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Superior Tribunal de Justiça PETIÇÃO Nº 11.129 - DF (2015/0301745-7) RELATORA : MINISTRA ASSUSETE MAGALHÃES REQUERENTE : ASSOCIACAO NACIONAL DOS MEDICOS PERITOS DA PREVIDENCIA SOCIAL ADVOGADO : ANTÔNIO TORREÃO BRAZ FILHO REQUERIDO : INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS REQUERIDO : UNIÃO DECISÃO Trata-se de Ação de Dissídio Coletivo de Greve, ajuizada pela ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS MÉDICOS PERITOS DA PREVIDÊNCIA SOCIAL, ANMP, com pedido de antecipação dos efeitos da tutela, em face do INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS e da UNIÃO. Em preliminar, com fundamento no art. 5º, XXI, da Constituição Federal a requerente sustenta possuir legitimidade ativa para propor a presente ação, uma vez que se trata de entidade associativa de âmbito nacional, que congrega os servidores da carreira de Perícia Médica da Previdência Social, todos com vínculo estatutário com a UNIÃO e com o INSS. Nesse diapasão, defende que "serão abrangidos por eventual título judicial favorável à pretensão aqui deduzida os servidores públicos federais da Carreira de Perícia Médica da Previdência Social que demonstrarem a titularidade do direito a ser executado" (fl. 2e), sendo, outrossim, desnecessária a juntada de lista definitiva dos beneficiários, embora referida relação seja juntada aos autos, pelo princípio da eventualidade. Ainda em preliminar, alega que a presente ação é tempestiva, porquanto ajuizada no prazo de 30 (trinta) dias, previsto no art. 806 do CPC, a contar do ajuizamento da MC 25.103/DF. Quanto à questão de fundo, a requerente traça o histórico de sua criação e de sua atuação, em prol dos Médicos Peritos da Previdência Social, narrando, outrossim, que: "Nos últimos meses, a ANMP, diante do contexto de extrema precariedade vivenciado, há muito, no âmbito da Autarquia previdenciária, resultante de anos de descaso e de indiferença em relação aos seus servidores e às suas instalações físicas, intensificou as negociações coletivas com o Poder Executivo. Durante as tratativas regulares com o objetivo de garantir um acordo acerca da melhoria das condições de trabalho dos Peritos Médicos Previdenciários, no entanto, a Administração Pública manteve-se omissa e indiferente. Todos os pleitos apresentados pelos integrantes da Carreira foram completamente ignorados pelos representantes do Poder Executivo. Documento: 55129955 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 26/11/2015 Página 1 de 28 Superior Tribunal de Justiça Após mais de 2 (dois) meses de tentativas de se alcançar um consenso regular e ordenado, as negociações coletivas foram frustradas por ato unilateral da Administração Pública, conforme será demonstrado" (fls. 4/5e). A partir dessa premissa, afirma a requerente ser legítimo o movimento paredista deflagrado pelos integrantes da carreira de Perícia Médica da Previdência Social. Em suas próprias palavras: "Ante a flagrante frustração dessas negociações pelos meios regulares e cordiais, os integrantes da Carreira de Perícia Médica da Previdência Social decidiram pela instauração de movimento paredista. Como se verifica da ata da Assembléia Geral Extraordinária (doc. 07), a maioria absoluta dos associados da ANMP deliberou, nos exatos moldes previstos no Estatuto Social vigente (doc. 06), pela deflagração de greve nacional por tempo indeterminado a partir do dia 04 de setembro de 2015" (fl. 5e). Assevera a requerente que, nada obstante o referido movimento grevista fosse legítimo, porquanto adimplidos todos os critérios definidos pelo Supremo Tribunal Federal: "Após cerca de 2 (dois) meses da instauração do movimento paredista, que, conforme será demonstrado, foi caracterizado pela plena regularidade desde a sua deflagração até o presente momento, o Poder Público, de forma completamente arbitrária, efetivou descontos remuneratórios contra os servidores grevistas. Em parcela única, a Administração suprimiu o valor relativo a todos os dias parados das folhas de pagamento referentes ao mês de setembro de 2015 (docs. 15 e 16) dos Peritos Médicos Previdenciários que aderiram à greve. A Administração Pública, sem notificar os servidores e sem instaurar procedimento administrativo prévio, nem tampouco editar qualquer ato administrativo, determinou a supressão de parcelas de natureza alimentar em flagrante violação a diversos preceitos constitucionais e infraconstitucionais, como o art. 5º, LIV e LV, da Constituição da República e o art. 46, §1º, da Lei n. 8.112, de 11 de dezembro de 1990" (fl. 5e). Objetivando impedir a realização dos referidos descontos, fora ajuizada a Medida Cautelar 25.103/DF, na qual foi deferida liminar, determinando, aos ora requeridos que se abstivessem de promover quaisquer descontos nos vencimentos dos Médicos Peritos da Previdência Social, em face dos dias não trabalhados, durante o movimento paredista em tela, liminar que, todavia, estaria sendo Documento: 55129955 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 26/11/2015 Página 2 de 28 Superior Tribunal de Justiça descumprida. Narra a requerente, ainda, que: "(...) a Autarquia editou, no dia 11 de novembro de 2015, o Memorando-Circular n. 21/DGP/INSS (doc. 20), que determina sejam realizadas as avaliações de desempenho dos servidores a partir da aferição dos indicadores em relação ao interregno entre maio e outubro de 2015, período sensivelmente afetado pelo movimento grevista. Essa conduta demonstra que, somado ao desconto dos dias não trabalhados, o INSS sinaliza aplicar sanções diversas aos grevistas, em flagrante desconformidade com a pacífica jurisprudência pátria acerca do exercício do direito constitucional ora vindicado. Isso porque, ao avaliar os indicadores durante o período de paralisação, a Autarquia potencializará os reflexos prejudiciais do movimento" (fl. 6e). Daí alegar a requerente que, diante de tais fatos: "(...) torna-se imperiosa a atuação deste Superior Tribunal de Justiça na hipótese vertente para reconhecer a legalidade do movimento paredista e para, consequentemente, garantir o pleno exercício do direito constitucional de greve, de sorte a impedir a aplicação de sanções de qualquer natureza aos servidores que aderiram à paralisação" (fl. 6e). Fazendo remissão ao julgamento dos Mandados de Injunção 670, 708 e 712, julgados pelo Supremo Tribunal Federal, aduz que os pressupostos de legalidade do movimento paredista em tela encontram-se preenchidos, a saber: (i) frustração das negociações coletivas entre os representantes da carreira e da Administração Pública; (ii) notificação regular das autoridades responsáveis, com 72 (setenta e duas) horas de antecedência mínima, em relação à deflagração da greve; (iii) manutenção de contingente mínimo de trabalho, apto a garantir a prestação dos serviços considerados essenciais. Diante do alegado cumprimento de tais requisitos, a demonstrar que "a paralisação deflagrada pelos servidores consubstancia nítido exercício do direito fundamental de greve assegurado expressamente na Constituição da República (art. 9º e art. 37, VII)" (fl. 14e), afirma a requerente a impossibilidade de a Administração impor quaisquer medidas prejudiciais aos servidores que aderiram à greve, em especial o desconto dos dias não trabalhados. Nesse sentido, argumenta que: "(...) qualquer conduta tendente a frustrar o movimento paredista é vedada pelo art. 6º da Lei de Greve . Esse raciocínio deve ser adotado Documento: 55129955 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 26/11/2015 Página 3 de 28 Superior Tribunal de Justiça no caso concreto. Não se pode admitir que, em razão de a Constituição da República reservar à lei específica a regulamentação do exercício de greve, o servidor público abra mão dos vencimentos que lhe garantem a sobrevivência. Esse comportamento afrontariaa dignidade da pessoa humana e os valores sociais do trabalho, princípios basilares da República Federativa do Brasil previstos no art. 1º da Carta Magna. Especificamente em relação ao objeto da presente ação cautelar, vale destacar que o desconto dos dias não trabalhados em decorrência de movimento paredista é objeto de Repercussão Geral (Tema n. 531) no Supremo Tribunal Federal. O julgamento do Recurso Extraordinário n. 693.456/RJ foi iniciado no dia 2 de setembro de 2015. No entanto, a análise do leading case foi interrompida após pedido de vista formulado pelo Ministro ROBERTO BARROSO. Embora não tenha sido concluído, o exame desse recurso já trouxe grandes avanços para a garantia de proteção plena ao exercício do direito de greve dos servidores públicos. Frise-se o parecer do Ministério Público Federal, que opina pelo desconto dos dias parados apenas na hipótese de abusividade e de ilegalidade do movimento. É o que se extrai da leitura de parte do relatório: (...) Na sessão plenária de julgamento do RE n. 693.456/RJ, o Ministro FACHIN considerou que o desconto dos dias não trabalhados em virtude de participação em movimento paredista representa nítida violação ao direito constitucional de greve. Apesar de não ter sido concluída a análise do recurso e não haver publicação oficial do acórdão de julgamento, mostra-se oportuna a transcrição de trecho da notícia retirada do sítio eletrônico do STF: (...) O voto mencionado é fundamentado em importantes argumentos que consolidam a correta compreensão acerca do atual estado da democracia brasileira. Conforme destacado pelo referido Ministro, a permissão dos descontos imediatos no salário dos servidores públicos imputa os prejuízos da deflagração do movimento paredista apenas a estes, o que aniquila o direito de greve, garantia fundamental intrinsecamente vinculada à consolidação do Estado Democrático de Direito. Nesse movimento de consolidação jurisprudencial sobre o reconhecimento do direito constitucional de greve, no dia 25 de setembro de 2015, foi proferida decisão (doc. 18) pelo mesmo Ministro FACHIN que deferiu o pedido de liminar formulado pelo Sindicato dos Servidores das Justiças Federais no Estado do Rio de Janeiro, SISEJUFE. A decisão suspendeu a determinação do Conselho Nacional de Justiça que determinava a supressão remuneratória relativa aos dias não Documento: 55129955 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 26/11/2015 Página 4 de 28 Superior Tribunal de Justiça trabalhados pelos servidores substituídos pela entidade em virtude de adesão a movimento paredista" (fls. 15/18e). E ainda: "Esse recente pronunciamento da Suprema Corte consigna que, assim como já demonstrado, a efetivação de supressões remuneratórias macula o exercício do direito fundamental de greve expressamente assegurado aos servidores públicos pelo texto constitucional (art. 37, VII). Como relatado na exposição da síntese fática, além dos descontos referentes aos dias não trabalhados, a Administração sinaliza a aplicação de outros tipos de sanção. Por meio do Memorando-Circular n. 21/DGP/INSS (doc. 20), o INSS determinou a imediata realização das avaliações de desempenho dos servidores a partir da aferição dos indicadores em relação ao ínterim entre maio e outubro de 2015, cujo período final (meses de setembro e outubro) foi sensivelmente afetado pela paralisação. A verificação de indicadores, durante a vigência do movimento paredista, para fins de avaliação de desempenho e, consequentemente, de pagamento das gratificações, proporciona a amplificação dos reflexos prejudiciais da greve aos servidores. Isso porque, como as mencionadas avaliações apresentam efeitos financeiros prospectivos, as consequências da greve na alteração dos indicadores afetarão os Peritos Médicos Previdenciários mesmo após o fim do movimento paredista. O Supremo Tribunal Federal firmou o entendimento de que o exercício do direito constitucional de greve dos servidores públicos não pode lhes acarretar a aplicação de qualquer tipo de sanção. Nessa linha, colaciona-se dois julgados da Suprema Corte a respeito da verificação dos requisitos necessários à aprovação do servidor público durante a vigência do movimento paredista" (fl. 20e). À luz desses argumentos, defende a requerente que os pressupostos para a concessão de antecipação dos efeitos da tutela encontram-se presentes, razão pela qual requer: "2) seja concedida a antecipação da tutela, nos termos expostos no item VI, independentemente de audiência, para suspender a aplicação de sanções de qualquer natureza (financeiras, disciplinares, funcionais, etc.) contra os Peritos Médicos Previdenciários em virtude do regular exercício constitucional de greve"(fl. 25e). Documento: 55129955 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 26/11/2015 Página 5 de 28 Superior Tribunal de Justiça Por fim, além dos pedidos de praxe, requer a ANMP, no mérito, que: "6) confirmada a antecipação de tutela, seja declarada a legalidade do movimento paredista e, por fim, impedida a aplicação de sanções de qualquer natureza (financeiras, disciplinares, funcionais, etc.) contra os Peritos Médicos Previdenciários em virtude do regular exercício constitucional de greve; 7) sejam os Réus condenados à devolução dos valores eventualmente suprimidos dos servidores públicos ora substituídos, acrescidos de juros e correção monetária" (fls. 25/26e). É o relatório. Decido. Como cediço, as competências originárias desta Corte encontram-se elencadas no art. 105, I, da Constituição Federal, in verbis: "Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: I - processar e julgar, originariamente: a) nos crimes comuns, os Governadores dos Estados e do Distrito Federal, e, nestes e nos de responsabilidade, os desembargadores dos Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal, os membros dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, os dos Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais Regionais Eleitorais e do Trabalho, os membros dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios e os do Ministério Público da União que oficiem perante tribunais; b) os mandados de segurança e os habeas data contra ato de Ministro de Estado, dos Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica ou do próprio Tribunal; c) os habeas corpus, quando o coator ou paciente for qualquer das pessoas mencionadas na alínea "a", ou quando o coator for tribunal sujeito à sua jurisdição, Ministro de Estado ou Comandante da Marinha, do Exército ou da Aeronáutica, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral; d) os conflitos de competência entre quaisquer tribunais, ressalvado o disposto no art. 102, I, "o", bem como entre tribunal e juízes a ele não vinculados e entre juízes vinculados a tribunais diversos; e) as revisões criminais e as ações rescisórias de seus julgados; f) a reclamação para a preservação de sua competência e garantia da autoridade de suas decisões; g) os conflitos de atribuições entre autoridades administrativas e judiciárias da União, ou entre autoridades judiciárias de um Estado e administrativas de outro ou do Distrito Federal, ou entre as deste e da União; Documento: 55129955 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 26/11/2015 Página 6 de 28 Superior Tribunal de Justiça h) o mandado de injunção, quando a elaboração da norma regulamentadora for atribuição de órgão, entidade ou autoridade federal, da administração direta ou indireta, excetuados os casos de competência do Supremo Tribunal Federal e dos órgãos da Justiça Militar, da Justiça Eleitoral, da Justiça do Trabalho e da Justiça Federal; i) a homologação de sentenças estrangeiras e a concessão de exequatur às cartas rogatórias”. Ocorre que o Supremo Tribunal Federal, ao julgar o Mandado de Injunção 708/DF, concluiupela necessidade de se fixar parâmetros de definição de competência, provisória e ampliativa, para a apreciação de dissídios de greve instaurados entre o Poder Público e os servidores com vínculo estatutário. Nesse diapasão, o STF firmou entendimento no sentido de que, se provada que a paralisação é de âmbito nacional, ou abranja mais de uma Região da Justiça Federal, ou, ainda, compreenda mais de uma unidade da Federação, a competência para o julgamento de eventuais dissídios de greve será do Superior Tribunal de Justiça, aplicando-se analogicamente as disposições contidas nas Leis 7.701/88 e 7.783/89. Firmou o STF, igualmente, o entendimento de que, além das questões atinentes aos dissídios de greve em si – que permitem ampla dilação probatória –, os Tribunais, no âmbito de sua jurisdição, também são competentes para dirimir as controvérsias relativas ao pagamento dos dias não trabalhados, os interditos possessórios para a desocupação de dependências dos órgãos públicos eventualmente tomados por grevistas, as "medidas cautelares eventualmente incidentes relacionadas ao exercício do direito de greve dos servidores públicos civis, tais como aquelas nas quais se postule a preservação do objeto da querela judicial, qual seja, o percentual mínimo de trabalhadores que deve continuar trabalhando durante o movimento paredista, ou mesmo a proibição de qualquer tipo de paralisação", bem como as demais medidas cautelares que "apresentem conexão direta com o dissídio coletivo de greve", conforme se colhe da ementa do aludido julgado: "MANDADO DE INJUNÇÃO. GARANTIA FUNDAMENTAL (CF, ART. 5º, INCISO LXXI). DIREITO DE GREVE DOS SERVIDORES PÚBLICOS CIVIS (CF, ART. 37, INCISO VII). EVOLUÇÃO DO TEMA NA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF). DEFINIÇÃO DOS PARÂMETROS DE COMPETÊNCIA CONSTITUCIONAL PARA APRECIAÇÃO NO ÂMBITO DA JUSTIÇA FEDERAL E DA JUSTIÇA ESTADUAL ATÉ A EDIÇÃO DA LEGISLAÇÃO ESPECÍFICA PERTINENTE, NOS TERMOS DO ART. 37, VII, DA CF. EM OBSERVÂNCIA AOS DITAMES DA SEGURANÇA JURÍDICA E À EVOLUÇÃO JURISPRUDENCIAL NA Documento: 55129955 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 26/11/2015 Página 7 de 28 Superior Tribunal de Justiça INTERPRETAÇÃO DA OMISSÃO LEGISLATIVA SOBRE O DIREITO DE GREVE DOS SERVIDORES PÚBLICOS CIVIS, FIXAÇÃO DO PRAZO DE 60 (SESSENTA) DIAS PARA QUE O CONGRESSO NACIONAL LEGISLE SOBRE A MATÉRIA. MANDADO DE INJUNÇÃO DEFERIDO PARA DETERMINAR A APLICAÇÃO DAS LEIS Nºs 7.701/1988 E 7.783/1989. 1. SINAIS DE EVOLUÇÃO DA GARANTIA FUNDAMENTAL DO MANDADO DE INJUNÇÃO NA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF). 1.1. No julgamento do MI nº 107/DF, Rel. Min. Moreira Alves, DJ 21.9.1990, o Plenário do STF consolidou entendimento que conferiu ao mandado de injunção os seguintes elementos operacionais: i) os direitos constitucionalmente garantidos por meio de mandado de injunção apresentam-se como direitos à expedição de um ato normativo, os quais, via de regra, não poderiam ser diretamente satisfeitos por meio de provimento jurisdicional do STF; ii) a decisão judicial que declara a existência de uma omissão inconstitucional constata, igualmente, a mora do órgão ou poder legiferante, insta-o a editar a norma requerida; iii) a omissão inconstitucional tanto pode referir-se a uma omissão total do legislador quanto a uma omissão parcial; iv) a decisão proferida em sede do controle abstrato de normas acerca da existência, ou não, de omissão é dotada de eficácia erga omnes , e não apresenta diferença significativa em relação a atos decisórios proferidos no contexto de mandado de injunção; iv) o STF possui competência constitucional para, na ação de mandado de injunção, determinar a suspensão de processos administrativos ou judiciais, com o intuito de assegurar ao interessado a possibilidade de ser contemplado por norma mais benéfica, ou que lhe assegure o direito constitucional invocado; v) por fim, esse plexo de poderes institucionais legitima que o STF determine a edição de outras medidas que garantam a posição do impetrante até a oportuna expedição de normas pelo legislador. 1.2. Apesar dos avanços proporcionados por essa construção jurisprudencial inicial, o STF flexibilizou a interpretação constitucional primeiramente fixada para conferir uma compreensão mais abrangente à garantia fundamental do mandado de injunção. A partir de uma série de precedentes, o Tribunal passou a admitir soluções 'normativas' para a decisão judicial como alternativa legítima de tornar a proteção judicial efetiva (CF, art. 5º, XXXV). Precedentes: MI nº 283, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ 14.11.1991; MI nº 232/RJ, Rel. Min. Moreira Alves, DJ 27.3.1992; MI nº 284, Rel. Min. Marco Aurélio, Red. para o acórdão Min. Celso de Mello, DJ 26.6.1992; MI nº 543/DF, Rel. Min. Octavio Gallotti, DJ 24.5.2002; MI nº 679/DF, Rel. Min. Celso de Mello, DJ 17.12.2002; e MI nº 562/DF, Rel. Min. Ellen Gracie, DJ Documento: 55129955 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 26/11/2015 Página 8 de 28 Superior Tribunal de Justiça 20.6.2003. 2. O MANDADO DE INJUNÇÃO E O DIREITO DE GREVE DOS SERVIDORES PÚBLICOS CIVIS NA JURISPRUDÊNCIA DO STF. 2.1. O tema da existência, ou não, de omissão legislativa quanto à definição das possibilidades, condições e limites para o exercício do direito de greve por servidores públicos civis já foi, por diversas vezes, apreciado pelo STF. Em todas as oportunidades, esta Corte firmou o entendimento de que o objeto do mandado de injunção cingir-se-ia à declaração da existência, ou não, de mora legislativa para a edição de norma regulamentadora específica. Precedentes: MI nº 20/DF, Rel. Min. Celso de Mello, DJ 22.11.1996; MI nº 585/TO, Rel. Min. Ilmar Galvão, DJ 2.8.2002; e MI nº 485/MT, Rel. Min. Maurício Corrêa, DJ 23.8.2002. 2.2. Em alguns precedentes(em especial, no voto do Min. Carlos Velloso, proferido no julgamento do MI nº 631/MS, Rel. Min. Ilmar Galvão, DJ 2.8.2002), aventou-se a possibilidade de aplicação aos servidores públicos civis da lei que disciplina os movimentos grevistas no âmbito do setor privado (Lei nº 7.783/1989). 3. DIREITO DE GREVE DOS SERVIDORES PÚBLICOS CIVIS. HIPÓTESE DE OMISSÃO LEGISLATIVA INCONSTITUCIONAL. MORA JUDICIAL, POR DIVERSAS VEZES, DECLARADA PELO PLENÁRIO DO STF. RISCOS DE CONSOLIDAÇÃO DE TÍPICA OMISSÃO JUDICIAL QUANTO À MATÉRIA. A EXPERIÊNCIA DO DIREITO COMPARADO. LEGITIMIDADE DE ADOÇÃO DE ALTERNATIVAS NORMATIVAS E INSTITUCIONAIS DE SUPERAÇÃO DA SITUAÇÃO DE OMISSÃO. 3.1. A permanência da situação de não-regulamentação do direito de greve dos servidores públicos civis contribui para a ampliação da regularidade das instituições de um Estado democrático de Direito (CF, art. 1º). Além de o tema envolver uma série de questões estratégicas e orçamentárias diretamente relacionadas aos serviços públicos, a ausência de parâmetros jurídicos de controle dos abusos cometidos na deflagração desse tipo específico de movimento grevista tem favorecido que o legítimo exercício de direitos constitucionais seja afastado por uma verdadeira 'lei da selva'. 3.2. Apesar das modificações implementadas pela Emenda Constitucional nº 19/1998 quanto à modificação da reserva legal de lei complementar para a de lei ordinária específica (CF, art. 37, VII), observa-se que o direito de greve dos servidores públicos civis continua sem receber tratamento legislativo minimamente satisfatório para garantir o exercício dessa prerrogativa em consonância com imperativos constitucionais. 3.3. Tendo em vista as imperiosas balizas jurídico-políticas que demandam a concretização do direito de greve a todos os trabalhadores, o STF não pode se abster de reconhecer que, assim Documento: 55129955 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 26/11/2015 Página 9 de 28 Superior Tribunal de Justiça como o controlejudicial deve incidir sobre a atividade do legislador, é possível que a Corte Constitucional atue também nos casos de inatividade ou omissão do Legislativo. 3.4. A mora legislativa em questão já foi, por diversas vezes, declarada na ordem constitucional brasileira. Por esse motivo, a permanência dessa situação de ausência de regulamentação do direito de greve dos servidores públicos civis passa a invocar, para si, os riscos de consolidação de uma típica omissão judicial. 3.5. Na experiência do direito comparado (em especial, na Alemanha e na Itália), admite-se que o Poder Judiciário adote medidas normativas como alternativa legítima de superação de omissões inconstitucionais, sem que a proteção judicial efetiva a direitos fundamentais se configure como ofensa ao modelo de separação de poderes (CF, art. 2º). 4. DIREITO DE GREVE DOS SERVIDORES PÚBLICOS CIVIS. REGULAMENTAÇÃO DA LEI DE GREVE DOS TRABALHADORES EM GERAL (LEI Nº 7.783/1989). FIXAÇÃO DE PARÂMETROS DE CONTROLE JUDICIAL DO EXERCÍCIO DO DIREITO DE GREVE PELO LEGISLADOR INFRACONSTITUCIONAL. 4.1. A disciplina do direito de greve para os trabalhadores em geral, quanto às 'atividades essenciais', é especificamente delineada nos arts. 9º a 11 da Lei nº 7.783/1989. Na hipótese de aplicação dessa legislação geral ao caso específico do direito de greve dos servidores públicos, antes de tudo, afigura-se inegável o conflito existente entre as necessidades mínimas de legislação para o exercício do direito de greve dos servidores públicos civis (CF, art. 9º, caput , c/c art. 37, VII), de um lado, e o direito a serviços públicos adequados e prestados de forma contínua a todos os cidadãos (CF, art. 9º, §1º), de outro. Evidentemente, não se outorgaria ao legislador qualquer poder discricionário quanto à edição, ou não, da lei disciplinadora do direito de greve. O legislador poderia adotar um modelo mais ou menos rígido, mais ou menos restritivo do direito de greve no âmbito do serviço público, mas não poderia deixar de reconhecer direito previamente definido pelo texto da Constituição. Considerada a evolução jurisprudencial do tema perante o STF, em sede do mandado de injunção, não se pode atribuir amplamente ao legislador a última palavra acerca da concessão, ou não, do direito de greve dos servidores públicos civis, sob pena de se esvaziar direito fundamental positivado. Tal premissa, contudo, não impede que, futuramente, o legislador infraconstitucional confira novos contornos acerca da adequada configuração da disciplina desse direito constitucional. 4.2 Considerada a omissão legislativa alegada na espécie, seria o caso de se acolher a pretensão, tão-somente no sentido de que se aplique a Lei nº 7.783/1989 enquanto a omissão não for devidamente regulamentada por lei específica para os servidores públicos civis (CF, Documento: 55129955 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 26/11/2015 Página 1 0 de 28 Superior Tribunal de Justiça art. 37, VII). 4.3 Em razão dos imperativos da continuidade dos serviços públicos, contudo, não se pode afastar que, de acordo com as peculiaridades de cada caso concreto e mediante solicitação de entidade ou órgão legítimo, seja facultado ao tribunal competente impor a observância a regime de greve mais severo em razão de tratar-se de 'serviços ou atividades essenciais', nos termos do regime fixado pelos arts. 9º a 11 da Lei nº 7.783/1989. Isso ocorre porque não se pode deixar de cogitar dos riscos decorrentes das possibilidades de que a regulação dos serviços públicos que tenham características afins a esses 'serviços ou atividades essenciais' seja menos severa que a disciplina dispensada aos serviços privados ditos 'essenciais'. 4.4. O sistema de judicialização do direito de greve dos servidores públicos civis está aberto para que outras atividades sejam submetidas a idêntico regime. Pela complexidade e variedade dos serviços públicos e atividades estratégicas típicas do Estado, há outros serviços públicos, cuja essencialidade não está contemplada pelo rol dos arts. 9º a 11 da Lei nº 7.783/1989. Para os fins desta decisão, a enunciação do regime fixado pelos arts. 9º a 11 da Lei nº 7.783/1989 é apenas exemplificativa (numerus apertus ). 5. O PROCESSAMENTO E O JULGAMENTO DE EVENTUAIS DISSÍDIOS DE GREVE QUE ENVOLVAM SERVIDORES PÚBLICOS CIVIS DEVEM OBEDECER AO MODELO DE COMPETÊNCIAS E ATRIBUIÇÕES APLICÁVEL AOS TRABALHADORES EM GERAL (CELETISTAS), NOS TERMOS DA REGULAMENTAÇÃO DA LEI Nº 7.783/1989. A APLICAÇÃO COMPLEMENTAR DA LEI Nº 7.701/1988 VISA À JUDICIALIZAÇÃO DOS CONFLITOS QUE ENVOLVAM OS SERVIDORES PÚBLICOS CIVIS NO CONTEXTO DO ATENDIMENTO DE ATIVIDADES RELACIONADAS A NECESSIDADES INADIÁVEIS DA COMUNIDADE QUE, SE NÃO ATENDIDAS, COLOQUEM 'EM PERIGO IMINENTE A SOBREVIVÊNCIA, A SAÚDE OU A SEGURANÇA DA POPULAÇÃO' (LEI Nº 7.783/1989, PARÁGRAFO ÚNICO, ART. 11). 5.1. Pendência do julgamento de mérito da ADI nº 3.395/DF, Rel. Min. Cezar Peluso, na qual se discute a competência constitucional para a apreciação das 'ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios' (CF, art. 114, I, na redação conferida pela EC nº 45/2004). 5.2. Diante da singularidade do debate constitucional do direito de greve dos servidores públicos civis, sob pena de injustificada e inadmissível negativa de prestação jurisdicional nos âmbitos federal, estadual e municipal, devem-se fixar também os parâmetros institucionais e constitucionais de definição de competência, provisória Documento: 55129955 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 26/11/2015 Página 1 1 de 28 Superior Tribunal de Justiça e ampliativa, para a apreciação de dissídios de greve instaurados entre o Poder Público e os servidores públicos civis. 5.3. No plano procedimental, afigura-se recomendável aplicar ao caso concreto a disciplina da Lei nº 7.701/1988 (que versa sobre especialização das turmas dos Tribunais do Trabalho em processos coletivos), no que tange à competência para apreciar e julgar eventuais conflitos judiciais referentes à greve de servidores públicos que sejam suscitados até o momento de colmatação legislativa específica da lacuna ora declarada, nos termos do inciso VII do art. 37 da CF. 5.4. A adequação e a necessidade da definição dessas questões de organização e procedimento dizem respeito a elementos de fixação de competência constitucional de modo a assegurar, a um só tempo, a possibilidade e, sobretudo, os limites ao exercício do direito constitucional de greve dos servidores públicos, e a continuidade na prestação dos serviços públicos. Ao adotar essa medida, este Tribunal passa a assegurar o direito de greve constitucionalmente garantido no art. 37, VII, da Constituição Federal, sem desconsiderar a garantia da continuidade de prestação de serviços públicos - um elemento fundamental para a preservação do interesse público em áreas que são extremamente demandadas pela sociedade. 6. DEFINIÇÃO DOS PARÂMETROS DE COMPETÊNCIA CONSTITUCIONAL PARA APRECIAÇÃO DO TEMA NO ÂMBITO DA JUSTIÇA FEDERAL E DA JUSTIÇA ESTADUAL ATÉ A EDIÇÃO DA LEGISLAÇÃO ESPECÍFICA PERTINENTE, NOS TERMOS DO ART. 37, VII, DA CF. FIXAÇÃO DO PRAZO DE 60 (SESSENTA) DIAS PARA QUE O CONGRESSO NACIONAL LEGISLE SOBRE A MATÉRIA. MANDADO DE INJUNÇÃO DEFERIDO PARA DETERMINAR A APLICAÇÃO DAS LEIS Nºs 7.701/1988 E 7.783/1989. 6.1. Aplicabilidade aos servidores públicos civis da Lei nº 7.783/1989, sem prejuízo de que, diante do caso concreto e mediante solicitação de entidade ou órgão legítimo, seja facultado ao juízo competente a fixação de regime de greve mais severo, em razão de tratarem de 'serviços ou atividades essenciais' (Lei nº 7.783/1989, arts. 9º a 11). 6.2. Nessa extensão do deferimentodo mandado de injunção, aplicação da Lei nº 7.701/1988, no que tange à competência para apreciar e julgar eventuais conflitos judiciais referentes à greve de servidores públicos que sejam suscitados até o momento de colmatação legislativa específica da lacuna ora declarada, nos termos do inciso VII do art. 37 da CF. 6.3. Até a devida disciplina legislativa, devem-se definir as situações provisórias de competência constitucional para a apreciação desses dissídios no contexto nacional, regional, Documento: 55129955 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 26/11/2015 Página 1 2 de 28 Superior Tribunal de Justiça estadual e municipal. Assim, nas condições acima especificadas, se a paralisação for de âmbito nacional, ou abranger mais de uma região da justiça federal, ou ainda, compreender mais de uma unidade da federação, a competência para o dissídio de greve será do Superior Tribunal de Justiça (por aplicação analógica do art. 2º, I, 'a', da Lei nº 7.701/1988). Ainda no âmbito federal, se a controvérsia estiver adstrita a uma única região da justiça federal, a competência será dos Tribunais Regionais Federais (aplicação analógica do art. 6º da Lei nº 7.701/1988). Para o caso da jurisdição no contexto estadual ou municipal, se a controvérsia estiver adstrita a uma unidade da federação, a competência será do respectivo Tribunal de Justiça (também por aplicação analógica do art. 6º da Lei nº 7.701/1988). As greves de âmbito local ou municipal serão dirimidas pelo Tribunal de Justiça ou Tribunal Regional Federal com jurisdição sobre o local da paralisação, conforme se trate de greve de servidores municipais, estaduais ou federais. 6.4. Considerados os parâmetros acima delineados, a par da competência para o dissídio de greve em si, no qual se discuta a abusividade, ou não, da greve, os referidos tribunais, nos âmbitos de sua jurisdição, serão competentes para decidir acerca do mérito do pagamento, ou não, dos dias de paralisação em consonância com a excepcionalidade de que esse juízo se reveste. Nesse contexto, nos termos do art. 7º da Lei nº 7.783/1989, a deflagração da greve, em princípio, corresponde à suspensão do contrato de trabalho. Como regra geral, portanto, os salários dos dias de paralisação não deverão ser pagos, salvo no caso em que a greve tenha sido provocada justamente por atraso no pagamento aos servidores públicos civis, ou por outras situações excepcionais que justifiquem o afastamento da premissa da suspensão do contrato de trabalho (art. 7º da Lei nº 7.783/1989, in fine). 6.5. Os tribunais mencionados também serão competentes para apreciar e julgar medidas cautelares eventualmente incidentes relacionadas ao exercício do direito de greve dos servidores públicos civis, tais como: i) aquelas nas quais se postule a preservação do objeto da querela judicial, qual seja, o percentual mínimo de servidores públicos que deve continuar trabalhando durante o movimento paredista, ou mesmo a proibição de qualquer tipo de paralisação; ii) os interditos possessórios para a desocupação de dependências dos órgãos públicos eventualmente tomados por grevistas; e iii) as demais medidas cautelares que apresentem conexão direta com o dissídio coletivo de greve. 6.6. Em razão da evolução jurisprudencial sobre o tema da interpretação da omissão legislativa do direito de greve dos servidores Documento: 55129955 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 26/11/2015 Página 1 3 de 28 Superior Tribunal de Justiça públicos civis e em respeito aos ditames de segurança jurídica, fixa-se o prazo de 60 (sessenta) dias para que o Congresso Nacional legisle sobre a matéria. 6.7. Mandado de injunção conhecido e, no mérito, deferido para, nos termos acima especificados, determinar a aplicação das Leis nºs 7.701/1988 e 7.783/1989 aos conflitos e às ações judiciais que envolvam a interpretação do direito de greve dos servidores públicos civis" (STF, MI 708/DF, Rel. Ministro GILMAR MENDES, TRIBUNAL PLENO, DJe de 31/10/2008). Também é certo que tal entendimento encontra ressonância na jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, como se vê do seguinte julgado: "PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. RECURSOS DE EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO REGIMENTAL NA AÇÃO DE DISSÍDIO COLETIVO DE GREVE. MULTA DIÁRIA POR DESCUMPRIMENTO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER. PERDA SUPERVENIENTE DE OBJETO DO PLEITO PARA REALIZAÇÃO DE AUDIÊNCIA CONCILIATÓRIA. INEXISTÊNCIA DE NULIDADE NO ACÓRDÃO QUE MANTEVE O VALOR DA MULTA DIÁRIA EM CEM MIL REAIS. NÚMERO DE TRABALHADORES PARA A MANTENÇA DA ESSENCIALIDADE DO SERVIÇO. APLICAÇÃO ANALÓGICA DOS ARTS. 9º, 10 E 11 DA LEI N. 7.783/89. COMPETÊNCIA DO STJ PARA JULGAR DISSÍDIO COLETIVO DE GREVE NO SERVIÇO PÚBLICO DE ABRANGÊNCIA NACIONAL. MANDADO DE INJUNÇÃO N. 708/DF. TERMO A QUO DA MULTA DIÁRIA POR DESCUMPRIMENTO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER. ART. 632 DO CPC. 1. É ressabido que os embargos de declaração são cabíveis quando o provimento jurisdicional padece de omissão, contradição ou obscuridade, nos ditames do art. 535, I e II, do CPC, bem como para sanar a ocorrência de erro material. 2. No caso sub examine , os presentes embargos declaratórios merecem parcial acolhimento, apenas para esclarecer dois pontos, quais sejam: a perda superveniente de objeto quanto ao requerimento para realização de audiência de conciliação e a inexistência de nulidade no acórdão que manteve o valor da multa diária em R$ 100.000,00 (cem mil reais). 3. O requerimento preliminar da ASIBAMA, para que seja realizada tentativa de conciliação, perdeu seu objeto, pois foi celebrado acordo entre os litigantes, com o fim de fossem estabelecidos critérios de compensação para os dias não trabalhados em razão da greve, bem como porque o movimento grevista foi extinto. 4. Não se verifica nulidade no acórdão que manteve o valor da multa Documento: 55129955 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 26/11/2015 Página 1 4 de 28 Superior Tribunal de Justiça diária em R$ 100.000,00 (cem mil reais), ao julgar o agravo regimental interposto contra o deferimento da medida liminar, em razão desse julgado tão somente conter a ementa. Isso porque a Primeira Seção manteve, à unanimidade, a cominação das astreintes , sendo certo que as razões de decidir desta relatoria foram chanceladas pelo órgão colegiado. A decisão singular do relator foi mantida quanto aos fundamentos do cabimento da multa, ou seja, foi vencido parcialmente, tão somente quanto à majoração da multa. Dessarte, o relatório e os fundamentos do voto desta relatoria integram o voto vencedor na parte na qual não discrepam entre si. 5. A definição do número de trabalhadores para a mantença da continuidade dos serviços essenciais deve ser realizada à luz dos arts. 9º, 10 e 11 da Lei n. 7.783/89, aplicável à greve no serviço público por analogia. 6. A questão da competência do STJ para julgar dissídio coletivo de greve de abrangência nacional foi exposta no bojo do voto do agravo regimental, que consigna o seguinte, ipsis litteris : "[p]rima facie , consoante a orientação delineada pelo egrégio Supremo Tribunal Federal ' [...] se a paralisação for de âmbito nacional, ou abranger mais de uma região da justiça federal, ou ainda, compreender mais de uma unidade da federação, a competência para o dissídio de greve será do Superior Tribunal de Justiça (por aplicação analógica do art. 2o, I, "a", da Lei no 7.701/1988)' (MI 708/DF, Relator Ministro Gilmar Mendes, Tribunal Pleno, DJ de 31 de outubro de 2008)". 7. O art. 632 do CPC é claro ao definir o termo a quo da multa diária por descumprimento de obrigação de fazer. 8. Ambos os recursos de embargos de declaração parcialmente acolhidos" (STJ, EDcl no AgRg na Pet 7.883/DF, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA SEÇÃO, DJe de 29/05/2012). In casu, há,nos presentes autos e na MC 25.103/DF, documentos que demonstram a natureza nacional do movimento paredista em tela, razão pela qual resta configurada a competência desta Corte para o conhecimento da presente Ação de Dissídio Coletivo de Greve. Por sua vez, a presente ação é tempestiva, uma vez que foi ajuizada em 20/11/2015 (fl. 1e), dentro do prazo de 30 (trinta) dias, contados do ajuizamento da MC 25.103/DF (realizado em 23/10/2015), conforme previsto no art. 806 do CPC. Assim, passo ao exame da questão da legitimidade ativa ad causam da ANMP. Extrai-se do acórdão do MI 708/DF que o STF não fixou, de forma expressa, quais seriam as entidades com legitimidade para propor os dissídios de greve, bem como os interditos possessórios ou as medidas cautelares a eles Documento: 55129955 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 26/11/2015 Página 1 5 de 28 Superior Tribunal de Justiça conexas, limitando-se a determinar a aplicação analógica das disposições contidas na Lei 7.783/89, que assim dispõe: "Art. 3º Frustrada a negociação ou verificada a impossibilidade de recursos via arbitral, é facultada a cessação coletiva do trabalho. Parágrafo único. A entidade patronal correspondente ou os empregadores diretamente interessados serão notificados, com antecedência mínima de 48 (quarenta e oito) horas, da paralisação. Art. 4º Caberá à entidade sindical correspondente convocar, na forma do seu estatuto, assembléia geral que definirá as reivindicações da categoria e deliberará sobre a paralisação coletiva da prestação de serviços. § 1º O estatuto da entidade sindical deverá prever as formalidades de convocação e o quorum para a deliberação, tanto da deflagração quanto da cessação da greve. § 2º Na falta de entidade sindical, a assembléia geral dos trabalhadores interessados deliberará para os fins previstos no 'caput', constituindo comissão de negociação. Art. 5º A entidade sindical ou comissão especialmente eleita representará os interesses dos trabalhadores nas negociações ou na Justiça do Trabalho. (...) Art. 8º A Justiça do Trabalho, por iniciativa de qualquer das partes ou do Ministério Público do Trabalho, decidirá sobre a procedência, total ou parcial, ou improcedência das reivindicações, cumprindo ao Tribunal publicar, de imediato, o competente acórdão. Art. 9º Durante a greve, o sindicato ou a comissão de negociação, mediante acordo com a entidade patronal ou diretamente com o empregador, manterá em atividade equipes de empregados com o propósito de assegurar os serviços cuja paralisação resultem em prejuízo irreparável, pela deterioração irreversível de bens, máquinas e equipamentos, bem como a manutenção daqueles essenciais à retomada das atividades da empresa quando da cessação do movimento". Sobre esse tema, confiram-se, ainda, as disposições contidas na Consolidação das Leis do Trabalho: "DOS DISSÍDIOS COLETIVOS SEÇÃO I DA INSTAURAÇÃO DA INSTÂNCIA Art. 856 - A instância será instaurada mediante representação escrita ao Presidente do Tribunal. Poderá ser também instaurada por iniciativa do presidente, ou, ainda, a requerimento da Procuradoria da Documento: 55129955 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 26/11/2015 Página 1 6 de 28 Superior Tribunal de Justiça Justiça do Trabalho, sempre que ocorrer suspensão do trabalho. Art. 857 - A representação para instaurar a instância em dissídio coletivo constitui prerrogativa das associações sindicais, excluídas as hipóteses aludidas no art. 856, quando ocorrer suspensão do trabalho. Parágrafo único. Quando não houver sindicato representativo da categoria econômica ou profissional, poderá a representação ser instaurada pelas federações correspondentes e, na falta destas, pelas confederações respectivas, no âmbito de sua representação. Art. 858 - A representação será apresentada em tantas vias quantos forem os reclamados e deverá conter: a) designação e qualificação dos reclamantes e dos reclamados e a natureza do estabelecimento ou do serviço; b) os motivos do dissídio e as bases da conciliação. Art. 859 - A representação dos sindicatos para instauração da instância fica subordinada à aprovação de assembléia, da qual participem os associados interessados na solução do dissídio coletivo, em primeira convocação, por maioria de 2/3 (dois terços) dos mesmos, ou, em segunda convocação, por 2/3 (dois terços) dos presentes". É possível extrair-se desses dispositivos legais que a legitimidade ativa para propor tais dissídios pertence (a) ao sindicato da categoria, ou, na ausência deste, (b) às federações correspondentes e, na falta destas, às confederações respectivas, no âmbito de sua representação, ou, ainda, (c) à comissão de negociação constituída em assembléia geral dos empregados, ou, ainda, (d) ao Ministério Público do Trabalho, na hipótese do art. 114, § 3º, da CF/88. Nesse sentido, confira-se a jurisprudência do TST: "RECURSO ORDINÁRIO EM DISSÍDIO COLETIVO DE GREVE INTERPOSTO PELA EMPRESA ECEL - ENGENHARIA E CONSTRUÇÕES LTDA. ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM DO SINDIELETRO E DOS DEMAIS SUSCITADOS - PESSOAS FÍSICAS. EXTINÇÃO DO PROCESSO, SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO QUE SE MANTÉM. Conquanto, a teor do que dispõe o art. 9º da Constituição Federal, a titularidade do exercício do direito de greve pertença aos trabalhadores, competindo a eles decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e os direitos que por meio dele serão defendidos, cabe ao ente sindical respectivo o poder-dever de coordenar e operacionalizar o movimento, representando os trabalhadores no polo da relação negocial e judicial, na Documento: 55129955 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 26/11/2015 Página 1 7 de 28 Superior Tribunal de Justiça inteligência dos arts. 8º, III, também da Lei Maior e 4º da Lei nº 7.783/1989. No caso em tela, conquanto a empresa suscitante, ECEL - Engenharia e Construções Ltda., alegue que o Sindicato Intermunicipal dos Trabalhadores na Indústria Energética de Minas Gerais - SINDIELETRO tenha incitado os trabalhadores à greve, afirma que o legítimo representante de seus empregados é o Sindicato dos Trabalhadores da Construção e do Mobiliário de Ipatinga, e o suscitado, SINDIELETRO, por sua vez, não questiona essa representatividade. Ademais, inexiste, nos autos, qualquer dado que comprove o envolvimento do SINDIELETRO no referido movimento, bem como a sua responsabilização por possíveis atos de vandalismo e danos ao patrimônio da empresa. Assim, mantém-se a decisão a quo, que extinguiu o processo, sem resolução de mérito, por ilegitimidade passiva ad causam, inclusive em relação aos demais suscitados - pessoas físicas, na medida em que não se configura, nos autos, que eles tenham formado a comissão de negociação de que trata o art. 4º, § 2º, da Lei de Greve. Recurso ordinário conhecido e não provido" (TST, RO - 10557-86.2013.5.03.0000, Rel. Ministra DORA MARIA DA COSTA, SEÇÃO ESPECIALIZADA EM DISSÍDIOS COLETIVOS, DJe de 17/04/2015). De fato, a Constituição Federal expressamente determinou competir aos sindicatos, como substitutos processuais, a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria que representam, inclusive em questões judiciais ou administrativas: "Art. 8º É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte: (...) III - ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou administrativas; (...) VI - é obrigatória a participação dos sindicatos nas negociações coletivas de trabalho". Sobre o tema, confira-se a jurisprudência do STF: "DIREITO CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CIVIL. ART. 8º, III, DA LEI MAIOR. SUBSTITUIÇÃO PROCESSUAL. SINDICATO. AMPLA LEGITIMIDADE. JURISPRUDÊNCIA PACÍFICA. PEDIDO DE APLICAÇÃO DA SISTEMÁTICADA REPERCUSSÃO GERAL. INADEQUAÇÃO. AUSÊNCIA DE IDENTIDADE DA CONTROVÉRSIA. ACÓRDÃO RECORRIDO PUBLICADO EM 08.3.2010. Documento: 55129955 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 26/11/2015 Página 1 8 de 28 Superior Tribunal de Justiça A jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido de que o artigo 8º, III, da Constituição Federal garante ampla legitimidade aos sindicatos para, na qualidade de substituto processual, representar em juízo os integrantes da categoria que representam, desnecessária qualquer autorização dos substituídos. Controvérsia divergente daquela em que reconhecida a repercussão geral pelo Plenário desta Casa. O paradigma apontado pela agravante discute, à luz do art. 5º, XXI, da CF/88, a legitimidade de entidade associativa para promover execuções, na qualidade de substituta processual, independentemente da autorização de cada um de seus filiados (Tema 82). Agravo regimental conhecido e não provido" (STF, AI 803.293-AgR, Rel. Ministra ROSA WEBER, PRIMEIRA TURMA, DJe de 27/06/2013). "AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO. DIREITO CONSTITUCIONAL E DIREITO PROCESSUAL CIVIL. REPRESENTAÇÃO SINDICAL. ART. 8º, III, DA CF/88. AMPLA LEGITIMIDADE. COMPROVAÇÃO DA FILIAÇÃO NA FASE DE CONHECIMENTO. DESNECESSIDADE. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO. 1. 'O artigo 8º, III, da Constituição Federal estabelece a legitimidade extraordinária dos sindicatos para defender em juízo os direitos e interesses coletivos ou individuais dos integrantes da categoria que representam. Essa legitimidade extraordinária é ampla, abrangendo a liquidação e a execução dos créditos reconhecidos aos trabalhadores. Por se tratar de típica hipótese de substituição processual, é desnecessária qualquer autorização dos substituídos' (RE 210.029, Pleno, Relator o Ministro Carlos Velloso, DJ de 17.08.07). No mesmo sentido: RE 193.503, Pleno, Relator para o acórdão o Ministro Joaquim Barbosa, DJ de 24.8.07. 2. Legitimidade do sindicato para representar em juízo os integrantes da categoria funcional que representa, independente da comprovação de filiação ao sindicato na fase de conhecimento. Precedentes: AI 760.327-AgR, Segunda Turma, Relatora a Ministra Ellen Gracie, DJ de 03.09.10 e ADI 1.076MC, Relator o Ministro Sepúlveda Pertence, DJ de 07.12.00). 3. A controvérsia dos autos é distinta daquela cuja repercussão geral foi reconhecida pelo Plenário desta Corte nos autos do recurso extraordinário apontado como paradigma pela agravante. O tema objeto daquele recurso refere-se ao momento oportuno de exigir-se a comprovação de filiação do substituído processual, para fins de execução de sentença proferida em ação coletiva ajuizada por associação, nos termos do artigo 5º XXI da CF/88. Todavia, in casu , Documento: 55129955 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 26/11/2015 Página 1 9 de 28 Superior Tribunal de Justiça discute-se o momento oportuno para a comprovação de filiação a entidade sindical para fins de execução proferida em ação coletiva ajuizada por sindicato, com respaldo no artigo 8º, inciso III, da CF/88. 4. O acórdão originalmente recorrido assentou: 'PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO. GRATIFICAÇÃO DE DESEMPENHO DE ATIVIDADE DO CICLO DE GESTÃO. CGC. DECISÃO EM EXECUÇÃO DE SENTENÇA PROFERIDA EM MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO. LIMITES SUBJETIVOS DA COISA JULGADA. AFILIADOS ÀS ENTIDADES IMPETRANTES APÓS A DATA DA IMPETRAÇÃO. DIREITO GARANTIDO DA CATEGORIA. POSSIBILIDADE. PRECEDENTES. FUNDAMENTOS NOVOS NÃO FORAM CAPAZES DE INFIRMAR A DECISÃO AGRAVADA. Agravo regimental improvido.' 5. Agravo regimental a que se nega provimento" (STF, RE 696.845-AgR, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, DJe de 19/11/2012). Por sua vez, a legitimidade atribuída as entidades associativas limita-se à representação judicial ou extrajudicial de seus filiados, quando expressamente autorizadas. Confira-se, nesse ponto, o que dispõe a Constituição Federal: "Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) XXI - as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm legitimidade para representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente". Tem-se, dessa forma que as entidades associativas possuem legitimidade para representar tão somente seus associados, e não toda a categoria à qual eles se vinculam. Assim, em que pese entendimento doutrinário e anterior entendimento do STJ sobre o assunto, a Suprema Corte acabou por restringir a interpretação dada ao art. 5º, XXI, da CF/88, quanto à legitimidade ativa de associação. Com efeito, no julgamento do RE 573.232/SC, sob o regime de repercussão geral, o STF colocou uma pá de cal sobre a controvérsia, ao consolidar a compreensão segundo a qual as associações, por atuarem como representantes processuais, em ação ordinária, na forma do art. 5º, XXI, da CF/88, precisam de autorização específica, individual ou assemblear, dos representados, seus associados, não bastando a mera autorização estatutária, só podendo executar o Documento: 55129955 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 26/11/2015 Página 2 0 de 28 User Realce User Realce Superior Tribunal de Justiça título executivo judicial de ação coletiva aquele que autorizou o ajuizamento da demanda. Confira-se o inteiro teor do voto condutor do mencionado acórdão, da lavra do Ministro MARCO AURÉLIO, Relator para o acórdão, in verbis: "Presidente, se puder utilizar a palavra, já que foi citado precedente da minha lavra, faço-o para distinguir dois institutos: o da representação e o da substituição processual. É inconcebível que haja uma associação que, pelo estatuto, não atue em defesa dos filiados. É inconcebível. O que nos vem da Constituição Federal? Um trato diversificado, considerado sindicato, na impetração coletiva, quando realmente figura como substituto processual, inconfundível com a entidade embrionária do sindicato, a associação, que também substitui os integrantes da categoria profissional ou da categoria econômica, e as associações propriamente ditas. Em relação a essas, o legislador foi explícito ao exigir mais do que a previsão de defesa dos interesses dos filiados no estatuto, ao exigir que tenham – e isso pode decorrer de deliberação em assembléia – autorização expressa, que diria específica, para representar – e não substituir, propriamente dito – os integrantes da categoria profissional. Digo que o caso é péssimo para elucidar essa dualidade. Por quê? Porque, conforme consta do acórdão do Tribunal Regional Federal, a ação de conhecimento foi ajuizada pela Associação Catarinense do Ministério Público. E o que fez, atenta ao que previsto no inciso XXI do artigo 5º da Constituição Federal? Juntou a relação dos que seriam beneficiários do direito questionado. Juntou, também – viabilizando, portanto, a defesa pela parte contrária, a parte ré –, a autorização para atuar. Prevê o estatuto autorização geral para a associação promover a defesa, claro, porque qualquer associação geralmente tem no estatuto essa previsão. Mas, repito, exige mais a Constituição Federal: que haja o credenciamento específico. Pois bem. Veio à balha incidente na execução, provocado em si – pelo menos considero o cabeçalho do acórdão do Tribunal Regional Federal – pela associação que atuara representando os interesses daqueles mencionados, segundo as autorizações individuais anexadas ao processo? Não, por terceiros, que seriam integrantes do Ministério Público, mas que não tinham autorizado a propositura da ação. Indago: formado o título executivo judicial,como o foi, a partir da integração na relação processual da associação, a partir da Documento: 55129955 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 26/11/2015 Página 2 1 de 28 User Realce Superior Tribunal de Justiça relação apresentada por essa quanto aos beneficiários, a partir da autorização explícita de alguns associados, é possível posteriormente ter-se – e aqui penso que os recorridos pegaram carona nesse título – a integração de outros beneficiários? A resposta para mim é negativa. Primeiro, Presidente, porque, quando a Associação, atendendo ao disposto na Carta, juntou as autorizações individuais, viabilizou a defesa da União quanto àqueles que seriam beneficiários da parcela e limitou, até mesmo, a representação que desaguou, julgada a lide, no título executivo judicial. Na fase subsequente de realização desse título, não se pode incluir quem não autorizou inicialmente a Associação a agir e quem também não foi indicado como beneficiário, sob pena de, em relação a esses, não ter sido implementada pela ré, a União, a defesa respectiva. Creio, e por isso disse que a situação sequer é favorável a elucidar-se a diferença entre representação e substituição processual, a esclarecer o alcance do preceito do inciso XXI do artigo 5º, que trata da necessidade de a associação apresentar autorização expressa para agir em Juízo, em nome dos associados, e o do preceito que versa o mandado de segurança coletivo e revela o sindicato como substituto processual. Nesse último caso, a legitimação já decorre da própria Carta – representação gênero – e também da previsão do artigo 8º, do qual não me valho. Estou-me valendo apenas daquele referente às associações. Presidente, não vejo como se possa, na fase que é de realização do título executivo judicial, alterar esse título, para incluir pessoas que não foram inicialmente apontadas como beneficiárias na inicial da ação de conhecimento e que não autorizaram a Associação a atuar como exigido no artigo 5º, inciso XXI, da Constituição Federal. Por isso, peço vênia – e já adianto o voto – para conhecer e prover o recurso interposto pela União. Os recorridos não figuraram como representados no processo de conhecimento. Pelo que estou percebendo, e pelo que está grafado no acórdão impugnado pela União, apenas pretenderam, já que a Associação logrou êxito quanto àqueles representados, tomar uma verdadeira carona, incompatível com a organicidade e a instrumentalidade do Direito". Referido acórdão recebeu a seguinte ementa: "REPRESENTAÇÃO – ASSOCIADOS – ARTIGO 5º, INCISO XXI, DA Documento: 55129955 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 26/11/2015 Página 2 2 de 28 Superior Tribunal de Justiça CONSTITUIÇÃO FEDERAL. ALCANCE. O disposto no artigo 5º, inciso XXI, da Carta da República encerra representação específica, não alcançando previsão genérica do estatuto da associação a revelar a defesa dos interesses dos associados. TÍTULO EXECUTIVO JUDICIAL – ASSOCIAÇÃO – BENEFICIÁRIOS. As balizas subjetivas do título judicial, formalizado em ação proposta por associação, é definida pela representação no processo de conhecimento, presente a autorização expressa dos associados e a lista destes juntada à inicial" (STF, RE 573.232/SC, Rel. p/ acórdão Ministro MARCO AURÉLIO, TRIBUNAL PLENO, DJe de 19/09/2014). Em igual sentido: "DIREITO PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. EXECUÇÃO DE TÍTULO JUDICIAL FORMADO EM MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO. ASSOCIAÇÃO. REPRESENTAÇÃO. NECESSIDADE DE AUTORIZAÇÃO EXPRESSA DOS ASSOCIADOS. 1. O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do mérito do RE 573.232-RG, firmou entendimento no sentido de que a exigência de autorização expressa prevista no art. 5º, XXI, da Constituição Federal não se satisfaz com a simples previsão genérica do estatuto da associação a revelar a defesa dos interesses dos associados. 2. Acórdão proferido pelo Tribunal de origem que se ajusta ao entendimento firmado por esta Corte. 3. Agravo regimental a que se nega provimento" (STF, ARE 787.123-AgR, Rel. Ministro ROBERTO BARROSO, PRIMEIRA TURMA, DJe de 22/09/2015). Em face desse julgamento do STF, em regime de repercussão geral, o STJ alterou seu entendimento sobre o tema, alinhando-se à posição firmada pelo STF, conforme se extrai do seguinte julgado: "PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO. AÇÃO COLETIVA. ENTIDADES ASSOCIATIVAS. REPRESENTAÇÃO ESPECÍFICA. NECESSIDADE DE AUTORIZAÇÃO EXPRESSA. PRECEDENTE FIRMADO PELO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL NO JULGAMENTO DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO Nº 573.232/SC. 1. A questão jurídica nos autos indaga saber se a associação agravante possui legitimidade para atuar no polo ativo da lide, quando não autorizada expressamente pelos associados. 2. O Tribunal a quo, com base na orientação vigente neste Superior Tribunal de Justiça, firmou entendimento de que 'as associações de servidores possuem legitimidade para representar em juízo seus Documento: 55129955 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 26/11/2015 Página 2 3 de 28 User Realce Superior Tribunal de Justiça associados, não sendo necessária autorização expressa em assembléia dos representados'. 3. Nos termos da novel orientação do Supremo Tribunal Federal, a atuação das associações não enseja substituição processual, mas representação específica, consoante o disposto no artigo 5º, XXI, da Constituição Federal (cf. RE 573232/SC, Relator(a) p/ Acórdão: Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, DJe 19/09/2014). 4. Em vista do posicionamento supra, imperativo o retorno dos autos para que o Tribunal a quo enfrente a questão da legitimidade da associação agravante nos termos do recente posicionamento exarado pelo Pretório Excelso. 5. Agravo regimental não provido" (STJ, AgRg no REsp 1.488.825/PR, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, DJe de 12/02/2015). Acerca da legitimidade para propor dissídios de greve, confira-se a doutrina de José LUCIANO DE CASTILHO: "4. O DISSÍDIO DE GREVE 4.1. A reforma constitucional não cuidou de alterar o direito de greve previsto no art. 9º e parágrafos da Constituição Federal. Este dispositivo constitucional foi regulamentado pela Lei nº 7.783/89 e que está em vigor naquilo que não conflita com o novo texto constitucional. Essa lei fixou a legitimidade das partes e do Ministério Público do Trabalho para ajuizar dissídio coletivo, no caso de greve, para que a Justiça Trabalhista decida sobre a procedência total ou parcial ou improcedência das reivindicações, como está no seu art. 8º. Sobre esta legitimidade nada dizia o antigo texto constitucional do longínquo 1988 do século passado, há, portanto, quase 17 anos. Agora, o § 3º do art. 114 dá legitimidade ao Ministério Público do Trabalho para ajuizar dissídio coletivo quanto à greve em serviço essencial e se tiver possibilidade de lesão do interesse público. 4.2 Em face do texto constitucional subsiste, ainda, a legitimidade do MPT de ajuizar dissídio de greve quando esta ocorrer em serviço não-essencial? Ora, neste ponto, a Constituição regulou integralmente a legitimidade do MPT, no caso de greve. Ela ficou restrita à greve ocorrida em serviço essencial, como acima já fixado. Não pretendesse a Carta restringir a legitimidade do Ministério Público do Trabalho, ela não precisaria dizer nada, em face dos termos do citado art. 8º da Lei n° 7.783/89. Se se pretende valorizar a negociação coletiva, este entendimento - que tem fundamento jurídico - respeita o direito de greve, que é Documento: 55129955 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 26/11/2015 Página 2 4 de 28 Superior Tribunal de Justiça essencial à estruturação de uma norma coletiva validamente negociada. 4.3 A Constituição, no caso de greve, cuidou da legitimidade das partes para ajuizardissídio coletivo? Não. E antes da reforma, o que ela dizia sobre este tema? Nada. Logo, não se pode dizer que, no caso de greve, a legitimidade das partes para o dissídio coletivo, criada pela Lei n° 7.783/89, conflite com a norma constitucional. Repito que a reforma constitucional somente cuidou da legitimidade do Ministério Público do Trabalho, no caso de greve em serviço essencial, não tratando nunca da exclusividade da ação do Ministério Público do Trabalho. Por lógica conseqüência, com relação às partes, tem pleno vigor o mencionado art. 8º da Lei n° 7.783/89, salvo quanto à necessidade do acordo, como se verá em seguida" (in "A REFORMA DO PODER JUDICIÁRIO: O DISSÍDIO COLETIVO E O DIREITO DE GREVE", REv. TST, Brasília, vol. 71, nº 1, jan/abr 2005, pp. 31-40). Nesse diapasão, por força do que decidiu o STF, no MI 708/DF, e, ainda, considerando-se as disposições contidas na Lei 7.783/89 c/c a CLT e com os arts. 5º, XXI, e 8º, III e VI, da Constituição Federal, pode-se concluir que a legitimidade ativa para propor dissídios de greve, em relação aos servidores públicos, pertence (a) ao sindicato da categoria, ou, na ausência deste, (b) às federações correspondentes e, na falta destas, às confederações respectivas, no âmbito de sua representação, ou, ainda, (c) à comissão de negociação constituída em assembléia geral da categoria, ou, ainda, (d) ao Ministério Público do Trabalho, na hipótese do art. 114, § 3º, da CF/88. A propósito, confira-se o seguinte julgado: "ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. GREVE DOS SERVIDORES DA JUSTIÇA DO TRABALHO. FEDERAÇÃO SINDICAL. ACÓRDÃO EMBARGADO QUE RECONHECEU A ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM DA FENAJUFE E A INCOMPETÊNCIA DO STJ PARA JULGAR A CAUSA EM RELAÇÃO AO RÉU REMANESCENTE (SINDJUS-DF), DETERMINANDO A REMESSA DOS AUTOS AO TRF DA 1ª REGIÃO. MANUTENÇÃO. PODER GERAL DE CAUTELA. ARTS. 798 E 799 DO CPC. MANUTENÇÃO DA LIMINAR ATÉ ULTERIOR MANIFESTAÇÃO DO JUÍZO COMPETENTE. POSSIBILIDADE. PRECEDENTES. EMBARGOS PARCIALMENTE ACOLHIDOS. Documento: 55129955 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 26/11/2015 Página 2 5 de 28 User Realce User Realce Superior Tribunal de Justiça 1. A questão envolvendo os limites da competência do Superior Tribunal de Justiça para o julgamento de ações originárias em que se discutem questões relacionadas à greve nacional de servidores públicos federais se mostra tormentosa, diante da ausência de regramento expresso sobre o tema na Constituição da República ou na legislação infraconstitucional. 2. No julgamento do MI 708/DF (Rel. Min. GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, DJe 25/10/07), o Supremo Tribunal Federal determinou a aplicação analógica da Lei 7.783/89 até que seja suprida a omissão legislativa quanto à edição de lei específica para regulamentar o exercício do direito de greve dos servidores públicos civis, nos termos do art. 37, VII, da Constituição Federal. 3. No referido julgamento entendeu o Supremo Tribunal Federal, ainda - diante da necessidade de se fixarem 'balizas procedimentais mínimas para a apreciação e julgamento dessas demandas coletivas' - pela aplicação analógica dos arts. 2º, I, "a", e 6º, da Lei 7.701/88 'no que tange à competência para apreciar e julgar eventuais conflitos judiciais referentes à greve de servidores públicos'. 4. Tendo em vista que a aplicação analógica da Lei 7.701/88 representa apenas uma 'baliza procedimental mínima', faz-se necessário que sejam levadas em consideração outras questões também de ordem procedimental, em especial a regra contida no art. 3º do CPC, segundo a qual, 'Para propor ou contestar ação é necessário ter interesse e legitimidade'. 5. Nos termos da legislação de regência, cabe aos sindicatos a representação da categoria dentro da sua base territorial. A legitimidade das federações é subsidiária, ou seja, somente representam os interesses da categoria na ausência do respectivo sindicato. 6. No caso, a parte autora não comprovou a existência de localidade em que os servidores da Justiça do Trabalho não possuam sindicato organizado, pelo que a Federação Nacional dos Trabalhadores do Judiciário Federal e Ministério Público da União - FENAJUFE não possui legitimidade para figurar no polo passivo. 7. O reconhecimento de que as federações sindicais podem ingressar em juízo em nome das sindicatos que a integram, em defesa de interesses da categoria profissional destes, não autoriza que, em sentido contrário, possam ser diretamente responsabilizadas por prejuízos eventualmente causados por movimentos grevistas cuja deflagração foi determinada pelos sindicatos, no exercício do direito previsto no art. 4º, caput , da Documento: 55129955 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 26/11/2015 Página 2 6 de 28 Superior Tribunal de Justiça Lei 7.783/89, in verbis : 'Caberá à entidade sindical correspondente convocar, na forma do seu estatuto, assembléia geral que definirá as reivindicações da categoria e deliberará sobre a paralisação coletiva da prestação de serviços'. 8. Tal entendimento busca assegurar o direito de livre associação sindical, previsto no art. 8º, caput , da Constituição Federal, assim como as prerrogativas inerentes aos sindicatos, na forma do inciso III do mesmo dispositivo constitucional c/c 4º, caput , da Lei 7.783/89. Da mesma forma, a estrita observância dos parâmetros fixados pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento do MI 708/DF traduz-se no respeito aos princípios constitucionais da isonomia (art. 5º, caput ), do juiz natural (art. 5º, XXXVII e LIII), do acesso à justiça e inafastabilidade do controle jurisdicional (art. 5º, XXXV), do devido processo legal e da razoabilidade (art. 5º, LIV), e da razoável duração do processo (art. 5º, LXXVIII), bem como da unicidade sindical (art. 8º, II). 9. Em virtude do poder geral de cautela concedido ao magistrado na forma dos arts. 798 e 799 do CPC, mesmo após se declarar absolutamente incompetente para julgar o feito, ele pode conceder ou manter decisão liminar, como forma de prevenir eventual perecimento do direito ou a ocorrência de lesão grave e de difícil reparação, até que o Juízo competente se manifeste quanto à manutenção ou cassação daquele provimento cautelar. Precedentes: REsp 1.288.267/ES, Rel. Min. BENEDITO GONÇALVES, Primeira Turma, DJe 21/8/12; AgRg no REsp 937.652/ES, Rel. Min. MARIA ISABEL GALLOTTI, Quarta Turma, DJe 28/6/12. 10. Embargos de declaração parcialmente acolhidos a fim de, na forma dos arts. 798 e 799 do CPC, determinar a manutenção da liminar anteriormente concedida até ulterior deliberação do Juízo competente para julgamento do presente feito" (STJ, EDcl na Pet 7.939/DF, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, PRIMEIRA SEÇÃO, DJe de 18/04/2013). Em consequência, conclui-se que a ANMP não possui legitimidade ativa ad causam para propor a presente Ação de Dissídio Coletivo de Greve. Com efeito, na medida em que a greve em tela diz respeito a toda a categoria dos Médicos Peritos da Previdência Social, em âmbito nacional, não se mostra possível que a ANMP venha, em Juízo, representar tão somente a parcela dessa categoria a ela associada. É bem verdade que, em anterior greve deflagrada pelos Médicos Peritos da Previdência Social, em 2010, a ANMP foi parte, na Petição 7.985/DF, de relatoria do Ministro HUMBERTO MARTINS, que, em 10/12/2010, declarou a ilegalidade da greve e determinou o retorno dos médicos peritos do INSS ao trabalho, com desconto Documento: 55129955 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 26/11/2015 Página 2 7 de 28 User Realce User Realce Superior Tribunal de Justiça dos dias parados. Entretanto, tal ocorreu anteriormente à decisão do STF, em regime de repercussão geral, no aludido RE 573.232/SC, em relação ao qual o STJ adequou asua jurisprudência. Com base em tais fundamentos, julguei extinto, sem resolução de mérito, nos termos do art. 267, VI, do CPC, o processo da MC 25.103/DF, ajuizada pela ANMP contra o Instituto Nacional do Seguro Social - INSS e a União, acolhendo, naquele feito, preliminar arguida pela autarquia federal, impondo-se, no presente processo, a mesma solução jurídica. Ante o exposto, com fundamento no art. 267, VI, e § 3º, do CPC, julgo extinto o presente processo, sem resolução do mérito, tendo em vista a ilegitimidade ativa ad causam da ANMP. I. Brasília (DF), 24 de novembro de 2015. MINISTRA ASSUSETE MAGALHÃES Relatora Documento: 55129955 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 26/11/2015 Página 2 8 de 28 User Realce
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