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Relação bactéria-hospedeiro e Patogênese bacteriana Analice C. Azevedo Agosto- 2017 UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA DEPARTAMENTO DE PARASITOLOGIA, MICROBIOLOGIA E IMUNOLOGIA • Os microrganismos são ubíquos; • Os ecossistemas são normalmente colonizados por uma ampla e diversa microbiota, formada por bactérias, fungos e vírus. DIVERSIDADE E UBIQUIDADE MICROBIANA ECOSSISTEMA HUMANO : MICROBIOMA • Nichos ambientais que fornecem: nutrientes, umidade, pH e temperatura; • Microbiota humana numerosa, complexa e diversa (Proporção 1.3:1). Caracterizar detalhadamente a microbiota humana e analisar seu papel na saúde e na doença; Mudanças na composição da microbiota – correlação com várias doenças; Manipulação dessas comunidades – tratamento de doenças. iHMP • A colonização pode iniciar na vida intra uterina? • Uma sucessão ordenada de microrganismos, específica para cada região do corpo, até a formação de uma comunidade relativamente estável. Colonização Microbiana do corpo humano Os microrganismos que habitam os diversos sítios anatômicos do corpo humano podem ser classificados em dois grupos: • Microrganismos presentes temporariamente nas superfícies externas e internas, geralmente adquiridos pelo contato direto com o ambiente (bebidas, alimentos, objetos ou superfícies e poeira); • Não patogênicos ou potencialmente patogênicos; • Alteração nesse equilíbrio (podem proliferar e causar doença); • Eliminados por lavagem. • Microrganismos relativamente fixos em determinados sítios; • Podem apresentar papel específico, estabelecendo interações positivas ou neutras (não produzem doença em condições normais); • Apresentam diversificada habilidade metabólica que permite tanto sua colonização em determinados sítios, quanto a coexistência uns com os outros. • Produção de substâncias que são utilizadas pelo hospedeiro (ácidos graxos de cadeia curta, vitaminas complexo B e K); • Degradação de componentes da dieta não degradados (fibras) pelas enzimas do hospedeiro; • Desenvolvimento, modulação e maturação do sistema imune dos hospedeiros; • Barreira contra colonização por patógenos (exclusão competitiva). Papel importante na manutenção da integridade do hospedeiro, quando em equilíbrio em um sítio específico: Microbiota Residente Microbiota bacteriana normal da vagina mantém o pH em torno de 4 Inibe crescimento excessivo de C. albicans Alteração da microbiota normal da vagina – pH próximo a neutralidade Favorece crescimento de C. albicans vaginite EXCLUSÃO COMPETITIVA Atua: • Modulação do sistema imune; • Degradação de componentes não digeríveis da dieta, produção de ácido graxo de cadeia curta; • Síntese de vitaminas; • Proteção do epitélio intestinal contra patógenos; • Degradação de produtos tóxicos. Papel importante na manutenção da integridade do hospedeiro, forte impacto na fisiologia e na nutrição humana. MICROBIOTA INTESTINAL • Ambiente com baixo conteúdo de umidade • Favorece crescimento de microrganismos resistentes à desidratação – cocos Gram positivos • Principalmente nas glândulas apócrinas e folículo piloso • 103 – 104 microrganismos/cm2 MICROBIOTA RESIDENTE DA PELE • Staphylococcus epidermidis - não patogênico na pele, mas se atinge outros sítios (válvulas cardíacas artificiais, articulações prostéticas) pode causar doença • Propionibacterium e Peptococcus (anaeróbios) – folículos mais profundos da derme – tensão oxigênio mais baixa. P. acnes – patogênese da acne. • Candida sp e Malassezia – se atingir a corrente sanguínea – infecção sistêmica • Acinetobacter – Gram negativa que coloniza a pele MICROBIOTA RESIDENTE DA PELE Alta população microbiana Poucos ou nenhum microrganismo TRATO RESPIRATÓRIO Microrganismos podem se comportar como patógenos oportunistas, em situações de desequilíbrio ou ao serem introduzidos em sítios não específicos. Exemplo: E. coli no intestino delgado – inofensivo E. coli no trato urinário – colonização – infecção urinária (doença) Caráter anfibiôntico MICROBIOTA RESIDENTE Simbiose – relação entre dois organismos na qual pelo menos um é dependente do outro Muitos microrganismos que fazem parte da microbiota residente Bactérias do intestino grosso que sintetizam vitamina K e B – absorvidas pelos vasos sanguíneo IG fornece nutrientes Muitas bactérias causadoras de doenças RELAÇÕES ENTRE A MICROBIOTA E O HOSPEDEIRO Exposição Infecção - presença e multiplicação de uma patógeno em um hospedeiro (sem sinais e sintomas perceptíveis) Doença - alteração do estado normal do organismo Morte EXPOSIÇÃO X COLONIZAÇÃO X DOENÇA ELEMENTOS ENVOLVIDOS NO PROCESSO SAÚDE /DOENÇA Agente etiológico Hospedeiro Ambiente SAÚDEDOENÇA X Um microrganismo é um patógeno se for capaz de causar doença Patogenicidade – propriedade de um microrganismo de provocar alterações fisiológicas no hospedeiro, ou seja, capacidade de produzir doença. Virulência – Grau de patogenicidade, determinada pelos fatores de virulência expressos pelas células. MECANISMOS BACTERIANOS DE PATOGENICIDADE o Membranas mucosas (Trato respiratório, gastrointestinal, geniturinário, conjuntiva) o Pele o Via parenteral PORTAS DE ENTRADA Trato respiratório Inaladas para dentro da cavidade nasal ou boca – gotículas de umidade ou partículas de pó Bactéria Doença Streptococcus pneumoniae Pneumonia Mycobacterium tuberculosis Tuberculose Bordetella pertusis Coqueluche PORTAS DE ENTRADA Trato gastrointestinal Alimentos e água Bactéria Doença Shigella spp Shigelose Salmonella enterica Salmonelose Salmonella typhi Febre tifóide PORTAS DE ENTRADA Trato geniturinário Porta de entrada de patógenos sexualmente transmitidos Membranas mucosas íntegras ou presença de cortes Bactéria Doença Neisseria gonorrhoeae Gonorreia Treponema pallidum Sífilis Chlamydia trachomatis Uretrite PORTAS DE ENTRADA Pele ou via parenteral Pele íntegra – impenetrável para maioria das bactérias Cortes, ferimentos, injeções - favorecem a entrada Bactéria Doença Clostridium tetani Tétano Rickettsia rickettsii Febre maculosa Clostridium perfringens Gangrena gasosa PORTAS DE ENTRADA Salmonella typhi – sinais e sintomas quando ingeridas (via preferencial); se em contato com a pele – sem colonização. Pré-requisito para serem capazes de causar doença Alguns podem iniciar doença a partir de mais de uma porta de entrada. Ex: Bacillus anthracis. Streptoccocus pneumoniae – se inalados (via preferencial) podem causar pneumonia; se ingeridos – sem colonização. PORTAS DE ENTRADA PREFERENCIAL O resultado da relação bactéria-hospedeiro depende da: Fatores de virulência X Patogenicidade do microrganismo Resistência do hospedeiro Mecanismo de defesa Estruturas, produtos ou estratégias que contribuem para o aumento da capacidade da bactéria de causar doença FATORES DE VIRULÊNCIA Geralmente é específica, dependente do reconhecimento bactéria-hospedeiro • Adesinas - localizadas em estruturas de superfície da célula e interagem com receptores das células do hospedeiro. ADERÊNCIA Cápsula Flagelos ADERÊNCIA Fímbrias Pilus Biofilmes – Comunidades estruturadas de células microbianas envolvidas por exopolissacarídeos e aderidas a superfícies Biofilme – placa dental FATORES RELACIONADOS À ADESÃO • Fatores anti-fagocíticos: bloqueiam a fagocitose. Ex: Cápsula. Como os patógenos bacterianos escapam das defesas do hospedeiro? Como os patógenos bacterianos causam danos às células hospedeiras? Utilização de nutrientes do hospedeiro– removem ferro das proteínas transportadoras do hospedeiro. Dano direto – a própria aderência e invasão da bactéria– danos e lise das células hospedeiro. Ex: Shigella, E. coli, Salmonella Sideróforo – enterobactina Salmonella spp e E.coli • Coagulase – coagula o fibrinogênio no sangue, forma coágulo – protege a bactéria da fagocitose e a isola de outras defesas do hospedeiro. Staphylococcus aureus PRODUÇÃO DE ENZIMAS • Colagenase – hidrólise do colágeno que forma os tecidos conectivos de músculos e outros tecidos e órgãos. Células do hospedeiro fracamente aderidas - disseminação da bactéria. Streptococcus spp Clostridium perfringens PRODUÇÃO DE ENZIMAS Como os patógenos bacterianos causam danos às células hospedeiras Endotoxina – lipídeo A do LPS Exotoxina – produzidas e liberadas no meio • Citotoxina • Neurotoxina • Enterotoxina Propriedade Exotoxina Endotoxina Fonte bacteriana Gram positiva Gram negativa Gram negativa Relação com a bactéria Produto metabólico Presente LPS Propriedade química Proteína Lipídeo Efeito no organismo Específica para estrutura ou função Geral –produzem mesmo efeito Indução de febre Não Sim Endotoxinas Parte da porção externa da parede celular das bactérias Gram-negativas. Bactérias Gram negativas mortas liberam endotoxina – induz efeitos como febre, inflamação, diarreia, choque e coagulação do sangue PRODUÇÃO DE TOXINAS Neurotoxina – Clostridium botulinum Toxina botulínica – age nas junções neuromusculares e impede a transmissão de impulsos para músculo (não se contrai) PRODUÇÃO DE TOXINAS Enterotoxina – Vibrio cholerae Aumento da secreção de líquidos e eletrólitos pelas células intestinais – diarreia intensa Diarreia intensa PRODUÇÃO DE TOXINAS Portas de entrada Rotas de transmissão Portas de saída • Secreções, excreções ou tecidos que descamam • Geralmente é a mesma da porta de entrada • Trato respiratório, gastrintestinal, geniturinário e pele • Várias portas de saída – podem disseminar entre hospedeiros susceptíveis PORTAS DE SAÍDA Barreiras físicas e químicas FATORES RELACIONADOS AO HOSPEDEIRO Fatores de proteção do hospedeiro • Respostas imunes inatas Proporcionam respostas locais rápidas ao desafio de uma bactéria Sistema complemento, neutrófilos, macrófagos e células natural killer • Respostas imunes adaptativas Identificam, atacam e eliminam as bactérias de forma específica Anticorpos e células T Macrófago fagocitando bactérias Antígeno - anticorpo FATORES RELACIONADOS AO HOSPEDEIRO Fatores de risco do hospedeiro • Idade - Crianças: mais susceptíveis às infecções (intestinais e respiratórias) - Idosos: mais susceptíveis às infecções respiratórias. • Estresse e dieta - Fontes de estresse fisiológico (fadiga, dieta pobre, desidratação, mudanças climáticas bruscas) – aumentam a incidência e gravidade das doenças infecciosas. • Hospedeiro comprometido - Um ou mais mecanismos de defesa estão inativados –maior vulnerabilidade FATORES RELACIONADOS AO HOSPEDEIRO “O jogo da patogênese” INTERAÇÕES BACTÉRIA-HOSPEDEIRO (Microbe, 2006) Quais são cartas das bactérias? “As cartas de virulência” Cada fator de virulência é considerado uma carta que pode contribuir para a patogenicidade bacteriana (Microbe, 2006) Conjunto de diferentes cartas e trocas de cartas “As cartas de virulência” Quais são as cartas do hospedeiro? “As cartas de defesa” As cartas do hospedeiro: barreiras químicas e físicas, resposta imune inata, resposta imune adaptativa, imunização, tratamento, diagnóstico, prevenção pele pH ácido macrófago Vacinaçãoneutrófilosdiagnósticoantimicrobiano anticorpo O resultado do jogo da patogênese - Quais cartas cada jogador possui - Como as cartas são usadas
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