-eficácia, maior o comprometimento com o desempenho posterior. A Teoria da Expectativa-Valor (Ajzen & Fishbein, 1980; Atkinson, 1964; Rotter, 1982; Vroom, 1964) postula que as pessoas também são motivadas pelos resultados que esperam conquistar ao se comportarem de uma determinada maneira. Em sua versão fundamental, a teoria prediz que quanto maior a expectativa de que um certo comportamento pode assegurar um determinado resultado, e quanto mais esse resultado é valorizado, maior a motivação para a emissão desse comportamento. A contribuição das crenças de auto-eficácia à motivação baseada no incentivo também tem sido avaliada. Lee, Locke e Phan (no prelo, p.128 apud Bandura, 1997) examinaram o desempenho em diferentes critérios padronizados para uma tarefa mediante pagamento por hora, por peça produzida e bonificação. Eles também mediram a variedade dos possíveis motivadores dos efeitos de incentivo. Tendo controlado a aptidão para o cumprimento da tarefa, a eficácia percebida e os objetivos pessoais se tornaram os principais mediadores através dos quais os incentivos na forma de pagamento afetariam o nível de desempenho. A despeito do sistema de incentivo, as pessoas que demonstravam uma auto-eficácia percebida elevada e objetivos pessoais bem estruturados revelaram uma performance superior àquelas que duvidavam de sua eficácia para atingir os padrões exigidos e não nutriam aspirações pessoais tão elevadas. A Teoria do Objetivo afirma que os objetivos operam mais amplamente através de influências auto-reativas do que regulando a motivação e ação diretamente. A auto-eficácia percebida é uma das mais importantes auto-influências através da qual os padrões pessoais e os objetivos estabelecidos se constituirão, criando um forte efeito motivacional. A motivação fundamentada nos padrões pessoais envolve um processo de comparação cognitiva da performance obtida com os padrões pessoais estabelecidos. A auto-satisfação só é atingida quando os dois são pelo menos coincidentes, se não as pessoas tendem a investir, criando auto- incentivos, de modo a atingir a concordância entre performance real e idealizada. Bandura e Cervone (1983, p.128 apud Bandura, 1997), Becker (1978, p.128 apud Bandura, 1997) e Strang, Lawrence e Fowler (1978, p. 128 apud Bandura, 1997), constataram que a adoção de um objetivo sem a avaliação do próprio desempenho, assim como um bom desempenho desvinculado do estabelecimento de um objetivo, apresentam um efeito motivacional de pouca duração. ➔ PROCESSOS AFETIVOS. As relações da auto-eficácia percebida com os processos afetivos são de fundamental importância para esta pesquisa, visto que um dos constructos empregados, a frustração, implica o surgimento de estados afetivos. O mecanismo de auto-eficácia também exerce um papel relevante na auto-regulação dos estados afetivos. São três as principais formas com que as crenças de auto-eficácia afetam a natureza e a intensidade das experiências emocionais: através do exercício do controle pessoal sobre o pensamento, a ação e o afeto. A regulação dos estados afetivos através do controle do pensamento acontece de duas maneiras: As crenças de auto-eficácia geram preferências de atenção influenciando o modo com que a vida pessoal é construída, cognitivamente representada e reparada seja de um jeito emocionalmente benigno ou perturbador. A segunda forma de influência das crenças de eficácia pessoal estão associadas à maneira com que as capacidades cognitivas são percebidas como capazes de controlar os pensamentos negativos à medida que estes invadem o fluxo da consciência. No que diz respeito ao controle pessoal sobre a orientação das ações, as crenças de eficácia pessoal regulam os estados emocionais ao sustentarem os cursos de ação escolhidos que, por sua vez, transformam o ambiente de forma a alterar o potencial emocional. Esses cursos alternativos de regulação dos afetos são amplamente documentados no exercício do controle da elevação da ansiedade, da depressão e das reações ao estresse biológico. A ansiedade é um estado de apreensão antecipatória dirigida a possíveis acontecimentos deletérios. Alguns teóricos subpartem a ansiedade (Lang, 1977, p.137-8 apud Bandura, 1997) caracterizando o constructo como um conjunto de componentes independentes fracamente interrelacionados: cognições apreensivas, excitação fisiológica e comportamento de evitação. Mas essa construção tripartida não constitui necessariamente uma teoria, pois não explica as causas, os mecanismos, nem os efeitos da ansiedade. Posteriormente, Lang (1985, p.138 apud Bandura, 1997) incorporou sua noção tripartida à Teoria Bioinformacional da Ansiedade. A perspectiva dessa teoria percebe a ansiedade como uma disposição à ação que é representada por uma rede de associações de informações proposicionais codificadas que encerram estímulos evocativos, respostas do multi-sistema e seus significados. Assim, quanto mais a informação oriunda do ambiente se assemelhar ao protótipo emocional, maior a susceptibilidade da rede de associações ser completamente estimulada. Mas essa teoria não explica o modelo processual nem é facilmente verificável experimentalmente. Por sua vez, a auto-eficácia percebida opera como um regulador cognitivo da elevação da ansiedade, tendo sido testada sua influência ao serem criados diferentes níveis de auto-eficácia percebida em ameaças e situações geradoras de comportamentos fóbicos. Os indivíduos submetidos a tais experimentos, ao confrontaremameaças que acreditam ser capazes de enfrentar, apresentam pouca elevação de ansiedade. Mas, diante de situações em que se percebem pouco habilitados para confrontar, desenvolvem reações fisiológicas – taquicardia, elevação da pressão sanguínea -, características da elevação da ansiedade (Bandura et al., 1982, p. 161 apud Bandura, 1997). A influência da eficácia do pensamento controlado sobre a elevação da ansiedade é corroborado pelas pesquisas que examinam as diferentes propriedades das cognições que geram perturbações e seus correlatos afetivos. As características das cognições intrusivas incluem freqüência, intensidade, aceitabilidade e controlabilidade. Os resultados evidenciam que não é a freqüência das cognições aversivas per se que é responsável pela elevação da ansiedade, mas a força da eficácia percebida para controlá-las ou dispensá-las (Kent, 1987, p.145 apud Bandura, 1997; Kent & Gibbons, 1987, p.145 apud Bandura, 1997). Churchill (1991, p.145 apud Bandura, 1997) elaborou uma medida multifacetada da capacidade de lidar com pensamentos indesejáveis. Ela avalia a capacidade percebida para dispersar a atenção dos pensamentos indesejáveis, tolerando-os e reconstruindo-os de uma maneira benigna. A eficácia percebida para exercitar o controle da dispersão da atenção é a habilidade cognitiva mais importante nessa situação. Ao desenvolverem um forte senso de eficácia percebida para controlar o próprio pensamento, as pessoas ficam menos sobrecarregadas pelos pensamentos negativos e experimentam um nível menor de ansiedade. Ozer & Bandura, (1990, p. 145 apud Bandura, 1997) estudaram o duplo controle da ansiedade e do comportamento em mulheres através da eficácia percebida para confrontação e luta, e da eficácia percebida de controle do pensamento, criando um programa de modelação de mestria para o desenvolvimento de habilidades físicas. A modelação de mestria aumentou a eficácia percebida para a confrontação e a eficácia para o controle do pensamento, ao passo que reduziu tanto a vulnerabilidade percebida quanto à emergência de pensamentos aversivos intrusivos e a elevação da ansiedade. A análise de percurso da estrutura causal revelou a existência de dois meios pelos quais a auto-eficácia exerce sua influência: na regulação dos comportamentos de evitação, e no desenvolvimento de comprometimentos ativos. Uma das formas de influência é mediada pelos efeitos da eficácia percebida para a autoproteção com o discernimento de situações de risco e da própria vulnerabilidade. A segunda forma de influência opera através da eficácia percebida de controle cognitivo sobre os pensamentos aversivos intrusivos. Quando as pessoas desenvolvem um forte senso de eficácia para o controle de seus pensamentos, ficam menos sobrecarregadas com os pensamentos negativos e experimentam níveis mais baixos de ansiedade. A geração de um forte senso de eficácia percebida para a confrontação fundamentado no desenvolvimento de habilidades físicas amplia a eficácia percebida para o controle do surgimento contínuo de cognições perturbadoras. A crença de que podemos exercer controle sobre as ameaças potenciais torna mais fácil repudiar os pensamentos aversivos intrusivos. Os benefícios afetivos da eficácia para o controle do pensamento proporcionam uma melhor regulação dos processos conscientes e, através dos seus efeitos, permite a construção de novas cognições. Mas as pessoas também podem exercer controle sobre seus estados afetivos através de formas paliativas sem necessariamente alterarem as fontes ambientais ou cognitivas de estimulação emocional. O auto-relaxamento, os diálogos internos, entretenimentos diversos, e busca de conforto em grupos de apoio são exemplos de formas paliativas para aplacar a ansiedade e abrandar o surgimento da raiva (Meichenbaum & Turk, 1976, p. 151 apud Bandura, 1997; Novaco, 1979, p. 151 apud Bandura, 1997). A crença de que é possível apaziguar os estados emocionais desagradáveis, os torna menos aversivos. Arch (1992a, p. 151 apud Bandura, 1997) dedicou parte de suas pesquisas à compreensão de como as crenças de eficácia pessoal controlam os aspectos afetivos, cognitivos e comportamentais em realizações atribuladas. Esses aspectos incluem a eficácia percebida para a emissão de comportamentos que satisfaçam as necessidades exigidas pelas tarefas a serem cumpridas, o controle de pensamentos de apreensão, e as formas de administrar a angústia que acompanha o processo de desempenho. Cada faceta da eficácia prevê o nível de ansiedade antecipatória. Quanto mais elevado o senso de eficácia, menor a ansiedade. ➔ PROCESSOS DE SELEÇÃO. Mas os estados supra citados não são os únicos a serem influenciados pelas crenças de eficácia pessoal. Até então discutimos como os processos de desenvolvimento de eficácia pessoal podem capacitar as pessoas a lidarem de modo mais positivo com o ambiente que as cerca, controlando-o em certa extensão. Contudo, as pessoas também são produzidas pelas influências ambientais. Portanto, a seleção consciente dos ambientes que freqüentamos também trará consequências para a nossa formação. Nossas escolhas são influenciadas pela eficácia pessoal percebida, ou seja, pela crença que temos na eficácia de nossas capacidades, determinando o tipo de atividades e ambientes que selecionamos e, por conseguinte, nosso estilo de vida. As pessoas tendem a evitar ambientes, atividades e grupos que acreditam exceder as suas capacidades, implicando-se em situações em que se julgam capazes de apresentar bons desempenhos. Logo, quanto mais elevada a auto-eficácia percebida, mais desafiadoras serão as atividades selecionadas (Kavanagh, 1983, p.160 apud Bandura, 1997; Meyer, 1987, p. 160 apud Bandura, 1997). Qualquer fator que possa alterar os comportamentos de escolha também afetará a direção do desenvolvimento pessoal. Isso acontece porque as influências sociais que operam nos ambientes selecionados continuam a promover certas competências, valores, crenças e interesses, mesmo que os determinantes da escolha já tenham sido esquecidos (Bandura, 1986a, p.160 apud Bandura, 1997; Snyder, 1987, p.160 apud Bandura, 1997). Essas escolhas produzem associações interpessoais que promoverão mudanças pessoais duradouras. Quanto mais seletivo o ambiente social escolhido, maiores serão os efeitos no curso de vida individual (Bandura 1982b, p.162 apud Bandura, 1997). O poder das crenças de eficácia pessoal se torna mais claros nas escolhas vocacionais e no futuro desenvolvimento pessoal. As pesquisas conduzidas por Betz e Hackett (1986, p.161 apud Bandura, 1997); Lent e Hackett (1987, p. 161 apud Bandura, 1997) mostraram que as pessoas que apresentam uma auto-eficácia percebida elevada costumam ampliar o leque de carreiras que acreditam poder desempenhar com sucesso. Além disso, mostram um maior interesse, preparando-se educacionalmente com mais empenho, e mostram uma maior capacidade de permanência na carreira escolhida. Portanto, podemos concluir que os processos de desenvolvimento envolvem uma causação bidirecional. As crenças de eficácia pessoal determinam as escolhas de grupos e atividades, e os grupos e atividades escolhidos, por sua vez, moldam a direção do desenvolvimento das crenças de eficácia pessoal. AUTO-EFICÁCIA ACADÊMICA. Ao longo do capítulo 4. procuramos conceituar a auto-eficácia e discorrer sobre sua natureza, seu desenvolvimento, e suas interações com outros constructos psicológicos (Bandura,1997). No subcapítulo 4.6. me atenho à definição específica de auto-eficácia acadêmica. As crenças de eficácia pessoal são multidimensionais, conforme foi explicado. Aqui nos atemos à dimensãoacadêmica, ou seja, à eficácia percebida para o desempenho escolar e para a realização de escolhas, tarefas e objetivos inerentes às atividades acadêmicas. A auto-eficácia acadêmica pode ser definida como a capacidade autopercebida para atingir com sucesso as competências requeridas por uma área educacional específica. Zimmerman (1990, p.228 apud Bandura, 1997) acredita que, com poucas exceções, o maior desafio cognitivo e motivacional que as crianças têm de enfrentar se encontram nas tarefas que envolvem a avaliação de suas próprias capacidades, as quais variam bastante significativamente de pessoa para pessoa dentro de um mesmo ambiente. Conforme acontece em outras áreas, os alunos com graus mais elevados de eficácia desempenham suas tarefas com maior motivação e empenho, também demonstram mais persistência ao serem solicitados a resolver exercícios mais complexos. A eficácia percebida afeta suas escolhas futuras e sua participação em sala de aula. O estudo pioneiro de Collins (1982, p. 214-5 apud Bandura, 1997) citado no subcapítulo 4.5.1. concluiu que as crenças pessoais de eficácia acadêmica apresentavam uma influência independente sobre o desempenho acadêmico, não se limitando apenas a confirmar as capacidades cognitivas, conforme pode ser observado na Figura 2. Figura 2 - Níveis médios de desempenho matemático atingidos por alunos em função de sua capacidade lógico-matemática e de sua auto-eficácia percebida para a resolução de problemas lógico- matemáticos. 70 – 60 – 50 – 40 – 30 – 20 – Auto-Eficácia 10 – Alta 0 – Baixa Baixo Médio Alto Nível de Capacidade . Esse estudo nos leva a concluir que os alunos que não se saem tão bem nos exercícios matemáticos nem sempre o fazem por não possuírem a capacidade lógico-matemática, mas por carecerem de auto-eficácia percebida para a realização da tarefa proposta. A pesquisa de Bouffard- Bouchard (1990, p.215 apud Bandura, 1997), também citada anteriormente no subcapítulo 4.5.1., esclarece como a elevação da auto-eficácia acadêmica altera positivamente o grau de aspirações pessoais e possibilita o desenvolvimento de flexibilidade estratégica para a busca de soluções, o que, por sua vez, favorece tanto a aquisição de um desempenho superior como amplia a capacidade de auto-avaliação de sua performance. Essas constatações evidenciam o papel das crenças de eficácia pessoal nos processos motivacionais e nos processos de cognição de estratégias de suporte. Schunck (1989, p.215 apud Bandura, 1997) estudou os fatores que influenciam a auto- eficácia acadêmica de crianças e o impacto da eficácia percebida no desempenho escolar. Ele conclui que as operações cognitivas de modelação, o ensino de estratégias e as diferentes formas de feedback acerca do desempenho individual exercem uma forte influência sobre a construção das capacidades de auto- avaliação da própria eficácia acadêmica. Ele acrescenta que o uso de incentivos positivos e o estabelecimento de objetivos também atuam como motivadores para o desenvolvimento das habilidades cognitivas acadêmicas. A auto-eficácia percebida desenvolvida pelos jovens nos ambientes educacionais, mais do que em qualquer outro momento, é a chave para o seu sucesso como adultos. Os acontecimentos que marcaram o século XX podem ser classificados como uma corrente incessante de transformações tecnológicas que precisam ser devidamente compreendidas se quisermos nos manter atualizados. Os programas de educação em massa provocaram mudanças profundas no cenário social, os indivíduos agora têm meios de se adaptar às demandas do mercado de trabalho, mantendo-se informados do que se passa no mercado estrangeiro, fazendo uso dos recursos da era da informação. Conforme foi salientado por Bandura (1995), a transição da tecnologia industrial para a tecnologia da informação apresenta grandes implicações no sistema educacional. A nova realidade requer que as pessoas desenvolvam suas competências cognitivas e auto-reguladoras de modo a satisfazerem os complexos papéis ocupacionais e aprendam a administrar as exigências da vida contemporânea, destacando-se, nesse caso, o papel da aprendizagem autodirecionada, ou seja, proporcionar meios aos aprendentes para que aprendam a se educar ao longo da vida. Para mantermos um comportamento flexível que permita a aquisição de novos conhecimentos e a atualização dos antigos, as crenças de eficácia acadêmica pessoal são indispensáveis. O desenvolvimento dessas crenças, conforme já esclarecemos em detalhes nos subcapítulos anteriores, ocorre primariamente no contexto social dos sistemas educacionais. As vantagens do desenvolvimento das crenças de eficácia acadêmica não se restringem à capacitação de eternos aprendentes, mas também à geração de pessoas mais capacitadas para atuar de forma pró-social. As pessoas que apresentam auto-eficácia acadêmica inferior são menos populares, vivenciam a rejeição de seus colegas, tendem a emitir comportamentos mais agressivos, e, portanto, se afastam das atividades e das experiências que poderiam lhes fornecer oportunidades para uma vida futura bem sucedida (Bandura, 1995) Bandura também destaca a importância das crenças de eficácia acadêmica coletivas, capazes de criar um ambiente favorável ao desenvolvimento das competências necessárias a uma excelente aprendizagem. Infelizmente a realidade do momento contemporâneo é repleta de desafios que inibem esse processo. Os cortes orçamentários, a globalização e o multiculturalismo, as comunidades divididas, as alterações da estrutura familiar associadas à queda do respeito pela figura de autoridade do professor; todos esses fatores atuam como redutores da auto-eficácia percebida dos professores. Os professores que acreditam em suas capacidades efetivas de ensino, criam condições em sala de aula para o desenvolvimento de experiências de mestria e de habilidades autodiretivas para os seus alunos. Mas os que não são favoráveis à orientação tutorial só contam com as pressões externas e com as sanções negativas para fazê-los estudar. Lamentavelmente, quanto mais os alunos se sujeitam a condições sócio-econômicas adversas, menor o senso de auto-eficácia acadêmica e menores as suas chances de obterem uma vida acadêmica bem sucedida. Esse processo se traduz no crescente absenteísmo, índice de abandono, e insucesso escolar. Zimmerman (1990, p.228 apud Bandura, 1997), obteve um extenso material sobre a correlação da auto-eficácia acadêmica percebida e o desempenho no domínio lógico-matemático. O resultado desse estudo comprovou que o poder da auto-eficácia percebida excede o da capacidade real e do próprio desempenho. Zimmerman (1990, p.230-3 apud Bandura, 1997) sugere a existência de uma correlação direta entre desempenho e auto-eficácia percebida para os indivíduos que apresentam um baixo desempenho. Essa colocação vale tanto para os alunos do ensino fundamental como para os alunos do ensino médio. Quando a auto-eficácia acadêmica percebida é negativa os efeitos observados são o estressee a ansiedade, acompanhados de perda da motivação e queda no desempenho. Visto que as respostas emocionais sobrepujam os efeitos reais do déficit de capacidade, a solução parece apontar para a elevação das crenças de eficácia acadêmica pessoal de modo a superar os efeitos da ansiedade. ▪ ESCALA DE AUTO-EFICÁCIA ACADÊMICA PERCEBIDA. Os resultados referentes à avaliação da auto-eficácia acadêmica percebida foram coletados através de uma escala de auto-eficácia que foi elaborada segundo os procedimentos e orientações sugeridos por Bandura (1997). Devido à propriedade multidimensional dos sistemas de crença de auto-eficácia, algumas precauções devem ser respeitadas na construção das escalas de auto-eficácia: 1. A escala deve se ater ao julgamento das capacidades requeridas em um determinado domínio de atividade; 2. A escala deve apresentar diferentes níveis de dificuldade de tarefas dentro de um mesmo domínio. 3. As situações apresentadas na tarefa devem ser suficientemente diversificadas. Uma auto-eficácia percebida em um domínio de atividade não pode ser generalizada para outros domínios DiClemente, 1986; Hofstetter, Sallis e Hovell, 1990). Logo, para que a escala de auto-eficácia apresente força preditiva e explanatória, a medida da eficácia pessoal percebida deve se ater ao domínio de funcionamento pesquisado e deve apresentar as gradações de dificuldade dentro deste domínio. A variação da eficácia pessoal percebida é medida diante da dificuldade crescente das exigências propostas pelas tarefas e situações apresentadas nos itens da escala, que, por sua vez, representam os vários graus de desafios e impedimentos para um ótimo desempenho. As condições situacionais remetem às capacidades que serão julgadas pela eficácia percebida. Portanto, ao elaborar a escala de auto-eficácia percebida é necessário desenvolver uma análise conceitual e conhecer em detalhes a área investigada. Os desafios devem ser classificados quanto à engenhosidade, exercício intelectual, precisão, produtividade, ameaça e auto-regulação exigida. Deve ser esclarecido que não está sendo medido o que se acredita que pode ser realizado ocasionalmente, mas o que pode ser realizado regularmente mesmo que em condições dispersivas. Os desafios e impedimentos devem ser retratados de modo a evitar a maximização das respostas. A metodologia padrão para a construção das escalas de auto-eficácia percebida requer que os itens sejam construídos de modo a revelar a força com que os indivíduos crêem em sua eficácia em um dado domínio. Logo, devem ser apresentados em termos de “consigo fazer” e não de “farei” (Bandura, 1997). A escala é construída em uma gradação que varia de 0 a 100 pontos, com intervalos de 10 unidades. O zero representa “não consigo fazer”; o grau intermediário, 50, deve representar “consigo realizar com certa competência”; enquanto que a segurança de competência máxima equivale a 100. Devem ser evitadas as escalas que empregam poucos intervalos por se mostrarem menos sensíveis e confiáveis (Streiner e Norman, 1989). As pessoas são solicitadas a julgarem suas capacidades operacionais tal como acreditam que se encontram no momento, não em suas capacidades potenciais. Há duas formas possíveis de escala de auto-eficácia percebida. A primeira é o formato de julgamento dual, em que primeiramente os sujeitos identificam tarefas que “conseguem fazer” das que acreditam que “não conseguem fazer”. As tarefas que “conseguem fazer” é são classificadas de zero a 100. O segundo formato é o de julgamento simples, em que todos os itens são avaliados de 0 a 100. O modelo desenvolvido neste trabalho é apresentado no Anexo 1. É uma escala de auto-eficácia acadêmica percebida no formato de julgamento simples. Dela constam 20 itens que obedecem rigorosamente as recomendações acima especificadas. Os escores obtidos são somados e dividido pelo número total de itens de forma a indicar a força da auto-eficácia percebida no domínio acadêmico. A validade de conteúdo foi obtida através de entrevistas com profissionais do meio acadêmico e alunos regularmente matriculados. Essas entrevistas buscaram coletar a opinião dos entrevistados acerca dos comportamentos desejados e das tarefas e comprometimentos a que estão sujeitos os indivíduos que se encontram em processo de aprimoramento acadêmico. O coeficiente de consistência interna corrigido, ou coeficiente de Spearman-Brown (rtt’), obtido pela divisão da escala em itens pares e itens ímpares, é elevado (0,933), o que garante que todos os itens do instrumento estejam medindo um mesmo aspecto.