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Apostila Processo Penal Inquérito Policial

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Inquérito Policial 
1º Conceito 
Segundo a doutrina, inquérito policial é uma fase 
preliminar e informativa, pois consubstancia-se numa 
atividade preparatória para a ação penal. Somente após o 
inquérito policial é que teremos a fase processual. 
 
Dessa forma, pode-se conceituar inquérito policial como o 
conjunto de diligências realizadas pela polícia 
judiciária para a apuração da existência de uma infração 
penal e da sua autoria, fornecendo, assim, elementos para 
convencer o titular da ação penal a ingressar ou não em 
juízo. 
 
O inquérito policial também pode influenciar na 
decretação de medidas cautelares no decorrer da 
persecução penal, pois, com base nele, o magistrado 
poderá tomar decisões antes mesmo de iniciado o processo. 
Exemplo: decretação da prisão preventiva ou determinação 
da intercepção telefônica. 
 
2º Polícia judiciária X polícia administrativa 
 
Art. 4º. A polícia judiciária será exercida pelas 
autoridades policiais no território de suas 
respectivas circunscrições e terá por fim a 
apuração das infrações penais e da sua autoria. 
 
a) Polícia judiciária: a polícia judiciária tem atuação 
repressiva, pois age após a ocorrência da infração, 
visando constatação da materialidade delitiva e da sua 
autoria. Exemplo: polícia civil. 
 
b) Polícia administrativa: a polícia administrativa tem 
atuação preventiva, pois busca impedir a ocorrência da 
infração. Exemplo: polícia MILITAR estadual. 
 
3º Inquéritos não policiais 
 
Art. 4. (…) 
Parágrafo único. A competência definida neste 
artigo não excluirá a de autoridades 
 
 
administrativas, a quem por lei seja cometida a 
mesma função. 
 
O inquérito policial, em que pese seja a forma mais comum, 
não é o único meio de investigação de fatos criminosos. O 
ordenamento jurídico permite que outras autoridades 
realizem investigações próprias, destinadas à apuração 
de infrações penais e à viabilização da ação criminal. As 
hipóteses mais citadas pela doutrina são as seguintes: 
 
a) Inquéritos parlamentares: são os realizados pelas 
Comissões Parlamentares de Inquérito - CPI, devendo estas, 
ao final de suas investigações, remeter o relatório com 
suas conclusões ao Ministério Público ou à autoridade 
administrativa ou judicial com poder de decisão. O 
referido inquérito será analisado e, dentro de 30 dias, 
deverá ser informada à CPI quais as providências adotadas. 
Se houver tido instauração de um procedimento investigado 
ou um processo judicial, a autoridade que o presidir 
deverá, a cada 06 meses, informar à CPI como se encontra 
o procedimento. 
 
b) Inquéritos policiais militares: estão a cargo da 
policial judiciária militar, composta por integrantes da 
carreira. Salienta-se que é cabível inquérito militar no 
âmbito da polícia civil, coexistindo os procedimentos. 
 
c) Inquérito civil Público: é aquele presidido pelo MP 
com o objetivo de reunir elementos para a propositura de 
uma Ação Civil Pública. A jurisprudência entende que é 
possível o oferecimento de ação penal (denúncia) com 
base em provas colhidas no âmbito de inquérito civil 
conduzido por membro do Ministério Público (RE 646.893). 
 
d) Investigação pelo Ministério Público: o Ministério 
Público pode realizar diretamente a investigação de 
crimes. 
 
Adota-se aqui a teoria dos poderes implícitos. Segundo 
essa doutrina, nascida nos EUA (Mc CulloCh vs. Maryland – 
1819), se a Constituição outorga determinada atividade-
 
 
fim a um órgão, significa dizer que também concede todos 
os meios necessários para a realização dessa atribuição. 
Ou seja, como a CF/88 confere ao MP as funções de 
promover a ação penal pública, é lógico se deduzir que 
ela também atribui ao Parquet todos os meios necessários 
para o exercício da denúncia, dentre eles a possibilidade 
de reunir provas para que fundamentem a acusação (art. 
129, I). 
 
Ademais, a CF/88 não outorgou à Polícia o monopólio da 
atribuição de investigar crimes. Desse modo, não é 
inconstitucional a investigação realizada diretamente 
pelo MP. Esse é o entendimento do STF e do STJ. 
 
Fundamentos constitucionais: 
Além da doutrina dos poderes implícitos, a doutrina cita 
como fundamento constitucional que autoriza, de forma 
implícita, o poder de investigação do MP os seguintes 
dispositivos constitucionais: 
 
Art. 129. São funções institucionais do 
Ministério Público: 
I - promover, privativamente, a ação penal 
pública, na forma da lei; 
(...) 
VI - expedir notificações nos procedimentos 
administrativos de sua competência, 
requisitando informações e documentos para 
instruí-los, na forma da lei complementar 
respectiva; 
VII - exercer o controle externo da atividade 
policial, na forma da lei complementar 
mencionada no artigo anterior; 
VIII - requisitar diligências investigatórias e 
a instauração de inquérito policial, indicados 
os fundamentos jurídicos de suas manifestações 
processuais; 
IX - exercer outras funções que lhe forem 
conferidas, desde que compatíveis com sua 
finalidade, sendo-lhe vedada a representação 
judicial e a consultoria jurídica de entidades 
públicas. 
 
Fundamentos Legais: 
 
 
Além dos fundamentos consitucionais, a doutrina também 
cita alguns fundamentos legais a autorizar Lei 
Complementar n.° 75/1993, também de forma implícita, 
autoriza a realização de atos de investigação nos 
seguintes termos: 
 
Art. 8º Para o exercício de suas atribuições, o 
Ministério Público da União poderá, nos 
procedimentos de sua competência: 
I - notificar testemunhas e requisitar sua condução 
coercitiva, no caso de ausência injustificada; 
(...) 
V - realizar inspeções e diligências 
investigatórias; 
(...) 
VII - expedir notificações e intimações necessárias 
aos procedimentos e inquéritos que instaurar; 
 
Parâmetros que devem ser respeitados para que a 
investigação conduzida diretamente pelo MP seja legítima: 
Segundo o STF (RE 593727/MG), para que as investigações 
realizadas diretamente pelo Ministério Público sejam 
válidas, é preciso que sejam seguidos os seguintes 
parâmetros: 
 
1) Devem ser respeitados os direitos e garantias 
fundamentais dos investigados; 
2) Os atos investigatórios devem ser necessariamente 
documentados e praticados por membros do MP; 
3) Devem ser observadas as hipóteses de reserva 
constitucional de jurisdição, ou seja, determinadas 
diligências somente podem ser autorizadas pelo Poder 
Judiciário nos casos em que a CF/88 assim exigir (ex: 
interceptação telefônica, quebra de sigilo bancário etc); 
4) Devem ser respeitadas as prerrogativas profissionais 
asseguradas por lei aos advogados; 
5) Deve ser assegurada a garantia prevista na Súmula 
vinculante 14 do STF (“É direito do defensor, no 
interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos 
de prova que, já documentados em procedimento 
investigatório realizado por órgão com competência de 
polícia judiciária, digam respeito ao exercício do 
direito de defesa”); 
 
 
6) A investigação deve ser realizada dentro de prazo 
razoável; 
7) Os atos de investigação conduzidos pelo MP estão 
sujeitos ao permanente controle do Poder Judiciário. 
 
e) Investigação por particulares: na prática, não existe, 
porque é muito difícil. Contudo, o particular poderá 
denunciar, verbalmente ou por escrito, à autoridade 
policial a ocorrência de uma infração penal: 
 
Art. 5º. (...) 
§3o Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento 
da existência de infração penal em que caiba ação 
pública poderá, verbalmente ou por escrito, 
comunicá-la à autoridadepolicial, e esta, 
verificada a procedência das informações, mandará 
instaurar inquérito. 
 
 
 
4º Natureza jurídica do inquérito policial 
O inquérito policial tem natureza de ato administrativo, 
de caráter informativo e preparatório para a ação penal. 
Rege-se pelas regras do ato administrativo em geral. 
 
5º Características do inquérito policial 
a) Discricionariedade: porque a autoridade policial 
possui liberdade de conduzir as investigações da forma 
que melhor lhe aprouver. Exatamente por isso que a 
autoridade policial poderá ou não atender aos 
requerimentos patrocinados pela vítima (ou seu 
representante legal) e pelo indiciado: 
 
Art. 14. O ofendido, ou seu representante legal, e 
o indiciado poderão requerer qualquer diligência, 
que será realizada, ou não, a juízo da autoridade. 
 
A discricionariedade da autoridade policial, contudo, não 
é ilimitada. Inicialmente, nas infrações penais que 
deixem vestigio, ele está obrigado a deferir a realização 
de exame de corpo de delito requerido pelas partes. 
 
 
 
Ademais, em que pese não exista hierarquia entre os 
juízes, promotores e os delegados, a autoridade policial 
é obrigada a realizar as diligências, devidamente 
justificadas, requeridas pelos juízes e promotores: 
 
Art.13. Incumbirá ainda à autoridade policial: 
II - realizar as diligências requisitadas pelo juiz 
ou pelo Ministério Público; 
 
Art. 16. O Ministério Público não poderá requerer 
a devolução do inquérito à autoridade policial, 
senão para novas diligências, imprescindíveis ao 
oferecimento da denúncia. 
 
 
b) Escrito: o inquérito, por exigência legal, sempre 
deverá ser escrito. Os atos produzidos oralmente serão 
reduzidos a termo: 
 
Art.9o. Todas as peças do inquérito policial serão, 
num só processado, reduzidas a escrito ou 
datilografadas e, neste caso, rubricadas pela 
autoridade. 
 
Nada impede, contudo, que outras formas de documentação 
(exemplo: gravações de som e de imagem) sejam 
acrescentadas ao inquérito policial, a fim de conferir a 
este maior legitimidade. 
 
c) Sigiloso: o inquérito policial é um procedimento 
essencialmente sigiloso, é dizer, não se admite que 
estranhos à persecução e que a imprensa tenha acesso ao 
conteúdo do inquérito, mas, por questões óbvias, tal 
sigilo não se estende ao magistrado e ao membro do MP. A 
exigência do sigilo tem como objetivo preservar a figura 
do indiciado, principalmente se ele for inocente, 
evitando, portanto, a condenação sumária pela opinião 
pública. 
 
 
Art. 20. A autoridade assegurará no inquérito o 
sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido 
pelo interesse da sociedade. 
 
 
 
Parágrafo único. Nos atestados de antecedentes que 
lhe forem solicitados, a autoridade policial não 
poderá mencionar quaisquer anotações referentes à 
instauração de inquérito contra os requerentes 
 
 
Cumpre ressaltar que o STF entende que o caráter sigiloso 
do inquérito não poderá ser oposto contra o próprio 
investigado, cujo defensor tem o direito de ter acesso ao 
que já foi documentado no inquérito policial: 
 
STF - Súmula Vinculante nº 14: É direito do defensor, no 
interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos 
de prova que, já documentados em procedimento 
investigatório realizado por órgão com competência de 
polícia judiciária, digam respeito ao exercício do 
direito de defesa. 
Negativa de que o réu tenha acesso a termos de declaração 
prestados por colaborador premiado e que não digam 
respeito aos fatos imputados ao acusado: Não viola o 
entendimento da súmula vinculante nº 14 a decisão do juiz 
que nega a réu denunciado com base em um acordo de 
colaboração premiada o acesso a outros termos de 
declarações que não digam respeito aos fatos pelos quais 
ele está sendo acusado, especialmente se tais declarações 
ainda estão sendo investigadas, situação na qual existe 
previsão de sigilo, nos termos do art. 7º da Lei nº 
12.850/2013 (STF - Rcl 22009 AgR/PR). 
 
Conforme entendimento do STF, a súmula vinculante nº 14 
assegura ao defensor legalmente constituído o direito de 
acesso às “provas já produzidas e formalmente 
incorporadas ao procedimento investigatório, excluídas, 
consequentemente, as informações e providências 
investigatórias ainda em curso de execução e, por isso 
mesmo, não documentados no próprio inquérito ou processo 
judicial” (STF HC 93.767). 
 
Outro motivo que impediu o acesso do referido réu está no 
fato de que os outros 02 termos de declaração ainda 
 
 
estavam sob sigilo prévio, conforme determina o art. 7º 
da Lei nº 12.850/2013: 
 
Art. 7º. O pedido de homologação do acordo será 
sigilosamente distribuído, contendo apenas 
informações que não possam identificar o 
colaborador e o seu objeto. 
 
§1º - As informações pormenorizadas da colaboração 
serão dirigidas diretamente ao juiz a que recair a 
distribuição, que decidirá no prazo de 48 (quarenta 
e oito) horas. 
 
§2º - O acesso aos autos será restrito ao juiz, ao 
Ministério Público e ao delegado de polícia, como 
forma de garantir o êxito das investigações, 
assegurando-se ao defensor, no interesse do 
representado, amplo acesso aos elementos de prova 
que digam respeito ao exercício do direito de 
defesa, devidamente precedido de autorização 
judicial, ressalvados os referentes às diligências 
em andamento. 
 
§3º - O acordo de colaboração premiada deixa de ser 
sigiloso assim que recebida a denúncia, observado o 
disposto no art. 5º. 
 
Este sigilo tem 02 objetivos básicos: 
 
a) Preservar os direitos assegurados ao colaborador, 
dentre os quais o de “ter nome, qualificação, imagem e 
demais informações pessoais preservados” (art. 5º, II) e 
o de “não ter sua identidade revelada pelos meios de 
comunicação, nem ser fotografado ou filmado, sem sua 
prévia autorização por escrito” (art. 5º, V, da Lei nº 
12.850/2013); e 
b) Garantir o êxito das investigações (art. 7º, § 2º e 
art. 8, § 3º). 
 
d) Oficialidade: porque o delegado – quem preside o 
inquérito policial – faz parte de órgão oficial do Estado. 
 
e) Oficiosidade: o inquérito policial pode ser instaurado 
de ofício pela autoridade policial? Depende do tipo de 
 
 
ação penal cabível para o crime que se deseja investigar. 
Vejamos: 
 
 
Ação penal INCONDICIONADA. Ação penal CONDICIONADA e 
Ação penal PRIVADA. 
 
Nas ações penais 
incondicionadas, a 
autoridade policial deverá 
atuar de oficio, 
instaurando o inquérito e 
apurando os fatos. 
 
Dispensa-se, portanto, 
qualquer autorização para 
agir (CPP, art. 5º, I). 
 
Art. 5o. Nos crimes de ação 
pública o inquérito 
policial será iniciado: 
I - de ofício nas ações 
públicas incondicionadas. 
 
Nas ações penais privadas 
ou condicionadas à 
representação, a autoridade 
depende de requerimento ou 
autorização da vítima (ou 
do seu representante legal) 
para iniciar o inquérito 
policial. 
 
Art. 5º. Nos crimes de ação 
pública o inquérito policial 
será iniciado: 
II - mediante requisição da 
autoridade judiciária ou do 
Ministério Público, ou a 
requerimento do ofendido ou 
de quem tiver qualidade para 
representá-lo. 
 
§4o - O inquérito, nos crimes 
em que a ação pública 
depender de representação, 
não poderá sem ela ser 
iniciado. 
 
§5o - Nos crimes de ação 
privada, a autoridade 
policial somente poderá 
proceder a inquérito a 
requerimento de quem tenha 
qualidade para intentá-la. 
 
 
 
 
 
 
 
f) Indisponibilidade: por ser deordem pública, o 
inquérito policial uma vez iniciado NÃO poderá ser 
arquivado, devendo ser levado até o final (CPP, art. 17). 
Veja que a autoridade policial tem discricionariedade 
para iniciar ou não o inquérito, mas, uma vez iniciado, o 
delegado de polícia não pode dispor dele. Exatamente por 
isso que só quem poderá arquivar o inquérito policial é a 
autoridade judicial: 
 
Art. 17. A autoridade policial não poderá mandar 
arquivar autos de inquérito. 
 
g) Inquisitivo: diz-se que o inquérito policial é 
inquisitivo porque as atividades persecutórias ficam 
concentradas nas mãos da autoridade policial e não há 
oportunidade para o contraditório e a ampla defesa. Isso 
ocorre para dar agilidade às investigações. 
 
Exatamente porque não há oportunidade para o 
contraditório e para a ampla defesa no inquérito policial 
que, se no decorrer da ação penal, o acusado não se 
defender nem exercer o contraditório, o magistrado não 
poderá valer-se somente do inquérito policial para 
proferir sentença condenatória. 
 
h) Dispensabilidade: o inquérito não é imprescindível 
para a propositura da ação penal. Isso é tão verdade que 
a denúncia ou a queixa podem ter por base inquéritos não 
policiais. Contudo, se a base da denúncia ou da queixa 
foi o inquérito policial, este deverá acompanhar a 
inicial acusatória apresentada: 
 
Art. 12. O inquérito policial acompanhará a 
denúncia ou queixa, sempre que servir de base a uma 
ou outra. 
6º Prazos 
O inquérito policial não pode se estender indefinidamente, 
dispondo, portanto, o CPP e a legislação extravagante 
sobre prazos para sua conclusão: 
 
a) Regra geral 
 
 
 
Se o acusado estiver 
PRESO. 
Se o acusado estiver 
SOLTO. 
 
Se o indivíduo estiver 
preso, o prazo para 
conclusão do inquérito 
policial será de 10 
dias, contados da data 
da prisão. 
 
É cabível prorrogação? 
NÃO se admite a 
prorrogação do prazo 
para conclusão do 
inquérito quando o 
indiciado estiver 
recluso. 
Se o indivíduo estiver 
preso, o prazo para 
conclusão do inquérito 
policial será de 30 
dias, contados da data 
de instauração do 
inquérito. 
 
É cabível prorrogação? 
SIM. A lei não fala em 
tempo de prorrogação nem 
quantas vezes esta 
poderia vir a ocorrer, 
de modo que Nestor 
Távora entende que a 
prorrogação poderá 
ocorrer por tempo e pela 
frequência que se 
mostrar necessário, 
desde que haja 
autorização judicial 
para tanto. 
 
 
b) Prazos especiais: 
 
Inquérito a cargo da 
polícia federal. 
Crimes contra a economia 
popular. 
 
Se o acusado estiver 
PRESO: o prazo será de 
15 dias, prorrogável 
por igual período, 
quando houver 
autorização judicial. 
 
Se o acusado estiver 
Nos crimes contra a 
economia popular, 
independentemente do 
acusado estiver preso ou 
solto, o prazo será de 
10 dias. 
 
 
 
SOLTO: o prazo será de 
30 dias, prorrogável 
por autorização 
judicial. Aplica-se 
nesse caso a regra 
geral. 
 
 
Lei de Drogas. 
 
Inquéritos MILITARES. 
Se o acusado estiver 
PRESO: o prazo será de 
30 dias, prorrogável 
uma vez (total de 60 
dias). 
 
Se o acusado estiver 
SOLTO: o prazo será de 
90 dias, prorrogável 
uma vez (total de 180 
dias). 
 
Esses prazos podem ser 
duplicados pelo juiz, 
ouvido o Ministério 
Público, mediante pedido 
justificado da 
autoridade de polícia 
judiciária. 
 
Se o acusado estiver 
PRESO: o prazo será de 
20 dias. 
 
Se o acusado estiver 
SOLTO: o prazo será de 
40 dias, prorrogável 
por mais 20 dias 
(total de 60 dias). 
 
 
7º Valor Probatório 
O inquérito policial tem valor probatório relativo, 
pois carece de confirmação por outros elementos 
colhidos durante a instrução processual. É por isso 
que o magistrado NÃO pode julgar com base somente no 
inquérito policial: 
 
Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre 
apreciação da prova produzida em contraditório 
judicial, não podendo fundamentar sua decisão 
 
 
exclusivamente nos elementos informativos colhidos 
na investigação, ressalvadas as provas cautelares, 
não repetíveis e antecipadas. 
8º Vícios 
Os vícios ocorridos no inquérito policial não atingem a 
ação penal. Temos esse entendimento porque, uma vez sendo 
dispensável, não teria o inquérito o condão de macular a 
fase processual. 
 
9º Incomunicabilidade 
 
O CPP prevê a possibilidade de, por conveniência na 
investigação e por interesse da sociedade, o acusado 
ficar incomunicável pelo prazo máximo de 03 dias: 
 
Art. 21. A incomunicabilidade do indiciado 
dependerá sempre de despacho nos autos e somente 
será permitida quando o interesse da sociedade ou a 
conveniência da investigação o exigir. 
Contudo, é uniíssono na doutrina o entendimento de que 
esse artigo não foi recepcionado pela Constituição 
Federal de 1988, que não admite a incomunicabilidade 
sequer em situação de estado de defesa. 
 
10º Indiciamento 
O indiciamento é o ato pelo qual a autoridade policial 
informa ao suposto autor de que ele é o principal foco 
do inquérito, é dizer, de que ele é apontado pela 
autoridade policial como o provável ao autor de um 
determinado fato criminoso. 
 
Por razões óbvias, só é possível falarmos em indiciamento 
quando temos provas relevantes que vinculam o sujeito à 
prática delitiva. Se o indiciamento é feito sem o lastro 
mínimo de indícios, poderá ser impetrado “habeas corpus”. 
 
a) competência para realizar o indiciamento 
O indiciamento é ato privativo da autoridade policial 
(delegado). Assim, não é possível que o indiciamento seja 
realizado pelo membro do Ministério Público ou 
determinado pelo magistrado. 
 
 
 
Requisição dessa natureza por parte do magistarado seria 
incompatível com o sistema acusatório, que impõe a 
separação orgânica das funções concernentes à persecução 
penal, de modo a impedir que o juiz adote qualquer 
postura inerente à função investigatória. 
 
Em suma, O indiciamento é ato privativo da autoridade 
policial, segundo sua análise técnico-jurídica do fato. O 
juiz não pode determinar que o Delegado de Polícia faça o 
indiciamento de alguém (STJ - RHC 47.984/SP e STF HC 
115015/SP). Assim, caso o delegado entenda por não 
indiciar ninguém no inquérito policial, não há nada que o 
magistrado ou membro do MP possa fazer. 
 
b) Indiciamento envolvendo autoridades com foro por 
prerrogativa de função 
Em regra, a autoridade com foro por prerrogativa de 
função pode ser indiciada. Existem duas exceções 
previstas em lei de autoridades que não podem ser 
indiciadas: a) Magistrados (art. 33, parágrafo único, da 
LC 35/79);b) Membros do Ministério Público (art. 18, 
parágrafo único, da LC 75/73 e art. 40, parágrafo único, 
da Lei nº 8.625/93). 
 
Excetuadas as hipóteses legais, é plenamente possível o 
indiciamento de autoridades com foro por prerrogativa de 
função. No entanto, para isso, é indispensável que a 
autoridade policial obtenha uma autorização do Tribunal 
competente para julgar esta autoridade (Ex: em um 
inquérito criminal que tramita no STJ para apurar crime 
praticado por Governador de Estado, o Delegado de Polícia 
constata que já existem elementos suficientes para 
realizar oindiciamento do investigado. Diante disso, a 
autoridade policial deverá requerer ao Ministro Relator 
do inquérito no STJ autorização para realizar o 
indiciamento do referido Governador). 
 
Ressalta-se, contudo, que não é o Ministro Relator quem 
irá fazero indiciamento. Este ato é privativo da 
autoridade policial. O Ministro Relator irá apenas 
 
 
autorizar que o Delegado realize o indiciamento (HC 
133835 MC). 
 
11º Arquivamento do inquérito policial 
 
Caso MP entenda que, mesmo após todas diligências 
realizadas, o delito não foi completamente elucidado em 
relação a sua materialidade e autoria, pedirá o 
arquivamento do inquérito policial. Esse arquivamento 
deverá ser promovido pelo Ministério Público e homologado 
pelo magistrado. 
 
Segundo a doutrina majoritária, o arquivamento do 
inquérito policial é cabível nas seguintes situações: a) 
Falta de pressupostos processuais ou de condições da ação; 
b) Falta de justa causa (isto é, falta de lastro 
probatório mínimo para o exercício da ação). 
 
a) decisão que homologa o arquivamento e coisa julgada 
 
Em regra, a decisão que homologa o arquivamento do 
inquérito policial não é atingida pela imutabilidade da 
coida julgada. Assim, é possível pedir o desarquivamento 
do inquérito. Contudo, para que isso seja possível, é 
preciso que hajam novas provas: 
 
STF - Súmula nº 524: Arquivado o inquérito policial, por 
despacho do juiz, a requerimento do Promotor de Justiça, 
não pode a ação penal ser iniciada, sem novas provas. 
Cumpre esclarecer ainda que o CPP autoriza, mesmo após o 
arquivamento, que, sem necessidade de se instaurar um 
novo inquérito policial, a autoridade policial continue 
realizando diligências para captação de novas provas. 
 
Art. 18. Depois de ordenado o arquivamento do 
inquérito pela autoridade judiciária, por falta de 
base para a denúncia, a autoridade policial poderá 
proceder a novas pesquisas, se de outras provas 
tiver notícia. 
 
 
 
b) Motivações de arquivamento que não permitem o 
desarquivamento 
 
Embora a regra é que o arquivamento não faça coisa 
julgada material, os tribunais superiores entedem que o 
arquivamento realizado sob determinados fundamentos são 
atingidos pela eficácia imutável da coisa julgada, não 
podendo mais ser desarquivados. São eles: 
 
1º Atipicidade (fato narrado não é crime) e Existência 
manifesta de causa excludente de culpabilidade 
 
O STF e o STJ entendem que o inquérito policial arquivado 
por atipicidade e existência manifesta de causa 
excludente de culpabilidade da conduta faz coisa julgada, 
não podendo ser desarquivado, mesmo que surjam provas 
novas. 
 
2º Existência manifesta de causa excludente de ilicitude 
O STJ entende que o inquérito arquivado em função de 
manifesta causa excludente de ilicitude (Ex: legítima 
defesa) faz coisa julgada, não podendo ser desarquivado. 
Segundo o aludido tribunal, o art. 18 do CPP e a súmula 
nº 524 do STF realmente permitem o desarquivamento do 
inquérito caso surjam provas novas. No entanto, essa 
possibilidade só existe na hipótese em que o arquivamento 
ocorreu por falta de provas, ou seja, por falta de 
suporte probatório mínimo (inexistência de indícios de 
autoria e certeza de materialidade). Assim, no caso de 
arquivamento por causa excludente de ilicitude, há 
incidência da coisa julgada (REsp 791.471/RJ). 
 
O STF, contudo, possui entendimento contrário. Para a 
Suprema Corte, o arquivamento de inquérito policial em 
razão do reconhecimento de excludente de ilicitude NÃO 
faz coisa julgada material. Logo, surgindo novas provas 
seria possível reabrir o inquérito policial, com base no 
art. 18 do CPP e na Súmula 524 do STF (HC 95211 e HC 
125101/SP). 
 
 
 
3º Existência manifesta de causa extintiva da 
punibilidade 
Em regra, O STF e o STJ entendem que o inquérito policial 
arquivado por existência manifesta de causa extintiva da 
punibilidade, não podendo ser desarquivado, mesmo que 
surjam provas novas. 
Esse entendimento, contudo, não se aplica nos casos em 
que o arquivamento se deu por morte do agente e a 
certidão utilizada era falsa. 
 
c) Quando informativo 
 
MOTIVO DO ARQUIVAMENTO É POSSÍVEL 
DESARQUIVAR? 
1) Ausência de pressuposto processual 
ou de condição da ação penal 
SIM 
2) Falta de justa causa para a ação 
penal (não há indícios de autoria ou 
prova da materialidade) 
SIM 
3) Atipicidade (fato narrado não é 
crime) 
NÃO 
4) Existência manifesta de causa 
excludente de ilicitude 
STF: SIM 
STJ: NÃO 
5) Existência manifesta de causa 
excludente de culpabilidade 
NÃO 
6) Existência manifesta de causa 
extintiva da punibilidade 
NÃO, salvo nos 
casos de 
certidão de 
óbito falsa. 
 
 
 
12º Recurso contra o arquivamento 
 
 
 
A decisão homologatória do pedido de arquivamento é 
irrecorrível, não havendo contemplação legal de recurso 
para combatê-la. Todavia, o indiciado deve ser intimado, 
não só para ter ciência do ato, mas também para opor-se a 
eventual denúncia oferecida em momento posterior, uma vez 
destituída de prova nova. 
 
Também não há de se falar em ação privativa subsidiária 
da pública, se houver a manifestação pelo arquivamento, 
afinal, ela só tem cabimento nas hipóteses de inércia do 
MP, e se o promotor requereu o arquivamento, certamente 
não está sendo desidioso. 
 
13º Arquivamento do inquérito policial pelo MP e a 
discordância do magistrado 
 
Caso o magistrado discorde do promotor quanto ao pedido 
de arquivamento, ele não é obrigado a atender ao 
arquivamento. Com base no art. 28, o magistrado deverá 
remeter os autos ao Procurador Geral de Justiça, para que 
a deliberação seja feita pelo próprio órgão superior do 
Ministério Público. 
 
O Procurador Geral, ao seu turno, poderá acatar as 
alegações do magistrado e determinará que outro promotor 
promova a denúncia, estando esse novo promotor obrigado a 
promover a denúncia. Esse novo promotor não poderá pedir 
o arquivamento. Afinal, ele atua por delegação (como 
longa manus) do Procurador Geral. Portanto, se o próprio 
Procurador Geral quiser promover a denúncia, ele pode. 
 
Se, por acaso, o Promotor Geral entender válido o pedido 
de arquivamento do promotor original, a sua decisão pelo 
arquivamento, agora, vinculará o magistrado, que deverá 
obrigatoriamente homologar o pedido de arquivamento. 
 
Art. 28. Se o órgão do Ministério Público, ao 
invés de apresentar a denúncia, requerer o 
arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer 
peças de informação, o juiz, no caso de considerar 
improcedentes as razões invocadas, fará remessa do 
inquérito ou peças de informação ao procurador-
 
 
geral, e este oferecerá a denúncia, designará 
outro órgão do Ministério Público para oferecê-la, 
ou insistirá no pedido de arquivamento, ao qual só 
então estará o juiz obrigado a atender. 
 
Sistemática do pedido de arquivamento se o investigado 
tiver foro privativo no STJ: Imagine, por exemplo, que um 
Subprocurador-Geral da República, atuando por delegação 
do Procurador Geral da República, instaurou procedimento 
de investigação contra um Governador do Estado (art. 105, 
I, “a”, da CF/88). 
 
Ao final, o membro do MPF concluiu que não havia 
elementos para oferecer a denúncia e requereu ao STJ o 
arquivamento do procedimento. 
 
O STJ poderá discordar do pedido? NÃO. Se o membro do MPF 
que atua no STJ requerer o arquivamento do inquérito 
policial ou de quaisquer peças de informação que tramitem 
originariamente perante o STJ, este, mesmo que não 
concorde com as razões invocadas pelo MP, deverá 
determinar o arquivamento solicitado. 
 
Como o pedido foi feito por um Subprocurador-Geral da 
República, se o STJ discordar, ele não poderia remeter os 
autos para análise do Procurador-Geral da República,aplicando, por analogia, o art. 28 do CPP? NÃO. Não 
existe esta possibilidade de remessa para o PGR. NÃO se 
aplica o art. 28 do CPP neste caso. Isso porque os 
membros do MPF que funcionam no STJ atuam por DELEGAÇÃO 
do Procurador-Geral da República 
 
Em suma, não há que se falar em aplicação do art. 28 do 
CPP nos procedimentos de competência originária do STJ. O 
MPF pediu o arquivamento, este terá que ser homologado 
pela Corte (Inq 967/DF). 
 
13º – Espécies de arquivamento 
a) Arquivamento implícito: ocorre o arquivamento 
implícito – também denominado de arquivamento tácito – 
quando o Ministério Público, ao propor a denúncia, deixa 
 
 
de incluir nela algum fato investigado ou algum dos 
indiciados. Esse arquivamento implícito se consuma quando 
o juiz não se pronuncia quanto à referida omissão. 
 
Também ocorre arquivamento tácito quando o promotor pede 
expressamente o arquivamento de somente uma parte dos 
fatos investigados (arquivamento objetivo) ou de somente 
alguns indiciados (arquivamento subjetivo). 
 
A jurisprudência majoritária não aceita o arquivamento 
tácito, por falta de previsão legal quanto a isso. 
 
b) Arquivamento indireto: ocorre quando o MP deixa de 
oferecer a denúncia por entender que o juízo é 
incompetente, requerendo, assim, a remessa dos autos ao 
órgão competente. Caso o magistrado discorde disso, ele 
poderá invocar o art. 28. 
 
Exceção ao princípio do “kompetez-Kompetez”: segundo 
Marinoni, o princípio do “Kompetenz-Kompetez” estabelece 
que todo juízo detém competência para examinar a sua 
própria competência para determina causa. É dizer, todo 
magistrado possui, em tese, competência para se julgar ou 
não competente para a causa. 
 
O arquivamento indireto, contudo, acaba por se tornar uma 
exceção a esse princípio. Isso porque, caso o magistrado 
discorde do MP, afirmando que tem competência para causa, 
deverá invocar o art. 28 do Código de Processo Penal, 
enviando o caso ao Procurador Geral. Nessa situação, caso 
o Procurador Geral entenda que o magistrado, de fato, é 
incompetente para causa, remeterá os autos a outro 
magistrado, impedindo o magistado orginário de fazer a 
“kompetenz-Kopetenz”. Trata-se de situação muito 
criticada pela doutrina, já que causa a supressão do 
judiciário. 
 
c) Arquivamento originário: se o requerimento de 
arquivamento já parte do próprio Procurador Geral, nas 
 
 
ações em que atue originariamente, não há como o relator 
do tribunal invocar o art. 28. 
 
O que poderíamos ter, com base no art. 12, XI, da lei nº 
8.625/1993 (Lei Nacional do Ministério Público), é a 
deliberação do Colégio de Procuradores, quando provocados 
administrativamente, para ver se designam outro membro da 
instituição, em substituição ao Procurador Geral, para 
oferecer denúncia ou se mantém o arquivamento. 
 
14º Inviabilidade de mandado de segurança impetrado pela 
vítima para evitar o arquivamento de inquérito policial 
Existe alguma providência processual que a vítima possa 
adotar para evitar o arquivamento do IP? Ela pode, por 
exemplo, impetrar um mandado de segurança com o objetivo 
de impedirque isso ocorra? Não. 
 
A vítima de crime de ação penal pública não tem direito 
líquido e certo de impedir o arquivamento do inquérito ou 
das peças de informação. Isso poque o processo penal 
rege-se pelo princípio da obrigatoriedade, de forma que a 
propositura da ação penal pública constitui um dever, e 
não uma faculdade, não sendo reservado ao “Parquet” um 
juízo discricionário sobre a conveniência e oportunidade 
de seu ajuizamento. 
 
Por outro lado, não verificando o Ministério Público que 
haja justa causa para a propositura da ação penal, ele 
deverá requerer o arquivamento do IP. 
 
Cumpre ressaltar ainda que esse pedido de arquivamento 
feito pelo Ministério Público passará ainda pelo controle 
do Poder Judiciário, que poderá discordar, remetendo o 
caso para o PGJ(no caso do MPE) ou para a CCR (se for 
MPF). 
 
Assim, há em nosso ordenamento um sistema de controle de 
legalidade muito técnico e rigoroso em relação ao 
arquivamento de inquérito policial, inerente ao próprio 
 
 
sistema acusatório. Nesse sistema, contudo, a vítima não 
tem o poder de, por si só, impedir o arquivamento. 
 
Cumpre salientar, por oportuno, que, se a vítima ou 
qualquer outra pessoa trouxer novas informações que 
justifiquem a reabertura do inquérito, pode a autoridade 
policial proceder a novas investigações, nos termos do 
citado art. 18 do CPP (STJ - MS 21.081-DF). 
 
 
15º - Desarquivamento 
 
O desarquivamento, conforme ensinamentos de Nestor Távora, 
é um ato privativo do Ministério Público, sem necessidade 
de intervenção judicial, quando o promotor estiver 
convencido da existência de novas provas. 
 
Lembre-se de que, mesmo após o arquivamento, a autoridade 
policial continuará podendo colher novas provas, devendo 
remetê-las prontamente ao magistrado. Uma vez entregue o 
inquérito policial ao Ministério Público, e caso o 
promotor se convença que realmente se trata de novas 
provas, oferecerá a denuncia, operando-se, assim, o 
desarquivamento. 
 
Bibliografia consultada para elaboração da apostila e indicada para 
aprofundamento do tema: 
– Código de Processo Penal para concursos – Fábio Roque e Nestor Távora; 
– Curso de Processo Penal – Nestor Távora e Rosmar Rodrigues Alencar; 
– Dizer o Direito (http://www.dizerodireito.com.br/)

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