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Universidade Federal do Rio de Janeiro Faculdade de Educação da UFRJ Disciplina: Educação e Comunicação II LIBRAS Docente: Elizângela Castelo Branco Discentes: Anna Lydia Durval, Alexandre Barros, Laissa Marinho, Livia Carvalho, Luiz do Carmo, Rafaela Afonso dos Anjos, Taís Fontinelli, Thainá Rangel Cortês, Thaís Ferreira História da Educação de Surdos INTRODUÇÃO Não há como parar os acontecimentos. Eles se desenrolam no decorrer do tempo. Quem os vive não pensa que poderá ser importante num tempo futuro, nem no tamanho das consequências vindouras. Todos vivem seus dias, todos tomam decisões, todos escolhem suas palavras, ações e posturas diante do que lhes é cotidiano ou não. Vivem a história. Mas não fazem história. Fazer história é vasculhar as narrativas, os registros, os relatos; selecioná-los, atribuí-los importância ou não. Escrever história não é simplesmente contar detalhadamente tudo o que aconteceu, mas também organizar os acontecimentos selecionados e dar uma explicação científica a eles. Por convenção, adotamos o calendário Cristão como referência de tempo, onde o nascimento de Cristo corresponde ao ano 1. A invenção da escrita , ocorrida por volta de 4.000 a.C., é o marco principal da história. Tudo que a precede é chamado de Pré-história. A História, que a sucede, é dividida em cinco grandes períodos: Pré-História, Idade Antiga ou Antiguidade, Idade Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea, uma divisão baseada na história da Europa. Usaremos essa divisão como diretriz deste trabalho, a fim de ter referências claras quanto às indicações no tempo e espaço. À história de surdos, por sua vez, cabe uma outra divisão, que contempla melhor os acontecimentos e posturas no passar dos anos. Primeiramente, na antiguidade, existiram muitos obstáculos com relação ao seu reconhecimento enquanto seres humanos. Mas assim que estes foram quebrados, surgiram estudiosos com diversas tentativas, pesquisas e métodos de comunicação. A partir daqui, segundo, Karin Strobel, em História da educação de surdos de 2009, pode-se dividir em três grandes fases: a primeira é chamada de Revelação cultural, onde “os povos surdos não tinham problemas com a educação. A maioria dos sujeitos surdos dominava a arte da escrita e há evidência de que antes do congresso de Milão havia muitos escritores surdos, artistas surdos, professores surdos e outros sujeitos surdos bem-sucedidos.”; a segunda é conhecida como Isolamento cultural, quando “ocorre uma fase de isolamento da comunidade surda em conseqüência do congresso de Milão de 1880 que proíbe o acesso da língua de sinais na educação dos surdos, nesta fase as comunidades surdas resistem à imposição da língua oral”; e a última é nomeada Despertar Cultural, ocorre “a partir dos anos 60 inicia uma nova fase para o re-nascimento na aceitação da língua de sinais e cultura surda após de muitos anos de opressão ouvintista para com os povos surdos”. A visão da surdez como deficiência e falta de capacidade vem perdendo força devido a um maior desenvolvimento da ciência e ao crescimento de pensamentos mais democráticos, além de propostas de políticas, que deram abertura para outros olhares sobre o assunto. IDADE ANTIGA De acordo com a literatura atual, existem poucos documentos que registram a história das Pessoas Surdas na Antiguidade. Mas o que se sabe, apesar de parecer absurdo, é que muitos não os reconheciam como seres humanos, nem como seres pensantes, pois toda capacidade de raciocínio era diretamente ligada à fala. Isto é, quem não falasse, era comparado a um ser irracional e excluídos dos ensinamentos e conhecimento. Eram privados de direitos legais, como casamento e até mesmo do reconhecimento de filho com direito à herança de seus pais. A igreja católica considerava os surdos sem salvação, ou seja, não iriam para o reino de Deus após a morte. Na Bíblia, nos evangelhos, há relatos de milagres feitos por Jesus Cristo em que surdos passaram a ouvir. Estes, assim como os cegos e pessoas com outras deficiências, eram vistos como amaldiçoados. Em um desses relatos, perguntam a Jesus se o homem em questão tinha deficiência, ou seja, foi alvo da maldição de Deus, por seus próprios pecados ou de seus ascendentes. Encontra-se na bíblia, no livro de Marcos, capítulo 7, versículos de 31 à 37: “E trouxeram-lhe um surdo, que falava dificilmente: e rogaram-lhe que pusesse a mão sobre ele. E tirando-o à parte de entre multidão, meteu-lhe os dedos nos ouvidos; e, cuspindo, tocou-lhe na língua. E levantando os olhos ao céu, suspirou, e disse: Efatá; isto é, Abre-te. E logo se abriram os seus ouvidos, e a prisão da língua se desfez, e falava perfeitamente. E ordenou-lhes que a ninguém o dissessem; mas, quanto mais lho proibia, tanto mais o divulgavam. E admirando-se sobremaneira, diziam: Tudo faz bem: faz ouvir os surdos e falar os mudos.” Em Roma, a sociedade tinha visão parecida com a judaica, sobre serem pessoas castigadas ou enfeitiçadas. Eles os abandonavam, os faziam de escravos por toda a vida ou os jogavam no Rio Tiger, se salvando quem conseguisse escapar do rio ou os raros casos que os pais escondiam. Na Grécia, eram lançados abaixo do topo de rochedos de Taygete, nas águas de Barathere. Os sobreviventes viviam miseravelmente como escravos ou abandonados. Já para o Egito e Pérsia, os surdos eram considerados como criaturas privilegiadas, enviados dos deuses, porque acreditavam que eles comunicavam em segredo com os deuses. Havia um forte sentimento humanitário e respeito, protegiam e tributavam aos surdos a adoração, no entanto, os surdos tinham vida inativa e não eram educados. Em 500 a.C., o filósofo Hipócrates associou a clareza da palavra com a mobilidade da língua, mas nada falou sobre a audição. Em 470 a.C., o filósofo heródoto classificava os surdos como “Seres castigados pelos deuses”. Já filósofo grego Sócrates perguntou ao seu discípulo Hermógenes: “Suponha que nós não tenhamos voz ou língua, e queiramos indicar objetos um ao outro. Não deveríamos nós, como os surdos-mudos, fazer sinais com as mãos, a cabeça e o resto do corpo?” Hermógenes respondeu: “Como poderia ser de outra maneira, Sócrates?” (Cratylus de Plato, discípulo e cronista, 368 a.C.). Em 355 a.C., o filósofo Aristóteles (384 – 322 a.C.) acreditava que quando não se falavam, consequentemente não possuíam linguagem e tampouco pensamento, dizia que: “... de todas as sensações, é a audição que contribuiu mais para a inteligência e o conhecimento..., portanto, os nascidos surdo-mudo se tornam insensatos e naturalmente incapazes de razão”, ele achava absurdo a intenção de ensinar o surdo a falar. IDADE MÉDIA A idade média data de 476 a 1453, não possui registros de uma educação institucionalizada para os surdos. Os mesmo ainda não possuíam tratamento digno, nem direitos legais eeram vistos como seres não educáveis. A igreja neste período utilizava sinais para comunicar com a finalidade de não violar o rígido voto de silêncio ( Strobel, p.19). Até o fim da idade média não se teve notícias de experiências educacionais com os surdos. Com este fim, foi possível sair da perspectiva religiosa para a perspectiva da razão e consequentemente ser analisada numa ótica médica e científica. IDADE MODERNA Posteriormente, na Europa, no início do século XVI, surgiram os educadores que desenvolveram métodos para trabalhar com as pessoas surdas. Há registros das experiências do médico pesquisador italiano Gerolamo Cardano (1501-1576), o qual “concluiu que a surdez não prejudicava a aprendizagem, uma vez que os surdos poderiam aprender a escrever e assim expressar seus sentimentos” (JANNUZZI, 2004, p.31). Cardano propôs ensinar os surdos por meio do uso de símbolos, o que levaria a uma melhor compreensão social desses indivíduos, deixando como legado maior o conceito de que os surdos são educáveis, logo, aptos para o convívio social. A educação formal dos indivíduos surdos-mudos iniciou-se na Espanha, em 1555, quando o padre beneditino Pedro Ponce de León (1520-1584) educou uma pessoa surda de família nobre. O ensino incluía a datilologia (alfabeto manual), a escrita e o treino para a fala (oralização). A educação proporcionada aos indivíduos surdos de famílias nobres tinha como objetivo levá-los a ser reconhecidos como cidadãos perante a Aspectos históricos e socioculturais da população surda. Em sua tarefa de ensinar os irmãos Francisco e Pedro de Velasco a ler, escrever e falar (assim como fez com outros jovens surdos encaminhados ao mosteiro), Ponce de León contribuiu para promover novas perspectivas sobre as alternativas de aprendizado do povo surdo. As possibilidades de trato e de “cura” do indivíduo surdo começaram a abandonar o terreno do sobrenatural e fincaram-se em bases pedagógicas, rompendo velhos postulados filosóficos, médicos e religiosos. Se não é simples mensurar o impacto que tais feitos causaram na época, hoje essas empreitadas firmam-se como importantes marcos teóricos na história da educação de surdos – seja pelas mudanças epistemológicas que promoveram, seja pelos diferentes aspectos metodológicos que introduziram. Fray de Melchor Yebra, de Madrid (1526-1586), foi o primeiro a escrever um livro, chamado Refugium infirmorum, que descreve e ilustra um alfabeto manual da época. Foi publicado sete anos após a morte dele. Os primeiros livros sobre educação de surdos foram publicados pelos padres e educadores espanhóis Juan Pablo Bonet (1573–1633) e Lorenzo Hervás Panduro (1735-1809). O trabalho de Bonet, Redução das letras e arte de ensinar a falar os mudos (1620), baseava-se na arte da articulação e do uso do alfabeto manual. Já Hervás escreveu Escuela espanola de sordomudo (1795). John Bulwer (1606-1656) foi um médico britânico que se dedicou aos estudos das expressões artísticas como subsidiárias do orador. Escreveu um tratado em 1644 sobre a linguagem manual (quirologia) e em 1648 publicou outra obra, intitulada Philocophus, o amigo del sordomudo, onde afirmava que a língua de sinais era capaz de expressar os mesmos conceitos que a língua oral. Em 1700, Johan Conrad Ammon, médico suíço desenvolveu e publicou método pedagógico da fala e da leitura labial: Surdus Laquens. Em Portugal (1715 a 1780), Jacob Rodrigues Pereire utiliza o alfabeto manual como apoio do ensino da fala. Ele foi o primeiro professor de Surdos da época. Oralizou sua irmã surda, Teve reconhecimento pelo grande progresso alcançado, com a utilização do ensino da fala e de exercícios auditivos com os surdos. Na Alemanha, em 1750, o Oralismo foi fundado por Samuel Heinicke, que adotou uma metodologia conhecida como o “método alemão”. Um grande valor era atribuído a fala. Em 1778, fundou a primeira escola de Oralismo puro em Leipzig, de início com apenas 9 alunos surdos. Os alunos eram ensinados por meio de um processo fácil e lento de fala em sua língua pátria e língua estrangeira através da voz clara e com diferentes entonações para a compreensão. Na França, no período de 1712 a 1789, surgiu na França o abade Charles Michel de L'Epée, iniciou o trabalho de instrução formal com duas surdas a partir da Língua de Sinais que se falava pelas ruas de Paris, datilologia/alfabeto manual e sinais criados e obteve grande êxito. Defendeu que a mímica constituiu a linguagem natural ou materna dos surdos. Concluiu que a linguagem dos gestos é um verdadeiro meio de comunicação e de desenvolvimento do pensamento. Charles Michel de L´Epée envolveu-se com a comunidade surda, aprendeu a língua e acabou fundando em 1775 uma escola pública em sua própria casa, onde professores e alunos usavam os chamados “sinais metódicos”. O método de L'Epée teve sucesso e obteve os resultados espetaculares na história da surdez. A metodologia por ele desenvolvida tornou-se conhecida e respeitada. Em 1791, a sua escola se transforma no Instituto Nacional de Surdos e Mudos de Paris. Inglaterra 1760: Thomas Braidwood abre a primeira escola para surdos. Ele ensinava aos surdos os significados das palavras e sua pronúncia, valorizando a leitura orofacial. IDADE CONTEMPORÂNEA Depois da Revolução Francesa e durante a Revolução Industrial, entrou-se numa era de disputa entre os métodos oralistas e os baseados na língua gestual. Abade Charles Michel L’Epée fundou 21 escolas para surdos na França e na Europa. Em 1802, Jean Marc Itard, afirmava que o surdo podia ser treinado para ouvir palavras, sendo o responsável pelo trabalho com o menino Victor (selvagem de Aveyron), que vivia junto aos lobos na floresta, e considerava esse comportamento semelhante à um animal por falta de socialização e educação. Apesar de não ter obtido sucesso com o garoto, influenciou na educação especial com o seu programa de adaptação do ambiente. Afirmava que o ensino de língua de sinais implicava o estímulo de percepção de memória, de atenção e dos sentidos. Em 1814, o americano Thomas Hopkins Gallaudet parte à Europa para buscar métodos de ensino aos surdos. Na Inglaterra, Gallaudet foi conhecer o trabalho realizado por Braidwood, na escola “Watson’s Asylum” (uma escola onde os métodos eram secretos, caros e ciumentamente guardados) que usava a língua oral na educação dos surdos, porém foi impedido e recusaram-lhe a expor a metodologia. Não tendo outra opção, ele partiu para França, onde foi bem acolhido e impressionou-se com o método de língua de sinais usado por Abade Sicard. Thomas Hopkins Gallaudet volta à América e traz consigo o professor surdo Laurent Clerc, melhor aluno do Instituto Nacional para Surdos Mudos, de Paris. Durante a travessia na viagem, Clerc ensinou a língua de sinais para Gallaudet,que por sua vez, lhe ensinou o inglês. Os dois, juntos, fundaram a primeira escola permanente para surdos nos Estados Unidos, Asilo de Connecticut para Educação e Ensino de Pessoas Surdas e Mudas. Com o sucesso imediato da escola, outras escolas de surdos foram abertas pelos Estados Unidos. Os professores de surdos já eram usuários fluentes em língua de sinais e muitos eram surdos também. Em 1846, Alexandre Melville Bell, professor de surdos, inventou um código de símbolos chamado fala visível, ou linguagem visível, sistema que utilizava desenhos dos lábios, garganta, língua, dentes e palato, para que os surdos repitam os movimentos e os sons indicados pelo professor. Em 1868 o Instituto Nacional de Educação de Surdos foi considerado um asilo de surdos após a inspeção governamental no império, O sr. Tobias Leite assumiu a direção logo após o Dr. Manoel Magalhães ser demitido. Entre os anos 1870 e 1890, o Alexander Grahan Bell criticou através de artigos e os publicou a fim de criticar os casamentos entre pessoas surdas, a cultura surda e as escolas residenciais para surdos, alegando que são os fatores o isolamento dos surdos com a sociedade. Sendo contra a língua de sinais argumentando que a mesma não propiciavam o desenvolvimento intelectual dos surdos. Em 1872, Alexander Graham Bell abriu sua própria escola para treinar os professores de surdos em Boston, publicando o livreto com método “O pioneiro da fala visível”, dando continuidade ao trabalho do pai. Em 1873 Alexander Graham Bell deu aulas de fisiologia da voz para surdos na Universidade de Boston, onde começou a fazer experimentos com acústica e desenvolveu alguns conceitos para transmitir a fala eletricamente. Posteriormente levando a ideia à invenção do telefone. Lá ele conheceu a surda Mabel Gardiner Hulbard com quem se casou no ano 1877. Em 1875 Lausino José da Gama, que é ex-aluno do INES, aos 18 anos, publicou “Iconografia dos Signaes dos Surdos-Mudos”, o primeiro dicionário de língua de sinais no Brasil. Também foi realizado no ano de 1880 o Congresso Internacional de Surdo-Mudez, em Milão – Itália, onde o método oral foi votado o mais adequado a ser adotado pelas escolas de surdos e a língua de sinais foi proibida oficialmente alegando que a mesma destruía a capacidade da fala dos surdos, foi argumentado que os surdos eram “preguiçosos” para falar, preferindo a usar a língua de sinais. O Alexander Graham Bell teve grande influência neste congresso. O congresso foi organizado, patrocinado e conduzido por muitos especialistas ouvintes na área de surdez, todos defensores do oralismo puro (a maioria já havia empenhado muito antes de congresso em fazer prevalecer o método oral puro no ensino dos surdos). Na ocasião de votação na assembléia geral realizada no congresso todos os professores surdos foram negados o direito de votar e excluídos, dos 164 representantes presentes ouvintes, apenas 5 dos Estados Unidos votaram contra o oralismo puro. Nasce a Hellen Keller em Alabama, Estados Unidos. Ela ficou cega, surda e muda aos 2 anos de idade. Aos 7 anos foi confiada a professora Anne Mansfield Sullivan, que lhe ensinou o alfabeto manual tátil (método empregado pelos surdos-cegos). Hellen Keller obteve graus universitários e publicou trabalhos autobiográficos. É importante citar que consta no regimento interno (28 de julho de 1949) do antigo Instituto Nacional de Surdos-Mudos (INSM, atual INES): “o ensino profissional de marcenaria, carpintaria, tornearia, encadernação, alfaiataria, costura e etc.”. Além disso, no INSM eram realizadas pesquisas de fonética para aperfeiçoar o ensino oral e acústicas para aperfeiçoamento do ensino auditivo, provas acumétricas e audiométricas para a seleção de alunos, testes de capacidade mental dos candidatos à matrícula e pesquisas psicológicas nas crianças surdas-mudas e deficientes auditivas. Esses cenários nos mostram os espaços que eram destinadas aos surdos, refletindo a imagem preconceituosa que a sociedade tinha com essa comunidade e que é observada ainda nos dias atuais. Na revista do INSM n.1 (26 de setembro de 1949), consta que a revista foi confeccionada na oficina de Artes Gráficas pelos próprios alunos e que o INSM tinha como objetivo mostrar a capacidade “físico-prática” dos surdos para se integrarem à sociedade. Ou seja, a educação surda visava a formação profissional e não intelectual. Já na revista do INSM n.3 (30 de junho de 1950), consta que os “futuros recuperados”, terão sua profissão cuidadosamente escolhida de acordo com a sua vocação e “menores dificuldades como portadores de um certificado de artífice” ou seja, portadores de um curso profissionalizante de trabalhos manuais. Além disso, destacamos que nos EUA já existiam os “aparelhos acústicos, destinados aos surdos-mudos”. Consta também uma “Oração dos Surdos” em que o surdo pede a graça de voltar a ouvir e de poder falar com seus familiares em português”. A oração termina com a seguinte frase: “se o que sofres por mim, culpado eu sou, perdão!”. Em 1955 foi publicada a Revista de Educação ao Surdo, no Brasil. Esta continha um artigo de “Instruções aos Pais”, onde era encorajado o ensino da leitura labial e oralização de crianças surdas e duramente criticado o uso de gestos. Na mesma revista constavam mensagens do tipo “não faça sinais, fale pouco, mas fale” e propagandas de “aparelhos para surdez” da empresa TELEX. Ou seja, era incentivada institucionalmente a idéia de que o surdo desejava ser ouvinte, a idéia de que ele buscasse ser o mais próximo possível de um ouvinte, enfraquecendo assim a identidade surda. Em 1957, por decreto imperial (Lei nº 3.198, de 6 de julho) o “Imperial Instituto dos Surdos-Mudos” passou a chamar-se “Instituto Nacional de Educação dos Surdos” – INES. Nesta época, Ana Rímola de Faria Daoria assumiu a direção do INES com a assessoria da professora Alpia Couto e proibiram a língua de sinais oficialmente nas salas de aula. Porém, mesmo com a proibição, os alunos surdos continuaram usar a língua de sinais nos corredores e nos pátios da escola. O despertar cultural: a partir dos anos 60 inicia-se uma nova fase para a aceitação da língua de sinais e da cultura surda após muitos anos de opressão ouvintista. Um dos marcos foi a publicação de “Language Structure: an Outline of the Visual Communication System of the American Deaf” em 1960 por Willian Stokoe, que trouxe o sistema de comunicação visual dos surdos americanos, mostrando que a ASL apresentava todas as estruturas de uma língua, assim como o inglês. Ainda nos anos 60, mais precisamente em 1969, a Universidade Gallaudet, nos EUA, adota o sistema de comunicação total. Esse sistema foi criado para educar através dos sinais e, oralmente, ao mesmo tempo: o professor ensina falando namodalidade oral e sinalizada. Em 1977 é criada a FENEIDA (Federação Nacional de Educação e Integração dos Deficientes auditivos) porém esta era composta apenas por pessoas ouvintes envolvidas com a Surdez. Posteriormente foi fundada a FENEIS (Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos) em 1987. A FENEIS era uma remodelagem da antiga FENEIDA. O direito à educação foi juridicamente garantido em 1988 pela Constituição Federal no seu artigo 205 , que institui a educação como um direito de todos e dever do estado e da família. Especificamente sobre a inclusão das pessoas surdas, observa-se, na Lei nº 10.436/2002, a proteção ao estudante surdo e a obrigatoriedade de todos os órgãos públicos e instituições de ensino de gerenciar recursos para atendê-los. Para isso a lei institui o espaço profissional para intérpretes de Libras. Em 2005 essa lei é regulamentada pelo Decreto nº 5.626/2005 que cria estratégias como o Atendimento Educacional Especializado (AEE). Esse AEE deve prover as escolas o ensino e uso da LIBRAS, através de tradutor e intérprete, professores de língua portuguesa como segunda língua para pessoas surdas e professor regente com conhecimento sobre a singularidade linguística dos alunos surdos.No entanto o AEE se resumiu em muitas escolas a salas multifuncionais com funcionamento não diário onde se criam e ensinam sinais para as disciplinas. Nessas escolas a LIBRAS fica restrita ao uso nas salas de AEE e a falta de intérpretes e professores capacitados, leva a uma exclusão dos alunos surdos no convívio escolar global. Em 2006, foram criados os cursos superiores de LIBRAS em 9 polos de universidades públicas.Um ano depois (2007) é criada a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva , em que fica caracterizado que, tanto na rede pública quanto particular de ensino, os espaços devem ser abertos e os sistemas de ensino preparados para garantir o acesso, a permanência e a aprendizagem com qualidade das pessoas surdas No ano de 2010 ocorre a extinção da Secretaria de Educação Especial do Ministério da Educação e em 2012 a Criação do Plano Nacional da Educação relativo a década de 2011/2020, sem atender as reivindicações dos representantes surdos. Falando da educação dos surdos fora dos muros dos colégios, há uma carência em estudos e iniciativas educacionais em espaços não formais. Cerca de somente 4,7% das obras publicadas sobre educação nesses espaços, são voltadas para o público surdo e na sua maioria somente para os museus. Ou seja, faltam iniciativas que levem o surdo para espaços de educação extra-classe, como Unidades de Conservação, Aquários, Planetários, Jardins Botânicos, Zoológicos e Bibliotecas. Por outro lado já é notável a importância de ferramentas tecnológicas na educação dos surdos, como Youtube, Google Imagens, Google maps, TV Ines. Esses meios possuem recursos visuais (imagens interativas e vídeos) que podem auxiliar na transmissão de conhecimento para surdos, tendo em vista a perspectiva visual do mundo que eles tem. Além disso, a internet, trouxe meios para uma maior difusão da LIBRAS. Um exemplo é o projeto de extensão "Catálogo on-line de sinais regionais do Nordeste-Ceará", desenvolvido pela Secretaria de Acessibilidade da Universidade Federal do Ceará em parceria com o ProDeaf, uma tecnologia assistiva Finalmente os limites do ensino para os surdos, tem sido extrapolados ao ponto de serem desenvolvidas até mesmo ferramentas para o ensino musical para estes. Destaca-se o desenvolvimento de um dispositivo tecnológico que pudesse auxiliar no ensino musical dos alunos Surdos do Conservatório Estadual de Música Cora Pavan Capparelli, na cidade de Uberlândia – MG. Este foi denominado VIBRÁTIL. Atualmente, usa-se o Bilinguismo que é o ensino por meio da língua mãe das pessoas surdas – língua de sinais – e, como segunda língua, fica a Portuguesa, no caso do Brasil. Contudo como bilinguismo se entende a oferta de todos os recursos necessários para que os surdos possam se comunicar em libras e em português. Ou seja, estão incluídas a leitura, escrita e a fala, se for de interesse do estudante. Ao contrário do Oralismo, o Bilinguismo pressupõe a liberdade do aluno, sendo-lhe garantido o direito de oralizar se for a sua vontade. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMORIM, Marcelo. Inserção da LIBRAS nos Ambientes Digitais. Revista FORUM, Vol. 29/30. 2014. CORREA, Adriana Moreira de Souza. PEREIRA, Hérica Paiva. O Youtube Como Ferramenta Pedagógica Em Sala de Aula: Uma Prática De Letramento. Revista de Pesquisa Interdisciplinar EDIÇÃO ESPECIAL: ARTIGOS COMPLETOS - XII SIAT & IV SERPRO, 2016. FELIPE, Tanya Amara. Bilinguismo e Educação Bilíngue: questões teóricas e práticas pedagógicas. Revista FORUM, Vol. 25/26, 2012. NUNES, Valeria Fernandes. Estratégias Tecnológicas para o Ensino de Surdos: TV INES, Google Imagens e Google Maps. Revista FORUM, Vol. 33. 2016. SCHLÜNZEN, Elisa Tomoe Moriya. DI BENEDETTO, Laís dos Santos. DOS SANTOS, DO NASCIMENTO, Danielle Aparecida. História das pessoas surdas: Da exclusão à política educacional brasileira atual. UNESP. SILVA, Silvana Araújo. Conhecendo um pouco da história dos surdos. Prograd. UEL, 2009. STROBEL, Karin. História da educação de surdos. Florianópolis: UFSC, 2009.