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UNIVERSIDADE VIRTUAL DO ESTADO DE SÃO PAULO ALINE CRISTINA FERREIRA POLÍTICAS EDUCACIONAIS PARA ALÉM DO COTIDIANO ESCOLAR HORTOLÂNDIA 2018 ALINE CRISTINA FERREIRA POLÍTICAS EDUCACIONAIS PARA ALÉM DO COTIDIANO ESCOLAR Atividade apresentada à disciplina de Políticas Educacionais e Estrutura e Organização da Educação Básica, do curso de Pedagogia, da Universidade Virtual do Estado de São Paulo, como avaliação parcial para aprovação da disciplina. Professor: Dr. Caio Augusto Carvalho Alves Mediadora: Tamires Pastore Bernardi UNIVESP 2018 A transição do ensino fundamental para o ensino médio, para os jovens, já apresenta uma complexidade e, muitas vezes, tensões, que derivam, de acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica – DCNEB (BRASIL, 2013), das novas expectativas familiares e sociais que envolvem o jovem. Tais expectativas giram em torno de três variáveis principais, conforme o estrato sociocultural em que são produzidos: conflitos da adolescência; o mundo do trabalho; passagem da Educação Básica para a Educação Superior. Não é somente a matrícula que deve ser garantida. Outro problema a ser enfrentado é a permanência destes alunos até a conclusão do ensino médio. O recorte deste estudo para o ensino médio noturno se deve ao fato de as pesquisas e documentos oficiais apontarem a existência de uma diferença de qualidade quanto ao Ensino Médio Noturno e Diurno. Os dados do relatório final de uma pesquisa realizada por Davis, Moriconi, Christov e Nunes (2015), para a Fundação Carlos Chagas, intitulada “Ensino médio: políticas curriculares dos estados brasileiros” traz importantes informações que contribuem para a desmistificação dos motivos que estão na base da evasão escolar no ensino médio. As autoras revelam que 61,7% dos jovens que se evadem da escola não trabalham, e destacam que “quanto menor a renda, maior a probabilidade de não trabalhar” (p. 8), outro aspecto importante, no que se refere às meninas, é que a gravidez precoce não é a principal causa de seu afastamento. As autoras apontam ainda que, embora a realização do ensino médio noturno tenha sido uma das causas apontadas por professores gestores para o aumento da evasão escolar, e apesar do número expressivo de matrículas neste turno em muitos estados do país, em nenhuma das entrevistas foi mencionada alguma ação específica voltada para estes jovens (Davis et al., 2015). No Estado de São Paulo, mais de 36,10% dos alunos da rede pública de ensino estão matriculados neste período (CENPEC, 2016). Os indicadores de fluxo escolar na educação básica, divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e Ministério da educação, revelam que “12,9% e 12,7% dos alunos matriculados na 1ª e 2ª série do Ensino Médio, respectivamente, evadiram da escola de acordo com o Censo Escolar entre os anos de 2014 e 2015” (INEP, 2017, p. 1) Sousa e Oliveira (2008), ao publicarem os resultados de uma pesquisa nacional, realizada no ano de 2006, em atendimento à demanda da Secretaria de Educação Média e Tecnológica do Ministério da Educação (SEMTEC/MEC), intitulada “Ensino médio noturno: democratização e diversidade”, defendem que há muitas especificidades que caracterizam as relações estabelecidas entre a escola e os alunos do ensino médio noturno. A primeira delas se refere à diferenciação do aluno-estudante, compreendido como aquele que encerra o ensino fundamental II e imediatamente dá continuidade aos seus estudos, condição de apenas 40% dos alunos do período noturno; do aluno-trabalhador, aquele que já está inserido ou pretende se inserir no mercado de trabalho, e que tem como única possibilidade de completar o ciclo básico estudar à noite (SOUSA; OLIVEIRA; SEMTEC/MEC, 2006). É preciso considerar que, embora pareça haver um número expressivo de alunos do período noturno que não estão trabalhando, ainda é preciso desenvolver estudos que visem detalhar os motivos destes alunos estudarem à noite. Isso porque os jovens do ensino noturno possuem um nível socioeconômico mais baixo, quando comparado aos alunos do período diurno, e vêm de famílias com uma escolaridade menor, sendo muitas vezes o primeiro da família a completar esta etapa do ensino. Outro fator que deve ser levado em consideração é a falta da oferta de vagas para alocar todos os alunos do ensino médio durante o dia (CENPEC, 2016). Isso nos suscita algumas questões: os alunos que estão neste período escolheram estudar neste turno ou foram direcionados para ele por falta de vagas? Os alunos que não trabalham: não o fazem por opção ou por não encontrarem postos de trabalho, dada a sua precária escolarização? Aos jovens do ensino noturno são oferecidas, muitas vezes, condições diferenciadas para que os mesmos possam concluir seus estudos, dentre elas, a possibilidade de realizar atividades complementares, sobretudo a realização de leituras e escritas, em outros momentos, fora da escola, caso precisem chegar atrasados por compromissos de trabalho. Se por um lado isso viabiliza a continuidade dos estudos de muitos jovens, por outro, vai se validando a ideia de que o ensino médio noturno é mais fraco, não favorecendo o estabelecimento de vínculos dos alunos com a escola, tampouco o interesse pelos conhecimentos escolarizados (SOUSA; OLIVEIRA, 2008). O tempo de permanência na escola também é menor, os alunos do período noturno, ficam em média uma hora e meia por dia a menos na escola do que os do período diurno (INSTITUTO AYRTON SENNA, 2015). Neste turno há um aumento do número de faltas de professores, um maior número de professores lecionando disciplinas nas quais não são licenciados; em alguns estados, como no de São Paulo, os contratos de trabalho são mais precários, havendo um maior índice de professores temporários (CENPEC, 2016). Nota-se que vai se criando um hiato entre o ensino ofertado de dia e o ofertado à noite, que, inversamente proporcional ao que seria necessário, relega aos mais pobres e vulneráveis o ensino de pior qualidade, como demonstrado nos resultados publicados em 2015, pelo Instituto Ayrton Senna, ao realizar um estudo comparativo entre a qualidade do ensino médio noturno e diurno. Segundo os dados do Fundo das Nações Unidas para a infância (UNICEF), no ano de 2014, em relação ao contexto socioeconômico, além do trabalho precoce e da gravidez na adolescência, também foram destacados fatores relativos à violência tanto na família como no entorno da escola. Sobre a organização da escola, os alunos apontaram aspectos negativos: a infraestrutura precária dos estabelecimentos; a violência existente no cotidiano escolar; a desmotivação e as condições de trabalho dos professores; a falta de diálogo entre alunos, professores e a gestão da escola. Além disso, os alunos salientaram que os conteúdos são desinteressantes, distantes de sua realidade (DAVIS et al., 2015, p. 9). É importante ressaltar que em um contexto democrático conta com a participação de toda a sociedade nos processos de tomada de decisão acerca das problemáticas das políticas públicas. No caso do cotidiano escolar, é importante que tanto os envolvidos diretamente no processo de ensino aprendizagem (gestores escolares, alunos, professores, funcionários da escola etc.) quanto aqueles que não estão envolvidos diretamente (empresas, comunidade, familiares etc.) lutem para o acesso a uma educação de qualidade para todos. Nesse sentido, a luta se reflete em ações em busca desde vagas até a permanência e conclusão do ensino escolarizado. Nesse sentido é relevante compreender que “democracia não é apenas uma ideia e um ideal a atingir, mas é um concreto de vida, um processo de experiência que vai enriquecendo o próprio processo, o qual, desta forma, avança. ” (DEWEY, apud NEUTZLING, 1984, p.87). Portanto, se referir a democracia é o mesmo que se referir a um contexto em que a população participa ativamente dos processos de tomada de decisão. Em busca de superar a realidade da evasão escolar, podemos citar as políticas educacionais abaixo, conforme divulgação do portal Galeria de Estudos e Avaliação de Iniciativas Públicas (GESTA, 2018): Programa BCP na escola: Trata-se de uma implementação dos Ministérios da Educação, da Saúde e do Desenvolvimento Social, que objetiva realizar o acompanhamento e monitoramento do acesso e permanência das pessoas com deficiência à escola, de modo a proporcionar seu desenvolvimento e autonomia. O público alvo são pessoas de até 18 anos com deficiência Na adolescência não faça filhos, leia livros Projeto implementado pelo Centro Estadual de Educação Profissional Prof. João Mendes Olímpio de Melo, em Piauí e objetiva reduzir os elevados índices de gravides na adolescência. Nele, os alunos do 1º ano do ensino médio participam de palestras sobre gravidez na adolescência. Posteriormente, são divididos em casais e recebem um pintinho para cuidar como se fosse um filho para que sintam, na prática, a responsabilidade de cuidar de um bebê. Os estudantes também participam de uma nova etapa do projeto com trabalhos de incentivo à leitura. Benefício Variável Vinculado ao Adolescente (Programa Bolsa Família) Implementado pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário, o programa busca reforçar o acesso das famílias à educação por meio de compromissos, chamados de condicionalidades, que visam estimular os responsáveis a matricular e cobrar frequência de crianças e adolescentes na escola. Os responsáveis devem matricular as crianças e os adolescentes de 6 a 17 anos na escola e a frequência escolar deve ser de, pelo menos, 85% das aulas para crianças e adolescentes de 6 a 15 anos e de 75% para jovens de 16 e 17 anos, todo mês para que as famílias com renda mensal de até 170 reais por pessoa possam receber o Benefício no valor de 46 reais (até dois por família). Caminhos da Escola O programa objetiva renovar a frota de veículos escolares, garantir segurança e qualidade ao transporte dos estudantes e contribuir para a redução da evasão escolar, ampliando, por meio do transporte diário, o acesso e a permanência na escola dos estudantes matriculados na educação básica da zona rural das redes estaduais e municipais. O programa também visa à padronização dos veículos de transporte escolar, à redução dos preços dos veículos e ao aumento da transparência nessas aquisições. Programa Mais Educação – Educação Integral Tem como objetivo aumentar a oferta educativa nas escolas públicas. Para isso, disponibiliza atividades optativas, nas áreas do meio ambiente, esporte e lazer, direitos humanos, cultura e artes, cultura digital, prevenção e promoção da saúde, comunicação, educação científica e educação econômica. Projeto Jovem de Futuro Através de uma parceria entre as Secretarias Estaduais de Educação e o Instituto Itaú Unibanco, o programa busca apoiar na melhoria da gestão e funcionamento da dinâmica escolar, de forma a aumentar o desempenho dos alunos e diminuir os índices de evasão. REFERÊNCIAS BRASIL. Diretrizes e Bases da Educação Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica.2013. Brasília: MEC, SEB, DICEI. Acesso em 01 de outubro de 2018. Disponível em http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=1 5548-d-c-n-educacao-basica-nova-pdf&category_slug=abril-2014- pdf&Itemid=30192 CENPEC. Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária. Informe de Pesquisa – ensino médio, qualidade e equidade: avanços e desafios em quatro estados: CE, GO, PE e SP. São Paulo. 2016. Acesso em 01 de outubro de 2018. Disponível em http://www.cenpec.org.br/wp- content/uploads/2016/02/Informe_Jornalista.pdf DAVIS, C. L. F.; MORICONI, G. M.; CHRISTOV; L. H. S.; NUNES, M. M. R. (Fundação Carlos Chagas). Ensino médio: políticas curriculares dos estados brasileiros. São Paulo. Acesso em 01 de outubro de 2018. Disponível em http://movimentopelabase.org.br/wp-content/uploads/2016/06/Ensino- Me%CC%81dio-Poli%CC%81ticas-Curriculares-dos-Estados-Brasileiros- fundacao-carlos-chagas.pdf GESTA. Galeria de Estudos e Avaliação de Iniciativas Públicas. Painel de Ações. Acesso em 03 de outubro de 2018. Disponível em http://gesta.org.br/tema/engajamento-escolar/#painel INSTITUTO AYRTON SENNA. Relatório anual. 2015. Acesso em 01 de outubro de 2018. Disponível em http://www.institutoayrtonsenna.org.br/arquivos/Instituto- Ayrton-Senna-Relatorio-Anual-de-Resultados-2015-1.pdf INEP. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Inep divulga dados inéditos sobre fluxo escolar na educação básica. 2017. Disponível em http://portal.inep.gov.br/artigo/- /asset_publisher/B4AQV9zFY7Bv/content/inep-divulga-dados-ineditos-sobre- fluxo-escolar-na-educacao-basica/21206 NEUTZLING, C. Tolerância e democracia em John Dewey. Roma: Pontifícia Universidade Gregoriana,1984 SOUSA, S. K.; OLIVEIRA, R. P. Ensino Médio noturno: democratização e diversidade. Educar, n. 30, 2008. p. 53-72
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