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O pensamento politico moderno (1)

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Bodin
A maioria dos historiadores do pensamento político considera Bodin o primeiro teórico da soberania. Suas principais preocupações estavam concentradas no funcionamento das instituições e na hierarquia do poder civil.
Segundo Bodin, em “Os Seis Livros da República, todo poder de mando pertence ao Estado. Com Bodin, o poder deixa de ser pessoal e passa a ser institucional.
Soberania Medieval
Havia, dentro da lógica da soberania medieval, inúmeras relações ascendentes e descendentes de soberania. Os “superiores” seriam os soberanos em relação aos “inferiores”. Era uma lógica de poder por comparação na qual inexistiam soberanos absolutos.
Soberania em Bodin
Segundo o pensamento de Bodin, a soberania não pode ser compreendida a partir de uma lógica de poder por comparação: A soberania é poder que não reconhece nenhum outro superior. Para Bodin, a relação de poder por comparação seria, em verdade, uma lógica de autoridade. Não há poder soberano superior ao Estado porque o Estado é o único soberano.
Aos olhos de Bodin, existem várias autoridades no Estado (as quais terão autonomia tanto legislativa, quanto decisória). Todas as autoridades, entretanto, estão sujeitas a um poder central, único e indivisível – que possui o monopólio legislativo. Somente tal poder superior legitima uma lei: as autoridades unicamente regem questões particulares.
Existe uma unanimidade por parte dos estudiosos com relação a uma característica específica da soberania: o atributo central do poder soberano é “dizer” o Direito. A legitimidade do Direito agora se configura pela soberania do Estado. Portanto, é o Estado a única instituição capaz de, legitimamente dizer o Direito – por ser a única instituição soberana.
O Estado Moderno
O Estado Moderno é um produto da Idade Média. É a partir do Estado Moderno que nascerão conceitos mais “maduros, técnicos e racionais” acerca das questões do território, do monopólio da forca, da criação jurídica e das instituições políticas. A partir da correta apreensão da magna importância de tais questões, haverá um bom exercício do poder político – o qual não condizia necessariamente a um Estado de ampla justiça.
É a partir do século XVI que entram em discussão os significados, a partir da literatura de Jean Bodin, de povo, de território, de poder soberano e de governante: o “poder do governante” perde grande espaço para a ideia de “poder do Estado”.
Segundo o historiador britânico Quentin Skinner, são quatro as principais características do Estado Moderno:
A distinção entre esferas políticas e morais;
A independência dos reinos de todo e qualquer poder externo;
Inexistência de inimigos internos (autoridade sobre os inimigos internos);
Finalidade da associação política (finalidade política do Estado).
A diferenciação do político e do moral / religioso
Política – Espaço do governo (governo claro e objetivo)
Moral/religião – Espaço do “individual”
O prenuncio da separação entre política e moralidade data de Aristóteles. Dirá o grande filosofo que a polis é um fruto de uma necessidade natural – e não uma necessidade moral.
No período medieval, houve, por parte dos grandes pensadores, uma retomada do aristotélico conceito de sociedade natural dos homens. Antes, a política só serviria para um futuro (metafisico), a exemplo daquele descrito por Santo Agostinho em sua obra “A Cidade de Deus” – houve um relativo esquecimento da ideia de “política por si mesma de Aristóteles. Tal cenário muda com a tradução da literatura aristotélica do grego para o alfabeto latino (e somente com a tradução surge o termo “comunidade política”)
Até a Patrística, a moral / religião e a política em muito se comunicavam: o Estado apresentava uma finalidade moral e religiosa. Quando a Patrística perde força para a Escolástica, há uma revalorização da filosofia de Aristóteles.
Sociabilidade natural -> Comunidade política
Em acordo com Quentin Skinner, o Estado deve ser estudado por uma ciência estadística. No Estado Moderno, a política é desvinculada da moral: a virtude não é mais a principal questão a ser estudada. O poder, no Estado Moderno, é valoroso por si mesmo.
A independência entre os reinos
Em Bodin, o conceito de soberania indica a independência com relação aos poderes externos ao Estado. Os Estados são independentes: são tidos como espécie de entidade.
O Estado não admite nenhum outro poder soberano a ele. O Estado é, por ele mesmo, uma entidade autônoma e soberana.
Bartolo de Sassoferrato (1313-1357) discutiu a polemica questão das cidades de Genova e Veneza. A época, tais cidades eram absolutamente dependentes de outros principados. Genova e Veneza gostariam de se “emancipar” (de não depender de outros principados) para a realização de comercio, em especial com as Índias. Bartolo, jurisconsulto medieval, advogou que as cidades seriam autônomas e não deveriam reconhecer nenhuma outra instituição como a elas soberana. Assim, ambas as cidades poderiam realizar tais comércios por serem juridicamente capazes de se autorregularem: Genova e Veneza apresentariam autonomia e, por isso, não deveriam reconhecer autoridades superiores a elas.
A autoridade estatal frente a inimigos internos
Se o Estado é – de fato – soberano, ele não poderá aceitar nenhum tipo de luta (conflito) interna. O Estado soberano, a título de exemplificação, não tolerara o não cumprimento de suas ordens, alterações políticas a ele desinteressantes e tentativas de revolução de interpendência.
Não importando a situação fática, o Estado não admite “inimigos internos” e, por isso, é o único que apresenta a legitimidade do uso da forca física. Ha a legitimação da forca para encerrar os conflitos internos. O Estado poderia, por exemplo, fazer uso da forca física para colocar fim a uma tentativa de revolução ou a uma tentativa de independência de parte de seu território. Passa a existir, portanto, um fortalecimento das ideias de jurisdição.
A finalidade política do Estado
Dirá este quarto requisito que os fins do Estado devem ser apenas políticos. Faz-se clara a necessidade da secularização estatal: o Estado não deverá definir seus fins com base em diretrizes religiosas.
Antes do Estado Moderno, havia uma legitimidade oriunda de uma vontade divina: as famílias reais eram legitimadas por Deus. Contudo, o Estado Moderno não é religioso em nenhuma perspectiva, porquanto passa a haver uma separação muito mais precisa entre o espaço da fé e o espaço do poder. Os objetivos da política devem ser exclusivamente direcionados a gerência e a administração do Estado.
Com isso, marcara presença uma laicidade derivada de um processo de secularização: o poder soberano do Estado perde a legitimidade divina por não ser mais compreendido como uma manifestação da vontade de Deus. A ideia de secularização, que é o principal requisito de existência do Estado Moderno, ganha força principalmente após a Revolução Francesa.
A inspiração da secularização do Estado surge principalmente com a Reforma Protestante, a qual questionou a jurisdição tanto religiosa quanto estatal. Martinho Lutero (1483-1546), em suas famosas 95 Teses, demarcou aquilo que deveria ou não ser abraçado pela religião.
A Reforma Protestante, a Contrarreforma Católica e o Calvinismo legaram a ideia de que a paz política se desvincula da fé (da paz religiosa). A paz do Estado não dialoga – e não pode dialogar – com nenhuma igreja dialoga apenas com questões meramente políticas). O Estado, por conseguinte, deixa de ser um “Estado de fé” e passa a ser um Estado politicamente soberano.
Quando Bodin estuda a soberania entende, por exemplo, que uma “guerra religiosa” não é uma “guerra de Estado”. Para Bodin, lutas religiosas não se comunicam com lutas políticas. A partir disso, entende-se que um Estado não precisa contribuir para conflitos que envolvam a fé.
Os quatro requisitos anteriormente estudados construirão uma nova lógica de se perceber um Estado.
O governante é legitimo por questões políticas – e não religiosas.
O mundo espiritual não mais guia decisões estatais.
Todasas questões políticas passam a ser centradas nas pessoas – a política se justifica nos indivíduos e não mais em Deus (teses do Humanismo).
Os indivíduos, em seu cotidiano, podem sim ter suas ações guiadas pela religião – mas nunca o Estado.
Passa a existir uma clara definição do governante a qual está desvinculada da fé.
Ha uma centralização da política na figura humana.
A integração e a unificação do poder na pessoa do governante fazem do Estado Moderno uma instituição muito mais autônoma. O poder comum não provirá de nenhuma outra fonte diferente da política. A jurisdição da Igreja não mais se confunde com a do Estado: este tem fins terrestres, enquanto aquela apresenta finalidades metafisicas. O poder do Estado é, pois, unitário, autoritário, concentrado e absoluto.
A ordem do Estado é, assim, um projeto racional – e não um projeto de fé. É um planejamento humano que versa sobre o próprio homem.

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