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Doenças de caráter hereditário


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Doenças de caráter hereditário: Epilepsia primária ou idiopática canina
Ana Paula Ramos Borges1, XXXXXXXXXXXXXXXXXX2
Resumo
A epilepsia idiopática ou primaria (EI) é uma infermidade que ocorre devido a fatores genéticos, metabólicos ou ambos, porém desconhecidos e que não são conseqüência de alguma outra doença ou lesão. Com um indice de prevalência estimado de 0,62%, a epilepsia idiopática é uma das mais comuns doenças neurológicas crônicas em cães, geralmente a epilesia Idiopática possui uma transmissão poligênica autossômica recessiva e não possui predisposição sexual relevante. O tipo de crise epileptica mais comum no cão é a Tônico-clônica, que se caracteriza por atividade elétrica anormal do cérebro, provocando episódio súbito com sinais clínicos neurológicos transitórios, como movimentos musculares involuntários, distúrbios sensoriais e / ou consciência alterada, podendo afetar totalmente ou parcialmente o cerebro. 
Introdução
Com um indice de prevalência estimado de 0,62%, a epilepsia idiopática é uma das mais comuns doenças neurológicas crônicas em cães de qualquer raça e incluindo os sem raça definida, mas existem componentes hereditários demonstrados nas raças Labrador retriver, Golden retriver, Bernense e Pastor belga. Geralmente a epilesia Idiopática possui uma transmissão poligênica autossômica recessiva e não possui predisposição sexual relevante.
O encéfalo possui um limiar de excitabilidade ou limiar epiléptico, que é determinado pela genética do paciente e modulado por estímulos ambientais. Esse limiar é, basicamente, caracterizado pelo equilíbrio entre neurotransmissões glutamatérgicas excitatórias e gabaérgicas inibitórias. O desequilíbrio nessa transmissão pode resultar em atividade neuronal anormal, levando à excitação excessiva ou inibição reduzida, o que resulta em crises epilépticas.
Devido a dificuldade na identificação da doença, um levantamento minucioso por meio de questionário ajuda a elucidar o episódio epiléptico e suas características, e no descarte de diferentes etiologias. Dados relevantes como raça, idade, sexo, histórico familiar, peso corporal, alimentação, esquema vacinal, doenças prévias ou em curso, possíveis traumas ou intoxicações e uso de medicamentos, auxiliará na realização de um diagnóstico correto para obter
sucesso no tratamento.
Nome científico e popular da doença
O termo Crise epiléptica é empregado para descrever os sinais clínicos de descargas neuronais hiperssincrônicas, caracterizadas por alterações estereotipadas e paroxísticas motoras ou de comportamento.
Já epilepsia é um distúrbio encefálico caracterizado por alterações no ambiente neuronal que predispõem à ocorrência de crises epilépticas espontâneas e ou quando uma série de crises ocorre sem recuperação de consciência em um período de 30 minutos, denomina-se “status epilepticus”. 
 A epilepsia idiopática ou primaria (EI) é um disturbio neurológico crônico caracterizado por atividade epileptica espontânea e recorrente que inclui todas as desordens convulsivas que não podem ser associadas com patologia microscópica, já a epilepsia sintomática inclui todas as desordens originadas a partir de danos definidos, doenças metabólicas ou anormalidades neuroestruturais. A maioria dos genes de epilepsia conhecidos codificam canais de íons ou proteínas associadas que modificam correntes de membrana controlando a excitabilidade neuronal e o estourar e / ou afetar outras vias de sinalização celular.
Os mecanismos bioquímicos específicos que causam as crises epileptica ainda não são totalmente compreendidos em cães, embora as crises sejam conhecidas como resultado de disfunção na atividade elétrica de áreas específicas do cérebro que provoca desequilíbrio entre as atividades excitatória e inibitória. Existem algumas evidências que sugerem que os processos excitatórios anormais podem ser causados por anormalidades funcionais nos neurônios, especificamente mutações nos canais iónicos que são
essenciais para a função elétrica tais como sincronização e propagação de sinapses. Um gene que possivelmente provoca a epilepsia hereditária foi identificado em cães Lagotto Romagnolo, esse gene é o LGI2, que está relacionado a função dos canais iónicosque provocam a excitabilidade da membrana neuronal e a liberação de neurotransmissores. No cortex cerebral em condições normais a entrada e saída ion provocam perturbação que causão uma hiperexcitabilidade descontrolada. Também existem outras vias neurológicas o que pode levar a um estado de hiperexcitabilidade, de fato, mutações em genes que são envolvidos na plasticidade neuronal, desenvolvimento neuronal ou metabolismo neural, são candidatos potencialmente causadores de epilepsia.
Sinais clínicos 
A maioria das epilepsias caninas tem sido considerada idiopática, ou seja, epilepsia primária de causa desconhecida, mas com predisposição familiar e as crises epilépticas que estão associadas à uma doença de base como neoplasias, distúrbios congênitos, inflamação/infecção do sistema nervoso são caracterizadas como epilepsia sintomática ou secundária. 
As crises epilépticas podem se apresentar agrupadas ou em “cluster”, isto é, quando duas ou mais delas ocorrem dentro de um período de 24 horas, e o animal retoma a consciência e realiza suas funções normais no período entre as crises. Entretanto, algumas crises epilépticas são desencadeadas por anormalidades sistêmicas tóxicas ou metabólicas, que diminuem o limiar de excitabilidade neuronal e devem ser reconhecidas, não como epilepsia, mas sim como crises epilépticas reativas. Portanto nem todo animal que apresente uma única crise epiléptica, necessariamente tem ou vai desenvolver epilepsia. 
Os sinais clínicos da epilepsia idiopática canina se iniciam, mais comumente, entre as idades de seis meses a cinco anos. Se as crises epilépticas começarem fora desta faixa etária, o clínico deve estar alerta para a possibilidade de outras causas prováveis. Muitas raças apresentam predisposição para a epilepsia e se o animal apresenta uma história familiar de crises epilépticas, isto pode fortemente apontar para epilepsia idiopática. 
A crise epiléptica pode ser dividida em cinco estágios principais:
- Pródromo que são alterações comportamentais que ocorrem horas ou dias antes de uma crise epiléptica.
- Aura que é o Início dos sinais sensoriais que antecedem a crise epiléptica. Diferencia-se do pródromo por alterações na eletroencefalografia por um curto período.
- Icto é a crise epilética propriamente dita que possui manifestações variáveis, dependendo da área encefálica acometida e tem duração média de 30-90 segundos.
- Pós icto que são Aalterações comportamentais/neurológicas horas ou dias após uma crise epilética. 
- Interictal é o período entre as crises, em que o paciente já se recuperou e não apresenta mais alterações, como vistas no período pós-ictal. 
As crises também são classificadas em crises focais que originam-se em um dos hemisférios cerebrais e generalizadas ambos os hemisférios cerebrais, simultaneamente, causando sinais simétricos e perda da consciêcnia. A manifestação clínica das crises reflete a localização do foco epileptogênico, podendo apresentar um ou vários componentes motores e/ou sensoriais. As crises epilépticas pode provocar alterações nos componentes motoras da seguinte forma:
- Mioclônica qué é a contração repentina, breve e involuntária seguida de relaxamento de grupos musculares específicos.
- Clônica que é a Mioclonia prolongada e repetitiva que envolve vários
grupos musculares.
- Tônico-clônica, que são contrações musculares sequenciais, que consistem deuma fase tônica, seguida de uma clônica.
- Atônica, que Resulta em uma repentina e curta perda de tonicidade muscular, o que leva o animal a quedas.
Métodos diagnósticos
A identificação e classificação das crises epilépticas nos cães não é uma tarefa simples, pois o veterinário raramente tem a chance de testemunhar o evento em si. Geralmente, depende da veracidade dasobservações e relatos do proprietário. 
O exame de eletroencefalografia confirmaria o evento, entretanto, ainda não é utilizado rotineiramente em neurologia veterinária. Portanto, torna se imprescindível investigar detalhadamente o histórico do paciente, utilizar um questionário que ajude elucidar o episódio epiléptico e suas características, bem como incentivá-lo a registrar em vídeos os episódios em si. 
O conjunto dessas informações, associado com exames clínico-neurológico e laboratoriais é de suma importância para que as crises epilépticas sejam classificadas, já que isto auxiliar o clínico no trabalho investigativo, obtendo assim sucesso no diagnóstico e prescrição do melhor tratamento.
Tratamentos; 
O tratamento deve basear-se, além da terapia antiepiléptica, na elucidação da causa primária, quando ela existir, pois se sabe que a maioria dos fármacos utilizados não possui atividade antiepileptogênica (6). O paciente em status epilepticus deve receber atenção especial e ser tratado com base em alguns critérios que vão desde a estabilização
hemodinâmica até a remissão da crise epiléptica
(6).
A maioria das DAE altera a excitabilidade dos neurônios encefálicos, e reajusta o equilíbrio entre excitação e
inibição para que as crises epilépticas sejam controladas (5,8). Existem vários mecanismos básicos que estão envolvidos na ação das DAE (Figura 1).
Existem muitas drogas antiepilépticas disponíveis para tratamento de cães (Quadro 1), mas, com utilização
apropriada, consegue-se sucesso terapêutico com o fenobarbital e o brometo de potássio, O mecanismo de ação do PB é baseado no aumento da resposta neuronal ao neurotransmissor inibitório ácido gama-aminobutírico (GABA), em seus efeitos antiglutamaérgicos e de inibição do influxo de sódio nos neurônios.
Acredita-se que o brometo seja confundido com cloreto pelo organismo.Assim, o brometo passa pelos canais de cloro no encéfalo e provoca uma hiperpolarização dos neurônios, tornando-os menos propensos para disparar (
Quando o tratamento está sendo corretamente acompanhado e o fenobarbital e o brometo de potássio atingem a concentração sérica ideal, mas não são capazes de conter as crises, novas DAE podem ser utilizadas como terapias adjuvantes
Gabapentina: Gabapentina foi originalmente desenvolvida como um análogo do neurotransmissor inibitório GABA. No entanto, ela não interage com os receptores GABAA ou GABAB e não é um inibidor da absorção ou da degradação do GABA. Seu mecanismo de ação baseia-se em sua ligação a uma subunidade dos canais de cálcio voltagem-dependentes, o que parece aumentar a síntese de GABA
O sucesso na terapia antiepiléptica só será obtido com o manejo adequado do paciente que inclui a escolha correta do fármaco, orientação adequada e cooperação do proprietário, tratamento concomitante da afecção base, quando presente, e mensurações constantes da concentração sérica das drogas (2,6)
Diante disso, antes de se iniciar uma terapia antiepiléptica, deve-se conscientizar os proprietários de que o sucesso não implica em remissão completa dos episódios epilépticos, e que isso dificilmente será alcançado (6). Deve-se ainda frizar que a dose preescrita não deve de maneira alguma ser alterada sem consulta prévia, mesmo quando o animal não estiver apresentando mais crises epilépticas. Ajustes na dosagem e associação com outrosfármacos podem ser necessários para que se obtenha melhor controle.
Profilaxia ou controle.

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