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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS I CURSO DE PEDAGOGIA Débora Macedo Silva A PRODUÇÃO DE VÍDEOS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS EM UMA PERSPECTIVA SÓCIO-CONSTRUTIVISTA Salvador 2011 DÉBORA MACEDO SILVA A PRODUÇÃO DE VÍDEOS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS EM UMA PERSPECTIVA SÓCIO-CONSTRUTIVISTA Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção da graduação em Pedagogia do Departamento de Educação – Campus I da Universidade do Estado da Bahia, sob orientação da Profa. Sueli da Silva Xavier Cabalero. Salvador 2011 FICHA CATALOGRÁFICA : Sistema de Bibliotecas da UNEB Silva, Débora Macedo A produção de vídeos na educação de jovens e adultos em uma perspectiva sócio- construtivista / Débora Macedo Silva . – Salvador, 2011. 84f. Orientadora: Profª. Sueli da Silva Xavier Cabalero. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Universidade do Estado da Bahia. Departamento de Educação. Colegiado de Pedagogia. Campus I. 2011. Contém referências e anexos. 1.Alfabetização de adultos. 2. Educação de adultos. 3. Educação do adolescente. I. Cabalero, Sueli da Silva Xavier. II. Universidade do Estado da Bahia, Departamento de Educação. CDD:374.012 DÉBORA MACEDO SILVA A PRODUÇÃO DE VÍDEOS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS EM UMA PERSPECTIVA SÓCIO-CONSTRUTIVISTA Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção da graduação em Pedagogia do Departamento de Educação – Campus I da Universidade do Estado da Bahia, sob orientação da Profa. Sueli da Silva Xavier Cabalero. Salvador ______ de ________________ de 20___. ______________________________________________________ Profa. Ma. Orientadora Sueli da Silva Xavier Cabalero ______________________________________________________ Profa. Ma. Ana Verena Carvalho ______________________________________________________ Profa. Dra. Maria de Fátima Urpia DEDICATÓRIA Aos meus colegas de curso Airton Machado e Mariluce de Lima (meu pai e minha mãe), que além de sempre estarem ao meu lado me ensinado, estão hoje estudando comigo nessa instituição. AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus por ter me concedido a grande vitória de ingressar nessa instituição e mais ainda de ter me abençoado para concluir a graduação. A meus pais Mariluce Macedo e Airton Machado por terem me mostrado desde muito cedo que o conhecimento é o bem mais valioso do ser humano. A Isabel Macedo e Sara Macedo, irmãs e verdadeiras amigas que me ajudaram muito em casa, nos trabalhos e até mesmo na pesquisa. Aos meus sobrinhos Gabriel e Matheus, por terem me dado alegria e esperança em momentos tristes. Ao meu namorado Antonio Góes, por me aguentar tão desesperada e ficar comigo todos os fins de semana ao longo de minhas escritas, abdicando de passeios, mergulhos e até mesmo do conforto de seu lar pra me apoiar. (Te Amo). Aos meus cunhados Luciano e Amauri, por terem declarado tantas o quanto gostam de mim, demonstrando sempre amizade e carinho. A minhas tias, que persistiram no discurso muitas vezes cansativo me incentivando e me ajudando a escolher esse caminho. A minha orientadora Sueli Cabalero, pela calma, boa vontade, entusiasmo e principalmente sabedoria que me trouxe até aqui. A minha amiga Flávia Lucas, por ter orado por mim e sempre de bom humor pronunciar: Você vai conseguir! Aos colegas de trabalho da Prodeb, que me deram muito apoio durante todo o curso e principalmente nesse momento final. A professora Fátima Urpia, que me compreendeu e me apoiou quando precisei de tempo para escrever. Ao professor Amorim, por ter me recebido tantas vezes e me ajudado no meu processo de horas para AC. A todos da Escola Estadual Heitor Villa Lobos, que me acolheram e fizeram o possível para contribuir com minha pesquisa. Desde muito pequenos aprendemos a entender o mundo que nos rodeia. Por isso, antes mesmo de aprender a ler e a escrever palavras e frases, já estamos “lendo”, bem ou mal, o mundo que nos cerca. Mas este conhecimento que ganhamos de nossa prática não basta. Precisamos ir além dele. Precisamos conhecer melhor as coisas que já conhecemos e conhecer outras que ainda não conhecemos. (...) Paulo Freire RESUMO Esta monografia tem como objetivo mostrar como a prática de produção de vídeos pode potencializar um aprendizado crítico reflexivo para alunos da EJA. Para tanto foi realizada uma pesquisa qualitativa com princípios de pesquisa ação, utilizando como técnica de coleta de dados a observação participante e o diário de campo. Realizada em uma escola da rede estadual do Salvador BA com alunos da EJA, a pesquisa analisa a produção de vídeos como instrumento significativo para o aprendizado crítico reflexivo dos alunos, dentro de uma proposta metodológica dialógica por meio da qual os alunos são convidados a participar do processo de aprendizagem a partir de seus conhecimentos e produções seguindo uma abordagem sócio-construtivista. Mostra ainda que a participação dos alunos da EJA no processo de produção de vídeos pode viabilizar um melhor aprendizado a partir das várias etapas necessárias para tal produção. Palavras-chave: Educação. Jovens e adultos. Co autoria. Sócio-construtivista. Vídeo. RESUMEN Esta monografía pretende mostrar como la práctica de la producción de vídeo se puede mejorar un aprendizaje crítico reflexivo de los alumnos de EJA - (Educación de Jóvenes y Adultos). Se inicia con una investigación cualitativa con los principios de la investigación-acción, utilizando la técnica de recolección de datos la observación participante y el diario de campo. Realizada en una escuela de la red del estado en Salvador - Bahía., con los estudiantes de EJA, la investigación analiza la producción de videos como un instrumento importante para el aprendizaje crítico-reflexivo de los alumnos, dentro de una propuesta metodológica, dialógica por medio de la cual los estudiantes son invitados a participar del proceso de aprendizaje a partir de sus conocimientos y producciones a raíz de una abordaje socio-constructivista. También muestra que la participación de los alumnos de EJA en el proceso de producción de video puede hacer posible un mejor aprendizaje a partir de los distintos pasos necesarios para la producción. Palabras claves: Educación. Jóvenes y adultos. Autoría Conjunta. Socio- constructivista. Vídeo.SUMÁRIO 1.INTRODUÇÃO................................................................................................10 2. A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: UMA HISTÓRIA DE LUTAS E RECONFIGURAÇÕES.................................................................13 2.1 UM BREVE HISTÓRICO SOBRE A EJA.........................................................14 2.2 O PERFIL DO ALUNO DA EJA........................................................................26 2.3 O PROCESSO DE APRENDIZAGEM NA EJA A PARTIR DO SÓCIO- CONSTRUTIVISMO...............................................................................................32 3. AS TECNOLOGIAS E A EDUCAÇÃO: PERSPECTIVAS PARA A EJA........................................................................................................................36 3.1 AS NOVAS TECNOLOGIAS E A EDUCAÇÃO ESCOLAR..............................37 3.2 A PRÁTICA DOCENTE E O USO DAS TECNOLOGIAS.................................44 3.3 O USO DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS NA EJA NUMA PERSPETIVA SÓCIO- CONSTRUTIVISTA................................................................................................46 4. A PRODUÇÃO DE VIDEOS NA EJA: UMA PROPOSTA METODOLOGICA SÓCIO – CONSTRUTIVISTA.....................................52 4.1 O USO DO VÍDEO NA EJA..............................................................................52 4.2 A PRODUÇÃO DE VÍDEOS NA EJA BASEDA NA PERSPECTIVA SÓCIO- CONSTRUTIVISTA................................................................................................58 5. PRODUZINDO VÍDEOS COM UM GRUPO DE ALUNOS DA EJA........................................................................................................................62 5.1 ABORDAGEM METODOLÓGICA....................................................................62 5.2 O CAMPO DE PESQUISA...............................................................................65 5.3 OS CAMINHOS METODOLÓGICOS PARA A PRODUÇÃO DE VÍDEOS COM A EJA......................................................................................................................68 5.4 ANÁLISE DOS RESULTADOS........................................................................71 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................79 REFERÊNCIAS............................................................................................81 ANEXOS........................................................................................................85 10 1 INTRODUÇÃO Esta monografia tem o objetivo principal de conhecer as potencialidades da prática de produção de vídeos no processo de aprendizagem crítica reflexiva dos alunos da EJA. Para tanto foi necessário realizar uma pesquisa que analisasse o perfil do aluno da EJA, discutisse o uso das tecnologias na educação de jovens e adultos e organizasse o processo de produção de vídeos com alunos da EJA a partir de uma perspectiva sócio - construtivista. Durante três semestres de estágio realizado através da Universidade Estadual da Bahia, (UNEB), foi possível perceber que os alunos da EJA não tinham uma aproximação com as novas tecnologias na escola, apesar de existirem casos isolados de certa “familiarização” com esses recursos em casa ou no trabalho. Existem várias pesquisas relacionadas com o uso das mídias na educação, o vídeo e a televisão, são os mais mencionados em trabalhos acadêmicos, mas a relação desses com a educação de jovens e adultos ainda é pouco discutida. A utilização de vídeos na escola, quando acontece, ocorre muitas vezes através de produtos já prontos, desenvolvidos sem a participação dos alunos e sem considerar as experiências desses estudantes, e o que eles podem aprender de forma significativa. Os alunos da EJA na maioria das vezes são tratados de forma diferenciada em relação aos estudantes das outras modalidades de ensino. Vistos como o “fracasso escolar”, muitas vezes não são respeitados pelo seu tempo de vida e suas condições. O que acaba desvalorizando de certa forma, o grande potencial que esses alunos possuem. Começa então, uma inquietação em demonstrar os benefícios que a prática de produção de vídeo pode oferecer para a EJA, já que esses alunos estão inseridos em uma sociedade que faz uso dos recursos tecnológicos em diversas esferas, porque não inserir esses alunos no contexto de produção? Além disso, foi surgindo um questionamento quanto à forma que os recursos audiovisuais são apresentados aos estudantes sem nenhuma preocupação com a formação de consciência crítica desses sujeitos. 11 A partir de uma experiência em um trabalho desenvolvido na Universidade Estadual da Bahia durante o sexto semestre, em que foi produzido um vídeo seguindo uma metodologia sócio-construtivista, foi possível notar que o aprendizado naquela ocasião ocorreu de maneira significativa, além de possibilitar aos alunos envolvidos construir vídeo a partir de seus próprios conhecimentos, foi possível desenvolver habilidades quanto ao uso dos meios audiovisuais com a mediação do professor. Assim, a partir dessa vivência foi possível refletir sobre possibilidades de articular a prática de produção de vídeos com o trabalho pedagógico. Desde então os trabalhos desenvolvidos em outras disciplinas sempre contemplavam a educação de jovens e adultos. O interesse em pesquisar sobre esses sujeitos foi surgindo com a proximidade a partir dos estágios, pelo contato através de observações e principalmente por querer fazer um estudo que considerasse esses alunos e suas potencialidades, mostrando que são capazes de produzir e aprender criticamente a partir desse processo. Foi nascendo o interesse de estudar a produção de vídeos na EJA, a partir de uma metodologia que contemplasse os alunos e suas expectativas. Diante desse desejo surgiu o problema: Como a produção de vídeos pode contribuir para a construção de uma visão crítica-reflexiva dos estudantes da EJA? Para tentar responder esse questionamento, foi necessário realizar uma pesquisa a partir de estudo bibliográfico, observações e desenvolvimento de ação com os alunos da EJA. O primeiro capítulo busca analisar o perfil do aluno da EJA, trazendo um breve histórico sobre a EJA no Brasil, buscando entender como esses sujeitos aprendem e o perfil dos mesmos, além de discutir sobre o processo de aprendizagem a partir da abordagem sócio–construtivista. No segundo capítulo é discutido o uso das tecnologias digitais na educação escolar e suas implicações na EJA, desenvolvendo uma discussão em relação à preparação da escola e do professor, trazendo a importância da concepção sócio-construtivista na organização metodológica da prática de uso dos recursos tecnológicos. No terceiro capítulo o estudo busca organizar o processo de produção de vídeos com alunos da educação de jovens e adultos a partir de uma perspectiva 12 crítico-reflexiva, apresentando o uso do vídeo na educação escolar e a possibilidade de ser trabalhado na EJA, analisando as etapas importantes para a realização da produção de vídeos como a busca pelo tema, discussão com o grupo pesquisado, elaboração do roteiro, fase de edição e divulgação, organizando essas etapas de maneira a atender as expectativas dos alunos. No quarto capítulo é discutida a abordagem metodológica utilizada para a realização da pesquisa, discutindo a importância da pesquisa na educação e os meios que forneceram dados importantes para esse estudo. É apresentado o campo de pesquisa e a articulação com o estágio que estava sendo realizado no mesmo momento. Ainda nesse capitulo é mostrado os caminhos metodológicos para a produção de vídeos na EJA, as etapas de produção e a participação dos alunos.Durante a análise de dados são apresentadas as impressões dos alunos, reações e como a participação desses estudantes foi significativa para um entendimento crítico. A parte das considerações finais reforça a importância de uma apropriação crítica dos recursos tecnológicos nesse caso da produção de vídeos. 13 2 A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: UMA HISTÓRIA DE LUTAS E RECONFIGURAÇÕES A pesquisa sobre a educação de jovens e adultos no Brasil requer a discussão de questões importantes para um melhor entendimento de como essa modalidade vem se constituindo na contemporaneidade. Embora a EJA seja uma área que vem fomentando diversos debates e pesquisas, ainda existem muitos aspectos a serem aprofundados principalmente aqueles referentes à cognição dos sujeitos que a compõem e a forma como esses constroem o conhecimento. Assim, este estudo apresenta inicialmente um breve histórico sobre a educação de jovens e adultos, com destaque para a relevância de determinados momentos como reflexo para o que verificamos hoje na EJA. Apresenta rapidamente alguns programas e movimentos que marcaram a trajetória da educação de jovens e adultos, e discute sobre a importância da educação popular nesse contexto. Toma-se como ponto de partida a trajetória histórica nos anos 40, analisando a importância do período para EJA, pois foi a partir daí que a EJA “se constituiu como política educacional” (RIBEIRO, 2001, p. 59). Após o “passeio” pela história, o texto traz a importância dos sujeitos estudantes da EJA e a relevância da busca pelo entendimento sobre esses sujeitos, trazendo o seu caminhar e questionamentos como: Quem são esses sujeitos? Como eles aprendem? Enfatizando pontos consideráveis para uma aprendizagem significativa do aluno da EJA. Ainda discutindo sobre o processo de aprendizagem, o texto apresenta a abordagem sócio – construtivista, por se tratar de uma abordagem que acredita que a aprendizagem acontece através das relações entre os homens a partir de suas construções individuais e coletivas. É destacado ainda as contribuições de Paulo Freire para educação de jovens e adultos e principalmente para uma aprendizagem crítica reflexiva em que o sujeito possa participar de seu processo de aprendizagem criticamente. 14 2.1 UM BREVE HISTÓRICO SOBRE A EJA A educação de jovens e adultos (EJA) no Brasil ocupa um espaço reduzido no sistema educativo, marcada por apresentar características compensatórias, a EJA foi se constituindo como consequência da inadequação dos currículos, métodos e materiais didáticos. Infelizmente, essa realidade persiste ao longo dos tempos apesar das intensivas lutas. Mesmo com um grande histórico que começa desde o período em que os jesuítas chegaram ao Brasil, à educação de jovens e adultos, passou por momentos mais significativos para o país recentemente, e é nesse contexto que vem se mostrando como uma educação de lutas e resistências. A educação de jovens e adultos veio se constituir como política educacional a partir dos anos 40. Mesmo que as condições para que isso acontecesse já tivesse perpassado épocas anteriores, como a preocupação que surgiu por parte de educadores e da própria população que lutava por melhorias na qualidade de ensino e implantação de políticas públicas. Esses movimentos preocupando-se com a EJA a partir da década de 1920 surgiram dando ênfase às questões de ensino da população adulta, bem como nas questões do envolvimento do Estado com esse público. O Fundo Nacional de Ensino Primário foi instituído em 1942, e com ele a inclusão da educação de jovens e adultos em programas de ampliação da educação, bem como recursos para essa modalidade. O momento era de preocupação com as altas taxas de analfabetismo no país, e os recursos do fundo proporcionaram a EJA, um grande passo em relação aos momentos anteriores. No final da ditadura de Getulio Vargas, em 1945, o surgimento da UNESCO, que “denunciava ao mundo as profundas desigualdades entre os países e alertava para o papel que deveria desempenhar a educação, em especial a educação de adultos no processo de desenvolvimento das nações (...)” (HADDAD, 2000, p. 111), ajudou ao país a estabelecer metas de alfabetização para adultos, por se tratar de ganhos para o desenvolvimento do mesmo. É importante destacar a grande contribuição dos interesses políticos que cercavam a educação de jovens e adultos, principalmente porque as nações com problemas educacionais sempre foram vistas como subdesenvolvidas. Muitos 15 projetos que surgiram, serviam apenas para mascará a educação no país, deixando de lado, aspectos importantes como aprendizagem do sujeito. Em 1947, um grande movimento a favor da educação de jovens e adultos, foi criado significando um grande passo para a EJA no Brasil a partir do Serviço de Educação de Adultos (SEA). Com articulação desse serviço, nasce a Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos, que surge com uma proposta de alfabetizar, criar curso primário e capacitar profissionais. “(...) seu lançamento se fez em meio ao desejo de atender os apelos da Unesco em favor da educação popular. (...)” (PAIVA, 1987, p. 178). O analfabetismo no Brasil é bastante discutido nesse momento, e essa discussão leva a entender que as mudanças no campo da educação de jovens e adultos, eram questões associadas muito mais ao desenvolvimento do Brasil, principalmente por que o adulto analfabeto visto como incapaz era responsabilizados pelo atraso do país. Não existia uma preocupação com o sujeito, nem com seu processo de aprendizagem, o grande intuito era o momento em que o país se encontrava. O analfabeto “não podia” contribuir com o país nessa condição, então as propostas de educação para esse grande contingente da população eram muito mais interesses políticos. Assim a Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos tinha uma proposta educacional voltada para a “dimensão profissional”. No processo de alfabetização, o analfabeto era visto com uma visão preconceituosa pelos próprios dirigentes da Campanha. De acordo com Paiva, (2001): (...) A idéia central (...) é a de que o adulto analfabeto é um ser marginal “que não pode estar ao corrente da vida nacional” e a ela se associa a crença de que o adulto analfabeto é incapaz ou menos capaz que o individuo alfabetizado. (...) (p. 184). Posteriormente a Campanha foi ganhando uma nova visão, reduzindo a maneira preconceituosa de trabalhar a educação dos jovens e adultos a partir de novas representações. É importante destacar que na década de 1940 mesmo com tantos impasses, a educação de jovens e adultos começa a tomar forma e principalmente 16 ganhar a contribuição do Estado. Essa melhoria foi também consequência das inquietações da população, que sempre se fez presente nas lutas por melhores condições educacionais. Assim, as lutas dos movimentos em favor da EJA, agora eram reconhecidas, mas faltava ainda a valorização dessa modalidade, pois, a contribuição do Estado nesse momento tinha o intuito de calar aqueles que pressionavam o Estado. (...) agora, mais do que as características de desenvolvimento das potencialidades individuais, e, portanto, como ação de promoção individual, a educação de adultos passava a ser condição necessária para que o Brasil se realizasse como nação desenvolvida. (...) (HADDAD, 2000, p. 111). Portanto, nesse período, é possível destacar dois grandes marcos na educação dejovens e adultos: Primeiro foi os movimentos populares, que sempre fortificaram as ações educativas no país, segundo, o de ação política, mais precisamente de interesses políticos. Várias ações e programas governamentais expressaram de maneiras afirmativas o interesse pela educação de jovens e adultos. Além de iniciativas do Estado, houve outros empreendimentos de amplitude nacional tais como: (...) a criação do Fundo Nacional de Ensino Primário em 1942, do Serviço de Educação de Adultos e da Campanha de Educação de Adultos, ambos em 1947, da Campanha de Educação Rural iniciada em 1952 e da Campanha Nacional de Erradicação do Analfabetismo em 1958. (RIBEIRO, 2001 p.59). Mesmo com tantos programas e iniciativas para atender a Educação de Jovens e Adultos, foi com os diversos movimentos populares de grupos sociais, sindicatos entre outros, que surgiu uma educação voltada para a transformação social e não apenas para incluir a população no processo de modernização do país. Com objetivos mais específicos, no intuito de levar o sujeito a uma transformação social e cultural, que tinham como referência as idéias de Paulo Freire1. 1 Educador e engajado na Educação de Jovens e Adultos, Paulo Freire, mesmo exilado em 1964, continuou a desenvolver no exterior sua proposta conscientizadora de alfabetização de adultos. 17 Foi assim que na década de 1960, as campanhas foram ganhando uma nova visão em relação à educação de jovens e adultos. Agora, a intenção de muitos programas, era de uma educação igualitária para toda a população. O Estado passa a patrocinar algumas iniciativas, sendo várias oriundas do próprio governo. Os programas apresentados nessa época tinham o objetivo de extinguir o analfabetismo no país, e ao mesmo tempo buscava melhorias nas condições de vida da população brasileira. Já se via assim o reflexo de uma nova concepção em relação à educação de jovens e adultos, diferenciando-se do período anterior. “(...) Antes apontado como causa da pobreza e da marginalização, o analfabetismo passou a ser interpretado como efeito da pobreza gerada por uma estrutura social não igualitária. (...).” (CUNHA, 1999, p. 12). Em todo o Brasil campanhas e movimentos deram continuidade à educação de jovens e adultos, entre eles o Movimento de Educação de Base, o Movimento de Cultura Popular do Recife, De Pé no Chão também se aprende a ler de Natal, que foi uma campanha que valorizava a cultura popular, o Plano Nacional de Alfabetização do Ministério da Educação e Cultura, etc. A educação de jovens e adultos além do reconhecimento adquiria força em relação aos aspectos ligados à aprendizagem do sujeito, que era valorizada e ganhava cada vez mais força. Começava então a ser tratada a partir das suas especificidades. Através das intensas lutas de Paulo Freire, a educação de jovens e adultos foi sendo redefinida e pensada de outra forma. Nesse novo processo a aprendizagem do sujeito já era tratada de maneira diferenciada, o analfabeto adulto era alfabetizado de maneira crítica e dialogicamente. O Plano Nacional de Alfabetização seguia as idéias de Paulo Freire e foi planejado para atender todo o país. Criado a partir de movimentos estudantis e entidades sindicais, que lutaram para a incorporação do método Paulo Freire o Plano contou com o Ministério da Educação para a sua execução, mas, os interesses públicos foram tomando conta dessa iniciativa e o programa foi aos poucos deixando seus objetivos iniciais em favor dos benefícios políticos. (...) A luta entre estudantes e intelectuais de diversas orientações político-ideológicas dentro do movimento fora suavizada pelos acordos que resultaram na utilização do método Paulo Freire. 18 Entretanto, também outros interesses eleitorais começaram a se manifestar e a se refletir no programa. (...). (PAIVA, 1987, p. 258). No período militar muitos programas foram extintos, mas as importantes contribuições dos movimentos sociais, continuaram a fazer da educação de jovens e adultos, uma constante no país. Além disso, alguns programas de caráter conservador foram liberados, podendo assim perpetuar suas características no país, foi o caso da Cruzada de Ação Básica Cristã. A cruzada não estabelecia um interesse na educação popular, como afirmava fazer, mas sim realizava apoio ao regime militar. O Estado voltou a se preocupar com a educação e em 1967, foi fundado o MOBRAL Movimento Brasileiro de Alfabetização, “(...) fruto do trabalho realizado por um grupo interministerial, que buscou uma alternativa ao trabalho da cruzada ABC (...)” (HADDAD, 2000, p. 114). No entanto, as características iniciais do programa foram substituídas, pelos interesses governamentais. Esse movimento concentrou muito mais a alfabetização no sentido de capacitar mão de obra, ao invés de dedicar-se ao processo de aprendizagem. Apresentando mais uma vez características que atendessem as necessidades governamentais em detrimento a dos sujeitos. O ensino supletivo surge ainda no contexto da superação do analfabetismo e escolarização para aqueles que não tinham conseguido estudar em “idade regular”, instituído na Lei 5.692/71, que fala sobre atender a essa escolarização tardia, bem como desenvolver atividades educativas que complementassem os estudos de maneira flexível. O ensino supletivo teve também como objetivo atender a educação de forma geral, saindo assim da proposta de educação para jovens e adultos dos movimentos populares e finalmente perdendo suas características. Segundo Haddad, (2000): O ensino supletivo foi apresentado à sociedade como um projeto de escola do futuro e elemento de um sistema educacional compatível com a modernização socioeconômica observada pelo país nos anos 70. Não se tratava de uma escola voltada aos interesses de uma determinada classe popular, mas de uma escola que não se distinguia por sua clientela, pois a todos devia atender em uma dinâmica de permanente atualização. (p. 117). 19 Na realidade o que estava acontecendo nesse período era ainda a forte presença do militarismo, que visualizava a educação como técnica para atender ao mercado de trabalho e a vida social. Nesse momento histórico, a educação a distância marca de maneira bastante atual a educação de jovens e adultos. Os programas oriundos do ensino supletivo foram um marco na inserção de tecnologias para a educação, o uso da televisão, rádio e correspondência ficaram como herança para as gerações futuras. O ensino supletivo possuía uma característica bem parecida com a do Mobral. A questão da aceleração da educação marcou esses dois momentos. Após o período militar, surge uma esperança de maiores melhorias na educação de jovens e adultos, isso porque nessa época, década de 1980, a sociedade civil teve maior abertura para contribuir e agir nas questões educacionais. Durante a década de 1980, a EJA passou por momentos importantes para sua configuração e para sua constituição como direito. O programa MOBRAL, que ainda estava em vigor nessa época, foi substituído pela Fundação Nacional para a Educação de Jovens e Adultos – Educar, que realizava atividades diferentes do MOBRAL, apesar de ter incorporado muito de suas ações. Nesse contexto a educação movida pelos ideários populares volta a se apresentar, já que agora pode sair de suas atividades que continuava a se desenvolver ocultamente. “(...) retomaram visibilidade nos ambientes universitários e passaram a influenciar também programas públicos e comunitários. (...)” (HADDAD, 2000,p. 120). Apenas em 1988 o direito a educação básica foi estendido aos jovens e adultos na Constituição federal. (RIBEIRO, 2001). No inicio esse ensino era feito apenas nas modalidades não presenciais sem nenhuma preocupação com a qualidade. (...) nenhum feito no terreno institucional foi mais importante para a educação de jovens e adultos nesse período que a conquista do direito universal ao ensino fundamental publico e gratuito, independente de idade, consagrado no Artigo 208 da constituição de 1988(...) (HADDAD, 2000 p. 120). 20 A fundação Educar foi extinta no inicio dos anos 1990, esse fato marcou pela descentralização da educação de jovens e adultos que passou a ser responsabilidade dos municípios, mesmo que parte da educação de jovens e adultos ainda estivesse no controle dos Estados. Houve uma tentativa de substituição do programa, que não foi adiante. O Programa Nacional de Alfabetização e Cidadania (PNAC), criado no governo de Fernando Collor de Mello é deixado de lado no governo do vice, Itamar Franco, que tomou posse do país após o impeachment do presidente Collor. Mesmo com tantas preocupações a educação de jovens e adultos de certa forma, sempre ficou a margem nas políticas públicas. A reforma educacional de 1995 que se instaurou para descentralizar encargos com a educação, deixava de lado mais uma vez a escolarização dos jovens e adultos. O principal instrumento da reforma foi a aprovação da Emenda Constitucional de 14/96, que suprimiu das Disposições Transitórias da Constituição de 1988 o artigo que comprometia a sociedade e os governos a erradicar o analfabetismo e universalizar o ensino fundamental até 1998, desobrigando o governo federal de aplicar com essa finalidade a metade dos recursos vinculados a educação (...). (HADDAD, 2000 p. 123). Com a criação do Fundo de Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério (FUNDEF) a educação de jovens e adultos permanecia no seu estado de desprezo, uma vez que essa modalidade não entrava na relação de investimento público, que eram destinados apenas para o ensino de crianças e adolescentes, favorecendo ainda mais uma crise na expansão do ensino de jovens e adultos. (HADDAD, 2000). Nas redes de ensino a EJA foi sempre vista como um problema por grande parte dos profissionais da educação, associada comumente ao ensino noturno supletivo de caráter compensatório, que absorvem jovens e adultos que não conseguiram concluir o ensino em “idade regular”, “reprovados” ou ainda o “fracasso escolar”. Os mais diversos programas voltados para a educação de jovens e adultos passaram por problemas de falta de incentivo político, o que levou a modalidade a uma paralisação. Na realidade, muitas vezes o governo se opôs em investir na educação de jovens e adultos. (RIBEIRO, 2001). 21 É claro que durante anos de luta em favor da EJA foram constituídos passos significativos em direção a uma nova concepção de educação, a presença dos segmentos sociais em favor da EJA muito contribuiu para uma educação igualitária. A educação de jovens e adultos passou a fazer parte constitutiva da Lei de Diretrizes e Bases, tornando-se modalidade de educação e reconhecida como direito público como afirma o Parecer CNE/CEB 11/2000. Este mesmo parecer defende que a EJA já não pode ser entendida como uma forma de suprir uma educação anterior. Em relação à LDB 9.394, Haddad afirma que essa “dedica à educação de jovens e adultos uma seção curta e pouco inovadora.” As principais características das ações do governo em relação à educação de jovens e adultos no Brasil, durante um grande período, foram de políticas assistencialistas, populistas e compensatórias, contudo, essas políticas de certa forma, impulsionaram os movimentos em favor da busca de uma nova configuração para a educação de jovens e adultos, sendo realizados passos significativos a partir da posição marginal ocupada por essa modalidade. O Ministério da Educação atuou na implementação e em parte, no financiamento de alguns programas que contava com objetivo de alfabetizar a população, esses programas apesar da ajuda do MEC, possuíam largas parcerias de movimentos da sociedade civil e instituições de ensino e pesquisa. O Programa Alfabetização Solidária (PAS) surge dentro dessa perspectiva ainda na década de 1990. Apesar de ser um grande passo na educação de jovens e adultos, o programa não conseguiu se estabilizar pela falta de suportes que garantissem permanência dos educandos nos estudos. O Programa foi desenvolvido a partir de parcerias de várias instâncias governamentais e outras organizações, com o objetivo de diminuir as desigualdades sociais através da educação, esse programa priorizou o público jovem, os municípios e as periferias urbanas, para depois chegar à zona rural e atingir outros públicos. O ensino já voltado para as questões sociais buscava a valorização do aluno, resgate dos conhecimentos prévios e possibilidades para que os alunos tivessem acesso a novos conhecimentos. O Programa pregava a conscientização dos sujeitos. A auto-estima do educando era valorizada, pois era entendida como 22 essencial para que os alunos permanecessem na escola depois de um dia de trabalho. (...) Com o programa, além das metas de erradicação do analfabetismo, de promoção da educação de jovens e adultos e de incentivo à requalificação profissional nos municípios envolvidos, propõem-se o aumento da cidadania, da prosperidade, da auto- realização e da auto-estima. (...) (TRAVERSINI, 2009, p. 584). Outra preocupação do Programa era relacionada ao trabalho desses alunos, pois o cansaço físico após um dia de trabalho quase sempre árduo, dificultaria a aprendizagem, uma vez que provoca falta de atenção e evasão de muitos. Com o passar das décadas percebe-se mudanças positivas ocorridas nos projetos voltados para a população da EJA, dentro dessas mudanças a mais importante é o reconhecimento da necessidade de uma educação diferenciada, própria às peculiaridades desses sujeitos. No século XXI, a educação de jovens e adultos continua nas propostas governamentais, como pode ser visto a partir de diversos programas que foram instituídos no inicio do período. No governo de Lula, foi criado o programa Brasil Alfabetizado, um programa do Ministério da Educação, que contribui na luta de superar o analfabetismo no Brasil. Instituído pelo decreto nº. 6.093 de 24 de abril de 2007 têm por objetivo “a universalização da alfabetização de jovens e adultos de quinze anos ou mais." O programa é uma conquista, principalmente porque o financiamento para a educação de jovens e adultos sempre foi precário por parte dos governantes. Dentro desse contexto, na Bahia é lançado o TOPA – Todos Pela Educação, Programa do governo estadual com o objetivo de alfabetizar um milhão de baianos até o ano de 2010. O programa Brasil Alfabetizado, partiu de pesquisas que revelavam uma grande quantidade de pessoas analfabetas no país. Começa então um processo de alfabetização nos estados e municípios que conta ainda com a formação continuada dos educadores, bem como a criação de material didático próprio para os programas. 23 Um dos aspectos mais interessantes desse programa é a relação estabelecida com a sociedade, pois educadores e estudantes da área de educação são preparados para assumirem as turmas. RETIREI CITAÇÃO QUE ESTAVA SOLTA DAQUI A educação de jovens e adultos no sentido do financiamento teve uma grande conquista quandofoi incluída no Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica (FUNDEB). Esse fundo substitui o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (FUNDEF). O Fundeb é muito importante para a educação de modo geral, pois atende a toda educação básica reservando recursos para a educação de jovens e adultos. Mesmo assim, os recursos destinados a EJA são bem menores do que os destinados às outras modalidades. A partir do histórico da educação de jovens e adultos no Brasil, podemos identificar a marcante presença da Educação Popular na luta por uma educação acessível ao povo. Falar nos movimentos populares é muito importante, principalmente porque a contribuição da sociedade civil nas intensas lutas, marcam a história da educação e se faz presente nas novas concepções. Idealizada por Paulo Freire, a educação popular tinha uma visão de conscientização política da população, buscando igualdade e liberdade das classes menos favorecidas, ou seja, superação da condição de oprimido. Na EJA a educação popular teve uma contribuição bastante significativa, pois foram os movimentos populares que deram força as reivindicações para melhorias. Faz-se necessário esclarecer que mesmo antes do aparecimento da educação para atender aos jovens a adultos, os vários movimentos nas diversas áreas da sociedade já lutavam contra o analfabetismo da população. Após alguns anos a educação de adultos surgiria dentro de um quadro educacional dedicado exclusivamente ao público adulto. Durante um período de cerca de 20 anos, do mesmo modo como aconteceu em outros domínios de trabalhos sociais com setores populares, a educação de adultos passou de uma ênfase na integração de indivíduos na sociedade para uma outra, cujo objetivo era atuar sobre grupos e comunidades que, educados, organizados e motivados, assumissem, em seu nível, “o seu papel no processo de desenvolvimento”. (...) (BRANDÃO, 1984, p.52). 24 Desde os tempos mais primórdios as mais variadas formas de aprendizado teve a participação da sociedade, das comunidades e suas trocas. É assim que Brandão (1984) apresenta em seu livro Educação Popular, a aprendizagem de várias maneiras nos mais variados tempos, além de mostrar essas relações desde a antiguidade. Para a educação popular o sentido de educar, está dentro de uma proposta de libertação. Os movimentos populares buscavam uma educação que valorizassem as sabedorias populares, seus conhecimentos de mundo. Os ideais da educação popular são de mudanças na realidade opressora, visando uma conscientização de sua condição por parte do oprimido. O sujeito assim deve assumir uma postura na qual se reconheça como oprimido, além de entender a necessidade de lutar por mudanças e libertação. “(...) Libertação a que não chegarão pelo acaso, mas pela práxis de sua busca; pelo conhecimento e reconhecimento de luta por ela. (...).” (FREIRE, 1987, p.31). Paulo Freire sempre se preocupou com as questões educacionais das populações que viviam a margem. Suas lutas por igualdades perpassavam pelos ideais de que a aprendizagem é concebida a partir das trocas, tanto do professor e aluno como das relações entre culturas, no trabalho, família etc. Sempre confiáramos no povo. Sempre rejeitáramos formulas doadas. Sempre acreditáramos que tínhamos algo a permutar com ele, nunca exclusivamente a oferecer-lhe. (FREIRE, 2007, p. 110). Em suas experiências, Paulo Freire mostrou a determinação e deixou um legado importante que contribui ao que hoje foi conquistado para a educação de jovens e adulto. Suas idéias sempre foram voltadas para uma prática educacional que garantisse igualdade e criticidade dos sujeitos. Desde logo, afastáramos qualquer hipótese de uma alfabetização puramente mecânica. Desde logo, pensávamos a alfabetização do homem brasileiro, em posição de tomada de consciência na emersão que fizera no processo de nossa realidade. Num trabalho com que tentássemos a promoção da ingenuidade em criticidade, ao mesmo tempo em que alfabetizássemos.” (FREIRE, 2007, p. 112). 25 Os trabalhos eram realizados buscando uma aproximação com os educandos, promovendo debates e entrevistas, coletando informações sobre a leitura de mundo de cada um, explorando os conhecimentos populares e valorizando-os na construção de novos conhecimentos. Hoje, por mais que encontremos pesquisas voltadas para a modalidade da EJA, essa é ainda uma discussão pouco consolidada. A permanente luta é histórica e continua buscando caminhos para um reconhecimento e respeito em sua composição. Grupos de trabalho, universidades e movimentos populares, tem buscado uma reconfiguração da EJA que vem conquistando espaços também no compromisso do Estado. “(...) Discute-se a EJA nas novas estruturas de funcionamento da educação básica – Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Básico (Fundeb). Criam-se estruturas gerencias específicas para EJA nas Secretarias Estaduais e Municipais.” (ARROYO, 2006 P.20). A sociedade continua se mostrando presente nas discussões em torno de uma nova configuração para a EJA, com movimentos sociais, sindicatos, ONGs, procurando promover uma postura diferente frente às necessidades desses estudantes. “O compromisso dessa diversidade de coletivos da sociedade não é mais de campanhas nem de ações assistencialistas” (ARROYO, 2006 p. 20). Uma mobilização com outro foco para a modalidade, envolvendo mais pesquisas, trabalhos e a tentativa de implementação de políticas públicas, que atendam às reais necessidades da EJA. Essas concepções vão tomando corpo e ganhando um lugar no processo educacional antes inexistente. Dentro de todo esse contexto em que a educação de jovens e adultos vem se introduzindo cada vez mais nas discussões educacionais, torna-se importante falar dos sujeitos da EJA, seu modo de aprender, seu tempo de vida. Afinal, esses são os sujeitos que fazem da EJA uma modalidade específica. 2.2 O PERFIL DO ALUNO DA EJA As trajetórias dos estudantes da EJA sempre foram marcadas por concepções preconceituosas e pessimistas. A idéia de que o aluno da EJA é aquele que não conseguiu estudar em idade “certa” tem levado para a discussão o processo de aprendizagens desses sujeitos. Os alunos da EJA se encontram em 26 uma posição “diferente” em relação à criança, com uma bagagem maior de experiências, possuem crenças e valores constituídos a partir de suas vivências. Além de muito saber, vivem em constante aprendizado, afinal não existe uma idade determinada para se aprender. Ao tratar do processo de aprendizagem escolar desses sujeitos é importante voltar a uma discussão anterior a essa, que está ligada à vida desses jovens e adultos, por que voltaram à escola depois de alguns anos ou ainda por que resolveram estudar, além de problematizar sobre seus caminhos, sua vida pessoal e profissional. Considerando ainda os motivos que levaram essas pessoas a abandonar os estudos, pois muitos quando crianças foram obrigados a deixar os estudos para trabalhar, ajudar ou garantir o sustento da família. Os jovens e adultos que voltam à escola, fazem parte da população pobre, oriunda de bairros periféricos ou da zona rural, que procura estudar para atender as exigências do mercado de trabalho, para ajudar seus filhos e netos nas tarefas escolares ou ainda para alcançarem objetivos de ler simples palavras, assinar o próprio nome e até mesmo ler o itinerário de transportes coletivos. (...) não é o estudante universitário, o profissional qualificadoque frequenta cursos de formação continuada ou de especialização, ou a pessoa adulta interessada em aperfeiçoar seus conhecimentos. (...). (...) E o jovem, (...) não é aquele com uma história de escolaridade regular, vestibulando ou aluno de cursos extracurriculares em busca de enriquecimento pessoal. (...) (OLIVEIRA, 2001, p. 15-16). Esses estudantes são homens e mulheres, trabalhadores, empregados ou desempregados, ou ainda aqueles que buscam o primeiro emprego, são também filhos, pais, mães e moram geralmente na periferia das cidades. Aqueles excluídos, que não tiveram a oportunidade porque a eles não foram oportunizados esse contato com a escola. Ainda existe uma diferença entre o jovem e o adulto da EJA, sua condição embora parecida, difere-se em algumas etapas, pois o jovem que retorna a escola ou a ela vai pela primeira vez, mesmo sem escolaridade consegue se relacionar de maneira mais dinâmica com o mundo moderno, ou ainda se integra mais 27 rapidamente com as novas tecnologias, que já fazem parte da educação de uma maneira geral. Segundo Oliveira, 2001: (...) ele é também um excluído da escola, porém geralmente incorporado aos cursos supletivos em fases mais adiantadas de escolaridade, com maiores chances, portanto, de concluir o ensino fundamental ou mesmo o ensino médio. É bem mais ligado ao mundo urbano, envolvido em atividades de trabalho e lazer mais relacionada com a sociedade letrada, escolarizada e urbana (...). (OLIVEIRA, 2001, p. 16). Mas esse jovem encontrará da mesma maneira dificuldades em relação aos estudos, pois, assim como ele tem esse diferencial em relação ao adulto, existem alguns aspectos que se aproximam quando se trata dos motivos que fizeram esses jovens largarem os estudos, ou voltarem à escola. Na maioria das vezes o motivo é sempre o mesmo: constituição de família muito cedo, dificuldade financeira que faz com que os alunos deixem a escola por causa do trabalho, para ajudar nas despesas em casa. E a volta apesar de variar muito, na maioria das vezes está relacionada às exigências do mercado de trabalho. A vivência de cada jovem ou adulto que retorna a escola ou começa a estudar é diferenciada, cada um tem suas escolhas, sua forma de viver, mas todos fazem parte de uma mesma realidade cultural. Repetem uma história de negação de direitos e fazem parte de um contexto de exclusão, passam pela rejeição, reprovação social e escolar, mas possuem escolhas e conhecimentos de vida, ganhos pelas vivências em sociedade e pelas próprias histórias. Muitos já trabalham ou trabalharam, participam de movimentos sociais, na comunidade, no bairro em que vivem e por essa condição já possuem um conhecimento de vida em relação ao trabalho, família, direitos e deveres. Possuem um conhecimento de mundo. Falar em processo de construção de conhecimentos e aprendizagem no que se refere aos alunos da EJA, nos leva a discutir como se dá esse processo na realidade desses alunos. Ainda pouco explorado, esse tema deixa uma gama de questões, principalmente porque na área psicológica os sujeitos mais estudados em relação ao processo de aprendizagem são as crianças e os adolescentes. (OLIVEIRA, 2001). 28 A construção do conhecimento não pode ser atribuída apenas à escola, ou a uma determinada idade, principalmente se considerada as relações da vida dos sujeitos. As pessoas vão construindo seus conhecimentos desde muito cedo, e esses não param e independem da escola. A aprendizagem do sujeito é determinada também pelas relações com o meio social. Ao longo da vida o indivíduo adquire conhecimentos mesmo sem a presença na escola. E esses devem ser considerados no processo de aprendizagem do jovem e adulto. As relações sociais desde o início dos tempos indicam que a aprendizagem dos sujeitos sempre teve aspectos que agiram mesmo sem a ajuda da escola. Ao falar de educação popular Brandão (1984), mostra que o saber circula entre os meios sociais desde tempos remotos. As contribuições do autor para entender as relações entre sociedade e sujeito, são importantes para concluirmos que o saber popular é também o saber social, ou seja, todos possuem algum tipo de saber. (...) Durante quase toda a história social da humanidade a prática pedagógica existiu sempre, mas imersa em outras práticas sociais anteriores. Imersa no trabalho: durante as atividades de caça, pesca e coleta, depois, de agricultura e pastoreio, de artesanato e construção. (...) (BRANDÃO, 1984, p. 19). A concepção sobre aprendizagem dos alunos jovens e adultos deve seguir uma lógica em que o aprendizado ocorre ao longo da vida, desde o nascimento, nas relações familiares, na escola com os colegas e professores, quando esses a freqüentam, no trabalho com as outras pessoas, com a cultura. E mesmo que a escola não esteja presente nesse caminhar, as relações sociais além da escola, contribuem e fazem com que os sujeitos aprendam. (...) É fundamental, (...) partirmos de que o homem, ser de relações e não só de contatos, não apenas está no mundo, mas com o mundo. (...) (FREIRE, 2007, p.47). (...) o homem constitui-se como tal através de suas interações sociais, portanto, é visto como alguém que transforma e é transformado nas relações produzidas em uma determinada cultura. (...). (REGO, 2001, p. 93) 29 De acordo com a abordagem sócio-construtivista , as relações com o meio social e cultural fazem com que o homem construa e transforme seus conhecimentos, o aprendizado depende assim, “do desenvolvimento histórico e das formas sociais da vida humana.” (REGO, 2001, p. 42). Nesse sentido, Freire (2007) também discute essas relações e traz: (...) As relações que o homem trava com o mundo (pessoais, impessoais, corpóreas e incorpóreas) apresentam uma ordem tal de características que as distinguem totalmente dos puros contatos, típicos da outra esfera animal. (FREIRE, 2007, p.47) Os estudantes jovens e adultos possuem especificidades que vão além da sua idade, Essas pessoas diferem das crianças e adolescentes não apenas por se encontrarem em uma idade mais avançada, mas por apresentarem uma experiência cultural mais ampla. Os estudantes da EJA trazem uma gama de experiências, construções e reflexões, seus conhecimentos de vida fazem com que seu processo de aprendizagem leve em considerações diversas habilidades e potencialidades. Mesmo assim, existem algumas dificuldades, pois muitos alunos da EJA, por terem algumas responsabilidades em relação ao trabalho, cuidados com filhos, trabalhos domésticos entre outros, encontram-se em uma posição desprivilegiada em relação à criança e o adolescente que podem dedicar mais tempo aos estudos. Os jovens e adultos são capazes de aprender ao longo de toda vida, descartando assim a idéia de que exista uma idade para que a aprendizagem aconteça. Na educação de jovens e adultos a utilização de seus conhecimentos de vida é muito importante, pois esses alunos chegam à escola com uma riqueza de experiências que não podem ser deixadas de lado. Na educação de adultos devem ser considerados além de seus conhecimentos, suas expectativas e principalmente seu papel na sociedade. Ao discutir sobre o Programa de Educação de Adultos da Faculdade de Educação da USP, Piconez (2002) afirma que: (...) um dos efeitos favoráveis inquestionáveis da educação básica de adultos, ponto pacifico em todos os estudos analisados, é o crescimento da auto-realização pessoal do adulto, pela qual lhe é possível assumir-se cada vez mais como sujeito de suas ações. (PICONEZ, 2002, p.48) 30O jovem e o adulto por possuírem uma experiência adquirida ao longo da vida, aprendem muito quando o professor relaciona os conteúdos escolares com situações do trabalho e da família, pois para esses alunos o interessante é aprender coisas que serão úteis para seu dia a dia. A construção de uma visão critica é um importante papel da educação, portanto esses alunos devem ser estimulados a criticamente se perceberem como atores de sua própria história. Assim a escola e os educadores que trabalham com jovens e adultos devem propiciar aos estudantes condições necessárias para um melhor aproveitamento de conteúdos através da criticidade. Não é impor assuntos, atividades, sem nenhuma significância, mas sim, construir com os alunos a partir de seus conhecimentos novas possibilidades para se aprender. (...) é imprescindível que a escola tenha condições compatíveis com sua função de dar acesso aos conhecimentos culturalmente descobertos e acumulados pelo homem, estabelecendo uma organização pedagógica consoante com os conhecimentos prévios de seus alunos e do contexto em que vivem. (PICONEZ, 2002, p. 27). Os estudantes jovens e adultos apresentam expectativas ao chegarem à escola e essas expectativas podem não ter relação com um futuro, mas com o presente no qual vivem. É a busca por novas oportunidades de trabalho, cumprir as exigências do mercado, assinar o próprio nome, ler a Bíblia, ler o itinerário do transporte coletivo, garantir seus direitos, serem cidadãos. Tendo a possibilidade de participar ativamente de uma sociedade que discrimina cada vez mais o outro pelas suas diferenças e restritas habilidades. As instituições de ensino que trabalham com a educação de jovens e adultos, parecem não viver esse momento de novas perspectivas no campo da EJA. Na maioria das vezes se distanciam da realidade dos sujeitos, evidenciando a exclusão sofrida por esses na escola. Torna-se necessário conhecer a história de vida desses sujeitos, a fim de intervir de forma significativa. Os estudantes da EJA precisam ser respeitados pelo seu ritmo de aprendizagem e principalmente por suas condições, deve-se atentar assim por uma educação diferenciada que objetive a realidade dos sujeitos. Quando essas 31 pessoas resolvem voltar à escola, encontram bastante dificuldade em seu caminho, além de toda a exclusão por parte da sociedade, são ainda vistos como o fracasso escolar, os “atrasados”, que não conseguirão aprender por se encontrarem nessa condição. Entender as particularidades dos estudantes da EJA é buscar entender seus conhecimentos adquiridos durante suas trajetórias de vida e sua vida em sociedade. O respeito aos saberes dos educandos é fundamental para uma prática responsável, “(...) porque não estabelecer uma “intimidade” entre os saberes curriculares fundamentais aos alunos e a experiência social que eles têm como indivíduos? (...).” (FREIRE, 1996, p. 30). Essas pessoas possuem uma condição de oprimido e assim apresentam dificuldades numa sociedade preconceituosa e excludente. Mas, esses jovens e adultos podem voltar aos estudos e mudar suas histórias. “(...) as trajetória sociais e escolares truncadas, não significam sua paralisação nos tensos processos de sua formação mental, ética, identitária, cultural, social e política. Quando voltam á escola, carregam esse acumulo de formação e aprendizagem.” (ARROYO, 2006, p.24) O olhar nesses estudantes deve estar centrado na perspectiva que eles já possuem conhecimentos ao chegarem à escola. É importante um pensamento crítico em torno desses sujeitos, levando em conta todo seu percurso de vida. Nesse sentido faz-se necessário a presença do professor na criação de possibilidades e condições para que a formação crítica aconteça. A EJA deve ser pensada dentro da perspectiva dos sujeitos que à referida modalidade pertencem, sujeitos com história de vida, conteúdos, participação na sociedade, não é possível deixar de lado as identidades dessas pessoas. Os alunos da EJA sofrem com sua condição de oprimido, mas muitos ainda não estão cientes dessa situação, aceitando o rótulo de fracasso e muitas vezes negando seus próprios direitos. Assim se faz necessário uma formação crítica-reflexiva na qual eles possam pensar sua condição, entendê-la e poder modificá-la. 32 Paulo Freire traz dentro da discussão da EJA, uma educação transformadora e libertadora, na qual os sujeitos despertem sua consciência em relação ao seu estado de oprimido, (...) a prática da liberdade só encontrará adequada expressão numa pedagogia em que o oprimido tenha condições de reflexivamente, descobrir-se e conquistar-se como sujeito de sua própria destinação histórica (...) (FREIRE, 1987, p. 09). A busca pela consciência crítica deve partir do homem, de sua ação e da reflexão, pois a conscientização baseia-se na relação constante entre a consciência e o mundo. A formação da consciência crítica deve ser feita através de uma educação libertadora. Situar o homem na sua condição fazendo com que o mesmo possa olhar criticamente para sua realidade e ao conhecê-la atuar sobre ela. 2.3 O PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM NA EJA A PARTIR DO SÓCIO – CONSTRUTIVISMO Falar de processo de ensino e aprendizagem na EJA não é simplesmente questionar temas e conteúdos para se trabalhar em sala de aula ou fora dela. É importante se discutir como esses sujeito aprendem, para a partir daí, tentar construir possibilidades para que os alunos possam de fato aprender. Discute-se mais uma vez o papel do professor como importante nesse processo, pesquisando meios através do próprio convívio com os alunos. O trabalho com os jovens e adultos deve acontecer de uma maneira dialógica, visando à libertação dos sujeitos, que por muito tempo se encontraram a margem da sociedade pela falta de oportunidades. “(...) Os jovens e adultos acumularam em suas trajetórias saberes, questionamentos, significados. Uma proposta pedagógica de EJA deverá dialogar com esses saberes.” (ARROYO, 2006, p. 35). E esse diálogo na visão de Paulo Freire deve começar “na busca dos conteúdos programáticos”. Assim, o professor deve partir de um diálogo com os alunos colhendo o maior número de informações possíveis para organizar sua próxima etapa. 33 Para o educador-educando, dialógico, problematizador, o conteúdo programático da educação não é uma doação ou uma imposição – um conjunto de informes a ser depositado nos educandos -, mas a devolução organizada, sistematizada e acrescentada ao povo daqueles elementos que estes lhe entregou de forma desestruturada. (FREIRE, 1987, p. 83-84). Os alunos jovens e adultos por possuírem especificidades de uma vida cheia de experiências já levam para a escola conhecimentos importantes para sua escolarização. E essas experiências e conhecimentos não podem ser desprezados pelos professores. “(...) muitas vezes, educadores e políticos falam e não são entendidos. Sua linguagem não sintoniza com a situação concreta dos homens a que falam. (...)” (FREIRE, 1987, p.87). Dentro dessa perspectiva o professor deve levar em consideração não só os saberes dos alunos jovens e adultos, mas também a necessidade do diálogo permanente para a troca de conhecimentos. Nesse sentidoArroyo (2006) converge com Freire ao afirmar que: Partir dos saberes, conhecimentos, interrogações e significados que aprenderam em suas trajetórias de vida será um ponto de partida para uma pedagogia que se paute pelo diálogo entre os saberes escolares e os saberes sociais. (...) (p. 35). No processo de ensino e aprendizagem dos alunos da EJA é muito importante considerar as relações sociais assim como em todas as outras modalidades. É interessante levar em consideração a convivência entre as pessoas para facilitar o aprendizado. As turmas de EJA normalmente são bastante diversificadas, além da mistura em relação à idade existe diversidade cultural e muito a se trocar. Em algumas turmas a diferença da idade chega a ser de 40 anos e por essa distinção, as trocas de experiências possibilitam aos alunos contato com novos conhecimentos, pois, é através das relações do homem com o mundo e com os outros homens que a aprendizagem acontece. (REGO, 2001). 34 Dentro de uma sala de aula da EJA é muito importante que o professor trabalhe dividindo a turma em equipes, interessante também é variar na separação das equipes, procurando sempre colocar os alunos com diferentes níveis de conhecimento juntos, para que possam ensinar e aprender, a partir da comunicação. Para Vygotsky (1994), a comunicação tem função importante na relação entre os homens, pois ela garante a “(...) preservação, transmissão e assimilação de informações e experiências acumuladas pela humanidade ao longo da história. (...)” (REGO, 2001, p. 54). Como exemplo desse movimento de comunicação dentro da sala de aula e das relações entre os estudantes da EJA, pode-se citar o uso das novas tecnologias, mas precisamente do computador, que pode ser melhorado a partir dessa maneira de se trabalhar. Utilizar o trabalho em grupo deixando sempre o aluno que já tem alguma experiência no assunto com aquele que menos sabe é uma forma de trabalhar o processo de aprendizagem do aluno jovem e adulto. Partir do princípio de que o aluno jovem e adulto aprende a partir de seus próprios conhecimentos, de sua vida e suas experiências é bastante pertinente, tanto que a experiência de Paulo Freire com o círculo de cultura e as palavras geradoras, fez e ainda faz parte de uma educação emancipadora, de uma luta histórica. Nos círculos de cultura o educando e o educador efetiva uma relação de discussões em que é apresentado aos alfabetizandos imagem do seu contexto vivido e real, inicia-se um debate e ao mesmo tempo a conscientização. “(...) todo aprendizado deve encontrar-se intimamente associado à tomada de consciência da situação real vivida pelo educando.” (FREIRE, 2007, p. 14). Paulo Freire sempre foi contra toda e qualquer forma de educação mecânica, assim, as palavras geradoras não eram simplesmente palavras jogadas para os educandos, eram pontos de partida para a tomada de consciência do educando através de seu “universo”, portanto: (...) não só se fixam os vocábulos mais carregados de sentido existencial e, por isso, de maior conteúdo emocional, mas também os falares típicos do povo. Suas expressões particulares, vocábulos ligados a experiência dos grupos, de que o profissional é parte. (FREIRE, 2007, p. 120). 35 Em meio a essa educação conscientizadora, dialógica, em que os jovens e adultos aprendem através das relações e também através de sua própria existência surgem novos debates e questionamentos. No presente momento utilizar as palavras geradoras pode ser além de muito importante uma surpresa para os educandos. Pois, diante das novas necessidades do homem com certeza seu vocabulário cultural tem sido acrescido de palavras que fazem parte do dia a dia, do trabalho e das notícias do mundo atual. Dentro desse contexto, é necessário discutir os sujeitos da EJA em vários momentos, e hoje, com os avanços tecnológicos é interessante situar o sujeito jovem e adulto nesse contexto. Lembrando sempre que essa apropriação tecnológica deve surgir do questionamento, do diálogo, partindo de uma educação crítica e reflexiva. 36 3 AS TECNOLOGIAS DIGITAIS E A EDUCAÇÃO: UMA PERSPECTIVA PARA A EJA As tecnologias sempre estiveram presentes na educação de alguma forma, principalmente porque falar em tecnologia é falar em quase tudo ao nosso redor, desde o lápis até as maiores inovações da contemporaneidade. Este capítulo apresenta um pouco sobre as novas tecnologias em geral por se tratar de uma contextualização necessária para a continuidade do estudo, discutindo sua presença na sociedade como um todo, e sua relevância para a educação escolar. Partindo de uma visão crítica e reflexiva discute-se sobre as potencialidades que as novas tecnologias oferecem às pessoas e de suas ações, despertando para os riscos de um uso desenfreado e sem criticidade por parte dos sujeitos. Considerando que este estudo busca discutir e analisar em que perspectiva a prática de produção de vídeo com educandos da EJA, pode ser favorável ao processo de aprendizagem e construção de consciência crítica destes sujeitos, torna-se necessário refletir sobre a inserção das tecnologias digitais na educação escolar, observando a postura de professores e alunos diante dos recursos tecnológicos digitais presentes hoje na sociedade e, principalmente, na escola. Afinal, o trabalho com a produção de vídeo envolve a apropriação e utilização de instrumentos tecnológicos, bem como uma articulação com procedimentos didático-metodológicos. Dando ênfase ao papel da escola no momento atual é discutida neste contexto a prática do professor e sua preparação para as novidades tecnológicas na educação. Os alunos por sua vez, devem atuar participando no processo de ensino e aprendizagem, o professor não poderá mais agir como detentor do saber, devem atuar como mediadores sempre respeitando os saberes dos educando. É preciso envolvê-los cada vez mais em processos que estimulem o exercício de autoria e produção de conhecimento, que valorize o capital cultural que cada um traz. Na EJA, a discussão sobre as tecnologias digitais na aprendizagem dos educandos é apontada como um processo que deve ser construído pelos próprios 37 sujeitos, mas mediado pelos educadores. Exige-se cada vez mais da educação, “(...) uma nova concepção de ensino e de aprendizagem baseada na pedagogia, (...) dialógica, (...) em que professor e aluno aprendem ao mesmo tempo, havendo uma relação de cumplicidade no processo (...)” (RIOS, 2005, P. 67). Com base na perspectiva sócio-construtivista, entende-se a importância de considerar os conhecimentos prévios como parte de seu desenvolvimento para mobilizar novas construções, e poderá favorecer uma apropriação crítica desses aparatos. Assim, acredita-se que a prática de produção de vídeos como uma possibilidade metodológica para o trabalho pedagógico na educação de jovens e adultos pode ser construtivo para os educandos envolvidos, na medida em que estes são convocados a participar de forma ativa, como protagonistas do seu próprio processo de aprendizagem e não meros coadjuvantes que só absorvem informações que lhes são transmitidas, em uma postura típica da Educação bancária. 3.1 AS NOVAS TECNOLOGIAS E A EDUCAÇÃO ESCOLAR Os avanços tecnológicos têm causado grande impacto na vida da sociedade como um todo. A população assiste a uma explosão de acontecimentos com a chegada das novas tecnologias. Aforma de comunicação, de transmissão de informações, tem forte influência desse momento. Assim, os novos meios de comunicação e informação possibilitam contato com notícias do mundo em instantes, as novas tecnologias já fazem parte do cotidiano das pessoas e essas por sua vez estão cada vez mais dependentes delas. De fato, atualmente, assistimos a mudanças profundas ocorrendo na sociedade e mesmo na vida privada das pessoas a partir dos avanços das novas tecnologias e dos novos meios de comunicação. (VIEIRA, 2002, p. 23). Por sua vez, essas mudanças não ajudaram a diminuir as diferenças sociais, muito pelo contrário, com a forte presença da lógica de mercado essas 38 novas tecnologias, acabaram de certa forma ajudando na segregação das classes menos favorecidas. Torna-se necessário o desenvolvimento de um senso crítico, de uma visão de mundo voltada para a promoção da vida que se desenvolve através de uma educação dialógica, ou seja, que se floresce em uma atmosfera de autonomia. (NASCIMENTO, HETKOWSKI, 2009, p.145). Mesmo sabendo das reais propostas do momento atual em relação à utilização das novas tecnologias, principalmente as tecnologias digitais que é de alimentar a lógica capitalista vigente, é certo colocar a discussão que apresenta a presença tecnológica de maneira “atraente” e até mesmo de contribuição em alguns aspectos da vida social. As relações sociais, vão sendo acrescidas de possibilidades diante das novas tecnologias, mas precisamente da internet, algumas melhorias como a rapidez de informações, facilidade de se comunicar, foram dando novo corpo a essas relações. (...) um novo sistema de comunicação que fala cada vez mais uma língua universal digital tanto está promovendo a integração global da produção e distribuição de palavras, sons e imagens de nossa cultura, como personalizando-os ao gosto das identidades e humores dos indivíduos. As redes interativas de computadores estão crescendo exponencialmente, criando novas formas e canais de comunicação, moldando a vida e, ao mesmo tempo, sendo moldadas por ela. (CASTELS, 1999, p. 22). Essas redes que interagem agora através da internet, já fizeram parte de outro contexto, hoje, muitas pessoas se comunicam com outras ferramentas e meios tecnológicos. No âmbito educacional essas novas redes também se fazem presentes e podem provocar melhorias, pois têm aproximado pessoas, grupos de discussões de vários lugares do mundo, e uma infinidade de possibilidades de entretenimento. É claro que essas melhorias só serão possíveis se a utilização desses meios fazer parte de uma apropriação crítica. O que é também palco de diversas discussões e bastante pertinente a se levar em consideração é que as novas tecnologias não poderão resolver os problemas sociais muito menos educacionais. É importante um desenvolvimento crítico da sociedade para que essa possa fazer uso também crítico dos aparatos 39 tecnológicos. O importante é criar as condições para que exista uma apropriação crítica em que as pessoas possam explorar as suas potencialidades criativas através destes recursos que, de certa forma, também ampliam as possibilidades de criação. É importante continuar levando em consideração que a sociedade encontra-se em um momento em que os avanços tecnológicos se fazem presentes em quase tudo na vida das pessoas, entretanto grande parte da população vive a margem dessa realidade. E quando possuem contato com alguma tecnologia nova, muitas vezes não conseguem se apropriar criticamente delas. (...) as transformações gerais da sociedade são, efetivamente, tendências do mudo atual que trazem benefícios, mas trazem, também, prejuízos. Principalmente, porque os benefícios não são para todos, ao contrário, destinam-se a uma minoria. (...). (LIBÂNEO, 2010). Nesse sentido, é preciso observar os dois lados da atual configuração social em torno das novas tecnologias. Pois, se de um lado existe a possibilidade de informar cada vez mais as pessoas, deixando-as mais atualizadas dentro do contexto em que vivem, por outro, pode aumentar as desigualdades e ainda alienar grande parte da população que não possui conhecimento suficiente para selecionar o volume de informações que estão ao seu alcance. É preciso lembrar que mesmo com um grande contingente de pessoas tendo acesso às novas tecnologias, esse número não é o mesmo quando se fala em apropriação devida dessas ferramentas. Principalmente porque nem todos possuem estruturas sociais possíveis para que isso aconteça. “(...) Enquanto leva à ampliação das possibilidades e vantagens para a vida de uns poucos, para a grande maioria da população elas se reduzem. (...)” (LIBÂNEO, 2010 p.76). A democratização do acesso a esses produtos tecnológicos – e a consequente possibilidade de utilizá-los para a obtenção de informações - é um grande desafio para a sociedade atual e demanda esforços e mudanças nas esferas econômicas e educacionais de forma ampla. (KENSKI, 2009 p. 26). 40 Muitas pessoas não estão preparadas para esse processo que vem ocorrendo rapidamente, transformando assim o que seriam possibilidades em uma paralisia ou alienação. Crianças e adolescentes estão sendo vítimas desse avanço tão veloz. A cada dia que passa o computador tem sido amigo fiel nas brincadeiras dos jovens, que trancados em seus quartos se expõem a riscos nas salas de bate papos. Por outro lado, é possível identificar contribuições com acesso a essa ferramenta, pois o computador pode trazer informações importantes através de jogos, sites interativos entre outros, mas é importante salientar que o aproveitamento será muito melhor se houver uma orientação de alguém mais experiente, neste caso, o professor. É nesse sentido que surge o grande papel da escola, de formar o sujeito para a reflexão crítica frente às mudanças tecnológicas, principalmente as transformações no âmbito da comunicação. Não é possível também falar de novas tecnologias e não apresentar outros aspectos sociais, como economia, política, pois esses estão imbricados nos aspectos educacionais. Sendo assim, a escola não pode deixar de apresentar, discutir e até mesmo aprender, novos conhecimentos porque ela está situada nesse contexto. A Secretaria de Educação a Distância criada pelo MEC em 1996 pelo decreto nº 1.917, tem contribuído com ações e programas, como o Proinfo Programa Nacional de Tecnologia Educacional, que contempla a educação básica, o programa leva as escolas, computadores e conteúdos digitais, o programa E-Tec Brasil Escola Técnica Aberta do Brasil, visa levar cursos técnicos e profissionalizantes através da modalidade a distância para regiões distantes e para periferia das grandes cidades. Esse programa atende aos alunos do nível médio, bem como alunos da educação de jovens e adultos. Entre os diversos programas a Secretaria ainda conta com espaços, que podem facilitar o trabalho do educador, como no caso do Portal do Professor, que contribui na formação, informação e disponibilização de conteúdos digitais para enriquecer o trabalho pedagógico do docente. Nesse espaço o professor encontra ambiente para troca de experiências com outros educadores, links que favorecem pesquisas, informações sobre cursos e materiais para estudo, conteúdos multimídias em que o professor poderá acessar e baixar recursos que poderá subsidiar sua prática. Nesses recursos o professor pode encontrar vídeos para trabalhar em sala de aula nas mais diversas 41 modalidades. No jornal do professor é possível acessar vários temas ligados à educação, nesse espaço o educador contribui
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