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2017 Políticas e a educação de surdos no Brasil Prof. Anderson Luchese Copyright © UNIASSELVI 2017 Elaboração: Prof. Anderson Luchese Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. 371.912 L936p Luchese, Anderson Políticas e a educação de surdos no Brasil / Anderson Luchese. Indaial: UNIASSELVI, 2017. 179 p. : il. ISBN 978-85-515-0116-0 1.Surdos - Educação. I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. Impresso por: III aPresentação Prezado acadêmico! Este livro didático refere-se à disciplina “Políticas e a Educação de Surdos no mundo e no Brasil”, onde eu, professor Surdo, pertencente à comunidade surda e líder atuante, contextualizarei a partir dos meus estudos e vivências, aspectos históricos da educação de surdos no mundo, desde sua origem até os dias atuais, compreendendo os processos históricos e filosóficos de cada época. Traremos estudos com o intuito de contribuir nas discussões sobre conceitos de surdez nas visões clínica e educacional, usando o termo “surdo” como categoria de alteridade, que envolve os sujeitos surdos em suas peculiaridades. Informações sobre a identidade e diferenças de surdos, o uso da língua de sinais, seu processo de aprendizagem e sua legalidade, assim como as informações sobre as mudanças políticas da educação de surdos, metodologias e propostas vigentes em âmbito nacional e estadual. O estudo está dividido em três unidades: Unidade 1 – Fundamentos filosóficos e sócio-históricos da educação de surdos. Unidade 2 – Surdez e as legislações. Unidade 3 – Políticas e a educação de surdos do Brasil. A Unidade 1 contempla recortes históricos que ajudam a compreender a caminhada até aqui e os diferentes olhares em relação à educação de surdos. É importante que você aproveite as sugestões de filmes/leituras indicados ao longo deste livro, pois além de serem excelentes estudos complementares, também podem despertar a curiosidade que nos impulsiona a conhecer sempre mais, podendo vir a ser também pesquisador da área e divulgador da Comunidade e Cultura Surda, promovendo as mudanças positivas na educação atual. Nas unidades 2 e 3 traremos estudos sobre o ouvido humano, as causas da surdez e como ela se classifica, dependendo do nível de perda. Quais as próteses auditivas sugeridas para cada caso e um pouco sobre implante coclear e a polêmica levantada em relação a ele. Conceituaremos as terminologias mais usadas no decorrer da história, a cultura, identidade e comunidade surda, trazendo ainda a língua utilizada por este grupo e algumas reflexões sobre o processo de aquisição. Finalizaremos, de forma mais aprofundada e contextualizada as questões legais e as políticas de educação desenvolvidas aqui no Brasil e no Estado de Santa Catarina. Explore ao máximo esta disciplina! Bons estudos! IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfi m, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais que possuem o código QR Code, que é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar mais essa facilidade para aprimorar seus estudos! UNI V VI VII sumário UNIDADE 1 – A EDUCAÇÃO DOS SURDOS NOS ASPECTOS FILOSÓFICOS E SÓCIO-HISTÓRICOS DO MUNDO .................................................................... 1 TÓPICO 1 – A EDUCAÇÃO DOS SURDOS NOS ASPECTOS FILOSÓFICOS E SÓCIO- HISTÓRICOS DO MUNDO ....................................................................................... 3 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 3 2 IDADE ANTIGA – 4000 A.C. ........................................................................................................... 3 2.1 MOISÉS – 476 A.C. ..................................................................................................................... 4 3 ROMA – 485-420 A.C. ........................................................................................................................ 5 3.1 HERÓDOTO – 480 A.C. ............................................................................................................ 6 4 GRÉCIA ............................................................................................................................................... 6 5 EGITO E PÉRSIA ............................................................................................................................... 7 6 SÓCRATES – 500 A.C. ...................................................................................................................... 7 7 HIPÓCRATES – 460-377 A.C. ........................................................................................................... 8 8 ARISTÓTELES – 384-322 A.C. ......................................................................................................... 8 9 JESUS CRISTO – 30 D.C. .................................................................................................................. 9 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 10 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 11 TÓPICO 2 – IDADE MÉDIA E IDADE MODERNA ..................................................................... 13 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 13 2 IDADE MÉDIA – 476 D. C. – 1453 .................................................................................................. 13 2.1 530 D.C. ITÁLIA NA IDADE MÉDIA ................................................................................ 14 2.2 IDADE MODERNA (1453 – 1789) ......................................................................................... 14 2.3 GIROLAMO CARDANO (1501-1576) .................................................................................. 14 2.4 MECHOR SÁNCHEZ DE YEBRA (1526-1586)................................................................. 15 2.5 PEDRO PONCE DE LEON (1520-1584) .............................................................................. 16 2.6 JUAN PABLO BONET (1579-1623) ....................................................................................... 17 2.7 JOHN BULWER (1644-1684) .................................................................................................... 18 2.8 JOHAN CONRAD AMMAN (1669-1724) ........................................................................... 19 2.9 JACOB RODRIGUES PEREIRE (1715-1780) ..................................................................... 21 2.10 SAMUEL HEINICKE (1729-1790) ....................................................................................... 21 2.11 ABADE CHARLES MICHEL DE L’ÉPÉE (1712-1789) ................................................. 22 2.12 THOMAS BRAIDWOOD (1715-1806) ................................................................................ 26 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 27 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 28 TÓPICO 3 – IDADE CONTEMPORÂNEA ..................................................................................... 29 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 29 2 IDADE CONTEMPORÂNEA ATÉ OS NOSSOS DIAS ................................................ 29 2.1 JEAN MARC GASPARD ITARD (1774-1838) ................................................................... 29 2.2 THOMAS HOPKINS GALLAUDET (1787-1851) ............................................................ 30 2.3 LAURENT CLERC ................................................................................................................... 32 2.4 UNIVERSIDADE DE GALLAUDET – GALLAUDET UNIVERSITY .................... 33 VIII 2.5 ALEXANDER GRAHAM BELL (1818 – 1905) .................................................................. 34 2.6 EDUARD HUET – 1822-1882 .................................................................................................. 36 3 CONGRESSO DE MILÃO (1880) – RETROCESSO HISTÓRICO PARA O ENSINO DA LIBRAS ........................................................................................................................................ 39 4 HELLEN ADAMS KELLER .............................................................................................................. 43 5 OUTROS DESTAQUES NA COMUNIDADE SURDA EM GERAL....................................... 45 5.1 WILLIAN STOKOE (1960) ..................................................................................................... 47 5.2 EUGÊNIO OATES (1969) ......................................................................................................... 49 6 FEDERAÇÃO NACIONAL DE EDUCAÇÃO E INTEGRAÇÃO DOS SURDOS – FENEIS............................................................................................................................ 49 7 CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE DESPORTOS DE SURDOS (CBDS) ......................... 51 8 MARLEE BETH MATLIN (1986) ..................................................................................................... 52 9 EMMANUELLE LABORIT .............................................................................................................. 53 10 CLOSED CAPTION (1997) .............................................................................................................. 54 11 PRIMEIROS INSTRUTORES/AGENTE MULTIPLICADORES DE LIBRAS NO BRASIL ....................................................................................................................................... 55 12 LEI Nº 10.436, DE 24 DE ABRIL DE 2002 ..................................................................................... 55 13 GLADIS TERESINHA TASCHETTO PERLIN (2003) .............................................................. 57 14 LETRAS LIBRAS – UFSC (2006) ................................................................................................... 57 15 A FAMÍLIA BÉLIER (2014) ............................................................................................................. 59 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 60 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 62 UNIDADE 2 – SURDEZ E AS LEGISLAÇÕES ............................................................................... 65 TÓPICO 1 – MORFOLOGIA E FISIOLOGIA DO OUVIDO HUMANO E PRÓTESE AUDITIVA ...................................................................................................................... 67 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 67 2 MORFOLOGIA E FISIOLOGIA DO OUVIDO HUMANO ..................................................... 67 2.1 OUVIDO EXTERNO ............................................................................................................... 67 2.2 OUVIDO MÉDIO ...................................................................................................................... 68 2.3 OUVIDO INTERNO ............................................................................................................... 68 3 CAUSAS DA SURDEZ E TIPOS DE SURDEZ ............................................................................ 69 4 TIPOS DE SURDEZ........................................................................................................................... 71 5 PERDA AUDITIVA ........................................................................................................................... 71 6 TIPOS DE APARELHOS AUDITIVOS E IMPLANTE COCLEAR .......................................... 73 7 IMPLANTE COCLEAR ..................................................................................................................... 76 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 81 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 82 TÓPICO 2 – CONCEITOS OU CARACTERIZAÇÃO DE SURDEZ .......................................... 83 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 83 2 DEFICIÊNCIAS E TERMINOLOGIAS ......................................................................................... 83 3 DEFICIÊNCIA E EFICIÊNCIA ........................................................................................................ 84 4 SURDO-MUDO, DEFICIENTE AUDITIVO, SURDO E SURDOCEGO ............................... 86 5 QUEM SÃO OS SURDOS AFINAL? ............................................................................................. 88 6 ALGUNS CONCEITOS DE CULTURA, IDENTIDADE E COMUNIDADES SURDAS .... 90 6.1 IDENTIDADES SURDAS HÍBRIDAS ............................................................................... 92 6.2 IDENTIDADES SURDAS FLUTUANTES ...................................................................... 92 6.3 IDENTIDADES SURDAS INCOMPLETAS ................................................................... 93 6.4 IDENTIDADES SURDAS DE TRANSIÇÃO ................................................................... 93 7 SURDEZ E A AQUISIÇÃO DA LÍNGUA DE SINAIS............................................................... 94 IX RESUMO DO TÓPICO 2.....................................................................................................................97 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 98 TÓPICO 3 – O DISCURSO LEGISLATIVO ACERCA DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS ...................................................................................................................... 99 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 99 2 A CONSTITUIÇÃO DE 1988: DIREITOS DOS PORTADORES DE DEFICIÊNCIA .......... 99 3 CONSIDERAÇÕES QUE ANTECEDEM A LEI DA LIBRAS ................................................... 100 4 LEI Nº 10.436, DE 24 DE ABRIL DE 2002 ....................................................................................... 105 5 DECRETO DE LIBRAS Nº 5.626, DE 22 DE DEZEMBRO DE 2005 ......................................... 107 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 110 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 111 UNIDADE 3 – POLÍTICAS DE ATENDIMENTO ÀS PESSOAS SURDAS ............................. 113 TÓPICO 1 – A EDUCAÇÃO DE SURDOS NO CONTEXTO BRASILEIRO E ESPECIFICIDADES DA LÍNGUA DE SINAIS ....................................................... 115 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 115 2 CONTEXTO BRASILEIRO DA EDUCAÇÃO DE SURDOS E A LÍNGUA DE SINAIS ..... 115 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 121 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 122 TÓPICO 2 – CONCEPÇÕES FILOSÓFICAS DA EDUCAÇÃO DE SURDOS ........................ 123 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 123 2 EDUCAÇÃO DE SURDOS NO BRASIL – PARADIGMA OU MODELO............................. 123 3 ORALISMO ........................................................................................................................................ 124 4 COMUNICAÇÃO TOTAL ............................................................................................................... 127 5 BILINGUISMO .................................................................................................................................. 130 5.1 PEDAGOGIA SURDA ............................................................................................................ 133 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 137 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 138 TÓPICO 3 – AS POLÍTICAS DE ATENDIMENTO À SURDEZ ................................................. 139 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 139 2 ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO – AEE PARA PESSOAS SURDAS .............................................................................................................................................. 139 2.1 ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO EM LIBRAS................... 140 2.2 ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO DE LIBRAS ................... 141 2.3 ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO DE LÍNGUA PORTUGUESA .......................................................................................................................... 141 3 POLÍTICA DE EDUCAÇÃO DE SURDOS NO ESTADO DE SANTA CATARINA ........... 142 4 AVALIANDO A POLÍTICA DE EDUCAÇÃO BILÍNGUE BRASILEIRA .............................. 145 5 CONCEPÇÃO DE POLÍTICA LINGUÍSTICA PARA A EDUCAÇÃO BILÍNGUE DE SURDOS .............................................................................................................................................. 148 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 152 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 161 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 162 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................... 165 X 1 UNIDADE 1 A EDUCAÇÃO DOS SURDOS NOS ASPECTOS FILOSÓFICOS E SÓCIO- HISTÓRICOS DO MUNDO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS Objetivos de aprendizagem: • perceber os diferentes olhares da história de educação de surdos do pre- sente e do passado; • buscar conhecimentos dos fundamentos filosóficos e históricos da edu- cação de surdos a fim de promover as mudanças positivas na educação atual; • identificar os marcos históricos da educação de surdos e as personalidades do mundo e do Brasil que são referências históricas. Esta unidade contém três tópicos que trazem recortes do contexto histórico e filosófico, da origem da educação de surdos do mundo até os dias atuais, mencionando algumas versões históricas oficiais de surdos registradas em muitos livros. Os fatos listados no cronograma abaixo seguem na sequência em quatro grandes períodos: Idade Antiga ou Antiguidade, Idade Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea. No final de cada tópico existem autoatividades sobre os temas que contribuirão para aprofundar seus estudos. TÓPICO 1 – A EDUCAÇÃO DOS SURDOS NOS ASPECTOS FILOSÓFICOS E SÓCIO-HISTÓRICOS DO MUNDO TÓPICO 2 – IDADE MÉDIA E IDADE MODERNA TÓPICO 3 – IDADE CONTEMPORÂNEA 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 A EDUCAÇÃO DOS SURDOS NOS ASPECTOS FILOSÓFICOS E SÓCIO-HISTÓRICOS DO MUNDO 1 INTRODUÇÃO Nascimento (2006) afirma que um cronograma histórico é extração de várias partes de muitas publicações sobre a história dos surdos, isto não quer dizer que toda a história é verídica ou não. Para chegar a esta conclusão, há a necessidade de pesquisar de forma mais aprofundada cada fato histórico registrado, para assim poder comprová-lo. O próprio Berthier traz esta reflexão quanto aos recortes históricos: Ainda tratando de professores espanhóis, Berthier nos revela sua indignação ao ver Juan Pablo Bonet (1579-1629), autor do livro "Arte para enseñar a hablar a los mudos", creditar a si a descoberta de como ensinar o surdo a falar. Segundo Berthier, tal crédito poderia ser reivindicado por seu rival Ramirez de Carrion, que era surdo congênito e teve sucesso no julgamento dos críticos de seu tempo, em um experimento com Emmanuel Philibert, o príncipe surdo de Carignan. “Seu livro, publicado nove anos depois do de Bonet, recebeu o título Maravillas de naturaleza, em que se contienen dos mil secretos de cosas naturales, 1629 (BERTHIER, 1984 apud NASCIMENTO, 2006, p. 170). A partir desta análise, percebemos que os fatos são registrados a partir de um determinado tempo, local e realidade, não descartando a possibilidade de que outras experiências tenham acontecido em outros locais ao mesmo tempo. Apresentamos, neste contexto, os fatos históricos mais comuns encontrados em diversos registros sobre a história e educação de surdos. 2 IDADE ANTIGA – 4000 A.C. Sobre a antiguidade, Nascimento cita o professor surdo da França, Berthier: Inicia a história na antiguidade, relatando as conhecidas atrocidades realizadas contra os surdos pelos espartanos, que condenavam a criança a sofrer a mesma morte reservada ao retardado ou ao deformado: "A infortunada criançaera prontamente asfixiada ou tinha sua garganta cortada ou era lançada de um precipício para dentro das ondas. Era uma traição poupar uma criatura de quem a nação nada poderia esperar (BERTHIER, 1984, p.165 apud NASCIMENTO, 2006, p. 165). UNIDADE 1 | A EDUCAÇÃO DOS SURDOS NOS ASPECTOS FILOSÓFICOS E SÓCIO-HISTÓRICOS DO MUNDO 4 FIGURA 1 – IDADE ANTIGA – EGITO FONTE: Disponível em: <https://goo.gl/5yPLSp>. Acesso em: 30 maio 2017. No Egito (Figura 1), segundo as antigas leis judaicas, os surdos eram apenas protegidos. Eram considerados criaturas privilegiadas, enviados dos deuses. Os surdos eram adorados, como se fossem deuses, serviam de mediadores entre os deuses e os faraós. Acreditava-se que eles se comunicavam em segredo com esses deuses. Havia um forte sentimento humanitário e de respeito. Protegiam e tributavam aos surdos a adoração, sendo temidos e respeitados pela população. No entanto, os surdos tinham vida inativa e não eram educados. Na época do povo hebreu, na lei hebraica, aparecem pela primeira vez referências aos surdos. FIGURA 2 – PAPIROS FONTE: Disponível em: <https://goo.gl/ixWXxU>. Acesso em: 30 maio 2017. Os papiros do Antigo Egito (Figura 2) traziam conteúdos morais, que de alguma forma já ressaltavam a necessidade de respeitar as pessoas com deficiência. 2.1 MOISÉS – 476 A.C. Os surdos também são mencionados na Bíblia, no Velho testamento, quando Deus exorta a Moisés (Figura 3). “E disse-lhe o senhor: quem fez a boca do homem? Ou quem fez o mudo, ou o surdo, ou que vê, ou o cego? Não sou eu, o senhor?” (Êxodo 4:11). “Não amaldiçoarás ao surdo... mas terá temor do teu Deus. Eu sou o senhor” LEVÍTICO 19:14 (STROBEL, 2009, p. 17). TÓPICO 1 | A EDUCAÇÃO DOS SURDOS NOS ASPECTOS FILOSÓFICOS E SÓCIO-HISTÓRICOS 5 FIGURA 3 – MOISÉS FONTE: Veloso e Filho (2009, p. 10) Strobel (2009) afirma que os surdos não podiam ouvir e nem compreender o que acontecia a sua volta, pois a língua de sinais naquela época era desconhecida pela maioria das pessoas, ou somente usada pelos surdos, por isso Deus lhe deu a ordem para não amaldiçoar o surdo. 3 ROMA – 485-420 A.C. Strobel (2009) salienta que, em Roma, não perdoavam os surdos porque achavam que eram pessoas castigadas ou enfeitiçadas, a questão era resolvida por abandono ou com a eliminação física – jogavam os surdos no rio Tiger. Só se salvavam aqueles que do rio conseguiam sobreviver, ou aqueles cujos pais os escondiam, mas era muito raro – e também faziam os surdos de escravos obrigando-os a passar toda a vida dentro do moinho de trigo empurrando a manivela. FONTE: Veloso e Filho (2009, p. 10) FIGURA 4 – ROMA – ITÁLIA UNIDADE 1 | A EDUCAÇÃO DOS SURDOS NOS ASPECTOS FILOSÓFICOS E SÓCIO-HISTÓRICOS DO MUNDO 6 3.1 HERÓDOTO – 480 A.C. O filósofo Heródoto (Figura 5) classificava os surdos como “Seres castigados pelos deuses”. FIGURA 5 – HERÓDOTO FONTE: Veloso e Filho (2009, p. 27) 4 GRÉCIA Veloso & Filho, 2009, (p. 27) evidenciam que na Grécia os surdos eram considerados inválidos e muito incômodos para a sociedade, por isso eram “condenados à morte – lançados abaixo do topo dos rochedos de Taygéte, nas águas de Barathere – e os sobreviventes viviam miseravelmente como escravos ou abandonados”. FIGURA 6 – GRÉCIA FONTE: Disponível em: <https://image.slidesharecdn.com/oficinaemi- baiti-130403174647-phpapp01/95/histria-dos-surdos-12-638. jpg?cb=1365011617>. Acesso em: 31 maio 2017. TÓPICO 1 | A EDUCAÇÃO DOS SURDOS NOS ASPECTOS FILOSÓFICOS E SÓCIO-HISTÓRICOS 7 5 EGITO E PÉRSIA Strobel (2009), destaca que no Egito e na Pérsia, os surdos eram considerados criaturas privilegiadas, enviados dos deuses, porque acreditavam que eles se comunicavam em segredo com os Deuses. Havia um forte sentimento humanitário e respeito, protegiam e tributavam aos surdos à adoração, no entanto, os surdos tinham vida inativa e não eram educados. FIGURA 7 – EGITO FIGURA 8 – PÉRSIA FONTE: Disponível em: <http://media1.esco- la.britannica.com.br/eb-media/94/ 94894-004-28ED877B.jpg>. Acesso em: 30 maio 2017. FONTE: Disponível em: <http://media1.esco- la.britannica.com.br/eb-media/94/ 94894-004-28ED877B.jpg>. Acesso em: 30 maio 2017. 6 SÓCRATES – 500 A.C. O filósofo grego Sócrates perguntou ao seu discípulo Hermógenes: “Suponha que nós não tenhamos voz ou língua, e queiramos indicar objetos um ao outro. Não deveríamos nós, como os surdos-mudos, fazer sinais com as mãos, a cabeça e o resto do corpo?” Hermógenes respondeu: “Como poderia ser de outra maneira, Sócrates?” (CRATYLUS DE PLATO, discípulo e cronista, 368 a.C. apud VELOSO & FILHO, 2009, p. 27). UNIDADE 1 | A EDUCAÇÃO DOS SURDOS NOS ASPECTOS FILOSÓFICOS E SÓCIO-HISTÓRICOS DO MUNDO 8 FIGURA 9 – SÓCRATES FONTE: Veloso e Filho (2009, p. 28) 7 HIPÓCRATES – 460-377 A.C. Segundo Strobel (2009), o filósofo Hipócrates associou a clareza da palavra com a mobilidade da língua, mas nada falou sobre a audição. FIGURA 10 – HIPÓCRATES FONTE: Veloso e Filho (2009, p. 28) 8 ARISTÓTELES – 384-322 A.C. O filósofo Aristóteles acreditava que quando não se falavam, consequentemente não possuíam linguagem e tampouco pensamento, dizia que: “[...] de todas as sensações, é a audição que contribuiu mais para a inteligência e o conhecimento [...], portanto, os nascidos surdos-mudos se tornam insensatos e naturalmente incapazes de razão” (STROBEL, 2009, p. 18), ele achava absurdo a intenção de ensinar o surdo a falar. TÓPICO 1 | A EDUCAÇÃO DOS SURDOS NOS ASPECTOS FILOSÓFICOS E SÓCIO-HISTÓRICOS 9 FIGURA 11 – ARISTÓTELES FONTE: Veloso e Filho (2009, p. 28) 9 JESUS CRISTO – 30 D.C. E trouxeram-lhe um surdo, que falava dificilmente: e rogaram-lhe que pusesse a mão sobre ele. E tirando-o à parte de entre multidão, meteu-lhe os dedos nos ouvidos; e, cuspindo, tocou-lhe na língua. E levantando os olhos ao céu, suspirou e disse: Efatá; isto é, Abre-te. E logo se abriram os seus ouvidos, e a prisão da língua se desfez, e falava perfeitamente. E ordenou-lhes que a ninguém o dissessem; mas, quanto mais lhes proibia, tanto mais o divulgavam. E admirando-se sobremaneira, diziam: Tudo faz bem: faz ouvir os surdos e falar os mudos (Marcos, 7: 31-37). FIGURA 12 – JESUS CRISTO FONTE: Bíblia Sagrada (2011, p. 560) 10 Neste tópico, você viu que: • A Antiguidade é o período conhecido pelas maiores atrocidades Às pessoas surdas e com deficiência em geral, como Berthier (1984) afirmou: “Era uma traição poupar uma criatura de quem a nação nada poderia esperar”. E isso fica explícito nos fatos relatados em Roma e na Grécia, porém no Egito e na Pérsia os surdos eram protegidos e adorados, considerados mediadores entre Deus e os Faraós. • Entre os filósofos: Hipócrates não se manifestava; Heródoto acreditava que eram seres castigados pelos Deuses; Aristóteles os julgava sem pensamento, já que não possuíam linguagem. • Somente Sócrates traz uma reflexão sobre a condição de ser surdo. RESUMO DO TÓPICO 1 11 (1) Heródoto. (2) Sócrates. (3) Hipócrates. (4) Aristóteles. ( ) Diz que se não falavam, consequentemente não possuíam linguagem e tampouco pensamento, pois “[...] de todas as sensações, é a audição que contribuiu mais para a inteligência e o conhecimento [...], portanto, os nascidos surdos-mudos se tornam insensatos e naturalmente incapazes de razão” (STROBEL, 2009, p. 18). ( ) Colocou-se no lugar do surdo, questionando que, se não tivesse voz ou língua, e quisesse indicar objetos um ao outro. “Não deveríamos nós, como os surdos-mudos, fazer sinais com as mãos, a cabeça e o resto do corpo?” ( ) Segundo Strobel (2009), este filósofo associou a clareza da palavra com a mobilidade da língua, mas nada falou sobre a audição. ( ) Classificava os surdos como “Seres castigados pelos deuses”. AUTOATIVIDADE 1 Reflita e escreva sobre o que Berthier (apud NASCIMENTO, 2006, p. 165) relatou na época: “A infortunada criança era prontamente asfixiada ou tinha sua garganta cortada ou era lançada de um precipício para dentro dasondas. Era uma traição poupar uma criatura de quem a nação nada poderia esperar”. 2 Quais eram os únicos locais em que os surdos eram considerados criaturas privilegiadas, pois acreditavam que eles se comunicavam em segredo com os deuses. Havia um forte sentimento humanitário e respeito, protegiam e tributavam aos surdos à adoração, no entanto, os surdos ainda tinham vida inativa e não eram educados. 3 Relacione o filósofo ao seu pensamento, de acordo o texto estudado neste tópico: 12 13 TÓPICO 2 IDADE MÉDIA E IDADE MODERNA UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Na Idade Média encontramos poucos recortes históricos. Apesar de algum relato ainda de atrocidade, estes recortes trazem um avanço significativo na situação em relação ao período antiguidade, os surdos não são mais eliminados, porém ainda são muito castigados e vivem sem dignidade. Apenas na Itália surge uma pequena experiência de comunicação entre os surdos. Na Idade Moderna encontramos mais referências e recortes históricos, a ciência procura explicar o que acontece com o sujeito surdo. Aparecem vários avanços históricos em relação aos surdos e encontramos também o início de registros históricos de tentativas de comunicação, inclusive com a criação dos primeiros alfabetos manuais, a disseminação da Língua de Sinais e as escolas para surdos. 2 IDADE MÉDIA – 476 D.C. – 1453 Os surdos, nesta época, continuavam sendo vistos como sujeitos estranhos e objetos de curiosidades da sociedade. Strobel (2009) deixa claro que ainda não davam tratamento digno aos surdos, colocando-os em imensa fogueira. Esta é uma das últimas atrocidades encontradas em relatos históricos. A partir de então, Strobel (2009), já relata que os surdos eram proibidos de receberem a comunhão porque eram incapazes de confessar seus pecados, também havia decretos bíblicos contra o casamento de duas pessoas surdas, sendo permitidos somente aqueles que, pertencentes a uma classe social mais favorecida, recebiam favor do Papa. Observa-se que, ao menos, já não eram mais punidos com a morte. “Nesta época existiam leis que proibiam os surdos de receberem heranças, de votar e enfim, de todos os direitos como cidadãos”, conforme afirma Strobel (2009, p. 19). Estes direitos eram negados a todas as pessoas com deficiência, mulheres e pessoas sem posses, portanto, os surdos eram excluídos da sociedade, apenas os surdos de família nobres tinham maior atenção, apesar de crescerem escondidos da sociedade em geral. UNIDADE 1 | A EDUCAÇÃO DOS SURDOS NOS ASPECTOS FILOSÓFICOS E SÓCIO-HISTÓRICOS DO MUNDO 14 2.1 530 D.C. ITÁLIA NA IDADE MÉDIA Strobel (2009) relata que os monges beneditinos, na Itália, empregavam uma forma de sinais para comunicar entre eles, a fim de não violar o rígido voto de silêncio. O objetivo da igreja era promover a comunicação com Deus e os ensinamentos da igreja. Este pensamento seria novo para época, já que até o século XV, as concepções sobre os surdos e a surdez tinham significados diversos e bastante negativos. Segundo Guarinello (2007), os surdos eram considerados seres castigados pelos Deuses. Acreditava-se que pessoas que nasciam surdas eram também mudas, ou seja, não poderiam falar nem expressar seus pensamentos, tanto que até hoje a expressão surdo-mudo faz referência às pessoas surdas. A autora menciona que a crença era de que, para atingir a consciência humana, tudo deveria penetrar por um dos órgãos dos sentidos e a audição era considerada o canal mais importante de aprendizado. Sacks (2010) afirma que no período anterior a 1750, as pessoas que possuíam surdez pré-linguística eram percebidas pela ótica da incapacidade de desenvolver a fala, pela impossibilidade de comunicação e pelas especificidades no processo de aprendizagem e desenvolvimento. O contato com outros surdos era pouco valorizado formalmente como estratégia de desenvolvimento, o que atualmente é reconhecida. A surdez pré-linguística caracteriza-se pela ocorrência da perda auditiva antes que a criança tenha desenvolvido a linguagem oral (GOLDFELD, 2001). 2.2 IDADE MODERNA (1453–1789) Durante a Idade Moderna, novos cenários se desenharam para os indivíduos surdos, nesta breve revisão histórica, dá-se destaque à surdez no continente europeu, de onde provém grande parte dos registros e sobre os quais são mais numerosas as investigações, sendo a maioria pautada na área médica. Neste contexto, em alguns momentos os surdos foram marginalizados, apequenados e tidos como não educáveis; e em outros, passaram a contar com esforços assistenciais, caritativos e instrucionais. Ou seja, inicia efetivamente tentativas de comunicação com o sujeito surdo. 2.3 GIROLAMO CARDANO (1501-1576) Girolamo Cardano era médico filósofo que reconhecia a habilidade do surdo para a razão, afirmava que “[...] a surdez e mudez não é o impedimento para desenvolver a aprendizagem e o meio melhor dos surdos de aprender é através da escrita [...], e que era um crime não instruir um surdo-mudo” (NASCIMENTO, 2006, p. 185). Ele utilizava a língua de sinais e escrita com os surdos. TÓPICO 2 | IDADE MÉDIA E IDADE MODERNA 15 FIGURA 13 – GIROLAMO CARDANO FONTE: Veloso e Filho (2009, p. 29) 2.4 MECHOR SÁNCHEZ DE YEBRA (1526-1586) Segundo Veloso e Filho (2009), o Monge franciscano Yebra, de Madrid, foi o primeiro a escrever um livro chamado “Refugion Infirmorum”, que descreve e ilustra o alfabeto manual da época, publicado sete anos após a morte dele. Yebra usava o alfabeto manual para finalidades religiosas ao promover entre o povo surdo a compreensão de matérias espirituais. FIGURA 14 – ALFABETO MANUAL FONTE: Veloso e Filho (2009, p. 29) UNIDADE 1 | A EDUCAÇÃO DOS SURDOS NOS ASPECTOS FILOSÓFICOS E SÓCIO-HISTÓRICOS DO MUNDO 16 É um documento raro, com ilustração de alfabeto manual da época. Outra representação mais antiga do Alfabeto Manual é da Figura 15, Veneza, Itália, ano 1579. Observamos a evolução da reprodução da imagem pela posição das letras em três maneiras, ou seja, passa a ideia e movimento de cada letra do Alfabeto Manual. 2.5 PEDRO PONCE DE LEON (1520-1584) Goldfeld (2001) salienta que no século XVI, na Espanha, o monge beneditino Pedro Ponce de Leon (1520-1584) estabeleceu a primeira escola para surdos em um monastério de Valladolid. Segundo Luchese (2016), inicialmente ensinava latim, grego e italiano, conceitos de física e astronomia aos dois irmãos surdos, Francisco e Pedro Velasco, membros de uma importante família de aristocratas espanhóis; Francisco conquistou o direito de receber a herança como marquês de Berlanger e Pedro se tornou padre com a permissão do Papa e ensinou alguns surdos de famílias nobres. Goldfeld (2001) salienta também que Ponce de Leon desenvolveu uma metodologia de educação para crianças surdas que incluía datilologia, escrita e oralização, e criou uma escola de professores de surdos, porém ele não publicou nada em vida e depois de sua morte o seu método caiu no esquecimento porque a tradição na época era de guardar segredos sobre os métodos de educação de surdos. FIGURA 15 – JUAN MARTIN PABLO BONET FONTE: Veloso e Filho (2009, p. 30) No século XVII (1620), “[...] Juan Martin Pablo Bonet publicou, na Espanha, o livro Reduccion de las letras y artes para enseñar a hablar a los mudos, que trata da invenção do alfabeto manual de Ponce de Leon” (GOLDFELD, 2001, p. 28). TÓPICO 2 | IDADE MÉDIA E IDADE MODERNA 17 Sacks (2010) situa que os educadores ouvintes, como Pedro Ponce de Léon, da Espanha; os Braidwoods, da Grã-Bretanha; Amman, da Holanda; e Pereire e Deschamps, da França, ensinaram alguns surdos a falar. Afirma também que, assim, as condições de sobrevivência dos surdos, naquela época, despertaram interesse em alguns filósofos, que levantaram algumas questões: Por que a pessoa surda sem instrução é isolada na natureza e incapaz de comunicar-se com os outros surdos homens? Por que ela está reduzida a esse estado de imbecilidade? Será que sua constituição biológicadifere da nossa? Será que não possui tudo de que precisa para ter sensações, adquirir ideias e combiná-las para fazer tudo o que fazemos? Será que não recebe impressões sensoriais dos objetos como nós recebemos? Não serão essas, como ocorre conosco, as causas das sensações da mente e das ideias que na mente adquire? Por que então a pessoa surda permanece estúpida enquanto nos tornamos inteligentes? (SACKS, 2010, p. 24). O autor evidencia as preocupações daquela época. Muitos educadores expressavam descrédito em relação ao futuro dos surdos. Acreditava-se que os surdos não possuíam ideias, abstrações, capacidade de argumentação e que pensavam por imagens. Imaginava-se, também, que os surdos não teriam sua própria língua. O reconhecimento posterior da língua de sinais permitiu que os surdos conquistassem credibilidade nas suas capacidades intelectuais. 2.6 JUAN PABLO BONET (1579-1623) Strobel (2009), na Espanha, Juan Pablo Bonet iniciou a educação com outro membro surdo da família Velasco, Dom Luís, através de sinais, treinamento da fala e o uso de alfabeto dactilologia, teve tanto sucesso que foi nomeado pelo Rei Henrique IV como “Marquês de Frenzo”. FIGURA 16 – JUAN PABLO BONET FONTE: Veloso e Filho (2009, p. 30) UNIDADE 1 | A EDUCAÇÃO DOS SURDOS NOS ASPECTOS FILOSÓFICOS E SÓCIO-HISTÓRICOS DO MUNDO 18 Juan Pablo Bonet publicou o primeiro livro (Figura 18) sobre a educação de surdos em que expunha o seu método oral, “Reduccion de las letras y arte para enseñar a hablar a los mudos” no ano de 1620, em Madrid, Espanha. Bonet defendia também o ensino precoce de alfabeto manual aos surdos (Figura 19). FIGURA 18 – ALFABETO MANUAL AOS SURDOS FONTE: LANE (1992, p. 58) FONTE: LANE (1992, p. 55) FIGURA 17 – 1º LIVRO SOBRE A EDUCAÇÃO DE SURDOS NA ESPANHA 2.7 JOHN BULWER (1644-1684) John Bulwer (Figura 20) publicou “Chirologia e Natural Language of the Hand” (Figura 21), em que preconizou a utilização de alfabeto manual, língua de sinais e leitura labial, ideia defendida por George Dalgarno anos mais tarde. Para Perlin e Strobel (2008), John Bulwer acreditava que a língua de sinais era universal e seus elementos constituídos icônicos. E ainda publicou “Philocopus”, em que afirmava que a língua de sinais era capaz de expressar os mesmos conceitos que a língua oral. TÓPICO 2 | IDADE MÉDIA E IDADE MODERNA 19 FIGURA 20 – CHIROLOGIA E NATURAL LANGUAGE OF THE HAND FONTE: LANE (1992, p. 62) FONTE: LANE (1992, p. 62) FIGURA 19 – JOHN BULWER 2.8 JOHAN CONRAD AMMAN (1669-1724) Amman era um médico suíço praticando na Holanda. Ele escreveu sobre instrução para surdos e para aqueles que gaguejavam. UNIDADE 1 | A EDUCAÇÃO DOS SURDOS NOS ASPECTOS FILOSÓFICOS E SÓCIO-HISTÓRICOS DO MUNDO 20 FIGURA 21 – JOHAN CONRAD AMMAN FONTE: Veloso e Filho (2009, p. 31) Em seu livro “Loquens Surdus” (O homem surdo falando), Amsterdam 1693, ele escreveu pela primeira vez sobre voz e a diferença entre ele e respiração. Ele então descreveu a natureza da produção de som de fala. Terminou o livro apresentando seu programa educacional para ensinar os surdos a falar. FIGURA 22 – O HOMEM SURDO FALANDO FONTE: Disponível em: <http://www.acsu.buffalo.edu/~duchan/ new_history/early_modern/amman.html>. Acesso em: 10 jun. 2017. TÓPICO 2 | IDADE MÉDIA E IDADE MODERNA 21 2.9 JACOB RODRIGUES PEREIRE (1715-1780) Perlin & Strobel (2008), destacam que Jacob Rodrigues Pereire foi, provavelmente, o primeiro professor de surdos na França, oralizou a sua irmã surda e utilizou o ensino de fala e de exercícios auditivos com os surdos. A Academia Francesa de Ciências reconheceu o grande progresso alcançado por Pereire: “Não tem nenhuma dificuldade em admitir que a arte de leitura labial com suas reconhecidas limitações [...] será de grande utilidade para os outros surdos-mudos da mesma classe, [...] assim como o alfabeto manual que o Pereire utiliza” (PERLIN; STROBEL, 2008, p. 22). FIGURA 23 – JACOB RODRIGUES PEREIRE FONTE: Veloso e Filho (2009, p. 32) 2.10 SAMUEL HEINICKE (1729-1790) Para Luchese (2016), Heinicke, o “Pai do Método Alemão” – Oralismo puro –, iniciou as bases da filosofia oralista quando um grande valor era atribuído somente à fala. Samuel Heinicke publicou a obra “Observações sobre os mudos e sobre a palavra”. Em 1778, Samuel Heinicke fundou a primeira escola de oralismo puro em Leipzig. Inicialmente, a sua escola tinha nove alunos surdos. “Em carta escrita à L’Épée, Heinicke narra: meus alunos são ensinados por meio de um processo fácil e lento de fala em sua língua pátria e língua estrangeira através da voz clara e com distintas entonações para a habitações e compreensão” (PERLIN; STROBEL, 2008, p. 18). UNIDADE 1 | A EDUCAÇÃO DOS SURDOS NOS ASPECTOS FILOSÓFICOS E SÓCIO-HISTÓRICOS DO MUNDO 22 FIGURA 24 – SAMUEL HEINICKE (1729-1790) FONTE: Veloso e Filho (2009, p. 32) 2.11 ABADE CHARLES MICHEL DE L’ÉPÉE (1712-1789) Luchese (2016), parafraseando Perlin e Strobel (2008), destaca uma pessoa muito conhecida na história de educação dos surdos, Abade Charles Michel de L’Épée. Ele conheceu duas irmãs gêmeas surdas que se comunicavam através de gestos, iniciou e manteve contato com os surdos carentes e humildes que perambulavam pela cidade de Paris, procurando aprender seu meio de comunicação e levar a efeito os primeiros estudos sérios sobre a língua de sinais. Procurou instruir os surdos em sua própria casa, com as combinações de língua de sinais e gramática francesa sinalizada denominado de “sinais metódicos”. L’Épée recebeu muita crítica pelo seu trabalho, principalmente dos educadores oralistas, entre eles, Samuel Heinicke. Entretanto, é considerado por outros autores “Pai dos Surdos”, pelas contribuições para a Língua de Sinais. TÓPICO 2 | IDADE MÉDIA E IDADE MODERNA 23 FIGURA 25 – CHARLES MICHEL DE L’ÉPÉE FONTE: LANE (1992, p. 78) Sacks (2010) afirma que era revolucionário, no século XVI, acreditar que para compreender algo não era necessário ouvir as palavras. Para o autor, L’Épée, com sua humildade, contribuiu para a mudança na história, visto que desejava dar a todas as pessoas surdas a oportunidade de aprenderem a palavra de Deus. Assim, ele dedicou-se a aprender a língua dos pupilos “surdos-mudos”, termo usado naquela época. Associando sinais a figuras e palavras escritas, o Abade De L’Épée (Figura 27) ensinou os surdos a ler, proporcionando-lhes acesso ao conhecimento e à cultura do mundo. Esse método, que era a união da língua nativa de sinais com a gramática francesa, proporcionava aos alunos surdos a possibilidade de escrever o que lhes era dito, através de um intérprete que se comunicava por sinais. Com isso, De L’Épée fundou a primeira escola que teve auxílio público em 1755, e treinou diversos professores, sendo que em poucos anos já haviam sido criadas mais de vinte e uma escolas para surdos na Europa. Dois anos após a morte de L’Épée, que ocorreu em 1789, sua escola transformou- se na Nacional Institution for Deaf-Mutes. UNIDADE 1 | A EDUCAÇÃO DOS SURDOS NOS ASPECTOS FILOSÓFICOS E SÓCIO-HISTÓRICOS DO MUNDO 24 FIGURA 26 – ABADE DE L’ÉPÉE E A PRIMEIRA ESCOLA DE SURDOS NO MUNDO FONTE: Veloso e Filho (2009, p. 33) Ainda segundo Sacks (2010), as escolas foram se expandindo, aumentou também o número de professores e intérpretes (Figura 28 e 29), porém em 1869, um movimento iniciado por pais e professores contra a utilização da Língua de Sinais pelos surdos, comprometeu toda a dedicação oferecida aos métodos utilizados. FIGURA 27 – NOVOS PROFESSORES ATUANDO FIGURA 28 – NOVOS PROFESSORES ATUANDO FONTE: Disponível em: <https://goo.gl/8dwf- jT>. Acesso em: 12 jun. 2017. FONTE: Disponível em: <https://goo. gl/2ATMfh>. Acesso em: 12 jun. 2017. Todo o trabalho (Figura 30) de abade L’Épée com os surdos dependia dos recursos financeiros das famílias dos surdos e das ajudas de caridades da sociedade. TÓPICO 2 | IDADE MÉDIA E IDADE MODERNA 25 FIGURA 29 – ABADE DE L’ÉPÉE FUNDADOR EM VÁRIAS ESCOLASDA EUROPA FONTE: Disponível em: <http://www.pead.faced.ufrgs.br/sites/publico/eixo7/libras/unidade3/ unidade3.htm>. Acesso em: 15 jun. 2017. Segundo Strobel (2009), em 1789, abade Charles Michel de L’Épée publicou sobre o ensino dos surdos por meio de sinais metódicos: “A verdadeira maneira de instruir os surdos-mudos”, o abade colocou as regras sintáticas e também o alfabeto manual inventado por Pablo Bonnet e esta obra foi mais tarde completada com a teoria pelo abade Roch-Ambrois e Sicard. FIGURA 30 – ESTÁTUA DE CHARLES-MICHEL DE L´EPÉE (1712-1789) FONTE: Disponível em: <http://www.pead.faced.ufrgs.br/sites/publi- co/eixo7/libras/unidade3/unidade3.htm>. Acesso em: 15 jun. 2017. UNIDADE 1 | A EDUCAÇÃO DOS SURDOS NOS ASPECTOS FILOSÓFICOS E SÓCIO-HISTÓRICOS DO MUNDO 26 2.12 THOMAS BRAIDWOOD (1715-1806) Thomas Braidwood abre a primeira escola para surdos na Inglaterra, ele ensinava aos surdos os significados das palavras e sua pronúncia, valorizando a leitura orofacial, que é a leitura produzida pelo movimento da face e da boca ao mesmo tempo. FIGURA 31 – THOMAS BRAIDWOOD FONTE: Veloso e Filho (2009, p. 33) 27 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • A Idade Média é o período significativo de caminhada histórica, quando se passou das atrocidades contra às pessoas surdas, para uma exclusão social por serem seres castigados pelos Deuses ou ainda por serem objetos de curiosidade. • Como se valorizava muito os sentidos e o surdo não ouvia e nem falava, surgiu, na época, o termo surdo-mudo, que por equívoco muitas vezes ainda é utilizado nos dias atuais. • Na Itália, com os monges beneditinos, surge uma experiência de comunicação entre os surdos. • Na Idade Moderna, avança-se muito na caminhada histórica da educação de Surdos, acredita-se que o surdo é dotado de razão e se dissemina o ensino da Língua de Sinais entre os mesmos. Surgem muitos alfabetos manuais na época. • Muitas das experiências estão ligadas ao ensino de filhos surdos de famílias nobres, passando assim, a ter direito a heranças, por exemplo. Os monges educadores pretendiam também levar a palavra de Deus a todos. • Surgem mais de vinte e uma escolas de Língua de sinais por toda Europa, influenciadas pelas experiências de L’Épée. • Entretanto surge também, defendida principalmente pelo alemão Heinicke, a filosofia oralista para comunicação com os sujeitos surdos. 28 a) ( ) Thomas Braidwood. b) ( ) Abade Charles Michel de L’Épée. c) ( ) Samuel Heinicke. d) ( ) Johan Conrad Amman. AUTOATIVIDADE 1 Encontre um fato da Idade Média que comprove os avanços na caminhada histórica em relação à educação de surdos, quando comparados à Antiguidade. 2 Os surdos, agora considerados dotados de razão, passam a ter instrução. Tente colocar-se no lugar dos educadores da época, imaginando o ensino da Língua de Sinais e do oralismo. Escolha o método que você usaria e justifique sua escolha. 3 Quem foi o “Pai do Método Alemão”, que iniciou a base da filosofia oralista, onde um grande valor era atribuído somente à fala? 4 Quem foi considerado, por Sacks (2010), um revolucionário, por acreditar que para compreender algo não era necessário ouvir as palavras? Seu método era a união da língua nativa de sinais com a gramática francesa, fundou a primeira escola de Língua de Sinais e treinou diversos professores, o que influenciou a criação de mais de vinte e uma escolas na Europa. a) ( ) Samuel Heinicke. b) ( ) Abade Charles Michel de L’Épée. c) ( ) Pedro Ponce de Leon. d) ( ) Girolamo Cardano. 29 TÓPICO 3 IDADE CONTEMPORÂNEA UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO As experiências de ensino em Língua de Sinais continuam se disseminando neste período, assim como o método do Oralismo Puro, até que, no Congresso de Milão, em 1880, se opta pelo método do Oralismo Puro para o ensino dos Surdos, o que é definido pela comunidade surda como um retrocesso para a Língua de Sinais. Entretanto, muitos surdos já instruídos e que se instruíram na época, passam a defender a comunidade surda e a Língua de Sinais, ganhando espaço e credibilidade na sociedade. Conheça também neste tópico, surdos que se destacaram e são reconhecidos não apenas na área da educação. 2 IDADE CONTEMPORÂNEA ATÉ OS NOSSOS DIAS 2.1 JEAN MARC GASPARD ITARD (1774-1838) Para Jean Marc Gaspard Itard, dos Estados Unidos, o surdo podia ser treinado para ouvir palavras, ele foi o responsável pelo clássico trabalho com Victor, o “garoto selvagem” (o menino que foi encontrado vivendo junto com os lobos na floresta de Aveyron, no sul da França), Lopes (2004) afirma que Itard considerou o comportamento do menino semelhante a um animal por falta de socialização e educação, apesar de não ter obtido sucesso com o “selvagem” na relação à língua francesa. Mas influenciou na educação especial com o seu programa de adaptação do ambiente, afirmava que o ensino de língua de sinais implicava o estímulo de percepção de memória, de atenção e dos sentidos. 30 UNIDADE 1 | A EDUCAÇÃO DOS SURDOS NOS ASPECTOS FILOSÓFICOS E SÓCIO-HISTÓRICOS DO MUNDO FIGURA 32 – JEAN MARC GASPARD ITARD FONTE: Veloso e Filho (2009, p. 34) DICAS Assista ao filme: “O garoto selvagem”. É um filme francês de 1970, do gênero drama, dirigido por François Truffaut e baseado em livro de Jean Itard, um médico francês que se torna responsável pela educação de uma criança selvagem. FONTE DA IMAGEM: Disponível em: <http://www.grupoestacao.com. br/distribuidora/filmes_old/garotoselvagem.html>. 2.2 THOMAS HOPKINS GALLAUDET (1787-1851) Campello e Quadros (2010) afirmam que em Hartford, nos Estados unidos, o reverendo Thomas Hopkins Gallaudet observava as crianças brincando no seu jardim quando percebeu que uma menina, Alice Gogswell, não participava das brincadeiras por ser surda e era rejeitada das demais crianças. Gallaudet ficou profundamente tocado pelo mutismo da Alice e pelo fato de ela não ter uma escola para frequentar, pois na época não havia escola de surdos nos Estados Unidos. Gallaudet tentou ensinar-lhe pessoalmente e com o pai da menina, o Dr. Masson Fitch Gogswell, pensou na possibilidade de criar uma escola para surdos. TÓPICO 3 | IDADE CONTEMPORÂNEA 31 FONTE: Veloso e Filho (2009, p. 38) FIGURA 33 – THOMAS GALLAUDET E A ALICE GOGSWELL Segundo as mesmas autoras acima citadas, o americano Thomas Hopkins Gallaudet parte à Europa para buscar métodos de ensino aos surdos. Na Inglaterra, o Gallaudet foi conhecer o trabalho realizado por Braidwood, na escola “Watson’s Asylum” (Figura 35 – uma escola onde os métodos eram secretos, caros e ciumentamente guardados), que usava a língua oral na educação dos surdos, porém foi impedido e recusaram-lhe a expor a metodologia, não tendo outra opção, Gallaudet partiu para a França onde foi bem acolhido e impressionou-se com o método de língua de sinais usado pelo abade Sicard. FIGURA 34 – ESCOLA WATSON’S ASYLUM, LONDRES/INGLATERRA FONTE: Lane (1992, p. 112) 32 UNIDADE 1 | A EDUCAÇÃO DOS SURDOS NOS ASPECTOS FILOSÓFICOS E SÓCIO-HISTÓRICOS DO MUNDO 2.3 LAURENT CLERC Campello e Quadros (2010) relatam que Thomas Hopkins Gallaudet volta à América trazendo o professor surdo Laurent Clerc, melhor aluno do “Instituto Nacional para Surdos-Mudos” de Paris. Durante a travessia de 52 dias na viagem de volta ao Estados Unidos, Clerc ensinou a língua de sinais para Gallaudet, que por sua vez lhe ensinou o inglês. FONTE: Disponível em: <https://goo. gl/2Vhs66>. Acesso em: 18 jun. 2017. FONTE: Veloso e Filho (2009, p. 38) FIGURA 35 – THOMAS HOPKINS GALLAUDET FIGURA 36 – LAURENT CLERC Campello e Quadros (2010), salientam ainda que Thomas H. Gallaudet, junto a Clerc, fundou em Hartford, em 15 de abril 1817, a primeira escola permanente para surdos nos Estados Unidos em Hartford, “Asilo de Connecticut para Educação e Ensino de pessoas Surdas e Mudas”. Com o sucesso imediato da escola levou à abertura de outras escolas de surdos pelos Estados Unidos, quase todosos professores de surdos já eram usuários fluentes em língua de sinais e muitos eram surdos também. TÓPICO 3 | IDADE CONTEMPORÂNEA 33 FIGURA 37 – THOMAS E LAURENT CLERC FUNDARAM A PRIMEIRA ESCOLA PERMANENTE PARA SURDOS DOS ESTADOS UNIDOS, EM HARTFORD (CONNECTICUT) FONTE: Veloso e Filho (2009, p. 38) 2.4 UNIVERSIDADE DE GALLAUDET – GALLAUDET UNIVERSITY Em 1864 foi fundada a primeira universidade nacional para surdos “Universidade Gallaudet” em Washington – Estados Unidos – Segundo Campello e Quadros (2010), um sonho de Thomas Hopkins Gallaudet realizado pelo filho do mesmo, Edward Miner Gallaudet (1837-1917). FONTE: Quadros (2014, p. 25) FIGURA 38 – UNIVERSIDADE GALLAUDET 34 UNIDADE 1 | A EDUCAÇÃO DOS SURDOS NOS ASPECTOS FILOSÓFICOS E SÓCIO-HISTÓRICOS DO MUNDO Sacks (2010) relata que Edward Gallaudet, em visitas que realizou a escolas de catorze países da Europa, no final da década de 1860, percebeu que embora houvesse escolas que utilizavam tanto a língua de sinais quanto a fala, as que utilizavam a língua de sinais obtinham melhores resultados com relação à educação geral. Retorna aos EUA e em assembleia sugere a escola elementar para surdos, melhor treinamento para professores, livros-textos, utilizar mais inglês escrito nos últimos anos de escola, uso de Leitura Orofacial (LOF) e treinamento de articulação para aqueles que tinham condições de aprender. Laurent Clerc morreu nesta época, quando o Oralismo atinge seu auge (ele lutava pelos sinais). Campello e Quadros (2010), também fazem a reflexão sobre os bons resultados das escolas que utilizavam a Língua de Sinais e afirmam que a Universidade Gallaudet (Gallaudet University) é a única universidade do mundo cujos programas são desenvolvidos para pessoas surdas. Está localizada em Washington, D.C., a capital dos Estados Unidos. É uma instituição privada que conta com o apoio direto do Congresso desse país. A primeira língua oficial de Gallaudet é a American Sign Language – ASL –, a língua de sinais dos Estados Unidos (o inglês é a segunda). Nessa língua se comunicam entre si empregados, estudantes e professores, e se ditam a maioria dos cursos. Ainda que se conceda prioridade aos estudantes surdos, a universidade admite, também, um pequeno número de pessoas ouvintes a cada semestre. A estas se exige o domínio da ASL como requisito para permanecer na instituição. DICAS Para conhecer de maneira mais aprofundada a história da fundação de Galaudet, acesse o link do Youtube: <https://www.youtube.com/watch?v=97P-C2nrYGw>. 2.5 ALEXANDER GRAHAM BELL (1818–1905) Nasceu em Edimburgo, Escócia, em 3 de março de 1847, (Figura 40) o futuro instrutor de surdos-mudos e especialista em problemas auditivos. Estudou durante alguns anos na Universidade de Edimburgo e na Universidade de Londres e aos 23 anos de idade emigrou para o Canadá. Em 1871 partiu para os Estados Unidos da América, onde fundou uma escola para crianças com dificuldades auditivas. TÓPICO 3 | IDADE CONTEMPORÂNEA 35 FIGURA 39 – ALEXANDER GRAHAM BELL FONTE: Veloso e Filho (2009, p. 39) Strobel (2009) salienta que Alexander Bell foi o inventor do telefone, começou seus estudos na Escola Superior de Edimburgo, sua cidade natal. Em seguida, passou por três universidades. Esteve primeiro na de Edimburgo, depois no University College de Londres e, por fim, na de Würzburg, na Alemanha, onde conseguiu formar-se em medicina. Graças ao título de Doutor em Medicina e à experiência acumulada pelo pai, Bell abriu uma escola para diplomar instrutores de surdos-mudos, tornando-se, ele próprio, professor de fisiologia vocal. Foi esse o início de uma carreira segura, que lhe permitia trabalhar tranquilamente e se dedicar a certas experiências de acústica que desde os tempos universitários tinham atraído sua atenção. O pai de Bell, Segundo Strobel (2009), era autoridade indiscutível no campo dos problemas referentes à voz, à pronúncia e, sobretudo, às graves questões dos surdos-mudos, tivera a ideia de associar um desenho a todo som fonético para poder comunicar-se com os surdos-mudos e educá-los mais facilmente. Teria sido interessante construir um aparelho capaz de traçar automaticamente aqueles sinais fonéticos, a partir do som recebido. Ele permitia que seus filhos (Figura 41) assistissem às experiências que realizava nesse sentido. FIGURA 40 – FOTOS COM A MULHER E FILHOS DE ALEXANDER BELL FONTE: Disponível em: <https://goo.gl/ebjMeX>. Acesso em: 18 jun. 2017. 36 UNIDADE 1 | A EDUCAÇÃO DOS SURDOS NOS ASPECTOS FILOSÓFICOS E SÓCIO-HISTÓRICOS DO MUNDO Entre os anos 1870 e 1890, Strobel (2009) relata que Alexander Grahan Bell publicou vários artigos criticando casamentos entre pessoas surdas, a cultura surda e as escolas residenciais para surdos, alegando que são fatores do isolamento dos surdos com a sociedade. Ele era contra a língua de sinais argumentando que ela não propiciava o desenvolvimento intelectual dos surdos. 2.6 EDUARD HUET – 1822-1882 “O ser Surdo está presente como sinal e marca de uma diferença, de uma cultura e de uma alteridade que não equivale à dos ouvintes” (STROBEL, 2009, p. 16). Em 1855, o ministro de Instrução Pública Drouyn de Louys, o embaixador da França Monsieur Saint George e a corte do Rio de Janeiro, apresentaram o conde e professor surdo, Eduard Huet a Dom Pedro II, incentivando-o a criar um ensino para surdos-mudos (termo que utilizavam naquela época). Aqui se inicia a caminhada histórica da educação de surdos no Brasil, que Rocha (2008, p. 23) assim menciona: A educação escolar nas primeiras décadas do século XIX repercutiu nos primeiros momentos de organização do estado imperial. A ideia de disseminar o acesso à escolarização às camadas populares guardava também um sentido de controle dos súditos do novo império. Segundo Rocha (2008), a primeira escola criada no Brasil teve como objetivo ensinar a ler, escrever e contar. Era uma escola para pobres, brancos e livres. Naquela época, a sociedade, ainda escravocrata, organizava-se politicamente de forma distinta da atualidade. “Não guardava uma intenção de continuidade com os níveis de instrução secundária e superior, que eram destinados à aristocracia” (ROCHA, 2008, p. 23). Foi nesse cenário, conhecido como “das primeiras letras”, conforme Rocha, que em junho de 1855 E. Huet apresenta ao imperador D. Pedro II um projeto para criação de um estabelecimento para surdos. FIGURA 41 – E. HUET FONTE: Rocha (2008, p. 29) TÓPICO 3 | IDADE CONTEMPORÂNEA 37 A escola para surdos começou a funcionar no Brasil em 1º de janeiro de 1856, junto ao Colégio M. de Vassimon, no modelo privado. Nessa data, Huet apresentou seu programa de ensino, organizado com as seguintes disciplinas: “Língua portuguesa, Aritmética, Geografia e História do Brasil, Escrituração Mercantil, Linguagem Articulada (os que tivessem aptidão) e Doutrina Cristã” (ROCHA, 2008, p. 30). Huet, personalidade importante na história da educação de surdos, solicitou ao governo a concessão de um terreno para realizar os atendimentos. Strobel (2009) salienta a importância da história do fundador da 1ª escola de surdos no Brasil: E. Huet, professor surdo, nasceu, viveu e estudou em Paris. Fundou outras escolas de surdos em diversos países. Chegou ao Brasil em 1855 e fundou a primeira escola aqui. Em 1857, segundo Rocha (2008), a escola foi transferida para uma casa maior. Campello e Quadros (2010) ressaltam que os primeiros surdos que frequentaram a escola de surdos no Brasil foram um menino de 10 e uma menina de 12 anos. Rocha (2008) destaca que Huet nasceu em Paris em 1822 e ficou surdo aos 12 anos de idade, em consequência de ter contraído sarampo. Em junho de 1855, Huet apresentou ao imperador D. Pedro II um relatório em Língua Francesa, contendo o plano de criação de uma escola para surdos, denominado “Imperial Instituto dos Surdos-Mudos”, hoje: “Instituto Nacional de Educação de Surdos” (INES). FIGURA 42 – INSTITUTO NACIONAL SURDOS-MUDOS FONTE:Rocha (2008, p. 30) 38 UNIDADE 1 | A EDUCAÇÃO DOS SURDOS NOS ASPECTOS FILOSÓFICOS E SÓCIO-HISTÓRICOS DO MUNDO FIGURA 43 – INSTITUTO NACIONAL EDUCAÇÃO DE SURDOS – INES FONTE: Rocha (2008, p. 90) Strobel (2009) relata que o Instituto foi criado pela Lei nº 939, no dia 26 de setembro de 1857, data em que é comemorado o “Dia Nacional dos Surdos” no Brasil. A primeira escola apresentou uma proposta que mesclava a língua de sinais francesa com os sistemas já usados pelos surdos de várias regiões do Brasil. A autora comenta que no Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES), Huet permaneceu até o ano de 1861, quando foi embora do Brasil devido a problemas pessoais, e para lecionar aos surdos no México. Neste período, o INES foi dirigido por Frei do Carmo, que logo abandonou o cargo e foi substituído por Ernesto do Prado Seixa. Segundo Rocha (2008), posteriormente, vários diretores foram se alternando no cargo do INES. Um dos marcos importantes foi o ano 1972, quando Tobias Rabello Leite assumiu o cargo efetivo de diretor do INES, cumprindo o objetivo de melhorar a rotina da instituição. “Umas das metas principais do Dr. Tobias era a de oferecer ensino profissionalizante” (ROCHA, 2008, p. 40). Campello e Quadros (2010) salientam que se pode afirmar que a base da Língua de Sinais Brasileira foi a Língua de Sinais Francesa (LSF). Afirmam ainda que, posteriormente, Flausino José de Gama traduziu o dicionário Iconographia dos Signais dos surdos-mudos, cujos desenhos foram copiados em 1875, alterando as palavras francesas para a Língua Portuguesa. TÓPICO 3 | IDADE CONTEMPORÂNEA 39 FIGURA 44 – ICONOGRAPHIA DOS SIGNAIS DOS SURDOS-MUDOS FONTE: ROCHA (2008, p. 42) Para Campello e Quadros (2010), os anos de 1855 a 1880 foram os “anos de Ouro” para a comunidade surda do Brasil, já que no Congresso de Milão, em 1880, chegou-se à conclusão de que todos os surdos deveriam ser ensinados pelo Método Oral-Puro. 3 CONGRESSO DE MILÃO (1880) – RETROCESSO HISTÓRICO PARA O ENSINO DA LIBRAS O Congresso de Milão foi uma conferência internacional de educadores de surdos, no dia 6 de setembro de 1880, na cidade de Milão, Itália. Havia representantes da França, Itália, Grã-Bretanha, EUA, Canadá, Bélgica, Suécia e Rússia. Apenas um surdo participou do congresso. O congresso não discutiu diretamente os métodos de ensino para pessoas surdas. 40 UNIDADE 1 | A EDUCAÇÃO DOS SURDOS NOS ASPECTOS FILOSÓFICOS E SÓCIO-HISTÓRICOS DO MUNDO FIGURA 45 – LOCAL DO CONGRESSO EM MILÃO – ITÁLIA FONTE: Disponível em: <http://www.pead.faced.ufrgs.br/sites/pu- blico/eixo7/libras/unidade3/unidade3.htm>. Acesso em: 15 jun. 2017. O interesse era reafirmar a necessidade de substituição da língua de sinais pela língua oral nacional. Foram retomados velhos tempos e princípios de Aristóteles que dizia: “[...] a fala é o privilégio do homem, o único e correto veículo do pensamento, a dádiva divina, da qual foi dito verdadeiramente: a fala é a expressão da alma, como alma é a expressão do pensamento divino” (apud VELOSO; FILHO, 2009, p. 39). Foram colocadas as vantagens da fala e abolidos completamente os sinais. A língua de sinais, em todas as suas formas, foi proibida oficialmente, estigmatizada alegando que ela destruía a capacidade da fala dos surdos, argumentando que os surdos são “preguiçosos” para falar, preferindo usar a língua de sinais (VELOSO; FILHO, 2009, p. 45). Os autores afirmam que o domínio da língua oral pelo surdo passou a ser condição de aceitação dentro de uma comunidade majoritária. E relatam ainda que Edward Gallaudet, presente no congresso, defendeu o sistema combinado (oralidade e língua de sinais), porém não foi ouvido. As resoluções mais importantes do Congresso foram as seguintes, segundo Perlin e Strobel (2008): 1 Dada a superioridade incontestável da fala sobre os sinais para reintegrar os surdos-mudos na vida social e para dar-lhes maior facilidade de linguagem […] este Congresso declara que o método de articulação deve ter preferência sobre o de sinais na instrução e educação dos surdos e mudos. 2 O método oral puro deve ser preferido porque o uso simultâneo de sinais e fala tem a desvantagem de prejudicar a fala, a leitura orofacial e a precisão de ideias. Veja as palavras de G. Ferreri (líder dos educadores italianos surdos) para um jornal de educação de surdo: TÓPICO 3 | IDADE CONTEMPORÂNEA 41 Eu sempre declarei que os surdos, mesmo aqueles instruídos, não podem ser colocados no mesmo lugar dos seus educadores ouvintes [...], posto que lhes falta, desde a mais tenra infância, o elemento que forma a inteligência, isto é, a língua mãe, eles permanecem para sempre inferiores no seu desenvolvimento psicológico, mesmo quando o mais paciente e habilidoso professor lhe transmite a fala (apud SACKS, 2010, p. 34). G. Ferreri (apud SACKS (2010), ainda afirma que os surdos privados de uma educação que lhes daria uma apreciação clara e exata de grande dádiva da fala, persistem em considerar com uma língua natural a sua mímica violenta e espasmódica, que pode, na melhor das hipóteses, simplesmente estabelecer o seu parentesco com os famosos primatas. Sacks (2010) reflete que após o Congresso de Milão, o oralismo puro invadiu a Europa. Começa o desejo do educador de ter o controle total das salas e não se sujeitar a dividir o seu papel com um professor surdo. É a não valorização do surdo enquanto elemento capaz de educar e decidir. Para Skliar (2012), uma das consequências do Congresso de Milão foi a demissão dos professores surdos a sua eliminação como educadores. Era a forma de impedir que eles pudessem ter qualquer tipo de força em organizar manifestações ou propostas que fossem contra o oralismo. O Congresso de Milão transformou a fala de uma comunicação em uma finalidade da educação. Segundo Skliar (2012), a Itália aprovou o oralismo puro para facilitar o projeto geral da alfabetização do país, eliminando um fator de desvio linguístico. As ciências humanas e pedagógicas aprovaram porque o oralismo respeitava a concepção filosófica Aristotélica em que o mundo das ideias, abstrações e da razão são representados pela palavra, enquanto o mundo do concreto e do material é através dos sinais. FIGURA 46 – APROVAÇÃO DO ORALISMO PURO FONTE: Lane (1992, p. 148) 42 UNIDADE 1 | A EDUCAÇÃO DOS SURDOS NOS ASPECTOS FILOSÓFICOS E SÓCIO-HISTÓRICOS DO MUNDO Strobel (2009), salienta que Alexander Graham Bell teve grande influência neste congresso. O congresso foi organizado, patrocinado e conduzido por muitos especialistas ouvintes na área de surdez, todos defensores do oralismo puro (a maioria já havia empenhado muito antes do congresso em fazer prevalecer o método oral puro no ensino de surdos). Em contrapartida Sacks (2010 p. 59) ressalta os Congressos que seguiram na linha de discussão para que retornasse o uso da Língua de Sinais: 1º Congresso Internacional dos Surdos – 1889, Paris. Foi proclamado: “[...] a infalibilidade do método de Abbé L’Épée, sem excluir o uso da fala, reconhece a língua manual como instrumento mais apropriado para desenvolver o intelecto do surdo”. 2º Congresso – Chicago – 1893. 3º Congresso – Gênova – 1896, decidiram a favor do sistema combinado de instrução. 4° Congresso – Paris – 1900. Os surdos tiveram reuniões separadas dos ouvintes, pois muitos dos educadores oralistas presentes não aprovaram a presença de surdos nas discussões. Strobel (2009) afirma que, já no começo do século XX, surgem os primeiros relatos dos insucessos do oralismo puro. Um inspetor geral de Milão descreveu que o nível de fala e de aprendizado da leitura e escrita dos surdos após sete a oito anos de escolaridade era muito ruim, sendo que estes surdos não estavam preparados para uma função, a não ser como sapateiros ou costureiros. Lane (1982) relata que na França isso também foi notado. Os surdos educados no oralismo tinham uma fala ininteligível. Dois psicólogos, Alfred Binet e Theodoro Simon (1910),realizaram a primeira avaliação sistemática da educação de surdos em duas instituições francesas, concluindo que a educação oralista não permitia que eles conseguissem trabalho, trocassem ideias com estranhos e “tivessem uma conversa real com aqueles pertencentes as suas relações pessoais. Todos o que não progrediram na oralidade eram considerados deficientes mentais com necessidades especiais. Lane (1982) lembra que depois do Congresso de Milão, o conceito de surdo passou para “deficiente”, defendido pelo modelo médico. Vem então a descaracterização do surdo como diferente e a sua caracterização como anormal, como sujeito (indefinido) a ser tratado e curado, incapaz de responder àquilo que era esperado dele. TÓPICO 3 | IDADE CONTEMPORÂNEA 43 SINOPSE DO FILME “SEU NOME É JONAS” O filme conta a história de um menino surdo (Jonas) que foi internado em um hospital psiquiátrico, como deficiente mental, por um erro do médico. Quando os pais de Jonas realmente descobrem que ele é surdo e não deficiente mental, eles o tiram da clínica onde ele estava por 3 anos. Devido ao erro médico, Jonas já havia perdido parte de sua vida, pois ele e sua família não sabiam nada sobre o mundo dos surdos. A mãe de Jonas vai em busca de recuperar o tempo perdido, levando-o para uma escola “apropriada” para ele. Porém, Jonas não consegue acompanhar seus colegas de sala, pois nessa escola o uso de sinais era proibido. Os responsáveis pela escola acreditavam que o uso dos sinais poderia deixar o surdo preguiçoso, ou seja, o surdo não seria oralizado, o que faria com que ele se comunicasse apenas com quem também é surdo. Ensinar Jonas a ler os lábios e a falar foi uma tarefa muito difícil, Jonas se sentia frustrado em ter que tentar pronunciar palavras que nunca havia ouvido o som. A mãe de Jonas se desespera, pois ela vê os dias passando e nada de Jonas evoluir na escola e muito menos no convívio familiar. O pai de Jonas não consegue lidar mais com essa situação e até sugere que Jonas seja internado novamente, pois assim o convívio da família seria mais fácil. A mãe de Jonas não aceita a ideia de seu pai, o qual vai embora, deixando toda sua família para trás. Ao tentar buscar outros métodos para ajudar seu filho, a mãe de Jonas encontra uma família de surdos e vê que eles se comunicam por meio de sinais. Finalmente, a mãe de Jonas entra no mundo dos surdos, ela vai a um clube onde os surdos se encontram e conhece muitos deles, começa a aprender como funciona a língua de sinais e a cultura surda. A partir de então, alguns surdos começam a ensinar a língua de sinais para Jonas, que passa a ter uma nova descoberta do mundo. FONTE: Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=3Z0_CAQlIzY>. Acesso em: 12 out. 2017. DICAS 4 HELLEN ADAMS KELLER Helen Adams Keller nasceu em 27 de junho de 1880, em Tuscumbia, Alabama, Estados Unidos, ficou cega e surda aos dois anos de idade. Aos sete anos foi confiada à professora Anne Mansfield Sullivan, que lhe ensinou o alfabeto manual tátil (método empregado pelos surdos-cegos). Foi uma escritora, conferencista e ativista social norte-americana. 44 UNIDADE 1 | A EDUCAÇÃO DOS SURDOS NOS ASPECTOS FILOSÓFICOS E SÓCIO-HISTÓRICOS DO MUNDO FIGURA 47 – HELLEN ADAMS KELLER FONTE: Strobel (2008, p. 152) Hellen Keller foi a primeira pessoa surda e cega a conquistar um bacharelado. Strobel (2009) relata que a história sobre como sua professora, Anne Sullivan, conseguiu romper o isolamento imposto pela quase total falta de comunicação, permitindo à menina fl orescer enquanto aprendia a se comunicar, tornou-se amplamente conhecida através do roteiro da peça The Miracle Worker, que virou o fi lme “O Milagre de Anne Sullivan” (1962). Seu aniversário em 27 de junho é comemorado como Helen Keller Day, no estado da Pennsylvania, e foi autorizado em nível federal por meio da proclamação presidencial de Jimmy Carter em 1980, no centenário de seu nascimento. FIGURA 48 – FILME “O MILAGRE DE ANNE SULIVAN” FONTE: Disponível em: <http://www.adorocinema.com/fi l- mes/fi lme-4888/>. Acesso em: 15 jun. 2017. TÓPICO 3 | IDADE CONTEMPORÂNEA 45 Tornou-se uma célebre e prolífica escritora, filósofa e conferencista, uma personagem famosa pelo extenso trabalho que desenvolveu em favor das pessoas com deficiência. Keller viajou muito e expressava de forma contundente suas convicções. Membro do Socialist Party of American e do Industrial Workersofthe World, participou das campanhas pelo voto feminino, direitos trabalhistas, socialismo e outras causas de esquerda. Ela foi introduzida no Alabama Women's Hall of Fame, em 1971. Hellen Adams Keller faleceu no dia 1 de junho de 1968 (87 anos) em Westport, Connecticut, Estados Unidos. Anne Sullivan nasceu em 14 de abril de 1866, em Nova Iorque, e faleceu no dia 20 de outubro de 1936. Foi uma educadora estadunidense, mais conhecida por ter sido a professora de Helen Keller, uma adolescente surda-cega a quem ensinou por meio da Língua de Sinais através do tato. FIGURA 49 – ANNE SULIVAN FONTE: Strobel (2008, p. 153) 5 OUTROS DESTAQUES NA COMUNIDADE SURDA EM GERAL Strobel (2009) traz vários destaques da comunidade surda. Entre eles, em 1932, Antônio Pitanga, escultor surdo, pernambucano formado pela escola de Belas Artes, foi vencedor de três prêmios: Medalha de prata (escultura Menino Sorrindo), Medalha de ouro (Escultura Ícaro) e o prêmio viagem à Europa (com a escultura Paraguassu). 46 UNIDADE 1 | A EDUCAÇÃO DOS SURDOS NOS ASPECTOS FILOSÓFICOS E SÓCIO-HISTÓRICOS DO MUNDO FIGURA 50 – ANTÔNIO PITANGA FONTE: Strobel (2008, p. 55) A autora cita também Vicente de Paulo Penido Burnier, surdo, que em 1951 foi ordenado como padre no dia 22 de setembro. Ele precisou esperar durante três anos uma liberação do Papa da Lei Direito Canônico1, pois na época havia a proibição de surdo se tornar padre. 1 http://portalgualandi.com.br/site/?p=2119 FIGURA 51 – VICENTE DE PAULO PENIDO BURNIER FONTE: Strobel (2008, p. 58) Strobel (2009), cita também o surdo brasileiro Jorge Sérgio L. Guimarães, que em 1961, publicou no Rio de Janeiro o livro “Até onde vai o surdo”, no qual ele relata suas experiências como surdo, em forma de crônicas. TÓPICO 3 | IDADE CONTEMPORÂNEA 47 FIGURA 52 – JORGE SÉRGIO L. GUIMARÃES FONTE: Strobel (2008, p. 59) 5.1 WILLIAN STOKOE (1960) Campello e Quadros (2010) afirmam que Willian Stokoe foi um dos primeiros linguistas a estudar uma língua de sinais com tratamento linguístico. É considerado o pai da linguística da língua de sinais americana. FIGURA 53 – WILLIAN STOKOE FONTE: Quadros, Pizzio e Rezende (2009, p. 17) Stokoe publicou “Sign Language Structure: an Outline of Visual Communication Systems of the American Deaf” (Estrutura da língua de sinais: um esquema de sistemas de comunicação visual dos surdos americanos) afirmando que Língua de Sinais Americana (ASL) é uma língua com todas as características da língua oral. Para Campello e Quadros (2010), esta publicação foi uma semente de todas as pesquisas que floresceram nos Estados Unidos e na Europa. 48 UNIDADE 1 | A EDUCAÇÃO DOS SURDOS NOS ASPECTOS FILOSÓFICOS E SÓCIO-HISTÓRICOS DO MUNDO FIGURA 54 – SIGN LANGUAGE STRUCTURE: AN OUTLINE OF VISUAL COMMUNICATION SYSTEMS OF THE AMERICAN DEAF FONTE: Quadros, Pizzio e Rezende (2009, p. 28) Quadros e Karnopp (2007, p. 30) afirmam que: As línguas de sinais são, portanto, consideradas pela linguística como línguas naturais ou como um sistema linguístico legítimo e não como um problema do surdo ou como uma patologia da linguagem. Stokoe, em 1960, percebeu e comprovou que a língua dos sinais atendia a todos os critérios linguísticos de uma língua genuína, no léxico, na sintaxe e na capacidade de gerar uma quantidade infinita de sentenças. Stokoe revolucionou a linguística da época, apresentando uma análise descritiva da língua de sinais americana. Quadros, Pizzio e Rezende (2009) afirmam que os estudos linguísticos de Stokoe concentravam-se nas
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