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AULA 1 
FUNÇÕES 
NEUROPSICOLÓGICAS 
COGNITIVAS – COGNIÇÃO E 
APRENDIZAGEM 
Profª Michele Müller 
 
 
2 
TEMA 1 – O DIFERENCIAL DO CÉREBRO HUMANO 
O surgimento de novas tecnologias de neuroimagem nos permitiu, nas 
últimas décadas, entender melhor os processos cerebrais envolvidos em qualquer 
atividade. Assim, o desenvolvimento cognitivo hoje é compreendido para além de 
especulações teóricas, pois boa parte dos processos de maturação do cérebro 
podem ser verificados. 
Isso nos permite adotar práticas educacionais baseadas na realidade de 
como o cérebro se desenvolve, respeitando cada fase e todos os elementos 
envolvidos nesse processo. No decorrer deste curso, vamos apresentar questões 
fundamentais sobre como nossas capacidades cognitivas são moldadas e 
aprimoradas, no nascimento e no decorrer da vida. 
Você verá que crianças pequenas apresentam capacidades muito mais 
sofisticadas do que se acreditava durante muito tempo. E que, também 
contrariando o pensamento que até recentemente predominava nas ciências 
cognitivas, o desenvolvimento do cérebro não se limita ao período de infância. 
Apresentaremos a forma como aquilo que conhecemos como cognição se 
inter-relaciona com fatores biológicos, sociais, ambientais, emocionais e físicos. 
Para isso, iremos abordar algumas das principais teorias de desenvolvimento 
infantil, mas sob uma perspectiva neurocientífica, procurando justificar tais teorias 
com o que já sabemos sobre as transformações do cérebro. 
1.1 O que nos faz humanos 
Para entender melhor como diferentes operações mentais são envolvidas 
na realização de determinadas tarefas, vamos abordar a neuropsicologia cognitiva 
de um ponto de vista amplo e, em alguns momentos, dentro de uma linha 
evolucionista. Começamos falando da forma como o cérebro humano evoluiu de 
forma a nos possibilitar o domínio de capacidades complexas – o nosso diferencial 
em relação às outras espécies. Isso irá permitir a compreensão do cenário mais 
amplo da cognição, ou seja, do modo como competências cognitivas estão 
entrelaçadas com outros aspectos que permitiram a evolução da nossa espécie 
(em especial a convivência em grupos). 
Assim, nesta aula, você aprenderá as principais diferenças entre o 
cérebro de humanos e outras espécies; as funções do córtex pré-frontal e 
uma breve introdução sobre a cognição humana. 
 
 
3 
Antes de a neurociência ganhar ferramentas revolucionárias de 
neuroimagem – o que nos permitiu estudar o cérebro humano com mais precisão 
–, as pesquisas neurocientíficas eram focadas especialmente no desenvolvimento 
neurológico dos animais. Eram muito esclarecedoras, mas deixavam espaço para 
várias teorias acerca das habilidades que são a especialidade da espécie 
humana, como a linguagem, a criação e o uso de ferramentas, que dependem de 
estratégias complexas de resolução de problemas e planejamento, e também da 
aprendizagem social. 
Essas habilidades mentais superiores envolvem uma parte do cérebro 
encontrada em primatas, conhecida como lobo frontal. Até recentemente, 
acreditava-se que a complexidade da cognição humana estava relacionada ao 
volume maior dessa região em relação ao resto do cérebro. Hoje sabe-se que as 
diferenças entre os homens e as outras espécies de mamíferos não estão 
necessariamente relacionadas ao tamanho do cérebro ou mesmo do lobo frontal, 
como um todo. 
Pesquisadores, como Semendelferi e Damásio (2002), concluíram que 
alguns circuitos específicos do córtex podem ser maiores. Esses circuitos podem 
ser mais interconectados, ou seja, apresentarem um número maior de sinapses 
entre células da própria região frontal, e desta com outras áreas do cérebro. 
A parte do cérebro responsável por atividades que caracterizam a cognição 
humana, como flexibilidade cognitiva, planejamento, uso da linguagem, 
pensamento abstrato, controle do impulso e comportamento social, situa-se em 
na porção anterior do lobo frontal, a que está mais perto da testa. É a que 
chamamos de córtex pré-frontal. 
Pesquisas que compararam a área do córtex pré-frontal, conhecida como 
lateral ou granular (também chamada de área 10), de humanos e chimpanzés, 
constataram que nossa espécie apresenta, nessa região específica, aumento de 
tamanho e de conectividade, uma vez que possuímos um volume muito maior de 
massa branca no córtex pré-frontal. E a massa branca é formada por fibras 
nervosas que facilitam a conexão entre as células do sistema nervoso. 
Essa região específica nos dá a capacidade de pensar antes de agir, ou 
seja, de tomar decisões que não sejam apenas movidas por um sistema 
automático e, muitas vezes, inconsciente. É responsável pelo controle dos 
impulsos, que chamamos de controle inibitório, e que nos permite tanto seguir 
 
 
4 
como questionar regras, o que é necessário para o convívio social – e que, 
conforme veremos mais tarde, é fundamental para a aprendizagem. 
A cognição humana desenvolve-se por meio de estruturas biológicas, 
combinadas com as experiências promovidas pelo ambiente. Ela nos é garantida 
por uma base genética que, de acordo com psicólogos evolucionistas, passou 
pelos mesmos processos evolutivos de outros sistemas, como órgãos e tecidos. 
Assim como o sistema imunológico, a cognição garante o sucesso da 
sobrevivência de nossa espécie. Além de habilidades como a memória, o controle 
motor e o processamento visual, muitos acreditam que a aquisição da linguagem 
também é fruto de um processo evolutivo, enquanto outros defendem que se trata 
de uma característica descontinuada, ou seja, única da espécie, e, portanto, 
inexiste a divisão dessa herança com outras espécies na linha evolutiva. 
Importante ressaltar que nossos diferenciais cognitivos são fruto das 
necessidades impostas por um mundo muito diferente daquele em que hoje 
vivemos. Quando falamos da cognição humana, falamos de capacidades que 
evoluíram ao longo de nossa história para que pudéssemos sobreviver em um 
ambiente de colheita e caça. Por isso, nossa cognição, mesmo sendo aplicada a 
problemas contemporâneos, ainda funciona dentro dos moldes de ancestrais que 
precisavam se defender, saber quem é de fora da tribo, prever o perigo com base 
em fatores como a frequência em que ele ocorre, construir ferramentas, identificar 
faces, seduzir, proteger e colaborar com o grupo. Muitos problemas que 
precisamos enfrentar hoje são relativamente novos; assim, os velhos esquemas 
mentais podem nos levar a erros estatísticos, falácias ou dificuldades cognitivas. 
Um bom exemplo disso é a leitura. Apesar de hoje em dia dedicarmos 
grande parte do nosso tempo à leitura das mais diversas mídias, a capacidade de 
ler é bastante recente na história humana. Tivemos que adaptar outros recursos 
cognitivos para essa atividade, que requer uma transformação profunda em 
diversas regiões do cérebro. Durante a maior parte da trajetória de nossa espécie, 
as diferenças recentemente observadas no cérebro de pessoas com dislexia 
garantiam vantagem na realização de diversas funções. 
Da mesma forma, pessoas com dificuldade em sustentar a atenção em 
tarefas monótonas por muito tempo e, ao mesmo tempo, atentas às sutis 
mudanças de estímulos do ambiente, no mundo atual são diagnosticadas com 
transtorno – e, no entanto, poderiam encontrar grande vantagem sobre outros 
 
 
5 
membros do grupo em determinadas missões no decorrer de quase toda a nossa 
história. 
TEMA 2 – MIELINIZAÇÃO E MATURIDADE 
Nesta aula, iremos abordar o desenvolvimento do cérebro do bebê e alguns 
dos principais termos neurocientíficos relacionados a esse processo, como 
sinaptogênese, mielinização e arborização dendrítica. 
Em comparação a qualquer outra espécie,os bebês humanos nascem 
bastante prematuros. Lembre-se do filme Bambi, e da cena em que, logo após 
nascer, encontra poucas dificuldades para andar. É exatamente isso que 
acontece. Os filhotes de animais nascem quase prontos e levam apenas dias ou 
meses para executarem tarefas semelhantes às de seus pais. 
O cérebro de um bebê recém-nascido tem apenas 23% do tamanho do 
cérebro de um adulto. Aos três anos, o cérebro atinge 90% do seu peso na fase 
adulta. A expansão do órgão se estende até a adolescência. Essa prematuridade 
dos humanos é o que garante a nossa grande capacidade de adaptação. Outros 
animais nascem com comportamentos pré-programados para que possam 
sobreviver em um determinado ambiente de forma previsível. Já a espécie 
humana é altamente adaptável e imprevisível. Temos nossas capacidades 
cognitivas moldadas de acordo com os estímulos que recebemos, o ambiente em 
vivemos e as pessoas que nos cercam. Para tanto, viemos ao mundo ainda 
despreparados, mas extremamente flexíveis. 
O desenvolvimento do nosso cérebro, além de lento comparado ao de 
outras espécies, prolonga-se por toda a vida, pois recebemos novas informações 
o tempo todo, e precisamos processá-las, memorizá-las e adaptar a nossa visão 
de mundo a elas. 
Os ganhos cognitivos dependem de alguns processos neurológicos que 
ocorrem nos primeiros anos de vida, quando o cérebro passa por profundas 
transformações. Primeiramente, acontece um evento que chamamos de 
ramificação (ou arborização) dendrítica, que irá permitir a comunicação entre 
os neurônios. Como você já aprendeu, a base do funcionamento cerebral está na 
comunicação entre neurônios, o que chamamos de sinapse. 
A aprendizagem depende de um processo de formação de sinapses, que 
chamamos de sinaptogênese. Ao longo do primeiro ano de vida, o cérebro chega 
a formar cerca de 40 mil sinapses por segundo. Grande parte dessas conexões 
 
 
6 
ocorrem nas áreas que processam e se relacionam ao comportamento visual e 
motor. 
O desenvolvimento do cérebro infantil também depende de um terceiro 
processo, que conhecemos por mielinização. A camada de mielina que cobre os 
axônios, aquela fibra mais comprida do neurônio, permite o aumento da 
velocidade de propagação do sinal elétrico, que acontece do corpo da célula até 
a sua extremidade, onde ocorrem as sinapses. Assim, a mielinização determina 
quando o cérebro está maduro para processar determinados estímulos. A partir 
do momento em que a camada de mielina permite a comunicação veloz entre as 
células, em determinadas áreas do cérebro, a criança está pronta para 
desenvolver as habilidades relacionadas a tais regiões. 
A mielinização forma o que conhecemos como substância branca, que é 
responsável, juntamente com as conexões sinápticas, pelo grande aumento de 
volume no cérebro da criança nos primeiros de vida. Todos esses processos de 
organização e reorganização do cérebro ocorrem de acordo com as experiências 
que o ambiente propicia. 
Quando isoladas do ambiente, como acontece com crianças que foram 
privadas de contato social, o cérebro não se desenvolve normalmente. Nessa 
fase, o cérebro é extremamente plástico, ou seja, ele se transforma facilmente de 
acordo com os estímulos que recebe. 
O cérebro continua plástico e adaptável a novas necessidades e 
mudanças, sendo capaz de desenvolver habilidades sofisticadas ao longo de toda 
a vida. No entanto, existem alguns períodos críticos em que devem ser aprendidas 
certas competências. 
Vários estudos de caso mostram que, se uma criança não for exposta à 
linguagem ainda na infância, ela dificilmente aprenderá mais que palavras 
isoladas. Isso demostra que, embora sejamos dotados de esquemas mentais que 
favorecem o uso da linguagem, ela se desenvolve somente por meio de interações 
– como veremos mais tarde – e durante o período crítico. 
Vamos fixar os conceitos: 
• Arborização dendrítica: processo biológico que permite a formação de 
sinapses com base na ramificação dos dendritos. 
• Sinaptogênese: processo que envolve a formação, a manutenção e o 
refinamento de sinapses entre os neurônios. 
 
 
7 
• Mielinização: processo de formação da camada de mielina (formada de 
lipídios e proteína), que envolve os axônios, garantindo a velocidade do 
impulso nervoso. 
TEMA 3 – PIAGET SOB A PERSPECTIVA NEUROCIENTÍFICA 
Os processos que acabamos de descrever formam uma base neurológica 
para a teoria do Piaget, autor que define diferentes estágios de desenvolvimento 
infantil. Por isso, nesta aula, iremos traçar uma relação entre os ensinamentos do 
psicólogo suíço e as evidências neurocientíficas sobre o desenvolvimento da 
cognição humana. 
Assim, entre os principais assuntos e conceitos que iremos abordar estão: 
estágios de desenvolvimento segundo Piaget, processo de mielinização de 
acordo com os estágios de desenvolvimento e poda sináptica. 
Mesmo antes de entendermos como o ganho cognitivo pode ser descrito 
em termos neurológicos, ele afirmava que a aprendizagem depende de uma 
maturidade que se desenvolve ao longo de diferentes fases da infância, por meio 
da combinação de sistemas biológicos predeterminados e da exploração do 
ambiente. Essa exploração permite à criança que assimile novos conceitos e 
então ajuste seu esquema mental para encaixar esse novo conhecimento, em um 
processo que Piaget chama de assimilação, acompanhado de acomodação. 
A mielinização, a ramificação dendrítica e sinaptogênese permitem a 
conectividade e a integração dos sistemas visual e motor da criança no primeiro 
estágio do desenvolvimento, que Piaget definiu como sensório-motor. Nesta 
fase, que se estende por cerca de dois anos, à medida que interage com o 
ambiente e tem seu cérebro rapidamente transformado, a criança aprende, entre 
outras habilidades que formam a base da cognição, a coordenar seus próprios 
movimentos. 
No final desse período, a maturação de áreas do cérebro responsáveis por 
tarefas mais sofisticadas, como neocórtex, tálamo e cerebelo, permite que a 
criança comece a planejar suas ações e a fazer uso de simbologias em 
brincadeiras e simulações. Quando entra no segundo estágio de Piaget, chamado 
de pré-operatório, o cérebro da criança está passando por uma espécie de 
refinamento das conexões, com o fortalecimento de algumas e a perda de outras. 
É o que chamamos de poda sináptica, um processo semelhante à edição de um 
texto confuso: o que é importante é refinado, o que é somente barulho é eliminado. 
 
 
8 
Muito do desenvolvimento cognitivo nessa fase está relacionado a essa poda 
sináptica. 
Figura 1 – Formação sináptica 
 
Fonte: Eagleman, 2017. 
O processo de mielinização permite o amadurecimento emocional e sua 
relação com o aspecto cognitivo. Existem estudos que mostram que a 
mielinização de determinadas áreas do cérebro ocorre de forma mais intensa nas 
mulheres até os 29 anos, o que explicaria por que muitos meninos parecem levar 
mais tempo a amadurecer em alguns aspectos. 
Outro ponto interessante que hoje sabemos é que a mielinização não 
termina por completo depois dos 30 anos. Estudos da Harvard Medical School 
mostraram que esse processo ainda pode ser percebido depois da sexta década 
de vida em pelo menos uma região do cérebro. 
3.1 Etapas do amadurecimento 
Hoje a neurociência comprova que, conforme defendia Piaget, o 
amadurecimento neurológico ocorre em etapas, de forma progressiva, bem como 
a aprendizagem, e passa pelas seguintes fases: 
• Sensório-motora: o mundo começa a ser decodificado por meio dos 
sentidos e das habilidades motoras; do nascimento até dois anos. 
• Pré-operatória: inicia-se o uso de símbolos e da linguagem, entre dois e 
sete anos. 
 
 
9• Operatório-concreta: são assimilados e aplicados conceitos mais 
complexos, de acordo com a lógica, entre sete e onze anos. 
• Operatório-formal: é possível raciocínio abstrato, planejamento, 
construção de hipóteses e teorias. A partir da adolescência. 
Um corpo consistente de estudos hoje mostra que, apesar de compatível 
com o amadurecimento progressivo de determinadas regiões do cérebro, a teoria 
de Piaget pode ter subestimado, em parte, a capacidade de crianças. Por isso, é 
importante partir da ideia de que as idades estabelecidas em cada fase são 
aproximadas, e que, portanto, as capacidades podem ser dominadas em 
momentos diferentes, conforme cada criança. 
TEMA 4 – PERCEPÇÕES E APRENDIZAGEM 
Conforme vimos nas aulas anteriores, a aprendizagem envolve uma série 
de fatores interdependentes – já abordamos os biológicos, como os processos 
neurológicos de amadurecimento de determinadas áreas cerebrais e da interação 
com o ambiente. Também existe certa dependência com interações sociais, 
recursos cognitivos como atenção e memória, fatores emocionais e também a 
percepção sensorial – nosso próximo assunto. 
Nesta aula, você entenderá como são formadas as sensações e as 
percepções. Toda a aprendizagem ocorre por meio do sistema sensório-motor, 
conforme já havia concluído Piaget. No início da vida, aprendemos a enxergar e 
ganhamos controle sobre os movimentos e as percepções de espaço, 
profundidade e outras percepções básicas que nos permitem interagir com o 
mundo. Todas essas funções dependem da exploração do ambiente por meio do 
uso intenso do tato e de outros sentidos. Os órgãos dos sentidos funcionam como 
tradutores das inúmeras fontes de informação que nos cercam. 
O cérebro, dentro de uma caixa escura e sem contrato direto com o mundo, 
precisa criar sentido para esses impulsos eletroquímicos que chegam até ele por 
meio dos órgãos. Para isso, identifica padrões, compara estímulos e faz predições 
o tempo todo. 
Antes de continuar você sabe qual a diferença entre sensação e 
percepção? 
• Sensação: a experiência básica de detecção de um estímulo (como luz, 
som, moléculas de odor, temperatura) e a transmissão da informação para 
 
 
10 
o cérebro. Não envolve a interpretação da experiência. 
• Percepção: é o processamento da informação sensorial, ou seja, sua 
interpretação e organização de modo que faça sentido. É, portanto, a 
experiência consciente do mundo físico e seus estímulos. 
A sensação precede a percepção. Percepções são desenvolvidas por meio 
da interação com o ambiente. Por exemplo, no momento em que você olha o 
semáforo aceso, o estímulo é enviado dos olhos ao cérebro por sinais elétricos e 
químicos. Você enxerga a luz verde – essa é a sensação. Então você processa a 
informação, que significa: siga. 
A percepção, portanto, é construída por meio de um processo cognitivo, 
que envolve estruturas corticais. Você precisou aprender o que um símbolo 
significa, associando esse símbolo a outras informações para que, então, pudesse 
processar o estímulo automaticamente – como continuar a dirigir quando vê a luz 
verde sem a necessidade de pensar sobre o seu significado ou ler uma palavra 
automaticamente sem precisar decodificar cada letra. O processo cognitivo, que 
envolve o córtex, é considerado top-down. 
A percepção dos estímulos que processamos é influenciada pela 
expectativa, criada com base em experiências anteriores. Ou seja, muito daquilo 
que vemos ou sentimos é resultado é resultado daquilo que esperamos ver ou 
sentir. 
As ilusões de óptica representam muito bem isso. Veja, na figura abaixo, 
uma ilusão de ótica criada pelo psicólogo Akiyoshi Kitaoka. A sensação de que a 
figura está em movimento é construída pelo cérebro. O paladar é outro bom 
exemplo: ele é profundamente influenciado pela expectativa que temos e por isso 
pode ser facilmente enganado. Se alguém lhe oferecer um creme de abacate 
avermelhado, sem lhe dizer o que é, dificilmente você conseguirá saber o que está 
comendo. 
Figura 2 – Ilusão de ótica 
 
 
11 
 
Fonte: Lotan/shutterstok 
 
Bebês já nascem com olfato, audição, paladar e tato capazes de processar 
uma grande variedade de estímulos. À medida que o cérebro se desenvolve, vão 
ganhando capacidades mais sofisticadas. O desenvolvimento do córtex auditivo 
nos primeiros meses de vida, por exemplo, lhes permite aprender a identificar os 
sons e localizá-los no espaço. 
4.1 Visão e aprendizagem 
A visão, por ser muito mais complexa e envolver cerca de um terço do 
cérebro, se desenvolve mais lentamente. Nos primeiros meses, os bebês não 
conseguem distinguir formas, padrões e cores com clareza, o que conhecemos 
por acuidade visual. Ao pegarem nos objetos ao seu redor, não estão apenas 
matando uma curiosidade do tato, mas desenvolvendo uma capacidade muito 
mais complexa, que requer noção de profundidade e espaço – a visão. 
Outras habilidades relacionadas ao processamento visual, como a 
discriminação visual, a atenção visual, a memória visual e a habilidade de fixação, 
vão sendo trabalhadas por meio de uma série de estímulos e são fundamentais 
para o desenvolvimento de competências cognitivas complexas, como a leitura. 
Dificuldades no processamento visual podem ocorrer em crianças que 
enxergam aparentemente bem, e que, portanto, não precisam usar óculos. Assim 
como acontece com o processamento auditivo, podem estar relacionadas a 
problemas de aprendizagem, como desatenção e dificuldades na leitura. 
 
 
12 
Como qualquer aprendizagem, aprender a enxergar não depende apenas 
do amadurecimento do córtex visual. É preciso interagir com o mundo. Assim 
como ocorre com algumas outras competências, como a linguagem, existe um 
período crítico para a aprendizagem. Se não receber estímulos nesse período, é 
muito mais difícil adquirir essa capacidade. 
Casos de pessoas que, depois de décadas sem enxergar, passaram por 
procedimentos que lhe devolveram a visão, exemplificam muito bem a 
complexidade do sistema visual. Seus olhos podem estar curados, mas seu 
cérebro não aprendeu a dar sentido aos estímulos visuais. Essas pessoas 
geralmente levam muitos anos para conseguir diferenciar e identificar imagens e 
reconhecer formas. 
 
 
 
13 
TEMA 5 – A SINCRONIZAÇÃO DOS SENTIDOS 
Nossos sentidos processam de forma simultânea uma grande quantidade 
de informação. Você já parou para pensar que, para que as informações vindas 
do lado de fora do cérebro tenham algum significado, elas precisam chegar à 
consciência de forma sincronizada? Vamos ver, nesta aula, como o nosso 
cérebro faz essa integração. 
Com base nos sentidos, o cérebro cria a realidade. E toda aprendizagem é 
construída tendo como base mapas neurais construídos por meio das 
experiências que envolvem o sistema sensorial. Todo e qualquer conhecimento 
novo é associado às nossas experiências sensório-motoras. Por isso, separar o 
físico do intelectual é uma ilusão. O corpo, por meio dos sentidos e do movimento, 
está diretamente envolvido na compreensão de conceitos que aos poucos são 
incorporados ao processo de aprendizagem. 
A cada segundo em que estamos acordados, recebemos uma enorme 
quantidade de estímulos, muitas vezes envolvendo vários sentidos. Uma criança 
brincando na areia sente a textura e o calor, ouve o colega, enxerga uma 
infinidade de elementos e ainda pode “provar” o gosto daqueles que estão ao seu 
alcance. Todas essas informações são processadas em velocidades diferentes. 
Mas o cérebro faz o possível para sincronizar esses estímulos, de forma 
semelhante ao que acontece com o som e a imagem de um filme. Você já assistiu 
a um filme em que o som está levemente em desacordocom a imagem? Se há 
um mínimo atraso na fala dos personagens, você percebe e sente-se incomodado, 
não é? Fica mais difícil de prestar atenção e de se envolver na história. 
Como você já aprendeu, o cérebro tem áreas especializadas no 
processamento de estímulos enviados por alguns dos sentidos. Quando 
engajamos em alguma atividade que envolve vários sentidos, cada uma dessas 
regiões está trabalhando simultaneamente a outras. E cada uma leva um tempo 
para ser processada. Se assistíssemos a um filme em câmera lenta de uma 
criança na praia espetando o dedo em uma concha quebrada, por exemplo, 
perceberíamos com nitidez que, entre o contato do dedo com a concha e o 
momento em que ela começa a chorar, há um bom espaço de tempo. O estímulo 
chega no órgão, é processado pelo cérebro, que envia sinais ao sistema motor, 
que somente então reage. Tudo o que entendemos como agora, na verdade 
aconteceu há milissegundos. O nosso agora é sempre passado, assim como as 
 
 
14 
estrelas, cuja luz só chega à nossa retina muitas vezes quando elas nem existem 
mais. 
Se você considerar que o processamento auditivo, por ser mais simples, é 
mais veloz que o visual, faria sentido que esse atraso, mesmo que muito pequeno, 
fosse perceptível quando estamos vendo e ouvindo alguém falar. Mas por que os 
movimentos labiais parecem estar sempre em perfeita sincronia com o som da 
fala? O cérebro faz esse trabalho de edição, sincronizando os estímulos ao 
construir uma história que faça sentido. É uma história que chega à nossa 
consciência sempre com um pequeno atraso. 
Portanto, a realidade, tal qual chega à nossa percepção, é como a 
transmissão de um programa de tevê ao vivo: apesar de parecer instantânea, 
apresenta um leve anacronismo. É que, para integrar as informações captadas 
pelos sentidos e dar significado a elas, o cérebro precisa de tempo. Qualquer 
desorganização que provoque um atraso no processamento da informação, 
mesmo que se trate de milissegundos de diferença, pode provocar um desajuste 
na percepção do mundo – o que, segundo alguns cientistas, pode estar por trás 
de alguns transtornos, como problemas de aprendizagem, distúrbios de 
linguagem e déficits de atenção. 
Há estudos (Krauss, 2014; Stadler; Krauss, 2015) que sugerem que a 
percepção de ritmo de uma criança pequena, que está relacionada com o 
processamento temporal, ou com seu senso de timing, é um indicativo bastante 
confiável de suas habilidades de linguagem. O fato de que a dificuldade em 
acompanhar um ritmo está entre os sintomas comuns da dislexia sugere essa 
relação. Da forma inversa, o trabalho com ritmo, por meio de atividades de 
iniciação musical, pode facilitar a construção de habilidades necessárias para a 
alfabetização. 
 
 
 
 
15 
REFERÊNCIAS 
EAGLEMAN, D. O cérebro: a descoberta de quem somos. Alfragide, Portugal: 
Lua de Papel, 2017. 
GAZZANIGA, M. Human: The Science Behind What Makes us Unique. New York: 
Harper Collins, 2008. 
GAZZANIGA, M.; HEATHERTON, T.; HALPERN, D. Psychological Science. 
New York: W.W. Norton, 2016. 
KRAUSS, N. Music Enrichment Programs Improve the Neural Encoding of Speech 
in At-Risk Children. Journal of Neuroscience, v. 34, n. 36, p. 11913-11918, Sept. 
2014. 
LEFMAN, T.; COMBS-ORME, T. Early Brain Development for Social Work 
Practice: Integrating Neuroscience with Piaget’s Theory of Cognitive Development. 
Journal of Human Behavior in the Social Environment, v. 24, n. 640, 2013. 
SEMENDEFERI, K.; DAMASIO, H. Humans and great apes share a large frontal 
cortex. Nat Neurosci, v. 5, n. 3, p. 272-276, 2002. 
STADLER, J.; KRAUSS, N. The role of rhythm in perceiving speech in noise: a 
comparison of percussionists, vocalists and non-musicians. Cogn Process, Sept. 
2015.

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