Buscar

direito penal

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 16 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 16 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 16 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

ART. 168 — APROPRIAÇÃO INDÉBITA 
1. CONCEITO 
Dispõe o art. 168 do Código Penal: “Apropriar-se de coisa 
alheia móvel, de que tem a posse ou a detenção”. 
2. OBJETO JURÍDICO 
Assim como nos demais delitos contra o patrimônio, tutela-se 
aqui o direito à propriedade. 
3. OBJETO MATERIAL 
Como no delito de furto, somente a coisa móvel pode ser 
objeto material do crime em tela (v. comentários ao crime de furto). 
O dinheiro pode ser apropriado? Nos termos do art. 85 do 
Código Civil brasileiro, “são fungíveis os móveis que podem 
substituir-se por outros da mesma espécie, qualidade e quantidade”. 
As coisas fungíveis dadas em depósito ou em empréstimo, com 
obrigação de restituição da mesma espécie, qualidade e quantidade, 
não podem ser objeto material de apropriação indébita. Nesses 
casos, há transferência de domínio, de acordo com os arts. 645 e 587 
do mesmo estatuto, que tratam, respectivamente, do depósito 
irregular e do mútuo. É por isso que não existe crime de apropriação 
indébita, uma vez que o tipo penal exige que a coisa seja alheia 
(...)”1. Entretanto, na hipótese em que o bem fungível, no caso o 
dinheiro, é confiado a alguém, pelo proprietário, para ser entregue a 
terceiro, como no caso do caixeiro-viajante ou de algum cobrador, 
pode ocorrer a apropriação indébita2. 
Os títulos de crédito podem ser apropriados, assim como os 
documentos comprobatórios de direitos. 
Tal como ocorre em todos os crimes patrimoniais, é 
imprescindível que o objeto material tenha um valor significante, 
pois, se irrelevante, ínfimo, poderá incidir o princípio da 
insignificância, que exclui a tipicidade penal, por exemplo, apropriarse 
de um isqueiro, cujo valor é irrisório. Se a coisa for de pequeno 
valor, configurar-se-á o crime de apropriação indébita privilegiada 
(CP, art. 170 c/c o art. 155, § 2º). 
4. ELEMENTOS DO TIPO 
4.1. Ação nuclear 
Consubstancia-se no verbo apropriar-se, que significa fazer 
sua a coisa de outrem; mudar o título da posse ou detenção 
desvigiada, comportando-se como se dono fosse. O agente tem 
legitimamente a posse ou a detenção da coisa, a qual é transferida 
pelo proprietário, de forma livre e consciente, mas, em momento 
posterior, inverte esse título, passando a agir como se dono fosse. 
Nesse momento se configura a apropriação indébita. Veja-se: há a 
lícita transferência da posse ou detenção do bem para o agente pelo 
proprietário. O agente, por sua vez, estando de boa-fé, recebe o bem 
sem a intenção de apoderar-se dele. Até aqui nenhum crime ocorre. 
A conduta passa a ter conotação criminosa no momento em que o 
agente passa a dispor da coisa como se dono fosse. 
Não pode haver o emprego de violência ou fraude por parte 
do agente para conseguir a posse ou detenção do objeto, pois sua 
obtenção contra a vontade do dono caracterizará outras figuras 
criminosas (estelionato, roubo, furto etc.). Assim, se o agente aluga 
uma joia para utilizá-la em uma festa e depois resolve dela 
apoderar-se, comete o crime de apropriação indébita. Se, por outro 
lado, o agente aluga o bem com a intenção de apropriar-se dele, 
utilizando o contrato como artifício para induzir a vítima em erro, 
haverá o crime de estelionato, pois a obtenção da posse se deu 
mediante o emprego de fraude iludente da vontade da vítima. 
Conclusão: a) o agente obtém a posse ou detenção do bem 
mediante lícita transferência deste pelo proprietário; b) não há o 
emprego de fraude, violência, grave ameaça — o proprietário 
transfere a posse ou detenção de forma livre e consciente; c) nos 
demais crimes patrimoniais (furto, roubo, estelionato) a apropriação 
é contemporânea à aquisição da posse ou detenção do bem, pois a 
vontade de apoderar-se deste existe desde o início da conduta. Na 
apropriação indébita, a apropriação é posterior à aquisição da posse 
ou detenção do bem, pois inicialmente o agente está imbuído de boafé, 
não tendo a intenção de se apropriar dele, porém, num segundo 
instante, surge a vontade de tê-lo para si. 
Vejamos em que consistem a posse e a detenção. 
Posse (v. art. 1.197 do CC). Cuida-se aqui da posse direta 
exercida pelo locatário, usufrutuário, mandatário, ou seja, é a posse 
exercida pelo indivíduo em nome de outrem. O exercício da posse 
nesse caso é desvigiado. Por exemplo: indivíduo que aluga um 
automóvel com o fim de fazer turismo pela cidade, mas, 
posteriormente, resolve apoderar-se dele, não mais o devolvendo. O 
indivíduo não cometeu crime de furto, uma vez que a posse direta do 
bem lhe foi entregue licitamente. Ele não subtraiu o bem, a sua 
retirada não foi clandestina, contudo, após a sua obtenção lícita, 
passou a dispor daquele como se dono fosse. 
Detenção (v. arts. 1.198 e 1.208 do CC). A detenção sobre o 
bem pode ser vigiada ou desvigiada. Segundo Hungria, “somente na 
última hipótese é que pode haver apropriação indébita, pois, na 
primeira, inexistindo o livre poder de fato sobre a coisa (não 
passando o detentor de um instrumento do dominus a atuar sob as 
vistas deste), o que pode haver é furto”3. Exemplos citados pelo 
autor: “caixeiro-viajante que se apropria de objetos do mostruário 
recebido do patrão, comete apropriação indébita qualificada, mas o 
caixeiro sedentário que se apropria de objetos tirados à prateleira ou 
do dinheiro recebido no balcão, iludindo a custódia do patrão, é réu 
de furto”. 
Conclusão: somente na detenção desvigiada, em que há livre 
disponibilidade sobre a coisa, pode-se falar em crime de apropriação 
indébita. Não exerce detenção desvigiada o vendedor de uma loja, 
que está sob constante vigilância do proprietário, porém o 
representante comercial exerce, pois está fora da esfera de 
vigilância daquele. O primeiro pratica furto; o segundo, apropriação 
indébita. 
A apropriação da coisa alheia pode-se dar de diversas 
maneiras: a) consumindo a coisa — “A” entrega a “B” prato de 
alimento para levar a “C”, e “B” ingere-o no caminho; b) alterando a 
coisa — o ourives que funde um tipo de ouro de menor valia do que 
aquele que lhe foi entregue para confecção de uma joia; c) retendo a 
coisa — o agente não devolve o objeto ou não lhe dá o destino 
conveniente, para o qual o recebeu; d) ocultando o objeto — o agente 
afirma que não recebeu a coisa. 
Uma das formas de execução do crime em tela é a não 
restituição do bem e a recusa em devolvê-lo. É preciso tomar muito 
cuidado na análise desses casos, visto que o simples ato de não 
restituir ou se recusar a tanto pode não denotar o propósito de 
apropriar-se do bem. Nesse diapasão, leciona Noronha que a não 
restituição e a recusa em devolver são atos que corporificam o delito, 
mas que devem ser examinados com o dolo do agente, que é o de 
apropriar-se. Afirma o autor: “Saillard, reproduzindo Garçon, cita os 
exemplos de pessoa que recebeu do amigo um relógio para usar em 
viagem, acontecendo que, no decurso desta, perdeu sua passagem, 
tendo, então, de empenhar aquele objeto...”4. Conclui Noronha que, 
nesse caso, não houve a intenção de se apropriar do bem, dando-se o 
mesmo com a recusa em devolver. Compartilha desse entendimento 
Hungria: “suponha-se, por exemplo, o caso de um credor 
pignoratício que, por necessidade momentânea de dinheiro, faz um 
arbitrário subpenhor da coisa recebida em garantia, mas com a 
intenção de ulterior resgate e oportuna restituição, e tendo 
capacidade financeira para tanto: não comete apropriação 
indébita”5. A maioria dos casos de não restituição do bem configura 
descumprimento de obrigações contratuais, e pode ser resolvida na 
esfera cível. De qualquer forma, quando podemos dizer que a não 
restituição do bem configura o delito em tela? Quando jáhouver 
vencido o prazo para a devolução da coisa. E se não houver prazo 
para tal? O vencimento do prazo passa a ficar na dependência de 
prévia interpelação, notificação ou protesto por parte da vítima (CC, 
art. 397, caput, e parágrafo único), muito embora tais medidas não 
sejam indispensáveis à configuração do crime. É que, antes da 
interpelação judicial, pode o agente ter alienado a coisa a terceiro, 
não se vendo razão para aquela medida preliminar. Vale dizer, 
qualquer tipo de interpelação, judicial ou extrajudicial, sem forma 
solene, mas apta a caracterizar a intenção de receber a coisa de 
volta, dá margem ao surgimento do crime. 
É preciso mencionar que muitas vezes o Código Civil autoriza 
em determinadas situações específicas a não restituição do bem pelo 
indivíduo, é o denominado direito de retenção (jus retentionis), por 
exemplo, o art. 664 do Código Civil menciona que “o mandatário tem 
o direito de reter, do objeto da operação que lhe foi cometida, quanto 
baste para pagamento de tudo que lhe for devido em consequência 
do mandato”. O mesmo sucede com os arts. 450 e seguintes do 
Código Civil, que preveem o direito de compensação (jus 
compensationis). 
4.2. Elemento normativo 
Exige o tipo penal que a coisa móvel seja alheia, mas, 
conforme veremos logo a seguir, o condômino, sócio ou proprietário 
podem praticar o crime em tela. 
4.3. Sujeito ativo 
Qualquer pessoa que tenha a posse ou detenha licitamente a 
coisa móvel alheia, por exemplo, locatário, usufrutuário, caixeiroviajante. 
O condômino, sócio ou coerdeiro podem praticar o crime 
em tela, no momento em que tornam sua a coisa comum. No 
entanto, tratando-se de coisa fungível, e a apropriação restringir-se à 
cota que cabe ao agente, não ocorre o crime em estudo, ante a 
ausência de qualquer lesão ou possibilidade de lesão patrimonial6. 
Se o sujeito ativo for funcionário público e apropriar-se de 
qualquer bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em 
razão do cargo, responderá pelo crime de peculato-apropriação (CP, 
art. 312, caput). Contudo, se o bem particular não estiver sob a 
guarda ou custódia da administração e o funcionário público dele se 
apropriar, responderá por apropriação indébita. 
4.4. Sujeito passivo 
É a pessoa física ou jurídica, titular do direito patrimonial 
diretamente atingido pela ação criminosa, ou seja, aquele que 
experimenta o prejuízo, que pode ser diverso daquele que entregou 
ou confiou a coisa ao agente. 
5. ELEMENTO SUBJETIVO 
É apenas o dolo, consubstanciado na vontade livre e 
consciente de apropriar-se da coisa alheia móvel, o que pressupõe a 
intenção de apoderar-se da res, o propósito de assenhorear-se dela 
definitivamente, ou seja, de não restituir, agindo como se dono fosse, 
ou de desviá-la do fim para que foi entregue. É o denominado animus 
rem sibi habendi7. O tipo penal não exige qualquer fim especial de 
agir (elemento subjetivo do tipo). Para autores como E. Magalhães 
Noronha, o verbo apropriar contém o dolo específico (elemento 
subjetivo do tipo), consistente na vontade de obter proveito para si ou 
para outrem, pois do contrário outro crime configurar-se-á. Assim, 
“quem retém um objeto, a que julga ter direito, ao invés de recorrer 
à justiça, pode cometer exercício arbitrário das próprias razões, mas 
não pratica apropriação indébita”8. 
É preciso reforçar que o dolo de apropriar-se da coisa não 
pode anteceder à posse ou detenção desta pelo agente. Nesse 
instante, deve estar presente a boa-fé do agente. Do contrário, poderá 
configurar-se o crime de estelionato, em virtude de a vítima ter sido 
induzida em erro. Assim, a má-fé do agente deve ser subsequente à 
posse ou detenção da coisa para que se configure a apropriação 
indébita. 
A apropriação indébita para uso configura o crime em 
questão? Segundo a doutrina, não se configura o crime em estudo se, 
por exemplo, o depositário de um automóvel se serve dele para um 
simples passeio9. No caso, presente está a intenção de restituir a 
coisa, e não a de apropriar-se dela definitivamente. 
Não há previsão da modalidade culposa do crime. 
6. MOMENTO CONSUMATIVO 
Trata-se de crime material. Consuma-se no momento em que 
o agente transforma a posse ou detenção sobre o objeto em domínio, 
ou seja, quando passa a agir como se fosse dono da coisa. A inversão 
de ânimo é demonstrada pela própria conduta do agente, que passa a 
adotar comportamentos incompatíveis com a mera posse ou 
detenção da coisa. 
a) Apropriação indébita propriamente dita: consuma-se 
com o ato de disposição. Só admite a modalidade comissiva. Por 
exemplo, alienar, doar ou locar a coisa que foi dada ao agente em 
depósito. 
b) Apropriação indébita — negativa de restituição: 
consuma-se com a não restituição do bem uma vez vencido o prazo 
para a sua entrega. Ausente esse prazo, o vencimento passa a ficar 
na dependência de prévia interpelação, notificação ou protesto por 
parte da vítima (CC/2002, art. 397, caput, e parágrafo único), muito 
embora tais medidas, conforme já estudado, não sejam 
indispensáveis à configuração do crime. 
7. ARREPENDIMENTO POSTERIOR 
Ressarcimento do prejuízo antes e depois do oferecimento 
da denúncia. Efeitos. Em que pesem alguns posicionamentos 
divergentes dos tribunais no tocante à exclusão ou não da tipicidade 
penal na hipótese em que o agente repara o prejuízo antes do 
oferecimento da denúncia, entendemos que no caso incide a regra do 
art. 16 do CP (arrependimento posterior — causa geral de 
diminuição de pena, de 1/3 a 2/3). Na hipótese, não podemos falar 
em exclusão da tipicidade, uma vez que no momento em que o 
prejuízo foi ressarcido o crime já tinha se consumado. O dolo de 
apropriar-se da coisa não desaparece com o mero ressarcimento 
posterior do dano. Assim, acordos e avenças posteriores não podem 
dar o caráter de licitude a um fato delituoso. Nesse sentido, inclusive, 
firmou-se jurisprudência no Supremo Tribunal Federal10. Se a 
reparação do dano ocorrer após o oferecimento da denúncia, incidirá 
a atenuante genérica prevista no art. 65, III, b, do CP. 
8. TENTATIVA 
Controverte-se na doutrina acerca da possibilidade da tentativa 
do crime de apropriação indébita. Tratando-se de crime material, 
em tese, ela seria possível11 no caso de apropriação indébita 
propriamente dita, por exemplo, agente que é impedido de vender o 
objeto de que tem a posse ou a detenção. O conatus, porém, não 
seria possível na hipótese de negativa de restituição. 
9. FORMAS 
9.1. Simples 
Está prevista no caput (pena — reclusão, de 1 a 4 anos, e 
multa). 
9.2. Causas de aumento de pena 
Estão previstas no § 1º (na realidade, houve erro do legislador, 
pois trata-se de parágrafo único, já que não existe nenhum outro). A 
pena é aumentada de um terço. 
a) Depósito necessário (inciso I): é considerado depósito 
necessário, segundo o art. 647 do CC, aquele que se faz no 
desempenho de obrigação legal (inciso I — depósito legal); o que se 
efetua por ocasião de alguma calamidade, como o incêndio, a 
inundação, o naufrágio, ou o saque (inciso II — depósito miserável). 
O art. 649 do CC, por sua vez, equipara a esses depósitos o das 
bagagens dos viajantes ou hóspedes nas hospedarias onde estiverem 
(depósito por equiparação). Há grande divergência doutrinária no 
tocante à abrangência dessa causa de aumento de pena. Vejamos os 
entendimentos: 
1º) O dispositivo abrange apenas o depósito miserável. Não 
está incluído o depósito legal, pois o depositário legal é sempre 
funcionário público, que recebe a coisa em razão do cargo, e, 
portanto, comete o crime de peculato. O depósito por equiparação 
tambémnão é compreendido no inciso I, devendo, no caso, o agente 
responder pelo delito do art. 168, § 1º, III. Nesse sentido, Nélson 
Hungria12. 
2º) O dispositivo compreende o depósito legal, miserável e por 
equiparação. Nesse sentido, E. Magalhães Noronha. Contudo, “se o 
hoteleiro ou estalajadeiro não incidir neste inciso, incidirá no inciso 
III, por haver cometido o crime em razão de profissão”13. 
3º) Segundo Damásio, “tratando-se de depósito necessário 
legal, duas hipóteses podem ocorrer. Se o sujeito ativo é funcionário 
público, responde por delito de peculato (CP, art. 312). Se o sujeito 
ativo é um particular, responde por apropriação indébita qualificada, 
nos termos do art. 168, parágrafo único, II, última figura (depositário 
judicial). Assim, não se aplica a disposição do n. I. Tratando-se de 
depósito necessário por equiparação, não aplicamos a qualificadora 
do ‘depósito necessário’, mas sim a do n. III do parágrafo único 
(coisa recebida em razão de profissão). O parágrafo único, I, quando 
fala em depósito necessário, abrange exclusivamente o depósito 
necessário miserável”14. 
b) Apropriação indébita qualificada pela qualidade pessoal do 
autor (inciso II): a enumeração legal é taxativa e não abrange, por 
conseguinte, pessoa que desempenhe função diversa das 
mencionadas. São elas: 1) tutor — pessoa que rege o menor e seus 
bens; 2) curador — aquele que dirige a pessoa e bens de maiores 
incapazes; administrador judicial — pessoa incumbida da 
administração da falência15; 3) inventariante — quem administra o 
espólio até a partilha; 4) testamenteiro — aquele que cumpre as 
disposições de última vontade do de cujus; 5) depositário judicial — a 
pessoa nomeada pelo juiz com a incumbência de guardar objetos até 
decisão judicial. Cuida-se aqui do particular nomeado depositário 
judicial pelo juiz, pois, se funcionário público, responderá por 
peculato. Desde o Decreto-Lei n. 7.661/45 foi abolida a figura do 
liquidatário. 
Conclui-se que tais pessoas, apesar de exercerem um munus 
público, não cometem crime de peculato, mas apropriação indébita 
qualificada. 
c) Coisa recebida em razão de ofício, emprego ou profissão 
(inciso III): para que se configure a agravante especial em exame é 
necessário que o sujeito tenha recebido a posse ou detenção do 
objeto material em razão do emprego, ou seja, deve existir um nexo 
de causalidade entre a relação de trabalho e o recebimento. 
Ofício. É a atividade, com fim de lucro, habitual e consistente 
em arte mecânica ou manual, por exemplo, ourives, sapateiro etc. 
Emprego. É a ocupação em serviço particular em que haja 
relação de subordinação e dependência, por exemplo, empregada 
doméstica, operário de fábrica etc. Exige-se a justificável confiança 
da vítima. 
Profissão. É a atividade habitual remunerada, de caráter 
intelectual, por exemplo, médico, advogado16 etc. 
9.3. Privilegiada 
Vem prevista no art. 170 c/c o art. 155, § 2º, do CP. Requisitos: 
a) que o criminoso seja primário; b) que a coisa seja de pequeno 
valor. Presentes as circunstâncias legais, o juiz está obrigado a 
reduzir a pena de reclusão de um terço a dois terços ou substituí-la 
por detenção, ou aplicar apenas a multa. Vide comentários ao art. 
155, § 2º, do CP, para melhor compreensão do tema. 
10. DISTINÇÕES 
Apropriação indébita e estelionato. Na apropriação indébita, 
a coisa é entregue livremente ao agente. Este não emprega nenhum 
artifício para obter a posse ou detenção da coisa. Não há o emprego 
de fraude iludente da vontade do proprietário. A posse e a detenção 
são obtidas de forma lícita. No estelionato, o agente emprega 
artifícios que induzem a vítima em erro. Esta lhe entrega o bem sem 
saber que está sendo enganada. A posse ou a detenção pelo agente é 
ilícita. Na apropriação indébita, o agente não age com dolo ab initio, 
ou seja, não há vontade de se assenhorear da coisa, de tê-la para si. 
A inversão de ânimo somente ocorre em momento posterior, ou 
seja, após obter a detenção ou a posse da coisa. Assim, o dolo, no 
crime de apropriação indébita, é sempre posterior ao recebimento da 
coisa (dolus subsequens), vale dizer, o sujeito ativo inicialmente tem 
a posse ou detenção da coisa alheia móvel e, em seguida, dela 
resolve apropriar-se ilicitamente. No estelionato, pelo contrário, o 
agente age com dolo ab initio, ou seja, o sujeito ativo desde o início 
tem a intenção de apoderar-se definitivamente da res. A posse ou a 
detenção da coisa desde o início já é ilícita. Assim, se me 
comprometo a ficar como depositário de um automóvel e com o 
passar do tempo resolvo vendê-lo, cometo o crime de apropriação 
indébita. Contudo se me comprometo a ficar como depositário 
daquele bem, já visando desde o início que esse poder sobre ele me 
proporcionará vendê-lo, cometo o crime de estelionato. 
Apropriação indébita e furto. Se a detenção for vigiada, 
haverá furto, pois o agente não tem a livre disponibilidade do bem (p. 
ex., empregado de uma loja que é vigiado pelo gerente). Se for 
desvigiada, ocorrerá apropriação indébita (p. ex., representante 
comercial que detém os bens para a venda fora da esfera de 
vigilância do proprietário). Já a posse do bem é sempre desvigiada, 
ou seja, o seu exercício não é controlado pelo proprietário; logo, 
sempre admite a apropriação indébita (p. ex., locação de um 
automóvel). 
11. CONCURSO DE CRIMES 
Apropriação indébita e crime de falsidade documental. Pode 
suceder que o agente pratique outro crime para dissimular a 
apropriação indébita. Se o crime praticado for o de falsidade 
documental, questiona-se: haverá concurso material de crimes ou a 
apropriação indébita absorverá o crime de falso? Há duas posições: 
1ª) Haverá concurso material de crimes, pois o crime de 
falsidade documental lesa interesse ou bem jurídico diverso da 
inviolabilidade do patrimônio, além disso, consuma-se em momento 
anterior. 
2ª) O crime de apropriação indébita absorve o delito de 
falsidade documental. Entendemos que somente será possível falar 
em concurso de crimes se as ações forem bem destacadas e 
praticadas em situações bastante diferentes. Se tudo tiver se 
desenvolvido em um mesmo contexto fático, haverá crime único, 
ficando absorvida a falsificação. Aplica-se, por analogia, o 
entendimento da Súmula 17 do STJ: “O falso é absorvido pelo 
estelionato quando nele se exaure”. Assim, em todas as situações nas 
quais se configurar conflito aparente de normas, a consunção será 
aplicada dependendo de o crime-meio estar ou não inserido no 
mesmo contexto, pois só nessa hipótese será possível falar em fase 
normal de execução do delito posterior. 
12. INTERPELAÇÃO JUDICIAL E PRESTAÇÃO DE CONTAS 
A interpelação judicial, conforme visto, nas hipóteses de não 
restituição ou recusa na devolução do bem, não constitui formalidade 
essencial para a propositura da ação penal. 
Do mesmo modo, não se exige a prévia prestação de contas 
para o exercício da ação penal17, devendo a matéria ser resolvida na 
própria ação penal, a não ser em determinadas situações: 
compensação de créditos, mandato18, gestão de negócios. Desse 
modo, se o advogado que, em decorrência de procuração outorgada 
pelo seu cliente, detém poderes gerais para receber e quitar, retém 
importância em nome de seu constituinte, este deverá entrar com 
uma prévia ação de prestação de contas contra aquele, em que o 
advogado será obrigado a especificar as receitas e a aplicação das 
despesas, bem como o respectivo saldo (CPC, art. 917), pois é a 
partir desses cálculos contábeis que se poderá constatar a efetiva 
retenção de valores pelo mandatário. A ação de prestação de contas 
deveráser proposta no juízo cível, de acordo com o procedimento 
previsto nos arts. 914 a 919 do Código de Processo Civil. Trata-se de 
questão prejudicial heterogênea. 
13. COMPETÊNCIA. AÇÃO PENAL. PROCEDIMENTO 
A competência no crime de apropriação indébita é do lugar 
onde o agente converte em proveito próprio a coisa que deveria 
restituir. 
Na apropriação indébita praticada por representante 
comercial, é competente para processar e julgar o delito o Juízo do 
lugar da empresa onde seria efetuada a prestação de contas19. 
Trata-se de crime de ação penal pública incondicionada. No 
que diz respeito ao procedimento a ser seguido, vide art. 394 do CPP, 
com as alterações promovidas pela Lei n. 11.719/2008, a qual passou 
a eleger critério distinto para a determinação do rito processual a ser 
seguido. A distinção entre os procedimentos ordinário e sumário darse- 
á em função da pena máxima cominada à infração penal e não 
mais em virtude de esta ser apenada com reclusão ou detenção. 
A suspensão condicional do processo (art. 89 da Lei n. 
9.099/95) somente é cabível na forma simples do crime de 
apropriação indébita (caput), uma vez que a pena mínima cominada 
é de reclusão de um ano. 
14. ESTATUTO DO IDOSO 
A conduta de apropriar-se de ou desviar bens, proventos, 
pensão ou qualquer outro rendimento do idoso, dando-lhes aplicação 
diversa da de sua finalidade, constitui crime previsto no art. 102 do 
Estatuto do Idoso (Lei n. 10.741, de 1º-1003), punido com pena de 
reclusão de um a quatro anos e multa. Trata-se de crime de ação 
penal pública incondicionada, não se lhe aplicando os arts. 181 e 182 
do CP (art. 95 do Estatuto).

Continue navegando