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Informativo 615-STJ (06/12/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 1 
 
Informativo comentado: 
Informativo 615-STJ 
Márcio André Lopes Cavalcante 
 
 
 
ÍNDICE 
 
DIREITO ADMINISTRATIVO 
CADASTRO NACIONAL DE EMPRESAS INIDÔNEAS E SUSPENSAS 
 Mera divulgação do nome da empresa punida no CEIS da CGU não gera dano. 
 
DIREITO AMBIENTAL 
RESPONSABILIDADE CIVIL 
 Análise do acidente com o navio Vicuña 
 
DIREITO CIVIL 
LEI DE LOCAÇÕES 
 O prazo de 30 meses previsto no art. 46 da Lei de Inquilinato não pode ser alcançado pela prorrogação de contratos. 
 
ALIMENTOS 
 O valor recebido pelo alimentante (devedor) a título de participação nos lucros e resultados deve ser incorporado à 
prestação alimentar devida? 
 
DIREITO DO CONSUMIDOR 
CONTRATOS BANCÁRIOS 
 Saque indevido em conta corrente não configura, por si só, dano moral. 
 
PLANO DE SAÚDE 
 Legitimidade ativa de usuário de plano de saúde coletivo para questionar a rescisão unilateral promovida pela 
operadora. 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
JUSTIÇA GRATUITA 
 Recurso contra a decisão que julga a impugnação à justiça gratuita. 
 
CUMPRIMENTO DE SENTENÇA 
 É incabível a rejeição do seguro garantia judicial pelo exequente, salvo por insuficiência, defeito formal ou 
inidoneidade da salvaguarda oferecida. 
 
AÇÃO CIVIL PÚBLICA 
 Emenda da inicial da ACP mesmo após ter sido apresentada contestação. 
 
DIREITO PENAL 
CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
 Súmula 599-STJ. 
 
 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 615-STJ (06/12/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 2 
LEI MARIA DA PENHA 
 Súmula 600-STJ. 
 
DIREITO PROCESSUAL PENAL 
COMPETÊNCIA 
 Não compete à JF julgar crime ambiental ocorrido em programa Minha Casa Minha Vida pelo simples fato de a CEF 
ter atuado como agente financiador da obra. 
 
NULIDADE 
 Indeferimento do pedido de incidente de falsidade formulado anos após a prova ter sido juntada e depois da 
sentença condenatória. 
 
 
DIREITO ADMINISTRATIVO 
 
CADASTRO NACIONAL DE EMPRESAS INIDÔNEAS E SUSPENSAS 
Mera divulgação do nome da empresa punida no CEIS da CGU não gera dano 
 
A divulgação do Cadastro Nacional de Empresas Inidôneas e Suspensas - CEIS pela CGU tem 
mero caráter informativo, não sendo determinante para que os entes federativos impeçam a 
participação, em licitações, das empresas ali constantes. 
STJ. 1ª Seção. MS 21.750-DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 25/10/2017 (Info 615). 
 
CEIS 
O Cadastro Nacional de Empresas Inidôneas e Suspensas (CEIS) é um banco de informações mantido pelo 
Ministério da Transparência, Fiscalização e Controladoria-Geral da União (CGU) que consolida a relação 
das empresas e pessoas físicas que sofreram sanções tendo como efeito restrição ao direito de participar 
de licitações ou de celebrar contratos com a Administração Pública. 
O CEIS é, portanto, uma fonte de consulta para os gestores públicos quando estão realizando processos 
de compras. 
A Lei nº 12.846/2013 (Lei Anticorrupção) trouxe a obrigatoriedade para os entes públicos de manter o 
Cadastro atualizado. Assim, existe um sistema integrado mantido pela CGU, que é alimentado diretamente 
pelos órgãos e entidades da União, dos Estados, Distrito Federal e Municípios. Dessa forma, tão logo uma 
empresa ou pessoa física seja punida, o próprio órgão/entidade que aplicou a sanção faz a inclusão no CEIS. 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
A sociedade empresária “XYZ” participou de um pregão na Administração Pública estadual de São Paulo 
e, apesar de ter se sagrado vencedora, não assinou o contrato. Em virtude disso, o Governo Estadual 
aplicou a ela a punição prevista no art. 7º da Lei nº 10.520/2002: 
Art. 7º Quem, convocado dentro do prazo de validade da sua proposta, não celebrar o contrato, 
deixar de entregar ou apresentar documentação falsa exigida para o certame, ensejar o 
retardamento da execução de seu objeto, não mantiver a proposta, falhar ou fraudar na execução 
do contrato, comportar-se de modo inidôneo ou cometer fraude fiscal, ficará impedido de licitar 
e contratar com a União, Estados, Distrito Federal ou Municípios e, será descredenciado no Sicaf, 
ou nos sistemas de cadastramento de fornecedores a que se refere o inciso XIV do art. 4o desta 
Lei, pelo prazo de até 5 (cinco) anos, sem prejuízo das multas previstas em edital e no contrato e 
das demais cominações legais. 
 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 615-STJ (06/12/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 3 
Vale ressaltar que o impedimento de licitar imposto pelo Governo com base no art. 7º da Lei nº 
10.520/2002 ficou restrito ao Estado de São Paulo. 
 
Inclusão da empresa no CEIS 
Em razão de ter recebido essa punição, o nome da “XYZ” foi incluído no Cadastro Nacional de Empresas 
Inidôneas e Suspensas – CEIS, que é divulgado no Portal de Transparência da CGU. 
A empresa não concordou com essa inclusão no CEIS e impetrou mandado de segurança contra o Ministro 
Chefe da CGU. 
Alegou que ela somente foi punida de participar de licitações no Estado de São Paulo. Apesar disso, ao ter 
seu nome incluído no CEIS, ela ficou impedida de participar de processos licitatórios em qualquer órgão 
da Administração Pública do país. Afirmou, portanto, que a sua inclusão no CEIS acabou por representar 
a ampliação da sua punição para todo o país. 
Diante disso, pediu no MS que seu nome fosse retirado do CEIS ou, subsidiariamente, que fosse corrigida a 
informação, para o fim de constar que a aplicação da sanção de impedimento seria válida apenas no âmbito 
do Estado de São Paulo, não estando a empresa impedida de contratar com os demais entes da Federação. 
 
O STJ deferiu o pedido formulado no MS? 
NÃO. 
 
O Cadastro Nacional de Empresas Inidôneas e Suspensas (CEIS) é apenas um banco de dados que noticia 
quais as sociedades empresárias ou profissionais que sofreram sanções que restringem o seu direito de 
contratar com a Administração Pública. 
No presente caso, a sanção administrativa foi aplicada pelo Governo do Estado de São Paulo, através da 
Secretaria Estadual de Educação sendo a Controladoria-Geral da União apenas a divulgadora da 
informação repassada por aquele Estado. 
Assim, a CGU não tem o poder de rever ou desfazer o ato punitivo. 
Vale ressaltar que a inclusão do nome da autora no Portal da Transparência e no Cadastro de Empresas 
Inidôneas e Suspensas (CEIS) não gera, por si só, qualquer dano à empresa. Isso porque o impedimento de 
contratar e licitar não decorre do fato de a empresa estar no CEIS. Este impedimento existe porque a 
empresa foi punida pelo Governo do Estado de São Paulo e a simples divulgação não muda nada isso nem 
faz com que ela passe a ser punida em todo o Brasil. 
Se a empresa estiver sendo indevidamente excluída de licitações por outro ente cuja decisão não se aplica 
(outros Estados, Municípios etc), deverá ingressar com ações judiciais contra esse ente que está tolhendo 
seu direito. A divulgação de seu nome no CEIS não interfere nada. 
 
 
 
DIREITO AMBIENTAL 
 
RESPONSABILIDADE CIVIL 
Análise do acidente com o navio Vicuña 
 
As empresas adquirentes da carga transportada pelo navio Vicuña no momento de sua 
explosão, no Porto de Paranaguá/PR, em 15/11/2004, não respondem pela reparação dos 
danos alegadamente suportados por pescadores da região atingida, haja vista a ausência de 
nexo causal a ligar tais prejuízos (proibição temporária da pesca) à conduta por elas 
perpetrada (mera aquisição pretérita do metanol transportado). 
Situação concreta: três indústriasquímicas adquiriam uma grande quantidade de “metanol”, 
substância utilizada como matéria-prima para a produção de alguns medicamentos. Elas 
adquiriram o metanol da METHANEX CHILE LIMITED, empresa chilena que ficou responsável 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 615-STJ (06/12/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 4 
tanto pela contratação quanto pelo pagamento do frete marítimo. O navio contratado pela 
empresa chilena para o transporte foi o “BTG Vicuña”, de bandeira do Chile. Ocorre que 
quando já estava atracado no porto de Paranaguá/PR, o navio explodiu. Isso provocou uma 
tragédia ambiental porque houve o vazamento de milhões de litros de óleo e de metanol. Em 
razão do derramamento, a pesca na região ficou temporariamente proibida. 
STJ. 2ª Seção. REsp 1.602.106-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 25/10/2017 (Info 615). 
 
Imagine a seguinte situação adaptada: 
Três indústrias químicas (“B”, “D” e “S”) adquiriam uma grande quantidade de “metanol”, substância 
utilizada como matéria-prima para a produção de alguns medicamentos. 
Elas adquiriram o metanol da METHANEX CHILE LIMITED, empresa chilena que ficou responsável tanto 
pela contratação quanto pelo pagamento do frete marítimo, em que foi adotada a modalidade de frete 
denominada CIF - Cost, insurence and freight -, na qual a tradição (“entrega”) da mercadoria se dá no 
momento de sua efetiva entrega ao comprador, e não no ato de embarque do produto, que é 
característica própria da modalidade FOB - free on board. 
O navio contratado pela empresa chilena para o transporte foi o Vicuña, de bandeira do Chile. 
Ocorre que, em 15 de novembro de 2004, quando já estava atracado no porto de Paranaguá/PR, o navio 
explodiu. Isso provocou uma tragédia ambiental porque houve o vazamento de milhões de litros de óleo 
e de metanol, poluindo toda a bacia, que é considerada uma das mais importantes para as espécies 
marinhas no Brasil. 
Em razão do derramamento do óleo e do metanol, a pesca na região ficou temporariamente proibida. 
 
Ação de indenização 
João, pescador profissional que atuava naquela bacia, ingressou com ação de indenização contra as 
indústrias “B”, “D” e “S”. 
Na ação, o autor alegou que as referidas empresas eram destinatárias (proprietárias) da carga 
transportada pelo navio Vicuña no momento de sua explosão e que, por isso, seriam também 
solidariamente responsáveis pelos danos decorrentes do acidente. 
João argumentou que deveria ser indenizado por danos morais e materiais em razão de ter ficado 
temporariamente impedido de exercer sua profissão de pescador por conta do acidente. 
 
A ação foi julgada procedente? O STJ concordou com a tese de João e dos demais pescadores? As 
empresas adquirentes da carga do navio Vicuña podem ser consideradas responsáveis pelo dano 
ambiental e, consequentemente, pelos danos extrapatrimoniais suportados pelos pescadores 
profissionais que se viram impedidos temporariamente de exercer seu trabalho? 
NÃO. 
As empresas adquirentes da carga transportada pelo navio Vicuña no momento de sua explosão, no 
Porto de Paranaguá/PR, em 15/11/2004, não respondem pela reparação dos danos alegadamente 
suportados por pescadores da região atingida, haja vista a ausência de nexo causal a ligar tais prejuízos 
(decorrentes da proibição temporária da pesca) à conduta por elas perpetrada (mera aquisição pretérita 
do metanol transportado). 
STJ. 2ª Seção. REsp 1.602.106-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 25/10/2017 (Info 615). 
 
A responsabilidade ambiental é subjetiva ou objetiva? 
Trata-se de responsabilidade objetiva (lastreada pela teoria do risco integral). Nesse sentido: 
Tratando-se de ação indenizatória por dano ambiental, a responsabilidade pelos danos causados é 
objetiva, pois fundada na teoria do risco integral. Assim, cabível a inversão do ônus da prova. Precedente. 
STJ. 4ª Turma. AgRg no AREsp 533.786/RJ, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 22/9/2015. 
 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 615-STJ (06/12/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 5 
Necessidade de demonstração do nexo causal 
Vale ressaltar que, apesar de ser objetiva, para a configuração do dever de indenizar é necessária a 
demonstração do nexo causal, ou seja, do vínculo entre a conduta praticada e o resultado lesivo. 
Em outras palavras, a aplicação da teoria do risco integral a casos de responsabilidade civil por danos 
ambientais não exime o autor da ação de indenização do seu ônus de demonstrar a existência de nexo de 
causalidade. Veja: 
(...) apesar da responsabilidade por dano ambiental ser objetiva, deve ser demonstrado o nexo de 
causalidade entre a conduta e o resultado. (...) 
STJ. 1ª Turma. AgRg no REsp 1.210.071/RS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 5/5/2015. 
 
Ausência de nexo causal (empresas eram meras adquirentes) 
O STJ entendeu que as empresas requeridas eram meras adquirentes do metanol transportado pelo navio 
Vicuña, não podendo responder, assim, pela reparação de prejuízos (de ordem material e moral) 
suportados pelos pescadores profissionais. 
As indústrias adquirentes da carga não foram responsáveis diretas pelo acidente ocorrido. Elas somente 
poderiam ser responsabilizadas se tivesse ficado demonstrada: 
a) a existência de comportamento omissivo de sua parte; 
b) que o risco de acidentes no transporte marítimo fosse ínsito à sua atividade (ou seja, se esse risco fosse 
relacionado com a atividade por elas desempenhada); 
c) que estivesse a seu encargo, e não a encargo da empresa vendedora, a contratação do transporte da 
carga que lhe seria destinada. 
 
Não houve comportamento omissivo das indústrias 
O comportamento omissivo só se verifica nas hipóteses em que o agente (suposto poluidor), tendo o dever 
de impedir a degradação, deixa, mesmo assim, de fazê-lo, beneficiando-se, ainda que de forma indireta, 
do comportamento de terceiro diretamente responsável pelo dano causado ao meio ambiente. Isso não 
ocorreu no caso, seja porque as indústrias não tinham o dever de impedir o acidente, seja pelo fato de 
que não se beneficiaram com ele. 
 
Os riscos do transporte marítimo não estão relacionados com as atividades das indústrias 
Os riscos inerentes ao transporte marítimo não estão relacionados com as atividades desenvolvidas pelas 
indústrias. 
Tais riscos eram próprios das atividades econômicas da SOCIEDAD NAVIERA ULTRAGAZ (a proprietária da 
embarcação envolvida no incidente objeto) e da empresa CATTALINI TERMINAIS MARÍTIMOS (responsável 
pela exploração do terminal portuário onde se deu o evento danoso). 
Quando muito, seria razoável estender a responsabilidade proveniente da assunção desse risco à empresa 
vendedora da carga (METHANEX CHILE LIMITED), haja vista ter sido ela, na espécie, a contratante do 
serviço de transporte. 
Nenhuma das situações acima mencionadas se verificou no caso concreto. Em razão disso, afasta-se o 
dever de indenizar, por ausência do nexo causal imprescindível à sua configuração. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Informativo 
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Informativo 615-STJ (06/12/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 6 
DIREITO CIVIL 
 
LEI DE LOCAÇÕES 
O prazo de 30 meses previsto no art. 46 da Lei de Inquilinato 
não pode ser alcançado pela prorrogação de contratos 
 
Importante!!! 
Se a locação residencial foi celebrada por escrito e com prazo igual ou superior a 30 meses, 
quando chegar ao fim o prazo estipulado,termina o contrato e o locador poderá pedir a 
retomada do imóvel sem a necessidade de apresentar qualquer justificativa. Diz-se, assim, que 
o locador pode fazer a chamada “denúncia vazia”. Isso está previsto no art. 46 da Lei nº 
8.245/91. 
Vale ressaltar, contudo, que não é cabível a denúncia vazia quando o prazo de 30 meses, 
exigido pelo art. 46 da Lei nº 8.245/91, é atingido com as sucessivas prorrogações do contrato 
de locação de imóvel residencial urbano. 
Em outras palavras, o art. 46 da Lei nº 8.245/91 somente admite a denúncia vazia se um único 
instrumento escrito de locação estipular o prazo igual ou superior a 30 meses, não sendo 
possível contar as sucessivas prorrogações dos períodos locatícios (accessio temporis) para se 
atingir esse prazo de 30 meses. 
Ex: o contrato de locação foi celebrado por 12 meses; depois foi prorrogado mais duas vezes, 
totalizando 36 meses; não se aplica o art. 46 porque o período mínimo de 30 meses foi 
alcançado com prorrogações. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.364.668-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 07/11/2017 (Info 615). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João alugou seu apartamento para Pedro. O contrato foi celebrado por prazo determinado e com duração 
de 12 meses (janeiro/2013 a janeiro/2014). 
Chegando em janeiro de 2014, as partes fizeram novo contrato escrito prorrogando o ajuste inicial por 
mais 12 meses (janeiro/2014 a janeiro/2015). 
Em janeiro de 2015, Pedro solicitou nova prorrogação e João aceitou, tendo sido firmado novo contrato 
com duração de 12 meses (janeiro/2015 a janeiro/2016). 
Chegou janeiro de 2016 e João estava viajando e, por isso, não procurou o inquilino. Em fevereiro de 2016, 
contudo, João notificou Pedro pedindo o apartamento de volta e dizendo que não tinha mais interesse em 
renovar o contrato. Pedro não concordou e afirmou que o locador somente poderia exigir o imóvel se 
demonstrasse algum justo motivo, nos termos do art. 47 da Lei nº 8.245/91: 
Art. 47. Quando ajustada verbalmente ou por escrito e com prazo inferior a trinta meses, findo o 
prazo estabelecido, a locação prorroga-se automaticamente, por prazo indeterminado, somente 
podendo ser retomado o imóvel: 
I - Nos casos do art. 9º; 
II - em decorrência de extinção do contrato de trabalho, se a ocupação do imóvel pelo locatário 
relacionada com o seu emprego; 
III - se for pedido para uso próprio, de seu cônjuge ou companheiro, ou para uso residencial de 
ascendente ou descendente que não disponha, assim como seu cônjuge ou companheiro, de 
imóvel residencial próprio; 
IV - se for pedido para demolição e edificação licenciada ou para a realização de obras aprovadas 
pelo Poder Público, que aumentem a área construída, em, no mínimo, vinte por cento ou, se o 
imóvel for destinado a exploração de hotel ou pensão, em cinquenta por cento; 
V - se a vigência ininterrupta da locação ultrapassar cinco anos. 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 615-STJ (06/12/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 7 
§ 1º Na hipótese do inciso III, a necessidade deverá ser judicialmente demonstrada, se: 
a) O retomante, alegando necessidade de usar o imóvel, estiver ocupando, com a mesma 
finalidade, outro de sua propriedade situado na mesma localidade ou, residindo ou utilizando 
imóvel alheio, já tiver retomado o imóvel anteriormente; 
b) o ascendente ou descendente, beneficiário da retomada, residir em imóvel próprio. 
§ 2º Nas hipóteses dos incisos III e IV, o retomante deverá comprovar ser proprietário, promissário 
comprador ou promissário cessionário, em caráter irrevogável, com imissão na posse do imóvel e 
título registrado junto à matrícula do mesmo. 
 
Em outras palavras, o inquilino afirmou que, no presente caso, em que o contrato de locação é inferior a 
30 meses, para a retomada do imóvel pelo locador exige-se “denúncia cheia”. 
Parêntese: chama-se de “denúncia vazia” a possibilidade de o locador solicitar a retomada do imóvel sem a 
necessidade de apresentar justificativas. Em contrapartida, fala-se em “denúncia cheia” quando a lei exige, 
para a retomada do imóvel, que o locador demonstre que existe alguma das hipóteses previstas na lei. 
 
Ação de despejo 
Diante da recusa do locatário, João ajuizou ação de despejo contra Pedro postulando a desocupação do 
imóvel e a entrega das chaves. 
Afirmou que a situação em tela não se enquadra no art. 47, mas sim no art. 46. Isso porque houve três 
prorrogações do contrato (3 x 12 meses), de forma que o contrato firmado teve, no final das contas, prazo 
superior a 30 meses, se computados os períodos de prorrogação. Logo, aplica-se a regra do art. 46 da Lei 
nº 8.245/91, que preconiza: 
Art. 46. Nas locações ajustadas por escrito e por prazo igual ou superior a trinta meses, a resolução 
do contrato ocorrerá findo o prazo estipulado, independentemente de notificação ou aviso. 
§ 1º Findo o prazo ajustado, se o locatário continuar na posse do imóvel alugado por mais de trinta 
dias sem oposição do locador, presumir-se-á prorrogada a locação por prazo indeterminado, 
mantidas as demais cláusulas e condições do contrato. 
§ 2º Ocorrendo a prorrogação, o locador poderá denunciar o contrato a qualquer tempo, 
concedido o prazo de trinta dias para desocupação. 
 
A tese de João foi acolhida pelo STJ? Nesta situação, aplica-se o art. 46 ou o art. 47 da Lei nº 8.245/91? 
NÃO. A tese de João não foi acolhida. Aplica-se o art. 47 da Lei. 
O locador pretendia que o prazo de 30 meses fosse conseguido mediante o instituto da “acessão de 
tempo” (acessio temporis), isto é, por meio da soma dos prazos dos diversos contratos sucessivos. 
O STJ, contudo, não concordou com essa possibilidade. 
Quando a Lei nº 8.245/91 quis adotar a accessio temporis, ela o fez expressamente, como no caso do art. 
51, II. Veja: 
Art. 51. Nas locações de imóveis destinados ao comércio, o locatário terá direito a renovação do 
contrato, por igual prazo, desde que, cumulativamente: 
(...) 
II - o prazo mínimo do contrato a renovar ou a soma dos prazos ininterruptos dos contratos 
escritos seja de cinco anos; 
 
O art. 46, caput, por sua vez, traz a expressão “por prazo igual ou superior a trinta meses”, sem permitir 
explicitamente a contagem de múltiplos contratos prorrogados. Assim, a lei é clara quanto à 
imprescindibilidade do requisito temporal em um único contrato, cujo objetivo é garantir a estabilidade 
contratual em favor do locatário. 
Essa é também a opinião da doutrina: 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 615-STJ (06/12/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 8 
“(...) Não se admite a soma de prazos contratuais para os fins deste artigo. A lei é clara quando 
estabelece, como requisito, contrato escrito por prazo igual ou superior a trinta meses, e seu 
objetivo é claro: em troca da estabilidade contratual conferida ao locatário, pelo prazo de dois 
anos e meio, através de um só ajuste, compensa-se o locador com o direito de retomar o prédio 
ao fim daquele prazo. Assim, não pode aproveitar o locador a soma de mais de um contrato, ainda 
que não tenha ocorrido hiato temporal entre eles, porque ausente aquela compensação acima 
referida" (BARROS, Francisco Carlos Rocha de. Comentários à lei do inquilinato. São Paulo: Saraiva, 
1997, p. 232) 
 
Nesse contexto, fica evidente que o art. 46 da Lei do Inquilinato somente admite a denúncia vazia se um 
único instrumento negocial estipular o prazo igual ou superior a 30 (trinta) meses, não se podendo atingir 
esse número de 30 meses com base em sucessivas prorrogações. 
 
Em suma: 
A denúncia vazia não é admitida quando o prazo de 30 meses,exigido pelo art. 46 da Lei nº 8.245/91, é 
atingido com as sucessivas prorrogações do contrato de locação de imóvel residencial urbano. 
Em outras palavras, o art. 46 da Lei nº 8.245/91 somente admite a denúncia vazia se um único 
instrumento escrito de locação estipular o prazo igual ou superior a 30 meses, não sendo possível contar 
as sucessivas prorrogações dos períodos locatícios (accessio temporis) para se atingir esse prazo de 30 
meses. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.364.668-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 07/11/2017 (Info 615). 
 
 
 
ALIMENTOS 
O valor recebido pelo alimentante (devedor) a título de participação nos 
lucros e resultados deve ser incorporado à prestação alimentar devida? 
 
Os valores recebidos a título de “participação nos lucros e resultados” são incluídos no 
percentual que é devido a título de pensão alimentícia? Em suma, toda vez que o devedor 
receber participação nos lucros e resultados, o valor da pensão deverá ser, automaticamente, 
pago a mais? 
1ª corrente: NÃO. Os valores recebidos a título de participação nos lucros e resultados não se 
incorporam à verba alimentar devida ao menor. É a posição da 3ª Turma do STJ. REsp 
1.465.679-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 09/11/2017 (Info 615). 
2ª corrente: SIM. As parcelas percebidas a título de participação nos lucros configuram 
rendimento, devendo integrar a base de cálculo da pensão fixada em percentual, uma vez que 
o conceito de rendimentos é amplo, especialmente para fins de cálculo de alimentos. É a 
corrente adotada pela 4ª Turma do STJ. AgInt no AREsp 1070204/SE, Rel. Min. Luis Felipe 
Salomão, julgado em 19/09/2017. 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
Arthur, 5 anos de idade, representado por sua mãe, Carla, ajuizou ação de alimentos contra seu pai, 
Augusto, funcionário regularmente contratado de uma empresa. 
O juiz, por meio de decisão interlocutória, de ofício, deferiu a tutela de urgência, concedendo alimentos 
provisórios ao menor à razão de 30% sobre os valores líquidos percebidos por Augusto, incidentes, 
inclusive, sobre a participação nos lucros e resultados, que devem ser descontados diretamente da folha 
de pagamento do genitor. 
 
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Informativo 615-STJ (06/12/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 9 
Augusto não concordou com a decisão. Qual é o recurso que ele pode interpor neste caso? 
Agravo de instrumento. 
 
O juiz pode conceder alimentos provisórios de ofício? 
SIM. Trata-se de uma das hipóteses em que é possível concessão de tutela antecipada de ofício. Esta 
previsão está implícita no art. 4º da Lei nº 5.478/68: 
Art. 4º As despachar o pedido, o juiz fixará desde logo alimentos provisórios a serem pagos pelo 
devedor, salvo se o credor expressamente declarar que deles não necessita. 
 
Em seu recurso, o alimentante alegou que os alimentos não podem incidir sobre verbas esporádicas, 
eventuais e incertas, que visam premiar o esforço pessoal do trabalhador, tendo natureza indenizatória e 
que não integram os rendimentos do alimentante, como é o caso da participação nos lucros e 
gratificações. 
 
O que o STJ entende sobre o tema? Os valores recebidos a título de participação nos lucros e resultados 
são incluídos no percentual que é devido a título de pensão alimentícia? Em suma, toda vez que o 
devedor receber participação nos lucros e resultados, o valor da pensão deverá ser, automaticamente, 
pago a mais? 
1ª corrente: NÃO 2ª corrente: SIM 
A participação nos lucros e resultados deve ser desvinculado do 
salário ou da remuneração habitualmente recebida. 
Trata-se de uma bonificação de natureza indenizatória, 
eventual e que depende do desenvolvimento e do sucesso 
profissional no cumprimento das metas estabelecidas. 
O recebimento, pelo alimentante (devedor), de valores 
adicionais e eventuais não impacta, em regra, na redefinição do 
valor dos alimentos a serem prestados, ressalvadas as situações 
em que as necessidades do alimentado não foram inicialmente 
satisfeitas ou sofreram alterações supervenientes que 
justificam a readequação do valor. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1465679/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, 
julgado em 09/11/2017. 
As parcelas percebidas a título de 
participação nos lucros configuram 
rendimento, devendo integrar a base 
de cálculo da pensão fixada em 
percentual, uma vez que o conceito 
de rendimentos é amplo, 
especialmente para fins de cálculo de 
alimentos. 
STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp 
1070204/SE, Rel. Min. Luis Felipe 
Salomão, julgado em 19/09/2017. 
 
 
 
 
DIREITO DO CONSUMIDOR 
 
CONTRATOS BANCÁRIOS 
Saque indevido em conta-corrente não configura, por si só, dano moral 
 
Importante!!! 
O saque indevido de numerário em conta-corrente, reconhecido e devolvido pela instituição 
financeira dias após a prática do ilícito, não configura, por si só, dano moral in re ipsa. 
O saque indevido em conta corrente não configura, por si só, dano moral, podendo, contudo, 
observadas as particularidades do caso, ficar caracterizado o respectivo dano se demonstrada 
a ocorrência de violação significativa a algum direito da personalidade do correntista. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.573.859-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 07/11/2017 (Info 615). 
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Informativo 615-STJ (06/12/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 10 
 
Sobre o tema, vale a pena recordar: 
O banco deve compensar os danos morais sofridos por consumidor vítima de saque fraudulento 
que, mesmo diante de grave e evidente falha na prestação do serviço bancário, teve que intentar 
ação contra a instituição financeira com objetivo de recompor o seu patrimônio, após frustradas 
tentativas de resolver extrajudicialmente a questão. 
STJ. 4ª Turma. AgRg no AREsp 395.426-DF, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, Rel. para acórdão Marco 
Buzzi, julgado em 15/10/2015 (Info 574). 
 
SITUAÇÃO 1 
Imagine a seguinte situação: 
João mantém uma conta-poupança no Banco "XX". 
Determinado dia, João constata que um terceiro conseguiu realizar um saque fraudulento e retirou R$ 2 
mil de sua conta. 
O cliente procurou o gerente do banco em diversas oportunidades tentando resolver a questão, mas a 
instituição não devolveu o dinheiro, razão pela qual João teve que ingressar com ação de indenização por 
danos materiais e morais. 
 
Diante disso, indaga-se: o banco tem responsabilidade pelo saque fraudulento realizado por terceiro ou 
poderá alegar que houve um caso fortuito? Qual é o tipo de responsabilidade aplicável? 
O banco possui responsabilidade objetiva, com base na teoria do risco. Ele não poderá alegar caso fortuito 
porque se trata de um fortuito interno (e não fortuito externo). 
Súmula 479-STJ: As instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados por fortuito 
interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de operações bancárias. 
 
No exemplo narrado acima, João terá direito de ser indenizado por danos morais? Há dano moral 
indenizável neste caso? 
SIM. 
O banco deve compensar os danos morais sofridos por consumidor vítima de saque fraudulento que, 
mesmo diante de grave e evidente falha na prestação do serviço bancário, teve que intentar ação contra 
a instituição financeira com objetivo de recompor o seu patrimônio, após frustradas tentativas de 
resolver extrajudicialmente a questão. 
STJ. 4ª Turma. AgRg no AREsp 395.426-DF, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, Rel. para acórdão Marco 
Buzzi, julgado em 15/10/2015 (Info 574). 
 
Na situação narrada, o STJ considerou que a instituiçãofinanceira não adotou nenhuma providência hábil 
a solucionar o problema narrado pelo consumidor, tanto que se fez necessário o ajuizamento de uma ação 
judicial, em que pleiteado, além do dano moral, aquele de cunho patrimonial, consistente nos valores 
sacados indevidamente da conta bancária. 
Tais circunstâncias são suficientes à caracterização do dano moral, porque não podem ser consideradas 
como meros dissabores, inerentes à vida social. 
Diante das circunstâncias acima ressaltadas, houve violação à segurança legitimamente esperada pelo 
consumidor que, além de ter seu patrimônio subtraído indevidamente, viu frustradas as tentativas de 
resolução extrajudicial da questão. O cliente somente conseguiu recuperar o dinheiro indevidamente 
retirado de sua conta bancária após ter ajuizado ação judicial que obrigou a instituição financeira a 
recompor os depósitos. Essa circunstância vai muito além de um mero dissabor, transtorno ou 
aborrecimento corriqueiro. 
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Além disso, há que salientar que, além do caráter compensatório, a indenização por dano moral também 
tem finalidades sancionatórias e preventivas, isto é, tem como objetivo desestimular novas faltas/falhas 
na prestação do serviço. 
 
SITUAÇÃO 2 
Imagine agora uma situação diferente: 
Pedro mantém uma conta poupança no Banco "ZZ". 
Determinado dia, Pedro constata que um terceiro conseguiu realizar um saque fraudulento e retirou R$ 2 
mil de sua conta. 
O cliente procurou o gerente do banco comunicando o ocorrido. 
Depois de alguns dias, a instituição financeira efetuou a devolução dos valores sacados, reconhecendo 
que estes não foram feitos pelo autor, que foi vítima de ação criminosa. 
Mesmo assim, Pedro ajuizou ação de indenização por danos morais. 
O autor alegou que o saque fraudulento por terceiro na conta-corrente do consumidor gera dano moral 
in re ipsa. Assim, se houve saque fraudulento da conta bancária, este fato, por si só, gera direito à 
indenização por danos morais. 
 
A tese de Pedro é acolhida pela jurisprudência? Se houve saque fraudulento da conta bancária, este 
fato, por si só, gera direito à indenização por danos morais? Pode-se dizer que em caso de saques 
fraudulentos existe dano moral in re ipsa (com prejuízo presumido)? 
NÃO. 
O saque indevido de numerário em conta corrente, reconhecido e devolvido pela instituição financeira 
dias após a prática do ilícito, não configura, por si só, dano moral in re ipsa. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.573.859-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 07/11/2017 (Info 615). 
 
Embora não se tenha dúvida de que a referida conduta acarreta dissabores ao consumidor, para fins de 
constatação de ocorrência de dano moral é preciso analisar as particularidades de cada caso concreto, a 
fim de verificar se o fato extrapolou o mero aborrecimento, atingindo de forma significativa algum direito 
da personalidade do correntista (bem extrapatrimonial). 
Circunstâncias, por exemplo, como o valor total sacado indevidamente, o tempo levado pela instituição 
bancária para ressarcir os valores descontados e as repercussões daí advindas, dentre outras, deverão ser 
levadas em conta para fins de reconhecimento do dano moral e sua respectiva quantificação. 
Não se mostra razoável que o saque indevido de pequena quantia, considerada irrisória se comparada ao 
saldo que o correntista dispunha por ocasião da ocorrência da fraude, sem maiores repercussões, possa, 
por si só, acarretar compensação por dano moral. 
Dessa forma, o saque indevido em conta-corrente não configura, por si só, dano moral, podendo, contudo, 
observadas as particularidades do caso, ficar caracterizado o respectivo dano se demonstrada a ocorrência 
de violação significativa a algum direito da personalidade do correntista. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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PLANO DE SAÚDE 
Legitimidade ativa de usuário de plano de saúde coletivo 
para questionar a rescisão unilateral promovida pela operadora 
 
O beneficiário de plano de saúde coletivo por adesão possui legitimidade ativa para se insurgir 
contra rescisão contratual unilateral realizada pela operadora. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.705.311-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 09/11/2017 (Info 615). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
A Amico (plano de saúde) fez convênio com o sindicato dos professores, por meio do qual disponibilizou 
um plano de saúde coletivo por adesão. 
Assim, o professor que quisesse, poderia aderir ao plano de saúde oferecido com a interveniência do 
sindicato e que tinha condições mais vantajosas do que se ele fizesse um plano de saúde individual. 
Centenas de professores aderiram ao plano, dentre eles, João. 
Ocorre que, passados alguns anos, a Amico decidiu fazer a rescisão contratual unilateral do ajuste que 
tinha com o sindicato. 
Com isso, os professores filiados ao sindicato tiveram que sair do plano de saúde. 
Inconformado, João ajuizou ação de obrigação de fazer contra a Amico requerendo que seja declarada 
nula a rescisão imotivada e que a ré seja condenada a manter o plano de saúde. 
 
Contestação do plano de saúde 
A Amico contestou a demanda suscitando a ilegitimidade ativa ad causam de João. 
Segundo alegou a ré, o contrato do autor com o plano de saúde é coletivo, ou seja, foi firmado entre a Amico 
e o sindicato, e somente elas têm legitimidade para propor ações judiciais relacionadas com o ajuste. 
Em suma, a ré alegou que João não possui legitimidade ativa para questionar a rescisão contratual 
promovida pelo plano de saúde em face do sindicato. 
 
A tese da ré foi aceita pelo STJ? 
NÃO. 
O beneficiário de plano de saúde coletivo por adesão possui legitimidade ativa para se insurgir contra 
rescisão contratual unilateral realizada pela operadora. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.705.311-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 09/11/2017 (Info 615). 
 
Teoria da asserção 
Prevalece no STJ o entendimento de que o exame das condições da ação deve ocorrer in status assertionis, 
ou seja, à luz das afirmações do demandante. Essa é a chamada teoria da asserção (STJ. 2ª Turma. REsp 
1395875/PE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 20/02/2014). 
Assim, as condições da ação, dentre elas o interesse processual e a legitimidade ativa, definem-se da 
narrativa formulada na inicial de forma abstrata, não da análise do mérito da demanda, razão pela qual 
não se recomenda ao julgador, na fase postulatória, se aprofundar no exame de tais preliminares (STJ. 3ª 
Turma. REsp 1561498/RJ, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 01/03/2016). 
 
O autor é afetado juridicamente pela rescisão realizada pelo plano 
A partir da análise do pedido do autor, é possível concluir que ele, enquanto beneficiário do plano de 
saúde, possui interesse juridicamente protegido de pleitear a manutenção do contrato. 
Assim, à luz da teoria da asserção, e ante a possibilidade de a rescisão unilateral do contrato ser 
abusivamente praticada pela operadora, o beneficiário final do plano de saúde coletivo está autorizado a 
ajuizar a ação para questionar o ato tido por ilegal. 
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Informativo 615-STJ (06/12/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 13 
Vale ressaltar que o STJ ainda não analisou o mérito do pedido, ou seja, se o autor terá ou não direito de 
manter o plano. O STJdecidiu unicamente que o autor é parte legítima para propor a demanda, ou seja, 
estão presentes as condições da ação. 
 
 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
 
JUSTIÇA GRATUITA 
Recurso contra a decisão que julga a impugnação à justiça gratuita 
 
A impugnação à justiça gratuita é feita nos autos do próprio processo ou em autos apartados? 
• Antes do CPC/2015: autos apartados. 
• Depois do CPC/2015: nos autos do próprio processo. 
 
Qual é o recurso cabível contra a decisão que acolhe ou rejeita a impugnação à gratuidade de 
justiça? 
• Antes do CPC/2015: apelação. 
• Depois do CPC/2015: agravo de instrumento. 
 
Se a parte ingressou com a impugnação antes do CPC/2015, mas esta somente foi julgada após 
a vigência do novo Código, qual é o recurso que deverá ser interposto contra essa decisão que 
rejeitou ou acolheu a impugnação? 
Agravo de instrumento. Cabe agravo de instrumento contra o provimento jurisdicional que, 
após a entrada em vigor do CPC/2015, acolhe ou rejeita incidente de impugnação à gratuidade 
de justiça instaurado, em autos apartados, na vigência do regramento anterior. 
Aplica-se aqui o princípio do tempus regit actum, no qual se fundamenta a teoria do isolamento 
dos atos processuais. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.666.321-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 07/11/2017 (Info 615). 
 
Garantia de assistência jurídica integral e gratuita 
A CF/88 prevê a garantia da assistência jurídica integral e gratuita em seu art. 5º, LXXIV: “o Estado prestará 
assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos”. 
 
Esse dispositivo constitucional consagra duas garantias: 
I – Assistência jurídica integral e gratuita 
II – Gratuidade da justiça 
(Assistência Judiciária Gratuita – AJG). 
Fornecimento pelo Estado de orientação e defesa 
jurídica, de forma integral e gratuita, a ser 
prestada pela Defensoria Pública, em todos os 
graus, aos necessitados (art. 134 da CF). 
Regulada pela Lei Complementar 80/94. 
Isenção das despesas que forem necessárias para 
que a pessoa necessitada possa defender seus 
interesses em um processo judicial. 
Era regulada pela Lei nº 1.060/50, mas o CPC 2015 
passou a tratar sobre o tema, revogando quase 
toda essa lei. 
 
Quem tem direito à gratuidade da justiça? 
Tem direito à gratuidade da justiça a pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com insuficiência de 
recursos para pagar as custas, as despesas processuais e os honorários advocatícios (art. 98 do CPC-2015). 
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Informativo 615-STJ (06/12/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 14 
 
Quem está abrangido por ela? 
• pessoas físicas (brasileiras ou estrangeiras); 
• pessoas jurídicas (brasileiras ou estrangeiras). 
 
A pessoa beneficiada pela justiça gratuita está dispensada do pagamento de quais verbas? 
Segundo o § 1º do art. 98 do CPC/2015, a gratuidade da justiça compreende: 
I - as taxas ou as custas judiciais; 
II - os selos postais; 
III - as despesas com publicação na imprensa oficial, dispensando-se a publicação em outros meios; 
IV - a indenização devida à testemunha que, quando empregada, receberá do empregador salário integral, 
como se em serviço estivesse; 
V - as despesas com a realização de exame de código genético - DNA e de outros exames considerados 
essenciais; 
VI - os honorários do advogado e do perito e a remuneração do intérprete ou do tradutor nomeado para 
apresentação de versão em português de documento redigido em língua estrangeira; 
VII - o custo com a elaboração de memória de cálculo, quando exigida para instauração da execução; 
VIII - os depósitos previstos em lei para interposição de recurso, para propositura de ação e para a prática 
de outros atos processuais inerentes ao exercício da ampla defesa e do contraditório; 
IX - os emolumentos devidos a notários ou registradores em decorrência da prática de registro, averbação 
ou qualquer outro ato notarial necessário à efetivação de decisão judicial ou à continuidade de processo 
judicial no qual o benefício tenha sido concedido. 
 
Dispensa parcial 
A gratuidade da justiça poderá ser concedida em relação a alguns ou a todos os atos processuais, ou pode 
consistir apenas na redução percentual das despesas processuais que o beneficiário tiver de adiantar no 
curso do procedimento (§ 5º do art. 98 do CPC/2015). 
 
Parcelamento 
A depender do caso concreto, o juiz poderá conceder ao requerente o direito de parcelar as despesas 
processuais que tiver de adiantar no curso do procedimento (§ 6º do art. 98 do CPC/2015). 
 
Despesas processuais e honorários advocatícios de sucumbência 
Mesmo sendo beneficiária da justiça gratuita, a pessoa terá que pagar as despesas processuais e os 
honorários advocatícios decorrentes de sua sucumbência (§ 2º do art. 98 do CPC/2015). 
No entanto, as obrigações decorrentes de sua sucumbência ficarão sob condição suspensiva de 
exigibilidade e somente poderão ser executadas se, nos 5 anos subsequentes ao trânsito em julgado da 
decisão que as certificou, o credor demonstrar que deixou de existir a situação de insuficiência de recursos 
que justificou a concessão de gratuidade. Em outras palavras, em até 5 anos, o credor deverá demonstrar 
que o devedor passou a ter condições de custear tais despesas. 
Passado esse prazo, tais obrigações do beneficiário são consideradas extintas (§ 3º do art. 98 do CPC/2015). 
 
Multas processuais 
Mesmo sendo beneficiária da justiça gratuita, a pessoa terá o dever de pagar, ao final, as multas 
processuais que lhe foram impostas (§ 4º do art. 98 do CPC-2015). Ex: multa por litigância de má-fé. 
 
O juiz poderá conceder de ofício o benefício da assistência judiciária gratuita? 
NÃO. É vedada a concessão “ex officio” do benefício de assistência judiciária gratuita pelo magistrado. 
Assim, é indispensável que haja pedido expresso da parte (AgRg nos EDcl no AREsp 167.623/SP, Rel. Min. 
Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 05/02/2013). 
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Informativo 615-STJ (06/12/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 15 
 
Recurso contra a decisão que INDEFERE ou REVOGA o benefício 
O juiz pode indeferir por meio de decisão interlocutória ou na própria sentença. 
 Se for por decisão interlocutória: o recurso cabível é o agravo de instrumento. 
 Se for por sentença: o recurso será a apelação. 
 
A parte contrária poderá impugnar o pedido de justiça gratuita? 
SIM. Isso é comumente chamado de “impugnação à justiça gratuita”, “impugnação à concessão do 
benefício de assistência judiciária gratuita” ou “revogação da justiça gratuita”. 
Veja como o CPC/2015 trata sobre o tema (art. 100): 
A parte poderá oferecer impugnação à justiça gratuita na: 
 na contestação; 
 na réplica; 
 nas contrarrazões do recurso; ou 
 nos casos de pedido superveniente ou formulado por terceiro, a impugnação será feita por meio de 
petição simples. 
 
Prazo para oferecimento da impugnação: 15 dias. 
 
A impugnação é feita nos autos do próprio processo ou em autos apartados? 
• Antes do CPC/2015: deveria ser feita em autos apartados, formando-se um incidente de impugnação à 
assistência judiciária (Lei nº 1.050/60). 
• Depois do CPC/2015: deve ser feita nos autos do próprio processo. 
 
Qual é o recurso cabível contra a decisão que acolhe ou rejeita a impugnação à gratuidade de justiça? 
• Antes do CPC/2015: apelação. 
• Depois do CPC/2015: agravo de instrumento (exceção: se a impugnação for decidida na própria 
sentença, como um de seus capítulos). 
 
Veja o texto do CPC/2015: 
Art. 101. Contraa decisão que indeferir a gratuidade ou a que acolher pedido de sua revogação 
caberá agravo de instrumento, exceto quando a questão for resolvida na sentença, contra a qual 
caberá apelação. 
 
Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem sobre: 
(...) 
V - rejeição do pedido de gratuidade da justiça ou acolhimento do pedido de sua revogação; 
 
Feitas estas considerações, imagine a seguinte situação hipotética: 
João ingressou com ação contra a empresa “XYZ”. 
O autor pediu a gratuidade da justiça, o que foi deferido pelo magistrado. 
A ré ingressou, então, com impugnação à gratuidade de justiça. Como isso ocorreu em janeiro/2016, a ré 
apresentou essa impugnação em autos apartados, conforme exigia a Lei nº 1.050/60. 
Em julho/2016, ou seja, já na vigência do CPC/2015, que revogou quase que integralmente a Lei nº 
1.050/60, o juiz acolheu a impugnação oferecida e revogou o benefício concedido a Joao. 
 
 
 
 
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Informativo 615-STJ (06/12/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 16 
 
João não se conforma e quer recorrer. Qual deverá ser o recurso interposto por ele para tentar modificar 
a decisão que julgou o incidente de impugnação à justiça gratuita? 
Agravo de instrumento. 
Cabe agravo de instrumento contra o provimento jurisdicional que, após a entrada em vigor do 
CPC/2015, acolhe ou rejeita incidente de impugnação à gratuidade de justiça instaurado, em autos 
apartados, na vigência do regramento anterior. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.666.321-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 07/11/2017 (Info 615). 
 
A solução para essa controvérsia envolve a chamada “sucessão de leis processuais no tempo”. Nesses 
casos, o STJ adota o princípio do tempus regit actum, no qual se fundamenta a teoria do isolamento dos 
atos processuais. 
Sobre a teoria dos atos processuais isolados, importante transcrever a lição de Marinoni e Mitidiero: 
(...) 3. Isolamento dos atos processuais 
A exata compreensão da distinção entre efeito imediato e efeito retroativo da legislação leva à 
necessidade de isolamento dos atos processuais a fim de que saiba se a aplicação da legislação 
nova importa efeito imediato ou efeito retroativo. A observação ganha em importância a 
propósito da aplicação da lei nova a situações pendentes. O que interessa é saber se do ato 
processual advém ou não direito para qualquer dos participantes do processo. Vale dizer: se há 
ou não direito adquirido processual. Nesse caso, a lei nova tem que respeitar a eficácia do ato 
processual já praticado. O exemplo clássico encontra-se no direito recursal. A lei do recurso é a lei 
do dia em que se tornou recorrível a decisão. A abertura do prazo recursal dá lugar a uma situação 
jurídica pendente: aguarda-se a interposição ou não do recurso. O recorrente tem direito à 
observação do direito vigente à época da abertura do prazo recursal. Fora daí há ofensa a direito 
processual adquirido e efeito retroativo da legislação. (...) 
(MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Código de Processual Civil - Comentado artigo por 
artigo. 5ª ed., São Paulo : RT, 2012, p. 997⁄998). 
 
Assim, de acordo com essa teoria - atualmente positivada no art. 14 do CPC/2015 - a lei processual nova 
tem aplicação imediata aos processos em desenvolvimento, resguardando-se, contudo, a eficácia dos atos 
processuais já realizados na forma da legislação anterior, bem como as situações jurídicas consolidadas 
sob a vigência da norma revogada. Veja o que diz o CPC: 
Art. 14. A norma processual não retroagirá e será aplicável imediatamente aos processos em 
curso, respeitados os atos processuais praticados e as situações jurídicas consolidadas sob a 
vigência da norma revogada. 
 
O STJ, acolhendo esse princípio, decidiu que “a lei a reger o recurso cabível e a forma de sua interposição 
é aquela vigente à data da publicação da decisão impugnada, ocasião em que o sucumbente tem a ciência 
da exata compreensão dos fundamentos do provimento jurisdicional que pretende combater” (AgInt nos 
EDcl no AREsp 949.997/AM, 3ª Turma, DJe de 21/09/2017). 
 
No caso examinado, a impugnação à concessão da assistência judiciária gratuita foi proposta na vigência 
da Lei nº 1.050/60. No entanto, a decisão que acolheu a impugnação e revogou a gratuidade de justiça 
anteriormente concedida foi proferida já na vigência do CPC/2015. 
 
Dessa maneira, apesar de instaurado o incidente em autos apartados, o recurso cabível contra o referido 
provimento jurisdicional é o agravo de instrumento, segundo a lei processual vigente à época da prolação 
da decisão recorrida (CPC/2015). 
 
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Informativo 615-STJ (06/12/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 17 
 
CUMPRIMENTO DE SENTENÇA 
É incabível a rejeição do seguro garantia judicial pelo exequente, 
salvo por insuficiência, defeito formal ou inidoneidade da salvaguarda oferecida 
 
Dentro do sistema de execução, a fiança bancária e o seguro garantia judicial produzem os 
mesmos efeitos jurídicos que o dinheiro para fins de garantir o juízo, não podendo o 
exequente rejeitar a indicação, salvo por insuficiência, defeito formal ou inidoneidade da 
salvaguarda oferecida. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.691.748-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 07/11/2017 (Info 615). 
 
O procedimento para execução de quantia pode ser realizado de duas formas: 
a) execução de quantia fundada em título executivo extrajudicial; 
b) execução de quantia fundada em título executivo judicial (cumprimento de sentença). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João ajuíza uma ação de cobrança contra a empresa “XYZ”. 
O juiz julga a sentença procedente, condenando a empresa a pagar R$ 500 mil a João. 
A empresa perdeu o prazo para a apelação, de modo que ocorreu o trânsito em julgado. 
 
O que acontece agora? 
João terá que ingressar com uma petição em juízo requerendo o cumprimento da sentença. 
 
O início da fase de cumprimento da sentença pode ser feito de ofício pelo juiz? 
NÃO. O cumprimento da sentença que reconhece o dever de pagar quantia, provisório ou definitivo, só 
pode ser feito a requerimento do exequente (art. 513, § 1º do CPC/2015). 
Cabe ao credor o exercício de atos para o regular cumprimento da decisão condenatória, especialmente 
requerer ao juízo que dê ciência ao devedor sobre o montante apurado, consoante demonstrativo 
discriminado e atualizado do crédito (art. 524 do CPC/2015). 
Em outras palavras, o início da fase de cumprimento da sentença exige um requerimento do credor: 
Art. 523. No caso de condenação em quantia certa, ou já fixada em liquidação, e no caso de decisão 
sobre parcela incontroversa, o cumprimento definitivo da sentença far-se-á a requerimento do 
exequente, sendo o executado intimado para pagar o débito, no prazo de 15 (quinze) dias, 
acrescido de custas, se houver. 
 
A partir do requerimento do credor, o que faz o juiz? 
O juiz determina a intimação do devedor para pagar a quantia em um prazo máximo de 15 dias. 
 
Se o devedor condenado é intimado para pagar e não efetua o pagamento no prazo de 15 dias, o que 
acontecerá em seguida? 
1) o montante da condenação será automaticamente acrescido de multa de 10% + honorários de 10%; 
2) será expedido mandado para que sejam penhorados e avaliados os bens do devedor para satisfação do 
crédito. Neste momento, inicia-se a execução forçada do título diante do não cumprimento espontâneo. 
 
Se for efetuado o pagamento apenas parcial, a multa e os honorários incidirão sobre o restante que faltou 
(art. 523, § 2º do CPC/2015).Na fase de cumprimento de sentença existe alguma forma de “defesa” do devedor? 
SIM. A defesa típica do devedor executado no cumprimento de sentença é a chamada impugnação. 
 Informativo 
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Informativo 615-STJ (06/12/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 18 
 
Para que o devedor apresente impugnação, é indispensável a garantia do juízo, ou seja, é necessário 
que haja penhora, depósito ou caução? 
• CPC 1973: SIM. 
• CPC 2015: NÃO. 
 
No novo CPC, a impugnação independe de prévia garantia do juízo. 
 
Qual é o prazo para a apresentação da impugnação? 
15 dias. 
 
A partir de quando é contado o prazo para que o executado ofereça impugnação? 
O prazo de 15 dias para impugnação inicia-se imediatamente após acabar o prazo de 15 dias que o 
executado tinha para fazer o pagamento voluntário (art. 525, caput). Não é necessária nova intimação. 
Acabou um prazo, começa o outro. 
Art. 525. Transcorrido o prazo previsto no art. 523 sem o pagamento voluntário, inicia-se o prazo 
de 15 (quinze) dias para que o executado, independentemente de penhora ou nova intimação, 
apresente, nos próprios autos, sua impugnação. 
 
A impugnação possui efeito suspensivo? 
O juiz pode conceder efeito suspensivo, desde que preenchidos quatro requisitos: 
a) deve haver requerimento expresso do executado/impugnante; 
b) deve estar garantido o juízo, com penhora, caução ou depósito suficientes; 
c) os fundamentos da impugnação devem ser relevantes; 
d) o executado/impugnante deverá demonstrar que o prosseguimento da execução poderá causar a si 
grave dano de difícil ou incerta reparação. 
 
Isso está previsto no § 6º do art. 525 do CPC/2015: 
§ 6º A apresentação de impugnação não impede a prática dos atos executivos, inclusive os de 
expropriação, podendo o juiz, a requerimento do executado e desde que garantido o juízo com 
penhora, caução ou depósito suficientes, atribuir-lhe efeito suspensivo, se seus fundamentos 
forem relevantes e se o prosseguimento da execução for manifestamente suscetível de causar ao 
executado grave dano de difícil ou incerta reparação. 
 
Voltando ao nosso exemplo: 
Suponhamos que a empresa ingressou com impugnação e, com o objetivo de garantir efeito suspensivo, 
apresentou “seguro garantia judicial” como forma de caução. 
O exequente não aceitou o seguro garantia, afirmando que não se tratava de caução idônea. 
 
O que o STJ decidiu? A recusa do exequente foi válida? 
NÃO. 
O seguro garantia é uma espécie de seguro. O executado contrata o seguro garantia e a seguradora 
compromete-se a pagar o valor correspondente aos depósitos judiciais que o tomador necessite realizar 
no trâmite do processo judicial. 
Dessa forma, percebe-se que o seguro garantia judicial oferece forte proteção às duas partes do processo, 
sendo instrumento sólido e hábil a garantir a satisfação do crédito. 
Tanto isso é verdade que o art. 835, § 2º do CPC/2015 previu que, para fins de substituição da penhora, a 
fiança bancária e o seguro garantia judicial são equiparados a dinheiro, desde que em valor não inferior 
ao do débito constante da inicial, acrescido de 30%. 
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Informativo 615-STJ (06/12/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 19 
 
Em suma: 
Dentro do sistema de execução, a fiança bancária e o seguro garantia judicial produzem os mesmos 
efeitos jurídicos que o dinheiro para fins de garantir o juízo, não podendo o exequente rejeitar a 
indicação, salvo por insuficiência, defeito formal ou inidoneidade da salvaguarda oferecida. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.691.748-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 07/11/2017 (Info 615). 
 
 
 
AÇÃO CIVIL PÚBLICA 
Emenda da inicial da ACP mesmo após ter sido apresentada contestação 
 
Admite-se emenda à inicial de ação civil pública, em face da existência de pedido genérico, 
ainda que já tenha sido apresentada a contestação. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.279.586-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 03/10/2017 (Info 615). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
Determinado Instituto de Proteção e Defesa dos Consumidores ajuizou ação civil pública contra o banco 
“XYZ” pedindo a não incidência de juros capitalizados nos contratos bancários e a devolução, em dobro, 
dos valores cobrados a este título dos consumidores nos últimos cinco anos. 
O banco apresentou contestação requerendo a extinção do feito, sem resolução do mérito, pela inépcia 
da Inicial considerando que o pedido formulado pelo autor era absolutamente genérico e beneficiaria 
pessoas indeterminadas em situações imprecisas. 
O juiz deu, então, oportunidade para que o autor fizesse a emenda da petição inicial a fim de sanar o vício 
apontado, nos termos do art. 321 do CPC/2015: 
Art. 321. O juiz, ao verificar que a petição inicial não preenche os requisitos dos arts. 319 e 320 ou 
que apresenta defeitos e irregularidades capazes de dificultar o julgamento de mérito, 
determinará que o autor, no prazo de 15 (quinze) dias, a emende ou a complete, indicando com 
precisão o que deve ser corrigido ou completado. 
 
O banco não concordou e recorreu contra a decisão do magistrado. Afirmou que não seria possível 
determinar a emenda da Inicial no caso em que ela já foi recebida pelo juiz e contestada pelo réu. 
Argumentou que a emenda à inicial (quando viável) somente pode ser determinada até o oferecimento 
da contestação. 
 
Agiu corretamente o magistrado ao determinar a emenda da inicial da ACP mesmo já tendo havido 
contestação apresentada? Em uma ação civil pública, é possível que o magistrado determine a emenda 
da petição inicial para correção de defeitos e irregularidades relacionados ao pedido mesmo que já 
tenha havido contestação? 
SIM. 
Em relação às ações individuais, o STJ possui julgados divergentes sobre a possibilidade ou não de emenda 
da petição inicial após a apresentação da contestação. Existem julgados admitindo e outros negando. 
No que tange às ações civis públicas, contudo, isso deve ser possível. 
As ações civis públicas são instrumentos processuais de ordem constitucional voltados à defesa de 
interesses metaindividuais, com relevância social. 
Em virtude da relevância social do bem envolvido, de natureza social, para a ação civil pública deverão ser 
adotados princípios distintos daqueles previstos pelo CPC para as ações individuais. 
Um desses princípios que serve para distinguir o regime da ação civil pública é o princípio da efetividade. 
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Informativo 615-STJ (06/12/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 20 
O princípio da efetividade está intimamente ligado ao valor social e deve ser utilizado pelo juiz da causa 
para abrandar os rigores da intelecção vinculada exclusivamente ao Código de Processo Civil - 
desconsiderando as especificidades do microssistema regente das ações civis -, dado seu escopo de servir 
à solução de litígios de caráter individual. 
A ação civil constitui instrumento de eliminação da litigiosidade de massa, capaz de dissipar infindos 
processos individuais, evitando, ademais, a existência de diversidade de entendimentos sobre o mesmo 
caso, possuindo, ademais, expressivo papel no aperfeiçoamento da prestação jurisdicional, diante de sua 
possibilidade de proteger um número elevado de pessoas mediante um único processo. 
 
Em suma: 
Admite-se emenda à inicial de ação civil pública, em face da existência de pedido genérico, ainda que já 
tenha sido apresentada a contestação. 
STJ. 4ªTurma. REsp 1.279.586-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 03/10/2017 (Info 615). 
 
 
 
DIREITO PENAL 
 
CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
In(aplicabilidade) do princípio da insignificância aos crimes contra a Administração Pública 
 
Súmula 599-STJ: O princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra a administração 
pública. 
STJ. Corte Especial. Aprovada em 20/11/2017, DJe 27/11/2017. 
 
Princípio da insignificância 
Quem primeiro tratou sobre o princípio da insignificância no direito penal foi Claus Roxin, em 1964. 
Também é chamado de “princípio da bagatela” ou “infração bagatelar própria”. 
O princípio da insignificância não tem previsão legal no direito brasileiro. Trata-se de uma criação da 
doutrina e da jurisprudência. 
Para a posição majoritária, o princípio da insignificância é uma causa supralegal de exclusão da tipicidade 
material. 
Se o fato for penalmente insignificante, significa que não lesou nem causou perigo de lesão ao bem 
jurídico. Logo, aplica-se o princípio da insignificância e o réu é absolvido por atipicidade material, com 
fundamento no art. 386, III do CPP. 
O princípio da insignificância atua, então, como um instrumento de interpretação restritiva do tipo penal. 
 
O princípio da insignificância pode ser aplicado aos crimes contra a Administração Pública? 
Para o STJ, não. Não se aplica o princípio da insignificância aos crimes contra a Administração Pública, 
ainda que o valor da lesão possa ser considerado ínfimo. 
Segundo o STJ, os crimes contra a Administração Pública têm como objetivo resguardar não apenas o 
aspecto patrimonial, mas, principalmente, a moral administrativa. Logo, mesmo que o valor do prejuízo 
seja insignificante, deverá haver a sanção penal considerando que houve uma afronta à moralidade 
administrativa, que é insuscetível de valoração econômica. 
 
Exceção 
Existe uma exceção. A jurisprudência é pacífica em admitir a aplicação do princípio da insignificância ao 
crime de descaminho (art. 334 do CP), que, topograficamente, está inserido no Título XI do Código Penal, 
que trata sobre os crimes contra a Administração Pública. 
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Informativo 615-STJ (06/12/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 21 
De acordo com o STJ, “a insignificância nos crimes de descaminho tem colorido próprio, diante das 
disposições trazidas na Lei n. 10.522/2002”, o que não ocorre com outros delitos, como o peculato etc. 
(AgRg no REsp 1346879/SC, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 26/11/2013). 
 
O STF concorda com a Súmula 599 do STJ? 
NÃO. No STF, há julgados admitindo a aplicação do princípio mesmo em outras hipóteses além do 
descaminho, como foi o caso do HC 107370, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 26/04/2011 e do HC 
112388, Rel. p/ Acórdão Min. Cezar Peluso, julgado em 21/08/2012. 
Segundo o entendimento que prevalece no STF, a prática de crime contra a Administração Pública, por si 
só, não inviabiliza a aplicação do princípio da insignificância, devendo haver uma análise do caso concreto 
para se examinar se incide ou não o referido postulado. 
 
 
 
LEI MARIA DA PENHA 
Dispensabilidade de coabitação entre autor e vítima 
 
Súmula 600-STJ: Para a configuração da violência doméstica e familiar prevista no artigo 5º 
da Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha) não se exige a coabitação entre autor e vítima. 
STJ. 3ª Seção. Aprovada em 22/11/2017, DJe 27/11/2017. 
 
Requisitos para que se configure a violência doméstica e familiar prevista na Lei Maria da Penha: 
a) sujeito passivo (vítima) deve ser pessoa do sexo feminino (não importa se criança, adulta ou idosa, 
desde que seja do sexo feminino); 
b) sujeito ativo pode ser pessoa do sexo masculino ou feminino; 
c) ocorrência de violência baseada em relação íntima de afeto, motivação de gênero ou situação de 
vulnerabilidade, nos termos do art. 5º da Lei. 
 
Veja o que diz o art. 5º da Lei nº 11.340/2006: 
Art. 5º Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer 
ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou 
psicológico e dano moral ou patrimonial: 
I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de 
pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas; 
II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se 
consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa; 
III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a 
ofendida, independentemente de coabitação. 
Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação sexual. 
 
Coabitação significa morar sob o mesmo teto. É possível a aplicação da Lei Maria da Penha (Lei nº 
11.340/2006) mesmo que não haja coabitação entre autor e vítima? 
SIM. É possível que haja violência doméstica mesmo que agressor e vítima não convivam sob o mesmo 
teto (não morem juntos). Isso porque o art. 5º, III, da Lei afirma que há violência doméstica em qualquer 
relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, 
independentemente de coabitação. 
 
 
 
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Informativo 615-STJ (06/12/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 22 
Exemplos: 
Ex1: violência praticada por irmão contra irmã, ainda que eles nem mais morem sob o mesmo teto (STJ. 
5ª Turma. REsp 1239850/DF, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 16/02/2012); 
Ex2: é possível que a agressão cometida por ex-namorado configure violência doméstica contra a mulher 
ensejando a aplicação da Lei nº 11.340/2006 (STJ. 5ª Turma. HC 182.411/RS, Rel. Min. Adilson Vieira 
Macabu (Des. Conv. do TJ/RJ), julgado em 14/08/2012). 
 
Alguns precedentes do STJ sobre o tema: 
A Lei nº 11.340/06 buscou proteger não só a vítima que coabita com o agressor, mas também aquela que, 
no passado, já tenha convivido no mesmo domicílio, contanto que haja nexo entre a agressão e a relação 
íntima de afeto que já existiu entre os dois. 
STJ. 3ª Seção. CC 102.832/MG, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, DJe 22/04/2009. 
 
A intenção do legislador, ao editar a Lei Maria da Penha, foi de dar proteção à mulher que tenha sofrido 
agressão decorrente de relacionamento amoroso, e não de relações transitórias, passageiras, sendo 
desnecessária, para a comprovação do aludido vínculo, a coabitação entre o agente e a vítima ao tempo 
do crime. 
STJ. 6ª Turma. HC 181.246/RS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, DJe 06/09/2013. 
 
A caracterização da violência doméstica e familiar contra a mulher não depende do fato de agente e vítima 
conviverem sob o mesmo teto. 
Assim, embora a agressão tenha ocorrido em local público, ela foi nitidamente motivada pela relação 
familiar que o agente mantém com a vítima, sua irmã, circunstância que dá ensejo à incidência da Lei 
Maria da Penha. 
STJ. 5ª Turma. HC 280.082/RS, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 12/02/2015. 
 
 
 
DIREITO PROCESSUAL PENAL 
 
COMPETÊNCIA 
Não compete à JF julgar crime ambiental ocorrido em programa Minha Casa Minha Vida 
pelo simples fato de a CEF ter atuado como agente financiador da obra 
 
Importante!!! 
Compete à Justiça estadual o julgamento de crime ambiental decorrente de construção de 
moradias de programa habitacional popular, nas hipóteses em que a Caixa Econômica Federal 
atue, tão somente, na qualidade de agente financiador da obra. 
O fato de a CEF atuar como financiadora da obra não temo condão de atrair, por si só, a 
competência da Justiça Federal. Isto porque para sua responsabilização não basta que a 
entidade figure como financeira. É necessário que ela tenha atuado na elaboração do projeto 
ou na fiscalização da segurança e da higidez da obra. 
STJ. 3ª Seção. CC 139.197-RS, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 25/10/2017 (Info 615). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
A empresa “Bobconstrutor” está realizando a construção de um conjunto de casas destinada a programa 
habitacional popular (programa “Minha Casa Minha Vida” - PMCMV). 
 Informativo 
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Informativo 615-STJ (06/12/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 23 
Ocorre que a construção causou o deságue de esgoto e lixo em nascentes de corpos d´água localizados na 
área de proteção ambiental. 
Diante disso, o Ministério Público federal ofereceu denúncia criminal contra os responsáveis pela obra 
imputando-lhes a prática do crime previsto no art. 54, § 2º, V, da Lei nº 9.605/98: 
Art. 54. Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em 
danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa 
da flora: 
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. 
(...) 
§ 2º Se o crime: 
(...) 
V - ocorrer por lançamento de resíduos sólidos, líquidos ou gasosos, ou detritos, óleos ou 
substâncias oleosas, em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou regulamentos: 
Pena - reclusão, de um a cinco anos. 
 
O MPF afirmou que a competência para julgar este delito seria da Justiça Federal em virtude de a Caixa 
Econômica Federal (empresa pública federal) ter atuado como agente financiador da obra. Logo, incidiria 
a hipótese do art. 109, IV, da CF/88: 
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: 
(...) 
IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou 
interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as 
contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral; 
 
O MPF argumentou, em reforço, que os fatos acima narrados foram objeto de ação civil pública proposta 
não apenas contra a construtora como também contra a CEF, processo que tramitou na Justiça Federal. 
Vale ressaltar, inclusive, que a CEF, juntamente com a construtora, assinou termo de ajustamento de 
conduta para a reparação do dano ambiental causado. 
 
E, então, a competência para julgar esta ação penal é da Justiça Federal? 
NÃO. 
 
A atuação da CEF no PMCMV pode acontecer de duas formas: 
a) como agente executor de políticas públicas federais de promoção à moradia; ou 
b) como agente financeiro em sentido estrito, na qualidade de responsável pela liberação de recursos 
financeiros para a aquisição de imóvel já edificado. 
 
Na primeira situação, a CEF possui responsabilidade solidária com a construtora pela solidez e segurança 
da obra, tendo em vista sua atuação fiscalizadora sobre a aplicação dos recursos públicos destinados ao 
financiamento imobiliário. 
Na segunda hipótese, a CEF atua apenas na qualidade de mutuante, disponibilizando os valores 
necessários à aquisição do imóvel, não fiscalizando a construção. 
 
O fato de a CEF atuar como financiadora da obra não tem o condão de atrair, por si só, a competência da 
Justiça Federal. Isto porque, para sua responsabilização, não basta que figure como financeira, ou seja, é 
imprescindível sua atuação na elaboração do projeto ou na fiscalização da segurança e da higidez da obra. 
 
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Informativo 615-STJ (06/12/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 24 
Em outras palavras, para ser responsabilizada por danos ambientais, a CEF deve ter atuado na qualidade 
de fiscalizadora da segurança e higidez da obra, especialmente em se tratando de direito penal que 
inadmite a responsabilidade objetiva. 
 
Em suma: 
Compete à Justiça estadual o julgamento de crime ambiental decorrente de construção de moradias de 
programa habitacional popular (programa Minha Casa Minha Vida), nas hipóteses em que a Caixa 
Econômica Federal atue, tão somente, na qualidade de agente financiador da obra. 
STJ. 3ª Seção. CC 139.197-RS, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 25/10/2017 (Info 615). 
 
 
 
NULIDADE 
Indeferimento do pedido de incidente de falsidade formulado anos 
após a prova ter sido juntada e depois da sentença condenatória 
 
Não há nulidade na decisão que indefere pedido de incidente de falsidade referente à prova 
juntada aos autos há mais de 10 anos e contra a qual a defesa se insurge somente após a 
prolação da sentença penal condenatória, uma vez que a pretensão está preclusa. 
STJ. 5ª Turma. RHC 79.834-RJ, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 07/11/2017 (Info 615). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João foi condenado a 13 anos de reclusão pela prática de corrupção ativa e descaminho. 
Após a condenação, a defesa interpôs apelação pedindo a instauração de incidente de falsidade e a 
realização de perícia no CD que foi juntado aos autos e que continha as interceptações telefônicas que 
foram utilizadas para embasar a condenação. 
Vale ressaltar que essas provas já haviam sido juntadas aos autos há mais de 10 anos. 
O juiz indeferiu a instauração do incidente de falsidade por considerá-lo intempestivo e por ter sido 
requerido após a prolação da sentença. 
O réu impetrou habeas corpus contra essa decisão alegando que ela seria nula por violar a ampla defesa. 
 
A questão chegou até o STJ. A tese do condenado foi aceita pelo Tribunal? 
NÃO. 
Não há nulidade na decisão que indefere pedido de incidente de falsidade referente à prova juntada 
aos autos há mais de 10 anos e contra a qual a defesa se insurge somente após a prolação da sentença 
penal condenatória, uma vez que a pretensão está preclusa. 
STJ. 5ª Turma. RHC 79.834-RJ, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 07/11/2017 (Info 615). 
 
Embora não exista prazo definido em lei para que se possa requerer a instauração do incidente de falsidade 
documental previsto no art. 145 e seguintes do Código de Processo Penal, o fato é que o ofício expedido pela 
Polícia Federal que deferiu a citada diligência, acompanhado do respectivo CD, foi juntado aos autos há mais 
de dez anos, de forma que a defesa quedou-se inerte por todo esse período, deixando para impugná-lo 
somente após a prolação da sentença condenatória, quando já encerrada a instrução processual. 
Admitir o incidente apenas nesta fase processual significaria violar os princípios da segurança jurídica, da 
razoabilidade, da lealdade processual e da boa-fé objetiva, diante da reabertura da fase de produção de 
provas mesmo diante da inércia da parte. 
Vale ressaltar ainda que o juiz possui a prerrogativa de indeferir, de forma fundamentada, diligências 
consideradas protelatórias, desnecessárias ou sem pertinência com a instrução do processo, sem que isso 
caracterize cerceamento de defesa. Trata-se de uma discricionariedade regrada do magistrado processante. 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 615-STJ (06/12/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 25 
Finalmente, é importante destacar que tanto o STJ como o STF entendem que a declaração de nulidade exige 
a comprovação de prejuízo, em consonância com o princípio pas de nullite sans grief, consagrado no art. 563 
do CPP. O simples fato de o réu ter sido condenado não representa o prejuízo exigido

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