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PODER CONSTITUINTE 1º Aspectos Gerais a) Conceito O Poder Constituinte pode ser conceituado como o poder de elaborar (e neste caso será originário) ou atualizar uma constituição, mediante supressão, modificação ou acréscimo de normas constitucionais (sendo nesta última situação derivado do originário). b) Titularidade A titularidade do poder constituinte, segundo a doutrina mais moderna, pertence ao povo. A doutrina mais antiga, baseada nas ideias do Abade Sieyes, entendia que o titular era a nação, contudo, esse posicionamento foi superado, sendo majoritário o entendimento de que o poder constituinte pertence ao povo. Não se deve confundir titularidade e exercício. Titular é quem detém o poder, ainda que na maioria dos casos, este seja exercido por outros agentes. c) Hiato Constitucional O hiato constitucional, também chamado de revolução, ocorre quando há um choque entre o conteúdo da Constituição e a realidade social. Assim, o hiato caracteriza-se como verdadeira lacuna, que poderá ocasionar os seguintes fenômenos: 1º Convocação da Assembleia Constituinte e elaboração de uma nova constituição. 2º Verificação da necessidade de mudança no sentido interpretativo da norma posta, por meio do instituto da mutação constitucional. https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ 3º Necessidade de manifestação do poder reforma, por meio das emendas constitucionais, fazendo com que haja manifestação do poder constituinte derivado reformador. 4º Finalmente, a quebra poderá dar espaço para ilegítima outorga constitucional, manifestando-se o poder autoritário e fazendo com que o hiato constitucional se transforme em hiato autoritário. 2º Poder Constituinte Originário a) Conceito O Poder Constituinte originário (também chamado de inicial ou inaugural) é aquele que instaura uma nova ordem jurídica, rompendo por completo com a ordem jurídica precedente. b) Natureza Para a concepção positivista, por não admitir a existência de qualquer outro direito além daquele posto pelo Estado, o poder constituinte tem natureza de um poder de fato ou político (e não de direito). Para os positivistas, por ser um poder político, o poder constituinte pode fixar livremente o modo e a forma da existência estatal a ser consagrada na constituição, sem ter que se justificar em uma norma ética ou jurídica. Já a concepção jusnaturalista, entende que o poder constituinte tem natureza de um poder jurídico (ou de direito). Para os jusnaturalistas, por existir um direito eterno, universal e imutável, preexistente e superior ao direito positivado, o poder constituinte, apesar de não ter limites no direito positivo anterior, estaria subordinado ao direito natural. https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ c) Classificação 1º Quanto à origem Poder constituinte originário histórico: é aquele encarregado de criar a primeira constituição do Estado. Poder constituinte originário revolucionário: seria aquele responsável pela criação de todas as Constituições posteriores a primeira. A revolução pode ser fruto de: a) golpe de estado, se o poder constituinte é usurpado por um governante; ou b) insurreição, também chamada de revolução em sentido estrito, se feita por um grupo ou movimento externo aos poderes constituídos. Poder constituinte originário transicional: é aquele que revela um dualismo: enquanto a nova constituição é preparada, a anterior subsiste. Não confundir com o poder constituinte originário transnacional, que é aquele que vai fazer a constituição de mais de um Estado. 2ºQuanto às espécies Poder constituinte material: é o responsável por eleger os valores a serem consagrados, definindo o conteúdo fundamenta da constituição. Poder constituinte formal: é aquele que vai formalizar o conteúdo, atribuindo o status constitucional a um complexo normativo. O poder constituinte material precede o formal em dois aspectos: a) logicamente: porque a ideia de direito precede a regra de direito; b) historicamente: pois o nascimento de certo regime ocorre antes de sua formalização. https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ A diferenciação entre poder constituinte material e formal pode ser feita com base na teoria tridimensional de Miguel Reale. Para o aludido autor, o direito é composto de três dimensões: 1º Dimensão axiológica: que é a dimensão do valor; 2º Dimensão normativa: que é a dimensão da norma; 3º Dimensão fática: é a do caso concreto. No plano axiológico, há vários valores que são eminentemente morais, como, por exemplo, o valor liberdade. Quem vai fazer a escolha desses valores morais que serão consagrados na Constituição é o poder constituinte material. No plano normativo, que será feito pelo poder constituinte formal, os valores morais serão consagrados em normas constitucionais, como, por exemplo, o valor liberdade será transformado em “liberdade de locomoção”, “liberdade de pensamento” etc. Já a dimensão fática, é a aplicação do valor consagrado ao caso concreto. Em tese, a escolha dos valores é feita pelo povo (poder constituinte material) e que vai formalizar esses valores, em uma democracia, é a assembleia nacional constituinte (poder constituinte formal). d) Características 1º É um poder inicial, pois instaura uma nova ordem jurídica, rompendo, por completo, com a ordem jurídica anterior. 2º É um poder autônomo, visto que cabe apenas ao seu titular a escolha do conteúdo a ser consagrado na Constituição. 3º É um poder incondicionado e soberano, porque não tem de submeter-se a qualquer forma ou conteúdo prefixado de https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ manifestação (Parte da doutrina defende algumas limitações a ele, como veremos a seguir). 4º É um poder permanente, já que o poder constituinte originário não se esgota com a edição da nova Constituição, sobrevivendo a ela e fora dela como forma e expressão da liberdade humana. 5º É um pode ilimitado juridicamente, uma vez que não tem que respeitar os limites do direito anterior. Contudo, a doutrina moderna também faz críticas a esse posicionamento, conforme veremos. 6º É um poder inalienável, por sua titularidade não ser passível de transferência, haja vista que o povo nunca perde o direito de querer mudar a sua vontade. 7º É um poder de fato e poder político, podendo ser caracterizado como uma energia ou força social, tendo natureza pré-jurídica, sendo que a nova ordem jurídica começa com sua manifestação e não antes. e) Limitações Em que pese a doutrina clássica entenda que o poder constituinte originário é ilimitado, é forte a corrente doutrinária que defende que o poder constituinte originário sofre algumas limitações, uma vez que é estruturado e obedece a padrões e modelos e condutas espirituais, culturais, éticos e sociais radicados na consciência jurídica geral da comunidade e, nesta medida, considerados vontade do povo. Assim, o poder constituinte não pode ser entendido sem a referência aos valores éticos, religiosos e culturais. Jorge Miranda, divide as limitações do poder constituinte em três espécies: https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ 1º Limites materiais transcendentes: são aqueles que, advindos de imperativos do direito natural, de valores éticos ou de uma consciência jurídica coletiva, impõem-se à vontade do Estado, demarcando sua esfera de intervenção. A necessidade de observância por parte do poder constituinte aos direitos fundamentais conquistados por uma sociedade e sobre os quais haja um consenso profundo é conhecido como princípio da proibição ao retrocesso ou efeito cliquet. 2º Limites materiais imanentes: são aquelesimpostos ao poder constituinte originário formal e estão relacionados à configuração do Estado à luz do poder constituinte material ou da própria identidade do Estado. Referem-se a aspectos como a soberania e a forma do Estado (Ex: uma nova Constituição Americana que transformasse os EUA em um estado unitário ofenderia a identidade aos limites imanentes, já que o país estão acostumado com a forma federativa de estado.) 3º Limites materiais heterônomos: são os provenientes da conjugação com outros ordenamentos jurídicos. Dizem respeito a princípios, regras ou atos de direito internacional que impõem obrigações ao Estado ou regras de direito interno. No caso de estados compostos ou complexos, tais como a federação, revelam- se nos limites recíprocos entre o poder constituinte federal e os poderes constituintes dos estados federados. 3º Poder Constituinte Decorrente a) Conceito https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ O poder constituinte decorrente é o poder responsável por elaborar a constituição dos Estados-membros. O poder constituinte decorrente pode ser inicial, que será o responsável pela elabora da Constituição Estadual, bem como poderá ser de revisão, que tem a função de promover as reformas no seu texto. b) Características Trata-se de um poder de direito, secundário, limitado e condicionado pela Constituição da República. c) Limitações As constituições estaduais, apesar de não se resumirem a uma simples cópia da federal, devem observar certos limites. O princípio da simetria impõe que as constituições estaduais sigam o modelo traçado pela Constituição da República. Apesar de não estar expresso no texto constitucional, o princípio da simetria pode ser deduzido de outros dispositivos constitucionais. Convém ressaltar, ainda, que apesar de os Municípios não possuírem constituição, o princípio da simetria também se aplica as suas leis orgânicas. A doutrina classifica as limitações da seguinte forma: 1° Princípios constitucionais sensíveis: são aqueles que representam a essência da organização constitucional da federação brasileira e estabelecem limites a autonomia organizatória dos Estados-membros. Estão enumerados no art. 34, VII, da CF e sua inobservância por parte dos Estados-membros autoriza a propositura de ADI interventiva. https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ Art. 34. A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para: VII - assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais: a) forma republicana, sistema representativo e regime democrático; b) direitos da pessoa humana; c) autonomia municipal; d) prestação de contas da administração pública, direta e indireta. e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde. 2° Princípios constitucionais extensíveis: são aqueles que consagram normas organizatórias para a União, que se estendem, expressa ou implicitamente, para os Estados. Entre os princípios constitucionais extensíveis expressos, podem ser mencionados as normas sobre a organização do TCU (Art. 75, CF) e as normas referentes a eleição do presidente da república (art. 28, CF). Entre os implícitos, podem ser destacados as regras básicas sobre o processo legislativo e os requisitos para a instauração de CPI. 3º Princípios constitucionais estabelecidos: são aqueles que limitam, vedam ou proíbem a ação indiscriminada do poder constituinte decorrente. Subdividem-se em: a) limitações expressas: estão consubstanciadas em: 1º) normas mandatórias, impositivas da observância e adoção de determinados princípios (Arts. 37 a 41, 42, §1º, CF); 2º) normas https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ vedatórias, proibitivas da adoção de determinados atos e procedimentos (Arts. 19, 35, 145, §2º, 150 e 152, CF). b) limitações implícitas: são aquelas que, apesar de não estarem expressas de forma textual, podem ser deduzidas de dispositivos expressos da CF. c) limitações decorrentes: são geradas pelos princípios que defluem do sistema constitucional adotado, como no caso do princípio federativo. @direitodiretoblog – O poder constituinte decorrente abrange as Leis Orgânicas dos Municípios e do DF?: No Brasil reconhecemos a União, os Estados-membros, o Distrito Federal e os Municípios como entes federados, estes últimos incluídos pela Constituição de 1988. Em sendo autônomas, estas entidades federadas possuem autogoverno, isto é, a capacidade de editarem seus próprios diplomas organizatórios. E é aqui que surge a divergência doutrinária que nos interessa: o poder decorrente atua somente na elaboração das Constituições estaduais ou é igualmente responsável pela elaboração dos documentos de organização do Distrito Federal e dos Municípios? Sobre o tema, temos duas correntes. A corrente minoritária (Michel Temer) defende a tese de que o poder decorrente atua também nos Municípios e no DF, sob o argumento de que, apesar de a Constituição ter se valido da locução "lei orgânica", os https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ documentos principais desses dois entes são efetivas "Constituições em sentido material. A posição majoritária entende que o poder decorrente também se aplica a Lei Orgânica do Distrito Federal, mas não nos Municípios. Isso porque o DF possui as mesmas a competências legislativas reservadas aos Estados-membros, dentre as quais se situa a atribuição estadual de elaborar sua própria Constituição. Em relação aos Municípios, tem-se que a sua lei orgânica é condicionado a simultaneamente à Constituição estadual e à Constituição Federal, é dizer, se sujeitam a uma dupla subordinação. Isso significa que um eventual poder decorrente municipal seria um poder de terceiro grau, vez que decorreria do poder decorrente estadual, que por sua vez já é um poder de segundo grau. Em conclusão, o poder decorrente deve extrair sua legitimidade diretamente do texto da Constituição, o que não ocorreria se vislumbrássemos um poder decorrente municipal, sujeito a duas ordens de normatização constitucional. 4º Poder Constituinte Derivador Reformador a) Conceito É o responsável pelas alterações no texto constitucional segundo as regras instituídas pelo poder constituinte originário. b) Características Caracteriza-se por ser um poder instituído, limitado e condicionado juridicamente. https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ c) Limitações 1º Limitações temporais A limitação temporal consiste na proibição de reforma de determinados dispositivos durante certo período de tempo após a promulgação da Constituição. Seu objetivo é estabelecer um lapso temporal a fim de que os novos institutos possam estabilizar-se. Na constituição de 1988 não foi imposta limitação temporal ao poder derivado reformador. 2º Limitações circunstanciais São limitações consubstanciadas em normas aplicáveis a situações excepcionais, de extrema gravidade, nas quais a livre manifestação do poder derivado reformador possa estar ameaçada. Nessas circunstâncias, a instabilidade institucional poderia motivar alterações precipitadas e desnecessárias no texto da constituição. Essas circunstâncias estão previstas no §1º do art. 60 da CF, são elas: Art. 60. (...) § 1º - A Constituição não poderá ser emendada na vigência de intervenção federal, de estado de defesa ou de estado de sítio. Essas hipóteses são taxativas. Assim, o estado de calamidade pública não impede a alteração da constituição.A doutrina entende ainda que a intervenção federal em município localizado em território federal não impede a alteração. 3º Limitações Formais (processuais ou procedimentais) https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ As limitações formais, classificadas pela doutrina como implícitas, referem-se aos órgãos competentes e aos procedimentos a serem observados na alteração do texto constitucional. Subdividem-se em: a) limitações subjetivas São relacionadas à competência para propositura de emendas à constituição. Tem legitimidade para propor as emendas: 1º Presidente da República: é o único que possui para propor proposta de lei e emenda à constituição. 2º de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal. 3º De mais da metade das Assembleias Legislativas das unidades da Federação, manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros. @direitodiretoblog - Cabe iniciativa popular de Emenda a Constituição?: A constituição foi omissa quanto ao tema, somente prevendo iniciativa popular para projetos de lei. Diante da omissão constitucional, a doutrina se divide: José Afonso da Silva, em posicionamento minoritário, defende a possibilidade de iniciativa popular para a propositura de emendas por meio de uma interpretação sistemática da Constituição, aplicando-se, por analogia, o procedimento previsto para a iniciativa popular de leis (Art. 61, §2º, CF). Baseando-se na ponderação de que o povo, sendo o titular do poder constituinte originário, pode se dar uma nova Constituição, podendo, da mesma maneira, deflagrar a atuação do poder de reforma por meio https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ da apresentação de uma proposta de modificação ao texto constitucional. O argumento estrutura- se na regra basilar de que rodo o poder emana do povo A doutrina majoritária, contudo, entende que não é possível, baseado nos seguintes motivos: a) por ser uma exceção à regra geral de iniciativa de leis (Art. 61, CF) é incabível uma interpretação extensiva do rol de legitimados, tendo em vista o postulado de que normas excepcionais deem ser interpretadas restritivamente; b) diversamente das leis em geral, instrumentos de veiculação da vontade da maioria, as constituições rígidas são autênticos mecanismos antimajoritários voltados precipuamente à proteção de direitos fundamentais, não se justificando a aplicação analógica no caso dos legitimados, por serem razões distintas. b) Limitações formais objetivas São referentes ao processo de discussão, votação, aprovação e promulgação das propostas de emenda. A proposta deve ser discutida e votada em cada casa do Congresso Nacional, em dois turnos, sendo necessário o voto de 3/5 (60%) dos membros da Câmara e do Senado para sua aprovação. Uma vez aprovada, a emenda será promulgada pelas mesas da Câmara e do Senado Federal, com o respectivo número de ordem (Art. 60, §3º). Ademais, a Constituição veda que proposta de emenda rejeitada ou havida por prejudica seja objeto de nova proposta na mesma sessão legislativa (Art. 60, §5º). https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ A sessão legislativa é o período que compreende dois períodos legislativos: 02 de fevereiro a 17 de julho e 01 de agosto a 22 de dezembro. Assim, a matéria constante de emenda rejeitada em uma sessão legislativa só pode ser reapresentada a partir de 02 fevereiro do ano seguinte. Esta limitação não se aplica na hipótese de rejeição do substitutivo. Não posso confundir sessão legislativa com legislatura. A legislatura é o período de 04 anos (CF, art. 44, parágrafo único). 4º Limitações materiais (ou substanciais) As limitações materiais podem ser impeditivas de inclusão, alteração ou exclusão de determinados conteúdos na constituição. Os limites inferiores estão relacionados a inserção de certas matérias no texto da Constituição. Tendo em vista inexistência de uma reserva material constitucional estabelecida pelo legislador constituinte, não há óbice a que um novo assunto seja inserido na Constituição. Os limites superiores são impostos pelo poder constituinte originário na tentativa de preservar a identidade material da constituição, impedindo a violação do núcleo essencial de determinados direitos, princípios e instituições. Tais limites exteriorizam-se nas cláusulas pétreas. a) Cláusula Pétreas 1º Expressas Art. 60. (…) § 4º - Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ I - a forma federativa de Estado; II - o voto direto, secreto, universal e periódico; III - a separação dos Poderes; IV - os direitos e garantias individuais. O STF entende que a expressão “tendente a abolir” deve ser interpretada no sentido de proteger o núcleo essencial dos direitos, princípios e institutos, em não como a impossibilidade de qualquer tipo de alteração do dispositivo (intangibilidade literal). A constituição não veda a reforma que busque o aperfeiçoamento, mas sim uma alteração supressiva ou redutora de sua essência, capaz de afetar a identidade constitucional. A expressão “tendente a abolir” revela dois aspectos fundamentais a serem consideradas quando da análise de uma suposta violação as cláusulas pétreas: estão proibidas tanto uma reforma que simplesmente venha a abolir uma cláusula pétrea quanto outra que não implique sua abolição, mas que se oriente nesse sentido. a) Forma Federativa de Estado A forma federativa é princípio intangível da Constituição, não devendo ser conceituada com base em um modelo ideal e apriorístico de federação, mas, sim, daquele que o constituinte originário concretamente adotou. Da forma federativa de Estado https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ defluem princípios cujo núcleo essencial também deve ser protegido (Cláusulas Pétreas decorrentes), tais como o princípio da indissolubilidade do pacto federativo (Art. 1º, caput, CF) e o princípio da imunidade recíproca (Art. 150, VI, “a”, CF). b) Voto direto, secreto, universal e periódico O dispositivo peca pela sua imprecisão de sua redação, utilizando a palavra voto no sentido de sufrágio e de escrutínio. O sufrágio é a essência do direito político e consiste na capacidade de eleger, ser eleito, e, de uma forma geral, participar da vida política de um Estado: o voto é o exercício desse direito; o escrutínio, o modo como o exercício se realiza. A rigor, universal é o direito de sufrágio, e secreto é o escrutínio. O voto obrigatório para os que tem entre 18 e 70 anos, com exceção dos analfabetos, não é considerado cláusula pétrea. c) Separação dos poderes O STF entende que a separação dos poderes não corresponder a um modelo ideal, devendo ser observado o modelo que o constituinte originário adotou na constituição. d) Direitos e garantias individuais https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ Os direitos e garantias individuais, apesar de consagrados de uma forma sistemática no art. 5º, não se restringem aos elencados nesse dispositivo, encontrando-se espalhados por toda a Constituição. Assim, convém ressaltar que os direitos fundamentais não são necessariamente cláusulas, uma vez que nem todos são direitos e garantias individuais. Ademais, convém ressaltar que nem todos os direitos previstos no art. 5º são considerados cláusulas pétreas, já que há dispositivos que não são garantias individuais, a exemplo dos incisos XLII1 e XLIV2. A liberdade associação e de reunião, apesar de classificadas pela maioria da doutrina com direitos coletivos, devem ser consideradas cláusulas pétreas por serem decorrentes do direito de liberdade.@direitodiretoblog – Eventuais novos direitos e garantias individuais criados pelo poder constituinte reformador são considerados cláusulas pétreas? Segundo Gilmar Mendes, devemos ter em mente que as cláusulas pétreas "se fundamentam na superioridade do poder constituinte originário sobre o de 1. XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei; 2. XLIV - constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático; https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ reforma", de maneira que somente o primeiro pode criar obstáculos de conteúdo à atuação do segundo. Portanto, não faz sentido, do ponto de vista lógico, permitir que o poder reformador crie limites invencíveis a si mesmo! É da natureza do poder originário, criador que é, estipular referidos limites, não sendo possível ao poder de reforma, mera derivação daquele outro, se arvorar nesta condição de criação. Assim é a conclusão de Gilmar Mendes, para quem "não é cabível que o poder de reforma crie cláusulas pétreas. Apenas o poder constituinte originário pode fazê-lo". É preciso distinguir, contudo, a seguinte situação. Esse entendimento somente se aplica quando o poder constituinte reformador cria novos direitos e garantias fundamentais. Contudo, é possível que uma emenda constitucional incremente o rol de direitos e garantias individuais, sem criar algo. A emenda, nesse caso, apenas especificaria, detalharia um direito já criado. Nesse caso, ainda que introduzido por emenda, é considerado cláusula pétrea, pois já encontrava-se abrangido pelo direito previamente existente no rol firmado pelo poder constituinte originário. Gilmar exemplifica com precisão: "É o que se deu, por exemplo, com o direito à prestação jurisdicional célere somado, como inciso LXXVIII, ao rol do are. 5° da Constituição, pela Emenda Constitucional nº 45/2004. Esse direito já existia, como elemento necessário do direito de acesso à Justiça - que há de ser ágil para ser efetiva - e do princípio do devido processo legal, ambos assentados pelo constituinte originário". https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ O tema, contudo, não é pacífico na doutrina. Bernardo Gonçalves, por exemplo, entende que eventuais novos direitos criados por emenda são sim cláusulas pétreas, não podendo ser excluídos posteriormente. 2º Implícitas a) Direitos sociais Parte considerável da doutrina considera que os direitos sociais são cláusulas pétreas implícitas, uma vez que eles são pressupostos necessários para o exercício dos direitos individuais. b) limitação ao poder reformador Para a doutrina majoritária, o próprio art. 60, que contém as cláusulas pétreas, é uma cláusula pétrea. Assim, para eles, não se admite no Brasil a chamada dupla revisão, que ocorre quando o poder reformador, desejando legislar sobre assunto proibido por cláusula pétrea, primeiro suprime uma cláusula pétrea, para depois legislar sobre o assunto. c) Sistema presidencialista e forma republicana de governo Alguns doutrinadores consideram que, após o plebiscito previsto no art. 2º do ADCT, com a opção do povo pela manutenção do sistema presidencialista e pela forma republicana de governo, ambas se tornaram cláusulas pétreas. Esse entendimento, contudo, está longe de ser pacífico. Boa parte da doutrina entende que é possível a alteração na forma e no sistema de governo, por meio de emenda, desde que ela seja submetida a consulta popular. 5º Poder Constituinte Supranacional https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ Com base nas ideais de cidadania universal, pluralismo, integração e soberania remodelada, surge o conceito de poder constituinte supranacional, destinado a equacionar uma Constituição supranacional legítima, com aptidão para vincular toda a comunidade de Estados sujeita à sua ação normatizadora. Em resumo, poder constituinte supranacional é aquele que submete as diversas Constituições Nacionais ao seu poder, é dizer, é o que permite a elaboração de uma Constituição que vai valer para diversos estados. 6º Poder Constituinte Difuso O Poder Constituinte Difuso não possui previsão constitucional, sendo um poder de fato que se manifesta por meio da mutação. Por meio da mutação constitucional, são dadas novas interpretações aos dispositivos da Constituição, mas sem alterações na literalidade de seus textos, que permanecem inalterados. Trata-se, assim, de alterações informais, decorrente de fatos e transformações políticas, econômicas e sociais. Assim, o poder constituinte difuso é o poder de realizar mudanças no conteúdo, alcance e sentido das normas constitucionais, sem haver alteração do texto constitucional, desde que sejam respeitadas as limitações impostas pelo poder constituinte originária durante seu exercício. 7º Questões polêmicas sobre o Poder Constituinte https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ a) A Constituição e dos direitos adquiridos Não existe direito adquirido em face de uma nova constituição. Os direitos adquiridos anteriormente ao surgimento de uma nova constituição não estão protegidos contra ela, salvo se a própria constituição assim o desejar. Isso porque sendo obra do poder constituinte originário, a Constituição não encontra limites no plano jurídico. Os chamados limites transcendentes são metajurídicos. Com relação aos alcance da nova constituição aos fatos passados, o STF faz a seguinte distinção: 1º Retroatividade mínima: a constituição vai alcançar os efeitos futuros de fatos passados (Ex: as prestações ainda não vencidas de um contrato). Essa retroatividade é automática. 2º Retroatividade média: prestações anteriormente vencidas e não pagas. 3º Retroatividade máxima: fatos consumados no passado. No caso de retroatividade média e máxima, a Constituição deve ser expressa para que haja sua incidência. Existe direito adquirido em face de emenda constitucional?: 1º Corrente: como a constituição (Art. 5º, XXXVI) afirma que a “lei” não prejudicará o direito adquirido, não haveria direito adquirido em face de emenda constitucional, sendo ele oponível apenas ao legislador ordinário. 2º Corrente (Majoritária): o direito adquirido, por ser uma garantia individual, e, por conseguinte cláusula pétrea, pode ser alegado em face de emenda constitucional. Trata-se, portanto, de uma limitação material imposta não apenas ao legislador ordinário, mas também ao poder reformador. https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ Bibliografia consultada para elaboração da apostila e indicada para aprofundamento do tema: – Curso de Direito Constitucional – Marcelo Novelino. - Manual de Direito Constitucional – Nathalia Masson. https://www.instagram.com/direitodiretoblog/