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GUARDA COMPARTILHADA E ALIENAÇÃO PARENTAL: O ESTUDO DA GUARDA COMPARTILHADA, SEUS REFLEXOS NA INSURGÊNCIA DA ALIENAÇÃO PARENTAL E SEUS ASPECTOS INFLUENCIADORES NA DIMINUIÇÃO DA OCORRÊNCIA DA SÍNDROME. Paulo Renato de Morais Silva1 Ana Paula de Almeida de Borba2 RESUMO O presente artigo pretende abordar o instituto da guarda, dando maior ênfase à guarda compartilhada, visando analisar a possibilidade desta modalidade de guarda servir de instrumento para a diminuição da síndrome da alienação parental na sociedade contemporânea, à luz da Lei 13.058/2014. Utilizando-se do método de abordagem dedutivo, a pesquisa apresenta especial importância acadêmica, por possibilitar o amadurecimento jurídico, a capacidade de crítica e reflexão da aplicação da legislação vigente, frente aos interesses sociais e aos direitos fundamentais amparados pela Carta Magna, buscando de maneira efetiva, alcançar-se o melhor interesse da criança e do adolescente e deixar de utilizar-lhes como arma contra o outro genitor. Palavras-chave: Advogado. Alienação parental. Criança. Guarda compartilhada. ABSTRACT This article aims to address the guard Institute, placing greater emphasis on shared custody in order to analyze the possibility of this guard mode instrument to serve for the reduction of the parental alienation syndrome in contemporary society, in the light of Law 13,058 / 2014. Using the deductive method of approach, the research presents special academic importance, by allowing the legal maturity, the critical capacity and application of the reflection of the current legislation, compared to corporate interests and the fundamental rights protected by the Constitution, seeking a way effective, to achieve the best interests of the child and adolescent and stop using them as a weapon against the other parent . Key-words: Child. Lawyer. Parental alienation. Shared Guard. 1 Graduando do Curso de Direito da Faculdade Dom Alberto. 2 Professora no Curso de Direito da Faculdade Dom Alberto de Santa Cruz do Sul. 1 INTRODUÇÃO Este trabalho traz, inicialmente, um estudo sobre as modalidades de guarda, quais sejam: a unilateral, a alternada e a compartilhada, descrevendo a aplicação no ordenamento jurídico, abordando a Lei n. 13.058 de 22 de dezembro de 2014, além do princípio do melhor interesse da criança que envolve o instituto da guarda e sua função social. No ponto, cediço que a criança e o adolescente ganharam proteção especial com a chegada da Constituição Federal de 1988, que salvaguardou o exercício do direito, cujo principal objetivo é o da proteção à personalidade dos filhos, a garantia de seus direitos fundamentais, o que justifica a tutela especial, pois são seres que necessitam de cuidados constantes, tendo em vista suas fragilidades, vulnerabilidades e por estarem em processo de desenvolvimento. Com a grande evolução do direito de família, consequentemente, o instituto da guarda também sofreu maravilhosas mudanças para adequar-se aos anseios da sociedade contemporânea. Após, chega-se à discussão central, qual seja, a guarda compartilhada como instrumento para prevenir a alienação parental, ponto no qual será apresentado o conceito de alienação parental, consequências para a relação afetiva entre a criança e o alienado e os aspectos jurídicos do problema, fazendo uma análise conjunta com a guarda compartilhada, a fim de apresentar os benefícios deste instituto em relação aos filhos. 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 A guarda no direito brasileiro Ao se estudar o instituto da guarda, deve-se ter em mente que ela deverá sempre ser exercida buscando-se atender o melhor interesse da criança e do adolescente. A guarda é o direito de vigiar, orientar, proteger e dar segurança aos menores. Quanto sua definição jurídica, Waldir Grisard Filho (2003, p. 49) ensina: [...] locução indicativa, seja do direito ou do dever, que compete aos pais ou a um dos cônjuges, de ter em sua companhia os filhos ou de protegê-los, nas diversas circunstâncias indicadas na lei civil. E guarda, neste sentido, tanto significa custódia como a proteção que é devida aos filhos pelos pais. Muitas modalidades de guardas são citadas no meio jurídico, no entanto, cediço que a guarda no direito brasileiro se divide em duas modalidades, quais sejam, guarda unilateral ou exclusiva e guarda compartilhada. No entanto, muita confusão é gerada no que tange a guarda compartilhada, pois muitas pessoas e inclusive operadores do direito, confundem esta modalidade com a guarda alternada, aquela em que o menor permanece um período com o genitor e outro com a genitora. Em razão disso, no ponto guarda compartilhada, será abordada a sua diferenciação da guarda alternada. 2.1.1 Guarda unilateral A respeito da guarda unilateral, Madaleno (2015, p. 55) explica: A guarda unilateral, de acordo com o art. 1.583, § 1º, de nossa codificação civil, é atribuída a um só dos genitores ou a alguém que o substitua, possuindo o guardião não apenas a custódia física do filho, mas também o poder exclusivo de decisão quanto às questões da vida da prole. Ademais, é claro que o pouco convívio com o genitor não guardião é medida não recomendável para o desenvolvimento da personalidade dos menores, sendo imperiosa uma maior participação do genitor na educação e formação dos filhos. Como a convivência com os filhos não é a mesma, pois a visitação exercida pelo genitor não guardião, geralmente, se dá de 15 em 15 dias ou uma vez por semana, as questões relacionadas a convivência com os filhos são mais complexas e dolorosas, e segundo Diniz (2014, p. 109) “[...] pois ao perderem, mesmo temporariamente, o contato e a possibilidade de serem assistidos por ambos os pais, outras perdas advêm, engendrando sequelas[...]”. Considerando esses empecilhos da guarda unilateral é que a doutrina civilista, há tempos, em proteção ao melhor interesse do menor, já advogava a necessidade de substituição de tal medida pela guarda compartilhada, tema a ser debatido a seguir. 2.1.2 Guarda compartilhada, sua diferenciação da guarda alternada e suas vantagens A guarda compartilhada tem a finalidade favorável de conceder ao filho menor a chance de conviver e de ter um contato maior com ambos os pais, havendo uma coparticipação deles em igualdade de direitos e deveres. Na diferenciação das modalidades compartilhada e alternada, Madaleno (2012, p. 132) alerta: A guarda conjunta não é guarda repartida, como se a divisão do tempo fosse a solução de todos os problemas e de todas as aflições de casais em dissenso conjugal, muito embora a Lei da Guarda Compartilhada viabilize uma maior distribuição do tempo dos pais para com seus filhos comuns, justamente para criar as condições de atendimento à função de guarda repartida. A Lei 13.058 sancionada em dezembro de 2014 veio regulamentar a modalidade da guarda compartilhada, introduzida ao Código Civil Brasileiro pela Lei 11.698/2008. Tal instituto nasceu com a difícil tarefa de reequilibrar os papéis parentais, tendo em vista que a sociedade mostrou-se insatisfeita com a forma que os Tribunais vinham decidindo sobre a guarda no Brasil. No entanto, com o advento da nova lei, ocorreu a inversão da regra a ser aplicada, passando a guarda compartilhada a ser regra, cabendo de forma excepcional a aplicação da guarda unilateral com a inovação da lei quanto a obrigação do genitor que não a detenha de supervisionar os interesses dos filhos. Na prática, não é porque a guarda compartilhada tornou-se regra que sempre será aplicada,o princípio do melhor interesse do menor que sempre norteará qualquer decisão. A ideia do legislador é altamente inteligente e positiva, no entanto o presente trabalho tem o condão de esclarecer, ou até mesmo afastar alguns mitos que estão sendo criados pela população. A nova lei introduz a regra de que a guarda compartilhada deverá ser aplicada sempre em que ambos os genitores estiverem aptos ao exercício do poder familiar, a menos, que algum deles se declare formalmente impedido ou impossibilitado e que assim não deseja exercer este direito. Objetivamente, as principais alterações da Lei 13.058/2014 estão na questão de ambos os genitores serem aptos a exercer o poder familiar, sendo aplicada a guarda compartilhada como regra; no fato da guarda unilateral anteriormente estabelecida poder ser revista judicialmente, sendo o pedido realizado ao juiz, por meio de uma ação requerendo guarda compartilhada e na possibilidade de fixação de pensão alimentícia caso não haja consenso, tudo a depender do caso concreto. Ademais, a guarda dever ser exercida na cidade base de moradia dos filhos ou naquele que, melhor atenda aos interesses da criança. Destarte, havendo impedimento temporário ao convívio, devido à distância, os meios de comunicação ajudam a manter a aproximação. Não obstante, podendo haver uma compensação durante períodos de férias escolares e feriados prolongados. Outra alteração importante trazida pela lei 13.058, foi a alteração do parágrafo 5º do artigo 1.583, que traz a garantia para aquele que não detenha a guarda do menor, de supervisionar o interesse dos filhos, podendo para tanto requerer informações ou prestações de contas quando houver situações que afetem a saúde psicossocial ou a educação do menor. Para tanto, poderá haver imposição de multa diária a qualquer estabelecimento público ou privado que se negue a prestar informações sobre o filho a qualquer dos genitores, podendo a multa variar de R$ 200,00 (duzentos reais) a R$ 500,00 (quinhentos reais) se mostra como uma grande inovação, até porque a lei era silente neste sentido. Como se vê, a Lei da Guarda Compartilhada visa efetivar o direito ao convívio familiar de todos os menores, bem como assegurar a ambos os pais a participação no desenvolvimento social e psicológico de seus filhos. Lobô afirma que, consequentemente, tornam-se desnecessários a guarda exclusiva e o direito de visita, geradores de “pais-de-fins-de-semana” ou de “mães-de-feriados”, que privam seus filhos da presença cotidiana” (2010, p. 196). Diante do exposto, crível que a guarda compartilhada mantém, ou até mesmo estreita os vínculos de ambos os pais com os filhos, preservando seus interesses e não prejudicando o desenvolvimento saudável dos menores. No entanto, Conrado Paulino da Rosa (2015, p. 70), em sua obra Nova Lei da Guarda Compartilhada, alertou: Participar, compartir, partilhar, compartilhar. Palavras que indicam uma ação. Em se tratando da guarda de filhos, diretamente envolvidos estão os direitos fundamentais de crianças e adolescentes. Assim, o compartilhamento da guarda não pode ser reduzido à sinonímia dos dicionários, enquanto meras palavras esvaziadas de intenções reais, ou servir de “pano de fundo” para tendenciosas negociações por parte daqueles que, sob o manto de supostas intenções conciliatórias, objetivam alcançar compensações pessoais ou exclusivamente materiais. O novo modelo visa manter intacta a vida cotidiana dos filhos após o divórcio, dando continuidade ao relacionamento próximo e amoroso com os dois genitores, sem exigir dos filhos que optem por um deles. Ademais, importante salientar que tal modalidade pode desenvolver nos homens e nas mulheres uma genuína consideração pelo antigo parceiro em seu papel de pai ou de mãe. Ambos percebem que têm de confiar um no outro como pais. Reforçam-se, assim, mutuamente como pais, significando para eles, apesar de separados, continuar a exercer em conjunto o poder parental, como faziam na constância do casamento. Em relação aos pais, acredita-se que a guarda compartilhada pode oferecer inúmeras vantagens, uma vez que os mantêm guardadores e lhes proporcionam a tomada de decisões conjuntas relativas ao futuro de seus filhos, compartilhando o trabalho e as responsabilidades, privilegiando a continuidade das relações entre cada um deles e seus filhos, minimizando o conflito parental, diminuindo os sentimentos de culpa e frustração por não cuidar de seus filhos. Ajuda-os a atingir os objetivos de trabalharem em prol dos melhores interesses morais e materiais da prole. Com relação aos filhos, podemos elencar suas vantagens na diminuição da angústia produzida pelo sentimento de perda do genitor que não detém a guarda tal como ocorre com frequência na guarda única. Ajuda a diminuir os sentimentos de rejeição e proporciona a convivência com os papéis masculino e feminino, paterno e materno, livre de conflitos, facilitando o processo de socialização e identificação. Logicamente que não está se falando de uma solução acabada e perfeita, uma vez que nem a família do menor está imune a erros, limitações e dificuldades. Nenhuma previsão sobre a efetividade de uma solução de guarda pode ser garantida de forma absoluta pelo juiz, nem pelos profissionais que atuam no caso particular. Este novo modelo de guarda compartilhada poderá não servir em todos os casos, em função das diversidades culturais, aos ressentimentos, aos conflitos decorrentes das causas da dissolução conjugal e também ao próprio relacionamento conturbado após a dissolução da união, mas já se torna um avanço, um paradigma no ordenamento jurídico brasileiro. Este mesmo autor reconhece que a guarda conjunta é uma abordagem nova e benéfica, que funciona bem para a maioria dos pais cooperativos, e muitas vezes tem êxito quando o diálogo entre os pais não é bom, mas eles são capazes de isolar os filhos de seus conflitos. No entanto, adverte que esse sistema tem sido frequentemente adotado de forma equivocada por casais amargos e em conflito, e nessas condições ele fracassa redondamente (1995, p. 120). Diante disso, pode-se concluir que tal sistema pode ser trágico se adotado por casais amargos, tendo em vista que genitores sem diálogos, insatisfeitos com a vida, que agem tentando sabotar o ex parceiro, contaminam a vida de seus filhos, razão pela qual, nestes casos, a guarda compartilhada poderá ser prejudicial aos infantes. Contudo, em casos de famílias estruturadas e que prezem pelo bem- estar de seus filhos, os resultados da modalidade de guarda compartilhada pode favorecer o desenvolvimento sadio dos menores. Razão pela qual, não se pode impor uma realidade àquelas famílias que não estão preparadas para conviverem dentro do sistema da guarda compartilhada, devendo ser analisado o caso concreto, de forma atenta, podendo se utilizar dos profissionais multidisciplinares para se ter um laudo adequado, que irá se transformar no pilar de sustentação da guarda conjunta. Em face do todo exposto, se percebe que, no caso de pais que estejam interessados no bem-estar dos filhos, a guarda compartilhada poderá trazer benefícios maiores que a guarda unilateral, não somente aos filhos que são mais vulneráveis e de maior importância, mas também aos pais que terão condições de igualdade entre si, tema que será abordado a seguir. 2.2 A guarda compartilhada como instrumento para prevenir a prática de alienação parental Quando é utilizada a expressão alienação parental, fala-se emuma versão genericamente empregada com o fim de designar a patologia psicológica/comportamental, a qual se caracteriza pelo exercício abusivo do direito de guarda de um dos genitores, impedindo o convívio com o outro, sendo a síndrome da alienação parental uma sequela emocional decorrente do transtorno sofrido pela criança. A prática dessa alienação pode, além de destruir o vínculo entre pais e filhos, revelar diversos sintomas de doenças psicossomáticas, ou seja, torna- los pessoas ansiosas, deprimidas e agressivas. Além disso, abrangem ainda doenças como depressão crônica, transtorno de identidade, entre outras. Para tanto, é normal o genitor alienante ameaçar o filho de abandoná-lo, caso seja rejeitado, faz com que o filho, conforme leciona Pinho (2013, p. 47) se põe numa situação de dependência e fica submetido regularmente a provas de lealdade. Mesmo com o advento da Nova Lei da Guarda Compartilhada, restam dúvidas se esta modalidade de guarda deve ser aplicada em separações litigiosas, o que já se vinha desmistificando nos Tribunais, como no julgamento abaixo colacionado: APELAÇÃO CÍVEL. GUARDA. MODIFICAÇÃO DOS ALIMENTOS. ALIENAÇÃO PARENTAL. VISITAS. 1. GUARDA COMPARTILHADA. É inexistente pressuposto essencial ao compartilhamento da guarda, na sua concepção jurídica, qual seja a plena harmonia e entrosamento entre os genitores cuidadores, que precisam ter muito bem estruturada a habilidade de tomar decisões em consenso - o que não se faz presente, como destacado na sentença. Destaco que, em que pese os atritos relatados, os genitores conseguiram organizar e flexibilizar os momentos de visita ao pai. Note-se que o menino, que em poucos meses completará 13 anos, manifestou à assistente social que a convivência como organizada estava boa, "que não gostaria de mudar nada. Portanto, deve ser mantida a sentença que negou o pedido de guarda compartilhada. 2. ALIMENTOS. Mantido o status quo, não há falar em dispensar o genitor da prestação de assistência material ao filho. Tampouco se justifica a redução de valores, porquanto não há informação segura e precisa acerca da renda do apelante. Como consequência não se pode aquilatar, no contexto probatório, alteração na situação fática, seja sob o viés das suas possibilidades como do atendimento das necessidades do filho. 3. TRATAMENTO PSICOLÓGICO para a genitora. Não se cogita de determinação judicial para este fim, seja porque a apelada referiu que deixou a terapia por não ter condições financeiras para continuar o tratamento ou porque consta dos autos que os atritos serenaram. 4. ALIENAÇÃO PARENTAL. Nada há para prover no ponto, pois não obstante a narrativa do genitor de que houve atos de desqualificação de sua conduta como pai, não há prova suficiente para configurar práticas desta natureza. Ao contrário, pois, ainda que com alguns conflitos, a apelada estabelece uma agenda de convivência do menino com o pai. Ademais, o estudo social nada confirma neste sentido, devendo ser lembrado que em duas oportunidades a assistente social entrevistou o menino. NEGARAM PROVIMENTO, POR MAIORIA, VENCIDO, EM PARTE, O VOGAL. (Apelação Cível Nº 70065695090, Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Luiz Felipe Brasil Santos, Julgado em 03/09/2015) Em que pese a alteração legislativa concernente a aplicação da guarda compartilhada, ainda há grandes divergências sobre o tema quando de sua aplicação, enquanto alguns Desembargadores julgam pela “letra fria” da lei, outros “flexibilizam” a determinação legal alicerçado no princípio do melhor interesse da criança e do adolescente. Outra questão bastante debatida quando se fala em guarda compartilhada é a sua fixação nos casos em que os genitores não residirem na mesma cidade, principalmente quando se fala em cidades distantes, em outro Estado da Federação e, ainda, o menor encontrar-se em período escolar. Contudo, conforme estudo realizado, a distância das residências dos genitores dificulta, mas não impede a fixação da guarda compartilhada. Na verdade, o que se busca é uma residência base, que possa servir de referência para a criança e ao adolescente, onde ela possa entender como sua moradia, evitando maiores transtornos e confusões para os menores. Mesmo com a guarda compartilhada a custódia física permanece com um dos genitores e em relação ao outro progenitor é que será necessário estabelecer o tempo de convívio com a prole (MADALENO, 2015, p. 123). Ao estabelecer, a nova redação de nossa codificação civil, a partir da Lei n. 13.058/2014, que essa convivência será equilibrada, importa na impossibilidade da antiga fixação de “finais de semanas alternados”. Afinal, quatro dias para um dos pais em detrimento de outros vinte e seis de companhia da prole com o outro jamais poderão ser interpretados como “convivência equilibrada”, que passa a ser a lógica do sistema jurídico. Pela pesquisa realizada, percebeu-se que, infelizmente, alguns operadores do direito confundem a guarda compartilhada com a guarda alternada, e, em algumas vezes, deixam de aplicar o modelo em tela por simplesmente desconhecê-lo. Nas palavras de Akel (2010, p. 112) “diferentemente do que ocorre na guarda conjunta, na forma alternada, a criança não possui residência fixa (habitual), ora permanecendo com a mãe, ora com o pai, situação que propicia inevitável instabilidade emocional”. Por oportuno, importante frisar que não é a convivência familiar entre os ex-cônjuges que a guarda compartilhada prioriza, e sim a convivência entre pais e filhos após o término da relação dos pais. O compartilhamento da guarda pretende garantir que ambos os genitores mantenham um contato efetivo com os filhos, propiciando as melhores condições para a formação moral e social das crianças e adolescentes. Como principal resultado obtido com a presente pesquisa, está o fato da guarda compartilhada servir como instrumento de prevenção à ocorrência de alienação parental. Isso porque, é uma maneira de os genitores manterem um contato permanente junto ao filho, afastando assim a exclusão de um dos pais na vida do menor. Em tese, compartilhando a guarda do filho, os pais estarão mais próximos e essa é uma forma de evitar a alienação parental. 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS O método de abordagem utilizado no desenvolvimento do presente estudo foi o dedutivo, que consiste numa construção lógica que retira de duas premissas uma terceira, denominada de conclusão. (GIL, 1999, p. 27) O método de procedimento utilizado foi o monográfico, eis que se descreveu minuciosamente os elementos fundamentais do presente estudo, quais sejam, a guarda compartilhada e a alienação parental. Como técnica de pesquisa, utilizou-se a documentação direta, através de expedientes metodológicos constitutivos da pesquisa bibliográfica, buscando-se elementos para investigação do tema em bibliografia de fontes secundárias, notadamente em livros e revistas especializadas e na legislação atinente a matéria. Também foi utilizada a documentação indireta, principalmente através da observação, buscando-se a coleta de dados para obtenção das informações estudadas. 4 COLETA E ANÁLISE DE DADOS Visando analisar os casos de alienação parental que chegaram ao Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, serão apresentados gráficos que demonstram os casos que conheceram e não conheceram a alienação parental. Os gráficos apresentam como opções de respostas da problematização,o reconhecimento e o não reconhecimento da alienação, bem como, a opção de respostas nomeada como diligências, para os casos que determinaram a realização de perícias psicológicas e sociais a fim de verificar a ocorrência da alienação, quando não foi possível reconhecer e nem afastar de pronto a ocorrência da alienação parental. Enquanto no ano de 2012 foram dois reconhecimentos de alienação e em 2013 cinco casos reconhecidos, em 2014 foram dezesseis casos reconhecidos de alienação parental, um salto imenso, como pode se perceber nos gráficos abaixo: 54% 33% 13% Qual a posição do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, no ano de 2014, quando do julgamento de pedido de reconhecimento de alienação parental? Di l igência s Reconhecimento Nã o reconhecimento 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 Casos de alienação parental reconhecidos pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul Diante do exposto, com os resultados obtidos, acredita-se que, por manter os pais próximos e participando ativamente da vida dos filhos, a incidência de alienação pode ser drasticamente reduzida com a fixação da guarda compartilhada. Nos primeiros cinco meses do ano de 2016 o Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul teve dezoito casos envolvendo alienação parental e o fato que chama bastante atenção é que apenas em quatro deles foram determinadas diligências, nos demais, se reconheceu ou não a prática de alienação parental. Estes dados comprovam o amadurecimento do Judiciário quanto ao reconhecimento da alienação parental, mostrando que há mais efetividade e conhecimento dos fatos e do tema abordado. O reconhecimento de casos de alienação parental só aumentou desde 2012, no gráfico abaixo se percebe o crescimento de casos reconhecidos: 2012 2013 2014 2015 2010,5 2011 2011,5 2012 2012,5 2013 2013,5 2014 2014,5 2015 2015,5 2012 2013 2014 2015 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS No decorrer da cognição trazida a lume no desenvolvimento do trabalho, foi possível estudar as modalidades de guarda no direito brasileiro, principalmente o instituto da guarda compartilhada, sua função social e sua importância na diminuição e prevenção da ocorrência da alienação parental. A partir da análise destas modalidades de guarda, foi possível evidenciar os benefícios trazidos pela guarda compartilhada, a qual possui, em sua base, uma melhor distribuição do poder familiar aos genitores, ratificando, em nome do princípio do melhor interesse da criança e do adolescente, a necessidade de os filhos conviverem com ambos os genitores. Diante disso, entende-se a guarda compartilhada à luz da lei 13.058/2014, como sendo a modalidade de guarda com maior reflexo do poder familiar, da mesma forma que revela aos genitores a importância do convívio com sua prole, mantendo ambos em harmonia para um desenvolvimento sadio da criança e do adolescente. Nesta modalidade de guarda o pai não é apenas um visitante para seu filho, característica da guarda unilateral, onde o genitor não guardião se torna um terceiro estranho para seu filho. No mesmo passo, com os sentimentos de ódio, mágoa e revolta que acompanham o casal após a separação, o filho é tido como um instrumento de vingança em face do outro genitor, fazendo uma campanha destrutiva para a criança, e dando espaço para a ocorrência da alienação parental. É neste ponto que se deve ressaltar a importância de métodos para que haja a reaproximação da criança ou adolescente com o genitor alienado, reestabelecendo-se os laços afetivos e propiciando uma vida saudável para ambas as vítimas (criança e genitor alienado) sendo a fixação da guarda compartilhada a melhor saída para a solução deste conflito, a qual pode prevenir ou até mesmo cessar a ocorrência da alienação parental. Daí surge o questionamento que nem mesmo os Juízes e Desembargadores, de maneira uníssona, conseguem responder: é aconselhável a fixação da guarda compartilhada mesmo nos casos em que não haja consenso entre os genitores? A resposta não é tão clara, afinal no mundo jurídico sempre é preferível se apreciar o caso concreto, no entanto, a primeira ideia que se deve ter em mente é que a criança não tem relação com a separação e que são os seus interesses que devem ser preservados quando do litígio entre os genitores. A relação dos pais com os filhos não pode ser afetada uma vez que estes possuem o direito de conviver com ambos, assim como antes da ruptura conjugal. Ocorre que mesmo com o advento da nova lei da guarda compartilhada, os Julgadores continuam a aplicá-la sempre que possível, como na previsão legal antiga, levando a conclusão de que a “regra” da guarda compartilhada não é efetivamente aplicada. A guarda compartilhada busca proteger o melhor interesse da criança e do adolescente, sendo o compartilhamento o modelo ideal a ser buscado pelos pais, após os divórcios, até mesmo litigiosos, pois o objetivo central a ser pleiteado é a manutenção do vínculo afetivo entre os genitores e seus filhos. Logo, é a forma eficaz de a criança crescer saudável e ambos os pais, unidos, buscarem a maneira mais adequada de criar e educar a sua prole. No entanto, é meritório que o genitor ou genitora lute pela maior e melhor convivência com sua prole e busque convencer o judiciário que a sua convivência irá trazer benefícios à boa formação psicológica do menor, situação que irá se refletir favoravelmente no campo profissional e/ou em seu campo pessoal. Por fim, sempre que ocorrer o término de uma relação conjugal, é aconselhável que os genitores aceitem compartilhar a guarda, pensando unicamente no bem-estar dos seus filhos, esquecendo as desavenças que possuem entre eles, pois a separação dos pais gera, normalmente, em alguns casos, trauma a seu filho, como o sentimento de abandono. Sendo assim, os pais, compartilhando a guarda, farão com que os filhos possam solucionar, de forma mais tranquila, problemas que são ocasionados pelo divórcio, ficando distante da possibilidade da ocorrência da alienação parental. REFERÊNCIAS AKEL, Ana Carolina Silveira. Guarda compartilhada: um avanço para a família. São Paulo: Atlas, 2008. BRASIL. Constituição Federal da República Federativa do Brasil. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm.> Acesso em 20/10/2015. BRASIL. Lei nº 3.071, de 1º de janeiro de 1916, que institui o Código Civil dos Estados Unidos do Brasil. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L3071.htm>. Acesso em 01/04/2015. BRASIL. Lei n° 8.069, de 13 de julho de 1990, que institui o Estatuto da Criança e do Adolescente. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069.htm>. Acesso em 01/04/2015. BRASIL. Lei n° 10.406, de 10 de janeiro de 2002, que institui o Código Civil. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>. Acesso em 10/05/2015. BRASIL. Lei n° 11.698, de 13 de junho de 2008, que altera os arts. 1.583 e 1.584 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 – Código Civil, para instituir e disciplinar a guarda compartilhada. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11698.htm>. Acesso em 10/08/2015. BRASIL. Lei n° 12.318, de 26 de agosto de 2010, que dispõe sobre a alienação parental e altera o art. 236 da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007- 2010/2010/lei/l12318.htm>. Acesso em 09/08/2015. BRASIL. Lei n° 13.058, de 22 de dezembro de 2014, que altera os arts. 1.583, 1.584, 1.585 e 1.634 da Lei no 10.406,de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), para estabelecer o significado da expressão “guarda compartilhada” e dispor sobre sua aplicação. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/Lei/L13058.htm>. Acesso em 10/08/2015. BRASIL. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. APELAÇÃO CÍVEL. GUARDA. MODIFICAÇÃO DOS ALIMENTOS. ALIENAÇÃO PARENTAL. VISI- TAS. 1. GUARDA COMPARTILHADA. Apelação Cível Nº 70065695090, Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Luiz Felipe Brasil Santos, Jul-gado em 03/09/2015. GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999. GRISARD FILHO, Waldir. Guarda compartilhada: Um novo modelo de responsabilidade parental. 2ª ed. São Paulo: RT, 2003. LÔBO, Paulo, Direito Civil. Famílias. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. _______. Direito Civil. Famílias. São Paulo: Saraiva, 2010. MADALENO, Ana Carolina Carpes. Síndrome da Alienação Parental: a importância de sua detecção com seus aspectos legais e processuais / Ana Carolina Carpes Madaleno, Rolf Madaleno. – 2. ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2014. PINHO, Marco Antônio Garcia. Alienação parental: “órfãos de pais vivos”. Porto Alegre: Revista Síntese, publicação periódica bimestral, v. 14, n. 75, 2013. ROSA, Conrado Paulino da. Nova lei da guarda compartilhada. São Paulo: Saraiva, 2015. ANEXO A – CRITÉRIOS NORTEADORES PARA AVALIAÇÃO DO ARTIGO CIENTÍFICO 1. O artigo científico apresenta todos os itens deste tipo de trabalho ( resumo, abstract, sumário, introdução, revisão da literatura, metodologia, descrição e análise de dados, conclusão e referências) 2. O problema de pesquisa é relevante e adequado uma das linhas de formação do curso 3. O Artigo apresenta introdução, revisão da literatura, estudo de caso e conclusões parciais 4. A introdução apresenta o tema da pesquisa, os objetivos, o problema de pesquisa e a estrutura do trabalho 5. A fundamentação teórica é coerente e adequada com o problema proposto 6. Os autores citados na revisão da literatura constituem referencial adequado à temática da pesquisa 7. A exposição teórica está consistente 8. O método é bem definido e adequado ao problema, com as fases de pesquisa claramente relatadas 9. A análise e interpretação de dados estão bem formulados e retomam pressuposto teórico 10. As conclusões parciais estão coerentes com a análise de dados 11. A pesquisa apresenta contribuição científica 12. O texto é claro, objetivo e usa linguagem correta. ABSTRACT 2.1.1 Guarda unilateral 2.1.2 Guarda compartilhada, sua diferenciação da guarda alternada e suas vantagens REFERÊNCIAS
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