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Metodologia do Direito Internacional Público

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171Cadernos de Direito, Piracicaba, v. 11(19): 171-173, jul.-dez. 2010
Metodologia do Direito Internacional Público
Méthodologie du Droit International Public
Olivier Corten. Méthodologie du Droit International Public. Bruxelas: Editions de 
l´Université de Bruxelles, 2009. 291p. ISBN 978-2-8004-1454-6 – 9 Euros
Jorge Luís MiaLhe
Doutor, mestre e bacharel pela Universidade de São Paulo (USP).
Pós-doutorado pela Université de Paris III. Docente da Universidade 
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp)/Rio Claro e do curso 
de mestrado em Direito da Universidade Metodista de 
Piracicaba (uniMep). http://lattes.cnpq.br/4125705850773567
profmialhe@hotmail.com
Este livro, de autoria de Olivier Corten, professor titular de Direito Internacio-
nal da Universidade Livre de Bruxelas (ULB), é a primeira obra em língua francesa 
dedicada exclusivamente ao estudo da disciplina Metodologia do Direito Internacio-
nal Público, integrante da grade curricular do curso de Direito da ULB. 
O objetivo do livro, concebido a partir das aulas ministradas pelo titular daque-
la disciplina, foi apresentar ao leitor uma metodologia de trabalho passível de ser 
utilizada na educação jurídica. O autor defende a proposta de um ensino transversal1 
do Direito Internacional, buscando estabelecer liames entre domínios tão diferentes 
quanto o direito onusiano, os direitos da pessoa, o direito do mar, o direito interna-
cional humanitário e o direito internacional econômico.
1 De acordo com o Dicionário Interativo da Educação Brasileira: “a transversalidade diz respeito à 
possibilidade de se estabelecer, na prática educativa, uma relação entre aprender conhecimentos teo-
ricamente sistematizados (aprender sobre a realidade) e as questões da vida real e de sua transforma-
ção (aprender na realidade e da realidade). Não se trata de trabalhá-los paralelamente, mas de trazer 
para os conteúdos e para a metodologia da área a perspectiva dos temas. […] A transversalidade se 
difere da interdisciplinaridade porque, apesar de ambas rejeitarem a concepção de conhecimento 
que toma a realidade como um conjunto de dados estáveis, a primeira se refere à dimensão didática 
e a segunda à abordagem epistemológica dos objetos de conhecimento. Ou seja, se a interdisci-
plinaridade questiona a visão compartimentada da realidade sobre a qual a escola se constituiu, 
mas trabalha ainda considerando as disciplinas, a transversalidade diz respeito à compreensão dos 
diferentes objetos de conhecimento, possibilitando a referência a sistemas construídos na realidade 
dos alunos”. Disponível em: <http://www.educabrasil.com.br/eb/dic/dicionario.asp?id=70>. Acesso 
em: 13 abr. 2011.
Jorge Luís MiaLhe
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Na visão de Corten, o Direito Internacional passa por uma “inflação legislativa” 
e é ilusório pretender conhecer os detalhes de todas as regras existentes, mesmo num 
ramo especializado do Direito. Nesse sentido, é particularmente importante dispor-
se de um método que permita adquirir, dominar e utilizar os novos conhecimentos 
como ferramentas metodológicas, debruçando-se sobre o estudo científico dos méto-
dos, com o intuito de favorecer a utilização racional dos conhecimentos adquiridos 
e de guiar o estudioso do Direito na aquisição de novos conhecimentos em sintonia 
com os processos de aprendizagem.
Para o autor, o importante é compreender que a metodologia não consiste em 
afirmar a existência de tal ou qual regra jurídica, ou, ainda, em precisar seus signi-
ficados. Ela deve buscar, sobretudo, oferecer ferramentas ao pesquisador visando à 
criação ou à interpretação de uma norma ou, de forma genérica, desenvolver e expor 
um raciocínio jurídico de forma adequada.
O livro é divido em duas partes. Na primeira, Corten trata dos princípios funda-
mentais da metodologia do Direito Internacional. Na segunda, examina as regras es-
pecíficas da metodologia no Direito Internacional, com destaque para os problemas 
relativos às fontes formais do Direito Internacional atinentes ao direito dos tratados, 
ao direito costumeiro e às demais fontes do Direito Internacional (as decisões obriga-
tórias das organizações internacionais; os princípios gerais de direito; a equidade; a 
jurisprudência e a doutrina, como fontes indiretas). Finalmente, aborda os problemas 
metodológicos específicos relativos à aplicação das regras jurídicas e a orientação 
sobre a execução de um trabalho de pesquisa em Direito Internacional.
O autor discorre sobre a diversidade dos métodos científicos aplicados ao Di-
reito Internacional, destacando a dogmática jurídica (cujo objetivo é estabelecer e 
interpretar uma norma, mas não avaliá-la ou criticá-la); a teoria analítica do direito 
(cujo propósito é questionar o lugar de um conceito determinado na ordem jurídica 
internacional, entendida na sua globalidade); a filosofia do direito (cuja finalidade é 
avaliar a regra jurídica ou o conceito jurídico de acordo com as teorias da justiça) e a 
sociologia do direito (cujo escopo é confrontar as regras jurídicas ou os conceitos de 
Direito Internacional com a realidade social existente). Nesse último método, deve-
se inquirir sobre o porquê de tal norma ter emergido em determinado momento his-
tórico, ou, ainda, quais as razões para que certa regra seja geralmente aplicada e, em 
outros casos, seja ignorada. Nesse sentido, as explicações poderão ser desenvolvidas 
a partir das análises das teorias das relações internacionais ou da sociologia jurídica. 
O autor destaca, ainda, a importância da abordagem das questões transversais para 
uma melhor compreensão do Direito Internacional Público.
Ainda na primeira parte, Corten apresenta ao leitor a diversidade dos métodos 
segundo as correntes doutrinárias, com destaque para as clivagens entre três propos-
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tas teóricas no Direito Internacional opondo: i) o voluntarismo de Dionisio Anzilotti 
ao objetivismo de Georges Scèlle2; ii) a teoria formalista de Hans Kelsen à teoria 
crítica de Charles Chaumont e iii) as correntes idealistas, de ascendência kantiana, às 
realistas, fundadas na realpolitik, de origem maquiavélico-hobbesiana.
Na segunda parte do livro, o autor disserta sobre as normas peculiares da me-
todologia aplicada ao Direito Internacional, sobretudo a necessidade de seguir algu-
mas regras no tocante à análise das fontes formais do Direito. Finalmente, ressalta a 
aplicação dessas fontes por meio de mecanismos de interpretação ou pelo estabele-
cimento dos fatos que servirão de suporte para a redação de uma pesquisa na área do 
Direito Internacional.
Recomenda-se, portanto, a leitura dessa obra singular.
2 Cujo clássico Précis de droit des gens, de 1932, foi fac-similarmente reeditado em 2008 pela edi-
tora Dalloz, de Paris.

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