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Conceito de responsabilidade socioambiental Rogério Dias Chaves Introdução Você já ouviu falar em responsabilidade socioambiental? Saiba que esta noção envolve pro- fundas reflexões de ordem ética, sendo um dos temas mais discutidos na atualidade. Nesta aula vamos saber mais sobre o assunto. Objetivos de aprendizagem Ao final deste conteúdo, você será capaz de: • identificar o conceito de responsabilidade socioambiental; • reconhecer a relação existente entre a responsabilidade social e o contexto de uma visão ecossistêmica da sociedade. Bom estudo! 1 Responsabilidade socioambiental Como você já deve saber, o comportamento guiado pela ética e pautado em valores morais representa algo importante nas sociedades atuais. É importante compreender as perspectivas relacionadas à postura dos indivíduos e das organizações perante as questões éticas. O conceito de responsabilidade socioambiental é um desses aspectos. Entendê-lo requer o conhecimento prévio de responsabilidade social e responsabilidade ambiental, conceitos estes que estão intimamente ligados à percepção de desenvolvimento sustentável. Figura 1 – Responsabilidade socioambiental na preservação da vida. Fonte: CHOATphotographer/Shutterstock.com FIQUE ATENTO! A evolução do conceito de sustentabilidade envolve sua utilização em diversas áreas do conhecimento. Hoje existem até mesmo disciplinas acadêmicas, como é o caso da Engenharia da Sustentabilidade, que é parte do curso de Engenharia de Produção. Segundo Abdalla-Santos (2011), o conceito de desenvolvimento sustentável diz respeito à capacidade de promover o crescimento humano, econômico e social, com respeito ao meio ambiente, de forma a atender às necessidades do presente sem comprometer o direito das futu- ras gerações em suprir as próprias necessidades. Ao relacionar crescimento econômico e meio ambiente, temas historicamente conflitantes, a expressão engloba certa polêmica e dá margem a questionamentos. O dissenso em torno do conceito, entretanto, não chegou a impedir que a noção de desenvol- vimento sustentável se difundisse mundialmente (ABDALLA-SANTOS, 2011). Tal fato foi impulsio- nado com a divulgação do “Relatório da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvi- mento”, o Relatório Brundtland, publicado pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 1987, sob o título de Nosso Futuro Comum (ABDALLA-SANTOS, 2011). O relatório declara não só a possibilidade, mas também a necessidade de se alcançar maior desenvolvimento sem destruir os recursos naturais, conciliando crescimento econômico e conser- vação ambiental. Preocupações semelhantes inseriram desenvolvimento sustentável nas ações prioritárias da Agenda 21 brasileira, declaração nascida após a conferência ECO-92, no Rio de Janeiro, e referendada na Conferência de Johanesburgo, em 2002 (AGENDA 21, 2004). SAIBA MAIS! A Constituição Federal brasileira de 1988 estende o conceito de meio ambiente ao ambiente de trabalho (art. 200, inciso VIII); à comunicação social (art. 220, parágrafo 3º, inciso II); aos princípios da ordem econômica (art. 170, VI); e à função social da terra (art.186, II), entre outros aspectos implícitos no texto constitucional. Confira em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Tais discussões trouxeram para as agendas públicas e privadas dos governos e das organiza- ções novos termos associados à ideia de desenvolvimento sustentável, cuja evolução sofreu a influên- cia da sustentabilidade, palavra muitas vezes utilizada de forma rasa, superficial, apesar de seu poten- cial. Por outro lado, essa mesma evolução caminhou junto com o entendimento de responsabilidade social, grande passo em relação à responsabilidade ambiental e, posteriormente, socioambiental. EXEMPLO Borato (2011) elaborou um estudo no qual a empresa ‘O Boticário’ foi apresentada como exemplo de organização cujos resultados são buscados em sintonia com a ética social. Trata-se de estratégia de responsabilidade socioambiental, de tal for- ma que a ética e o respeito norteiam os relacionamentos da organização, como forma de reforçar e tornar as parcerias mais duradouras. Responsabilidade ambiental trata do conjunto de posturas individuais ou organizacionais preocupadas com seu impacto sobre os recursos naturais ou construídos, no intuito de preservá- -los. A preocupação com o tema cresceu e instrumentos de regulação (normas legais, acordos, códigos de ética) surgiram, ampliando o alcance das questões ambientais para os espaços de trabalho, o meio urbano, os aspectos de saúde física e psicológica. Ampliado, o conceito praticamente deu lugar à ideia de responsabilidade social, uma espécie de compromisso assumido pela sociedade, de tal forma que nossas ações, esforços e desem- penho sejam sempre voltados para a melhoria das condições de vida de todos que fazem parte desse universo. Aqui, você pode perceber a íntima relação entre responsabilidade ambiental e res- ponsabilidade social. Figura 2 – Responsabilidade socioambiental nas relações humanas. Fonte: maxstockphoto/Shutterstock.com SAIBA MAIS! Para Edgar Morin (2000), os problemas de ordem moral e de natureza ética envolvem ao mesmo tempo dimensões de nossa participação individual, social e genérica em um mundo no qual os seres humanos compartilham um destino comum. Trata-se de uma visão ecossistêmica de mundo que ele convencionou chamar de antropoética. Saiba mais em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/EdgarMorin.pdf>. Surge, assim, a noção de responsabilidade socioambiental, que abraça todos os conceitos anteriormente apresentados, pois engloba a preocupação ambiental, a social, a individual e a orga- nizacional. Todos estes aspectos seriam considerados uma visão ampliada de meio ambiente. 2 Responsabilidade social e visão ecossistêmica da sociedade Os focos internacional e local se voltaram para aspectos da chamada economia sustentável e da responsabilidade social, criando expressões como responsabilidade social corporativa (RSC) e responsabilidade social empresarial (RSE). Noções que, segundo Sólio (2013), são importantes para as organizações que praticam o discurso politicamente correto voltado ao marketing social, sendo, por vezes, utilizadas como sinônimos. FIQUE ATENTO! Na visão moriniana, o ambiente urbano é também considerado um ecossistema sociourbano, pois sobrevive dos alimentos extraídos do ecossistema natural (água, gás, carvão, gasolina), além de possuir elementos e sistemas vivos que constituem o meio natural, como clima, atmosfera, subsolo, microorganismos vegetais e ani- mais (MILIOLI, 2007). O desenvolvimento sustentável passou a ser buscado pela sociedade de forma geral. O inte- resse capitalista recaiu naturalmente sobre os consumidores que, quando não satisfeitos, impac- tam negativamente a imagem dos negócios alheios ao meio ambiente. Assim, questões como fuga de capital, desempenho e valorização das ações muitas vezes ativam a preocupação empre- sarial com o meio ambiente (SÓLIO, 2013). Firmaram-se, assim, os conceitos de responsabilidade social voltados às organizações. Embora haja várias versões de tais conceitos, uma abordagem bastante aceita entende a responsabilidade social empresarial (ou corporativa) como sendo a atitude ética dos cidadãos e das empresas em todas as suas atividades e nas relações com parceiros, clientes, fornecedores, funcionários, meio ambiente, governos, acionistas, concorrentes e comunidade (KARKOTLI, 2007). É o reconhecimento do papel de cidadão consciente a todo indivíduo com o qual a organização se relacione. O que se deu foi uma mudança de paradigma, que ressalta a importância de uma perspectiva ecológica. Boeira, Pereira e Tonon (2013) enfatizam o entendimento moriniano, segundo o qual torna-se fundamental entender o homem e suas relações como um sistemaaberto vivo, auto-or- ganizador. Como tal, o ser humano se constrói multiplicando suas ligações com o ecossistema, de tal forma que, quanto mais evoluído, mais aberto (complexo) ele será. Dentro dessa visão, o homem é o sistema mais aberto (complexo), o que se evidencia na interde- pendência que ele mantém com a natureza, com o ecossistema técnico-social, social ou sociourbano. Esse ecossistema sociourbano consiste na sociedade moderna entendida sob o ponto de vista ecológico, ou seja, a partir da visão de indivíduos, grupos, governos e organizações que fazem parte desse sistema aberto. Quanto mais evoluída for a sociedade, maior será a complexidade técnica do ecossistema social (BOEIRA, PEREIRA e TONON, 2013). EXEMPLO A visão de interdependência ecossistêmica pode ser exemplificada a partir da roti- na de vida do ser humano da atualidade. Para construir nossa autonomia, precisa- mos consumir produtos e energia extraídos do ecossistema (alimentos, vestuário, moradia, aprendizagem familiar, acadêmica, social etc.). Isso significa que quanto mais independentes nos tornamos, mais nos tornamos dependentes do mundo ex- terior. Em outras palavras, a independência da sociedade moderna é relativa, pois formamos um ecossistema. Figura 3 – Responsabilidade socioambiental por um mundo melhor. Fonte: 9comeback/Shutterstock.com FIQUE ATENTO! A noção de ecossistema apoia-se em uma percepção holística da relação entre o ser humano, a sociedade e seus sistemas técnicos que são, no entendimento de Santos (2008), os elementos do espaço geográfico: os homens, as firmas, as instituições, o meio ecológico e as infraestruturas; todos intercambiáveis e redu- tíveis entre si; elementos (variáveis) dotados de historicidade; e que interagem de forma interdependente. Figura 4 – Formamos um ecossistema complexo. Fonte: martan/Shutterstock.com Podemos concluir que, dentro da visão ecossistêmica da sociedade, a noção de responsabili- dade social assume proporções que exigem um envolvimento efetivo dos indivíduos e das organi- zações. Trata-se de uma postura profundamente comprometida com aspectos éticos de proteção à vida planetária. Fechamento Nesta aula, você teve a oportunidade de discutir os seguintes tópicos: • responsabilidade ambiental; • responsabilidade social; • responsabilidade socioambiental; • visão ecossistêmica da sociedade; • relação entre a responsabilidade social e a visão ecossistêmica da sociedade. Referências ABDALLA-SANTOS, Niedjha L. Qualidade de vida das cidades: um roteiro para diagnóstico de ges- tão a partir do caso da Galeria dos Estados. Brasília, DF: ACLUG, 2011. BOEIRA, Sérgio Luís; PEREIRA, Alessandra Knoll; TONON, Ivan Luís. De Chanlat e Morin ao institu- cionalismo organizacional: diversidade, ambiguidade e complexidade. III Colóquio Internacional de Epistemologia e Sociologia da Ciência da Administração. Florianópolis, 2013. Disponível em: <http://www.coloquioepistemologia.com.br/anais2013/ANE111.pdf>. Acesso em: 11 ago. 2016. BORATO, Amanda Fröhlich. A relação entre Responsabilidade Social, Sustentabilidade e Quali- dade de Vida. UTFPR (2011). Disponível em: <http://pg.utfpr.edu.br/expout/2011/artigos/4.pdf>. Acesso em: 19 jul. 2016. BRASIL. Agenda 21 brasileira: ações prioritárias. Comissão de Políticas de Desenvolvimento Sus- tentável e da Agenda 21 Nacional. 2. ed. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, 2004. 158 p. _______. Constituição da República Federativa do Brasil, de 1988. Disponível em: <http://www.pla- nalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso em: 08 ago. 2016. KARKOTLI, Gilson. Responsabilidade social empresarial. 2. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2007. MILIOLI, Geraldo. O pensamento ecossistêmico para uma visão de sociedade e natureza e para o gerenciamento integrado de recursos. Desenvolvimento e Meio Ambiente, n. 15, p. 75-87, jan./jun. 2007. Editora UFPR. Disponível em: <http://revistas.ufpr.br/made/article/viewFile/11899/8395>. Acesso em: 11 ago. 2016. SANTOS, Milton. Espaço e Método. 5. ed. São Paulo: USP. 2008. SÓLIO, Marlene Branca. Responsabilidade social e sustentabilidade no contexto do século XXI. ALCEU, v. 13, n. 26, p. 176-192, jan./jun. 2013. Disponível em: <http://revistaalceu.com.puc-rio.br/ media/artigo12_26.pdf>. Acesso em: 19 jul. 2016.
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