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Psico social cap 1.docx

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1. Novas abordagens em psicologia social:
Perspectivas teóricas
As novas abordagens da psicologia social traçam uma trajetória voltando sua atenção para a interface da ciência com o contexto social em que o indivíduo está inserido, e a interdisciplinaridade com as outras ciências que tratam do homem em seus diferentes contextos sociais.
O conceito de representações sociais, termo extraído da sociologia, que tem como um de seus representantes Émile Durkheim (1858- 1917), o qual dedicou seus estudos na compreensão científica dos comportamentos coletivos. Serge Moscovici (1925-2014) que relê, interpreta, elabora e dialoga com Durkheim e propõe em sua construção teórica o conceito de Representações Sociais, em sua obra original: La Psychanalyse son image et son public de 1961, assim definido: “[...] a representação social é uma modalidade de conhecimento particular que tem por função a elaboração de comportamentos e a comunicação entre indivíduos” (MOSCOVICI, 1978, p. 26).
As representações sociais figuram entre as áreas do saber da psicologia social mais importantes. Faz um contraponto com as ciências sociais que estudam o tema comum e com a psicologia cognitiva.
Abordagem sócio-histórica
As perspectivas teóricas da psicologia sócio-histórica estão fundamentalmente ligadas ao cenário histórico, social, político, científico e filosófico do século XIX.
Diante dessas circunstâncias nasce a ciência moderna, “empírica”; a experiência é parte do fazer científico; “experimental” procedimentos metodológicos com resultados avaliados e “quantitativa”, quando os números produzem resultados objetivos.
A ciência do século XIX é positivista, enfatiza prioritariamente a razão; mecanicista com base na ideia do funcionamento regular do mundo regido pelas leis científicas conhecidas; associacionista concebe que as ideias se associam mentalmente de forma a organizarem-se e permitirem associações que resultam em conhecimento; atomista com a concepção que o todo é sempre o resultado da organização das partes e determinista com o entendimento do mundo como um conjunto de fenômenos que se estabelecem através da relação de causa e efeito.
Segundo Wundt (1916 apud STREY et al. 2013, p. 10), no contexto do método científico vigente cuja prioridade é a razão, sugere então duas psicologias: uma psicologia experimental e uma psicologia social.
A psicologia social de Wundt é elaborada em sua obra Volker psychologie (Psicologia do povo ou Psicologia das massas) em que desenvolve estudos sobre temas como pensamento, linguagem, cultura, mitos, religião, costumes entre outros fenômenos. Segundo Wundt, esses fenômenos são coletivos e não poderiam ser explicados somente pela consciência individual.
Diante de suas investigações e constatações, Wundt contribui com a ciência psicologia com seu pioneirismo para a consolidação do saber científico da psicologia, e com a psicologia social, despertando a atenção para fenômenos coletivos como cultura, mitos, costumes e fenômenos de massa.
A psicologia sócio-histórica
A perspectiva da psicologia sócio-histórica fundamentada na concepção histórico-cultural de Vygotsky (1896-1934) revela a possibilidade de delinear uma psicologia social diferenciando-a das demais correntes teóricas da psicologia.
A concepção filosófica proposta pelo materialismo dialético é aplicada por Marx e Engels na explicação das transformações políticas e sociais oriundas do sistema capitalista, que tem entre seus fatos históricos fundamentais a ascensão da burguesia, que promoveu uma mudança social, política e econômica na condição humana de estar no mundo, possibilitando a liberdade de ação dos indivíduos nas transformações da realidade social.
A teoria marxista é um dos pilares da construção do conhecimento e do pensamento do século XX e base fundante da psicologia sócio-histórica. Para manutenção do foco em psicologia social, pesquise os conceitos marxistas de relações de produção e alienação a fim de aprofundar a contextualização da psicologia sócio-histórica.
As representações da realidade material e a própria realidade material se retroalimentam do processo histórico, da diversidade humana, das peculiaridades e do dinamismo na produção de novas convicções e das ciências, em que a psicologia é parte integrante desse contexto.
Representações sociais
O conceito de representações sociais teve sua origem na sociologia de Émile Durkheim (1858-1917), que sob a influência do positivismo, dedicou sua produção acadêmica a uma sociologia que investigava por meio do método científico e da observação empírica os fatos sociais, conceituado-os como “coisa”, força/ pressão coerciva exercida sobre os indivíduos que transformam comportamentos singulares em comportamentos sociais, coletivos.
A atenção da sociologia é voltada para o estudo de fenômenos que não agem apenas sobre o indivíduo, mas que atuam diretamente em todo o tecido social.
A teoria das representações sociais de Moscovici com a publicação de A psicanálise, sua imagem e seu público, em 1961, indica um conjunto de conhecimentos, crenças e valores comuns entre indivíduos que interagem e constroem uma realidade, cuja experiência, permite posicionamentos individuais, embora seja fruto de um conhecimento compartilhado pelo grupo.
Somos seres sociais, interagimos com o ambiente e a subjetividade, esse conjunto simbólico e cognitivo de material psí- quico que produzimos está em constante processo, nosso “mundo interno é uma obra em construção” abastecida das interações com o meio externo e interno.
As representações sociais e a psicologia social
Sob o ponto de vista da psicologia, e principalmente da psicologia social, o estudo das representações sociais representa a possibilidade de um instrumento teórico de investigação dos fenômenos psíquicos e das relações que se estabelecem no imaginário individual e coletivo nos diferentes cenários humanos, como famí- lia, escola, trabalho, entre outros, de acordo com Moscovici (1978).
Cabe observar que as representações sociais não se limitam a um conhecimento com base em opiniões, superstições ou crenças místicas; é um conhecimento produzido por um grupo social, e as interações deste grupo propiciam as atualizações na transmissão desse conhecimento ao mesmo tempo na consolidação do mesmo. A psicologia social, como parte da ciência psicologia, evidencia a importância do estudo das representações sociais como mais uma “ferramenta” na busca de compreensão dos processos humanos.
Ancoragem: processo de transformar algo estranho e perturbador em algo comum, familiar, classificado por nossa cognição.
Por meio da ancoragem, classificamos e nomeamos objetos, de forma que a nossa cognição os localize sem estranhamento.
Objetivação: processo que visa transformar a ideia abstrata em visível, real, concretizável, concreta.
A objetivação é a capacidade de dar materialidade à ideia abstrata.
Nesse sentido, as representações têm principalmente duas funções: a convencional – acomodam os objetos, pessoas ou acontecimentos, permitindo categorizá-las para que sejam classificadas em nossas experiências, nas quais até podemos nos conscientizar a respeito delas, mas nem sempre podemos nos libertar destas, isto é, a realidade de um indivíduo é, na maioria das vezes, determinada pelo que é socialmente aceito como realidade.
As representações sociais e a psicologia cognitiva
A psicologia cognitiva é uma área da psicologia na qual suas abordagens teóricas dedicam-se ao estudo dos processos cognitivos, tais como: pensamento, linguagem, memória, percepção.
A psicologia cognitiva busca investigar de forma mais ampla e quantitativa este processo de elaboração interno, que envolve as funções cognitivas e que não se limita somente a uma resposta “mecânica/aprendida”.
Com esse panorama, a teoria das representações sociais revela-se como mais um instrumento de valor para as investigações na seara cognitiva. E assim, volta suas atenções para a cognição social. A cognição social é o estudo psicológico que busca captar, entender, explicarcomo as pessoas se percebem e percebem as outras pessoas, e como estas percepções “permitem explicar, prever e orientar o comportamento social”.
Considerando que a cognição é formada por um conjunto de valores, crenças, percepções, pensamentos, lembranças e atitudes que determinam comportamentos, inferir que as representações sociais são parte deste conjunto é apropriar-se de um instrumento teórico que possibilita avançar na compreensão dos fenômenos humanos.
A psicologia crítica
A psicologia crítica é o “olhar” da ciência para si mesma, a problematização das questões que envolvem o campo de saber da psicologia. A promoção de novas discussões e descobertas dão requinte e atualizam as questões da psicologia social.
Esse movimento crítico problematiza as concepções teóricas da psicologia que restringem a produção de conhecimento a uma visão estreita do indivíduo, direcionando seu enfoque para os fenômenos psicológicos internos, ou para as relações sociais.
Para o exercício da psicologia crítica, uma das contribuições teóricas mais importantes é o materialismo histórico dialético, que sustenta na reflexão dialética a busca de compreensão de fenômenos sociais tangíveis e multifatoriais, explicitados pela ação humana transformadora de realidades históricas. Marx, explica esta ação por meio da crítica à economia política, e o estudo das relações de produção do sistema capitalista.
Esses questionamentos levam a duas visões da psicologia social, uma que é investida de uma ideologia capitalista: “A ação humana é concebida como determinada pelos imperativos de uma economia de mercado e de lucro”, (objeto de reflexões da psicologia crítica, quando sinaliza o comprometimento ideológico da psicologia com a evolução e consolidação do sistema capitalista); e uma psicologia social que enfatizava as interações sociais com uma herança filosófica das concepções de marxistas embasadas na relação entre indivíduo e sociedade (contemplando as dimensões históricas, políticas e sociais que permeiam as ações humanas).
A psicologia crítica contemporânea do século XXI, ampliou ainda mais seus campos de investigação, releituras e novas contribuições. Apresenta novos argumentos e articula-se de forma crítica “em relação às instituições, organizações e práticas da sociedade”, entre seus objetivos está o fomento das transformações sociais, do bem-estar humano e da autoavaliação da própria psicologia e sua efetividade prática como uma ciência a serviço das pessoas.

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