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Apostila História Medieval

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CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO – FAVENI 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
APOSTILA 
HISTÓRIA MEDIEVAL 
 
 
 
 
 
ESPÍRITO SANTO 
 
2 
 
 
O CONCEITO DE IDADE MÉDIA 
 
Fonte: http://www.colegioweb.com.br/historia/o-que-foi-idade-media.html 
 
Durante muito tempo a Idade Média ficou conhecida como Idade das Trevas. Isto 
significa dizer que ela não teria trazido nenhuma contribuição para a história do mundo, em 
especial do Ocidente. Teria sido um período dominado pela barbárie e pela cegueira do 
conhecimento. Os homens que construíram este conceito sobre a Idade Média buscaram 
condena-la em todos os aspectos que caracterizaram a vida social da mesma: a arte sob 
influência de povos ditos bárbaros, a vida social e política organizada segundo os 
parâmetros da fé católica, dentre outros fatores. 
No século XVI, os renascentistas estavam desenvolvendo um novo conceito de arte 
baseada no que havia sido produzido no mundo greco-romano. Para estes, a Idade Média, 
ao admitir outras influências sobre a sua arte, além da clássica, acabou por barbarizá-la, 
 
3 
 
daí designarem a arte deste período como gótica. Foram alguns destes homens que 
primeiro utilizaram os termos “Idade Média” e “Idade das Trevas”. 
Nos séculos posteriores, o XVII e o XVIII, os intelectuais racionalistas, os 
protestantes, os burgueses e os iluministas acrescentaram novas críticas ao período e 
ampliaram ainda mais a visão negativa da Idade Média. 
Os historiadores do século XX, movidos pelo desejo de compreender o homem do 
passado em seu próprio tempo, desenvolveram métodos e novas teorias que, ao serem 
aplicadas ao estudo da Idade Média, levaram-nos a compreender a riqueza da produção 
cultural deste período e a forma como o mesmo influenciou na construção da Europa 
Ocidental. Seus estudos têm revelado a importante contribuição étnica, linguística, política, 
cultural que estas sociedades legaram para o mundo europeu moderno. 
 
A CRONOLOGIA DA IDADE MÉDIA 
 
Fonte: https://jogadorpensante.com/tag/fable/ 
 
4 
 
 
Neste tópico adotamos uma cronologia que consideramos mais completa, conforme 
nos alerta o autor do texto em que a extraímos, Hilário Franco Júnior, por trabalhar com a 
concepção de história como resultado de um processo e não de fatos isolados (Franco 
Júnior, 2001, p. 14-17). Este autor divide o período que compreende os séculos IV a 
meados do XVI em quatro momentos distintos que trazem uma relativa coesão interna: 
 
PRIMEIRA IDADE MÉDIA (séculos IV-VIII): é o período de encontro entre os elementos 
que vão fundamentar as sociedades medievais – a herança romana, a herança germânica 
e o Cristianismo. 
 
ALTA IDADE MÉDIA (séculos VIII-X): período de alianças entre o poder germânico e a 
Igreja, que culminou no Império Carolíngio, marcado pela recuperação econômica e pela 
expansão territorial e cristã. 
 
IDADE MÉDIA CENTRAL (séculos XI-XIII): período de apogeu da Idade Média, onde 
vigoram em sua máxima expressão o feudalismo, o renascimento urbano e comercial, as 
artes, o poder da Igreja, dentro outros fatores. 
 
BAIXA IDADE MÉDIA (Séculos XIV-XVI): período de crise, marcado por guerras, pestes e 
fome, pela recessão demográfica e monetária. Mas também gestam-se os valores e as 
 
5 
 
transformações do mundo moderno como a reforma protestante, os descobrimentos, o 
renascimento artístico e cultural, numa resposta à crise do início do período. 
 
OS ELEMENTOS DA TRANSIÇÃO DA IDADE ANTIGA PARA A 
IDADE MÉDIA 
 
Fonte: 
https://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&ved=0ahUKEwihuOGY9s3MAhWGipAKHUnuBFYQjhwIBQ
&url=http%3A%2F%2Fbrasilescola.uol.com.br%2Fhistoriag%2Fidade-
media.htm&psig=AFQjCNH254bSuL8h8GhNmVT4P3zfGHtw3A&ust=1462915245558011 
 
Pode-se verificar que os romanos conquistaram praticamente toda a região ao redor 
do Mar Mediterrâneo, consolidando um Império em que este foi seu eixo principal. Uma 
das mais significativas mudanças operadas na Europa Ocidental com a decadência do 
Império e o início da Idade Média foi o deslocamento do centro da sua vida social para o 
norte, sobrevivendo durante alguns séculos num ritmo de vida em que o mar, a vida 
 
6 
 
urbana e as relações comerciais deixaram de ter na região a referência que tinham durante 
o mundo antigo. 
A decadência do mundo romano é atribuída a diferentes fatores, e aqui 
destacaremos alguns dos que consideramos mais significativos: 
· Pax Romana: o fim das guerras de conquistas e de ampliação do Império põe fim aos 
recursos representados pelos saques e a fácil obtenção da mão-de-obra escrava, que 
desenvolvia o trabalho produtivo. 
· Elevação do sistema tributário, para a manutenção do Estado, afetando os pequenos 
proprietários de terras e levando a concentração da riqueza e de poder aos grandes 
latifundiários. 
· Declínio do comércio e da vida urbana, movimento de ruralização. 
Como podemos ver, o Império Romano estava vivendo um grave momento de 
declínio interno quando se soma a estes fatores a invasão dos povos germânicos na sua 
parte ocidental. Os povos germânicos invadiram a Europa Ocidental em dois momentos 
distintos: 
a) Uma primeira geração - visigodos, suevos, burgúndios, ostrogodos e vândalos – ocupa 
diferentes territórios da Europa ocidental a partir de 406. Os visigodos e suevos fixaram-se 
na Península Ibérica organizando reinos na região. O que mais sobreviveu foi o dos 
visigodos, que foi destruído pelos árabes em 711. Os ostrogodos fixaram-se na península 
itálica sofrendo no século VI as ameaças do Império Bizantino e depois com as invasões 
 
7 
 
de lombardos. Os vândalos fixaram-se e organizaram um reino no norte da África e os 
burgúndios no centro da Europa. 
b) Segunda geração de invasores – anglo-saxões, francos, alamanos, bávaros – ocupam a 
área da Grã-Bretanha, Gália e outros territórios do centro europeu a partir da segunda 
metade do século V. Composta de povos pagãos e conservando o contato com a pátria-
mãe germânica tiveram mais oportunidade de estabilidade, graças à conversão ao 
catolicismo, o que facilitou o contato com os romanos, além de se caracterizarem pela 
superioridade militar. 
O Cristianismo, por outro lado, veio se desenvolvendo de forma significativa ao 
longo deste período. Em 313, o Imperador Constantino, através do Édito de Milão, tornou o 
Cristianismo uma religião livre de perseguições e em 380 o Imperador Teodósio 
transformou o Cristianismo em religião oficial do império através do Édito de Tessalônica. 
A partir de então, a religião cresceu em número de adeptos, vindos de diferentes grupos 
sociais, e teve a oportunidade, com a ajuda do Estado, de organizar-se internamente. 
Durante este período, a Igreja organizou seu clero regular, seu clero secular o seu 
patrimônio e a sua liturgia. Prestou, também, importante assistência a população durante 
as invasões germânicas, estabelecendo alianças com os invasores à medida em que estes 
conquistavam o poder. Como herdeira do legado cultural e do patrimônio do Império 
Romano, a Igreja tornou-se a mais homogênea e duradoura instituição do Ocidente. 
 
8 
 
Podemos concluir, então, que a união dos três elementos descritos acima 
caracterizou o desenvolvimento das sociedades medievais no Ocidente: a herança do 
mundo romano, a herança do mundo germânico e o Cristianismo. 
Vejamos qual foi, segundo Fernand Braudel, a contribuição de cada um deles 
(Braudel, 1989, p. 3-5): 
 
 
 
Ao final deste período, os reis francos iniciaram um processo de expansão territorial 
e política, e da união de seus interesses com os da Igreja Católicanasceu o Império 
Carolíngio, que iremos estudar no próximo bloco. 
 
 
 
 
 
9 
 
 
CONHECENDO AS FONTES DA HISTÓRIA 
 
Fonte: https://sciart.eu/pt/tags/historia 
 
ÉDITO DE MILÃO (313) 
 
Eu, Constantino Augusto, e eu também, Licíno Augusto, reunidos felizmente em 
Milão para tratar de todos os problemas que se relacionam com a segurança e o bem 
público, cremos ser o nosso dever tratar junto com outros assuntos, que merecem a nossa 
atenção para o bem da maioria, tratar também daqueles assuntos nos quais se funda o 
respeito à divindade, a fim de conceder tantos aos cristãos quanto a todos os demais a 
faculdade de seguirem livremente a religião que cada um desejar, de maneira que toda a 
 
10 
 
classe de divindade que habita a morada celeste seja propícia a nós e a todos os que 
estão sob a nossa autoridade. 
Assim, temos tomado esta saudável e retíssima determinação de que a ninguém 
seja negada a faculdade de seguir livremente a religião que tenha escolhido para o seu 
espírito, seja a cristã ou qualquer outra que achar mais conveniente; a fim de que a 
suprema divindade a cuja religião prestamos esta livre homenagem possa nos conceder o 
seu favor e benevolência. Por isso, é conveniente que vossa excelência saiba que temos 
resolvido anular completamente as disposições que lhe foram enviadas anteriormente com 
relação ao nome dos cristãos, por encontrá-las hostis e pouco apropriadas à nossa 
Clemência, e temos resolvido permitir a todos os que queiram observar a religião cristã, de 
agora em diante, que o façam livremente sem ter que sofrer nenhuma inquietação ou 
moléstia. Assim, pois, acreditamos ser o nosso dever dar a conhecer com clareza estas 
decisões à vossa solicitude, para que saiba que temos concedido aos cristãos a plena e 
livre facilidade de praticar a sua religião ... Levou-nos a agir assim o desejo de não 
aparecer como responsáveis por diminuir em nada qualquer religião ou culto ... E além, 
disso, no que diz respeito aos cristãos, decidimos que lhes sejam devolvidos os locais 
onde anteriormente se reuniam, sejam eles propriedade do nosso fisco, ou tenham sido 
comprados por particulares, e que os cristãos não tenham de pagar por eles nenhuma 
classe de indenização ... e como consta que os cristãos possuíam não só locais de 
reuniões habitual, mas também outros pertencentes à sua comunidade ... ordenamos que 
 
11 
 
lhe sejam devolvidos sem nenhum tipo de equívoco nem de oposição ... Em todo o dito 
anteriormente (vossa excelência) deverá prestar o apoio mais eficiente à comunidade dos 
cristãos, para que as nossas ordens sejam cumpridas o mais depressa possível e para que 
também neste assunto a nossa Clemência vale pela tranquilidade pública. Desta maneira, 
como já temos dito anteriormente, o favor divino que em tantas e tão importantes ocasiões 
nos tem sido propício, continuará ao nosso lado constantemente, para o êxito das nossas 
empresas e para a prosperidade do bem público... 
 
Lactancio. (De mortibus persecutorum) Sobre la muerte de los perseguidores. introd.., trab. 
Española e notas de R. Teja. Madrid: Gredos, 1982. XLVIII, p.2-3. In: Apud Pedrero 
Sanchéz, p. 27-8. 
 
ÉDITO DE TESSALÔNICA (380) 
 
Os imperadores Graciano, Valentiniano e Teodósio Augusto: édito ao povo da 
Cidade de Constantinopla. 
É a nossa vontade que todos os povos regidos pela administração de nossa 
Clemência pratiquem a religião que o divino apóstolo Pedro transmitiu aos romanos, na 
medida em que a religião por ele introduzida tem prosperado até os nossos dias. É 
evidente que esta é a religião que professa também o pontífice Damaso, e Pedro, bispo de 
 
12 
 
Alexandria, homem de apostólica santidade; isto é, que de acordo com a disciplina 
apostólica e a doutrina evangélica, devemos acreditar na divindade do Pai, do Filho e do 
Espírito Santo com igualdade de majestade e sob (a noção) da Santa Trindade. 
Ordenamos que todas aquelas pessoas que seguem esta norma tomem o nome de 
cristãos católicos. Porém, o resto, aos quais consideramos dementes e insensatos, 
assumirão a infâmia dos dogmas heréticos, os lugares de suas reuniões não receberão o 
nome de igreja e serão castigados em primeiro lugar pela divina vingança, e, depois, 
também, (por justo castigo) pela nossa própria iniciativa, que providenciaremos de acordo 
como juízo divino. 
Dado no terceiro dia das calendas de março, no ano de quinto consulado de 
Graciano e do primeiro consulado de Teodósio Augusto . (28 de fevereiro de 380). 
 
Código Teodosiano. XVI, 1-2. In: Tuñón de Lara, M. Textos y documentos de História 
Antigua, Media y Moderna. Barcelona: Labor, 1984. p.127 (Historiade EspañaXI). In: Apud 
Pedrero Sanchéz, p. 28-9. 
 
SOBRE A ORIGEM DOS FRANCOS 
 
(...) Muitos autores contam que estes povos saíram da Panômia e que se 
estabeleceram primeiro na margem do Reno; tendo em seguida atravessado este rio, 
 
13 
 
passaram à Turíngia e aí, nas aldeias ou nas cidades, escolheram reis cabeludos, que 
foram buscar na primeira, e, se assim posso dizer, à mais nobre das suas famílias. 
(...) Mas este povo mostrou-se sempre entregue a cultos fanáticos sem ter qualquer 
conhecimento do verdadeiro Deus. Fez imagens das florestas e das águas, dos pássaros, 
dos animais selvagens e dos outros elementos aos quais tinha por hábito prestar um culto 
divino e oferecer sacrifícios (...)” 
São Gregório de Tours [Bispo de Tours – 538-595 – 1º historiador da França]. 
Historiae Ecclesiasticae Francorum. Lib. II, IX-X. Trad. De Guadet e Taranne. Paris, 1836. 
In: Apud Pedrero Sanchéz, p. 33. 
O ISLAMISMO: MAOMÉ, ORGANIZAÇÃO DA RELIGIÃO E 
IMPORTÂNCIA PARA O EXPANSIONISMO, LEGADO 
CULTURAL. 
 
Fonte: http://www.geocities.ws/lumini_religioes/LUMINI_RELIGIOES_ARTIGOS/LUMINI_Islamismo.html 
 
14 
 
 
Agora, vamos sair um pouco da Europa Ocidental e deter o nosso olhar sobre outro 
espaço geográfico do mundo medieval, observando a Península Arábica, do outro lado do 
mar, lugar onde nascia uma nova sociedade que viria marcar de forma permanente, nos 
séculos futuros, a história da humanidade. Vamos seguir o nosso caminho em direção ao 
mundo islâmico. 
 
Maomé e as Origens do Islamismo 
 
O Islamismo nasceu e expandiu-se, para além das fronteiras da Península Arábica, 
no período medieval marcando a história universal desde então. 
A Península Arábica teve um papel decisivo nas relações econômicas entre 
Ocidente e Oriente devido às caravanas que atravessaram os desertos transportando 
mercadorias e a navegação de cabotagem através de seu extenso litoral. Os árabes eram 
povos politeístas e nômades cuja língua era semita, a aramaica. 
O Islã nasceu no século VII com Maomé. Este nasceu em Meca em 570 d. C. Meca 
era um importante centro comercial da Arábia Ocidental e de peregrinação, devido ao 
santuário de Caaba, onde inúmeros deuses eram cultuados. 
Maomé era filho de mercadores da tribo coraixitas que mantinham acordo com tribos 
pastoris de Meca. Após sua experiência de revelação, - onde diz receber as profecias de 
 
15 
 
Alá, que ele passa a reconhecer como o único deus - Maomé sofreu a perseguição da 
aristocracia mercantil de Meca, que não aceitava o monoteísmo de sua pregação. Ele fugiu 
para Medina em 16 de julho de 622 e esta data ficou conhecida como hégira marcando o 
início do calendário islâmico. 
Em Medina ocorreu a organização definitiva do Alcorão e a instituição da 
peregrinação, prece regular, esmola e jejum. Maomé foi o sintetizador de doutrinas e 
preceitos existentes em outras formas religiosas, como o judaísmo, com as quais manteve 
contato através de viagens à Palestina. O conteúdo que resultoudesta experiência 
revestiu-se de um aspecto nacional (língua, origens, primeiros adeptos árabes) e um 
aspecto internacional (acolhendo todos os povos sem distinção de raça tal qual o 
Cristianismo). 
Após a morte de Maomé, em 632, os califas iniciaram o processo de expansão do 
Islã e do poder árabe sobre outros territórios. 
 
A Expansão do Islã 
O sucesso da expansão dos árabes, e por consequência do Islamismo, pelo Oriente 
explica-se pela: 
- Fraqueza dos adversários (Bizâncio e Pérsia estavam exauridos pelas contínuas lutas); 
- O entusiasmo dos adeptos movidos por motivos religiosos e pela possibilidade de 
riqueza; 
 
16 
 
- O bom acolhimento dos povos dominados por Bizâncio (para sírios, judeus e egípcios os 
árabes foram considerados libertadores). 
Os primeiros califas foram: 
- Abu Bakr (632-34) – sogro de Maomé, conquista a Arábia e o sul da Palestina. 
- Umar Ibn Abd al-Khattab (634-44) – avança até Damasco, parte do Império Sassânida 
(Pérsia), províncias sírias e egípcias do Império Bizantino; 
- Uthman ibn Affan (644-56) – desloca o poder de Medina para as cidades do norte, da 
Síria e do Iraque, gerando conflitos com os conversos antigos e recentes do islamismo; 
- Ali ibn Abi Talib (656-61) – primo de Maomé, tem um governo marcado pelos conflitos 
com Medina, que pretendia retomar o controle do império. 
Os conflitos levaram ao poder a família dos Omíadas, que não possuíam laços 
familiares com Maomé e tornaram a transmissão do califado hereditária. Estes levaram a 
capital do império para Damasco e avançaram até o norte da África e Península Ibérica e 
deram os primeiros passos em direção a Índia. A subida ao poder desta família dividiu os 
árabes em sunitas e xiitas. Os xiitas não concordavam com o califado nas mãos de não 
familiares de Maomé e pretendiam uma interpretação rigorosa dos preceitos do Alcorão. 
Após séculos os Omíadas foram substituídos pelos Abássidas, que transferiram a 
capital do império para Bagdá, no Iraque. No século X as contradições do sistema de 
governo centralizado e burocrático levaram a fragmentação do mesmo. 
 
17 
 
A partir do séc. XI, iniciou-se a intolerância religiosa e a guerra santa. Este período 
foi marcado pelo declínio desta sociedade após aliança entre o califa de Bagdá e os turcos 
seldjúcidas. 
 
AS TRANSFORMAÇÕES POLÍTICAS, ECONÔMICAS E SOCIAIS 
DA ALTA IDADE MÉDIA 
 
Fonte: http://cafehistoria.ning.com/photo/1980410:Photo:11599?context=user 
 
No século IX várias transformações modificaram o cenário europeu ocidental. 
Abaixo, comentaremos algumas destas mudanças: 
 
 
 
 
18 
 
 
Novas invasões desestabilizam o espaço europeu (islâmicos, normandos, 
húngaros): 
. Ao norte e por mar - escandinavos ou normandos (vikings): seus objetivos eram a 
pilhagem; fizeram isto devastando o litoral, abadias e cidades europeias. Suecos atacaram 
a Rússia, noruegueses atacaram a Irlanda e dinamarqueses invadiram pelo mar do norte e 
Canal da Mancha. 
. Em 980, os normandos tornaram-se senhores da Inglaterra, conquistando-a 
definitivamente em 1066; em 911 criaram o reino da Normandia no norte da Gália de onde 
enxameiaram o ocidente e deixaram sua marca; e em 1029 ocuparam a Itália meridional e 
a Sicília. Os normandos controlavam o comércio através do mar do Norte. 
. Ao sul e por mar - os islâmicos invadiram a costa italiana ao longo do século IX, 
controlando boa parte do mediterrâneo e o comércio nele realizado. 
. Ao leste e por terra: húngaros ou magiares. Instalaram-se no território russo no século VII, 
de onde foram expulsos por povos turcos iniciando, a partir de 899, invasões sistemáticas 
nas fronteiras do leste da França Oriental e da Germânia, além de excursões na França e 
Itália também. 
. A vitória sobre os húngaros em 955, pelo rei Otão I, ajudou no surgimento do poder da 
dinastia otoniana que restaurou o poder imperial carolíngio, fundando o Sacro Império 
Germânico, que durou de 936 a 1806, sob o território da Itália e Germânia. Otão I foi 
 
19 
 
sagrado pelo papa João XII, em 961. Os húngaros sedentarizam-se e cristianizaram-se 
fundando o reino da Hungria. 
 
Recuperação econômica: 
 
Segundo Jacques Le Goff, verificamos a partir do século IX uma recuperação da 
economia medieval no Ocidente, desestabilizada desde o século V pela decadência 
romana e invasões germânicas. Este século foi decisivo no campo das transformações 
econômicas para a Cristandade Ocidental (Le Goff, 1995, p. 80-5). Foi o início do 
renascimento econômico, resultado de uma renovação do comércio nos séculos VIII e IX, 
decorrentes do: 
. apogeu do comércio da Frísia e do porto de Duurstede; 
. reforma monetária de Carlos Magno; 
. melhoria da produção agrícola: novos sistemas de atrelamento de animais, divisões de 
terrenos cultivados, avanços das técnicas de cultivo. 
O século X foi um período de novidades decisivas, especialmente no domínio do cultivo e 
da alimentação. 
Le Goff atribui este despertar do Ocidente ao: 
1) Estímulo externo: formação do mundo islâmico – administrando metrópoles urbanas e 
consumidoras - que suscitaram no Ocidente germânico o aumento da produção de 
 
20 
 
matérias primas para exportação para Córdoba, Fustat, Cairo, Damasco, Bagdá. São 
madeiras, ferro, estanho, mel e escravos. 
2) Estímulo interno: progresso técnico verificado no próprio solo ocidental – agrícola, com 
aumento das áreas cultivadas e seu rendimento; militar, no uso do estribo que permitiu 
melhor domínio do cavalo e gerou uma nova classe de guerreiros, os cavaleiros. 
- Os grandes proprietários promoveram exploração intensa do solo e geraram pequenos 
excedentes de produção entregues aos mercadores (Le Goff, 1995, p. 84-5). 
 
OS ELEMENTOS FORMADORES DO FEUDALISMO 
 
Fonte: http://www.coladaweb.com/historia/o-sistema-feudal 
 
O Feudalismo não possuiu as mesmas características e nem teve uma evolução 
simultânea em toda a Europa. Embora concretamente só podemos falar de uma sociedade 
feudal na Idade Média Central, iniciamos a discussão sobre este tema neste espaço 
dedicado à Alta Idade Média para mostrar como sua consolidação dependeu de processos 
históricos deste período. 
 
21 
 
Segundo Loyn, no Dicionário da Idade Média, “...as origens da sociedade feudal 
situam-se melhor na França setentrional dos séculos IX e X, com o declínio da monarquia 
carolíngia (na Inglaterra, de maneira mais dramática em 1066, com a conquista normanda), 
e seu desaparecimento no século XVI (Loyn, 1997, p.146). 
Considerando a visão deste autor, listamos alguns dos elementos que caracterizam 
o feudalismo e a sua origem, seguindo uma ordem de importância: 
- A supremacia de uma classe de guerreiros especializados, chamados cavaleiros, que 
formavam a classe dominante, surgindo o feudalismo deste processo de ascensão da 
cavalaria; 
- Relações de suserania e vassalagem, marcadas por vínculos de obediência e proteção 
que ligam homem a homem e, dentro da classe guerreira, assumem a forma específica 
denominada vassalagem (Bloch, Marc APUD Loyn, 1997, p. 146). Esta relação foi 
originada de uma “forma de encomendação germância antiga, pela qual um homem livre 
se submetia a um outro por um ato de homenagem (as mãos juntas colocadas entre as do 
senhor), confirmado por um juramento sagrado de fidelidade e vassalagem e usualmente 
acompanhada pela outorga de um feudo” (Loyn, 1997, p.146). 
- A existência do feudo, “ que é a essência dominial do feudalismo e vincula o senhorio e 
as relações feudais à terra” (Loyn, 1997, p.146). O feudo era outorgado por investidura. 
 
22 
 
Segundo Loyn, feudo era a terra de um senhor, confiada a seu vassaloem troca de 
serviços meritórios, os quais incluíam serviços militares, ajuda e conselhos. (Loyn, 1997, 
p.146). 
- A existência da propriedade senhorial, representada no castelo que “ era o símbolo e a 
essência do senhorio feudal, que se impunha à terra por meio dos homens montados que 
tinham sua base dentro de suas sólidas muralhas” (Loyn, 1997, p.146). 
- A existência de um campesinato mantido em sujeição dentro de um senhorio. 
É bom lembrar que, além de cavaleiros, nobres possuíam relações feudalizadas 
com monarquia medieval e a Igreja. Esta última recebia a concessão de feudos “em troca 
do serviço de rezar” (Loyn, 1997, p. 146). Mas sobre isto falaremos no próximo bloco, ao 
tratarmos sobre a sociedade feudal. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
23 
 
 
A QUESTÃO DA TERRA NA IDADE MÉDIA 
 
Fonte: 
https://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&ved=0ahUKEwiCj_vr983MAhUBGpAKHT9ODPoQj
hwIBQ&url=http%3A%2F%2Fhistoriaparaoenem.blogspot.com%2F2015%2F03%2Fbaixa-idade-media-
introducao.html&psig=AFQjCNHHwyv58NyMQwFmxM0K8Yo5sa8zfA&ust=1462915706014320 
 
Os senhores 
 
A posse dos domínios territoriais era de três grupos distintos: a Igreja, a Coroa e a 
nobreza. Os domínios da Igreja eram indivisos, ao contrário dos outros que sofriam 
divisões sucessivas devido a doações e partilhas sucessórias. Isto explica o fato de a 
Igreja possuir a maior parte das terras do Ocidente cristão ao final da Alta Idade Média. 
 
 
24 
 
 
 
 
Os trabalhadores 
 
Encontramos, nas propriedades feudais, os camponeses. Temos camponeses livre, 
não-livres e escravos. A tendência é que a partir do século XII os encontremos em sua 
maioria na condição de servos. Estes trabalhadores colocavam-se sob o domínio dos seus 
senhores em troca de proteção e de um pedaço da terra para usufruto pessoal. Para isto, 
sujeitavam-se ao cumprimento de obrigações pessoais e encargos como descreveremos 
no item abaixo, sobre as propriedades senhoriais. 
 
Os domínios e os senhorios: a divisão interna 
 
Vejamos como estavam divididas as propriedades do clero e da nobreza ao longo 
da Idade Média: 
 a Alta Idade Média predominou a economia agrária dominial, baseada no modelo 
da villa romana. Neste período a grande propriedade era designada de domínio. 
O domínio era dividido em: terra indominicata (reserva senhorial) e terra 
mansionaria (mansus). Os mansus eram partes do território destinadas ao usufruto dos 
 
25 
 
camponeses, desde quando estes cumprissem sua parte no contrato estabelecido com os 
seus senhores. 
As prestações pagas por servos ao senhor eram em forma de encargos em espécie 
e em dinheiro por ano e encargos em prestações de serviços na reserva (corvéia). O 
fundamento da economia dominial: prestação de serviços na reserva senhorial pelos 
camponeses livres, mas dependentes. 
No século IX este regime já encontrava-se descaracterizado, sendo as corvéias 
substituídas por dinheiro. 
 a Idade Média Central observamos a passagem da agricultura dominial para a 
senhorial. Segundo Hilário Franco Júnior o “senhorio era um território que dava a 
seu detentor poderes econômicos (fundiários) ou jurídicos-fiscais (banal)” e o feudo 
“era uma cessão de direitos, geralmente, mas não necessariamente sobre um 
senhorio” (Franco Júnior, 2001, p. 37). Portanto, não se deve confundir senhorio 
com feudo. O senhorio era assim caracterizado: “era um território que dava a seu 
detentor poderes econômicos (senhorio fundiário) ou jurídico-fiscais (senhorio 
banal), muitas vezes ambos ao mesmo tempo (Franco Júnior, 2001, p. 37)”. 
Durante este período observamos a diminuição das terras destinadas aos 
camponeses, e os mansus foram transformados em tenências, lotes menores e com 
maiores encargos. Os encargos destinados aos camponeses eram de duas espécies: 
 
26 
 
- Senhorio fundiário: censive (pequena renda fixa – censo) paga em dinheiro ou espécie. 
Mão-morta - transferência hereditária. Champart - proporcional ao rendimento da colheita. 
Corvéia. 
- Senhorio banal: taxas pelo uso de moinhos, lagar, forno, bosques albergagem, 
alojamento, multas e taxas judiciárias, talha. 
Com o seu poder ampliado devido ao poder banal sobre o senhorio, que agora o 
senhor passava a possuir, este acabava aumentando a exploração sobre os camponeses 
através da criação das taxas listadas acima. Verificamos também uma diminuição da 
reserva senhorial devido a criação de novas tenências, ao progresso das técnicas 
agrícolas que não exigiam necessariamente terras tão extensas para manter o mesmo 
nível de produção e a cessão de feudos para os vassalos. 
Este foi um período marcado por um intenso crescimento da produção 
consequência da ampliação da mão de obra e de terras e da difusão de diferentes técnicas 
(sistema trienal, charrua, força motriz animal, adubo mineral, moinho de água e de vento). 
 
 
 
 
 
 
 
27 
 
 
A SOCIEDADE FEUDAL 
 
Fonte: http://www.miniweb.com.br/historia/Artigos/i_media/sacerdotes_guerreiros.html 
 
É preciso destacar a importância da Igreja na consolidação do modelo de sociedade 
feudal, pois é através do seu intermédio que se dá, segundo Franco Júnior, a conexão 
entre os vários elementos que compunham esta formação social. O autor lembra que a 
Igreja era a maior detentora de terras e detinha o controle da vida dos indivíduos, além de 
ser a legitimadora das relações de suserania e vassalagem e da dependência dos servos 
em relação aos seus senhores (Franco Júnior, 2001, p. 89). 
Que elementos caracterizam esta sociedade? 
 
28 
 
- Podemos lembrar, em primeiro lugar, da ideologia da ordem, que leva a mesma a ser 
pensada dentro de uma lógica de imutabilidade e dificulta a mobilidade social, além de 
promover a tradição e a obediência nas relações sociais. 
- Esta ideologia por outro lado, baseada na ideia de uma ordem celeste e imutável que 
inspiraria o modelo de vida dos homens, deu origem a uma forma de divisão social em que 
uns oram, outros combatem e outros trabalham. 
Mas, principalmente a partir da Idade Média Central, outros grupos começam a 
crescer dentro deste: eram trabalhadores assalariados, artesãos, burgueses, resultado do 
renascimento comercial e urbano do período. Estas transformações viriam, séculos mais 
tarde, alterar profundamente este modelo de sociedade. 
 
O RENASCIMENTO COMERCIAL E URBANO 
 
Renascimento Comercial 
 
As transformações na agricultura da Europa Ocidental a partir do século X levaram à 
produção de um excedente agrícola que gerou o revigoramento do comércio na região. Isto 
levou a um amplo crescimento demográfico e urbano na região: havia mais mão-de-obra e 
melhor qualidade na alimentação o que ampliava cada vez mais a produção. 
 
29 
 
O crescimento demográfico e urbano gerou a ampliação das atividades artesanais 
em cidades próximas a rios e estradas, produzindo um progresso econômico. E o que 
resultou disto? Vejamos: 
- Desenvolvimento do comércio marítimo e fluvial. 
- Surgimento e o renascimento de muitas cidades europeias. Este processo era resultado 
do povoamento dos pontos de encontros das atividades comerciais - feiras, estimuladas 
por reis e nobres, através da emissão de salvo-condutos para os mercadores garantindo a 
sua segurança na região. 
- Desenvolvimento da indústria da construção (igrejas, mosteiros, castelos, palácios, 
prédios públicos e militares). 
- Desenvolvimento da indústria têxtil: panos de lã em Flandres, Itália e Inglaterra. 
- Organização da produção nas cidades através das corporações de ofício. 
- Monetarização da economia, promovendo o retorno da circulação da moeda.- Nascimento das atividades bancárias: nasce na Itália - câmbio, depósitos, empréstimos, 
transferências, crédito. 
 
Renascimento Urbano 
 
Segundo Jacques Le Goff as cidades medievais nasceram como sucessoras das 
antigas cidades, devido ao despertar da vida comercial e do desenvolvimento agrícola do 
 
30 
 
Ocidente, desenvolvendo-se a partir desta função econômica: renovação das trocas de 
mercadorias. Nasceram ao longo dos rios ou estradas frequentadas por comerciantes, 
também por iniciativa senhorial, para poder taxá-las, ou de um entreposto comercial ou de 
um mercado rural (Le Goff, 1995, p. 102-13). 
Estas cidades foram também importantes espaços de trocas das grandes rotas 
comerciais. Aqui identificamos algumas destas cidades: 
. Veneza e Gênova – cidades italianas, com parcas possibilidades agrícolas que 
empurram-nas para as atividades mercantis. As Cruzadas promoveram o seu crescimento 
pelo Extremo Oriente (especiarias, seda, perfumes), mar Egeu e mar Negro (matéria prima 
para indústria têxtil). 
. Hansa Teutônica – associação formada por cidades alemãs do norte, ligada a expansão 
germânica sobre a Europa oriental. Em 1161, mercadores alemães criaram associações, 
que em meados do séc. XIV transformaram-se em associações de cidades. 
O eixo que caracterizou as atividades comerciais por elas desenvolvidas foi: 
- Novgorod-Reval-Lubeck-Hamburgo-Bruges-Londres. 
- Eram comercializados: mel e cera da Rússia, trigo e madeira da Polônia e da Prússia, 
minerais da Hungria, peixe da Noruega e da Islândia, cobre e ferro da Suécia, vinho da 
Alemanha do sul, sal da França e de Portugal, lã da Inglaterra e tecidos de Flandres. 
 
31 
 
Os pontos de encontros entre o eixo mediterrânico, controlado pelas cidades 
italianas, e o eixo nórdico, controlado pelas cidades alemãs eram as feiras e os burgos, 
como o de Champanhe, que deu origem a uma cidade. 
As cidades são também áreas de produção “industrial”, ampliadas pelo 
desenvolvimento do artesanato urbano, devido as crescentes necessidades de uma 
população (rural e urbana) em expansão e mais exigente. Temos o desenvolvimento da 
indústria têxtil -Flandres, Itália e Inglaterra -, e da construção. 
Devido às atividades artesanais e comerciais que ocorriam com cada vez maior 
intensidade nas cidades, vamos encontrar nestas a formação de corporações de ofícios, 
que derivaram de confrarias religiosas, destinadas a devoção e caridade. Estas 
corporações generalizaram-se após 1120. As mais antigas eram de mercadores e as mais 
recentes de artesãos. Elas funcionavam como um conjunto de oficinas com monopólio da 
atividade comércio ou artesanal para impedir concorrência. 
A leitura de dois textos, Le Goff (1995, p. 87-140) e Franco Júnior (2001, p. 36-46) 
em especial permitiram a seleção das informações acima sobre o comércio e as cidades. 
 
 
 
 
 
 
32 
 
A CULTURA MEDIEVAL E A INFLUÊNCIA DA IGREJA 
CATÓLICA 
 
Fonte: http://www.estudopratico.com.br/igreja-catolica-na-idade-media/ 
 
A cultura e a arte na Idade Média desenvolvem-se principalmente no ambiente 
monástico. Segundo Hilário Franco Júnior, na Idade Média Central o primado cultural 
transferiu-se dos mosteiros para as cidades, principalmente no ensino e na arquitetura 
(Franco Júnior, 2001, p. 102-122). 
 
EDUCAÇÃO 
 
Devido ao crescimento das cidades e dos grupos sociais nela existentes, vemos a 
partir do século XI as escolas urbanas ganharem mais destaque que as monásticas, 
 
33 
 
transformando-se em universidades no século XIII, que funcionavam como corporações 
eclesiásticas. 
O método de estudo destas escolas urbana era a escolástica. A escolástica 
consistia num “conjunto de leis sobre como pensar determinado assunto” (Franco Júnior, 
2001, p. 118). 
Quais eram estas leis? Vejamos o que nos diz este autor: 
A- Leis de linguagem para buscar o sentido exato da palavra; 
B- Leis de demonstração usando a dialética, uma forma de provar certa posição 
recorrendo a argumentos contrários; 
C - Lei da autoridade, recurso a fonte cristã e do pensamento clássico para fundamentar as 
ideias defendidas; 
D - Leis da razão: utilizável para uma compreensão mais profunda. . 
As etapas de estudo eram: 
. Lectio, leitura, comentário e análise do texto. 
. Disputatio ou debate sobre o assunto. 
Também verificamos neste período a revalorização do estudo do direito antigo, 
devido à necessidade das monarquias nascentes e da população urbana, e da medicina, 
num lento processo de dessacralização da natureza, que permitiu a ampliação dos 
estudos. 
 
34 
 
- Anterior a Idade Média Central: Arte românica. Esta arte marca o período posterior as 
invasões dos normandos, islâmicos e húngaros – séculos XI e XII, terminando por volta de 
1140-60. Inúmeras igrejas foram construídas. O que caracteriza este estilo artístico? 
Vejamos: 
Não havia arte pela arte, feita pelo seu valor estético e sim eram elaboradas com 
finalidade exclusivamente didática, marcada pelo simbolismo. Arte arquitetônica expressa 
na construção de templos a ideia de construir “fortalezas de Deus” (largas paredes, 
grossos pilares e poucas janelas), transmitindo a ideia de que somente dentro da igreja 
(edifício religioso) e da Igreja (instituição) era possível a salvação (Franco Júnior, 2001, p. 
111). 
- Idade Média Central: Arte gótica. O estilo gótico resultou do renascimento urbano e 
comercial verificado na Europa. Este estilo nasce por volta de 1140, no sul da França, e a 
primeira experiência verificou-se na construção da basílica de Saint-Denis (1132-44). 
Ocorreu um desenvolvimento importante da arquitetura que levou as igrejas góticas a 
elevarem-se “a grandes alturas”, verificando-se também a introdução de vitrais, arcos 
ogivais e rosáceas. 
A escultura também adquire função decorativa e pedagógica (Batista Neto, 1988, p. 
215). Neste período a arte não deixa de ser religiosa, inclusive estará sempre ligada ao 
sagrado, mas há influência da cultura popular na sua elaboração, da burguesia local e da 
monarquia. Quais as suas características? Vejamos: 
 
35 
 
. Novas necessidades espirituais e práticas, ligadas a valorização da relação entre fé e 
razão, e a cultura que está se desenvolvendo nas escolas urbanas. 
. Deus como luz (vitrais) e valorização do seu lado humano (culto à Virgem); valorização da 
natureza como parte essencial da criação (realismo). Arquitetura busca equilíbrio entre a 
vida ativa e a contemplativa (Franco Júnior, 2001, p. 111). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
36 
 
 
 
 
 
 
Nome do autor: Marcos Emílio Ekman Faber 
 
Fonte: http://historiali.dominiotemporario.com/revistahistoriador/espum/marcosfaber.pdf 
 
Data do acesso: 09/05/2016 
 
 
 
O NASCIMENTO DA IDADE MÉDIA A PARTIR DA ANÁLISE COMPARATIVA DAS 
OBRAS: PASSAGENS DA ANTIGUIDADE AO FEUDALISMO E DECLÍNIO E QUEDA 
DO IMPÉRIO ROMANO 
 
 
 Marcos Emílio Ekman Faber 
 
 
Resumo 
 
 Neste artigo analiso o fim do Império Romano do Ocidente e a consequente fragmentação 
de poder na Europa. Minha análise ocorre a partir de três pontos principais: os motivos do 
declínio econômico romano; as invasões bárbaras e; a cristianização do Império, assim 
como o papel desempenhado pela igreja cristã no processo de reestruturação européia. 
Como metodologia, utilizei a análise comparativa das obras Passagens da Antiguidade ao 
Feudalismo de Perry Anderson e Declínio e Queda do Império Romano de Edward Gibbon. 
Sendo o primeiro um autor marxista e o segundo um livro clássico, escrito no séc. XVIII, de 
um autor iluminista que influenciou as gerações que o seguiram.37 
 
 
 Palavras-chave: Crise do Império Romano. Nascimento da Idade Média. Mão-de-obra 
escrava. 
 
Introdução 
 
A proposta deste artigo é analisar o nascimento da Idade Média européia a partir da 
análise comparativa das obras Passagens da Antiguidade para o Feudalismo3 de Perry 
Anderson e Declínio e Queda do Império Romano de Edward Gibbon. Os autores foram 
escolhidos por serem representantes de vertentes históricas distintas, mas também por 
terem vivido em épocas diferentes. Enquanto o primeiro autor é um historiador 
contemporâneo adepto do materialismo histórico dialético em sua versão contemporânea, 
o segundo é fruto do século XVIII – Declínio e Queda do Império Romano foi escrito entre 
1766-1788 – Gibbon, um iluminista, influenciou as gerações que o seguiram, 
principalmente os historiadores positivistas. Neste artigo a versão de Declínio e Queda que 
será analisada é a edição abreviada. A comparação das duas obras será centralizada na 
análise de três aspectos principais: a questão econômica, procurando entender quais os 
motivos do declínio econômico romano; a questão militar, principalmente relacionada às 
invasões bárbaras e; a questão religiosa com a cristianização do Império e a proibição aos 
cultos pagãos. 
Para compreendermos as diferenças teóricas e metodológicas ente os dois autores 
é importante entendermos que existem três correntes distintas de pensamento sobre o final 
do Império Romano. Uma primeira corrente, que chamo de internalista, atribui a ruína do 
Império às questões internas, ou seja, o Império Romano chegou ao seu colapso devido a 
problemas estruturais no seio do próprio Império; outra corrente, que chamo de 
externalista, afirma que o Império Romano ruiu por causas externas ao Império, ou seja, 
pela cristianização do Império e/ou pelas invasões bárbaras5 , como é o caso de Edward 
Gibbon e; uma terceira corrente, que chamo de conciliadora, que imputa o final do Império 
Romano a uma combinação de causas internas e externas, como é o caso de Perry 
Anderson. Por motivos óbvios, analisaremos principalmente a segunda e a terceira 
hipóteses. 
Outro fator importante neste artigo é a preocupação com a compreensão do 
contexto histórico em que ocorreu o fim do Império Romano do Ocidente levando-o a 
 
38 
 
fragmentação do poder político na Europa, para isso, analiso também outros autores que 
auxiliam na compreensão do fundo histórico aqui abordado. 
 
A questão econômica 
 
A questão econômica, ou seja, os motivos que levaram à crise econômica do 
Império Romano são, por mais que possa parecer contraditório, o ponto em que os dois 
autores aqui analisados mais se aproximam. Apesar de Gibbon não atribuir muita 
importância às questões econômicas, suas afirmativas sobre a crise econômica romana se 
aproximam às de Perry Anderson, porém, este último, ao contrário de Gibbon, atribui à 
crise econômica um papel decisivo no queda do Império Romano. Para Anderson, o 
esgotamento do trabalho escrava foi o principal motivo do colapso romano (ANDERSON, 
2004, p. 82-83). 
Edward Gibbon afirma que o gigantismo, ou seja, a extensão territorial, do Império 
dificultava a administração e a proteção das fronteiras, representando gastos significativos 
ao Estado romano. 
 
O declínio de Roma foi a natural e inevitável consequência da grandeza imoderada. 
A prosperidade fez com que amadurecesse o princípio de decadência; as causas 
de destruição se multiplicaram com a extensão das conquistas; e, tão logo o tempo 
ou os acidentes removeram os sustentáculos artificiais, a estrutura desabou sob 
seu próprio peso. A história de sua ruína é simples e óbvia; em vez de perguntar 
por que o Império Romano foi destruído, devemos antes surpreender-nos de ele ter 
durado tanto (GIBBON, 2005, p. 538). 
 
 Perry Anderson, que concorda com tal teoria, acrescenta que a Pax Romana 
representou, antes de tudo, o ápice do Império, mas também o início de sua ruína. Pois, os 
altos gastos estatais na modernização do Império – construção de estradas, diques, 
aquedutos, etc. –, crescia a cada ano, assim, a crise econômica que assolava Roma gerou 
uma série de conflitos internos no Império. Ao suspender as guerras de conquistas, 
também acabou por inviabilizar um sistema que era baseado na mão-de-obra escrava. 
 
 O poder militar estava mais intimamente ligado ao crescimento econômico do 
que talvez em qualquer outro modo de produção, antes ou depois, porque a 
principal fonte de trabalho escravo eram normalmente prisioneiros de guerra, 
 
39 
 
enquanto o aumento das tropas urbanas livres para a guerra dependia da 
manutenção da produção doméstica por escravos; os campos de batalha forneciam 
a mão-de-obra para os campos de cereais e viceversa – os trabalhadores 
capturados permitiam a criação de exércitos de cidadãos (ANDERSON, 2004, p. 
28). 
 Para o autor, o mais grave do modelo escravista romano era a inexistência de um 
mecanismo interno que possibilitasse sua renovação, assim, no momento em que a 
renovação de escravos fosse inviabilizada haveria uma grave crise no sistema, como de 
fato ocorreu (ANDERSON, 2005, p. 82). A saída encontrada para a crise da mão-de-obra 
foi criar o sistema de colonatos, porém, essa solução aparentemente positiva tornou-se um 
sério problema ao promover a ruralização da sociedade romana, pois ao conceder 
incentivos ao novo sistema, muitos trabalhadores urbanos abandonaram as cidades em 
busca de espaço no campo. O problema da mão-de-obra somente seria resolvido com o 
progressivo processo de transformação dos trabalhadores livres em servos, o que somente 
se completaria muitos anos depois quando a nobreza carolíngia adotaria o sistema de 
servidão forçando os trabalhadores a submeterem-se a um sistema onde ficavam presos a 
terra que cultivavam, lançando, assim, os alicerces do feudalismo que iria dominar o 
cenário europeu nos séculos seguintes. 
 A transferência de cidadãos para o campo e a ruralização da sociedade romana 
inviabilizaram a manutenção do exército, pois gerava indiretamente uma ausência de 
alistados, fato este que enfraquecia a defesa das fronteiras, possibilitando a entrada de 
bárbaros no território. A solução encontrada foi a de permitir o alistamento de estrangeiros 
nas legiões romanas. 
 
A questão militar 
 
Neste ponto, os autores possuem divergências essencialmente no peso que 
atribuem às invasões bárbaras10 no processo de ruína do Império Romano. Ficando mais 
claro o contexto histórico em que cada um dos autores viveu, pois elementos de seus dias 
estão muito presentes nas teorias de cada um. Para Gibbon, um inglês que apoiou 
arduamente a Revolução Francesa, inclusive morando muitos anos na França durante a 
Revolução (GIBBON, 2005, p. 28-29), os bárbaros representavam um retrocesso, um 
atraso civilizacional. Para ele as hordas invasoras eram hostis aos ideais de liberdade, de 
igualdade e de propriedade, importantes itens do ideário iluminista. 
 
40 
 
 
As leis e os costumes das nações modernas protegem a segurança e a liberdade 
do soldado vencido; o cidadão pacato, outrossim, raras vezes tem razões de 
queixar-se de que sua vida ou mesmo sua fortuna ficaram expostas à fúria da 
guerra. No desastroso período da queda do Império Romano, que pode ser 
justificadamente datada do reinado de Valente, a felicidade e a segurança de cada 
indivíduo eram atacadas, e as artes e as obras de séculos, rudemente desfiguradas 
pelos bárbaros da Cítia e da Germânia. (GIBBON, 2005, p. 446). 
 
Para este autor, os bárbaros representavam a desestabilização da civilização 
grecoromana e eram, portanto, os grandes vilões no processo de desintegração do Império 
Romano. ParaGibbon, a Idade Média, um período terrível, fora o resultado da vitória da 
barbárie sobre a civilização (GIBBON, 2005, p. 544-545). 
Já Perry Anderson, um marxista – escreveu Passagens da Antiguidade ao 
Feudalismo ainda durante a Guerra Fria –, analisou as invasões bárbaras do ponto de vista 
socioeconômico. Para ele, a proteção militar às fronteiras gerava elevados gastos ao 
Império, sendo muito difícil a manutenção e sua preservação. Outro elemento importante 
foi ocasionado pela ruralização da sociedade romana em consequência da crise da mão-
deobra escrava, fatores que enfraqueciam o exército, pois desestimulavam o alistamento 
militar. A solução foi permitir a entrada de bárbaros nas fileiras do exército romano. Já no 
século III, as legiões romanas estavam abarrotadas de soldados germânicos, com alguns 
ocupando importantes cargos de comando no exército (ANDERSON, 2004, p. 82-85). 
Portanto, nos séculos IV e V, quando ocorreram as invasões, o território romano já convivia 
há muito tempo com a maioria dos povos invasores. 
As tribos bárbaras que entraram no Império Romano eram basicamente tribos rurais 
e patriarcais divididas em clãs de famílias. Em geral, não tinham noções de Estado. A base 
agrária era formada por camponeses livres e a terra era coletiva, com raríssimas exceções 
tinham escravos (ANDERSON, 2004, p. 109-110). Já nesta época, o cristianismo não se 
restringia ao Império Romano, padres e bispos já tinham ultrapassavam as fronteiras do 
Império em direção aos territórios bárbaros. Assim, quando os invasores chegaram a 
Roma, a sua maioria era formada por cristãos. 
Se para Edward Gibbon, as invasões bárbaras tiveram papel decisivo na queda do 
Império Romano, com os germânicos representando a vitória da anarquia política sobre 
uma civilização mais avançada, para Anderson, os bárbaros fizeram parte de um processo 
 
41 
 
de reconstrução da sociedade romana em ruína, não sendo os responsáveis pela queda 
do Império, que já estava em crise há muito tempo, mas os responsáveis pela sua 
reformulação ao possibilitar a síntese entre sua cultura e a romana. 
 
A questão religiosa 
 
É difícil imaginar um estudo sobre a Idade Média sem uma análise criteriosa da 
religiosidade que impregnou todo o período. Portanto, os autores aqui comparados 
analisaram exaustivamente o papel da Igreja Cristã12 no processo de formação do 
medievo. Mas também é neste ponto que os dois autores apresentam mais discordâncias. 
A começar pelo fato de que somente Gibbon descreve as causas de a Igreja tornar-
se parte do Estado romano e como ela se sobrepôs ao paganismo. O autor afirma que isto 
somente foi possível com a vitória do cristianismo sobre a religião pagã romana. As 
causas, segundo ele, foram: 
 
I. O inflexível zelo e, se nos é permitido usar tal expressão, a intolerância dos 
cristãos – derivada, em verdade, da religião judaica, mas purificada pelo espírito 
acanhado e antissocial que, em vez de atrair, dissuadir os gentios de abraçar a lei 
de Moisés. II. A doutrina de uma vida futura, valorizada por toda e qualquer 
circunstância ocasional que pudesse dar peso e eficácia a essa importante 
verdade. III. Os poderes miraculosos atribuídos à Igreja primitiva. IV. A pura e 
austera moralidade dos cristãos. V. A união e a disciplina da república cristã, que 
formou aos poucos um Estado independente que se desenvolveu no coração do 
Império Romano (GIBBON, 2005, p. 236). 
 
Para o autor, os mesmos motivos que levaram a vitória do cristianismo sobre o culto 
pagão formaram as causas de sua interferência na queda do Império. Gibbon colocou a 
Igreja como a principal causadora da queda do Império Romano, para ele os cristãos foram 
o principal motivo da ruína e crise de Roma (2005, p. 539-540), pois a Igreja imobilizou o 
Estado romano ao desviar a atenção do imperador de questões relativas à manutenção 
estatal para o combate às seitas e heresias13 que surgiam no seio do cristianismo. 
Anderson, que não descarta esta teoria, completa afirmando que a Igreja ao tornar-
se uma segunda burocracia mantida pelo Estado (2004, p. 126-127), onerava os cofres 
romanos a tal ponto que ajudou no colapso econômico romano. Porém, para Anderson, o 
 
42 
 
papel da Igreja não foi tão decisivo e aponta que outros fatores foram mais importantes 
para a crise econômica romana, como os vistos anteriormente – principalmente a crise da 
mãode-obra escrava. 
Para ele, a Igreja desempenhou um papel muito mais ligado à transição entre dois 
modos de produção, um em extinção – o escravista – e outro na sua gênese – o feudal. 
Assim, a Igreja representou muito mais um processo de conciliação entre duas épocas do 
que o de desintegração de uma. Pois, a Igreja teve muita importância para o surgimento da 
sociedade medieval, sendo responsável pela preservação de parte importante da cultura e 
da legislação romana, desempenhando papel fundamental no processo de síntese entre as 
culturas romana e bárbara (ANDERSON, 2004, p. 130). Enquanto Gibbon denuncia que a 
Igreja, ao transformar a sociedade romana numa sociedade intolerante e austera, 
corrompeu a cultura clássica greco-romana, Anderson chama a atenção para o fato de 
que: 
Parte de um gigantesco processo de assimilação e adaptação dessa cultura por 
uma população mais vasta, que iria arruiná-la e salvaguardá-la no colapso de sua 
infraestrutura tradicional. A mais impressionante manifestação desta transmissão foi 
ainda outra vez a da linguagem. (...) Com a cristianização do Império, os bispos e o 
clero das províncias ocidentais, assumindo a conversão em massa da população 
rural, latinizaram permanentemente sua fala durante os séculos IV e V. As línguas 
romanas foram o efeito desta popularização, um dos elos sociais mais essenciais 
de continuidade entre a Antiguidade e a Idade Média (ANDERSON, 2004, p. 130-
131). 
 
 Portanto, para Anderson, a participação da Igreja teve importante papel e lugar no 
processo de transição entre o final do Império Romano e o nascimento do medievo. 
 
Sua eficácia autônoma não seria encontrada na esfera de estruturas de relações 
econômicas ou sociais, onde às vezes tem sido equivocadamente procurada, mas 
na esfera cultural acima destas relações (ANDERSON, 2004, p. 131). 
 
A civilização clássica, definida por seu desenvolvimento superestrutural sem 
precedentes na história da humanidade, necessitava de um aparelho ideológico que a 
preservasse do colapso romano, a Igreja cumpriu este papel (ANDERSON, 2005, p. 131). 
Apesar de não discordar integralmente de Gibbon, que colocava a Igreja como uma das 
principais culpadas pelo fim do Império Romano, Anderson atribuiu à Igreja a sobrevivência 
 
43 
 
da cultura romana, sendo esta essencial no processo de assimilação cultural dos povos 
bárbaros ao legado greco-romano. Desempenhando, assim, um importante papel no 
nascimento da Idade Média e no surgimento do feudalismo. 
 
A Igreja foi a indispensável ponte entre duas épocas, numa passagem “catastrófica” 
e não “cumulativa” entre dois modos de produção. (...) Significativamente, foi o 
mentor oficial da primeira tentativa sistemática de fazer “renascer” o Império no 
Ocidente – a monarquia carolíngia. Com o Estado Carolíngio, começa a história do 
feudalismo propriamente dito. (ANDERSON, 2004, p. 131). 
 
 Para Perry Anderson, o cristianismo foi peça importante no processo de 
desintegração do Império Romano, mas, ao mesmo tempo, foi de extrema importância na 
preservação da cultura latina. Sem o cristianismo não existiria a síntese entre a cultura 
romana e a germânica que resultaram na sociedade feudal (ANDERSON, 2004, p. 136-
137). 
 
 Conclusão 
 
Ao lermos as obras aqui analisadaspodemos perceber o quanto devemos, ainda 
hoje, aos clássicos da literatura historiográfica, trata-se de um grande exercício intelectual 
entrar em contato com livros que influenciaram e ainda influenciam o entendimento 
histórico hoje disponível. Como professor e historiador, lastimo que a maioria dos jovens 
estudantes de história pouco ou nada sabe sobre os autores clássicos. Assim, se faz 
necessário cada vez mais revisar e estudar essas obras. Ao lermos Declínio e Queda do 
Império Romano e Passagens da Antiguidade ao Feudalismo percebemos que mesmo 
sendo Edward Gibbon um iluminista e Perry Anderson um marxista, eles tiveram ideias e 
teorias em comum, mesmo que na maior parte das vezes tenham discordado. 
 Ao acreditar que os motivos da queda do Império Romano estavam em questões 
externas, Gibbon retirou o peso da crise econômica que Roma enfrentava. Já Perry 
Anderson, conciliou as questões internas e externas como motivadoras da crise e queda 
de Roma, pois para ele, apesar da participação da Igreja como peso burocrático onerando 
os cofres públicos, o problema do esgotamento da mão-de-obra escrava foi tão ou mais 
importante para o colapso do Império. 
 
44 
 
Já as três questões propostas pelo artigo – questões econômica, militar e religiosa –
, percebemos o quanto os autores divergem ou se aproximam dependendo da situação 
analisada. Como é o caso da questão econômica, apesar das ideias de Gibbon se 
aproximarem das de Anderson no que se refere às causas da crise econômica romana. Os 
dois se distanciam no grau de importância que dão a esta questão, já que, devido a sua 
orientação teórica, somente Perry Anderson analisou com profundidade os problemas 
relativos ao esgotamento da mão-de-obra escrava e, por consequência, do modo de 
produção assentado na escravidão. 
Na questão militar, principalmente com relação às invasões bárbaras, os autores 
apresentam diferenças significativas na leitura que fazem. Para Gibbon, as invasões 
representaram a vitória da anarquia sobre a civilização. Já para Anderson, o episódio 
representou um processo de reestruturação de uma sociedade em crise e sua 
consequente superação. Já a questão religiosa foi outra que gerou muita divergência entre 
os dois autores. Apesar de ambos considerarem a Igreja Cristã uma causa importante no 
processo de crise romana, foi Gibbon quem afirmou que a Igreja teve papel decisivo neste 
processo. Enquanto que Anderson defendeu a posição de que a Igreja, apesar de sua 
parcela na crise romana, desempenhou um importante papel como preservadora do legado 
romano, sendo responsável pelo processo de síntese entre as culturas romana e bárbara. 
 Por fim, ler e comparar as duas obras se torna um exercício de percepção 
indispensável ao estudante do medievo, pois apesar das grandes diferenças teóricas e 
metodológicas, os dois autores são complementares para o entendimento do tema, o que 
torna o estudo de ambos, indispensável na compreensão dos motivos que levaram à 
queda do Império Romano e no consequente nascimento da Idade Média. 
 
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