Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Capítulo 3 CONJUNTOS ABERTOS, FECHADOS E FRONTEIRA 3.1 Introdução Definição 3.1. Sejam r > 0 e x0 ∈ Rn. A bola aberta de centro x0 e raio r é denotada por B(x0, r) e definida por: B(x0, r) = {x ∈ Rn/‖x− x0‖ < r}. Se n = 2; x0 = (x0, y0) e x = (x, y); logo ‖x− x0‖ = √ (x− x0)2 + (y − y0)2: B(x0, r) = {(x, y) ∈ R2/(x− x0)2 + (y − y0)2 < r2} B(x0, r) é o "interior"de um círculo centrado em (x0, y0) e raio r, ou equivalente- mente, o conjunto dos vetores no plano de origem em (x0, y0) e norma menor que r. Neste caso, o conjunto B(x0, r) é chamado disco aberto de centro (x0, y0) e raio r. B(x,r) x0 0y r (x ,y )00 Figura 3.1: Disco aberto. Analogamente, se n = 3; x0 = (x0, y0, z0) e x = (x, y, z): B(x0, r) = {(x, y, z) ∈ R3/(x− x0)2 + (y − y0)2 + (z − z0)2 < r2} 69 70 CAPÍTULO 3. CONJUNTOS ABERTOS, FECHADOS E FRONTEIRA B(x0, r) é o "interior"de uma esfera "sólida"centrada em (x0, y0, z0) e raio r, ou equi- valentemente, o conjunto dos vetores no espaço de origem em (x0, y0, z0) e norma menor que r. B(x,r) r x Figura 3.2: Bola aberta. Observe que em ambos os casos a desigualdade é estrita. 3.2 Conjuntos Abertos Definição 3.2. A ⊂ Rn é dito aberto em Rn se para todo x ∈ A, existe B(x, r) tal que B(x, r) ⊂ A. A Figura 3.3: Conjunto aberto. Estes conjuntos são a generalização natural de intervalos abertos em R. Por defini- ção, o conjunto vazio e Rn são conjuntos abertos em Rn. Exemplo 3.1. [1] Pela definição, {x} não é aberto em Rn, pois toda bola ou disco aberto de centro x não está contido em {x}. Em geral, os conjuntos do tipo {x1, x2, x3, ....., xn /xi ∈ R n} não são abertos. [2] R "pensado"como a reta {(x, 0) /x ∈ R} ⊂ R2 não é aberto no plano, pois qual- quer disco aberto centrado em (x, 0) não está contido em R. 3.3. CONJUNTO FRONTEIRA 71 x Figura 3.4: Exemplo [2]. [3] A = (a, b) × (c, d) é aberto em R2. De fato, para todo (x, y) ∈ A, a < x < b e c < y < d, denote por ε omenor número do conjunto {|x−a|, |x−b|, |y−c|, |y−d|}, onde | | é a distância entre números reais. Então, por exemplo, considerando r = ε6 , temos, B((x, y), r) ⊂ A. Logo A é um conjunto aberto. A c d a b Figura 3.5: Exemplo [3]. [4] A = R2 ⊂ R3 não é aberto no espaço, pois qualquer bola aberta centrada em (x, y, 0) não está contida em R2. [5] B(x0, r) é um conjunto aberto. De fato, denotando por d(x,y) a distância entre os pontos x, y em Rn, se x ∈ B(x0, r) então d(x,x0) < r; tomando r1 = r − d(x,x0) < r, temos: B(x, r1) ⊂ B(x0, r). Será útil dar um nome especial para um conjunto aberto que contenha um ponto dado x. A tal conjunto chamaremos de vizinhança do ponto x. 3.3 Conjunto Fronteira Definição 3.3. Seja A ⊂ Rn. Um ponto x ∈ Rn é dito ponto da fronteira ou do bordo de A se toda vizinhança de x intersecta A e Rn −A. 72 CAPÍTULO 3. CONJUNTOS ABERTOS, FECHADOS E FRONTEIRA A x Figura 3.6: Bordo de A. Denotamos o conjunto dos pontos da fronteira do conjuntoA por ∂A. Um conjunto é aberto se A ∩ ∂A = φ. Exemplo 3.2. [1] Se A = B(x, r) então ∂A = {y/d(x,y) = r}; logo o conjunto C = {y/d(x,y) ≤ r} não é aberto. A C Figura 3.7: Exemplo [2]. [2] SejaA = {(x, y) ∈ R2/x > 0}; este conjunto corresponde ao primeiro e ao quarto quadrantes sem incluir a reta x = 0 e é aberto no plano; de fato, seja (x, y) ∈ A e escolhamos r = x > 0; se (x1, y1) ∈ B((x, y), r) temos: |x− x1| = √ (x− x1)2 ≤ √ (x− x1)2 + (y − y1)2 < r = x. Logo x1 > 0 e B((x, y), r) ⊂ A; note que ∂A = {(0, y)/y ∈ R}. 3.4. CONJUNTOS FECHADOS 73 Figura 3.8: Exemplo [2]. 3.4 Conjuntos Fechados Definição 3.4. Um conjunto A ⊂ Rn é dito fechado em Rn se ∂A ⊂ A. Exemplo 3.3. [1] Rn é também um conjunto fechado. [2] A = {(x, y) ∈ R2/x2 + y2 < r2, r > 0} não é fechado, pois sua fronteira é : ∂A = {(x, y) ∈ R2/x2 + y2 = r2, r > 0}. Logo ∂A 6⊂ A. [3] O sólido W = {(x, y, z) ∈ R3/x2 + y2 + z2 ≤ r2, r > 0} é fechado pois sua fronteira é: ∂W = {(x, y, z) ∈ R3/x2 + y2 + z2 = r2, r > 0}. Logo ∂W ⊂W . Em geral, todos os sólidos são fechados. [4] A = [a, b] × [c, d] é um conjunto fechado, pois ∂A é o retângulo formado pelas retas x = a, x = b, y = c e y = d. Nos próximos parágrafos apresenteremos uma caracterização mais eficiente dos conjuntos abertos e fechados. 74 CAPÍTULO 3. CONJUNTOS ABERTOS, FECHADOS E FRONTEIRA Capítulo 4 LIMITES E CONTINUIDADE 4.1 Limites Seja f : A ⊂ Rn −→ R uma função e x0 ∈ A ∪ ∂A. Intuitivamente, x0 ∈ A ∪ ∂A significa que se x0 não pertence a A deve estar arbitrariamente "próximo"deA. Definição 4.1. O limite de f quando x aproxima-se de x0 é L quando para todo ε > 0, existe δ > 0 tal que x ∈ B(x0, δ) ∩A implica |f(x)− L| < ε. Notação: lim x→x0 f(x) = L Equivalentemente, limx→x0f(x) = L quando para todo ε > 0, existe δ > 0 tal que: 0 < ‖x− x0‖ < δ, implica em |f(x)− L| < ε. Se n = 2: Consideramos x = (x, y), x0 = (x0, y0) e o vetor x− x0 = (x− x0, y − y0) a norma do vetor x− x0 é: ‖x− x0‖ = √ (x− x0)2 + (y − y0)2. Usamos a seguinte notação: lim (x,y)→(x0,y0) f(x, y) = L Se n = 3: Consideramos x = (x, y, z), x0 = (x0, y0, z0) a norma do vetor x− x0 é: ‖x− x0‖ = √ (x− x0)2 + (y − y0)2 + (z − z0)2. Usamos a seguinte notação: lim (x,y,z)→(x0,y0,z0) f(x, y, z) = L 75 76 CAPÍTULO 4. LIMITES E CONTINUIDADE Exemplo 4.1. Verifique que lim (x,y)→(1,2) (x+ 2 y) = 5. De fato: |x+ 2 y − 5| = |x− 1 + 2 (y − 2)| ≤ |x− 1|+ 2 |y − 2| ≤ √ (x− 1)2 + (y − 2)2 + 2 √ (x− 1)2 + (y − 2)2 ≤ 3 ‖(x, y) − (1, 2)‖. Dado ε > 0, seja δ = ε3 ; ‖(x, y)− (1, 2)‖ < δ implica em |x+ 2 y − 5| < 3 δ = ε. Logo: lim (x,y)→(1,2) (x + 2 y) = 5. As propriedades dos limites são análogas às dos limites de funções de uma variável e suas provas seguem diretamente da definição. Teorema 4.1. Seja f : A ⊂ Rn −→ R uma função. Se o limite de f quando x aproxima-se de x0 existe, então ele é único. Este teorema permite fazer simplificações no cálculo de limites. Proposição 4.1. Sejam f, g : A ⊂ Rn −→ R, x0 ∈ A ∪ ∂A e c ∈ R, tal que lim x→x0 f(x) = L e lim x→x0 g(x) = M , então: 1. lim x→x0 c f(x) = c · L, 2. lim x→x0 (f(x) + g(x)) = L+M, 3. lim x→x0 (f(x) · g(x)) = L ·M, 4. lim x→x0 f(x) g(x) = L M se M 6= 0. 5. Em particular, se P = P (x) é um polinômio de várias variáveis: lim x→x0 P (x) = P (x0). 6. Se f(x) = P (x) Q(x) é uma função racional: lim x→x0 P (x) Q(x) = P (x0) Q(x0) , se x0 ∈ Dom(f). Do teorema, podemos concluir que se duas curvas passam pelo ponto de abcissa x0 e originam valores diferentes para o limite de uma função quando restrita às curvas, então o limite da função quando x se aproxima de x0 não existe. Veja o exemplo [2]. 4.1. LIMITES 77 Exemplo 4.2. [1] Calcule lim (x,y)→(0,0) x3 + 2x2 + x y2 + 2 y2 x2 + y2 . Analogamente ao procedimento adotado no cálculo de limites de funções de uma variável, temos: x3 + 2x2 + x y2 + 2 y2 = (x + 2)(x2 + y2), logo: lim (x,y)→(0,0) x3 + 2x2 + x y2 + 2 y2 x2 + y2 = lim (x,y)→(0,0) (x + 2) = 2. [2] Calcule lim (x,y)→(0,0) 2x y x2 + y2 . Observemos que f é definida em R2−{(0, 0)}. Consideremos o seguinte família de retas que passam pela origem: y = k x; f calculada para y = k x é f(x, kx) = 2k 1 + k2 e: lim (x,kx)→(0,0) f(x, k x) = 2 k 1 + k2 . Figura 4.1: Exemplo [2]. Logo, sobre cada reta que passa pela origem, f tem um valor constante, mas que depende do coeficiente angular k, de cada reta. O limite da função f depende do percurso do ponto (x, y) quando ele tende à origem. Por exemplo, considere k = 0 e k = 1. Como o limite de f , se existe, é único, podemos afirmar que o limite de f no ponto (0, 0) não existe. 78 CAPÍTULO 4. LIMITES E CONTINUIDADE -0.1 -0.05 0 0.05 0.1 -0.1 -0.05 0 0.050.1 Figura 4.2: Curvas de nível e o gráfico de f . [3] Calcule lim (x,y)→(0,0) x2 y x4 + y2 . Sejam a reta y = 0 e a parabóla y = x2. Então, f(x, 0) = 0 e: lim (x,0)−→(0,0) x2y x4 + y2 = 0. Por outro lado, f(x, x2) = 12 e: lim (x,x2)−→(0,0) x2y x4 + y2 = 1 2 . Logo, o limite não existe. Veja as curvas de nível do G(f): -1 -0.5 0 0.5 1 -1 -0.5 0 0.5 1 Figura 4.3: Curvas de nível e o gráfico de f . [4] Calcule lim (x,y)→(0,0) sen(x2 + y2) x2 + y2 . Do cálculo em uma variável sabemos que lim x−→0 sen(x) x = 1. Logo, para todo ε > 0, existe δ > 0 tal que 0 < |x| < δ < 1, implica ∣∣sen(x) x − 1∣∣ < ε. Por outro lado se v = (x, y), então ‖v‖2 = x2 + y2 e: lim (x,y)→(0,0) sen(x2 + y2) x2 + y2 = lim v→0 sen(‖v‖2) ‖v‖2 ; 4.1. LIMITES 79 se 0 < ‖v‖ < δ, então 0 < ‖v‖2 < δ2 < δ pois 0 < δ < 1, e |f(v)− 1| = ∣∣sen(‖v‖2)‖v‖2 − 1 ∣∣ < ε. Logo, lim (x,y)→(0,0) sen(x2 + y2) x2 + y2 = 1. Observemos que as curvas de nível e o gráfico de f são bem "comportados"numa vizinhança de (0.0). -1 -0.5 0 0.5 1 -1 -0.5 0 0.5 1 Figura 4.4: Curvas de nível e gráfico, respectivamente. [5] Calcule lim (x,y)→(0,0) x2 y x2 + y2 . A função f é definida em R2 − {(0, 0)}. Consideremos a família de retas y = k x; f calculada em y = k x é f(x, k x) = k x 1+k2 . Logo: lim (x,y)→(0,0) x2 y x2 + y2 = lim (x,kx)→(0,0) k x k2 + 1 = 0. Mas, isto não nos garante que o limite: lim (x,y)→(0,0) f(x, y) = 0. Temos que utilizar a definição de limite. De fato, como x2 ≤ x2 + y2 e |y| ≤√ x2 + y2, temos: ∣∣∣∣ x2yx2 + y2 ∣∣∣∣ = x2 |y|x2 + y2 ≤ (x 2 + y2) √ x2 + y2 x2 + y2 = √ x2 + y2, Tomando δ = ε, concluimos que ∣∣∣∣ x2 yx2+y2 ∣∣∣∣ < ε, se 0 <√x2 + y2 < δ. Portanto, lim (x,y)→(0,0) x2 y x2 + y2 = 0. 80 CAPÍTULO 4. LIMITES E CONTINUIDADE A seguir, apresentaremos uma observação e um algoritmo para verificar a não exis- tência de um limite, gentilmente cedidos pela Professora Patrícia Nunes da Silva do Departamento de Análise do IME-UERJ. Consideremos o seguinte exemplo: lim (x,y)→(0,0) f(x, y) = lim (x,y)→(0,0) x3 x2 + y . É fácil verificar que: x3 x2 + y tende a zero, se nos aproximamos da origem ao longo de retas ou curvas do tipo y = xk. No entanto, o limite acima não existe. Para determinar uma curva segundo a qual o valor do limite de f quando (x, y) se aproxima da origem seja diferente de zero, devemos proceder do seguinte modo: i) Procuramos uma curva da forma y(x) = α(x)− x2 com α(x) 6= 0. Temos: f(x, y(x)) = f(x, α(x)− x2) = x 3 α(x) . Como queremos nos aproximar da origem, a escolha de α(x) deve ser tal que: lim x→0 y(x) = lim x→0 (α(x)− x2) = 0. Por outro lado, desejamos que x 3 α(x) não se aproxime de zero. Por exemplo, se α(x) = x3, temos: lim (x,y)→(0,0) f(x, x3 − x2) = lim (x,y)→(0,0) x3 x3 = 1. ii) Agora, vamos generalizar esta idéia. Devemos calcular o limite de uma função f quando (x, y) se aproxima de um ponto (x0, y0) e encontramos várias curvas ao longo das quais a função tende a zero. Sabe- mos que a função é dada pelo quociente de duas funções que se anulam em (x0, y0), isto é: lim (x,y)→(x0,y0) f(x, y) = lim (x,y)→(x0,y0) p(x, y) q(x, y) , tal que p(x0, y0) = q(x0, y0) = 0. Além disso, a função q = q(x, y) se anula ao longo de uma curva γ(x) que passa pelo ponto (x0, y0) e, nesta curva, p = p(x, y) só se anula no ponto (x0, y0). Isto é: γ(x0) = y0, q(x, γ(x)) = 0 e p(x, γ(x)) 6= 0, para todo x 6= x0. Para encontrar uma curva ao longo da qual a função f não tende a zero devemos proceder do seguinte modo: 4.1. LIMITES 81 i) Procuramos uma curva da forma y(x) = γ(x) + α(x) com α(x) 6= 0. ii) Avaliamos a função f(x, γ(x) + α(x)). iii) Analisamos a função f(x, γ(x) + α(x)) a fim de determinar uma expressão con- veniente para α(x). Exemplo 4.3. Verifique que lim (x,y)→(0,0) x3 + y3 x− y não existe. Considere p(x, y) = x3 + y3, q(x, y) = x− y e p(0, 0) = q(0, 0) = 0. i) Seja γ(x) = x, γ(0) = 0, q(x, γ(x)) = 0, p(x, γ(x)) = 2x3 6= 0 se x 6= 0. Seja y(x) = x+ α(x) com α(x) 6= 0. ii) Por outro lado: f(x, x+ α(x)) = x3 + (x + α(x))3 x− x− α(x) = x3 + (x + α(x))3 −α(x) = − x3 α(x) − (x+ α(x)) 3 α(x) . Seja α(x) = x3; logo: f(x, x+ x3) = −1− (1 + x2)3 e: lim (x,y)→(0,0) f(x, x+ x3) = −1− 1 = −2. Figura 4.5: Projeção do G(f), no plano xy. 82 CAPÍTULO 4. LIMITES E CONTINUIDADE 4.2 Continuidade Seja A ⊂ Rn e f : A ⊂ Rn −→ R uma função. Definição 4.2. f é contínua em x0 ∈ A quando: 1. lim x→x0 f(x) existe 2. lim x→x0 f(x) = f(x0) Equivalentemente, f contínua em x0, quando para todo ε > 0 existe δ > 0 tal que se: ‖x− x0‖ < δ, então |f(x)− f(x0)| < ε. Definição 4.3. Dizemos que f é contínua em A se f é contínua em cada x0 ∈ A. Exemplo 4.4. [1] Se P = P (x) é uma função polinomial de várias variáveis, então P é contínua em qualquer ponto do Rn. [2] A seguinte função não é contínua na origem: f(x, y) = { 2x y x2+y2 se (x, y) 6= (0, 0) 0 se (x, y) = (0, 0). De fato: lim (x,y)→(0,0) f(x, y) = lim (x,k x)→(0,0) 2 k k2 + 1 = 2 k k2 + 1 isto é, o limite não existe pois depende de k; logo, f não é contínua. [3] A seguinte função é contínua na origem: f(x, y) = { x2y x2+y2 se (x, y) 6= (0, 0) 0 se (x, y) = (0, 0). De fato: lim (x,y)→(0,0) x2y x2 + y2 = f(0, 0) = 0. Veja os desenhos da curvas de nível e gráfico de f , respectivamente: 4.2. CONTINUIDADE 83 -1 -0.5 0 0.5 1 -1 -0.5 0 0.5 1 Figura 4.6: Exemplo [3]. [4] A função f(x, y) = arctg (y x ) não é contínua no conjunto A = {(0, y)/ y ∈ R}. Veja o gráfico e as curvas de nível de f : -0.2 -0.1 0 0.1 0.2 -0.2 -0.1 0 0.1 0.2 Figura 4.7: Exemplo [4]. As propriedades das funções contínuas são análogas às das funções contínuas de uma variável. Suas provas seguem diretamente da definição. Proposição 4.2. Sejam f, g : A ⊂ Rn −→ R funções contínuas no ponto x0. Então: 1. f + g e f · g são contínuas em x0. 2. Se f(x0) 6= 0 então 1 f é contínua em x0. As provas seguem da definição. Exemplo 4.5. [1] As função elementares são contínuas nos pontos onde estão definidas. [2] As funções racionais nos pontos onde os polinômios do denominador não se anulam, são contínuas. [3] A função f(x, y) = x3 + y x2 + 1 é contínua em R2. 84 CAPÍTULO 4. LIMITES E CONTINUIDADE Proposição 4.3. Sejam f : A ⊂ Rn −→ R uma função contínua no ponto x0 ∈ A e g : I ⊂ R −→ R uma função tal que f(A) ⊂ I de modo que g ◦ f esteja bem definida. Se g é contínua em f(x0), então g ◦ f é contínua em x0. A prova segue da definição. Exemplo 4.6. [1] A função f(x, y, z) = (x2 + z2 + y4)4 + sen(z2) é contínua em R3. A função f é a soma de duas funções contínuas: f1(x, y, z) = (x2 + z2 + y2)4 e f2(x, y, z) = sen(z 2). f1 é a composta da função h(x, y, z) = x2 +z2 +y2 e g(u) = u4, ambas contínuas e f2 é a composta de h(x, y, z) = z2 e g(u) = sen(u), também contínuas. [2] A função h(x, y, z) = (x2 + z2 + y4)4 + sen(z2) x2 + y2 + z2 é contínua em R3 − {(0, 0, 0)}. De fato, escrevendo: h(x, y, z) = f(x, y, z) g(x, y, z) , onde f é a função do exemplo anterior e g(x, y, z) = x2 + y2 + z2 que é contínua e não nula, exceto na origem. Pela propriedade ii) temos que h é contínua em A = R3 − {(0, 0, 0)}. [3] A função f(x) = ‖x‖ = √ x21 + x 2 2 + ....... + x 2 n é contínua para todo x ∈ Rn. Em particular: f(x1, x2, x3, ....., xn) ≥ √ x2i = |xi|, para todo x ∈ Rn. [4] Seja ~v = (x, y), então: ∣∣∣∣ x2 yx2+y2 ∣∣∣∣ ≤ ‖~v‖2 ‖~v‖‖~v‖2 = ‖~v‖. Como lim ~v→~0 ‖~v‖ = 0 temos lim (x,y)→(0,0) ∣∣∣∣ x2 yx2 + y2∣∣∣∣ = 0 e lim(x,y)→(0,0) x 2 y x2 + y2 = 0. [5] Determine o valor de A para que a seguinte função seja contínua: f(x, y) = sen( √ x2+y2)√ x2+y2 se (x, y) 6= (0, 0) A se (x, y) = (0, 0). Seja ~v = (x, y); então, lim (x,y)→(0,0) sen( √ x2 + y2)√ x2 + y2 = lim ~v→~0 sen(‖~v‖) ‖~v‖ = 1; logo, A = 1. A seguinte proposição não será provada, pois ela decorre de um teorema, que fica fora do contexto destas notas. 4.3. EXERCÍCIOS 85 Proposição 4.4. Seja h : Rn −→ R uma função contínua; então: 1. A = {x ∈ Rn / 0 < h(x)} é aberto em Rn. 2. F = {x ∈ Rn / 0 ≤ h(x)} é fechado em Rn. 3. ∂A = {x ∈ Rn /h(x) = 0}. Exemplo 4.7. [1] Os planos em R3 são conjuntos fechados. De fato, considere: h(x, y, z) = ax + b y + c z − d. A função h é contínua em R3. [2] O sólidoW = {(x, y, z) ∈ R3/x2 + y2 + z2 ≤ r2, r > 0} é um conjunto fechado. De fato, considere: h(x, y, z) = x2 + y2 + z2 − r2. A função h é contínua em R3 e pela proposiçãoW é fechado. [3] A parábolaA = {(x, y) ∈ R2/y = x2} é um conjunto fechado. De fato, considere: h(x, y) = y − x2. A função é contínua em R2 e pela proposição A é fechado. 4.3 Exercícios 1. Utilizando as propriedades de limite, calcule: (a) lim (x,y)→(0,1) x3y (b) lim (x,y)→(0,1) exy (c) lim (x,y)→(0,0) xy x2 + y2 + 2 (d) lim (x,y)→(0,0) sen(xy) xy (e) lim (x,y)→(1,1) ( x3y + y3 + 3 ) (f) lim (x,y)→(0,0) sen2(xy) (xy)2 (g) lim (x,y)→(1,1) ln(|1 + x2 y3|) (h) lim (x,y,z)→(1,2,6) (1 x + 1 y + 1 z ) 2. Verifique se os limites das seguintes funções dadas existem no ponto (0, 0): (a) f(x, y) = x2 x2 + y2 (b) f(x, y) = x3 + y3 x2 + y (c) f(x, y) = 6x2y2 + 2xy3 (x2 + y2)2 (d) f(x, y) = x2y2 x3 + y3 (e) f(x, y) = x3 + y3 (x2 + y)2 (f) f(x, y) = x4 + 3x y2 x2 + y2 86 CAPÍTULO 4. LIMITES E CONTINUIDADE 3. Verifique que os limites das seguintes funções existem se (x, y) → (0, 0): (a) f(x, y) = x3 + y3 x2 + y2 (b) f(x, y) = xy√ x2 + y2 4. Verifique que: (a) lim (x,y)→(0,0) 1− cos(√x y) x = 0 (b) lim (x,y)→(0,0) sen(x2 + y2) 1− cos(√x2 + y2) = 2 5. Verifique que: lim x→0 ( lim y→0 x2 x2 + y2 ) 6= lim y→0 ( lim x→0 x2 x2 + y2 ) . 6. Seja: f(x, y) = x sen (1 y ) se y 6= 0 0 se y = 0. . Verifique que: (a) lim (x,y)→(0,0) f(x, y) = 0 (b) lim x→0 ( lim y→0 f(x, y) ) 6= lim y→0 ( lim x→0 f(x, y) ) . 7. Discuta a continuidade das seguintes funções: (a) f(x, y) = xy√ x2 + y2 se (x, y) 6= (0, 0) 0 se (x, y) = (0, 0). (b) f(x, y) = x2y x4 + y2 se (x, y) 6= (0, 0) 0 se (x, y) = (0, 0). (c) f(x, y) = x+ y x2 + y2 se (x, y) 6= (0, 0) 0 se (x, y) = (0, 0). (d) f(x, y) = x3 + y3 x2 + y2 se (x, y) 6= (0, 0) 0 se (x, y) = (0, 0). (e) f(x, y) = x3 y3 x2 + y2 se (x, y) 6= (0, 0) 0 se (x, y) = (0, 0). (f) f(x, y) = sen(x+ y) x+ y se (x, y) 6= (0, 0) 2 se (x, y) = (0, 0). 4.3. EXERCÍCIOS 87 (g) f(x, y, z) = x z − y2 x2 + y2 + z2 se (x, y, z) 6= (0, 0, 0) 0 se (x, y, z) = (0, 0, 0). 8. Usando a composição de funções, verifique que as seguintes funções são con- tínuas: (a) f(x, y) = √ x2 + y2 (b) f(x, y) = xy x2 + y2 + 1 (c) f(x, y) = √ x4 + y4 + 1 (d) f(x, y) = sen(x2y + y2x) (e) f(x, y) = sen(xy) x2 + y2 ; x, y 6= 0 (f) f(x, y) = cos3(xy3) (g) f(x, y) = 1√ 3− sen(xy) ; x, y 6= 0 (h) f(x, y) = sech3(xy3) (i) f(x, y, z) = ln( √ x2 + y2 + z2 − 1) (j) f(x, y, z) = 1 x2 − y2 − z + 1 9. Calcule o valor de a para que a função f(x, y) = x2 y2√ y2 + 1− 1 se (x, y) 6= (0, 0) a− 4 se (x, y) = (0, 0), seja contínua. 88 CAPÍTULO 4. LIMITES E CONTINUIDADE
Compartilhar