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INTRODUÇÃO 
 
 Acredita-se que estão ingenuamente enganados os que pensam a Educação 
Inclusiva somente em relação à criança com deficiência, como se TODAS as outras já 
fizessem parte efetivamente do processo pedagógico. A colocação que, num primeiro 
momento, faz-se pertinente é a constatação da separação existente entre os dois sistemas 
paralelos de ensino: o regular e o especial. Eles competem entre si não apenas no que se 
refere à baixa qualidade do ensino oferecido, mas também em relação aos projetos e 
programas desarticulados, que são conflituosos, gerando desperdício, ineficácia, 
ineficiência e desigualdade de oportunidades. 
Para que se possa conceber a Escola Inclusiva, é necessário continuar 
trilhando um longo caminho. É imprescindível que a instituição escolar fique mais 
atenta aos interesses, às características, às dificuldades e às resistências apresentadas 
pelos alunos no dia-a-dia da instituição e no decorrer do processo de aprendizagem. 
Dessa forma, o ambiente escolar precisa constituir-se como um espaço aberto, 
acolhedor, preparado e disposto a atender às peculiaridades de cada um. 
É preciso (re) pensar e (re) estruturar o sistema e a estrutura da Educação 
convencional, a fim de que se diminuam e, quem sabe, possam ser eliminados, os 
obstáculos que impedem que TODOS os educandos progridam, tornando o sistema 
educacional mais justo, coerente, eficaz e equânime. Esse entendimento do 
desempenho escolar e dos planejamentos didáticos, de acordo com a concepção 
inclusiva, sem dúvida, revoluciona o que, tradicionalmente, pratica-se nas escolas ainda 
hoje. 
Se os espaços escolares fossem inclusivos, concorreriam para estimular os 
educandos em geral a se comportarem ativamente diante dos desafios da instituição, 
abandonando, na medida do possível, os estereótipos, os condicionamentos e a 
dependência que lhes são típicos. 
A proposta de “inclusão” social, econômica, política, cultural e educacional 
deve ser incondicional e, portanto, não admite qualquer forma de segregação, o que 
ainda não acontece. Esta opção de inserção, que tem como meta principal não deixar 
nenhum aluno fora do ensino regular, desde o início da escolarização, questiona o papel 
do meio social no processo interativo de produção das incapacidades, porque TODOS 
têm o direito de desenvolver-se em ambientes que não discriminem, mas que procurem 
lidar e trabalhar com as diferenças, respeitando os comprometimentos e as limitações de 
cada um. 
 
 
RESUMO 
 
Ao abordar o tema escolhido tentamos cuidar para que, em um estudo como esse 
– a inclusão escolar de alunos com deficiência no ensino regular – não optássemos por 
empregar e utilizar palavras amenas e socialmente aceitáveis, mais facilmente ouvidas, 
o que contribui para o “não-enfrentamento”, a “não-percepção”, enfim, a negação da 
“deficiência”, que foi, é, e continuará sendo uma situação real, que sempre fez e 
continuará fazendo parte da existência humana. 
 Não estamos aqui nos referindo a diferenças visíveis e sensíveis de gênero, raça, 
religião, idade, cor da pele, dos olhos, dos cabelos, perceptíveis à primeira vista.... Estas 
são aceitáveis sem grandes esforços e sofrimentos. Estamos falando, sim, de 
deficiências de outra ordem, congênitas ou adquiridas, que podem desencadear 
situações de “transtornos, limitações ou comprometimentos” e que têm sido, muitas 
vezes, negadas ou desconsideradas perante o quadro educacional, social, econômico e 
cultural vigente. 
 
 
 
 
 
 
 
AULA 01: CONCEITOS E DEFINIÇÕES 
 
O critério e o cuidado no emprego de termos e expressões ao nos referirmos a 
pessoas com deficiência é uma necessidade que se impõe para a remoção de barreiras 
atitudinais, decorrentes de juízos equivocados sobre a capacidade e aptidões das pessoas 
com deficiências. 
Segundo o Programa de Ação Mundial para Pessoas com Deficiência, 
publicado em 1997 pela Coordenadoria Nacional para a Integração da Pessoa Portadora 
de Deficiência, a Organização Mundial de Saúde (OMS) propõe os seguintes conceitos: 
 Deficiência é toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou função psicológica, 
fisiológica ou anatômica. 
 Incapacidade é toda restrição ou falta (devido a uma deficiência) da capacidade de 
realizar atividades na forma ou na medida que se considera normal para o ser 
humano. 
 Impedimento é situação desvantajosa para um determinado indivíduo, em 
conseqüência de uma deficiência ou de uma incapacidade que lhe limita ou impede 
o desempenho de um papel que é normal em seu caso (em função de idade, sexo, 
fatores sociais e culturais). 
A tendência entre os profissionais que trabalham com pessoas que 
apresentam algum tipo de deficiência é a utilização de uma nomenclatura próxima à da 
OMS, em que permanece explícita a concepção de causalidade mecânica, isto é, “o 
impedimento leva à deficiência e esta, por sua vez, à incapacidade”. 
A noção de “deficiência” é uma questão contingencial e decorre de normas e 
expectativas da sociedade. É uma situação que surge como produto da interação entre 
aqueles que são portadores de determinados atributos e o meio social que interpreta e 
considera como sendo desvantagens. 
Vale a pena destacar as contradições que cercam a tradicional e comum 
expressão “pessoa portadora de deficiência”, que tem sido substituída por outras, como 
“pessoas portadoras de necessidades especiais” ou “portadoras de necessidades 
educacionais especiais”, quando referidas à escolarização. Embora seus usos tentem 
minimizar ou descaracterizar as deficiências em si mesmas, é necessário certo cuidado, 
porque nem sempre aqueles que apresentam necessidades educacionais especiais são, 
necessariamente, “alunos com deficiências”. 
Uma outra impropriedade dessas expressões é que, em ambas, o termo 
“portadoras” parece inadequado. Necessidades não se portam, como objetos; 
necessidades são experimentadas e manifestam-se. Há que ter olhos para ver, vontade e 
condições de satisfazê-las. Todavia, a expressão “necessidades especiais” não deve ser 
tomada como sinônimo de “deficiências” (mentais, sensoriais, físicas ou múltiplas) 
porque é um termo que não traduz o que os educadores realmente querem dizer – 
necessidades educacionais especiais. Eventualmente, as necessidades especiais podem 
ser educacionais, ou seja, pertinentes ao campo da educação. É frequente o uso 
indiscriminado das expressões “necessidades especiais e necessidades educacionais 
especiais”. 
Necessidades especiais podem ser consideradas como as exigências de um 
determinado indivíduo, em decorrência da falta ou da privação das condições orgânicas 
ou psicológicas, estruturais ou funcionais, que se manifestam no cotidiano. Contudo, o 
que não pode ser mais aceitável é o uso de vocábulos como “deficiente” ou 
“deficientes”, quando empregados como substantivos porque esses seres humanos, 
rotulados em nossa cultura, e consequentemente, na literatura especializada, possuem 
identidade e estão situados geográfica e historicamente. 
É nesta perspectiva que especialistas da área como Lígia Assumpção 
Amaral, José Geraldo S. Bueno, Júlio Romero Ferreira, Maria Tereza Eglér Mantoan, 
paulatinamente, vão assumindo a terminologia da “diferença/deficiência” como 
representação de uma nova postura na área de educação especial. O insucesso de nossa 
escola revela que não apenas as crianças com deficiência que apresentam necessidades 
referentes ao “aprender a aprender, aprender a fazer, aprender a ser e aprender a estar 
junto”. 
Na verdade, cada nomenclatura revela um aspecto, projeta uma face, 
deforma de um jeito. Não recobrem por inteiro o que continua aparente... Preferir uma 
nomenclatura aoutra não é questão aleatória. O nome carrega crenças, mostra pontos-
de-vista, revela intenções. Enfim, é com base nessas considerações e na necessidade de 
adotar uma nomenclatura que utilizamos a expressão “alunos ou pessoas com 
deficiência” no decorrer dessa disciplina. 
Acreditamos que, independente dos inegáveis obstáculos encontrados por 
alunos com deficiência, em particular, no contexto escolar, o sucesso da aprendizagem e 
da integração social de toda criança é determinado, também, pelo conjunto das 
condições concretas de vida, pelas dificuldades produzidas através das relações que se 
estabelecem entre os seres humanos. Nesse sentido, ninguém é deficiente por si só. 
Alguém é deficiente perante uma audiência e dentro de determinadas circunstâncias. 
Em síntese, ao propormos esta revisão conceitual, queremos sublinhar o 
quanto a terminologia interfere no imaginário coletivo, produzindo sentimentos de 
rejeição e discriminação social nas próprias pessoas com deficiência, desenvolvendo-
lhes sentimentos de auto-estima negativa. É necessário, portanto, empregar as palavras 
com cuidado e critério, alertando para seus sentidos conotativo e denotativo, pois não 
podemos descuidar de sua força, poder e efeito na história de vida de uma pessoa. 
 
 
 
DESTAQUE 
 
Ao trabalhar todo e qualquer tema, é imprescindível escolher conceito ou 
conceitos que possam funcionar como bússola na condução das ideias que serão 
desenvolvidas. Porém, o conceituar pode mascarar ou aprisionar o pensamento. Por 
isso, optamos por apresentar definições existentes, tomando cuidado para não cair na 
armadilha de tratar conceitos como fim em si mesmos, mas usá-los para ampliar, cada 
vez mais, a discussão sobre o perigo do quanto podemos limitar o ato de pensar, por 
nos prendermos a termos que não conseguem revelar todas as nuances que envolvem 
um tema tão complexo como “deficiência”. 
 
 
 
 
 
É importante destacar que não existe nenhum método ideal ou perfeito da 
Educação Física que se aplique no processo de Inclusão, porque o professor sabe e pode 
combinar numerosos procedimentos para remover barreiras e promover a aprendizagem 
dos seus alunos. No entanto, alguns princípios inclusivistas devem ser levados em 
consideração, tais como: 
 
AUTONOMIA 
É a condição de domínio no ambiente físico e social, preservando ao 
máximo a privacidade e a dignidade da pessoa que a exerce. Segundo Guimarães 
(1994), ter maior ou menor autonomia significa para a pessoa com deficiência ter maior 
ou menor controle nos vários ambientes físicos e sociais que ela queira e/ou necessite 
freqüentar para atingir seus objetivos. 
 
 
INDEPENDÊNCIA 
É a faculdade de decidir sem depender de outras pessoas, tais como 
membros da família ou profissionais especializados. 
 
EMPOWERMENT (empoderamento, fortalecimento) 
 Processo pelo qual uma pessoa, ou um grupo de pessoas, usa o seu poder 
pessoal inerente à sua condição - por exemplo: deficiência, gênero, idade, cor - para 
fazer suas escolhas e tomar decisões, assumindo assim o controle de sua vida. Nesse 
sentido, independência e empowerment são conceitos interdependentes. 
 
EQUIPARAÇÃO DE OPORTUNIDADES 
Significa o processo através do qual os sistemas gerais da sociedade - tais 
como o ambiente físico e cultural, a habitação e os transportes, os serviços sociais e de 
saúde, as oportunidades educacionais e de trabalho, a vida cultural e social, incluindo as 
instalações esportivas e recreativas - são feitos acessíveis para todos. (United Nations, 
1983) 
 
INCLUSÃO SOCIAL 
 Processo pelo qual a sociedade se adapta para poder incluir, em seus 
sistemas sociais gerais, pessoas com necessidades especiais e, simultaneamente, estas se 
preparam para assumir seus papéis na sociedade. A inclusão social constitui então, um 
processo bilateral no qual as pessoas, ainda excluídas, e a sociedade buscam, em 
parceria, equacionar problemas, decidir sobre soluções e efetivar a equiparação de 
oportunidades para todos. Modificação da sociedade como pré-requisito para a pessoa 
com necessidades especiais buscar seu desenvolvimento e exercer a cidadania. 
 
REJEIÇÃO ZERO 
 Consiste em não rejeitar uma pessoa, para qualquer finalidade - por 
exemplo: emprego, terapia ou educação - com base no fato de que ela possui uma 
deficiência ou por causa do grau de severidade dessa deficiência. 
 
VIDA INDEPENDENTE 
O conceito de vida independente compreende movimento, filosofia, 
serviços, equipamentos, centros, programas e processo, em relação aos quais as figuras 
centrais são os cidadãos portadores de deficiência que se libertaram ou estão em vias de 
se libertar da autoridade institucional ou familiar. 
É ter oportunidades para tomar decisões que afetam a própria vida, realizar 
atividades de própria escolha (...) Vida independente tem a ver com a autodeterminação. 
E com o direito a oportunidade para seguir um determinado caminho. E significa ter 
liberdade de falhar e aprender das próprias falhas, tal qual fazem as pessoas não-
deficientes. Vida independente e exercício de cidadania são dois lados da mesma 
moeda. 
Cidadania significa fazer escolhas e ter a coragem de levá-las adiante, 
mesmo errando. (...) Significa não ser um mero receptáculo passivo de novos serviços 
especializados, e sim um consumidor consciente e criativo 
 
 No artigo EDUCAÇÃO FÍSICA E INCLUSÃO: CONSIDERAÇÕES 
PARA A PRÁTICA PEDAGÓGICA NA ESCOLA de Ruth Eugênia Cidade e Patrícia 
Silvestre Freitas, as autoras sugerem que o professor de Educação Física considere 
alguns aspectos fundamentais, necessários e já conhecidos para uma melhor adequação 
das tarefas ao tipo de necessidade (como forma de minimizar as barreiras para a 
aprendizagem) que os alunos possam apresentar. Dentre eles: 
1. Aprendizagem global versus aprendizagem por partes - a aprendizagem por 
partes é conveniente quando a complexidade da tarefa vai aumentando. A demonstração 
do modelo total pode ser o mais adequado quando o movimento não pode ser 
decomposto ou quando a tarefa se apresenta de fácil execução. O objetivo é conseguir 
que o aluno perceba a globalidade do ato motor e seja capaz de executá-lo. 
2. Importância da propriocepção na aprendizagem de uma habilidade motora - a 
aprendizagem do movimento é influenciado e facilitado pela percepção cinestésica. 
Assim o aluno pode vivenciar o movimento, visualizar, apontar no outro, observar e 
comparar os seus movimentos com o do colega. 
3. Capacidade lingüística - é de suma importância que o professor conheça a 
capacidade lingüística de seus alunos, já que a comunicação verbal é um dos meios mais 
utilizados no processo de aprendizagem motora. 
4. Tipo de ajuda prestada - o professor de Educação Física deverá prestar ajuda ao 
aluno que necessite dela para executar o movimento, procurando escolher a que seja 
mais adequada a situação, seja ela verbal ou por demonstração. Em alguns casos a ajuda 
manual ou mecânica poderá ser necessária para os portadores de deficiência mais 
comprometidos ou a medida que aumente a complexidade da resposta 
Sabemos que nem todas as escolas estão preparadas para receber o aluno 
com deficiência e por vários motivos, entre eles, porque os professores não se sentem 
preparados para atender adequadamente as necessidades daqueles alunos e porque os 
escolares que não têm deficiência não foram preparados sobre como aceitar ou brincar 
com os colegas com deficiência. 
 
 
 
RESUMO 
 
A Educação Física Adaptada "é uma área da Educação Física que tem como 
objeto de estudo a motricidade humana para as pessoas com necessidades educativas 
especiais, adequando metodologiasde ensino para o atendimento às características de 
cada pessoa com de deficiência, respeitando suas diferenças individuais" (Duarte e 
Werner, 1995: 9).

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