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GABARITO AP2 LIT. BRAS. III

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Fundação Centro de Ciências e Educação a Distância do Estado do Rio de Janeiro 
Centro de Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro 
Universidade Federal Fluminense 
Curso de Licenciatura em Letras- UFF / CEDERJ 
 
 
Disciplina: Literatura Brasileira III 
Coordenadora: Profª Flávia Amparo 
 
AP2 – 2014.1 
 
 
Aluno(a): _______________________________________________________ 
 
Polo: _______________________________ Matrícula: ___________________ 
 
Nota: _______________ 
 
Leia com atenção os textos e as questões da prova. Lembre-se do que estudou nas Unidades, 
de 5 a 9. Escreva as respostas de maneira dissertativa e fique atento à coerência, à coesão e 
à correção gramatical da sua escrita. 
 
Texto 1 – O bebê da tarlatana rosa (João do Rio) 
Não há quem não saia no Carnaval disposto no excesso, disposto aos transportes da carne e 
às maiores extravagâncias. O desejo, quase doentio é como incutido, infiltrado pelo ambiente. 
Tudo respira luxúria, tudo tem da ânsia e do espasmo, e nesses quatro dias paranoicos, de 
pulos, de guinchos, de confianças ilimitadas, tudo é possível. Não há quem se contente com 
uma... 
- Nem com um, atalhou Anatólio. 
- Os sorrisos são ofertas, os olhos suplicam, as gargalhadas passam como arrepios de urtiga 
pelo ar. É possível que muita gente consiga ser indiferente. Eu sinto tudo isso. E saindo, à 
noite, para a porneia da cidade, saio como na Fenícia saíam os navegadores para a procissão 
da Primavera, ou os alexandrinos para a noite de Afrodita. 
- Muito bonito! ciciou Maria de Flor. 
- Está claro que este ano organizei uma partida com quatro ou cinco atrizes e quatro ou 
cinco companheiros. Não me sentia com coragem de ficar só como um trapo no vagalhão de 
volúpia e de prazer da cidade. O grupo era o meu salva-vidas. No primeiro dia, no sábado, 
andávamos de automóvel a percorrer os bailes. Íamos indistintamente beber champagne aos 
clubes de jogo que anunciavam bailes e aos maxixes mais ordinários. Era divertidíssimo e ao 
quinto clube estávamos de todo excitados. Foi quando lembrei uma visita ao baile público do 
Recreio. 
- "Nossa Senhora!, disse a primeira estrela de revistas, que ia conosco. Mas é horrível! 
Gente ordinária, marinheiros à paisana, fúfias dos pedaços mais esconsos da rua de S. Jorge, 
um cheiro atroz, rolos constantes..." 
- Que tem isso? Não vamos juntos? 
- Com efeito. Íamos juntos e fantasiadas as mulheres. Não havia o que temer e a gente 
conseguia realizar o maior desejo: acanalhar-se, enlamear-se bem. Naturalmente fomos e era 
desolação com pretas beiçudas e desdentadas esparrimando belbutinas fedorentas pelo 
estrado da banda militar, todo o pessoal de azeiteiros das ruelas lôbregas e essas estranhas 
figuras de larvas diabólicas, de íncubos em frascos de álcool, que têm as perdidas de certas 
ruas, moças, mas com os traços como amassados e todas pálidas, pálidas feitas de pasta de 
mata-borrão e de papel-arroz. Não havia nada de novo. Apenas, como o grupo parara diante 
dos dançarinos, eu senti que se roçava em mim, gordinho e apetecível, um bebê de tarlatana 
rosa. Olhei-lhe as pernas de meia curta. Bonitas. Verifiquei os braços, o caído das espáduas, a 
curva do seio. Bem agradável. Quanto ao rosto era um rostinho atrevido, com dois olhos 
perversos e uma boca polpuda como se ofertando. Só postiço trazia o nariz, um nariz tão bem-
feito, tão acertado, que foi preciso observar para verificá-lo falso. Não tive dúvida. Passei a 
mão e preguei-lhe um beliscão. O bebê caiu mais e disse num suspiro: 
- Ai que dói! 
Estão vocês a ver que eu fiquei imediatamente disposto a fugir do grupo. Mas comigo iam 
cinco ou seis damas elegantes capazes de se debochar, mas de não perdoar os excessos 
alheios, e era sem linha correr assim, abandonando-as, atrás de uma frequentadora dos bailes 
do Recreio. Voltamos para os automóveis e fomos cear no clube mais chic e mais secante da 
cidade. 
- E o bebê? 
- O bebê ficou. Mas no domingo, em plena Avenida, indo eu ao lado do chauffeur; no 
burburinho colossal, senti um beliscão na perna e urna voz rouca dizer: "para pagar o de 
ontem". Olhei. Era o bebê rosa, sorrindo, com o nariz postiço, aquele nariz tão perfeito. Ainda 
tive tempo de indagar: aonde vais hoje? 
 
1- De que modo o conto de João do Rio, acima transcrito, dialoga com a tradição 
cultural europeia, sem deixar de sublinhar as marcas locais do Rio de Janeiro? Fale 
sobre o momento literário e social vivenciado por João do Rio no início do séc. XX e 
sobre a sondagem psicológica dos tipos humanos descritos pelo autor em seus contos. 
Exemplifique seus argumentos tomando como base o fragmento de conto transcrito. 
 
O escritor, já no começo do conto, traça um comparativo entre o Carnaval do Rio de Janeiro 
e as festas pagãs de antigas civilizações, fazendo um paralelo entre o passado histórico e o 
presente da narrativa, que procura identificar o teor da natureza festiva do narrador. Ao longo 
do texto, a marca da influência europeia se faz sentir a partir do uso de palavras da língua 
francesa, como chauffer, chic e champagne, assim como se revelam os costumes da alta 
sociedade da Belle Époque carioca, cuja vida noturna, disposta à “flanerie”, aparece em 
muitas partes do texto, quando, por exemplo, o narrador aponta o prazer de andar de 
automóvel ou de caminhar pelas ruas à deriva, pelo simples gosto de observar a multidão de 
pessoas anônimas, sobretudo as das classes sociais menos favorecidas, que vagam pela via. A 
sondagem dos tipos humanos é uma marca presente no texto, tanto que podemos ter um 
retrato das duas vertentes sociais a partir da fala de uma das personagens, que se encontra 
num dos bailes restritos dos clubes e dos cassinos do Rio de Janeiro, e que demonstra claro 
preconceito em relação aos bailes públicos a céu aberto: 
 
“- Nossa Senhora! - disse a primeira estrela de revistas, que ia conosco. Mas 
é horrível! Gente ordinária, marinheiros à paisana, fúfias dos pedaços mais 
esconsos da rua de S. Jorge, um cheiro atroz, rolos constantes..." 
 
Outro trecho do conto, também mostra a diferença de tratamento que o narrador dispensa 
às damas elegantes que estão em sua companhia em contraponto à forma rude de abordagem 
em relação à mulher fantasiada de bebê, frequentadora do baile público do Recreio, que leva 
dele um grande beliscão. 
 
“ Estão vocês a ver que eu fiquei imediatamente disposto a fugir do grupo. 
Mas comigo iam cinco ou seis damas elegantes capazes de se debochar, 
mas de não perdoar os excessos alheios, e era sem linha correr assim, 
abandonando-as, atrás de uma frequentadora dos bailes do Recreio. 
Voltamos para os automóveis e fomos cear no clube mais chic e mais 
secante da 
cidade.” 
 
 
2- Apesar de ser apontado pela crítica literária atual como escritor realista, Machado 
de Assis fez duras críticas a essa escola literária, como podemos observar no trecho 
abaixo, em que ele recrimina a obra de Eça de Queirós: 
 
“Pela primeira vez, aparecia um livro em que o escuso (...) e o torpe eram tratados com um 
carinho minucioso e relacionados com uma exação de inventário. A gente de gosto leu com 
prazer alguns quadros, excelentemente acabados, em que o Sr. Eça de Queirós esquecia por 
minutos as preocupações da Escola; e, ainda nos quadros que lhe destoavam, achou mais de 
um rasgo feliz, mais de uma expressão verdadeira; a maioria, porém, atirou-se ao inventário. 
Pois que havia de fazer a maioria, senão admirar a fidelidade de um autor, que não esquece 
nada, e não oculta nada? Porque a nova poética é isto, e só chegará à perfeição no dia em que 
nos disser o número exato dos fios de que se compõe um lenço de cambraia ou um esfregão 
de cozinha. Quanto à ação em si, e os episódios que a esmaltam, foram um dos atrativos d’ O 
Crime do Padre Amaro...” 
 
Considerando o texto transcrito e aseguinte afirmação de Machado: "a realidade é 
boa, o Realismo é que não presta para nada", discuta de que modo o escritor transpõe 
a realidade do Rio de Janeiro de seu tempo para a literatura, recuperando traços locais 
e universais para compor suas obras, sem se deixar influenciar pelas tendências do 
Realismo. Use como parâmetro para sua argumentação o conto “Pai contra mãe”. 
 
No conto “Pai contra mãe”, podemos observar a forma de delinear a realidade do Rio 
de Janeiro do século XIX, ainda sob o regime escravista, de maneira bem distinta dos 
escritores realistas. No lugar de eleger a classe burguesa para ser o alvo das críticas, 
como faziam os escritores realistas, tentando compor com palavras o retrato físico e 
moral da sociedade, Machado de Assis suspende os maniqueísmos e trata de analisar a 
realidade por dois ângulos diferentes: pelo olhar do pai (caçador de escravos fugidos 
que precisa buscar o sustento da família, em especial do filho recém-nascido) em 
contraponto ao olhar da mãe (escrava fugitiva que pede pela vida do filho que carrega 
em seu ventre). A ideia de “realidade” presente na obra machadiana ultrapassa o perfil 
de simples crítica de uma dada situação, muito menos se submete a realizar uma 
descrição detalhada de costumes locais de uma determinada classe social. Machado 
de Assis busca analisar o perfil psicológico do homem (de qq. classe, tempo, lugar e 
condição) e apresenta, nos personagens que cria, um quadro complexo de conceitos e 
pensamentos que procuram legitimar e justificar, mesmo as situações mais 
injustificáveis, em nome de sua própria sobrevivência ou conforme seus interesses 
pessoais. Assim sendo, ao contrário da realidade ser objetiva, uniforme e passível de 
descrição detalhada e precisa, para Machado, a realidade é subjetiva, múltipla, 
variável, uma vez que o sujeito a submete às suas próprias considerações e à sua visão 
de mundo. 
Assim sendo, o escritor consegue conjugar uma realidade local - o modo de vida da 
sociedade escravocrata na cidade do Rio de Janeiro, e refletir sobre uma situação 
universal: a realidade subjetiva que cada indivíduo cria para si, o que faz do homem 
um ser absolutamente complexo em suas muitas contradições e idiossincrasias. 
 
3- Antonio Candido, ao analisar o surgimento do romance brasileiro (séc. XIX), enfatiza 
a tendência de nossos romancistas de criar “romances de costumes” e, 
principalmente, de apalpar todas as regiões do país, desencadeando nosso primeiro 
“regionalismo”. Ao contrário dos regionalistas românticos ou dos da década de 30, a 
narrativa de Guimarães Rosa apresenta uma nova proposta de leitura do sertão e do 
sertanejo. Discuta essa nova proposta de Rosa a partir da novela “A hora e vez de 
Augusto Matraga”. 
 
 
Em primeiro lugar, o Sertão de Rosa não é um espaço puramente geográfico, mas um 
universo simbólico, metáfora do próprio mundo com suas múltiplas veredas, o que 
caracteriza um espaço ao mesmo tempo local e universal. Matraga não é um migrante 
que foge da seca ou que sai da sua terra de origem por conta de alguma catástrofe 
natural, como comumente encontramos na literatura de 30. Ao contrário, a natureza 
desse Sertão rosiano se imprime no interior do sujeito, pelo excesso, e é o elemento 
que guia o personagem para a sua “redenção”, sua “hora e vez”. A religiosidade e a 
violência do personagem se reúnem na frase cunhada pelo ex-futuro-valentão: “Para o 
céu eu vou, nem que seja a porrete”. O transcendental passa pelo essencialmente 
humano, o que pode tornar o valentão Augusto Matraga, outrora uma figura 
detestável, uma espécie de messias sertanejo que se sacrifica para salvar uma família 
das mãos de um jagunço sanguinário, Seu Joãozinho Bem Bem. Assim sendo, o 
sertanejo de Rosa prefigura as angústias do homem, entre o bem e o mal, a dor e o 
prazer, o hedonismo e o sacrifício, e todas as forças antitéticas que habitam o seu 
universo. 
 
4- Leia atentamente o trecho do romance Dois irmãos, do escritor Milton Hatoum, e 
destaque os elementos presentes na narrativa que vão caracterizar o novo perfil da 
sociedade brasileira dos séc. XX e XXI e as principais tendências da literatura brasileira 
contemporânea. 
 
DOIS IRMÃOS – Milton Hatoum (2000) 
 
Por volta de 1914, Galib inaugurou o restaurante Biblos no térreo da casa. O 
almoço era servido às onze, comida simples, mas com sabor raro. Ele mesmo, o viúvo 
Galib, cozinhava, ajudava a servir e cultivava a horta, cobrindo-a com um véu de tule 
para evitar o sol abrasador. No Mercado Municipal, escolhia uma pescada, um 
tucunaré ou um matrinxã, recheava-o com farofa e azeitonas, assava-o no forno de 
lenha e servia-o com molho de gergelim. Entrava na sala do restaurante com a bandeja 
equilibrada na palma da mão esquerda; a outra mão enlaçava a cintura de sua filha 
Zana. Iam de mesa em mesa e Zana oferecia guaraná, água gasosa, vinho. O pai 
conversava em português com os clientes do restaurante: mascates, comandantes de 
embarcação, regatões, trabalhadores do Manaus Harbour. Desde a inauguração, o 
Biblos foi um ponto de encontro de imigrantes libaneses, sírios e judeus marroquinos 
que moravam na praça Nossa Senhora dos Remédios e nos quarteirões que a 
rodeavam. Falavam português misturado com árabe, francês e espanhol, e dessa 
algaravia surgiam histórias que se cruzavam, vidas em trânsito, um vaivém de vozes 
que contavam um pouco de tudo: um naufrágio, a febre negra num povoado do rio 
Purus, uma trapaça, um incesto, lembranças remotas e o mais recente: uma dor ainda 
viva, uma paixão ainda acesa, a perda coberta de luto, a esperança de que os 
caloteiros saldassem as dívidas. Comiam, bebiam, fumavam, e as vozes prolongavam o 
ritual, adiando a sesta. 
 
O trecho do romance Dois irmãos , do contemporâneo Milton Hatoum, trata de uma 
realidade brasileira permeada pelo elemento estrangeiro, o que revela, de início, o 
resultado das múltiplas influências que o elemento estrangeiro trouxe para o território 
nacional, em especial pelas crescentes levas de imigração que passaram a vir para 
algumas regiões do Brasil a partir do século XIX, mas que se avoluma nos séculos XX e 
XXI, em especial para Manaus, lugar onde o romance se passa. No trecho destacado, 
vemos claramente a confluência desses estrangeiros quando o autor fala da 
inauguração do restaurante Biblos: “Desde a inauguração, o Biblos foi um ponto de 
encontro de imigrantes libaneses, sírios e judeus marroquinos que moravam na praça 
Nossa Senhora dos Remédios e nos quarteirões que a rodeavam. Falavam português 
misturado com árabe, francês e espanhol, e dessa algaravia surgiam histórias que se 
cruzavam, vidas em trânsito, um vaivém de vozes que contavam um pouco de tudo. ” 
O termo “vidas em trânsito” resume bem a nova face da literatura brasileira 
contemporânea, que se compraz em incorporar essas várias vozes nos seus escritos, 
revelando um quadro complexo de influências que muito contribuíram para a 
formação da nossa sociedade atual e, particularmente, para a formação da literatura 
brasileira. 
Boa Prova!

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