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Rascunhos de Um Acadêmico de Medicina – Rafael Lessa Textos baseados no livro: Cecil, Tratado de Medicina Interna. Lee Goldman, Dennis Ausiello. Rio de Janeiro. Elsevier 2005. 1 ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO ISQUÊMICO Artéria Carótida Interna: Oclusão da ACI é geralmente silenciosa se o polígono de Willis estiver completo. Como a artéria oftálmica se origina da ACI, os AITs da ACI podem apresentar-se como cegueira mononuclear transitória (amaurose fugaz). Artéria Cerebral Anterior: Fraqueza e déficit sensitivo no membro inferior contralateral. Outras manifestações podem ser incontinência urinária, depressão generalizada da atividade psicomotora (abulia) e afasia motora transcortical, manifestada pela perda da fluência verbal, com preservação da capacidade de repetir. O dano bilateral faz com que o paciente fique mudo, com graves distúrbios do humor e incontinência duradoura por lesão bilateral dos lobos frontais. Artéria Cerebral Média: Tipo mais comum de AVE focal. A oclusão do tronco da ACM costuma causar infarto maciço e devastador de grande parte do hemisfério. Edema com duração de 3 a 4 dias por levar a um aumento acentuado da pressão intracraniana e herniação. Fraqueza contralateral e perda sensitiva na face e no membro superior (poupando relativamente o membro inferior) e hemianopsia homônima no lado da fraqueza; inicialmente, pode haver depressão de consciência e desvio do olhar para o lado da lesão. Em destros, oclusão da ACM esquerda pode causar afasia global. Artéria Cerebral Posterior: Hemianestesia contralateral completa com perda de toda a sensibilidade e hemianopsia completa naquele lado. A visão macular (central) pode ficar poupada devido à irrigação contralateral pala ACM. Pode ocorrer dificuldade oara ler (dislexia) e para realizar cálculos (discalculia). Artéria Vertebral e Basilar: A característica da oclusão da irrigação do tronco cerebral são “síndrome cruzadas” (perda contralateral da força e sintomas sensitivos contralaterais e ipsolaterais selecionados abaixo do nível da lesão mais déficits motores e sensitivos localizando o nível da lesão). As artérias vertebrais são a irrigação principal do bulbo e as conseqüências de sua oclusão são variáveis: vertigens, náuseas, vômitos, ataxia ipsolateral e síndrome de Horner ipsolateral (ptose, miose e diminuição da sudorese, perda ipsolateral de dor facial e sensibilidade térmica e uma perda contralateral destas modalidades sensitivas no tronco e na extremidade. A artéria basilar irriga a maior parte do tronco cerebral e sua obstrução habitualmente é fatal. Os achados de sua oclusão consistem em uma combinação de sinais bilaterais de tratos longos sensitivos e motores, difunção cerebelar e anormalidades dos nervos cranianos: paralisia ou paresia de todas as extremidades e dos músculos bulbares, comprometimento da visão com variadas falhas no campo visual, ataxia cerebelar bilateral e uma variedade de achados sensitivos que vão da normalidade à anestesia geral. Pode ocorrer a síndrome do cativeiro, em que a consciência é preservada, mas as vítimas não são capazes de movimentar nada voluntariamente, exceto olhos e pálpebras. Obs.: Como os AVEs isquêmicos são quase sempre indolores, não acordam o paciente do sino e, muitas vezes, são descobertos na hora normal em que o paciente acorda pela manhã. Há uma certa variação durante o dia para o início do AVC, havendo um pico no final da manhã. A apresentação característica do AVE isquêmico é abrupta, com início indolor de um déficit neurológico. Perde-se a irrigação na distribuição do vaso terminal, e a perda de função começa em segundos. O cérebro não tem receptores para dor em seu parênquima, de modo que os sintomas são indolores, a menos que a dura-máter, que tem fibras dolorosas, seja distendida ou irritada. Um tipo de AVE que pode evoluir lentamente é o hematoma subdural, que pode ser distinguível do AVE isquêmico porque produz déficits mais lentamente. Os AITs não podem ser distinguidos dos AVEs, mas, em geral, resolvem-se até as 2 primeiras horas. Se a hipertensão for manifestação do AVE agudo, a redução agressiva poderá causar hipotensão e aumentar o volume do infarto. A visualização oftalmoscópica de colesterol ou êmbolos de plaquetas e fibrina sugere doença aterosclerótica mais proximal. Se o estado mental do paciente está depressivo, sugerem-se lesões cerebrais bilaterais ou lesão de tronco cerebral. Rascunhos de Um Acadêmico de Medicina – Rafael Lessa Textos baseados no livro: Cecil, Tratado de Medicina Interna. Lee Goldman, Dennis Ausiello. Rio de Janeiro. Elsevier 2005. 2 A glicemia deve ser verificada porque hiperglicemia e hipoglicemia podem produzir déficits neurológicos focais e globais, algumas vezes simulando AVE. A TC sem contraste pode ser normal por 3 a 24 horas após um AVE isquêmico. Pequenos AVEs isquêmicos no tronco cerebral podem induzir grande disfunção neurológica e nem sempre são detectados por TC. As terapias agudas devem ser iniciadas até 3 horas após o início dos sintomas de AVE isquêmico agudo. A terapia trombolítica é único método seguro e eficaz para controle agudo de AVE isquêmico de causa típica (ou seja, aterosclerótico e embólico). O AVE hemorrágico, em geral, não pode ser distinguido definitivamente do AVE isquêmico com base na história ou no exame clínico. As hemorragias primárias costumam ser graves de início e podem apresentar-se com cefaléia e déficits de evolução rápida. Os AVEs isquêmicos normalmente são indolores e se apresentam como déficit fixo ou com um início vacilante, seguido por flutuações de pioras e melhoras. Contudo, podem ocorrer cefaléias em muitos AVEs isquêmicos, e o único modo de distinguir infarto de hemorragia definitivamente é por TC. Há um aumento do risco de embolia pulmonar e trombose venosa profunda em pacientes com AVE isquêmico, particularmente naqueles com déficits neurológicos que produzam imobilidade. Nestes pacientes, recomenda-se a heparina subcutânea profilática em dose baixa ou as heparinas com baixo peso molecular, a menos que haja outras contra-indicações. Causas incomuns de AVE: Mixoma atrial, Vasculite, Hemoglobinopatias, Síndrome da Hiperviscosidade, Distúrbios de Coagulação, Drogas, Dissecção de artéria cervical, Hemocistinúria, Embolia gordurosa e gasosa, Doença de Moyamoya e Trombose de seio venoso cerebral. Prevenção primária: Hipertensão, Estenose Carotídea Assintomática, Doença Cardíaca, Tabagismo, Diabetes Melito, Doença Falciforme, Hiperlipidemia, Obesidade, Nutrição, Álcool e Terapia Hormonal. Prevenção secundária: Todas as reduções de risco recomendadas para a prevenção primária também são recomendadas para os pacientes que tenham tido um AVC ou AIT prévio e sem contra-indicações. Ademais, devem ser consideradas as terapias clínicas e cirúrgicas específicas. ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO HEMORRÁGICO O AVE hemorrágico pode ser difuso (sangramento entre os espaços subaracnóideo ou intraventricular) ou focal (hemorragia intraparenquimatosas). A hemorragia subaracnóidea geralmente é causada por ruptura de vasos na superfície do cérebro ou nos ventrículos ou nas proximidades (aneurismas, malformações vasculares), com sangramento predominantemente para os espaços do líquido cefalorraquidiano (LCR). A hemorragia intracerebral é causada com mais freqüência pela ruptura de artérias no interior da substância cerebral (hemorragia hipertensiva, malformações vasculares), mas não se estende aos espaços do LCR. Ambos os tipos de AVEs hemorrágicos têm taxas de mortalidade altas, dependendo do subtipo e da localização. A prevenção é o pilar da conduto porque não há terapias eficazes para a lesão cerebral induzida por hemorragia. Hemorragia Subaracnóidea: O sintoma clássico de uma hemorragia subaracnóideaé uma cefaléia grave de desenvolvimento muito rápido, tipicamente chamada “a pior dor de cabeça da minha vida” e, algumas vezes, acompanhada por rigidez de nuca. Os aneurismas podem gerar sinais e sintomas prodrômicos, à medida que se expandem gradualmente ou causam vazamentos sentinelas (de aviso) que produzem cefaléia local ou generalizada. Tais cefaléias são freqüentemente graves, podem ser acompanhadas de náuseas e vômitos e podem causar irritação meníngea. A pressão arterial costuma estar elevada e a temperatura corporal geralmente aumenta, particularmente durante os primeiros dias depois do sangramento, pois componentes do sangue subaracnóideo ou de seus produtos de degradação causam meningite química. Ocorre alteração transitória do estado mental em quase metade dos pacientes, particularmente se a pressão arterial exceder a pressão arterial média cerebral. Os pacientes podem continuar em coma por vários dias, dependendo da localização do Rascunhos de Um Acadêmico de Medicina – Rafael Lessa Textos baseados no livro: Cecil, Tratado de Medicina Interna. Lee Goldman, Dennis Ausiello. Rio de Janeiro. Elsevier 2005. 3 aneurisma e da quantidade de sangramento. A hemorragia subaracnóidea aguda causa irritação meníngea, rigidez de nuca e fotofobia, que podem requerer várias horas para se desenvolver. A observação oftalmoscópica revela hemorragias pré-retinianas bem circunscritas e de cor vermelho- vivo, conhecidas como hemorragias sub-hialóides e que se pensa resultarem de hipertensão intracraniana, elevação da pressão venosa da retina e dissecção de sangue ao longo da bainha do nervo óptico. Disfunção neurológica focal geralmente não é uma característica proeminente, a menos que um aneurisma comprima as estruturas cerebrais em volta, um jato de sangue disseque diretamente uma região cerebral clinicamente significativa ou se desenvolva um vasoespasmo subseqüente. Se a TC for normal, mas o índice de suspeita continuar alto para hemorragia subaracnóidea, uma punção lombar geralmente fará o diagnóstico. A angiografia cerebral continua a ser o estudo definitivo para identificar o foco da hemorragia subaracnóidea, em caso de necessidade clínica. Como complicações clínicas pode-se ter: novo sangramento, vasoespasmo, hidrocefalia, crises convulsivas e complicações não neurológicas (hiponatremia e complicações cardiovasculares). Hemorragia Intracerebral Primária: O risco de hemorragia intracerebral em negros é quase 40% maior que em brancos. As taxas ajustadas para a idade para homens são cerca de 50% mais altas que para as mulheres. O fator de risco mais importante para hemorragia intracerebral é a hipertensão, particularmente em pessoas com menos de 55 anos, tabagistas e que têm pouca adesão ao tratamento anti-hipertensivo. O consumo crônico excessivo de álcool também aumenta o risco de hemorragia intracerebral. As anormalidade neurológicas causadas por hemorragia intracerebral não diferem daquelas causadas por AVEs isquêmicos porque a destruição de tecido neural é a base da disfunção neurológica causada por ambas as entidades. Os sinais e sintomas estão relacionados com a localização da lesão. Como o local de hemorragia intracerebral costuma diferir daquele dos AVEs isquêmicos, os padrões característicos de perda neurológica podem associar-se mais freqüentemente à hemorragia intracerebral do que com AVEs isquêmicos. As hemorragias podem crescer à medida que o sangramento continua, enquanto as lesões isquêmicas geralmente não mudam de tamanhos depois da oclusão vascular; em decorrência disto, as hemorragias caracteristicamente determinam perda cada vez maior da função neurológica até que seja atingido um platô, enquanto os AVEs isquêmicos podem flutuar ou permanecer estáticos depois das primeiras fases do AVE. Hemorragias maciças no putâmen: Os pacientes ficam letárgicos ou comatosos em minutos a horas depois do início e, concomitantemente, apresentam paresia contralateral (inclusive da face) com hemianopsia contralateral e paresia do olhar (desvio do olhar para o lado da hemorragia). Hemorragias cerebelares: Inicialmente, poupam o tronco cerebral e a consciência, em geral, é preservada nos primeiros estágios. A cefaléia occipital pode ser o primeiro sintoma. Os achados habituais são marcha instável, ataxia, náuseas e vômitos, que costumam ser graves e repetitivos. Podem estar presentes várias anormalidades dos movimentos oculares. Hemorragias talâmicas: São menos freqüentes. Fazem o paciente perde a consciência de maneira relativamente rápida. Aqueles que sobrevivem costumam apresentar hemiparesia contralateral, déficits sensitivos e hemianopsia homônima. Hemorragias pontinas: Antigamente, produziam coma invariavelmente, mas as imagens modernas detectam hemorragias menores que não são fatais. Em casos graves, os pacientes ficam comatosos, em geral com pupilas muito pequenas, porém detectavelmente reativas. A conduta clínica habitual para hemorragia parenquimatosa aguda é de suporte, sendo os cuidados iniciais direcionados à manutenção das vias aéreas, oxigenação, nutrição, prevenção e tratamento de complicações secundárias. O objetivo do tratamento cirúrgico da hemorragia intracerebral é remover o que for possível do coágulo no prazo mais rápido possível. De maneira ideal, a cirurgia deve remover a causa subjacente, como mal formação artério-venosa, e impedir hidrocefalia. Rascunhos de Um Acadêmico de Medicina – Rafael Lessa Textos baseados no livro: Cecil, Tratado de Medicina Interna. Lee Goldman, Dennis Ausiello. Rio de Janeiro. Elsevier 2005. 4 CASO CLÍNICO1 IDENTIFICAÇÃO: Masculino, 65 anos, branco, natural e residente em Porto Alegre, casado, aposentado, chegou à emergência do Hospital da PUCRS às 7h15min do dia 15/07/2007, trazido por sua esposa em um táxi. QUEIXA PRINCIPAL: falta de força do lado direito e fala arrastada HISTÓRIA DA DOENÇA ATUAL: esposa relata que, no dia 15/12, por volta das 6h30min da manhã, foi acordada por seu esposo, referindo dificuldade para movimentar o lado direito ao acordar para ir ao banheiro. Neste instante, observou que o mesmo estava falando de forma enrolada. O paciente conseguia ficar em pé sem apoio, mas precisava de ajuda para caminhar. Havia também diminuição da força do braço e mão direita, deixando cair objetos. Sua esposa observou que a boca estava puxada para o lado esquerdo. Após ajudá-lo a vestir-se, trouxe-o ao Prontopuc. Quando indagado, o paciente referiu estar com uma cefaléia de leve intensidade, holocraniana, mas sem náuseas. Negou parestesias, alterações visuais ou de deglutição. Foi a primeira vez que aconteceu algo semelhante, exceto por ter apresentado, há poucos meses, episódio de dormências no braço esquerdo, ao acordar, que aliviaram em 2 a 3 minutos. Dia 14/12 tinha apresentado elevação de sua pressão arterial para 160 x 100 mmHg, mensurada por vizinha que é auxiliar de enfermagem. Vinha em uso irregular de propranolol 40 mg, duas vezes ao dia, para o diagnóstico de hipertensão arterial há 10 anos. Sua última consulta cardiológica tinha sido há 6 meses. REVISÃO DOS SISTEMAS: palpitações episódicas tendo negado dor precordial; tosse com relativa freqüência e escarro eventual, transparente; pirose freqüente nos últimos dois meses. HISTÓRIA MÉDICA PREGRESSA: além da história de hipertensão arterial sistêmica, foi identificada, há mais de um ano, dislipidemia para a qual não aceitou a orientação dietética. É fumante há mais de 40 anos, consumindo em torno de 1 carteira de cigarros por dia. Consome álcool de forma moderada apenas em ocasiões festivas. Não pratica exercícios ou esportes. Há 3 anos foi submetido à cirurgia por fratura em fêmur direito após queda, sem complicações pré ou pós operatórias. Prostatectomia há 8 meses por provável hiperplasia benigna de próstata. HISTÓRIA FAMILIAR:mãe com 85 anos de idade, com história de artrose, osteoporose, hipertensão arterial em acompanhamento médico. Pai faleceu aos 68 anos por acidente vascular cerebral. Tem duas irmãs e um irmão sendo que a mais velha, com 67 anos, também tem história de hipertensão arterial. O irmão, com 62 anos, já teve infarto do miocárdio. Tem um tio paterno e outro materno com história de falecimento por câncer. HISTÓRIA PSICOSOCIAL: mora apenas com a esposa em um apartamento de dois dormitórios, na Chácara das Pedras. Tem dois filhos casados, hígidos, um morando em Caxias do Sul e o outro em Canoas. Estudou até o 2º grau e trabalhou como bancário. A renda familiar atual vem de sua aposentadoria, dos trabalhos de sua esposa como costureira e do auxílio dos filhos, quando necessário. Não tem tido grandes dificuldades em manter suas necessidades e da esposa com relação ao seu padrão de vida atual. Passa a maior parte do tempo em casa lendo ou assistindo televisão, mas gosta de visitar os filhos e seus dois netos, e, eventualmente, irmãos e alguns amigos. É católico, mas não praticante. Tem resistência ao uso de medicamentos e consultas aos médicos. Tem consciência que não vinha cuidando adequadamente de sua saúde. IMPRESSÃO DO PACIENTE: paciente mostrou-se um informante confiável, assustado com o seu problema atual (risco de vida) e indicando desconforto pelo desleixo com sua saúde. Preocupado com as conseqüências do seu problema para consigo, esposa e família. Parece ter potencial para aceitar as orientações médicas a partir deste momento. EXAME FÍSICO No setor de emergência do HSL foram observados os seguintes sinais vitais: Pressão arterial: 200/100 mmHg FC: 104bpm, irregular FR: 20 mrpm Ta: 36,9 oC Peso e altura: não mensurados. Bom aspecto geral com estado nutricional e de hidratação adequados. Alerta e cooperativo. Sem anormalidades significativas perceptíveis em pele, anexos, gânglios linfáticos, cabeça, olhos, ouvidos, nariz, boca, orofaringe e pescoço. 1 Caso clínico dado em aula Rascunhos de Um Acadêmico de Medicina – Rafael Lessa Textos baseados no livro: Cecil, Tratado de Medicina Interna. Lee Goldman, Dennis Ausiello. Rio de Janeiro. Elsevier 2005. 5 O exame do aparelho respiratório mostra aumento do diâmetro anteroposterior da caixa torácica, amplitude pulmonar normal, bilateral, sem frêmito, com diminuição do murmúrio vesicular e roncos bilaterais. Ao exame do aparelho cardiovascular não foi palpado ictus, as bulhas eram hipofonéticas, ritmo irregular, sem sopros. Sem turgência jugular. Pulsos periféricos femorais e carotídeos palpáveis e simétricos. Presença de sopro à ausculta carotídea direita. Extremidades sem cianose ou edema. Sem anormalidades identificáveis no exame do abdômen e músculoesquelético. Ao exame neurológico: Fundoscopia: KWII. Isocórico com reflexos fotomotores presentes. Paralisia facial central à direita. Sem alterações significativas nos demais pares cranianos. Disartria. Tônus muscular preservado bilateralmente. Hemiparesia direita com força muscular grau 3-4 (MRC) em membro superior, com fraqueza predominantemente extensora, e grau 4-5 em membro inferior, com fraqueza predominantemente flexora. Reflexos profundos simétricos, observando-se cutâneo-plantar extensor à direita. Equilíbrio: Romberg com queda para direita. Coordenação: prejudicada pela redução de força à direita. Marcha hemiparética à direita. Sem alterações de sensibilidade. Sem sinais meningo-radiculares. Linguagem adequada, sem dispraxias ou agnosias. Orientado no tempo, espaço e pessoa. Sem deficits de memória imediata ou recente. Mini-exame do estado mental: 28 pontos. Escala de Coma de Glasgow: 15 pontos. Escala de Rankin Modificada: 4 pontos. OBJETIVOS A partir da história e exames clínico e neurológico discutir: a) Hipóteses diagnósticas. Acidente vascular encefálico isquêmico, uma vez que os sintomas foram percebidos ao acordar e o paciente não despertou com a cefaléia. A apresentação característica do AVC isquêmico é abrupta, com início indolor de um déficit neurológico. O cérebro não tem receptores para dor em seu parênquima, de modo que os sintomas são indolores, a menos que a dura-máter, que tem fibras dolorosas, seja distendida ou irritada. b) Diagnóstico diferencial, topográfico e Fisiopatogênico. Diagnóstico diferencial: 1) AITs: os AITs não podem ser distinguidos dos AVCs, mas em geral resolvem até as duas primeiras horas; 2) enxaqueca: com ou sem aura pode simular AVC ou AIT devido a uma hemiparesia ou outros déficits focais associados. A enxaqueca é, primariamente, uma cefaléia unilateral, latejante e sensivelmente incômoda que, algumas vezes, tem aura de estocomas cintilantes; 3) crise convulsiva: muitas crises convulsivas produzem atividade motora tônica ou clônica ou fenômenos sensitivos. AVCs e AITs produzem paresia e hipoestasia sem ações motoras involuntárias. As crises convulsivas, algumas vezes, podem produzir estes sintomas negativos, particularmente no estado pós-ictal depois de crises não-observadas; e 4) hiperglicemia e hipoglicemia podem causar déficits neurológicos focais. A maioria dos pacientes tem história de diabetes, e a anormalidade de glicose é substancial no momento dos déficits neurológicos focais. Diagnóstico topográfico: obstrução da artéria cerebelar média esquerda, tendo em vista que o paciente apresenta hemiparesia no membro superior direito (hemiparesia contra lateral), disartria (afasia de expressão). O quadro clássico de oclusão do tronco da ACM é fraqueza contralateral (neste caso, hemiparesia direita) e perda sensitiva (aqui, paralisia facial central à direita) e no membro superior, poupando relativamente o membro inferior. Diagnóstico fisiopatogênico: a presença de sopro carotídeo é um forte indicativo de doença aterosclerótica, possivelmente agravada pelo hábito de vida do paciente (HAS e dislipidemia sem tratamento contínuo e eficaz, tabagismo e sedentarismo). A aterosclerose é a causa mais comum de AVCs, seja por formação de trombos murais – com obstrução local-, por lesão ou ulceração da placa aterosclerótica - o coágulo formará trombos que embolizarão distalmente - ou por hemorragia intraluminar no local da placa – em que o sangue coagulado obstrui a artéria. Rascunhos de Um Acadêmico de Medicina – Rafael Lessa Textos baseados no livro: Cecil, Tratado de Medicina Interna. Lee Goldman, Dennis Ausiello. Rio de Janeiro. Elsevier 2005. 6 c) Plano de investigação complementar. Há necessidade de se fazer teste hematológicos para verificação da contagem de plaquetas e hemácias e pesquisar trombocitose, endocardite bacteriana e anemia grave. Além disso, avalia-se a velocidade de hemossedimentação para verificar estados hipercoaguláveis e a glicemia. ECG a fim de se verificar possíveis causas formadoras de trombos, como fibrilaçãao atrial, IAM e ICC. TC sem contraste para descartar AVC hemorrágico, uma vez que a fase inicial do AVC isquêmico dificilmente será observada por TC. Angiografia cerebral fica reservada para pacientes com suspeita de uma lesão cirúrgica corrigível. d) Manejo terapêutico geral inicial. A terapia trombolítica é o único método seguro e eficaz para controle agudo do AVC isquêmico de causa típica (ou seja, aterosclerótico e embólico). e) Terapêutica específica. Além das indicações preventivas primárias (deixar de fumar, tratar HAS e dislipidemia e praticar exercícios físicos), há necessidade de prevenções secundárias com a utilização de antiplaquetários como AAS e Clopidogrel. Se a ultrassonografia com Doppler colorido revelar elevada obstrução da artéria carótida direita – acima de 50% -, deve-se indicar endarterectomia.
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