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Clinicamente, polidrâmnio ou hiperidrâmnio é o acentuado excesso de líquido amniótico, reconhecido ao exame físico – útero grande para a idade gestacional – e, eventualmente, confirmado por generosa aspiração de fluido à amniocentese transabdominal, ou pelo escoamento desmedido no momento do parto. Atualmente, e com maior precisão, define-se o polidrâmnio quando, à ultrassonografia, há bolsão de líquido amniótico com diâmetro vertical > 8 cm. Etiopatogenia É conhecida a relação entre o polidrâmnio e as anomalias congênitas fetais, especialmente as do sistema nervoso central (anencefalia, defeitos do tubo neural) e as atresias altas do tubo digestivo (esôfago e duodeno). O excesso de fluido decorre do desequilíbrio resultante da falta de deglutição fetal, visto que a excreção urinária, fonte produtora, continua normalmente. Há grande incidência de polidrâmnio nos casos de hidropisia fetal não imune, diabetes melito, doença hemolítica perinatal (DHPN), gemelidade (monocoriônica) e patologia placentária (corioangioma, placenta circunvalada). As infecções fetais associadas ao polidrâmnio incluem: parvovírus B19, citomegalovírus (CMV), toxoplasmose e sífilis. Em 50% dos casos de polidrâmnio, no entanto, mãe e feto são normais (polidrâmnio idiopático); atualmente, sabe-se que não é comum a recorrência desse polidrâmnio idiopático em gestações subsequentes (5%). Quanto maior o grau de polidrâmnio, mais elevada a possibilidade de malformações fetais. O estudo genético é obrigatório (cariótipo), em quase todos os casos de polidrâmnio geralmente por meio da cordocentese, pela idade avançada da gravidez. Quadro clínico e diagnóstico Distingue-se forma aguda de crônica. A forma aguda é rara (5%) e precoce, característica do segundo trimestre. O aumento volumétrico, de instalação rápida, agrava-se dia a dia, alcançando, após poucas semanas, volume considerável (3, 4, 5 ℓ ou mais). Os sinais são comuns às formas crônicas, mas são graves os sintomas decorrentes do súbito crescimento do útero. As condições maternas podem exigir a interrupção da gravidez, ou a expulsão ocorre após amniorrexe espontânea. Provocada ou não, a interrupção antes do termo é o desfecho habitual, sendo considerados como exceções os casos de normalização e prosseguimento da gravidez. A forma crônica, mais frequente, inicia-se nos últimos meses. A expansão do útero é gradativa, mas pode alcançar volume considerável. O prognóstico fetal é melhor, embora ainda seja ruim. O sofrimento materno pode ser intenso devido à pressão do útero, muito desenvolvido, sobre o diafragma, com dispneia acentuada, tornando lenta a circulação venosa de retorno dos MMII, provocando edema, varizes e hemorroidas, e comprimindo o sistema digestório; além disso, há dores difusas, abdominais e lombares. O exame revela o grande volume do útero, em desproporção com a idade gestacional; há edema nas porções baixas do ventre, como em todo o crescimento desmesurado do útero, e a pele do abdome distendida, lisa e brilhante, apresenta extensas estrias. À palpação, nota-se a consistência cística e, muitas vezes, não se percebe o feto, nem mesmo a sensação de “rechaço”. A comprovação clínica de hipertonia é a palpação, mais acentuada nos polidrâmnios volumosos. O feto, quando reconhecido, é extremamente móvel, com apresentação indefinida. Os batimentos cardiofetais, rastreados pelo estetoscópio de Pinard, são surdos ou até mesmo imperceptíveis, o que se liga à massa líquida interposta. É fundamental não se precipitar afirmando a morte do concepto antes que se tenha certeza. Em geral, com o sonar-Doppler, não há dificuldades na escuta. POLIDRAMNIA Ultrassonografia Confirma o diagnóstico e é indispensável para reconhecer a gemelidade e revelar algumas das anomalias congênitas frequentemente associadas. POLIDRÂMNIO = BOLSÃO > 8 (USG) Prognóstico O prognóstico materno é bom, apenas agravado por algumas complicações da gravidez e do parto. O mesmo não ocorre com o feto: são muito frequentes as malformações, a prematuridade e as lesões anóxicas e traumáticas. A mortalidade perinatal ocorre em aproximadamente 50% dos casos. Observam-se as seguintes complicações: •O parto pré-termo é o desfecho de quase todas as formas; •O parto prolongado é frequente; •Há relatos de choque, atribuídos à descompressão súbita após amniorrexe ou à rápida aspiração subsecutiva à paracentese; •Foram observadas hemorragias no pós- parto, devido à atonia por sobredistensão; •Alta incidência de prematuridade; Tratamento No feto normal (à ultrassonografia e ao cariótipo), não havendo evidência de malformação, a conduta é procurar prolongar a gravidez, aliviando, simultaneamente, os sintomas decorrentes do excessivo volume amniótico. As condições maternas se agravam e exigem, muitas vezes, o esvaziamento do excesso de líquido, que pode ser obtido por amniocentese transabdominal, seguida de aspiração; trata-se, teoricamente, de um procedimento conservador. O volume amniótico volta rapidamente à quantidade primitiva, renovando-se a punção; Na forma crônica, o prognóstico é reservado, mas não são poucas as possibilidades de a gravidez alcançar o termo ou suas proximidades. Entre 24 e 34 semanas de gravidez, diante da possibilidade do parto pré-termo, o uso de corticoide está indicado. No feto malformado e/ou cariótipo anormal, o reconhecimento de malformação torna inútil o prosseguimento da gravidez, e é autorizada a interrupção. A indução será realizada com perfusão de ocitocina e com amniotomia; também é útil o misoprostol vaginal. Amniocentese transabdominal A aspiração deve ser lenta, durando algumas horas para a retirada de 1.000 a 1.500 mℓ. O esvaziamento rápido pode propiciar fenômenos de descompressão e, certamente, o aumento da atividade uterina. Recomenda-se a administração simultânea de tocolíticos. Os cuidados de assepsia e de antissepsia devem ser redobrados e completados pela administração de antibiótico de largo espectro e de imunoglobulina anti-Rh, nas pacientes Rh- negativo, não imunizadas. Indometacina O fármaco é capaz de normalizar o volume do líquido amniótico em casos de polidrâmnio, de acordo com a capacidade de reduzir o fluxo sanguíneo renal e a diurese fetal. Seu emprego deve ser limitado a 34 semanas de gravidez, visto que a indometacina pode fechar, posteriormente, o canal arterial. Iniciado o parto (ou antes de induzi-lo), recomenda-se normalizar o volume amniótico por aspiração transabdominal, que apresenta, nessa indicação, vantagens inequívocas: diminui a hipertonia e melhora a oxigenação do feto; corrige
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