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PECA PENAL Apelacao

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTRO JUIZ DA __ VARA DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER DA COMARCA DE RONDONÓPOLIS/MT
PROCESSO Nº (...)
GABRIEL MATOS, já qualificado nos autos do processo crime nº (...) que lhe promove a Justiça Pública, por seu advogado que esta subscreve, não se conformando com a respeitável sentença que o condenou como incurso nas penas do art. 157, caput, do Código Penal, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, dentro do prazo legal, interpor:
APELAÇÃO
Com fundamento no art. 593, inciso I, do Código de Processo Penal. Requer que seja recebida e processada a presente apelação, após exercido o juízo de admissibilidade, que sejam os autos encaminhados, com as inclusas razões, ao Egrégio Tribunal de Justiça.
Termos em que,
Pede deferimento.
Local e data
Assinatura do advogado 
(Inscrição na OAB)
EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MATO GROSSO/MT
RAZÕES DE RECURSO DE APELAÇÃO
APELANTE: GABRIEL MATOS
APELADO: MINISTÉRIO PÚBLICO
PROCESSO: (...)
ORIGEM: __ VARA DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER DA COMARCA DE RONDONÓPOLIS/MT
ÉGREGIO TRIBUNAL,
NOBRES JULGADORES,
COLENDA CÂMARA,
A r. sentença de fls. (...), proferida pelo douto Juízo da __ª Vara Criminal da Comarca de Rondonópolis/MT, merece ser reformada totalmente, pelos motivos que o Apelante passa a expor:
TEMPESTIVIDADE
O presente Recurso de Apelação é tempestivo, visto que interposto dentro do prazo de uma vez que o Apelante foi intimado pessoalmente da prolação da Sentença no dia 18 de junho de 2018, ou seja, de acordo com art. 593 do CPP:
Art. 593. Caberá apelação no prazo de 5 (cinco) dias: (Redação dada pela Lei nº 263, de 23.2.1948)
I - das sentenças definitivas de condenação ou absolvição proferidas por juiz singular;
Portanto, podendo ser apresentado até o dia 26 de junho de 2018, uma vez que o art. 798 do CPP nos traz que os prazos serão contínuos não se interrompendo, ainda no citado artigo em seu §1º leciona que não se computará o dia do começo, mas sim o do vencimento.
Assim sendo, resta demonstrada a Tempestividade do presente recurso.
LEGITIMIDADE 
O Apelante possui legitimidade para recorrer pois o mesmo possui interesse na reforma da r. sentença, uma vez que é parte prejudicada, assim sendo parte legitima para interpor o presente recurso.
CABIMENTO
Há adequação do presente recurso com a espécie de decisão proferida, visto que tem seu cabimento delineado pelo artigo 593, I, do CPP.
Como a decisão recorrida é oriunda e proferida por juiz singular, o recurso encontra cabimento no artigo supracitado.
 INTERESSE DE AGIR
O Apelante possui interesse de agir, pois teve seu direito lesado pela decisão, conforme Mirabete:
"...só tem legítimo interesse aquele que teve seu direito lesado pela decisão." (Mirabete, 1996, p. 626).
DOS FATOS
O Apelante foi denunciado pelo crime de ameaça, no Art. 147 do CP, vindo a ser condenado injustamente, o que vai ser explanado e combatido a seguir.
A defesa preliminar apresentada pelo Apelante fls (...), sendo a denúncia recebida conforme fls (...), na audiência de instrução e julgamento foram colhidos o depoimento da testemunha arrolada, da vítima, e o interrogatório do Apelante fls (...).
As perguntas formuladas pela Defesa do réu ás testemunha, na audiência de instrução e julgamento foram TODAS indeferidas pelo juiz “a quo”. Em seguida o Ministério Público e o apelante ofereceram alegações finais escritas fls (...).
Sobreveio a sentença de 1º grau que condenou o Apelante, por crime de ameaça nos termos do Art.147 do CP, à pena de 01 (um) mês de detenção, em razão de ser o Apelante réu primário e possuir bons antecedentes, sob o argumento de que as declarações da Vítima possuíram valor probatório de maior relevo, não necessitando de estarem corroboradas por outro elemento, em principal pelo depoimento das testemunhas.
Motivos pelos quais restou ao Apelante inconformado, recorrer a Vossas Excelências.
PRELIMINAR DE NULIDADE 
DA INSTRUÇÃO PROCESSUAL
Preliminarmente cumpre se destacar o cerceamento de defesa ocorrido em face do INDEFERIMENTO de TODAS, não de uma, mas TODAS as perguntas formuladas para as testemunhas de defesa acerca da discussão havida entre o Réu e a Vítima, ofendendo as Garantias Constitucionais da AMPLA DEFESA E O CONTRADITÓRIO e ainda do DEVIDO PROCESSO LEGAL, dispostos no Art. 5º, incisos LIV e LV da CF. 
O cerceamento de defesa se dá quando ocorre uma limitação na produção de provas de uma das partes no processo, que acaba por prejudicar a parte em relação ao seu objetivo processual. Qualquer obstáculo que impeça uma das partes de se defender da forma legalmente permitida gera o cerceamento da defesa, causando a nulidade do ato e dos que se seguirem, por violar o princípio constitucional do Devido Processo Legal. Ora Excelências é evidente que o Apelante teve seu direito a defesa limitado com o indeferimento de suas perguntas.
Por ampla defesa, no dizer de CELSO RIBEIRO BASTOS:
 “deve-se entender o asseguramento que é feito ao réu de condições que lhe possibilitem trazer para o processo todos os elementos tendentes a esclarecer a verdade. É por isso que ela assume múltiplas direções, ora se traduzindo pela inquirição de testemunhas, ora na designação de um defensor dativo, não importando, assim, as diversas modalidades, em um primeiro momento. (...) A ampla defesa só estará plenamente assegurada quando uma verdade tiver iguais possibilidades de convencimento do magistrado, quer seja alegada pelo autor, quer pelo réu. Às alegações, argumentos e provas trazidos pelo autor é necessário que corresponda uma igual possibilidade de geração de tais elementos por parte do réu”.
Complementando, Guilherme de Souza Nucci analisa que:
“A ampla possibilidade de se defender representa a mais copiosa, extensa e rica chance de se preservar o estado de inocência, outro atributo natural do ser humano Não se deve cercear a autoproteção, a oposição ou a justificação apresentada; ao contrário, exige-se a soltura das amarras formais, porventura existentes no processo, para que se cumpra, fielmente, a Constituição Federal”.
Ou seja, com o indeferimento o juiz “a quo” negou tal direito ao Apelante é por obvio que o juiz pois a faculdade em avaliar a conveniência das provas, mas isso não afasta o dever de fundamentação da decisão que encerra a instrução face o disposto no art. 5ºLV da CF/88, o que não ocorreu no caso em tela.
Nesse sentido temos a seguinte decisão do STJ:
STJ - HABEAS CORPUS Nº 16.620 - MO (2001/0051911-2) (DJU 12.11.01, SEÇÃO 1, P. 162, J. 25.09.01)
RELATOR: MINISTRO FELIX FISCHER 
IMPETRANTE: REGINALDO MARCIO PEREIRA - DEFENSOR PÚBLICO 
IMPETRADO: DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS 
PACIENTE: L.G.S. (PRESO)
EMENTA
PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. TRÁFICO ILÍCITO DE ENTORPECENTES. NULIDADE. RÉU INDEFESO. 
I - No âmbito do processo penal há a necessidade de que se garanta ao réu o pleno exercício do seu direito de defesa, que deve ser efetivo, real, e não apenas pro forma. 
II - Resta caracterizada a falta de defesa do réu, e não apenas a sua deficiência, se o defensor, não obstante tenha apresentado defesa prévia e alegações finais, o fez apenas formalmente, assumindo postura praticamente contrária aos interesses do réu, não só ao deixar de sustentar a posição apresentada pelo próprio acusado no interrogatório, no sentido da desclassificação para o delito do art. 16 da Lei 6.368/86, mas também ao postular a condenação, ainda que a pena mínima, por delito mais grave do que o admitido. Tudo isto, sem ao menos interpor apelação ao sobrevir condenação a pena superior ao mínimo legal. 
III - A concreta e objetiva inércia ou indiferença da defesa é de ser equiparada, conforme dicção da melhor doutrina, à sua inexistência (Precedentes). 
Writ concedido.
Portanto, fica claro que o M.M Juiz agiu contrário ao disposto no art. 212 do CPP, pois trata de questionamento pertinente até mesmo corrobora para dosimetriade pena cominada que por ventura vier a ser imposta.
Posto isso Excelências, requer a nulidade do processo consoante com art. 563 do CPP e a Súmula 523 do STF.
DO DIREITO
DA AUSENCIA DE PROVAS 
Não há nos autos elementos de prova que demonstrem que o Réu seja autor do fato delituoso, devendo prevalecer o princípio CONSTITUCIONAL da presunção de inocência e do “in dubio pro reo”. 
Verifica-se nos autos a existência de teses antagônicas, haja vista que, a Vítima alega algo e o Réu outro.
A argumentação que sustenta a sentença condenatória prolatada, a qual a declaração da Vítima possui valor probatório de maior relevo não deve prosperar. 
O sistema de provas do Processo Penal brasileiro não possui hierarquia, de forma que não existe prova tarifada que se sobreponha, por si só, sobre outra prova. Desta maneira, deve ser analisado, a cada processo, o arcabouço de provas produzidas para que se tenha condições de apurar a materialidade e autoria do delito exposto na exordial acusatória.
Em que pese fica claro que não existe prova com maior valia que outra, o que temos é que a audiência é ato de imensa valia no processo. É a oportunidade de se inquirir vítima, testemunhas e o acusado, o que não foi propiciado ao Apelante, haja vista, que todas suas perguntas as testemunhas de defesa foram indeferidas, não podendo o Apelante provar sua inocência.
No processo penal ninguém poderá ser condenado se não houver provas que liguem o autor ao ato pelo que se está sendo acusado, pois vigora o “Princípio da Verdade Real” Tal princípio traz como um norte aos juristas, quanto da aplicação da pena e da apuração dos fatos, ou seja, deve existir o sentimento de busca do julgador, e cabe ao magistrado buscar outras fontes de prova, somente a verdade real seja em sua essência atingida. 
Segundo Fernando Tourinho: 
“Para que o juiz possa melhor formar suas convicções a respeito da matéria do processo, ele deve reproduzir por meio de provas os fatos que mais se aproximam com a realidade, ou seja, ele deve saber quem cometeu a infração, onde cometeu, quem foi a vítima, porque cometeu, de que forma cometeu, podendo assim, quem sabe, descrever minuciosamente o ocorrido, garantindo um julgamento justo para as partes”.
Dito isto, fica claro que o decreto condenatório precisa estar fincado sobre os elementos carreados ao processo e que ofereçam ao magistrado sentenciante a pacífica certeza da ocorrência dos fatos censurados e apontem sua autoria. Existindo fragilidade nas escoras probatórias, todo o juízo edificado padece de segurança, dando margem à arbitrariedade, pondo em risco o ideal de justiça preconizado pelas sociedades democráticas.
 Se a prova produzida no inquérito policial e na sede judicial, não for suficiente para expedição de uma condenação criminal, deve-se, por isso, absolver o acusado, nos termos art. 386, inciso VI, do Código de Processo Penal.
Os Tribunais têm decidido, por óbvias razões que ante a insuficiência de conjunto probatório capaz de sustentar um decreto condenatório e não restando demonstrada a autoria do delito é de se conceder provimento ao recurso para, nos termos do art. 386, inciso VI, do Código de Processo Penal, absolver o acusado. No mesmo sentido é a decisão do TREPB segundo a qual:
“Revelando-se as provas colhidas no inquérito policial e em juízo, frágeis e duvidosas, impõe-se a absolvição do réu, por insuficiência de provas, nos termos do artigo 386, incisos VI, do CPP”. 
No mesmo rumo o entendimento pretoriano de que:
 “Não sendo o conjunto probatório suficiente para afastar toda e qualquer dúvida quanto à responsabilidade criminal do acusado, imperativa é a prolação de sentença absolutória. “Em matéria de condenação criminal, não bastam meros indícios. A prova da autoria deve ser concludente e estreme de dúvida, pois só a certeza autoriza a condenação no juízo criminal. Não havendo provas suficientes, a absolvição do réu deve prevalecer”.
É de concluir-se, em face de tudo que foi exposto e forte na melhor interpretação jurisprudencial que inexistindo prova robusta para proferir-se um decreto condenatório, a melhor solução é a absolvição do acusado, atendendo ao princípio do in dubio pro reo, uma vez que, para ensejar uma reprimenda criminal, a autoria e a materialidade do delito têm de estar absolutamente comprovadas nos autos, o que com certeza não se tem no caso em tela, sendo imperativo a absolvição do Apelante.
DA AUSÊNCIA DE TIPICIDADE
A atipicidade consiste, como o próprio termo sugere, na ausência de tipicidade. Não havendo tipicidade, inexiste fato típico e, consequentemente, nõa há crime, devendo o réu ser absolvido nos termos do art. 386, III, do CPP.
Ora Excelências é evidente que os simples dizeres do Denunciado “jamais aceitarei a separação”, por si só não configura crime de ameaça, o mal injusto e grave são elementos normativos do tipo penal, sendo, dessa forma, requisitos legais que o mal prenunciado seja injusto e grave, pois, a sua ausência acarreta a atipicidade da conduta, ou seja, o fato não se amolda ao tipo penal.
No mesmo diapasão leciona Mirabete: 
“Entende-se que somente haverá o crime se a ameaça for da prática de mal iminente e não do prenunciado para futuro remoto. Por outro lado, discute-se se o prenúncio de mal a ser executado no curso de entrevero ou de contenda caracteriza o crime de ameaça (...) ou se deve ser de um mal ‘futuro’ (podendo ser próximo ou iminente) e que não se confunde com a simples etapa de um mesmo complexo material ou verbalmente agressivo (...). Mais correta se nos afigura a conclusão de que haverá ameaça com a promessa de mal iminente, mas que será ela absorvida pela concretização do mal ou pela tentativa de causá-lo. ”
Nesse sentido temos o julgado do TJRS:
RECURSO CRIME. AMEAÇA. ART. 147, CAPUT, DO CP. ATIPICIDADE DA CONDUTA. SENTENÇA CONDENATÓRIA REFORMADA.
O crime de ameaça não se configurou na espécie, em que a afirmação foi proferida no calor de uma discussão, não se verificando a ocorrência de promessa séria de mal futuro e grave, mas mero desabafo ou bravata, que não correspondem à vontade de preencher o tipo penal. RECURSO PROVIDO. (Recurso Crime Nº 71002437036, Turma Recursal Criminal, Turmas Recursais, Relator: Cristina Pereira Gonzales, Julgado em 15/03/2010)
Nesse ponto fica claro que o fato ocorrido não constitui crime, tendo em vista que o Apelante estava em momento de forte emoção, mas que não correspondia o desejo de cometer algum tipo penal, muito pelo contrário, está claro que o Apelante é pessoa de boa índole, sem antecedentes criminais e que em momento algum quis causar algum mal a Vítima.
Portanto, é crível que o fato narrado na peça acusatória não constitui crime, nos termos do art. 386, III, do CPP, devendo o Apelante ser absolvido como forma de JUSTICA!
DOS PEDIDOS
Ante ao exposto, requer:
Que seja o presente recurso recebido e provido;
A reforma da r. Sentença afim de absolver o Réu por ausência de tipicidade, por ser um ato que não configura crime, nos termos do Art. 386, III 
Caso não seja esse o entendimento de Vossa Excelência, que seja o Réu absolvido por não existir provas nos autos, sendo o narrado pela Vítima mera alegação. 
Requer ainda a Vossa Exª a nulidade do processo consoante Art. 563 do CPP e a Súmula 523 do STF. 
Termos em que,
Pede deferimento.
Local e data
Assinatura do advogado 
(Inscrição na OAB)

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