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Cobertura midiática das ocupações estudantis no Paraná

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AS OCUPAÇÕES DE ESTUDANTES SECUNDARISTAS NAS ESCOLAS ESTADUAIS DO PARANÁ: UMA ANÁLISE A PARTIR DA COBERTURA DO JORNAL “GAZETA DO POVO”.
RESUMO
O presente artigo visa expor a cobertura midiática acerca das ocupações das escolas estaduais do Paraná pelos estudantes secundaristas, propondo um recorte a partir dos materiais produzidos pelo jornal de maior circulação no Estado (Gazeta do Povo), no período de 03 a 24 de outubro de 2016. Nesse período foram realizadas ocupações de mais de 700 escolas, envolvendo inúmeros alunos da rede pública de ensino e apoiadores, o que gerou grande mobilização da sociedade, com posicionamentos favoráveis e contrários ao movimento, retratados diariamente pelos meios de comunicação. Portanto, a proposta desse trabalho é analisar a suposta “neutralidade” das informações reproduzidas pelos veículos de comunicação impressos, a forma de abordagem das reportagens jornalísticas (termos utilizados e significados) e o modo como estas influenciaram a opinião pública e possíveis tomada de posição em relação às ocupações. Para fundamentar a pesquisa, foi utilizada uma revisão bibliográfica acerca da história dos movimentos estudantis no Brasil e das categorias participação e mobilização social. Também recorrermos à pesquisa documental a partir das matérias jornalísticas (online) produzidas no referido período, que foram organizadas e classificadas conforme as categorias analíticas, de acordo com os “achados” nos enfoques dado pelas reportagens. Em contraponto as matérias, foi realizada uma pesquisa de campo amostral com alunos, familiares e professores que se posicionaram favoráveis e contrários ao movimento de ocupação das escolas e a forma como eles perceberam as matérias veiculadas pela mídia. Entendemos a relevância desse debate diante do atual contexto político vivenciado no país, onde há uma tendência à criminalização dos movimentos sociais ligados a juventude e um retrocesso em relação aos avanços sociais conquistados historicamente pela população. 
Palavras chaves: mídia, ocupações, Sociedade, Estado, juventude.
DA ORIGEM DOS MOVIMENTOS ESTUDANTIS NO BRASIL AO MOVIMENTO “OCUPA PARANÁ”
Desde o inicio do século XXI os movimentos estudantis lutam pela melhoria da educação pública e de qualidade no país, pelos direitos dos jovens e pela democracia no Brasil. 
A consolidação de uma entidade nacional unificada que representasse os estudantes brasileiros se deu em 11 de agosto de 1937. A União Nacional dos Estudantes (UNE) “passou a se organizar em congressos anuais e a buscar articulação com outras forças progressistas da sociedade” (UNE, 2016) 
Já a fundação da União Nacional dos Estudantes Secundaristas - UNES, ocorreu em 25 de julho de 1948, composta por representantes de várias regiões do país. A UNES teve sua inauguração marcada pelo 1o Congresso Nacional dos Estudantes Secundaristas, no Rio de Janeiro. No ano de 1949, a entidade é renomeada em seu 2º. Congresso, passando a ser agora para, União Brasileira dos Estudantes Secundaristas/ UBES. 
Entre os anos 50 e 60, os movimento estudantis ganharam ainda mais força, os estudantes conquistaram um papel de protagonistas no campo da luta popular. Mesmo sob o comando de militares que, através da Lei Suplicy de Lacerda tornou os movimentos estudantis ilegais. 
Nas décadas seguintes o movimento estudantil foi ampliando sua autonomia e se firmando na luta juntamente com outras entidades pertencentes a movimentos sociais que reivindicavam outras demandas societárias.
A UNE volta a atuar com legalidade no ano de 1985, após ter sido aprovado um projeto de autoria do ex-presidente da UNE Aldo Arantes, pelo Congresso Nacional.
Após o fim da ditadura, “o movimento estudantil voltou às ruas para defender suas bandeiras históricas e a consolidação da democracia no país.” (UNE, 2016) e teve importante participação nos movimentos das “Diretas Já”, “Fora Collor”, entre outros.
 - As Mobilizações de 2013 e o movimento do “Passe livre”.
Em junho de 2013, o movimento estudantil teve participação direta nas mobilizações que ficaram marcadas na história do país, pela luta em busca de direitos sociais e de mudanças na estrutura da sociedade. 
A UNE desenvolveu estrategicamente lutas como “a desmilitarização da Polícia Militar no Brasil e da reforma política no país, com o fim do financiamento de empresas a campanhas como principal reivindicação.” (UNE, 2016).
Em 2014 os estudantes secundaristas lutam contra a redução de verbas para educação, em defesa dos avanços sociais, da Petrobras, da ampliação de direitos e por reformas populares, e pela não redução da maioridade penal. 
Atualmente, os estudantes secundaristas estão lutando contra as reformulações conservadoras do Ensino Médio, pelo aumento da democracia, o fim do racismo, da homofobia, e do machismo em espaço escolar além da busca por uma assistência estudantil de qualidade.
E essa luta, apesar de unificada, acontece com algumas particularidades em cada Estado da Federação, como veremos a seguir.
O MOVIMENTO “OCUPA PARANÁ”
A Educação pública no Estado do Paraná vem sofrendo constantes ataques com sucateamento da infraestrutura das escolas estaduais, a redução de recursos financeiros para custeio das universidades públicas, o confisco dos recursos previdenciários de professores e demais funcionários estaduais, dentre outras violências institucionalizadas, que culminaram no “Massacre do Dia 29 de abril de 2015”, que teve repercussões em todo país e até mesmo no exterior: por conta do Projeto de Lei 252/2015 que promovia mudanças no Paraná Previdência, com o saque pelo Governo de 1,9 bilhões de reais, os professores ocuparam sistematicamente durante os meses de fevereiro a abril, a Assembleia Legislativa do Paraná aonde as votações vinham ocorrendo. Nas manifestações contra o saque do recurso das aposentadorias dos servidores, houve muito confronto com a polícia militar. Os professores, alunos e demais funcionários públicos acabaram sendo atingidos por balas de borracha, spray de pimenta, gases e bombas de efeito moral jogadas por helicópteros, deixando mais de 300 feridos.
No ano de 2016, as greves continuaram pelo não cumprimento da lei que prevê o reajuste anual dos salários do funcionalismo público. Os sindicatos das escolas estaduais (APP) e das Universidades Públicas deliberam novamente por mobilizações e pela greve geral dos professores no Estado, com forte apoio dos estudantes.
Paralelo ao contexto paranaense, em 2016 no cenário nacional ocorre o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, golpe articulado pela mídia tradicional, por segmentos políticos conservadores e pelas elites brasileiras. 
O Governo de Michel Temer, que assume a Presidência após o “Golpe” contra a democracia, inicia um processo rápido de desmonte de direitos sociais, que repercute negativamente nas diferentes políticas públicas construídas historicamente. 
Na Educação dois grandes projetos mobilizaram professores e estudantes contra os ataques ao Ensino Público: primeiro a Medida Provisória 746/2016 que prevê a Reforma no Ensino Médio, alterando a Lei de Diretrizes de Bases e Educação e a segunda é o Projeto de Ementa Constitucional/ PEC-241 (55) que limita os gastos sociais, congelando por 20 anos os investimentos em educação, saúde, assistência social entre outras políticas públicas. 
A MP 746/2016, altera os questões essenciais do ensino público, como instaura a escola em tempo integral obrigatório para o ensino médio, aumentando a carga horária de ensino; restringe a obrigatoriedade do ensino de Artes, Educação Física, Geografia e História, Sociologia e Filosofia.
A justificativa governamental é que os alunos teriam as principais matérias como obrigatórias: Matemática, Inglês e Português, essenciais para a entrada do jovem no mercado de trabalho e que poderiam “escolher” outras matérias que iriam cursar. A concepção dada sobre o ensino retira a obrigatoriedade de outras matérias e impossibilitará um olhar e pensamentocrítico e diferenciado dos alunos, o que os tornaria menos protagonistas na sociedade (GOMES, 2016).
Contraditoriamente a PEC-241 (55) não permite os investimentos necessários à reformulação proposta no Ensino Médio, mostrando que uma Educação Pública de qualidade não é prioridade para o Governo atual.
Assim, motivados por essas duas propostas de lei e, frente ao contexto do Estado do Paraná, onde o governo não cumpriu a Lei Salarial que previa o reajuste do funcionalismo público em 2016, os sindicatos dos professores das Universidades e Escolas públicas Estaduais deliberam novamente pela greve, como forma de pressão pela não redução de seus direitos trabalhistas.
Nesse contexto o movimento estudantil secundarista inicia o Movimento Ocupa Paraná (2016), que se configurou como um dos maiores movimentos unificados de luta pelo direito a uma Educação pública e de qualidade. Em outubro de 2016 iniciam-se as ocupações das escolas estaduais em todo o Estado, com enfoque principal: nas medidas que foram encaminhadas pelo governo Temer em relação às mudanças no Ensino Médio e a PEC-241 (55). 
Mais de 90% de todas as ocupações do país foram realizadas no Estado no Paraná. Ao total mais de 700 escolas estaduais foram ocupadas, envolvendo inúmeros alunos da rede pública de ensino e apoiadores, o que gerou grande mobilização da sociedade, com posicionamentos favoráveis e contrários ao movimento, retratados diariamente pelos meios de comunicação. 
Os estudantes pressionaram o governo onde exigiam a voz ativa no debate sobre a reforma do Ensino Médio. 
As ocupações são formas legitimas de protesto, mobilização e de luta pela ampliação ou manutenção dos direitos estudantis e sociais. 
Nas escolas ocupadas, ocorreram atividades em parcerias com alunos e voluntários, professores que apoiam as ocupações, através de projetos de extensão universitária; oficinas, atividades culturais e informações sobre as discussões que estão em pauta, além de outros temas como igualdade de gênero, etnia, racismo, homofobia, dentre outros. 
Ocorreu uma gestão democrática e igualitária, com muita participação dos estudantes do movimento. Todos os dias uma atividade diferente era feita nas escolas e também foram organizados coletivamente os horários para café da manhã, almoço e jantar, limpeza dos espaços físicos. Escolas foram reformadas pelos alunos, que aproveitava o tempo nas ocupações para pintar carteiras, limpar jardim, etc.
O movimento passou a contar com a participação de pais que se preocupavam com o tempo e como os filhos iriam passar as noites nos colégios, com professores estudantes de quase todos os cursos das Universidades Estaduais que trabalhavam como um grupo de apoio aos estudantes. Campanhas de doações de alimentos foram realizadas, bazares solidários e voluntários se prontificaram para ir até o local ver se estava tudo bem ou até mesmo para se informar sobre as ocupações.
Houve toda uma mobilização dos estudantes, professores para organização das oficinas, das atividades realizadas, e o apoio das Universidades Estaduais, com quase todos os cursos a disposição e dos projetos de extensão. Foram organizadas a cada dia, reuniões deliberativas e informativas sobre o que estava se passando. Uma enorme coletividade e participação dos alunos para a limpeza geral das escolas, as refeições. Existiu de fato uma total cumplicidade de todos que aderiram as ocupações. Estudantes das Universidades fizeram uma cobertura jornalística alternativa, apoiaram a criação de blogs e páginas do Facebook, dando visibilidade ao movimento. 
Se por um lado muitos entenderam o real motivo das ocupações, apoiaram e se colocam à disposição para dar suporte aos alunos nos protestos, a mídia oficial por sua vez, reforçou em muitas reportagens a visão de que os estudantes eram “baderneiros ou um bando de desocupados”, que estavam atrapalhando as atividades escolares e, nem sabiam nem os reais motivos de estarem participando do Movimento “Ocupa Paraná”. 
O RETRATO DAS OCUPAÇÕES: ANÁLISE DAS REPORTAGENS DO JORNAL GAZETA DO POVO (ONLINE)
Trabalhamos com as 10 reportagens que foram produzidas do período de 03 a 24 de outubro de 2016 do Jornal Gazeta do Povo (online) buscando compreender a abordagem jornalística sobre as ocupações nos colégios do Paraná. O objetivo é analisar a suposta “neutralidade” das informações reproduzidas pelos veículos de comunicação impressos, o enfoque da cobertura das reportagens (termos utilizados e significados) e o modo como estas influenciaram a opinião pública e possíveis tomada de posição em relação às ocupações. 
É importante salientar que tais veículos de comunicação expressam opiniões favoráveis ou contrarias a determinado assunto, dependendo do interesse em impactar a opinião pública para aceitar ou refutar temas da atualidade.
De acordo com o Jornal Gazeta do Povo, o primeiro colégio ocupado foi o Padre Arnaldo Jansen, no dia 03 de outubro, localizado em São José dos Pinhais região metropolitana de Curitiba. Alguns detalhes trazem informações sobre o movimento e a ocupação.
Cerca de 30 estudantes de diversas instituições ocupam, desde a noite desta segunda-feira (3), as instalações do Colégio Padre Arnaldo Jansen, em São José dos Pinhais. A ocupação foi definida, segundo os estudantes, sem a liderança de um movimento específico, após um debate realizado na última sexta-feira (30). No encontro, de acordo com Mariana da Silva Gomiela, 16, uma das alunas que ocupam a escola, se reuniram cerca de 400 estudantes de 27 das 30 escolas estaduais de São José dos Pinhais. Nesse debate, além da ocupação, ficou também definido que na próxima sexta-feira (5) será realizada uma passeata (GAZETA DO POVO, 2016).
Alguns dias depois da primeira reportagem, no dia 07/10//2016 a reportagem é intitulada como “6 fatos que os estudantes das ocupações não sabem”. O foco da reportagem é enfatizar a expressão de que os adolescentes “não sabem” o real motivo que se encontravam nas ocupações. Foram feitas entrevistas com alguns estudantes, os quais demonstravam em algumas respostas que aparentemente desconheciam a MP 746/2016. Itens abordados pela reportagem:
1. Eles acham que os alunos que trabalham não vão poder mais estudar porque em curto prazo as escolas serão de tempo integral. 2. Alguns acreditam que o Enem vai acabar. 3. Eles acham que a medida provisória da reforma do ensino médio (MP 746) já começou a ser adotada nos colégios 4. Alguns estudantes disseram que estavam ocupando a escola porque queriam escolher as matérias que vão estudar. 5. Alguns alunos acreditam que as escolas técnicas serão privatizadas. 6. Eles acham que a ideia da reforma é do governo recém-formado por Michel Temer. (GAZETA DO POVO, 2016).
Para amenizar a crítica ao desconhecimento dos estudantes, o Jornal traz a resposta de uma estudante na qual ela diz: “Como o governo Temer pensa em uma mudança dessas do dia para noite?”, perguntou uma menina na ocupação de uma escola de Ensino Médio, com a concordância dos colegas”. Mas na reportagem também é enfatizado que as ocupações são realizadas por questões partidárias, visto que a estudante, em sua fala cita o nome do Presidente da República. 
No dia 08/10/2016 a reportagem fala sobre “Ocupação chega a 50 colégios em 15 cidades no Paraná” e enfatiza que quatro campus universitários também aderiram a mobilização: Toledo, Marechal Rondon, Cascavel e a Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste). Segundo o “Ocupa Paraná” no dia 13 do mesmo mês eram 300 escolas ocupadas. A reportagem ainda aborda a fala da Secretária de Estado e Educação do Paraná (SEED) que afirma que cerca de 170 mil estudantes estão sem aula no Estado. 
No dia 13/10/2017 duas reportagens foram publicadas uma intitulada como “Ocupações atingem 20% das unidades com ensino médio no Paraná”, e a outra “Secretário de Richa diz que ocupações ameaçam Enem; MEC desmente.” A segunda reportagem afirma que em sua página do Facebook. O presidente da Casa Civil Valdir Rossini, informa que asocupações tendem a prejudicar a realização do Enem no Paraná. Já o Inep, instituto responsável pela aplicação do exame, informou em uma nota que “Caso alguma escola onde será realizado o exame esteja ocupada nos dias das provas, o INEP tomará as medidas necessárias para garantir que nenhum inscrito no exame seja prejudicado", diz a nota do Jornal.
Na reportagem do dia 14/10/2017 a reportagem relata “O caráter pedagógico da ocupação nas escolas”, o autor da reportagem evidencia Paulo Freire com uma frase: “Em tempos que se debate a “escola sem partido”, os estudantes estão retomando a premissa freireana de que a “educação é um ato político". Essa reportagem é uma das poucas reportagens do período que traz os aspectos positivos das ocupações nas escolas trazendo essa luta por um ensino, fazendo dela um ato político. 
As ocupações das escolas estão cheias de ações pedagógicas significativas que levam de fato ao aprendizado. Evidenciam que o ensino é mais que conteúdo, que é arte, é política, é direito e, mais importante, faz-se com os sujeitos que a compõem e não é feito “para” eles. Os estudantes organizados buscam parcerias com a sociedade civil e evidenciam que há possibilidade de formação continuada com instituições até então distantes da vida escolar – mesmo as universidades, que teriam essa função. Artistas, estudiosos ou simples cidadãos passam a se integrar com as escolas públicas, o que é extremamente saudável para a vida escolar. E mais do que tudo isso: com suas práticas, os estudantes mostraram que a escola pode ser diferente dos modelos que estão estabelecidos. E a participação popular, estudantil e social é uma ferramenta indispensável para fazer uma escola melhor. (MARTINS, GAZETA DO POVO 2016).
No dia 17/10/2016 a reportagem “Após atingirem 600 escolas, ocupações chegam ao Núcleo Regional de Educação.” fala que, além das ocupações das escolas, o Núcleo Regional de Educação de Laranjeiras do Sul (PR) também é ocupado. “Segundo a Secretaria de Estado da Educação (SEED), a equipe da regional buscou diálogo, mas não houve êxito negociações”. (GAZETA DO POVO, 2016). Também Em Pato Branco um grupo de indígenas ocupam o Núcleo Regional de Educação, dos quais protestam contra a MP 746/2016 e a PEC 241/2016. 
Nas reportagens do dia 19/10/2017 dois temas bastante opostos foram escritos um que fala sobre: “Estudantes do Paraná cogitam suspender ocupações nos dias do Enem” e outro que fala sobre: “Movimentos “antiocupação” brigam por espaço em escolas e universidades do PR.” 
Com o suposto cancelamento do ENEM nas escolas paranaenses veiculado pela mídia, os estudantes que estavam ocupando as escolas cogitaram a suspensão das ocupações nos dias da realização do Enem. 
A outra reportagem traz a presença do movimento antiocupação que, segundo a reportagem, não se sente representado pelo Movimento Ocupa Paraná. O que a reportagem não diz é que os alunos estão sem aulas também devido à greve dos Professores no estado.
No dia 24/10/2017 a notícia que chegava as mãos dos leitores: “Adolescente é encontrado morto dentro de escola ocupada em Curitiba” trazendo a história de um aluno foi encontrado morto dentro do banheiro no Colégio Estadual Santa Felicidade. O “Ocupa Paraná” divulgou uma nota de pesar pela morte do estudante e afirmou que não vai culpabilizar ninguém pelo ocorrido. “Neste momento queremos apenas prestar solidariedade à família, que perde um dos seus para o ódio, para a intolerância e para a violência”, diz a nota. De acordo com o Ocupa Paraná o adolescente era aluno do Colégio Estadual Santa Felicidade, mas não participava da ocupação, tinha ido ao colégio para participar de uma atividade no período da tarde. A reportagem não traz muitos detalhes sobre a morte do aluno, tendo em vista que a ainda iniciaria as investigações e consequentemente maiores informações serão abordadas posteriormente. 
A mídia teve seu papel importante em relação às ocupações, ela informou os motivos das ocupações, mesmo que por diversas vezes seu conteúdo demonstrou que os alunos que participavam do Movimento “Ocupa Paraná” estavam sendo “manipulados” por questões partidárias e ideológicas. Nas 10 reportagens escolhidas para a análise apenas em uma delas sentimos que foi enfatizado o real motivo dessa luta que é por uma educação libertária e de qualidade, não uma educação que somente prepare para o mercado de trabalho.
ANÁLISE DAS ENTREVISTAS REALIZADAS
Em contraponto as noticias veiculadas pela mídia, em especial as reportagens do Jornal Gazeta do Povo do período das ocupações, realizamos uma pesquisa de campo com uma pequena amostra dos sujeitos que vivenciaram esse contexto. Elaboramos um questionário que foi aplicado a pais, professores e alunos em relação ao movimento de ocupação das escolas. O questionário foi estruturado com perguntas abertas, a identificação (opcional), idade, cidade, com enfoque no objeto de estudo: a percepção dos mesmos sobre o movimento de ocupação, conforme segue:
Como você avalia as ocupações nas escolas?
Quais os impactos (positivos ou negativos) desse movimento?
Qual seu conhecimento sobre as medidas, que levaram ao movimento de ocupação das escolas? Esta justificativa é aceitável? 
Como você avalia a cobertura da Mídia, em relação ao movimento de ocupação das escolas?
Foi aplicado o número de 32 questionários para estudantes, pais e professores das escolas dos estaduais de Castro e Ponta – Grossa, sendo estabelecida a proporção de acordo com o número de pessoas identificadas dispostas a responder os mesmos. O contato ocorreu por internet ou pessoalmente, conforme a acessibilidade dos autores aos sujeitos da pesquisa.
Quadro 1 – Sujeitos da pesquisa
	ALUNOS
	%
	PAIS
	%
	PROFESSORES
	%
	22 
	68,6%
	05
	15,7%
	(05) =15,7%
	15,7%
Fonte: Pesquisa de Campo
Org.: autores (2016)
Desta maneira, sistematizamos as respostas mais relevantes das categorias analisadas, preservando a identidade dos respondentes. Apenas identificamos se pertenciam a categoria aluno/a, pai/mãe ou professor/a. 
Buscamos compreender como se relacionou os diferentes posicionamentos frente ao movimento de ocupação das escolas, de modo que possibilitasse estabelecer uma distinção dos agentes envolvidos de acordo com suas avaliações. 
4.1 Avaliação das ocupações nas escolas
As declarações em relação ao movimento de ocupação se relacionam no que se refere ao aprendizado político dos sujeitos envolvidos, como também da sua importância enquanto movimento de mobilização social, que coloca o jovem como protagonista do processo, consciente do seu papel aproximando a comunidade escolar que estava a favor, de outras entidades da sociedade civil. 
Aluno: “Acredito ser motivo sim de fazer ocupações, porém vários alunos estavam fazendo essas ocupações sem ao menos saber os motivos, muitos não estavam levando a sério a verdadeira razão da ocupação, e infelizmente muitos ficavam felizes por não ter aula”. 
Professor: “As ocupações nas escolas foi um momento importante para levar a reflexão das políticas públicas para educação e como ela interfere no processo de aprendizagem, momento também de ver os jovens fazendo parte ativamente da política e lutando por uma educação de qualidade.
Pai: “Avalio de forma positiva, minha filha estava participando das ocupações, estive junto com ela no colégio que ela estudava, o pessoal estava com várias atividades, organizado.”
Porém ainda, conforme declarado muitos dos que estavam participando do movimento não sabiam os reais motivos de estarem fazendo parte de uma mobilização social. Isso nos faz refletir sobre o papel da educação do jovem hoje nas salas de aula, e ainda como está sendo o incentivo a educação política destes jovens fora da escola.
4.2 - Os impactos (positivos ou negativos) do Movimento.
É pertinente analisarmos as declarações que dizem respeito aos impactos do movimento de ocupação das escolas, o que nos permite compreender posicionamentos distintos que expressão os sujeitos quetiveram envolvidos de acordo com suas determinações de agentes no processo.
Professor: “Positivo: alunos discutindo os mais variados temas dentro das ocupações, estudantes entendendo que as escolas são realmente deles, organização do movimento que pode ser visto dentro ou fora das escolas. Negativos: Falta de diálogo das autoridades com os estudantes e a tentativa da mídia e dos governantes de desmoralizar o movimento de estudantes.”
Aluno: “O primeiro de vários reflexos das ocupações estudantis foi a relação do aluno com a escola, tanto com o corpo físico do espaço onde estuda, já que durante o período que ficou ali foi o aluno que cuidou, limpou, cozinhou, dando valor a esses aspectos no dia a dia que seguiu após as ocupações; também com a forma de se estudar, uma vez que voluntários que levaram palestras, debates, oficinas, mostraram que há formas além dos moldes clássicos e padronizados que somos inseridos em sala de aula. O aumento da consciência política levou a criação de associações estudantis e do engajamento dos alunos em outras já existentes. A relação dos professores, principalmente aqueles que acompanharam as ocupações, com alunos e assuntos antes tabu em sala de aula como feminismo, LGBT, reforma agrária, mas que forma trabalhados nos colégios ocupados também teve uma mudança perceptível.”
Pai: “Não vejo pontos positivos de um bando de adolescentes estarem invadindo os colégios e deixando quem realmente quer estudar fora da escola”.
Nas declarações apresentadas, percebemos que tanto quem se mostrava a favor quanto contra ao movimento de ocupação das escolas, ou percebe pontos positivo e negativos, ou foca em pontos específicos (positivos ou negativos). Muitos declaram o aspecto pedagógico das ocupações no que concerne um espaço de debate reflexivo, sobre os mais variados temas presentes na agenda contemporânea realizados por voluntários de diversos seguimentos de estudo e realidades vividas, ainda a relação que se estabeleceu entre aluno e professor, em um processo de emancipação política e aprendizagem recíproca de ambos. O reconhecimento de outras formas de manifestação que gerem menos transtorno, que não sejam as ocupações também é apontado, como uma alternativa de resposta contra as medidas do governo pelas quais os estudantes lutavam. 
A diversidade de posturas ideológicas e posicionamentos sobre o movimento de ocupação das escolas que se constitui em ataques diretos (seja pela forma verbal ou física, ou até mesmo pelas redes sociais) é apontado por ambos os lados como fator de acirramento entre as partes envolvidas (favoráveis e contrários às ocupações), o que ocasionou inclusive, na perda de muitos laços de amizade. 
- Conhecimento sobre as medidas, que levaram ao movimento das ocupações.
Este eixo tem por objetivo analisar o conhecimento dos sujeitos envolvidos no movimento de ocupação das escolas, sobre as medidas legislativas que motivam as ocupações, e como as compreendem.
Aluno: “A reforma do ensino médio. É interessante a negação, afinal os colégios não estão prontos para compactar com tal lei, porém, há outras maneiras menos prejudiciais de protestar.”
Professor: “As medidas que levaram os estudantes a ocupar as escolas foram a Reforma do Ensino Médio e o teto de gastos para a área da saúde e educação. Totalmente aceitável, pois foram medidas impostas sem preocupação de debater com a sociedade os impactos de tais medidas.”
Pai: “Ouvi dizer que é contra mudanças no ensino médio, meu filho está participando as ocupações, então eu apoio. É um bom menino.”
Diante das declarações, percebemos uma dualidade de posicionamentos. Primeiramente devemos apontar que no decorrer do processo do movimento de ocupações, que foi ganhando grande proporção, muitos dos que estavam participando, até mesmo como fator de auto justificação buscaram saber os reais motivos de estarem ali, estudando as medidas, através de palestras, debates, vídeos, entre outros meios de informação. Outro fator evidente é que muitos sejam favoráveis ou contrários ao movimento conhecem ou desconhecem as medidas, seus impactos e objetivos.
Muitos favoráveis apontam as medidas como extremamente negativas pela incompatibilidade entre a MP 746 e a PEC 241 ou (55), outros se mostram indiferentes, declarando estarem no último ano, que não acarretaria problema nem um (a si mesmos). Outros não sabiam responder, declarando não possuir conhecimento sobre as medidas, que possibilitasse um parecer justo.
– Avaliação da cobertura da Mídia, em relação ao movimento de ocupação das escolas.
Dentro desse eixo de analise onde temos a mídia como foco, é fundamental nos atermos às variações determinantes do processo de ocupação, como inicio do movimento, momento de aumento diário de escolas ocupadas no Paraná, e casos esporádicos de grande repercussão.
Professor: “A mídia desqualificou o movimento estudantil, defendendo ideologia elitista”
Aluno: “A mídia não se mostrou contra, nem a favor, ao menos dentro do meu conhecimento, e fez questão de dar uma grande atenção ao assunto durante alguns dias, porém, esse assunto já perdeu o impacto perante a mídia.”
Pai: “Bom! Eu o pouco que pude vi nos jornais sobre as ocupações, então acredito que ela deu a devida atenção.” 
A mídia como meio de informação das massas, tem a possibilidade de mexer com o fenômeno noticiado, dando-lhe o devido valor, ou deturpando-o por inteiro, como lhe convém ou conforme os interesses de seus patrocinadores. O dia inteiro somos bombardeados por noticias, e fica difícil fazermos uma seleção do que realmente importa, em um contexto que a informação se tornou mais acessível. Além dos meios de comunicação tradicionais, o meio digital, as redes sociais, também veiculam informações, às vezes incompletas, ou não analisada por pontos de vistas distintos. Muitas vezes na inocência, ou ignorância acabamos nos tornando reprodutores de informações falsas ou parciais, ou ainda de informações que atentam contra os direitos da população.
Nesse contexto, as opiniões divergem sobre uma mídia preocupada com interesses de classe, com a desmoralização do movimento de ocupações, atenta a episódios que deturpem o movimento aos olhos da comunidade, e uma mídia “neutra”, que cobre todos os aspectos, que participa e interage com ambas as partes envolvidas, que promove um pensar crítico, colocando as possibilidades de reflexão para o leitor/ telespectador. 
Aluno: “Vale ressaltar três pontos. O primeiro que o movimento estudantil foi pautado em assembleias e debates, visando à manutenção da democracia, sem líderes, todos os passos eram tomados de comum acordo. O segundo que em momento nenhum recebemos a influência ou algum tipo de pedido de partidos políticos. Como foi erroneamente divulgado. E o terceiro que em resposta aos ataques de ódio recebidos, e esses não foram poucos, sempre tentemos o debate. Em particular na ocupação do Colégio Estadual Antônio e Marcos Cavanis, propomos mais de uma mesa redonda pra debates com aqueles que se opuseram a ocupação, porém nunca obtivemos respostas.”
É possível perceber que para além do que foi retratado pelas reportagens jornalísticas sobre as ocupações das escolas, houve toda uma preocupação com espaços de debate, inclusive sobre posições distintas sobre o movimento. Também se buscou atrelar o movimento a influências políticas partidárias de oposição ao Governo atual. Porém nas declarações os alunos deixam claro seu apartidarismo, mas se faz presente de maneira política nos espaços de debate e mobilização social. 
Diante disso é importante destacarmos que outros meios alternativos de informação se fizeram presentes de forma bastante ativa no cotidiano das ocupações, através das redes sócias e do registro do dia-a-dia das escolas ocupadas feito por acadêmicos de jornalismo de diversas universidades estaduais e pelos próprios alunos que protagonizaram esse movimento. 
5 - CONCLUSÃO
O estudo apresentado ao evidenciar a categoria histórica dos movimentos sociais partindode uma perspectiva da realidade brasileira, particularizando o movimento estudantil, buscou compreender a suposta neutralidade midiática acerca do movimento de ocupação nos colégios estaduais do Paraná pela análise do Jornal Gazeta do Povo. Também buscou levantar junto aos sujeitos envolvidos nesse contexto (alunos, pais e professores), suas interpretações e considerações sobre o movimento de ocupação. 
Assim sendo, o estudo nos mostra que a cobertura jornalística acerca do movimento de ocupações, se mostrou bastante limitada e tendenciosa, muitas vezes criminalizando e desqualificando o Movimento. 
Os meios de informação alternativos se destacaram na forma de criação de páginas no Facebook, o que possibilitou uma maior visibilidade diária do movimento e das rotinas democráticas dos agentes envolvidos com o movimento estudantil.
Os estudantes ocuparam os colégios em protesto contra medidas do governo federal e estadual. Medidas tais como a PEC 241/55, MP 746, Projeto Escola sem Partido. Vale ressaltar que as duas primeiras foram aprovadas apesar de muitos protestos, a segunda (MP 746) com alterações no seu texto original�, em relação ao período das ocupações, a terceira medida ainda encontra-se em tramitação no Senado brasileiro.
Assim sendo, destacamos a importância do movimento de ocupações no que concerne a mobilização social de jovens juntamente a comunidade escolar e sociedade civil, apontando para uma quebra de paradigmas e alavancando um pensar crítico enquanto sujeitos políticos participativos da esfera social do país.
6 - REFERÊNCIAS
GAZETA DO POVO. Adolescente é encontrado morto dentro de escola ocupada em Curitiba. Disponível em: <http://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/adolescente-e-encontrado-morto-dentro-de-escola-ocupada-em-curitiba-awtqoc4ieg953jllhxv946glu>. Acesso em:22/01/2017
GAZETA DO POVO. Alunos ocupam escola em SJP em protesto contra reforma do ensino médio. Disponível em: http://www.gazetadopovo.com.br/educacao/alunos-ocupam-escola-em-sjp-em-protesto-contra-reforma-do-ensino-medio-a1w3v5fr4edc1gpxcu9scixu8>. Acesso em 22/01/2017
GAZETA DO POVO. Após atingirem 600 escolas, ocupações chegam a Núcleo Regional de Educação. Disponível em :http://www.gazetadopovo.com.br/educacao/apos-atingirem-600-escolas-ocupacoes-chegam-a-nucleo-regional-de-educacao-3vmr98uojqcf06i2jrgrhi0yv>. Acesso em 22/01/2017
DE MORAES FREIRE, S. Movimento Estudantil no Brasil: Lutas passadas, desafios presentes. Rio de Janeiro: Grupo de Investigação HIULA. UERJ, 2008.
GAZETA DO POVO. Estudantes do Paraná cogitam suspender ocupações nos dias do Enem. Disponível em: <http://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/estudantes-do-parana-cogitam-suspender-ocupacoes-nos-dias-do-enem-dkga4gei4nc9cmbax3xvwdqav>. Acesso em : 22/01/2017
GAZETA DO POVO. Tudo sobre a greve e a ocupação das escolas do Paraná, 2016. Disponivel em: http://www.gazetadopovo.com.br/educacao/tudo-sobre-a-greve-e-a-ocupacao-nas-escolas-do-parana-b6t39taw4sm8yw0yq4l8q379u Acesso em: 17/01/2017
GAZETA DO POVO. Movimentos “antiocupação” brigam por espaço em escolas e universidades do PR. Disponível em: http://www.gazetadopovo.com.br/educacao/movimentos-antiocupacao-brigam-por-espaco-em-escolas-e-universidades-do-pr-csu4h7v54fyloysk7ri908bxj.> Acesso em: 22/01/2017
GAZETA DO POVO. 6 fatos que os estudantes das ocupações não sabem. Disponível em:<http://www.gazetadopovo.com.br/educacao/6-fatos-que-os-estudantes-das-ocupacoes-nao-sabem-ezs9mfd4wq6k5lmhxt5cq913k>. Acesso em: 22/01/2017
GAZETA DO POVO. Ocupações atingem 20% das unidades com ensino médio no Paraná, 2016 Disponivel:http://www.gazetadopovo.com.br/educacao/ocupacoes-atingem-20-das-unidades-com-ensino-medio-no-parana-f2c9wmclwcwyy2jzidrqa1ir8 Acesso em: 17/01/2017
Ocupa Paraná, 2016. Disponível em: http://www.ocupaparana.com.br/p/sobre.html, Acesso em:17/01/2017
Reforma do ensino médio é arcaica até do ponto de vista de uma formação para o mercado, 2016 Disponível em: http://www.geledes.org.br/reforma-do-ensino-medio-e-arcaica-ate-do-ponto-de-vista-de-uma-formacao-para-o-mercado/?gclid=CLiGw5XcitICFYgIkQodPUYA5w#gs.1WJXbvE Acesso em: 18/01/2017
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União Brasileira dos Estudantes Secundaristas. Disponível em: < http://ubes.org.br/memoria/historia/ > Acesso em: 19/01/2017
� Com as mudanças no texto original o ensino de Educação Física, Arte, Sociologia e Filosofia voltam a ser obrigatórios para o Ensino Médio. O ensino de História e Geografia antes obrigatórios passam a ser facultativos.