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0 CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS GUARULHOS – SP 1 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 3 2 A PRÁTICA DOCENTE NA EJA: A LDB E AS ESPECIFICIDADES DO EDUCANDO ADULTO.......................................................................................................................4 3 A PRÁTICA DOCENTE CONTEXTUALIZADA À REALIDADE DO EDUCANDO .... 6 4 ESTIMULAR O EDUCANDO ENQUANTO CIDADÃO A PARTIR DE UMA ABORDAGEM DIALÓGICA, CRÍTICA E REFLEXIVA ................................................ 9 5 OS PRINCÍPIOS DA ANDRAGOGIA ..................................................................... 12 6 O PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM DO ADULTO ............................... 14 7 AÇÕES ANDRAGÓGICAS EM SALA DE AULA .................................................... 16 8 A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO BRASIL ................. 17 9 A IMPORTÂNCIA DA EJA E A INCLUSÃO SOCIAL ............................................. 20 10 A EJA NAS DIFERENTES FASES DO DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO: DE 1945 ATÉ HOJE ........................................................................................................ 25 11 PROPOSTA METODOLÓGICA: ADAPTAÇÃO À DIVERSIDADE ENCONTRADA EM SALA DE AULA .................................................................................................. 34 12 AÇÕES METODOLÓGICAS A PARTIR DE UMA PROPOSTA INTERDISCIPLINAR E INTERCULTURAL PARA A EJA ......................................... 38 13 ADEQUAÇÃO DAS PRÁTICAS METODOLÓGICAS COM A REALIDADE DO ALUNO.......................................................................................................................44 14 PROPOSTAS ALTERNATIVAS PARA UMA APRENDIZAGEM BASEADA EM PROBLEMAS.............................................................................................................49 15 O TEMA GERADOR ENQUANTO PROPOSTA ADEQUADA À ANÁLISE, À INTERPRETAÇÃO E À CRÍTICA CONSIDERANDO DIFERENTES CONTEXTOS CULTURAIS...............................................................................................................52 16 RELACIONAR A INTERDISCIPLINARIDADE COM PROJETOS DE ENSINO QUE UTILIZAM O TEMA GERADOR COMO PROPOSTA DE TRABALHO ..................... 57 2 17 LETRAMENTO E PRÁTICAS SOCIAIS DE LEITURA E ESCRITA NO CONTEXTO DO ALUNO.................................................................................................................60 18 ALUNO COMO SUJEITO-AUTOR DE SUAS APRENDIZAGENS ....................... 62 19 A IMPORTÂNCIA DO TRABALHO DA ORALIDADE E DA PALAVRA ESCRITA..64 20 TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E DA COMUNICAÇÃO E O EJA .................. 66 21 LETRAMENTO DIGITAL NA EJA ........................................................................ 68 22 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA E A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS ........... 71 23 O LEGADO DE PAULO FREIRE PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS...................................................................................................................74 24 A INFLUÊNCIA DA EDUCAÇÃO POPULAR NO SISTEMA EDUCACIONAL DO BRASIL E NA AMÉRICA LATINA ............................................................................. 77 25 A PRÁTICA DA EDUCAÇÃO POPULAR E O MARCO DE REFERÊNCIA DA EDUCAÇÃO POPULAR PARA AS POLÍTICAS PÚBLICAS CRIADO EM 2014 ....... 79 3 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O grupo educacional Faveni, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 4 2 A PRÁTICA DOCENTE NA EJA: A LDB E AS ESPECIFICIDADES DO EDUCANDO ADULTO A atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9.394/96, nº art. 37, define que a Educação de Jovens e Adultos é uma modalidade de ensino destinada ao público que, por diversos motivos, não teve acesso ou foi excluído do sistema educacional ou, ainda, que não deu continuidade aos estudos no Ensino Fundamental e Médio na idade própria. É definido, também, que essa modalidade tem como finalidade ampliar a visão de mundo desses estudantes e prepará-los para o mercado de trabalho. O objetivo da EJA é despertar o potencial de cada um, fazendo com que o sujeito assuma seu devido lugar na sociedade e saiba utilizar o exercício pleno da cidadania. A Educação de Jovens e Adultos precisa ser desenvolvida de modo a conduzir o aluno a apreender de forma analítica a realidade em que está inserido, para que tenha condições de enfrentá-la de maneira crítica e reflexiva. O trabalho na EJA, não pode ser um ato mecânico, e os alunos não podem ser vistos como objetos, sem história e conhecimentos da vida. A Educação de Jovens e Adultos, deve ser pautada no respeito mútuo, por meio de diálogos e reflexões críticas da sociedade (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). E o grande responsável por este árduo trabalho é o professor, aquele profissional com curso superior em Licenciatura e apto a ensinar e compartilhar seus conhecimentos no cotidiano da sala de aula, por intermédio de métodos e práticas de ensino. Ao entender a relação existente entre professor e prática docente, construiremos atividades educativas efetivas para a EJA, atendendo aos diversos grupos sociais, que caracterizam a diversidade da sala de aula (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). É sempre importante destacar qual é o conhecimento do mundo, de sociedade e quais são as experiências que esse profissional possui, pois, de certa forma, seremos conduzidos por esse sujeito, para um mundo mágico a ser descoberto, que poderá transformar vidas e sonhos. O professor é o mediador da cultura e dos saberes (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Para Souza (2011), é preciso definir qual é a concepção que marca a ação do professor. Concepção é o ponto de partida, que fundamenta a ação. É preciso verificar 5 se essa é uma concepção tradicional ou se é uma concepção crítica que orienta o pensar e o fazer educativo. Para Mizukami (1986), a abordagem tradicional do ensino identifica o aluno com parte de um mundo que ele irá conhecer, isto é, a realidade será transmitida a ele. Nessa visão a educação se restringe à instrução e à transmissão de conteúdo, preocupando-se com a armazenagem de conhecimentos. Os professores, aqui, são os detentores do saber e instruem os alunos com aulas expositivas e com a verificação da memorização dos conteúdos. Seguindo essa abordagem tradicional de ensino, a Educação de Jovens e Adultos é caracterizada como uma réplica da educação de crianças, preocupando-se excessivamente com as técnicas de ensino; os conteúdos são não fazem parte da realidade de cada aluno e os professores procuram manter uma distância de seus educandos, sem formar nenhum vínculo. A técnica de oralidade, da escrita e da leitura, nessa abordagem, é compreendida como um processo de decodificação (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017).De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a EJA (BRASIL, 2000), é fundamental um modelo pedagógico próprio, que propicie a equidade, que respeite a diferença e que tenha proporcionalidade, com disposição dos componentes curriculares de forma a garantir práticas pedagógicas que assegurem a seus alunos a construção de uma identidade formativa comum aos demais participantes da escolarização básica. É importante que você entenda que as Diretrizes não são normas, mas sim norteadoras de um processo educacional nacional, que possuem certa flexibilidade, variando de acordo com as necessidades regionais. Quando falamos de Educação de Jovens e Adultos, falamos de uma educação para o cidadão com escolarização incompleta ou ainda não iniciada, que vai em busca de educação, ainda que tardiamente. A interrupção ou o impedimento, ocorrem em um contexto amplo de exclusão social e cultural, que poderá estar presente novamente nessa nova oportunidade de escolarização, principalmente quando esses estudantes são negros, pobres, oprimidos e excluídos (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Os docentes da EJA devem reconhecer seu aluno como um sujeito de conhecimento e aprendizagem, com especificidades e identidade cultural distintas, 6 ainda que composta por histórias de vidas bastante diferenciadas, mas marcadas pela exclusão ou marginalidade social. Para Fonseca (2012), os educadores devem se comprometer com uma política de inclusão e de garantia de espaço de jovens e adultos na escola, como sujeitos socioculturais que apresentam perspectivas e expectativas, desafios e desejos próprios em relação à educação escolar. A evasão escolar, muitas vezes, é responsabilizada pelo fracasso na aprendizagem, mas sabe-se que os alunos que abandonam as escolas, o fazem por diversos fatores sociais e econômicos. Cabe ao docente ressignificar sua prática, respeitando as diferenças individuais e culturais presentes na sala, a fim de formar cidadãos reflexivos, críticos, com liberdade e senso de responsabilidade. E o docente responsável que tem paixão por aquilo que faz contribui muito na formação desse cidadão, ao assumir seu verdadeiro papel político na educação. A EJA garante o direito à educação e à aprendizagem, de maneira viável à toda a população (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). É importante ressaltar que os Parâmetros Curriculares Nacionais são contraditórios e não atendem integralmente às necessidades do aluno com relação à preparação para o mercado de trabalho e à formação do caráter do cidadão de modo mais abrangente, o que é (ou deveria ser) inerente ao processo educativo escolar. Para Barcelos (2012), o ensino não pode ser exclusivista, mas sim pautar-se pela busca de uma formação aberta à diversidade, contemplando, dessa forma, as diferentes dimensões e possibilidades do ser humano. A EJA não pode continuar seguindo as mesmas orientações e perspectivas curriculares que nos levaram aos modelos atuais de currículos nas demais modalidades de ensino. O currículo e as práticas pedagógicas escolares precisam ser repensados, a fim de criar uma visão que alargue esse repertório de componentes curriculares e ajude a conduzir os alunos à compreensão do mundo e dos espaços em que estão inseridos (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). 3 A PRÁTICA DOCENTE CONTEXTUALIZADA À REALIDADE DO EDUCANDO A modalidade de ensino de jovens e adultos recebe alunos de diversos níveis culturais e educacionais, o que faz da sala de aula um ambiente rico e marcado pela 7 diversidade cultural. Muitos ali se encontram em idade de pertencer ao mundo do trabalho, outros já abandonaram a escola diversas vezes, por inúmeros motivos. No entanto, ao avaliar a questão, é importante que você se lembre que aprender é um processo que ocorre ao longo de toda a nossa vida e que não aprendemos somente nas escolas, mas em todos os espaços sociais, construindo um conhecimento popular ou tácito (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Quando assumimos, enquanto educadores, a tarefa de trabalharmos com a EJA, primeiramente devemos nos perguntar: “Qual é o meu público? ” – sim, público! Encontramos na EJA alunos que trazem experiências de vida bem distintas; há idosos, pessoas com déficit de atenção (antes excluídas das escolas) ou portadoras de outros problemas físicos e intelectuais, operários (que em sua infância e juventude também ficaram fora da escola) e jovens (que por questões, muitas vezes, de ordem moral e familiar, evadiram-se da escola e que, agora, mais responsáveis e cônscios, querem voltar aos estudos em busca de certificados). Enfim, um público com perfil variado e heterogêneo (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). É imprescindível que o educador conheça, portanto, cada caso, e que possa compor seu plano de metas e trabalho didático de acordo com essa realidade. Para isso, primeiramente é preciso planejar a aula de acordo com a realidade do educando. Em que ele trabalha? Qual é a sua realidade sociocultural? Como ensinar Língua Portuguesa e Matemática utilizando-se de ferramentas do dia a dia do educando? Como explicar Ciências, História e Geografia utilizando-se de recursos e meios que tornem a aula mais interessante? Como estimular a reflexão, fazendo com que os alunos busquem ainda mais o conhecimento e que sejam, de fato, protagonistas do próprio aprendizado? A prática docente é um assunto muito discutido no sistema educacional, que, muitas vezes a aponta como a única responsável pelo sucesso ou fracasso do aluno da EJA e como se o professor fosse um profissional descompromissado, desinteressado, desinformado e desatualizado, tornando-se o grande vilão da educação – embora o professor seja parte essencial do processo de construção de uma escola de qualidade (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). A prática educativa voltada aos princípios da educação inclusiva exige o reconhecimento do direito irrestrito a uma educação de qualidade para todos os 8 alunos, independentemente das características orgânicas, psicossociais, culturais, étnicas ou econômicas que eles possam apresentar. Ela significa, também, educar para a diversidade, gerando empenho na busca constante da equidade na aprendizagem e cuidado para que as “[...] desigualdades diante da escola atenuem- se e, simultaneamente, para que o nível do ensino se eleve. ” (PERRENOUD, 2001, p. 9). Os modelos de educação já cristalizados precisam ser superados, pois não atendem às características e necessidades do aluno e da comunidade escolar como um todo. Eles precisam ser reformulados de maneira que venham a considerar a complexidade e a diversidade como aspectos inerentes aos contextos social e educacional (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Segundo Leite (2006), a educação da EJA, compreendida como atenção à diversidade, convida o currículo a modificar-se para atender aos diferentes interesses, ritmos de aprendizagem e às mais diversas formas de aprender, incorporando as diferenças como elementos enriquecedores do processo ensino-aprendizagem. O exercício da docência se constitui em um dos níveis de concretização do currículo sobre o qual o professor opera transformações, ao priorizar determinado conteúdo ou ao escolher a forma como irá abordá-los, dentro de uma relativa autonomia. O raciocínio pedagógico empregado pelo docente deve ser fruto de um processo de reflexão sobre a própria prática, uma vez que as transformações operadas por ele revelam uma intencionalidade, uma visão de educação (SACRISTÁN, 2000). Se pretendemos indicar o grande desafio da atual educação, podemos afirmar que se trata de dar forma, significado e sentido, por meio de prática refletida, que nos remeta a considerar que aprender e usar o que se aprende são ações distintas, porém correlatas, e necessárias na atualidade (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Espera-se que o professor, como representante experiente de uma cultura, conheça as concepções e domineas técnicas e os protocolos, para fazer cumprir sua função social. A atual LDB (Lei de Diretrizes e Bases), que rege a educação nacional, orienta que os conteúdos trabalhados nas salas de aulas não continuem sendo abordados de forma fragmentada, como era feito no passado, mas que sejam trabalhados de modo a explicitar ao aluno que as ciências diversas são ligadas entre si por diversos 9 aspectos, gerando, portanto, uma visão de conjunto (BRASIL, 1996). O ensino da EJA deve basear-se na reflexão e no debate, procurando aproveitar as potencialidades de seus alunos, assim como utilizar os saberes sociais que eles já construíram a partir de suas vivências, principalmente as ligadas ao mundo do trabalho. Partindo daquilo que o aluno já conhece, cria-se a possibilidade de se estabelecer um diálogo entre o conhecimento informal e o saber escolar, trazendo questionamentos aos estudantes e compondo novas chaves para a construção de uma nova educação e uma nova sociedade. Trabalhar a partir do interesse dos alunos não quer dizer que o professor precisará deixar de ministrar os conteúdos que fazem parte do seu plano de trabalho, pois o saber formal é construído a partir de problemas do cotidiano. É fundamental, no entanto, que o professor dê um tratamento crítico àquilo que está analisando em conjunto com os alunos. Um tratamento crítico realiza- -se com o desenvolvimento de debates, análise e construção de argumentos, respeitando os diferentes pontos de vistas e a diversidade de opiniões (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Não há construção de conhecimento nem interesse de se construir conhecimento quando o principal envolvido, nesse caso o aluno, se sente afastado daquilo que deveria aprender. Tentar prender conteúdos que não apresentam significado e nem relação com seu cotidiano, torna a matéria confusa e, muitas vezes, incompreensível e sem sentido, o que gera desmotivação eleva o aluno a desistir de continuar seus estudos. Diante disso, faz-se necessária uma mudança de postura dos professores, que devem reavaliar suas práticas, reorganizar os conteúdos e promover mudanças de atitude nas práticas em sala de aula. O professor deve, ainda, estabelecer desafios estimulantes para seus alunos buscarem o conhecimento, encontrando significado e prazer na aprendizagem (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). 4 ESTIMULAR O EDUCANDO ENQUANTO CIDADÃO A PARTIR DE UMA ABORDAGEM DIALÓGICA, CRÍTICA E REFLEXIVA Os conteúdos escolares são muito importantes para a formação de uma comunidade de aprendizagem. A escola e os seus docentes devem buscar promover a integração dos alunos com o contexto escolar e comunitário. 10 A ressignificação dos conteúdos passa pela construção de uma grade curricular e deve seguir alguns preceitos, tais como: Definição do cenário em que os alunos estão inseridos (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Definição do perfil dos alunos. Definição dos temas significativos para os estudantes. Definição do tipo de cidadãos que se pretende formar. Todos esses aspectos devem ser trabalhos dentro do projeto político- pedagógico da escola. Esse é um projeto que se caracteriza por ser uma construção coletiva, flexível, capaz de gerar mudanças e ajustes de acordo com o processo do seu desenvolvimento. A grade curricular é o centro das atividades escolares e deve ser desenvolvida dentro de um novo paradigma educacional, que proponha mudanças e pretenda formar cidadãos competentes, com habilidades para resolver situação-problema no seu cotidiano. A Educação de Jovens e Adultos, deve quebrar o vínculo com a abordagem tradicional que impera na educação, na qual existe a preocupação de armazenagem de conhecimento, o predomínio da metodologia expositiva e a avaliação baseada na memorização de conteúdo (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). A escola precisa assumir uma concepção dialógica de educação defendida por Paulo Freire, caracterizada pela busca da interação entre homem e mundo, sendo o sujeito entendido como elaborador e criador de conhecimentos. Essa concepção defende a ideia de que ao buscar a formação do sujeito, torna-se possível pensar no papel da educação na construção de uma sociedade mais justa e democrática. O homem é pensado e educado tendo como pressuposto sua cultura e a sua prática social, utilizando o diálogo como meio de socialização de ideias capazes de promover transformações na sociedade (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). A metodologia se caracteriza pelo diálogo e pela problematização dos conteúdos escolares em relação aos aprendizados disponíveis no mundo e na vida cotidiana dos alunos. De acordo com Souza (2011), na concepção dialógica/problematizadora da EJA existe uma preocupação com o desenvolvimento da consciência política do cidadão, por meio de um trabalho coletivo e de valorização da prática social dos 11 sujeitos envolvidos no processo educacional. Dessa forma, a alfabetização deixa de ser um processo de aquisição de escrita, leitura e ortografia e torna-se o processo de interpretação dos conteúdos que envolvem as palavras e o discurso. A escola, portanto, é uma mola propulsora que incentivará a busca contínua de uma educação emancipadora, na qual as práticas focalizarão o conteúdo social e o diálogo, proporcionando o desenvolvimento da consciência crítica. Ao se tornarem cidadãos reflexivos, os alunos ampliam seus conhecimentos e sua capacidade cognitiva, tornando-se autônomos, críticos e responsáveis pela transformação da sociedade. Conscientizar a sociedade significa desenvolver ações de integração baseadas no respeito a valores fundamentais como os direitos humanos e, sobretudo, reconhecer que os indivíduos devem ser senhores do seu próprio destino (MELO NETO, 2003). Na concepção dialógica, a preocupação é trabalhar com os conhecimentos de modo que o aluno consiga utilizá-los nos seus afazeres do cotidiano, ganhando complexidade, à medida que forem sendo debatidos no grupo. Partir da realidade do aluno não significa que temas que não fazem parte da realidade material dos sujeitos não devam ser abordados, mas sim que sejam planejadas condições para promover reflexões críticas sobre esses conteúdos, oportunizando o conhecimento, a compreensão e o desenvolvimento de estratégias de alternativas de soluções (SCHWATZ, 2012). Para Souza (2011), a educação e a alfabetização constituem o ato de conhecimento que emancipa e que motiva para as transformações e modificações do meio. Percebe-se a necessidade de que as teorias sejam ressignificadas, (re) interpretadas, reconstruídas e, finalmente, compreendidas. O professor precisa, com base nos seus conhecimentos prévios, estabelecer relações que articulem as teorias com as produções dos alunos e as práticas que estão sendo implementadas. O pensamento reflexivo é despertado no estudante com interesse em resolver uma situação-problema, desenvolvendo sua capacidade de raciocínio, pregando a dinâmica do ensino e a motivação em busca de novos desafios (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). O aluno percebe sua importância na educação, deixando de ser um mero expectador, receptor de conhecimentos, para transformar-se em um produtor de conhecimentos, tornando-se um cidadão com pensamento reflexivo, que questionará 12 a forma como a sociedade se apresenta, tendo consciência da sua capacidade de mudá-la e ou de transformá-la por intermédio das suas ações. A educação colabora não apenas para a formação intelectual, mas também para a formação moral e cultural das pessoas. O que se almeja alcançar é a formação de um cidadão capaz de entender a educação de forma reflexiva, a fim de incorporá-la no seu mundo e nas relações com seus semelhantes. A concepção dialógica dos professores poderá contribuir para que a interação professor-aluno seja marcada pelo respeito mútuo e pela tolerância, valores fundamentais para a construção de cidadãos que contribuempara o desenvolvimento de uma sociedade mais justa e igualitária (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Como afirma Haydt (2006), na relação professor-aluno, o diálogo é fundamental. A atitude esperada no processo de ensino-aprendizagem, é aquela que parte de uma questão problematizadora para desencadear o diálogo, no qual o professor transmite o que sabe, aproveitando os conhecimentos prévios do aluno. Assim, ambos chegam a uma síntese que elucida, explica ou resolve a situação- problema que iniciou a discussão. A interação professor-aluno poderá, dessa forma, contribuir para a efetividade do processo de ensino e aprendizagem, à medida que o professor valorize os conhecimentos prévios dos estudantes e permita a sua expressão por meio do diálogo. O docente precisa entender que ensinar não é somente transferir o seu conhecimento, mas sim criar oportunidades, para que o aluno produza seu próprio saber, desenvolvendo. Desta maneira, a criticidade. O que se deseja com uma educação conscientizadora é despertar no aluno o interesse pela busca de soluções, é promover uma educação voltada à cidadania (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). 5 OS PRINCÍPIOS DA ANDRAGOGIA O termo “andragogia” foi utilizado pela primeira vez em 1833 por Alexander Kapp, professor alemão, para descrever elementos da teoria da educação de Platão, que exercitava a indagação, a interpretação e a dialética com pequenos grupos de jovens e adultos. Em 1921, o professor alemão Eugen Rosenstock utilizou o termo 13 “andragogia” para indicar a atuação de professores envolvidos com a educação de adultos e suas bases filosóficas e metodológicas (BES, 2017). Em 1926, Eduard C. Lindeman publicou o resultado de sua pesquisa sobre a educação de adultos, intitulada The meaning of adult education (O significado da educação de adultos), em que revelou a influência de John Dewey, filósofo e pedagogo norte-americano, que defendia a ideia de que uma escola comprometida é aquela em que a atuação do professor proporciona a conexão das disciplinas escolares com o interesse dos alunos, na qual prática e teoria levariam o aluno ao desenvolvimento do pensamento científico (BES, 2017). Você sabe quais são os interesses dos adultos em estudar hoje? Ou, parafraseando as ideias de Lindeman (2015): estariam os adultos, hoje, interessados em aprender ou simplesmente em dar continuidade aos seus estudos? Repare que a forma como o mundo se reconfigura após a globalização – principalmente após os anos 1980 – faz com que surja outra lógica para a busca pela formação intelectual ou pela apropriação de uma escolarização mais alta por parte da sociedade. No momento da seleção para uma vaga qualquer, são beneficiadas as pessoas que apresentam currículo melhor em termos de habilitações intelectuais conseguidas através de cursos universitários de graduação, pós-graduação ou técnicos e de extensão. A norma é esta, o que faz com que cada vez mais pessoas busquem qualificação e educação formal e não formal que possam mantê-las inseridas ou inseri-las no mercado de trabalho. Se o indivíduo não consegue uma boa colocação de emprego, sua renda diminuirá e pode impedi-lo de continuar se qualificando através dos estudos e de manter da empregabilidade (BES, 2017). Aquino (2008) coloca que, em 1970, o estadunidense Malcolm Shepherd Knowles (1913-1997) foi o mais importante representante da educação de adultos, sugerindo uma postura de “auxiliar as pessoas a aprenderem ao invés de ensiná-las”. Essa ideia inicial de Knowles é muito potencializada com as ideias que remetem hoje ao “aprender a aprender” e ao “lifelong learning”, ou seja, a tendência/obrigação de aprendermos ao longo da vida, que nos leva a modificar e rever as formas como aprendemos. Segundo Knowles, Holton III e Swanson (2009), são estes os princípios da andragogia: 14 Necessidade do aprendiz de saber; Autoconceito do aprendiz; Experiência anterior do aprendiz; Prontidão para aprender; Orientação para aprendizagem; Motivação para aprender. Vamos analisar cada um desses princípios na próxima seção, procurando estabelecer suas principais características e implicações para os alunos adultos. 6 O PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM DO ADULTO O primeiro princípio citado é a necessidade do aprendiz de saber, o que remete ao entendimento de que o aluno adulto precisa saber quais os motivos de aprender tal conteúdo, quando isso será utilizado, isto é, o indivíduo necessita de contextualização para que se motive e desperte o interesse pelo que será estudado (BES, 2017). O segundo princípio proposto por Knowles, o autoconceito do aprendiz, relaciona-se com a maior independência do adulto, logicamente em comparação com a postura do educando infantil. O adulto apresenta um comportamento independente e autônomo, devendo ser envolvido nas propostas que serão desenvolvidas em sala de aula. Ao contrário da criança, toma suas próprias decisões que podem ser, inclusive, as de não frequentar as aulas caso as considere infantilizadas demais ou sinta que sua participação não é querida ou incentivada (BES, 2017). 15 O terceiro princípio – a experiência anterior do aprendiz – é essencial, uma vez que a andragogia irá valer-se de todas as experiências vividas pelos educandos durante a vida. O professor deve procurar conhecer essas histórias de vida particulares dos alunos e utilizá-las no desenvolvimento de suas aulas, articulando-as aos projetos desenvolvidos e às atividades propostas para a turma. Paulo Freire (1996, p. 123), grande expoente da EJA no Brasil, comenta que “respeitar a leitura de mundo do educando significa tomá-la como ponto de partida para a compreensão do papel da curiosidade, de modo geral, e da humana, de modo especial, como um dos impulsos fundantes da produção do conhecimento”. Essa leitura de mundo relaciona-se àquilo que o aluno traz consigo, logo, envolver as experiências dos adultos durante as aulas motiva e favorece a aprendizagem de forma significativa, ao mesmo tempo em que possibilita uma maior integração da turma por conhecerem um pouco mais das trajetórias dos colegas, que tanto podem aproximar-se quanto distanciarem-se das suas próprias. Esse incentivo faz surgir no aluno a prontidão para aprender (BES, 2017). A orientação para aprendizagem também é de extrema importância, pois trata da aplicação imediata do que está sendo estudado. O educando adulto não mais se contenta com explicações de que um dia aquele conteúdo será útil, pois precisa enxergar como será aplicado agora, no momento atual para resolução de problemas e desafios cotidianos – caso contrário, perderá o interesse. Necessita que os conteúdos causem impactos diretamente no seu desempenho em algum fator específico. Exemplificando, o adulto que se inscreve em um curso de desinibição e oratória pretende terminar o curso comunicando-se muito melhor do que quando entrou, esse é o principal motivador (BES, 2017). 16 A motivação para aprender é, para o adulto muito mais intrínseca (interna) e se associa à busca por autorrealização e reconhecimento que poderá ser conquistado através deste investimento em estudar e qualificar-se. Embora um salário melhor e uma projeção na sua carreira profissional (fatores externos) possam levar à satisfação de algumas necessidades, é internamente que o adulto percebe, sente e decide aprender algo (BES, 2017). 7 AÇÕES ANDRAGÓGICAS EM SALA DE AULA Uma vez conhecidos os princípios andragógicos e a forma como os educandos adultos aprendem, pode-se nortear como poderá ser desenvolvido o trabalho do docente em sala de aula com esse público particular e atendendo suas especificidades. A primeira ideia que o docente deve ter em mente ao planejar e desenvolver seus processos educativos com os adultos é que esses devem ser envolvidos nas escolhas dos temas, na construçãodos projetos e propostas a serem desenvolvidas, o que garantirá a sua participação e favorecerá o seu comprometimento em sala de aula. Agindo desta forma, passa-se da tradicional ideia da aprendizagem centrada no professor para aquela centrada no educando (BES, 2017). Paulo Freire (1996, p. 86) lembra que “[...] o fundamental é que professores e alunos saibam que a postura deles, do professor e dos alunos, é dialógica, aberta, curiosa, indagadora e não apassivada, enquanto fala ou enquanto ouve”. Os projetos estabelecidos em comum acordo, dialogados e deliberados com os alunos, estarão de acordo com suas necessidades reais e particulares, possibilitando que os discentes, nesse caso, reconheçam os motivos que os levaram a estudar dentro das práticas propostas. Então, antes de entregar a proposta pronta e impor o que fazer, o professor deve dialogar e fazer com que todos possam participar e ser ouvidos sobre as formas como os aprendizados serão desenvolvidos (BES, 2017). Delegar liberdade para que alguns grupos possam sugerir e desenvolver suas tarefas de forma livre e diferenciada é uma ótima estratégia, que funciona muito bem com o público adulto, pois permite que sejam utilizadas vivências anteriores e exerçam 17 sua criatividade de forma independente. Os resultados normalmente são melhores do que aqueles simplesmente colocados pelo professor. Os processos de ensino-aprendizagem com o público adulto são diferentes dos da criança, uma vez que devem adaptar-se às características destes, seus anseios e expectativas. Pode-se apontar como essencial a busca pelo envolvimento dos educandos nas aulas e a valorização constante de suas experiências anteriores e de suas pretensões que os levaram a estudar novamente, como sendo as características primordiais para o sucesso da andragogia (BES, 2017). 8 A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO BRASIL A alfabetização de jovens e adultos existe desde a colonização do Brasil. Naquela época, essa educação veio com os jesuítas, que ensinaram os índios. Posteriormente, com a chegada da família Real, em 1808, as escolas passaram a ser prioridade de quem tinha condições econômicas, ou seja, somente os nobres frequentavam as escolas. Logo, nem todos tinham o direto de estudar. Segundo Ghiraldelli Jr. (1992), a educação brasileira teve início com o fim dos regimes das capitanias. A educação no período colonial teve três fases: A de predomínio dos jesuítas, que, na sua forma de ensinar a língua portuguesa e passar conhecimentos científicos, enfocavam a religião (catequização dos indígenas); A das reformas de Marquês do Pombal, que, com a expulsão dos jesuítas, dá início à organização das escolas de acordo com o interesse do Estado; 18 A do período de D. João VI, que, apesar de ter estabelecido diversas instituições de ensino, como a Academia Real Militar, e escolas noturnas, sofria pela ineficiência do Estado para mantê-las em funcionamento; logo, a educação ficava cada vez mais relegada a segundo plano. Com a Independência do Brasil, em 1822, a Constituição Brasileira (Carta Magna de 1824) estabeleceu o ensino primário gratuito e para todos, porém nem todos tinham acessibilidade. A única lei geral sobre a instrução primária foi promulgada em 15 de outubro de 1827 e preconizava que as escolas deveriam ensinar a ler, a escrever e a utilizar as quatro operações de aritmética, bem como noções gerais de geometria prática, gramática, moral cristã e doutrina católica. As meninas foram incluídas, mas com currículos diferenciados, delimitando, já na formação educacional, seu papel na sociedade brasileira. As primeiras Escolas Normais para formar professores surgiram em 1835. A instrução era uma ferramenta para fortalecer um Estado Nacional independente e para civilizar o povo brasileiro, visando a acabar com a “desordem” das ruas. Segundo Vidal e Faria Filho (2003), 20 anos depois da independência do Brasil, foram criadas diversas Faculdades de Direito, mas, devido à conjuntura da época, apenas as elites tinham acesso a essa formação. Logo, a maioria da população não tinha condições de frequentar a escola. O Ato de 1834 modificou a constituição de 1824 e estabeleceu que as Assembleias Provinciais atuariam no ensino elementar e secundário, deixando para o Estado Imperial a responsabilidade de cuidar do ensino superior em todo o país, como município da Corte operando nos demais níveis de ensino. A visão predominante (e ilusória) era de que todas as pessoas, pobres, brancos e negros, deveriam passar pela escola para adquirir as noções da cultura e da civilização ocidental (europeia), isto é, somente a educação conseguiria desenvolver o país (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). O primeiro recenseamento demográfico do Brasil aconteceu em 1872 e apurou um índice de analfabetismo alarmante: somente 17,7% da população entre 6 e 15 anos havia frequentado a escola, portanto, mais de 82% da população não sabia 19 ler nem escrever. Nos debates políticos do período, o analfabetismo era um problema relacionado a questões eleitorais e econômicas (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). A Lei nº 9, de 22 de março de 1874, inaugurou na Província de São Paulo a obrigatoriedade ensino primário junto aos futuros cidadãos que deveriam ser preparados para ajudar a construir uma nova nação, mas esse princípio estava muito distante da realidade, dada a situação precária do ensino público (poucas escolas e mal estruturadas) (HILSDORF, 2003). Cabe destacar aqui a forte participação de sociedades, associações leigas e religiosas e de outras instituições particulares na proposição de projetos educacionais no auxílio à instrução de crianças e de adultos trabalhadores em outros espaços, tanto em instituições privadas quanto na família. Em 1879, Carlos Leôncio de Carvalho encabeçou uma reforma educacional, por meio do art. 4º do decreto 7.247, que criou cursos noturnos para adultos do sexo masculino nas escolas públicas de instrução primária. Essa iniciativa influenciou a reforma eleitoral, a Lei Saraiva de 1881, que, entre outras medidas, previa a eleição direta, a elegibilidade dos não católicos, libertos e naturalizados, embora conservasse a restrição de renda mínima, e instituía, pela primeira vez, o voto apenas às pessoas alfabetizadas. Isso significou uma redução drástica no número de eleitores, que de 10% passou a ser de menos de 1% da população (FARIA FILHO, 1998). Para Paiva (1983), Rui Barbosa ansiava que o impedimento ao voto do analfabeto gerasse um maior investimento na instrução do povo, para que pudessem participar como cidadãos da vida política do país. No entanto, o que aconteceu foi o contrário: a Lei Saraiva, em vez de estimular o poder público na difusão da instrução, disseminou o preconceito em relação ao analfabeto. A Lei Saraiva, de certa forma, transformou a instrução em um importante mecanismo de exclusão tanto para os recém-libertos quanto para as classes trabalhadoras. Assim, se no Império as pessoas eram selecionadas para participar da política pelos critérios econômicos, na República essa seleção se dava por critérios de instrução. A partir de 1889, os republicanos históricos operavam com a mentalidade de democracia e progresso vinculada à instrução, utilizando-a como meio de educar e instruir a população. A escola era o lócus de formação para o novo homem republicano, produto e também produtor de uma sociedade moderna, democrática e progressista. 20 A partir da Revolução Industrial no Brasil (na década de 1930), que ocorreu quando as indústrias necessitavam de mão de obra especializada e o país nada tinha para oferecer, parte da população começou a migrar do campo para a cidade em busca de novas oportunidades e, com isso, houve a necessidade de alfabetizar os trabalhadores, daí a criação de escolas noturnas para adultos. Começaramentão os debates para popularizar o acesso às escolas, pois muitos acreditavam que toda a sociedade poderia se beneficiar com uma educação de qualidade. De fato, o governo passou a ver as entidades como utilidade pública, ou seja, começou a valorizar as pequenas instituições que buscavam meios de alfabetizar seus jovens e adultos mesmo sem condições financeiras. A Educação de Jovens e Adultos começou não como uma forma governamental, mas, sim, como um modo de conscientização de que todos tivessem o mesmo direito. Vamos ver agora por que a da EJA é importante para a inclusão social (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). 9 A IMPORTÂNCIA DA EJA E A INCLUSÃO SOCIAL A Educação de Jovens e Adultos (EJA) tem a função social de assegurar a escolarização dos sujeitos que, historicamente, foram excluídos do direito à educação. Assim, deve-se cuidar para não reproduzir na escola as práticas excludentes da sociedade, pois seu papel é justamente a formação de sujeitos capazes de intervir de forma crítica e reflexiva, problematizadora, democrática e emancipatória, com voz, vez e decisão na solução e superação dos problemas e desafios à sua sobrevivência e existência: “Ninguém ignora tudo, ninguém sabe tudo, todos nós sabemos alguma coisa, todos nós ignoramos alguma coisa. Por isso aprendemos sempre. ” (FREIRE, 2001, p. 34). 21 São jovens e adultos de camadas populares que, ao interromperem sua trajetória escolar, repetem histórias, muitas vezes coletivas e familiares, de negação dos direitos. Negar o enraizamento dessa negação, dessa identidade coletiva, social e popular, compromete a percepção da própria identidade da EJA, correndo o risco de a modalidade ser encarada como mera oferta individual de oportunidades pessoais perdidas (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Para discutir o problema da educação e chegar a considerações capazes de orientar uma solução para o analfabetismo adulto, é preciso um olhar justo e verdadeiro, que só pode vir do ponto de vista social: um olhar de direitos e não de caridade. É necessário enxergar o analfabetismo como um aspecto social, e não como um conceito abstrato, e partir do fato real, concreto, existencial, isto é, o homem adulto analfabeto (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). A educação é um direito assegurado pelas leis que regem o Brasil, logo, precisamos traçar um caminho efetivo para fazer uma nova história no contexto educacional brasileiro, a fim de que essas leis prevaleçam e sejam cumpridas, em especial na EJA, com a perspectiva de acabar com o analfabetismo e/ou sanar a problemática de crianças e adolescentes que não conseguem terminar o ensino regular na idade própria (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Para melhor conhecer as peculiaridades desta modalidade de educação voltada para adultos, é preciso pesquisar profundamente as razões pelas quais esses sujeitos buscaram os estudos novamente. A EJA foi estabelecida pela LDB nº 9.394/96, no Art. 37, que diz que a “[...] Educação de Jovens e Adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria. ” (BRASIL, 1996). A EJA trata de alunos com características diversificadas e diferenciadas das crianças e adolescentes do ensino em idade regular. Antes de conhecer essas características, precisamos antecipar que, hoje, a educação voltada para adultos é conhecida como andragogia. Com a mesma raiz linguística do termo pedagogia, andragogia diferencia-se apenas porque é inicialmente formada pela palavra andrós, que significa homem; logo, andragogia designa a educação dos homens e, é claro, das mulheres (TAMAROZZI; COSTA, 2007). Sua formulação marca a diferença dos processos educativos de crianças e adultos, já que historicamente as pesquisas sobre aprendizagem estiveram muito mais direcionadas ao público infanto-juvenil. Conforme 22 Oliveira (1997, p. 60), em relação à construção do conhecimento, os processos de aprendizagem de adultos são menos explorados dos que as teorias que apresentam considerações sobre crianças e jovens. Isso significa que a construção cognitiva do adulto e os mecanismos que ele desenvolve para a aprendizagem são ainda carentes de uma investigação mais consistente. Um dos estudos mais antigos sobre o assunto foi realizado por Lindeman, que identificou, pelo menos, cinco pressupostos-chave para a Educação de Jovens e Adultos, descritos a seguir: 1. Os jovens e adultos, são motivados a aprender, por isso, à medida que experimentam, suas necessidades e interesses são satisfeitos. Por isso, esses são os pontos mais apropriados para iniciar a organização das atividades de aprendizagem do adulto. 2. A orientação de aprendizagem do adulto está centrada na vida; por isso, as unidades apropriadas para organizar seu programa de aprendizagem são as situações de vida, e não as disciplinas. 3. A experiência é a mais rica fonte para jovens e adultos, por isso, o centro da metodologia da educação do adulto é a análise das experiências. 4. Os jovens e adultos têm uma profunda necessidade de serem autodirigidos; por isso, o papel do professor é engajar-se no processo de mútua investigação com os alunos, e não apenas transmitir-lhes seu conhecimento e depois avaliá-los. 5. As diferenças individuais crescem com a idade; por isso, a EJA deve considerar as diferenças de estilo, tempo, lugar e ritmo de aprendizagem de cada aluno (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Paulo Freire é tido como um desbravador de uma educação apropriada para pessoas jovens e adultas no Brasil. Ele sistematizou, a partir de um olhar atento sobre o cenário político-educacional de sua época e a necessidade dos alunos, um método de educação que tinha o adulto como centro da discussão, desencadeando um processo de libertação e de conscientização dos educandos. Freire praticou a andragogia mesmo antes de o termo se tornar conhecido no Brasil. Em sua obra 23 Pedagogia do Oprimido, ele formulou, com clareza, uma proposta baseada em um processo de educação libertadora, que levava à conscientização do sujeito em oposição à ideia de um aluno apenas receptor de conteúdos predeterminados. Segundo Freire 2005, p. 25) “[...] é importante saber que se deve respeito à autonomia, à dignidade e à identidade do educando e, na prática, procurar a coerência com esse saber.”. Tratamos aqui o perfil desse alunado com base nas palavras do autor e com a intenção de conhecer o (a) aluno (a) que procura a EJA. A construção de conhecimento a que todo ser humano tem direito precisa ser respeitada em sua amplitude e diversidade. Na EJA, em uma mesma sala de aula, estão reunidos jovens, adultos, e idosos de idades e gêneros diferentes, religiosidades, pertencimentos étnicos, culturais, trajetórias de vida, saberes acumulados, fazeres, especialidades vividas, temporalidades, concepções, etc. (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Além da diversidade, os sujeitos dessa modalidade são adolescentes, jovens e adultos que não completaram sua escolarização em período específico (idade); trabalhadores que precisam de diploma; pessoas que não tiveram acesso à escola e, por questões financeiras, tiveram que parar de estudar e pessoas com dificuldades de aprendizagem (SOUZA, 2011). A procura pela EJA tem aumentado ao longo dos anos e contribuído para baixar os índices de analfabetismo no Brasil. Essas pessoas buscam a realização de sonhos, o primeiro emprego ou a melhoria de sua vida profissional, o desenvolvimento ou mesmo a ideia de sair da situação de analfabetismo e exclusão social. A sociedade tem a ideia de que os jovens e adultos que procuram a EJA são pessoas fracassadas. A esse respeito, Souza (2011, p. 20) afirma que: É preciso desmontar a ideia de fracasso escolar atribuída ao aluno. Existem fatores estruturais, ou seja, os quais possuem raízes profundas na sociedade, que são em grande medida responsáveis pela existênciade pessoas fora da escola; outras que desistem da escola e outras que ingressam tardiamente ou que repetem várias vezes de ano. Os alunos que procuram a EJA têm anseios em relação ao ambiente escolar associados com as necessidades diárias, a inserção social e a autonomia na vida, isto é, eles pretendem ampliar suas chances no mercado de trabalho e sua participação em situações que requerem escrita, além de elevar seu status social; suas falas remetem a questões políticas, econômicas e sociais (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). 24 Aos poucos, quando o aluno percebe que o educador está por inteiro na relação que se estabelece em sala de aula, ele vai se reconhecendo e se engajando nas diferentes atividades. Para a consolidação desse processo, é importante que o educador valorize a fala do educando, sua autoria, sua vida, reconheça sua produção e o estimule a se colocar diante do grupo (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Dessa forma, deve ocorrer a mediação entre os saberes que os alunos carregam e o conteúdo escolar. Considerar esses aspectos é fundamental para o trabalho com jovens e adultos não alfabetizados ou pouco escolarizados, pois suas experiências e circunstâncias culturais, históricas e sociais propiciam situações de aprendizagem, promovendo o desenvolvimento (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). A EJA nos dias atuais tem três funções: 1. Reparadora (que discorre sobre o direito de igualdade para todos com uma educação de qualidade); 2. Equalizadora (vem para oferecer novas oportunidades e outro rumo na vida profissional); e 3. Qualificadora (permite o desenvolvimento potencial do caráter). Quando os alunos ingressam na EJA, ocorre uma transformação na sua autoestima: eles passam por uma satisfação e realização pessoal, tornando- -se independentes e reavaliando seus objetivos. Eles constatam que não dispõem de tempo para regredir em seu aprendizado, voltando no caminho que já percorreram, ou seja, nesta evolução e transformação da sociedade e das tecnologias, eles reconhecem que, se abandonassem os estudos, cairiam na mesmice (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). A educação, aqui em especial a EJA, é uma prática humana direcionada por uma determinada concepção teórica. Assim, a EJA é uma instância pela qual é possível adquirir conhecimento. Neste contexto, o ato de aprender a aprender é uma das principais funções do ato de ensinar, ou melhor, do ato de educar, daí a necessidade de pesquisar sobre como a aquisição de conhecimento modifica as pessoas em um processo de conscientização e reconstrução de suas vidas, transformando-as como agentes transformadores de sua própria realidade (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). 25 10 A EJA NAS DIFERENTES FASES DO DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO: DE 1945 ATÉ HOJE Como vimos na primeira seção sobre a história da Educação de Jovens e Adultos no Brasil, interrompemos nossa descrição na chamada era da Revolução Industrial brasileira, compreendida entre as décadas de 1930 e 1940, sob a ditatura de Getúlio Vargas. Com o fim do Estado Novo, em 1945, o país sofreu uma forte agitação política. Dessa forma, a sociedade passou a ver o grande número de analfabetos e a preocupar-se com esse fator. Assim, o problema ganhou destaque, e a solução estaria na Educação de Jovens e Adultos (EJA). A partir deste ponto, o povo começou a mostrar sua força e a lutar por uma educação de qualidade. Ainda em 1945, ocorre um marco mundial: o surgimento da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), um importante estímulo à implantação de programas nacionais para a educação de adultos analfabetos em todo o mundo. Seus principais objetivos estavam relacionados à educação de base voltada à população de uma maneira geral, crianças, adolescentes e adultos de ambos os sexos. Após a Segunda Guerra Mundial, a UNESCO visava a ampliar uma consciência internacional, atenta às dimensões do fenômeno da “ignorância” e aos significados de sua supressão no campo da “educação fundamental”. O Brasil, como vários países da América Latina, África e Ásia, passou a contar com o apoio da UNESCO (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). No governo de Eurico Gaspar Dutra, ocorreu, em 1947, o I Congresso de Educação de Adultos, que marcou o início da Campanha de Educação de Adultos Analfabetos (CEAA), promovida pelo Ministério da Educação e Saúde e que pretendia promover uma “educação de base” ou a “educação fundamental comum” a todos os brasileiros da zona urbana e rural que não sabiam ler e escrever. Os gestores da Campanha tinham como estratégia sensibilizar os vários setores da sociedade brasileira, desde o cidadão comum, até empresários, professores e religiosos, para acabar com o analfabetismo no País, associando a esse processo a transformação social e o desenvolvimento do País como um todo. Para isso, foi criado em 1947 o Serviço de Educação de Adultos (SEA), pelo Departamento Nacional da Educação, do Ministério da Educação e da Saúde, o que significou um indicador importante na mudança do lugar da educação de adultos no Brasil. Esse novo serviço orientava e 26 coordenava nacionalmente os trabalhos dos planos anuais de ensino supletivo para adolescentes e adultos analfabetos (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). O SEA implementou a CEAA, motivando e estimulando todos os Estados a promover, com seus próprios recursos, a criação de classes de educação de adultos delineadas no plano geral do ensino supletivo. Os professores selecionados deveriam ser mobilizados conforme os seguintes critérios: 1º) os que estavam atuando em escolas públicas; 2º) normalistas diplomados e que não estavam atuando na rede oficial; 3º) alunos do magistério em fase final de conclusão do curso; 4º) pessoas com curso ginasial, comercial ou técnico; por último, as leigas, ou mesmo aquelas que tinham até o 4º ano primário. O Setor de Orientação Pedagógica ficou responsável por produzir as cartilhas e os textos de leitura para serem usados nas unidades de alfabetização. As metas estabelecidas para a instalação das unidades em todo o País foram: 10.000 classes, em 1947; 14.110, em 1948; 15.204, em 1949; e 16.500, em 1950. A visibilidade social da Campanha e, ao mesmo tempo, o chamamento para que toda a sociedade brasileira participasse como alunos, professores e/ ou colaboradores foi em grande parte realizada via comunicação impressa e radiofônica nos municípios. De acordo com Vovio (2007), o Primeiro Guia de Leitura foi distribuído pelo Ministério da Educação em larga escala para as escolas supletivas do País e orientava o ensino pelo método silábico. As lições partiam de palavras-chave selecionadas e organizadas segundo suas características fonéticas. As primeiras lições continham pequenas frases montadas com as mesmas sílabas. Nas lições finais, as frases compunham pequenos textos contendo orientações sobre preservação da saúde, técnicas simples de trabalho e mensagens de moral e civismo. Os professores que atuaram na Campanha ministraram seus cursos de alfabetização junto a adolescentes, jovens e adultos privilegiando métodos e conteúdos muito próximos aos desenvolvidos com as crianças do ensino regular primário, o que acabou contradizendo os discursos de educação ampla propostos no programa educativo da CEAA. A ideia que ganhou espaço a partir desse período era a de que o analfabeto seria uma pessoa “incapaz”, um adulto com mentalidade de criança que não aprendeu, portanto, “emburrecido” (PAIVA, 1983). No final dos anos 1950, as críticas intensificadas somadas à percepção de que o período do curso era insuficiente começaram a minar a Campanha. O material didático e os programas também foram considerados inadequados às especificidades 27 da educação de adultos. No entanto, é inegável que esses esforços possibilitaram um campo de reflexão pedagógica em torno do analfabetismo e suas consequências sociais e psicológicas.Outra importante contribuição da CEAA, apontada por Haddad e Di Pierro (2000), refere-se à criação, nos municípios e nos estados brasileiros, de uma infraestrutura voltada aos jovens e adultos, bem como à regulamentação dos fundos responsáveis pela distribuição dos recursos financeiros para essa finalidade. As campanhas de alfabetização vão praticamente desaparecer no governo de Juscelino Kubitschek, de 1955 a 1960. Muitos historiadores analisam esse período como um momento que estabilizou uma memória impregnada da disseminação de otimismo e estabilidade política que teria propiciado uma elevação significativa nos índices de crescimento econômico, embalada pela concretização da construção de Brasília, em 1960. O governo de Juscelino Kubitschek investiu de forma intensa no setor de infraestrutura e incentivou a industrialização, abrindo o país aos capitais estrangeiros, oferecendo-lhes inúmeras facilidades em áreas consideradas prioritárias, como indústria automobilística, transporte aéreo e estradas de ferro, eletricidade e aço. Assim, Estado, empresa privada nacional e capital estrangeiro estavam unidos para promover o desenvolvimento econômico pela industrialização (FAUSTO, 1997). Enquanto isso, os movimentos operário e sindical estavam ativos e articulados. Em São Paulo, foi criado, em 1955, o Pacto de Unidade Intersindical (PUI), que congregava os sindicatos da metalurgia, dos gráficos, da indústria têxtil, etc. No Rio de Janeiro, os comunistas criaram uma frente composta pelos ferroviários, marítimos e portuários, que deu origem ao Pacto de Unidade e Ação (PUA), atuando junto ao funcionalismo público. A criação do Comando Geral dos Trabalhadores (CGT) ocorreu nesse período FAUSTO, 1997). Foi nesse cenário que, em 1958, JK convocou o II Congresso de Educação de Adultos que, apesar da chamada e do foco, acabou priorizando os debates sobre o ensino primário. De todo modo, essa iniciativa foi reproduzida em todos os estados brasileiros, estimulando o surgimento de inúmeros grupos e propostas para tentar solucionar o problema da educação de adultos no País. Paulo Freire participou deste evento e ganhou grande visibilidade ao apresentar um relatório que trouxe o debate sobre o analfabetismo para a agenda nacional. Afirmou, naquele contexto, que o problema do não desenvolvimento do Brasil não poderia ser imputado ao fato de a população não saber ler e escrever: o 28 “atraso” do País se dava pelo fato de o povo se encontrar em uma grave situação de miséria. Essa nova maneira de ver e colocar o problema sobre a situação da educação, dos analfabetos, do desenvolvimento nacional, enfim, das condições de vida da população, possibilitou que esse grupo do Nordeste defendesse ações que fortalecessem a formação da consciência do povo brasileiro, tanto do ponto de vista individual quanto coletivo, principalmente da população mais pobre e excluída do país (FÁVERO, 1983). As críticas produzidas por Paulo Freire traziam uma nova visão do processo educacional: a educação deveria se relacionar com a vida concreta, o desenvolvimento, a formação da nacionalidade, da sociedade civil, portanto, com a participação democrática. Freire elaborou uma proposta pedagógica ligada à vida, relacionada não apenas à escolarização formal, mas também à comunidade. No governo de João Goulart ocorreu uma maior aproximação entre o Ministério da Educação e Cultura e as entidades estudantis, os sindicatos e os setores da Igreja Católica que vinham atuando com a educação popular. Nesse contexto, Paulo de Tarso, Ministro da Educação, criou uma Comissão de Cultura Popular com o objetivo de implantar, em todo o território nacional, “novos sistemas educacionais de caráter eminentemente popular”. Paulo Freire foi nomeado presidente dessa Comissão e teve por missão produzir levantamentos e pesquisas sobre a questão do analfabetismo no País. Foram criadas as Comissões Regionais de Cultura Popular, para incentivar pesquisas nas áreas ligadas à promoção da cultura popular, como folclore, teatro, cinema, música, etc. Um pulsar acelerado passou a ditar os rumos dos movimentos culturais, que se multiplicaram e mobilizaram lideranças tanto do mundo privado quanto da esfera pública. O 1º Encontro Nacional de Alfabetização e Cultura Popular e a criação de um programa extensivo de educação de adultos aconteceram nesse contexto (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). No ano de 1963, o Movimento de Educação de Base (MEB) também foi um agente fundamental no processo da educação de adultos e que estava imbuído da filosofia e pedagogia de Paulo Freire. Nesse sentido, a educação era tomada como um processo de conscientização que poderia transformar as pessoas e as estruturas vigentes, as mentalidades e as estruturas. Essa estratégia passava pela elaboração de uma série de materiais didáticos direcionados para jovens e adultos, buscando tornar o processo de alfabetização uma tomada de consciência e transformação da 29 realidade. Alguns títulos já indicavam essa perspectiva, por exemplo, Saber para viver e Viver é lutar. Fávero (1983), elaborou as lições visando à compreensão do que é o homem, do que é o mundo e das relações estabelecidas entre si. As dimensões relacionadas aos conflitos da vida humana, aos desequilíbrios e às injustiças de um país subdesenvolvido, ao conceito de classe social e à luta de classes, ao questionamento sobre o voto do analfabeto, à exploração capitalista, à força da cultura e da ação popular para mudar as condições de vida são alguns dos tópicos. Ou seja, de uma visão micro da realidade as lições vão ampliando a consciência das pessoas para os problemas mais gerais da sociedade, articulando o individual, o coletivo e o social. Em janeiro de 1964, o Programa Nacional de Alfabetização optou pela proposta metodológica de alfabetização de Paulo Freire, sendo ele próprio o coordenador da Comissão Especial responsável pela sua implantação. Em 1964, foram criados 60.870 círculos de cultura, a fim de alfabetizar 1.834.200 adultos, atendendo 8,97% da população analfabeta na faixa etária de 15 a 45 anos (PAIVA, 1983). Os movimentos de educação e culturas populares foram completamente reprimidos e desarticulados no período da ditadura militar, que se iniciou em março de 1964. O Plano Nacional de Alfabetização foi extinto pelo Decreto nº. 53.886/64. O Movimento de Educação de Base também sofreu com a repressão dos militares que inibiram suas ações na educação de adultos e a atuação da esquerda da Igreja Católica. A hierarquia da Igreja Católica optou por se colocar apenas no âmbito de sua missão evangelizadora. As lideranças desses movimentos foram perseguidas, as ideias e os ideais de transformação social foram silenciados, muitos professores e estudantes engajados nas práticas de alfabetização e conscientização foram perseguidos, cassados e exilados (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Nesse contexto, de um lado a EJA foi utilizada como possibilidade de incrementar a coesão social, e, de outro, foi projetada como o símbolo de uma sociedade “democrática” em um “regime de exceção”. O País mais uma vez testemunhou uma educação mistificada, tomada como estratégia de mobilidade social dos indivíduos. O acesso à escola representava uma maneira de assegurar a igualdade de condições para ascensão nesse novo contexto. A educação era 30 apresentada à população como uma necessidade, ou o único meio para o crescimento e o desenvolvimento econômico do País (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). O governo militar implantou a Cruzada da Ação Básica Cristã (Cruzada ABC), que buscava capacitar os analfabetos para serem participantes na sociedade contemporânea, contribuindo para o desenvolvimento socioeconômico. Os sujeitos analfabetos teriam como retorno o acesso aos bens produzidos nesta e por esta sociedade. Esse programa, que durou de 1964 a 1969, tinha umaperspectiva de integração nacional e destruiu os programas oficiais do período de Goulart que persistiam, combatendo fortemente as iniciativas que ainda se inspiravam no método de Paulo Freire (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Diante do vazio deixado por Paulo Freire e do insucesso da Cruzada do ABC, foi criado, em 1967, o Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL), que pretendia ser a resposta do Estado frente aos elevados índices de analfabetismo da população brasileira. O censo de 1970 apresentou dados indicando que 33% da população acima de 15 anos não sabia ler nem escrever. A meta do então Presidente da República Emílio Garrastazu Médici era acabar com o que denominou “vergonha nacional”, isto é, o analfabetismo, em 10 anos. Para isso, o MOBRAL tornou-se o instrumento próprio da ditadura, imposto, implementado e estruturado sem consulta da sociedade em sua proposição e estratégias de planejamento. Seu processo pedagógico era centralizado e hierarquizado: os professores não podiam planejar e desenvolver as atividades junto aos jovens e adultos com autonomia. De acordo com o relatório da UNESCO de 1974, os materiais didáticos eram uma das principais marcas do programa, tanto pela sua diversidade quanto pela quantidade. Neles, a reflexão dos temas abordados era condicionada por uma visão nacionalista e ufanista, descrevendo um País extremamente diversificado submetido a um único projeto: o de se tornar desenvolvido. O método de alfabetização utilizado era o analítico-sintético, que se apropriava do léxico de outros autores, como as palavras geradoras, presumidas pelos editores como expressões próprias do cotidiano da população. A partir da palavra geradora proposta a priori, era feita decomposição em sílabas, e as dificuldades linguísticas eram ampliadas; assim deveriam ser compostas outras palavras e frases. Não havia densidade nos procedimentos metodológicos do MOBRAL, o que contrastava com as experiências produzidas e voltadas aos jovens e adultos na década de 1960. Apesar de os materiais trazerem dimensões importantes 31 da realidade brasileira, ela era falseada. A promessa da educação era inserir os alfabetizandos no projeto de desenvolvimento nacional. Propagandas nos meios de comunicação de massa visavam a convencer a opinião pública de que o MOBRAL era um programa de alfabetização “revolucionário e aberto”. Tudo isso gerou muita crítica, culminando com a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito contra o programa em 1975 (PAIVA, 1983). Quanto ao ensino supletivo, ele foi regulamentado pelo governo militar e se propunha “[...] a recuperar o atraso, a reciclar o presente formando uma mão de obra que contribuísse no esforço para o desenvolvimento nacional, através de um novo modelo de escola. ” (HADDAD; DI PIERRO, 2006, p. 12). Os resultados do MOBRAL foram insatisfatórios: no Censo de 1980, as pessoas que não sabiam ler nem escrever representavam 25,8% da população. Logo, a redução do analfabetismo promovida pelo programa não superou a marca de 7,8%. As campanhas de alfabetização de adultos promovidas nas décadas de 1950 e 1960 obtiveram resultados mais satisfatórios contando com condições de funcionamento e de financiamento muito mais precárias (PAIVA, 1983). As atividades do MOBRAL permaneceram até 1985, quando foi extinto. No seu lugar foi criada a Fundação Educar, cujo objetivo era promover a execução de programas de alfabetização e de educação básica não formais, voltados para pessoas cuja experiência de empobrecimento resultou na exclusão do acesso à escola. Em março de 1990, a Fundação Educar foi extinta pelo governo Collor. No período de 1985 a 1990, assumiu-se o papel de apoiar tecnicamente os programas de EJA e manteve-se uma estrutura nacional de pesquisa e produção de material didático, bem como coordenações estaduais. A década de 1980 foi marcada pela retomada de projetos e pesquisas voltados para a alfabetização de jovens e adultos. A principal conquista obtida pelos movimentos populares e pela sociedade civil organizada em torno da Constituinte de 1988 foi garantir o direito universal ao ensino fundamental público e gratuito, independentemente da idade. Nesse sentido, a EJA foi recolocada no sistema educacional brasileiro (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). No cenário internacional, a Educação de Jovens e Adultos passou também a ser reconhecida por vários países diante das diversas conferências organizadas pela UNESCO nos anos 1990. As Conferências Internacionais de Educação de Adultos (CONFINTEA) acontecem a cada 12 ou 13 anos. A I CONFINTEA ocorreu em 1949, 32 em Elsinore, na Dinamarca, em um contexto de pós-guerra e de tomadas de decisões em busca pela paz. O Brasil não participou dessa primeira edição. A II CONFINTEA aconteceu em 1960, em Montreal, Canadá, e teve como destaque a consolidação da Declaração da Conferência Mundial de Educação de Adultos. Na III CONFINTEA, que aconteceu na cidade de Tóquio (Japão), em 1972, a aprendizagem ao longo da vida foi definida como premissa básica, diante da constatação de que a instituição escolar não dá conta de garantir a educação integral. A IV CONFINTEA, com a temática “Aprender é a chave do mundo”, foi realizada em Paris, na França, em 1985, e teve como destaque o reconhecimento do direito de aprender como o maior desafio para a humanidade. A V CONFINTEA ocorreu em Hamburgo, na Alemanha, em 1997, e deu continuidade às proposições realizadas nas conferências anteriores. Para a história da Educação de Jovens e Adultos, no entanto, tornou-se singular pela grande mobilização durante o processo que antecedia a sua realização. Foram promovidos encontros em cinco regiões mundiais para consolidar o relatório para a Conferência Internacional. A temática era a aprendizagem de adultos como ferramenta, direito, prazer e responsabilidade (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Em 2000, foi realizado em Dakar (Senegal) o Fórum Mundial da Educação, que avaliou os compromissos assumidos pelos países signatários da Declaração Mundial de Educação para Todos e do Plano de Ação para satisfazer as necessidades básicas de aprendizagem, resultado da Conferência Mundial sobre Educação para Todos, realizada em Jomtien, Tailândia, em 1990. Em 2003, houve uma reunião de balanço realizada em Bangcoc (Tailândia) para monitorar e avaliar os compromissos firmados na V CONFINTEA. A VI CONFINTEA aconteceu no Brasil, em Belém do Pará, em 2009 (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). No caso brasileiro, a conexão da educação às necessidades básicas das populações foi colocada na LDB, Lei nº 9.394/96, ou seja, a Educação de Jovens e Adultos foi integrada ao ensino básico comum. Infelizmente, não foram assegurados, ainda, de forma adequada, os recursos financeiros específicos para realizar as ações e ampliar o atendimento no sistema educacional (por exemplo, a existência de vagas para todos que desejam frequentar o segundo segmento do ensino fundamental e o ensino médio) (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). A União sempre se colocou no papel histórico de indutora da educação básica de jovens e adultos e, apesar de não coordenar os programas emergenciais 33 oferecidos – tarefa repassada aos estados e municípios –, estabeleceu e centralizou um conjunto de instrumentos para controlar e regular suas atividades, visando a: Regularizar a coleta e divulgação de estatísticas educacionais. Instituir referenciais curriculares. Formular programas de formação docente. Subsidiar a produção de materiais didáticos. Criar exames de certificação (Exame Nacional de Certificação de Competências para Adolescentes e Adultos). O relatório anual da UNESCO de 2012, sobre “Educação para Todos”, indicava que o Brasil deveria conseguir reduzir a taxa de analfabetismo em adultos para 5%. Segundo os dados do IBGE (2015), a taxa de analfabetismo no país foi de 8% entre as pessoasde 15 anos ou mais. Os dados atuais demonstram que não conseguimos fazer a redução proclamada. Nas últimas décadas, as ações delineadas nos âmbitos municipais, estaduais e nacional para acabar com o analfabetismo adulto no Brasil não dialogaram entre si, portanto, não conseguiram se potencializar justamente por causa dessa desarticulação. Programas nacionais, estaduais e municipais de alfabetização coexistem em um mesmo momento, em um mesmo lugar, muitos por meio de parcerias entre a sociedade civil e o Estado (município, estado e união). Di Pierro (2005) alerta para os riscos dessa forma de operacionalização e indica três problemas: 1. A delegação, para a sociedade civil organizada, das responsabilidades que deveriam ser assumidas exclusivamente pelo poder público; 2. A reafirmação da Educação de Jovens e Adultos como objeto de filantropia, e não da constituição de direitos educativos dos jovens e adultos; 3. O incentivo à formalização e institucionalização da Educação de Jovens e Adultos de baixa qualidade, uma vez que, por mais que as instituições educativas, organizadas pela sociedade civil, busquem atender a uma demanda represada de Educação de Jovens e Adultos, as condições para isso são, em grande parte, improvisadas no que se 34 refere à infraestrutura (espaço, mobiliários, equipamentos), à formação de recursos humanos e aos materiais pedagógicos. São inúmeros os exemplos de como esse mosaico das formas como os serviços de educação/ alfabetização de jovens e adultos coexistem no mesmo tempo, na mesma localidade e, às vezes, no mesmo espaço. Atualmente, se considerarmos o Estado de São Paulo, é possível verificar a proposição do Programa Brasil Alfabetizado, um programa nacional, criado em 2003, que investe recursos para que as organizações da sociedade civil e os organismos públicos desenvolvam seus projetos. No nível estadual, entre outros, figura o Programa Alfabetiza São Paulo, executado pelos Conselhos Comunitários de Educação, Cultura e Ação Social, pelo Instituto Brasileiro de Estudos e Apoio Comunitário e por outras organizações não governamentais. No âmbito municipal, existem os programas MOVA, implementados e financiados por governos municipais e estaduais e dirigidos a organizações da sociedade que se prestam a alfabetizar jovens e adultos, tendo sido implementados no município de São Paulo nas gestões do Partido dos Trabalhadores (1989- 1992 e 2001-2004). 11 PROPOSTA METODOLÓGICA: ADAPTAÇÃO À DIVERSIDADE ENCONTRADA EM SALA DE AULA As representações sociais sobre o analfabeto jovem e adulto no Brasil têm sido assumidas em uma perspectiva bastante negativa expressando, às vezes, veladamente preconceitos que permeiam o senso comum (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Nesse sentido, considerando a sociedade letrada que existe nos dias de hoje, coloca-se a necessidade de inclusão dos não alfabetizados no universo da cultura escrita e nos contextos de uso da linguagem, o que exige a elaboração de meios eficazes para implementar ações que efetivem essa inclusão, atendendo a interesses políticos, sociais e educacionais (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). A necessidade de somar esforços no âmbito político e acadêmico para continuar lutando pela eliminação do fracasso escolar justifica os estudos no campo da alfabetização e do letramento, contribuindo para que todos os alunos, jovens ou 35 adultos, possam usufruir o direito de aprender e de utilizar a língua em diferentes situações, combatendo, assim, as desigualdades sociais (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). A concepção simplificadora do processo de educação de adultos tende a ver o alfabetizando como alguém que não se desenvolveu culturalmente. Por isso, nesse contexto, a prática pedagógica é orientada apenas para a lógica do ensino, utilizando, muitas vezes, os mesmos procedimentos didáticos inadequados empregados também para ensinar as crianças. Essa forma de ver a questão parece menosprezar o conhecimento do sujeito analfabeto, porque percebe a alfabetização de adultos como uma “[...] retomada de crescimento mental de um ser humano que estacionou na fase infantil” (PINTO, 1994). Ela não considera o conhecimento prévio do alfabetizando, os saberes adquiridos por meio de sua história de vida e ignora que o desenvolvimento e a aprendizagem acontecem na interação social, que não cessa pelo fato de o indivíduo permanecer analfabeto. A Educação de Jovens e Adultos é caracterizada pela participação dos alunos, pela flexibilidade, pelo foco no processo, atendendo às especificidades de cada educando sem estar preocupada com ênfase no conteúdo, com metodologia e organização voltadas para um currículo rígido. A ativa participação dos alunos deverá ocorrer nas diversas fases do processo de ensino-aprendizagem como diagnóstico das necessidades educativas, elaboração de plano e estabelecimento de objetivos, a partir do diagnóstico e de formas adequadas de avaliação. Ela deve ser embasada no conforto, na informalidade e no respeito, garantindo que o aluno da EJA se sinta seguro e confiante (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Considerando que a atividade docente, diante da diversidade cultural e social, das características individuais dos alunos e da complexidade e variedade de situações cotidianas que existem em sala de aula, se encontra em constante mudança, é preciso utilizar diferentes tipos de conhecimentos para decidir e agir de forma mais sensata, produtiva e estimulante no planejamento do trabalho pedagógico e na efetivação desse planejamento (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Frequentemente, o mundo escolar apresenta imprevistos, desafios, obstáculos e surpresas. Para lidar com esse dinamismo é preciso estar suficientemente preparado para atuar criativamente no desenvolvimento dos conteúdos. Quando algo nesse planejamento não se concretizar de acordo com as 36 expectativas, embora a decepção e o sentimento de frustração sejam inevitáveis, o importante é não desanimar e analisar os erros, procurando verificar a natureza deles e o porquê de o planejado não ter ocorrido conforme o previsto (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Toda educação verdadeiramente comprometida com o exercício da cidadania precisa criar condições para o desenvolvimento da capacidade de uso eficaz da linguagem que satisfaça necessidades pessoais. Essas necessidades podem estar relacionadas às ações efetivas do cotidiano, à transmissão e busca de informação e ao exercício da reflexão (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Desse modo, a escola tem como responsabilidade promover o acesso dos estudantes ao universo dos textos que circulam socialmente, ensinando-os a interpretá-los e a produzi-los. No contato com textos de diversas naturezas e que tragam informações sobre diferentes áreas do conhecimento, os alunos devem ser levados a compreender um conceito, descrever um problema, identificar uma nova informação, comparar pontos de vista e argumentar a favor ou contra determinada teoria ou hipótese (BRASIL, 1997). O professor precisa conhecer previamente os alunos para a eficiência dos processos de ensino e de aprendizagem. Em relação aos alfabetizandos jovens e adultos, além desse diagnóstico, também é importante pensar e responder questionamentos como: Quem são esses aprendizes? Como vivem, o que pensam, o que fazem, por que resolveram voltar a estudar, ou, quem sabe, iniciar seus estudos? (SCHWARTZ, 2012). É fundamental renunciar a visão de que os analfabetos são ignorantes, ingênuos e incompetentes, devemos, sim, enxergá-los como sujeitos inteligentes, que desenvolveram estratégias de sobrevivência em uma cultura escrita sem estar adequadamente instrumentalizados para isso, resolvendo problemas, vivendo trabalhando e amando. Para muitos alunos da EJA, aprender a ler e a escrever era sinônimo de uma atividade cansativa, já que consideravam as aulas muito chatas. É necessário fazer
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