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Disciplina: Administração Contemporânea Recife, 2016. Ao longo das últimas décadas, as visões em relação aos elementos constitutivos de uma organização, assim como o conceito de organização em si, vêm sofrendo alterações sucessivamente. Testemunha desse processo é a evolução das diversas teorias que versam sobre a administração, constituindo o extenso e fértil campo de Teoria Geral da Administração (TGA). De maneira sucinta, o que diferencia as inúmeras teorizações administrativas que permeiam a TGA é a visão dessas em referência à estrutura da organização, quais elementos a compõem, como se comportam esses elementos e quais impactos são incutidos por eles no processo de negócios. Apesar de nem todas buscarem estritamente normatizar as organizações e seus processos, as teorias empenham-se, antes de tudo, a compreender esse universo e a discutir quais os melhores meios pelos quais se consegue atingir um progressivo aprimoramento do desempenho de determinada empresa. Em outras palavras, elas tratam de diferentes estratégias para atingir este fim. É a chamada estratégia organizacional, cujo princípio basilar é garantir a sobrevivência e aumentar a competitividade de uma companhia. Renegado pelas teorias preambulares da TGA, ou estudado com finalidade única de acelerar retornos financeiros diretos, o campo da gestão de pessoas vem sendo assimilado cada vez mais como parte integrante da estratégia organizacional. Esse “despertar” ao papel humano se dá pelo entendimento de que as pessoas são a base e razão de qualquer empresa, sendo uma das suas características inerentes e diferenciadoras. Em outras palavras: a equipe de colaboradores, influenciada pela cultura e clima organizacional, é um dos fatores pelo qual uma organização X se distingue de uma organização Y. “Recursos tecnológicos e desenvolvimento de produtos e serviços inovadores são facilmente copiados [...]. Entretanto, o capital humano de uma organização é muito difícil de ser copiado” (Stadler, 2014, p. 72). É justamente isso que singulariza cada companhia em relação a todas as demais, conferindo-lhe inclusive vantagem competitiva quando há correta e eficiente gestão dos recursos humanos. Segundo Elisabete Adami, “uma empresa não precisa de estrutura física para existir. Podemos trabalhar de casa ou até mesmo de um café. Porém, sem as pessoas, nenhuma empresa existe” (Adami, 2015, p. 2). Assim sendo, apesar de recente, a integração da gestão de pessoas à gestão estratégica da organização é imprescindível para a mesma, pois “é uma forma de aumentar a vantagem competitiva” (Romero et al, 2013, p. 43), que, por sua vez, é a capacidade de “ter/fazer algo difícil ou quase impossível de ser imitado” (Stadler, 2014, p. 70). Desta maneira, as empresas têm buscado aprimorar seus meios de administrar adequadamente os recursos humanos com o propósito essencial de obter vantagem competitiva e perpetuar-se no mercado. De acordo com Pfeffer, há alguns meios pelo qual uma organização consegue adquirir vantagem competitiva através da gestão estratégica de pessoas. São alguns deles os seguintes: seletividade na admissão (modo mais simples de escolher os mais qualificados e alinhados à estratégia da empresa); participação nos lucros (resquícios da Teoria da Administração Clássica de Fayol: homo economicus); partilha de informações (relacionado à gestão do conhecimento) e empowerment (Pfeffer, 1993, apud Stadler, 2014, p.71). Tendência relativamente recente, o empowerment (do inglês: empoderamento) é uma das mais importantes técnicas de gestão humana a nível organizacional. Empresas que costumam adotá-la geralmente são aquelas cuja cultura preza pela comunicação e feedback, independentemente do nível hierárquico. Conforme elucidado por Kristi Long, “empowerment é a habilidade em permitir que outros assumam as responsabilidades, os riscos e as recompensas associadas à tomada das próprias decisões” (Long, 1999, apud Adami, 2015, p. 116). Isto é, empowerment caracteriza-se como dar poder e possibilidade de decisão por contra própria àqueles que, tradicionalmente, seriam relegados à função de apenas cumprir ordens e comandos dados por superiores. Há, entretanto, uma visível restrição de aplicação da técnica, como enunciado anteriormente. Ela não pode - e não deve - ser implementada em toda e qualquer organização, pois, caso a empresa não disponha de uma cultura e clima que oportunizem fluxos bidirecionais e multidirecionais de informações, ideias e tarefas, o processo não cumprirá seus objetivos. Elisabete Adami chama atenção em relação a essas limitações: “por estar na moda, muitas vezes as empresas dizem que adotam o empowerment. Mas esse modelo [...] só funciona efetivamente se houver disposição do alto escalão [...] em ouvir e discutir ideias com todos os empregados” (Adami, 2015, p. 117). A principal e mais clara vantagem do empoderamento dos funcionários é a concretização do quase lugar-comum “vestir a camisa”. Como esses estarão mais envolvidos e responsáveis pelo processo, mais dificilmente serão tomadas decisões puramente egoístas, isto é, que não levem em conta a estratégia e objetivos da empresa. Pois, em caso de más escolhas, o funcionário também será consequentemente impactado, mas agora de maneira ainda mais direta (se o colaborador estivesse apenas a seguir ordens, seria seu superior hierárquico o responsabilizado por elas). Ainda segundo Elisabete Adami, “quando os empregados estão envolvidos de verdade com as decisões, eles também se comprometem com o sucesso da empresa” (Adami, loc. cit.). Sendo assim, concluímos que o empowerment, apesar de ser um importante e proeminente recurso na administração estratégica da gestão de pessoas, não pode ser aplicado irrestritamente às organizações. Faz-se necessário que a empresa disponha de meios procedimentais (métodos, processos e cultura) e pessoais (gestores capacitados para manter um clima que possibilite de fato o empoderamento) para que a técnica surta os efeitos desejados, abarcando os funcionários em um contexto de apoderamento do negócio, o que resultará, portanto, em um alinhamento ainda mais eficazmente à estratégia da organização. Referências ADAMI, Elisabete. Gestão de Talentos. São Paulo, SP: Pearson Education do Brasil, 2015. ROMERO, Sonia Mara Thater; SILVA, Selma França da Costa e; KOPS, Lucia Maria. Gestão de Pessoas: conceitos e estratégias. Curitiba, PR: InterSaberes, 2013. STADLER, Adriano; PAMPOLINI, Cláudia Patrícia Garcia. Gestão de Pessoas: ferramentas estratégicas de competitividade. Curitiba, PR: InterSaberes, 2014.
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