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APOSTILA PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO

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PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 1 
 
 
Psicologia do Desenvolvimento 
 
 
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 2 
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 
 
 
SUMÁRIO 
 
Apresentação da disciplina................................................................................... 3 
 
Tema I - Introdução ao estudo do desenvolvimento humano.....................................5 
 
Tema II - O desenvolvimento humano e a construção da personalidade ................ 14 
 
Tema III - A Teoria do Ciclo Vital ....................................................................... 24 
 
Tema IV - A Teoria Psicanalítica e o desenvolvimento psicossexual ..........................41 
 
Conclusão ........................................................................................................ 57 
 
Referências bibliográficas .................................................................................. 58 
 
 
FIGURAS 
 
Figura 1 - As múltiplas perspectivas da personalidade ........................................... 18 
Figura 2 - Os “Cinco Grandes” Fatores da Personalidade .........................................20 
Figura 3 - Abordagem Biopsicossocial da Personalidade .........................................21 
Figura 4 – Os reflexos primitivos ......................................................................... 32 
Figura 5 – O reflexo do Moro .............................................................................. 32 
Figura 6 – Imitação realizada por bebês ............................................................. 35 
Figura 7 - Marcos do desenvolvimento motor, segundo a escala Denver II .......... 36 
Figura 8 – O modelo Topológico ...........................................................................44 
Figura 9 – A construção da memória inconsciente ................................................ 46 
 
 
 
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 3 
APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA 
 
Caro aluno, 
 
Você está recebendo o material didático da disciplina Psicologia do 
Desenvolvimento do curso de pós-graduação em Psicopedagogia Clínica e 
Institucional. Juntamente com as aulas online, as indicações de materiais das aulas, 
como vídeos e textos, este material serve como base para o estudo e aprendizagem 
da disciplina. 
Neste material, o conteúdo estará organizado de acordo com as aulas online, 
de modo a facilitar o processo de aprendizagem e a busca pelo conteúdo. Na primeira 
parte, será explicado em que consiste a área de estudo sobre o desenvolvimento e os 
aspectos fundamentais sobre o desenvolvimento. Na segunda parte, será trabalhado 
a articulação entre desenvolvimento e personalidade. A parte 3 aborda a Teoria do 
Ciclo Vital de Paul Baltes. A parte 4 apresenta alguns fundamentos da Teoria 
Psicanalítica e a concepção de desenvolvimento freudiano, o desenvolvimento 
psicossexual. 
Esperamos que a leitura seja agradável, informativa e formadora de uma 
concepção mais abrangente relacionada ao desenvolvimento, viabilizando a 
construção de uma base teórica sólida para a prática psicopedagógica. 
 
Bom estudo! 
 
 
 
Esta disciplina tem como objetivos: 
 
• Descrever o início do estudo do Desenvolvimento Humano; 
• Esclarecer o Desenvolvimento Humano; 
• Explicar os aspectos físico-motor, cognitivo/ intelectivo, social e afetivo; 
 
 
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 4 
• Identificar as principais interferências no desenvolvimento humano e na 
construção da personalidade; 
• Distinguir aspectos básicos das teorias do Ciclo Vital e da Teoria Psicossexual 
do desenvolvimento. 
 
 
BIBLIOGRAFIA 
 
Bibliografia básica: 
 
 
ARIÈS, Phillipe. A história social da criança e da família. 2. ed. Rio de Janeiro: 
LTC, 1981. 
 
ABERASTURY, Arminda; KNOBEL, Maurice. Adolescência Normal - Um Enfoque 
Psicanalítico. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2003. 
 
BOCK, Ana Mercês Bahia; FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Maria de Lourdes Trassi. 
Psicologias: uma introdução ao estudo de Psicologia. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 
1999. 
 
FEIST, Gregory J.; FEIST, Jess; ROBERTS, Tommi-Ann. Teorias da 
Personalidade. 8. ed. Porto Alegre: AMGH, 2015. 
 
FELDMAN, Robert S. Introdução à Psicologia. 10. ed. Porto Alegre: AMGH, 2015. 
 
KLEINMAN, Paul. Tudo o que você precisa saber sobre Psicologia. São Paulo: 
Gente, 2015. 
 
MYERS, David G. Psicologia. 9. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2012. 
 
PAPALIA, Diane E.; OLDS, Sally Wendkos. Desenvolvimento Humano. 12. ed. 
Porto Alegre: AMGH, 2013. 
 
RAPPAPORT, Clara Regina; FIORI, Wagner da Rocha; DAVID, Claudia. Psicologia 
do Desenvolvimento. Vol.1. São Paulo: EPU, 2012. 
 
_________________. Psicologia do Desenvolvimento. Vol.2. São Paulo: EPU, 
2012. 
 
_________________. Psicologia do Desenvolvimento. Vol.3. São Paulo: EPU, 
2012. 
 
 
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 5 
_________________. Psicologia do Desenvolvimento. Vol.4. São Paulo: EPU, 
2012. 
 
 
 
 
Bibliografia complementar: 
 
 
BEE, Helen.; BOYD, Denise. A Criança em desenvolvimento. 11.ed. Porto Alegre: 
Artmed, 2011. 
 
FREUD, Sigmund. Obras Completas. Rio de Janeiro: Imago, 1996. 
 
PIAGET, Jean. Seis estudos de Psicologia. 24. ed. Rio de Janeiro: Forense 
Universitária. 
 
 
 
 
 
 
 
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 6 
TEMA I — Introdução ao estudo do desenvolvimento humano 
 
Neste capítulo, você será introduzido ao estudo do desenvolvimento humano. 
Será apresentada a conceituação de desenvolvimento e seus aspectos centrais: o 
físico-motor, cognitivo/intelectivo, social e afetivo. Você terá contato com as 
perspectivas inatista e cognitivista de desenvolvimento e como estes paradigmas 
influenciam a forma de pensar o desenvolvimento da pessoa e sua personalidade. 
Até o surgimento da Psicologia, a criança era considerada um mini adulto, 
participando da vida social e trabalhando com uma carga horária de até 10 horas 
diárias. Obras renascentistas (séculos XV a XVIII) já demonstravam claramente 
imagens apresentando corpos e vestimentas de adultos em miniatura com faces de 
crianças. 
Entretanto, a Psicologia científica, originada no século XIX, permite enfocar este 
novo objeto de estudo que se presentifica em sua complexidade: o ser humano nos 
seus processos mentais e comportamentais, suas diferenças e singularidades. 
Com o objetivo de contribuir no entendimento sobre como as pessoas mudam, 
bem como permanecem estáveis durante suas vidas, surge o estudo sobre o 
desenvolvimento humano, que aborda as alterações dos aspectos físico-motor, 
cognitivo/ intelectivo, emocional e social desde a infância até a idade adulta. 
 
 
OBJETIVOS 
 
1. Descrever o estudo do desenvolvimento humano; 
2. Definir o desenvolvimento humano; 
3. Identificar os aspectos físico-motor, cognitivo/intelectivo, social e afetivo 
relacionados ao desenvolvimento. 
 
 
 
 
 
 
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 7 
O conceito de desenvolvimento refere-se ao processo de amadurecimento e 
evolução do ser humano no sentido de tornar-se cada vez mais habilitado e adaptado 
às demandas ambientais. Para tanto, o desenvolvimento do ser humano engloba desde 
aspectos biológicos até cognitivos e sociais/relacionais. 
Até o surgimento da Psicologia, a criança era considerada um mini adulto, 
participando da vida social e do trabalhando como um adulto, com carga horária de 
até 10 horas diárias. Obras renascentistas (séculos XV a XVIII) já demonstravam 
claramente imagens apresentando corpos e vestimentas de adultos em miniatura com 
faces de crianças. 
Entretanto, a Psicologia científica, originada no século XIX, permite enfocar esse 
objeto de estudo que se presentifica em toda a suacomplexidade: o ser humano nos 
seus processos mentais e comportamentais, suas diferenças e singularidades. 
Com o objetivo de contribuir no entendimento sobre como as pessoas mudam 
bem como permanecem estáveis durante suas vidas, surge o estudo sobre o 
desenvolvimento humano, que aborda as alterações dos aspectos físico-motor, 
cognitivo/intelectivo, emocional e social desde a infância até a idade adulta. 
De acordo com estes aspectos, pode-se destacar dois paradigmas que envolvem 
a discussão sobre o desenvolvimento humano: as posições inatista e cognitiva. De 
acordo com a posição inatista, o ser humano desenvolve-se a partir de uma base 
biológica que se torna o centro do processo evolutivo. Ou seja, segundo a posição 
inatista, o sujeito nasce com habilidades e competências em potencial, transmitidas 
geneticamente, e que serão desenvolvidas se as condições ambientais forem 
adequadas. 
Já a posição cognitiva explica o desenvolvimento a partir da construção do 
conhecimento sobre a realidade pelo sujeito, em um processo de interação contínuo 
com o ambiente. Neste sentido, o ambiente muda e desafia o sujeito a transformar-se 
para se adaptar às novas condições existenciais e à satisfação das suas necessidades. 
 
 
 
 
 
 
 
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 8 
1.1 – A criança até o século XIX 
 
Até o século XII, o olhar que se tinha sobre a infância era de um período de 
transição, não havia interesse sobre esta etapa da vida, em que a mesma era 
considerada como algo inevitável para se chegar à juventude. Segundo Ariès (1981, 
p.18), as pinturas românticas do século XIII não apresentavam “crianças 
caracterizadas por uma expressão particular, e sim homens de tamanho reduzido”. 
Muitas vezes, as pinturas apresentavam abdomens de adultos na caracterização das 
crianças. 
A própria noção de idade era diferente nos povos arcaicos. A métrica relacionada 
aos anos de vida e sua importância é fato que surge por volta do século XVIII. Antes 
do período era comum, em várias civilizações, uma caracterização por “idades da vida” 
(id. p.6). A noção de idades da vida era considerada, inclusive, para se entender o 
padrão biológico das pessoas, mas não permanecia tão presa às idades propriamente 
ditas. 
Na Idade Média, Ariès (1981) destaca como exemplo textos que caracterizavam 
como primeira idade, a infância (do nascimento aos sete anos) ou enfant, em francês, 
que etimologicamente significa não falante. A palavra enfant era utilizada para 
caracterizar o período em que a pessoa ainda não consegue falar adequadamente nem 
se expressar devido à dentição que está em ordenamento. 
A segunda idade é a pueritia, que dura até os 14 anos. A terceira idade, ou 
adolescência, pode durar até os 21 anos, ou mesmo estender-se para os 28 ou 30 
anos, sem haver consenso entre os autores. (Ibid.). Ser adolescente significa possuir 
a capacidade de procriar e um corpo que ainda está em crescimento e adquirindo força 
muscular. 
Em seguida, têm-se a juventude até os 45/50 anos, em que a pessoa apresenta 
sua plenitude em termos de força e pensamento. Depois, segue a senectude, entre a 
juventude e a velhice, até os 70 anos, com características de descontroles corporais e 
mentais, apresentando manias e toda ordem de doenças. 
Ainda no século XVII, é possível observar em diversas obras de arte e escritos, a 
falta de importância das crianças. Como a taxa de mortalidade era alta, e a sua perda 
considerada como algo casual, os pais não se apegavam muito às mesmas. Não havia 
 
 
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 9 
a consideração de que as crianças possuíam uma personalidade ou uma 
individualidade. Tal era a indiferença com relação as crianças que Ariès (1981) cita 
como exemplo o enterro de crianças mortas no jardim de casa, como o que se faz com 
animais domésticos. 
Neste período, a ideia de homem integral está relacionada à juventude e força. 
Segundo Ariès (1981) 
 
 
Tem-se a impressão, portanto, de que, a cada época corresponderiam uma 
idade privilegiada e uma periodização particular da vida humana: a 
“juventude” é a idade privilegiada do século XVII, a “infância”, do século XIX, 
e a “adolescência”, do século XX. (ibid., p.16) 
 
 
Quanto ao aspecto sexual, era comum as crianças participarem de jogos sexuais 
com os adultos. A educação moral iniciava a partir dos sete anos. Antes dessa idade, 
era corriqueiro as amas (ou cuidadoras) e os pais falarem sobre o sexo das crianças e 
tocarem ou brincarem com seus genitais. Essas práticas sexuais não chocavam o senso 
comum, como atualmente. A ideia que prevalecia era de que a criança impúbere era 
alheia à sexualidade. (Ariès, 1981) 
No século XVII ocorre a mudança dos costumes em relação à criança. Esta 
mudança será fundamental para a noção de infância contemporânea. Surge a ideia de 
inocência infantil. De acordo com Ariès (1981, p.85), “De fato, foi nessa época que se 
começou realmente a falar na fragilidade e na debilidade da infância. Antes, a infância 
era mais ignorada, considerada um período de transição rapidamente superado e sem 
importância”. 
Destaca-se neste período o surgimento de literatura pedagógica específica para a 
infância e os tratados de civilidade que deveriam orientar a educação dos pequenos, 
inclusive com trechos de Psicologia infantil, em que se tentava entender o pensamento 
das crianças para melhor adaptação dos métodos de educação. Delimita-se, então, o 
espaço das crianças e o domínio dos adultos (ibid.), o que permite, com o advento da 
ciência moderna, o surgimento do campo de estudos sobre as alterações biológicas e 
mentais durante a vida. 
 
 
 
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 10 
1.2 – O surgimento da Psicologia como ciência e o estudo do 
desenvolvimento humano 
 
Consensualmente, entende-se como marco para o surgimento da Psicologia 
científica, o ano de 1879, em Leipzig, Alemanha, com a fundação do primeiro 
laboratório de Psicologia e o primeiro curso de formação de psicólogos pelo professor 
Wilhelm Wundt. 
Nesse primeiro momento, a Psicologia concentrava-se nas experiências 
sensoriais e perceptuais das pessoas como forma de entender a formação e o 
funcionamento da mente humana, mais especificamente da consciência. 
Entretanto, com a mudança no conceito de infância e na concepção de criança, 
e a preocupação em transmitir uma educação moral e civilidade para as mesmas, tem-
se a formalização do campo de estudos do desenvolvimento humano. 
O desenvolvimento humano é a área de estudos da Psicologia que busca 
entender as alterações que ocorrem ao longo da vida, desde o nascimento até a morte, 
nos aspectos físicos, cognitivos e sociais, e qual a relação entre organismo e ambiente 
neste processo. O estudo científico do desenvolvimento ao longo da vida possui como 
objetivo descrever, explicar, predizer e alterar o comportamento humano, a partir do 
mapeamento de características qualitativas e quantitativas das pessoas (PAPALIA, 
2006). Entende-se como características quantitativas aquelas relacionadas ao peso, 
altura, crescimento, e como características qualitativas as relacionadas às alterações 
na organização do pensamento, aquisição de estruturas cognitivas (ou esquemas 
cognitivos), entre outros. 
A sistematização de estudos na área (ibid.) indica que as pesquisas sobre o 
desenvolvimento humano se concentram nas seguintes questões: 1) natureza ou 
cultura: em que medida o desenvolvimento humano é influenciado pela herança 
genética e pelo ambiente; 2) continuidade e estágios: se o desenvolvimento é 
considerado como um processo contínuo e gradual ou se é entendido através de 
estágios separados com características delimitadas; e 3) estabilidadee mudança: se 
os traços de personalidade mudam ao logo do desenvolvimento ou permanecem os 
mesmos da infância até a velhice. 
 
 
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 11 
A influência da natureza X cultura, ou características genéticas X ambiente, é 
uma das questões principais pesquisadas pelos cientistas. Estudos (PAPALIA, 2006) 
indicam que o contexto influencia direta e indiretamente o desenvolvimento. De forma 
direta a partir das vivências da pessoa com seu grupo familiar ou social, o ambiente 
econômico e político no qual o indivíduo está inserido, como situações de pobreza 
extrema, guerra, recessão econômica. A forma indireta aparece por meio das 
influências que os fatores externos provocam nos pais e como isto influencia o 
relacionamento entre pais e filhos. 
Com relação aos elementos de continuidade ou a graduação por estágios, esta 
perspectiva pode ser verificada em diversas teorias do desenvolvimento. De Freud e 
Piaget até Paul Baltes e a Teoria do Ciclo Vital, todas elas apresentam o 
desenvolvimento como um processo contínuo, ou seja, que ocorre ao longo da vida. 
Contudo, várias delas (Freud, Piaget, Wallon, Erikson, Baltes) mapeiam determinadas 
características por faixas etárias, chamadas de fases ou períodos. Cabe destacar que 
estas fases e/ou períodos são constructos sociais, ou seja, são atravessados pela 
história e cultura e em outro momento ou outra civilização, estas etapas do 
desenvolvimento mudam e recebem outros nomes, inclusive com alteração 
relacionada às faias etárias. 
Quanto à estabilidade e mudança dos traços de personalidade, entende-se que 
existe um núcleo estável e organizador da personalidade que é desenvolvido ao longo 
da infância e que permanece. Este núcleo organizador é onde a pessoa reconhece sua 
singularidade e individualidade (ou autoconceito) e está relacionado à sua identidade, 
mas transcende a esta em suas mudanças ao longo da vida. Além dessa, outra parte 
da personalidade está sempre em movimento através das aprendizagens que devem 
ocorrer para melhor ajustamento e adaptação do ser ao seu ambiente. Esta adaptação 
está relacionada à possibilidade de satisfação das necessidades. As mudanças na 
personalidade são evidentes, facilmente perceptíveis pelo padrão de comportamento 
nas diversas idades, como: bebê, criança, adolescência. 
Outro fator importante a ser considerado no estudo do desenvolvimento 
relaciona-se aos aspectos que compõem o processo evolutivo da pessoa. Estes 
aspectos influenciam-se de forma contínua e não há hierarquização entre eles, ou seja, 
nenhum é mais importante que o outro. São eles: 
 
 
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 12 
 
1) Físico-motor: que se refere ao crescimento orgânico, à maturação 
neurofisiológica, capacidade de manipulação de objetos e de exercício do 
próprio corpo; 
2) Cognitivo ou Intelectual: relaciona-se à capacidade de pensamento, 
raciocínio, construção de esquemas cognitivos; 
3) Afetivo-emocional: modo de integração de todas as experiências; é o modo 
de sentir da pessoa; 
4) Social: relação do indivíduo com as outras pessoas e modo como reage diante 
de situações sociais. 
 
 
 
 
 
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 13 
TEMA II — O desenvolvimento humano e a construção da personalidade 
 
 
Nesta unidade, será conceituada a noção de personalidade. Em seguida, será 
abordada a relação entre desenvolvimento e personalidade. Será exposto, ainda, como 
as influências sociais, ambientais e hereditárias influenciam na construção da pessoa, 
como ela pensa, sente e age no mundo. 
O conceito de personalidade na Psicologia talvez seja o mais amplo e complexo 
de todos. Afinal, existem muitas teorias da Personalidade dentro da Psicologia. Estas 
teorias objetivam explicar como as pessoas são como são, pensam e se comportam. 
De Freud às teorias pautadas na biologia dos indivíduos, o fato é que todas elas 
desejam entender que fatores interferem na construção das singularidades das 
pessoas e as tornam o que elas são. 
A origem da palavra personalidade vem de persona ou “soar através”, nome 
dado às máscaras que os atores do teatro antigo usavam para representar papéis. De 
acordo com o senso comum, a personalidade pode ser considerada uma referência a 
um atributo ou característica da pessoa que causa impressão nos outros, a partir da 
qual é usada para estabelecer um contato social (ou não, dependendo da impressão 
causada). 
No âmbito do conhecimento científico, a personalidade é entendida como o 
conjunto total de características próprias do indivíduo que, integradas, estabelecem a 
forma pela qual ele reage ao meio (comportamento individual e grupal, pensamento, 
linguagem, motivação, emoção, aprendizagem etc.). 
Os aspectos que interferem na construção da personalidade das pessoas são a 
respectiva herança genética, que irá influenciar através da estrutura orgânica e dos 
processos de maturação, e o ambiente onde o organismo está inserido, que inclui 
tanto o meio físico como o meio social. 
Então, pode-se dizer que a personalidade humana possui um alicerce biológico 
que somado à ação do meio (durante a vida intrauterina e após o nascimento) serão 
responsáveis por uma configuração completamente singular e rica de potencialidades. 
 
 
 
 
 
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 14 
OBJETIVOS 
 
1. Definir personalidade; 
2. Explicar a relação entre desenvolvimento e personalidade; 
3. Esclarecer como o ambiente e a hereditariedade influenciam no 
desenvolvimento e na construção da personalidade. 
 
 
 
 
 
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 15 
2.1 – Conceituando personalidade 
 
Etimologicamente, a palavra personalidade surge de persona, palavra latina que 
possui significado de “soar através de”, ou seja, a máscara ou papel social que o ator 
utiliza para dar vida ao personagem. Persona era o nome dado às máscaras do teatro 
grego que os atores utilizavam para incorporar o personagem. (FEIST; FEIST; 
ROBERTS, 2015) 
Para o senso comum, a personalidade indica as características que são 
observadas nas pessoas e a partir das quais elas se comportam. É considerada a 
referência a um atributo da pessoa que causa impressão nos outros. 
Comumente, o senso comum constrói teorias da personalidade para entender 
como as pessoas se comportam e os seus motivos. Estas teorias construídas pelo 
senso comum são fundamentais para o estabelecimento de relações entre as pessoas, 
porque geram um alicerce importante para a compreensão e entendimento dos 
comportamentos individuais e sociais. Esse corpus teórico que as pessoas comuns 
constroem para lidar com os outros estão pautados na forma como elas percebem o 
mundo. Entretanto, essas teorias não possuem fundamento científico e podem 
conduzir à formação e manutenção de impressões erradas sobre uma pessoa. 
Para ser científico, um conhecimento deve seguir padrões rigorosos de 
mensuração e observação. E, além disso, deve estar pautado em outros 
conhecimentos científicos e possuir uma linguagem rigorosa e técnica, de acordo com 
o seu campo de saber. 
A Psicologia, como área científica, já produziu vários conhecimentos a respeito 
da personalidade. Por meio da Psicologia experimental, que possui a tradição de 
reduzir o objeto para quantificá-lo e entender seu funcionamento, o homem foi 
“dissecado” em características cada vez menores para o entendimento de seu 
funcionamento. Esta perspectiva utilizava, e ainda utiliza, experimentos com animais 
em laboratório e observação de seu comportamento para, por analogia, entender 
como os homens se comportam. A base epistemológica para esta comparação está na 
Teoria da Evolução de Darwin, pautada na hipótese de que haveriauma continuidade 
entre as mentes animais e humanas, e, portanto, seria possível compreender as 
 
 
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 16 
mentes humanas, mais complexas, a partir do entendimento da mente simples dos 
animais. 
 Outra possibilidade de estudo da personalidade relaciona-se com a observação 
empírica na prática clínica, cuja referência é construída na última metade do século 
XIX e durante o século XX, a partir de diversas abordagens da Psicologia: Psicanálise, 
Humanismo, Cognitivismo, Behaviorismo, Psicologia da Gestalt. A ideia é entender e 
ajudar as pessoas no seu processo de individuação e construção subjetiva. A 
compreensão sobre a humanidade e a construção das subjetividades passa pelo 
enfoque nas preocupações, ansiedades, limitações, condições físicas, culturais e 
sociais dos indivíduos. Um exemplo refere-se à tradição gestáltica, cuja preocupação 
alude à unidade e integralidade do comportamento. 
Outro tipo de investimento no estudo da personalidade vincula-se à psicometria, 
que se interessa em medir e estudar as diferenças individuais, escalonar as dimensões 
dos comportamentos e proceder à análise quantitativa dos dados, por meio da 
observação e pesquisa descritiva. Muitos testes psicológicos e inventários de 
personalidade foram construídos para mesurar a personalidade através de padrões 
básicos (características ou traços) observados em grandes amostras de sujeitos. Os 
testes psicológicos são muito utilizados, pois viabilizam o acesso às principais 
características das pessoas de forma objetiva e estatística nos diversos campos de 
atuação do psicólogo, como a área clínica ou no processo de seleção para vagas de 
trabalho. 
 Diante do cenário apresentado, o conceito de personalidade, para a Psicologia, 
abrange várias definições. De uma forma geral, pode-se entendê-lo como a maneira 
de sentir e pensar de cada um. Este modelo irá influenciar o modo como cada um se 
comporta. Feldman (2015) entende que a personalidade pode ser definida como 
 
(...) o padrão de características constantes que produzem consistência e 
individualidade em determinada pessoa. Abrange os comportamentos que nos 
tornam únicos e que nos diferenciam dos outros. Também nos leva a agir 
consistentemente em diferentes situações e por longos períodos de tempo. 
(p. 384) 
 
 
 
 
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 17 
Por meio da personalidade de um sujeito, é possível compreender e predizer 
seu comportamento, pois este conhecimento permite uma certa previsibilidade com 
relação às ações emitidas. 
Para compreender melhor e poder predizer comportamentos, diversos autores 
da Psicologia construíram suas teorias pautados em duas perspectivas: como a 
personalidade se constitui e quais são os traços característicos que podem ser 
encontrados nas pessoas. Um traço pode ser compreendido como “características de 
personalidade e comportamentos constantes exibidos em diferentes situações” 
(FELDMAN, 2015, p.395). 
As personalidades são construídas a partir da relação que os indivíduos 
estabelecem com o mundo e, portanto, das aprendizagens que se vai obtendo. Nesta 
relação com o ambiente e as outras pessoas, cada ser humano aprende a forma que 
deve se comportar e introjeta os valores prescritos socialmente. Sua personalidade 
será o resultado de todas as tentativas de acerto e erros que comete, daquilo que ela 
observa nos outros e do que acha que os outros esperam dela. Este modelo será a 
referência para a visão de mundo do indivíduo. 
De forma resumida, pode-se dizer que a personalidade é a organização 
dinâmica dos traços no interior da pessoa, que são construídos a partir dos genes 
herdados dos pais, das experiências pessoais e da respectiva percepção de mundo. A 
personalidade torna cada pessoa única na sua forma de SER e ESTAR no mundo e no 
desempenho de seu papel social. 
Alguns princípios básicos da personalidade podem ser destacados: 
1) A globalidade: que se refere aos elementos inatos, adquiridos, orgânicos e 
sociais estão incluídos no conceito de personalidade; 
2) A dimensão social: as características da personalidade se manifestam e se 
desenvolvem em situações sociais; personalidade também consiste nos hábitos 
e características adquiridas em resultado das interações sociais, que promovem 
o ajustamento do indivíduo ao meio social; 
3) A dinamicidade: a personalidade é um conceito dinâmico, possui vários 
elementos que interagem e se combinam de forma a produzir novos e originais 
efeitos; personalidade é o que organiza, integra e harmoniza todas as formas 
 
 
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 18 
de comportamento e características do indivíduo. Ela é capaz de receber novas 
influências e adaptar-se a novas circunstâncias. 
4) A individualidade: a personalidade é sempre uma realidade individual que marca 
e distingue um ser do outro; há sempre uma dimensão peculiar e exclusiva 
porque as pessoas são únicas no mundo, ou seja, é o conjunto de todos os 
aspectos próprios do indivíduo pelos quais ele se distingue dos outros. 
Para a Psicologia, o conceito de personalidade é um dos mais complexos e, 
portanto, torna-se difícil uma única teoria que explique a complexidade do ser humano 
e as respostas que emite durante sua existência. Desta forma, podemos destacar 
várias perspectivas relacionadas ao conceito de personalidade: a psicodinâmica, a 
relacionada aos traços, a da aprendizagem, a biológica evolucionista, a humanista, 
entre outras. 
Figura 1: As múltiplas perspectivas da personalidade 
 
Abordagem teórica e 
principais teóricos 
Determinantes 
conscientes versus 
inconscientes da 
personalidade 
Natureza (fatores 
hereditários) versus 
criação (fatores 
ambientais) 
Livre-arbítrio versus 
determinismo 
Estabilidade versus 
modificabilidade 
Psicodinâmica 
(Freud, Jung, 
Horney, Adler) 
Ênfase no inconsciente Enfatiza a estrutura 
inata, herdada da 
personalidade, 
valorizando a 
importância da 
experiência infantil 
Enfatiza o 
determinismo, a visão 
de que o 
comportamento é 
direcionado e causado 
por fatores externos ao 
próprio controle 
Enfatiza a estabilidade 
das características 
durante a vida da 
pessoa 
Traços (Allport, 
Cattell, Eysenck) 
Desconsidera o 
consciente e o 
inconsciente 
As abordagens variam Enfatiza o 
determinismo, a visão 
de que o 
comportamento é 
direcionado e causado 
por fatores externos ao 
próprio controle 
Enfatiza a estabilidade 
das características 
durante a vida da 
pessoa 
Aprendizagem 
(Skinner, Bandura) 
Desconsidera o 
consciente e o 
inconsciente 
Centra-se no ambiente Enfatiza o 
determinismo, a visão 
de que o 
comportamento é 
direcionado e causado 
por fatores externos ao 
próprio controle 
Enfatiza que a 
personalidade 
permanece flexível e 
resiliente durante a 
vida de uma pessoa 
Biológica e 
evolucionista 
(Tellegen) 
Desconsidera o 
consciente e o 
inconsciente 
Enfatiza os 
determinantes inatos, 
herdados da 
personalidade 
Enfatiza o 
determinismo, a visão 
de que o 
comportamento é 
direcionado e causado 
por fatores externos ao 
próprio controle 
Enfatiza a estabilidade 
das características 
durante a vida de uma 
pessoa 
Humanista (Rogers, 
Maslow) 
Enfatiza o consciente 
mais do que o 
inconsciente 
Enfatiza a interação 
entre a natureza e a 
criação 
Enfatiza a liberdade 
dos indivíduos de 
fazer as próprias 
escolhas 
Enfatiza que a 
personalidade 
permanece flexível e 
resiliente durante a 
vida de uma pessoa 
 Fonte: FELDMAN, R. S. Introduçãoà Psicologia. 10. ed. Porto Alegre: AMGH, 2015. p. 406 
 
 
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 19 
Destaca-se a Teoria dos Traços pela objetividade e simplicidade em caracterizar 
os traços principais das pessoas e, consequentemente, compreender seus 
comportamentos. Mesmo diante desta perspectiva, não existe uma única teoria dos 
traços de personalidade. Por exemplo, Gordon Allport definiu sua teoria propondo que 
haveria três categorias fundamentais de traços de personalidade: o cardinal, que seria 
uma característica única e definiria a maior parte dos comportamentos de uma pessoa; 
os traços centrais, que formam a essência da personalidade; e os traços secundários, 
que afetam o comportamento com menos força. 
Outros autores, como Cattell e Eysenck, utilizaram-se de técnicas estatísticas 
para chegar a um núcleo central de traços de personalidade, com a aplicação de 
questionários a um grupo abrangente de pessoas. A partir da análise de fatores das 
características marcadas nos questionários pelas mesmas, Cattell propôs dezesseis 
traços de origem que o fez desenvolver o 16PF, ou Questionário dos Dezesseis Fatores 
da Personalidade (FELDMAN, 2015). 
Eysenck também utilizou a análise de fatores, porém obteve outro resultado. 
Segundo ele, existem três dimensões principais de personalidade: a extroversão, 
relacionada ao grau de sociabilidade das pessoas; o neuroticismo, relacionado à 
estabilidade emocional; e o psicoticismo significa o grau de distorção da realidade. 
(Id.). Segundo Feldman (2015), estas dimensões possuem os seguintes traços: 
1) Extroversão: sociável, animado, ativo, assertivo e empenhado na busca de 
sensações; 
2) Neuroticismo: ansioso, deprimido, sentimento de culpa, baixa autoestima, 
tenso; 
3) Psicoticismo: agressivo, frio, egocêntrico, impessoal e impulsivo. 
 
Pesquisadores atuais, a partir da análise de fatores de Eysenck, propuseram a 
teoria dos cinco grandes fatores da personalidade, cujo resultado estatístico apresenta 
grande consistência e precisão em diversas populações, sendo considerada a melhor 
teoria para a descrição da personalidade até o momento. (id.) Os Big Five podem ser 
demonstrados da seguinte forma: (MYERS, 2012) 
 
 
 
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 20 
Figura 2. Os Cinco Grandes Fatores da Personalidade (MYERS, 2012) 
Dimensão do traço Extremos da dimensão 
Realização ou conscienciosidade 
(escrupulosidade) 
Organizado – desorganizado 
Cuidadoso – Descuidado 
Disciplinado – Impulsivo 
Socialização Amável – Cruel 
Confiável — Suspeito 
Prestativo – Egoísta 
Neuroticismo (estabilidade vs instabilidade 
emocional) 
Calmo – Ansioso 
Seguro – Inseguro 
Autossatisfação – Autopiedade 
Abertura para a experiência Imaginativo – Prático 
Preferência por variedade – Preferência pela rotina 
Independente – Conformado 
Extroversão Sociável – Retraído 
Divertido – Sóbrio 
Afetuoso – Reservado 
Fonte: MYERS, 2012, p. 434 
 
O questionamento sobre a hereditariedade ou aprendizagem dos traços é uma 
constante que provoca infinitas pesquisas sobre a temática na Psicologia. Estudos 
indicam que cerca de 50% das diferenças individuais podem ser herdadas e esta 
porcentagem foi comprovada em vários povos. Segundo MYERS (2012) 
 
 
A hereditariedade de diferenças individuais varia com a 
diversidade das pessoas estudadas, mas normalmente fica em 
torno de 50% ou um pouco mais para cada dimensão, e as 
influências genéticas são semelhantes em diferentes nações. 
(p.434) 
 
 
Quanto à estabilidade ou variabilidade dos traços de personalidade durante a 
vida, pesquisas mostram que as mudanças são maiores no período da infância e 
adolescência e que na vida adulta eles permanecem estáveis, apesar da possibilidade 
de mudança ser contínua. 
 
Na vida adulta, os Cinco Grandes traços são bem estáveis, com algumas 
tendências (instabilidade emocional, extroversão e abertura para 
experiência) diminuindo um pouco nas décadas que seguem o começo 
e o meio da idade adulta e outras (socialização e realização ou 
conscienciosidade) aumentando. A realização ou conscienciosidade 
aumenta mais na casa dos 20 anos, à medida que as pessoas 
 
 
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 21 
amadurecem e aprendem a lidar com o trabalho e seus 
relacionamentos. A socialização aumenta mais na casa de 30 anos e 
continua a aumentar até os 60 (MYERS, 2012, p.434). 
 
 
Estes cinco traços essenciais ainda têm a propriedade de predizer outros 
atributos ou características pessoas como, por exemplo, o fato de pessoas mais 
extrovertidas possuírem a tendência de tirar notas mais altas e a satisfação 
matrimonial estar relacionada ao traço de socialização, estabilidade e abertura à 
experiência. Quanto mais baixo o escore desse traço, maior a tendência para 
insatisfação matrimonial. 
Apesar da hereditariedade contar, é evidente a influência dos fatores ambientais 
e da aprendizagem na construção ou mudança da personalidade das pessoas. Dessa 
forma, o entendimento consensual na Psicologia é que o ser humano (e sua 
personalidade) são constituídos por aspectos biológicos, psicológicos e sociais. 
 
Figura 3: Abordagem Biopsicossocial da Personalidade 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: MYERS, D. G. Psicologia. 9.ed. Rio de Janeiro: LTC, 2012. p. 439. 
Influências biológicas 
• Temperamento geneticamente 
determinado 
• Reatividade do sistema nervoso 
autônomo 
• Atividade do cérebro 
Influências psicológicas 
• Respostas aprendidas 
• Processos de pensamento 
inconscientes 
• Expectativas e interpretações 
Influências socioculturais 
• Experiências na infância 
• Influência da situação 
• Expectativas culturais 
• Apoio social 
PERSONALIDADE 
 
 
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 22 
Neste sentido, o estudo do desenvolvimento humano articula-se ao estudo da 
personalidade, pois permite ao pesquisador entender como esses traços específicos 
foram construídos ao longo da vida da pessoa e quais deles encontram-se no padrão 
de normalidade ou divergência, bem como compreender a estabilidade ou 
modificabilidade dos traços essenciais das pessoas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 23 
TEMA III – A Teoria do Ciclo Vital 
 
Nesta parte, será apresentada a Teoria do Ciclo vital, em que o desenvolvimento 
é considerado desde a etapa intrauterina até a velhice. Em cada etapa serão explicados 
os aspectos físico-motor, social afetivo e cognitivo da pessoa. Será exposta, ainda, a 
influência da parte biológica e da parte social no desenvolvimento e construção da 
personalidade. 
De acordo com a Teoria do Ciclo Vital, pode-se dizer que: 1) o desenvolvimento 
é vitalício: ou seja, cada período da vida é influenciado pelo que vem antes e irá afetar 
o que vem depois e cada período possui suas características e nenhum é 
hierarquicamente superior ao outro; 2) o desenvolvimento depende da história e do 
contexto considerando a interação homem e ambiente; 3) o desenvolvimento é 
multidirecional e multidimensional, ou seja, acontece durante toda a vida e envolve 
um equilíbrio entre o declínio e o crescimento; 4) o desenvolvimento é flexível ou 
plástico, visto que há uma capacidade de modificação no desempenho, entretanto a 
flexibilidade não é infinita. 
Os oito períodos do Ciclo vital são: 1º - pré-natal: concepção ao nascimento; 
2º - primeira infância: nascimento aos 3 anos; 3º - segunda infância: 3 aos 6 anos; 4º 
- terceira infância: 6 aos 11 anos; 5º - adolescência: 11 aos 20 anos; 6º - jovem 
adulto: 20 aos 40 anos; 7 º - meia-idade: 40 aos 60 anos; 8º - terceira idade: 65 em 
diante. 
 
 
OBJETIVOS1) Descrever a Teria do Ciclo Vital; 
2) Ilustrar as etapas de desenvolvimento; 
3) Explicar os aspectos físico-motor, social afetivo e cognitivo. 
 
 
 
 
 
 
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 24 
O estudo do desenvolvimento do ciclo vital tem seu início na década de 1920, 
a partir do acompanhamento científico de crianças até a idade adulta. No decorrer 
desses estudos, a curiosidade sobre como o ambiente (ou o momento histórico e as 
circunstâncias sociais) afeta o desenvolvimento, começaram a receber o foco dos 
pesquisadores da área. 
Paul Baltes, considerado o líder no estudo do desenvolvimento do ciclo vital, 
distingue algumas características básicas desta abordagem (PAPALIA, OLDS, 
FELDMAN, 2006) 
 
1) O desenvolvimento é vitalício: o desenvolvimento ocorre durante toda a 
vida. Cada etapa possui suas características específicas e influencia a seguinte. 
Nenhuma etapa pode ser considerada como hierarquicamente superior a outra; 
2) O desenvolvimento é contextualizado pelo momento histórico e pelo 
lugar: no desenvolvimento humano as circunstâncias da vida social, política e 
econômica interferem no crescimento físico, afetivo, cognitivo e social. Humano 
e ambiente sofrem influência mútua, um modificando o outro; 
3) O desenvolvimento é multidimensional e multidirecional: o 
desenvolvimento ocorre durante toda a vida e envolve perdas e ganhos em 
todos os períodos. As pessoas tendem a maximizar os ganhos e compensar e 
minimizar as perdas. Na infância, fica mais evidenciado os ganhos e na velhice 
as perdas. Porém, como mencionado anteriormente, há a compensação e 
minimização entre perdas e ganhos. Na meia-idade e na velhice, o vocabulário 
e a sabedoria tendem a crescer, entretanto o organismo pode apresentar 
decréscimo relacionado às condições físicas, como ossos, musculatura, 
respiração, memória; 
4) O desenvolvimento é flexível e plástico: durante toda a vida podemos 
verificar a melhora e a flexibilidade de desempenho a partir de treinamentos 
específicos, como a força, mobilidade, cognição, entre outros. Entretanto, essa 
plasticidade não é ilimitada. 
 
 
 
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 25 
Além disso, o desenvolvimento ocorre em diferentes instâncias do ser humano 
continuamente. Estas instâncias podem ser entendidas como os aspectos do 
desenvolvimento ao longo da vida. São eles: 
 
1) Desenvolvimento físico: refere-se a toda alteração física que acarreta em 
ganhos e perdas durante a vida. Exemplos são verificados facilmente como 
as mudanças hormonais da puberdade, o crescimento do corpo da criança 
em termos de tamanho, peso e força, as alterações cerebrais nas crianças 
e nos velhos, entre outros. 
2) Desenvolvimento cognitivo: refere-se às alterações de organização de 
pensamento, memória, criatividade, senso moral, aprendizagem, 
linguagem, percepção etc. 
3) Desenvolvimento psicossocial: relaciona-se com as alterações da 
personalidade e o estabelecimento de relações interpessoais. 
 
Todos esses aspectos encontram-se completamente interligados e influenciam-
se mutuamente. Por exemplo, as alterações orgânicas da puberdade trazem mudanças 
na personalidade porque afetam a visão que a pessoa tem de si mesma. Esta mudança 
também está relacionada às relações que ela possui e aos seus grupos de pertença, 
que geram expectativas de comportamentos para os componentes dos respectivos 
grupos. 
O ser humano constrói a visão de si mesmo, ou seu autoconceito, a partir das 
suas experiências particulares, mas também da interação que estabelece com outras 
pessoas e da visão e expectativas que elas possuem dele. Este processo cognitivo 
ocorre para o bem ou para o mal. Pode-se verificar o processo ocorrendo comumente 
na vida das pessoas. Quando uma criança é elogiada, respeitada, com suas 
necessidades emocionais satisfeitas, incentivada a resolver os desafios do cotidiano 
sem evidenciar suas falhas e erros, ela tem mais chances de se tornar um adulto 
eficiente nas produções da sua vida, sem medo de ser empreendedor e de lidar com 
desafios. Por outro lado, se a pessoa foi agredida, violada em seus direitos, rotulada 
como incapaz ou delinquente, a possibilidade de construir uma personalidade 
 
 
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 26 
dependente ou outra com tendência a ultrapassar os limites morais ou legais são 
grandes. 
 
3.1 — Os períodos do ciclo vital 
 
Os períodos do ciclo vital são constructos sociais e dependem da cultura 
referida. Fazem parte da interpretação de cada povo sobre as etapas da vida humana 
e não é possível universalizar somente um modelo para todas as culturas. Cada 
sociedade cria marcos de desenvolvimento e rituais de passagem de uma etapa para 
outra. 
 
O conceito de períodos do ciclo de vida é uma construção social: um ideal 
acerca da natureza da realidade aceito pelos integrantes de uma determinada 
sociedade em uma determinada época com base em percepções ou 
suposições subjetivas compartilhadas. Não existe um momento objetivamente 
definível em que uma criança torna-se um adulto ou em que uma pessoa 
jovem torna-se velha. As sociedades do mundo inteiro reconhecem diferenças 
no modo como pessoas de diferentes idades pensam, sentem e agem, mas 
elas dividem o ciclo de vida de modos diferentes. (PAPALIA, OLDS, FELDMAN, 
2006, p.51 ) 
 
 
Em nossa sociedade, construímos marcos para a infância, a adolescência, jovem 
adulto, meia-idade e velhice porque a organização social é realizada a partir destas 
etapas e também as influenciam. Não há dúvidas sobre os papéis sociais de cada 
pessoa em cada etapa da vida e sobre as expectativas do que deverão cumprir. Por 
outro lado, a sociedade é alimentada no sentido de construir sua organização e 
instituições para “enquadrar” as pessoas nestes papéis sociais. Por exemplo, criança 
deve ir para a escola, os adolescentes devem escolher a carreira profissional, os 
adultos devem constituir famílias e cuidar dos filhos e os velhos devem ter mais 
sabedoria devido às experiências pelas quais passaram na vida. É importante destacar 
novamente que este entendimento sobre o DEVER SER de cada pessoa em cada fase 
da vida é construído social e culturalmente. 
 
Os indígenas Chippewa só têm dois períodos de infância: do nascimento até 
a criança caminhar e do caminhar à puberdade. A adolescência é parte da 
vida adulta, que dura até a vinda do primeiro neto; um período posterior da 
 
 
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 27 
idade adulta começa com o nascimento do primeiro bisneto. Os Swazi 
africanos definem oito períodos da vida e marcam cada um com uma 
cerimônia. A condição de bebê começa aos 3 meses, quando se considera que 
o bebê provavelmente irá sobreviver. Depois vem a segunda etapa (que 
começa quando o bebê aprende a caminhar), a infância (que começa aos 6 
anos), a puberdade e o casamento. Para uma mulher, as etapas seguintes 
chegam quando nasce seu primeiro filho e quando ela vai morar com um filho 
casado. (ibid.) 
 
 
Nesse sentido, a Teoria do Ciclo Vital divide as etapas da vida em oito ciclos: 1) 
período pré-natal, da concepção ao nascimento; 2) primeira infância; 3) segunda 
infância; 4) terceira infância; 5) adolescência; 6) jovem adulto; 7) meia-idade; 8) 
terceira idade. 
O período pré-natal corresponde da concepção ao nascimento. Nesta etapa, já 
se inicia a interação entre a genética herdada dos pais e o ambiente. A concepção 
ocorre quando o óvulo feminino tem sua membrana rompida por um espermatozoide 
masculino e é fecundado. Deste momento até duas semanas ele é chamado de zigoto. 
A partir desta etapa, aproximadamente dez dias após a concepção, o zigoto se prende 
à parede do útero materno, processo queé chamado de nidação. Neste período, o 
zigoto transforma-se em embrião e inicia a diferenciação celular e o desenvolvimento 
dos órgãos do futuro bebê. 
No embrião, já é possível escutar os batimentos cardíacos e nove semanas após 
a concepção tem-se o feto, com forma tipicamente humana. É durante este período 
que ocorre o maior desenvolvimento físico e de forma extremamente rápida. 
Ao final dos seis meses, se a gravidez for interrompida acidentalmente, já é 
possível a sobrevivência do bebê, pois órgãos como o estômago já estão prontos. 
Entretanto, esta condição de imaturidade requer intervenções médicas importantes, 
pois o organismo ainda não está completo, podendo trazer comprometimento futuro. 
Estudos mostram que um feto de sexto mês já é suscetível aos sons ambientais, 
principalmente à voz materna. Tal intimidade entre o feto e sua mãe acarreta o 
reconhecimento e a preferência da voz materna em detrimento de qualquer outro som, 
inclusive da voz paterna. 
A nutrição, oxigenação e filtragem de substâncias nocivas e tóxicas do feto é 
feita através da placenta, formada a partir da vinculação do zigoto na parede uterina. 
 
 
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 28 
Daí a importância do cuidado com a saúde da gestante porque qualquer substância 
nociva, como drogas, álcool, fumo e vírus afetam o feto. Segundo Myers (2012), 
 
Não há quantidade segura de bebida alcóolica conhecida para uma mulher 
grávida. O álcool entra na corrente sanguínea da mulher – e do feto – e 
deprime a atividade do sistema nervoso de ambos. O consumo de álcool 
durante a gravidez poderá fazer com que o filho goste de álcool. Adolescentes 
cujas mães beberam durante a gravidez correm o risco de virar dependentes 
de álcool ou alcoólatras. (p.131) 
 
 
 
 
3.2 – Influências genéticas pré-natais 
 
Estudos mostram que os filhos podem herdar geneticamente de seus pais desde 
características físicas (como altura, peso, obesidade, tom de voz, cáries, nível de 
atividade, idade da morte, habilidade atlética) até características intelectuais 
(memória, idade de aquisição da linguagem, retardo mental, déficit de leitura) e 
características emocionais e transtornos (timidez, extroversão, neuroticismo, 
ansiedade, alcoolismo). 
Segundo pesquisas (FELDMAN, 2015), cerca de 95 a 98% das gestações 
apresentam o desenvolvimento normal do feto. Entretanto, os 2 ou 5% restantes 
podem nascer com defeitos congênitos graves: 
 
1) Fenilcetonúria – quando o organismo não consegue produzir uma enzima que 
é fundamental para o crescimento normal do indivíduo, porque prejudica a 
liberação de toxinas pelo corpo. Os acúmulos dessas toxinas podem acarretar 
em déficit cognitivo importante; 
2) Anemia falciforme – esta doença caracteriza-se pela forma anormal das células 
sanguíneas e pode acarretar dor, atraso no crescimento, olhos amarelados e 
problemas de visão; 
3) Doença de Tay-Sachs – nesta doença, o organismo não consegue quebrar as 
células de gordura. A expectativa de vida para as crianças que nascem com 
esta doença é de 3 a 4 anos; 
 
 
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 29 
4) Síndrome de Down – esta síndrome caracteriza-se pela quantidade anormal de 
cromossomos. É uma das causas mais comum de retardo mental. Além desta 
condição, as pessoas são suscetíveis a problemas de coração, visão, fala, 
hipotonia. Atualmente, muitos desses problemas podem ser resolvidos devido 
à intervenção precoce no bebê down, possibilitando um desenvolvimento 
adequado ao potencial de cada um. 
 
 
3.3 – Influências ambientais pré-natais 
 
Apesar da herança genética dos pais ser importante na formação da pessoa, os 
fatores ambientais pré-natais podem interferir de forma importante na constituição do 
bebê, incluindo alterações na genética. Feldman (2015) destaca: 
 
1) Nutrição da mãe – a alimentação durante a gestação é fundamental para a 
constituição orgânica e mental do bebê. A subnutrição materna pode acarretar 
subnutrição do feto, o que gerar problemas de desenvolvimento e problemas 
mentais após o nascimento; 
2) Doenças da mãe – várias doenças que podem ter um efeito simples no 
organismo materno, podem ser desastrosas para o bebê. Exemplos são a AIDS, 
zica, rubéola, entre outras; 
3) Estado emocional da mãe – as alterações emocionais da gestante afetam o 
organismo do bebê porque seu sistema nervoso está suscetível às mudanças 
químicas do organismo materno. Então, gestantes ansiosas podem acarretar 
bebês ansiosos, com problemas de sono e alimentação; 
4) Uso de drogas pela mãe – gestantes que fazem uso de drogas fisicamente 
aditivas, como a cocaína, crack, heroína, entre outras, podem gerar bebês 
dependentes que sofrem crises de abstinência e que podem apresentar 
problemas de malformação, prejuízos físicos e mentais permanentes; 
5) Álcool – a ingestão de álcool pela gestante pode ocasionar a Síndrome Alcoólica 
Fetal (SAF), mesmo com baixos nível de uso de álcool. A SAF causa deficiência 
 
 
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 30 
intelectual e deformidades na face. Estudos indicam que é a principal causa de 
deficiência intelectual na atualidade (FELDMAN, 2015); 
6) Uso de nicotina – a utilização de nicotina durante a gravidez pode acarretar 
aborto espontâneo ou parto prematuro com bebês abaixo do peso e tamanho 
ao nascimento. Esta condição pode trazer danos permanentes para a saúde do 
bebê ao longo da sua vida inteira; 
7) Rubéola – pode gerar cardiopatias, cegueira, surdez ou bebê natimorto; 
8) Sífilis – pode ocasionar aborto, retardo mental e deformidades físicas; 
9) Radiação por raios X – acarreta retardo mental e deformidades físicas; 
10) Idade da mãe (menor que 18 anos) – maior probabilidade de Síndrome de 
Down; nascimento prematuro; 
11) Idade da mãe (maior que 35 anos) – maior probabilidade de Síndrome de 
Down; 
12) Aids – possibilidade de transmissão para o feto, além de poder acarretar 
deformidades na face e problemas no crescimento; 
13) Dietilestilbestrol (DES) – substância utilizada para prevenir aborto espontâneo. 
Pode acarretar câncer genital e dificuldades reprodutiva nos filhos; 
14) Accutane ou isotretinoína – é uma substância utilizada para combater acne. 
Pode ocasionar deformidade físicas e retardo mental no bebê. 
 
3.4 – O recém-nascido 
 
Todo recém-nascido é uma promessa. Devido à sua completa dependência, 
deve ser investido de cuidados e amor para que possa sobreviver. Cada experiência 
por que ele passa com seu cuidador, imprime marcas afetivas no seu corpo e na sua 
mente que serão fundamentais para a constituição da sua identidade e do seu 
relacionamento consigo mesmo e com o mundo. 
No útero, o feto possui experiências sensoriais vestibulares e táteis através do 
envolvimento constante do líquido amniótico e das paredes do útero. Ao nascimento, 
o bebê apresenta a necessidade de ser envolvido, abraçado, acariciado. Neste 
processo de maternagem, a qualidade e a quantidade serão fundamentais para o 
estado afetivo do bebê e a constituição de sua personalidade. 
 
 
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 31 
Mães inseguras, inquietas e ansiosas podem transmitir este estado de tensão 
para seus bebês prejudicando seu sono, alimentação e humor. Mães calmas tendem a 
passar para o bebê a segurança que necessitam para (de alguma forma) entenderem 
que terão suas necessidades básicas satisfeitas. Todos já tiveram experiências (ou 
conhecem alguém que as teve) de uma mãe nervosa chorando por conta de seu bebê 
que não parava de chorar e alguém mais calmo (pai, avô ou avó) acolhe a criança, ela 
acalma e finaliza o choro. O estado de ânimo de quem cuida afeta o estado de ânimo 
do bebê. Neste ponto está a importânciado vínculo mãe-bebê. 
Este vínculo é construído desde a formação do feto. A intimidade entre a mãe 
e seu feto é tão grande e fundamental que ao nascimento, como já foi mencionado 
anteriormente, a criança tem a preferência pela voz materna. Este vínculo faz com que 
a mãe consiga entender as necessidades de seu filho, quando ele está com fome, com 
dor ou necessita de amor e carinho para sentir-se seguro. 
A ligação da mãe (não necessariamente a mãe biológica, mas quem cuida) com 
o seu bebê é fundante da subjetividade e da identidade da criança. É através das 
trocas sensoriais, afetivas, da manipulação do corpo do bebê pela mãe que ele (o 
bebê) inicia o processo de construção da consciência corporal e de si, pois, 
inicialmente, ele experimenta o mundo de forma muito vinculada ao corpo da mãe, e 
ela possui a função de viabilizar (puxar) pelo desenvolvimento de seu bebê. 
Ao nascimento, o bebê não sabe quem é, onde está, o que fazer, que faz parte 
de uma família. Ele não tem memória conceitual. Entretanto, nasce com uma série de 
recursos que são fundamentais para o seu crescimento e desenvolvimento. O recém-
nascido apresenta uma série de reflexos primitivos, uma emocionalidade básica e os 
órgãos sensoriais que são a porta de entrada do meio externo para dentro do corpo. 
Os reflexos primitivos são movimentos involuntários emitidos diante de 
determinados estímulos. Podem ser considerados como o equipamento básico do 
organismo para a sobrevivência e a partir dos quais os outros comportamentos ou 
movimentos serão aprendidos. Tais reflexos são herança filogenética da espécie 
humana e possuem vinculação com a possibilidade adequada de desenvolvimento e 
adaptação, além da possibilidade de verificação de algum problema neurológico ou de 
outra ordem. Alguns exemplos são: 1) sucção: ato de sugar que é iniciado ao colocar 
algo na boca ou se a bochecha ou lábios forem estimulados; fundamental para a 
 
 
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 32 
alimentação; 2) marcha automática: quando o bebê é colocado de pé e apoiado em 
uma superfície, ele inicia o movimento da marcha; indica a existência de lesão (ou 
não) neurológica ou medular; 3) moro: extensão dos braços para fora e para dentro 
em resposta a algum ruído ou estímulo que o assuste; 4) Babinski: distensão dos 
dedos do pé quando a sola é acariciada do calcanhar para os dedos; 5) preensão 
palmar e plantar: quando algo é colocado em sua mão, ou seu pé é tocado perto dos 
dedos, os dedos se fecham para segurar. 
 
Figura 4 – Os reflexos primitivos 
 
Fonte: http://olharfisio.blogspot.com.br/2016/05/reflexos-primitivos.html 
 
Figura 5 – O reflexo do Moro 
 
Fonte: http://eusoumaisfisio.blogspot.com.br/2014/05/reflexos-primitivos.html 
Apesar de uma composição inicial de movimentos desorganizados e sem 
controle, correspondente aos reflexos, aos poucos o bebê começa a dominar seu corpo 
 
 
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 33 
e inicia a emissão de movimentos organizados onde já é possível verificar algumas 
intensões e vontades. 
Com relação à emocionalidade do bebê, inicialmente os sentimentos são de 
prazer ou desprazer (ou desconforto). Prazer ao ser alimentado, acariciado e 
envelopado pela mãe, de segurança de que suas necessidades básicas serão 
satisfeitas. E desprazer diante do desequilíbrio corporal em virtude de fome, sono, 
posição corporal, frio ou calor, dor e doenças. Esta relação entre prazer e desprazer 
será nomeada como as diversas emoções e a criança aprenderá o que ela está 
sentindo. Ao nascimento, a criança possui a composição orgânica para sentir as 
emoções, porém ela aprenderá o que é alegria, tristeza, raiva, repugnância, entre 
outras, a partir da relação estabelecida com as outras pessoas, principalmente sua 
mãe. 
A Teoria do Apego, de John Bowlby, discute a importância da vinculação 
materna para o crescimento e desenvolvimento saudável do bebê, inclusive o 
psicossocial. “O apego, vínculo emocional positivo que se desenvolve entre uma 
criança e determinado indivíduo, é a forma mais importante de desenvolvimento social 
que ocorre na primeira infância” (FELDMAN, 2015, p.344). A construção do apego é 
diretamente proporcional à responsividade com que as crianças são cuidadas. Estes 
primeiros laços são tão importantes que podem gerar impacto durante toda a vida da 
pessoa. Além disso, Bowlby acreditava que o apego aumenta as chances de 
sobrevivência da criança, devido à segurança emocional que proporciona (KLEINMAN, 
2015). 
A segurança emocional da criança acontece quando a mãe (ou cuidador) se 
mostra disponível e atenciosa (o). Segundo Bowlby, o apego possui quatro 
características importantes: 
1. Porto seguro: se uma criança se sentir assustada, ameaçada ou em perigo, 
o cuidador a conforta, apoia e acalma. 
2. Base segura: o cuidador proporciona à criança uma base segura para que 
ela possa aprender, explorar o mundo e ordenar as coisas por si própria. 
3. Manutenção da proximidade: embora a criança possa explorar o mundo, 
ela ainda tenta ficar perto do cuidador para se manter segura. 
4. Angústia de separação: a criança fica irritada, infeliz e angustiada quando 
separada de seu cuidador (KLEINMAN, 2015, p. 145-146). 
A base fundamental para a construção do apego entre pais e filhos é o contato 
e o toque. “Os bebês humanos (...) ficam apegados a pais que são meigos e afetuosos; 
 
 
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 34 
que o embalam, alimentam e afagam” (MYERS, 2012, p.144). O período crítico para a 
formação do apego é dos 6 meses aos 2 anos de idade. 
Em uma situação de restrição de contato já realizado ou privação materna (ou 
com o cuidador), ou caso o apego não seja formado, as consequências podem ser 
desastrosas gerando até uma psicopatia por falta de afeto (ausência de remorso, 
incapacidade de construir relações afetivas, agressividade, impulsividade e raiva 
crônica). Entre os prejuízos acarretados pela falta de afeto e construção do apego, 
estão incluídos: inteligência diminuída, aumento da agressividade, depressão e 
delinquência (id. p. 146), insegurança, repetição do modelo parental com os próprios 
filhos (crianças abusadas podem tornar-se abusadores). 
Outro equipamento básico do corpo do neonato são os órgãos sensoriais, porta 
de entrada de estímulos que serão processados pelo cérebro e transformados em 
esquemas mentais. Inicialmente, os esquemas construídos são sensório-motores e aos 
poucos (e mediante as experiências que vivencia) estes esquemas tornam-se 
conceituais, ou seja, a organização do pensamento muda e vai complexificando ao 
longo da vida infantil. 
Com relação à visão no recém-nascido, sua acomodação visual fica a uma 
distância de aproximadamente 17 a 20 centímetros. Ele possui condutas visuais 
funcionais desde o nascimento, utilizando os olhos para investigar o ambiente, 
interagir com as pessoas e se comunicar. Sua preferência visual é por figuras 
arredondadas que parecem com o rosto humano, conseguindo distinguir configurações 
espaciais, além de apresentarem o início de uma noção de profundidade. No processo 
de interação e comunicação, imita movimentos e mímicas faciais, como sorriso e 
caretas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 35 
Figura 6 – Imitação realizada por bebês 
 
Fonte: http://slideplayer.com.br/slide/335525/ 
 
No que se refere à audição do bebê, ao nascimento ele apresenta mais 
responsividade à voz humana do que a outros tipos de sons e consegue distinguir sons 
familiares dos que não o são. Apresentam, inclusive, respostas motoras às falas dos 
adultos, que representam uma forma de comunicação primordial. Os atos motores 
dependerão da entonação e melodiada voz do locutor. Este fato ocorre porque o bebê 
possui memórias auditivas construídas nas últimas semanas de gestação. A capacidade 
inata do bebê para a percepção de propriedades sonoras das palavras, envolve uma 
pré-disposição genética (gênese inata) para a aquisição da linguagem. 
O desenvolvimento do primeiro trimestre pode ser verificado por meio das 
seguintes características: 
1) Controle da cabeça (marco final deste período): interações sociais, seleção de 
estímulos, aumento da perspectiva do olhar; 
2) Respostas sociais: sorriso e imitações intencionais; 
3) O bebê não gosta de ficar sozinho; gosta que falem (prefere a fala com 
movimentação da cabeça do interlocutor) e brinquem com ele; 
4) Fixa o olho no olho da mãe e segue-a com o olhar desde muito cedo nesse 
período; 
5) Emite sons e repete, modifica, brinca com eles. Gosta que o adulto imite estes 
sons, permitindo que ele guie a brincadeira. 
 
 
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 36 
De 4 a 6 meses, o bebê já consegue abrir a mão, agarrar e soltar os objetos, 
resistir quando tentam tirar dele um brinquedo e interagir mais com o interlocutor, 
buscando tocar seu rosto. O bebê ainda consegue de arrastar pelo chão, sustentar o 
tronco apoiando-se nos braços e vencendo, cada vez mais a gravidade. Ocorre a 
descoberta dos pés, que o bebê olha com fascinação e tende a colocá-los na boca. O 
pai entra em cena e ganha uma atenção destacada, ele aumenta o repertório de 
balbucios, sorri para o espelho (entretanto ainda não se reconhece no espelho), mas 
tenta agarrar a imagem. No final deste período o bebê deve se sentar, primeiramente 
com apoio e depois sem apoio. 
De 7 a 9 meses, o bebê consegue permanecer sentado e engatinha para 
explorar o ambiente, abrindo novas e ampliadas perspectivas relacionadas ao 
ambiente. Ao final do período, algumas crianças já conseguem levantar e andar. Com 
8 meses ele começa a estranhar pessoas que não fazem parte de seu cotidiano e tem 
início a noção de permanência do objeto, fundamental para a construção da 
identidade. A noção de permanência do objeto significa que a criança entende que 
mesmo que o objeto não esteja visualmente aparente, ele ainda existe. 
Entre 10 e 12 meses, as principais conquistas estão vinculadas à linguagem e à 
marcha. Com relação à questão afetiva, evidencia-se a dialética entre a aquisição de 
mais autonomia e as necessidades fusionais da criança e a mãe, devido a sua 
imaturidade funcional. 
 
Figura 7 — Marcos do desenvolvimento motor, segundo a escala Denver II 
Habilidades 50% 90% 
Revirar-se 3,2 meses 5,4 meses 
Pegar o chocalho 3,3 meses 3,9 meses 
Sentar-se sem apoio 5,9 meses 6,8 meses 
Ficar em pé com apoio 7,2 meses 8,5 meses 
Agarrar com o indicador e com o 
polegar 
8,2 meses 10,2 meses 
Ficar de pé de modo seguro 11,5 meses 13,7 meses 
Caminhar bem 12,3 meses 14,9 meses 
Construir torres de dois cubos 14,8 meses 20,6 meses 
Subir degraus 16,6 meses 21,6 meses 
Pular no mesmo lugar 23,8 meses 2,4 anos 
Copiar um círculo 3,4 anos 4 anos 
Fonte: PAPALIA, 2006, p. 178. 
 
 
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 37 
 
3.5 – A Infância e a adolescência 
 
Na segunda infância, de 3 a 6 anos de idade, ocorrem grandes mudanças, 
físicas, cognitivas e sociais. Percebe-se um aumento da autonomia da criança. No 
desenvolvimento físico, o crescimento é constante, o corpo fica delgado e as 
proporções tornam-se cada vez mais semelhantes às de um adulto. Ocorre a 
preferência pelo uso de uma das mãos e as habilidades motoras finas e gerais 
aumentam (PAPALIA, 2006). 
Com relação ao desenvolvimento cognitivo, o pensamento é egocêntrico, mas 
a compreensão do ponto de vista das pessoas aumenta gradativamente. A imaturidade 
cognitiva leva a algumas ideias ilógicas e fantasiosas sobre o mundo, a memória e a 
linguagem se aperfeiçoam e a inteligência torna-se mais previsível. Quanto ao 
desenvolvimento psicossocial, o autoconceito e a compreensão das emoções se 
tornam mais complexos. Aumentam a independência, a iniciativa, o autocontrole e os 
cuidados consigo mesmo. Neste período, desenvolve-se a identidade de gênero e a 
família ainda é o foco da vida social, mas as outras crianças tornam-se mais 
importantes. 
 Na terceira infância, considerado a etapa que vai de 6 a 11 anos, o 
desenvolvimento físico caracteriza-se pelo aumento da força e das habilidades 
atléticas, apesar de o crescimento diminuir. O desenvolvimento cognitivo aponta para 
uma redução do egocentrismo e o início do pensamento lógico e concreto, em que a 
criança aprende o conhecimento formal da linguagem e das operações matemáticas. 
Quanto ao desenvolvimento psicossocial, a personalidade aparece, pois o autoconceito 
torna-se mais complexo, influenciando a autoestima. Devido à inserção na escola, 
evidenciam-se, nesta fase, os problemas de aprendizagem e as crianças com 
necessidades educacionais especiais. 
Na adolescência, período que vai de 12 a 21 anos, o crescimento físico e outras 
mudanças são rápidas e profundas. Por conta das mudanças hormonais da puberdade, 
aparecem os caracteres sexuais secundários, como os pelos, a mudança da voz, os 
quadris arredondados das meninas, além da maturidade reprodutiva. A identidade e o 
autoconceito entram em crise e questões comportamentais como transtornos 
 
 
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 38 
alimentares, abuso de drogas, que trazem grandes riscos à saúde, costumam ter início 
neste período. No que se refere ao conhecimento cognitivo, desenvolve-se a 
capacidade de pensar em termos abstratos e utilizar o raciocínio científico. Apesar da 
organização formal do pensamento (pensamento abstrato), ideias e atitudes imaturas 
persistem em algumas situações e comportamentos. A educação se concentra na 
preparação para a faculdade ou para a vida profissional. O desenvolvimento 
psicossocial é muito importante nesta etapa, pois acarreta na transição da infância 
para a idade adulta. Algumas características específicas são: busca de identidade, 
incluindo a identidade sexual; forte tendência grupal; afastamento do núcleo familiar, 
apesar da existência de bom relacionamento com os pais (em geral); em alguns casos 
pode ocorrer comportamentos antissociais (KNOBEL; ABERASTURY, 1981). 
 
 
3.6 — O adulto e a terceira idade 
 
Na etapa do jovem adulto, 20 a 40 anos, a condição física atinge o seu auge, 
depois diminui ligeiramente. Tal mudança será muito influenciada pelas escolhas e o 
estilo de vida que a pessoa levou ao longo dos anos. Uma alimentação saudável e 
exercícios físicos, possibilitam qualidade de vida por mais tempo e aumentam a 
longevidade. Com relação ao desenvolvimento cognitivo, as capacidades cognitivas e 
os julgamentos morais assumem maior complexidade e escolhas educacionais e 
profissionais são feitas. No desenvolvimento psicossocial, os traços e estilos de 
personalidade tornam-se relativamente estáveis, mas as mudanças na personalidade 
podem ser influenciadas pelas etapas e eventos da vida. Ocorre o momento de 
construção da família e da carreira. 
A meia-idade, 40 a 65 anos, é o momento em que as escolhas da pessoa 
tornam-se mais evidentes. Quanto ao desenvolvimento físico, pode ocorrer alguma 
deterioração das capacidades sensoriais, da saúde, do vigor e da destreza e para as 
mulheres chega a menopausa. O desenvolvimento cognitivo evidencia o auge da 
maioria das capacidades mentais, em que perícia e capacidades de resolução de 
problemas práticos são acentuadas. No trabalho, surge o ápice da carreira, trazendo 
sucesso e o êxito financeiro, entretanto, para outros podem ocorrer esgotamento total 
 
 
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 39 
ou mudança profissional.No que se refere ao desenvolvimento psicossocial, o senso 
de identidade continua se desenvolvendo e pode ocorrer uma transição de meia-idade 
estressante, tendo em vista que a dupla responsabilidade de cuidar dos filhos e dos 
pais idosos pode causar estresse. 
A terceira idade, de 65 anos em diante, traz várias mudanças que são o 
resultado das escolhas feitas ao longo da vida. O desenvolvimento físico da maioria 
das pessoas é saudável, embora a saúde e as capacidades físicas diminuam um pouco 
e o tempo de reação seja mais lento e afete alguns aspectos do funcionamento. No 
desenvolvimento cognitivo, percebe-se que a maioria das pessoas é mentalmente 
alerta, embora a inteligência e a memória possa se deteriorar em algumas áreas, a 
maioria das pessoas encontra uma forma de compensação. Quanto ao 
desenvolvimento psicossocial, a aposentadoria pode oferecer novas opções para a 
utilização do tempo e as pessoas precisam enfrentar as perdas pessoais e a morte 
iminente. Os relacionamentos com a família e com os amigos pode oferecer apoio 
importante e a busca de um significado na vida assume importância central (PAPALIA, 
2006). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 40 
TEMA IV – A Teoria Psicanalítica e o desenvolvimento psicossexual 
 
 Sigmund Freud, médico neurologista e psiquiatra, trouxe um marco 
fundamental para o entendimento do ser humano a partir da construção da 
Psicanálise, no século XX. Nascido em meados do século XIX, na Morávia, e falecido 
no início da Segunda Guerra Mundial, em 1939, aos 83 anos, o psicanalista, junto a 
outros médicos de sua época, modificaram o entendimento sobre os transtornos 
mentais e o tratamento dos sofrimentos psíquicos e afetivos. 
 Freud destronou a razão de seu lugar central para a compreensão do ser 
humano, e apontou para outra instância psíquica, o ID, como o princípio de toda a 
vida psíquica e afetiva, e dominante da consciência. 
 Além da sua construção de um modelo psíquico que vigora até os dias atuais, 
Freud também lançou as bases para pensar o desenvolvimento humano pautado na 
sexualidade infantil. Segundo a Psicanálise, o desenvolvimento humano culmina na 
estruturação psíquica do ser humano. Esta estrutura psíquica ou estrutura de 
personalidade, composta pelo ID, EGO e SUPEREGO, será responsável pela forma 
como as pessoas entendem o mundo e se relacionam com ele. 
Com relação ao desenvolvimento, Freud o entende vinculado ao conceito de 
libido, que significa energia afetiva primordial. Este conceito remete a noção da 
sexualidade infantil, aspecto controverso da Teoria Freudiana, principalmente pela 
época em que foi pensado. 
Entretanto, a noção de sexualidade na psicanálise está para além da 
sexualidade genital adulta; significa que o organismo humano se desenvolve através 
da busca do prazer ou da homeostase (equilíbrio). Para a psicanálise, o corpo da 
criança é um corpo erógeno, ou seja, voltado para o prazer. Dessa forma, o 
desenvolvimento significa a organização da libido na parte do corpo que estará em 
evidência no momento e que, portanto, acarretará uma forma específica de relação 
com o objeto de desejo (ou amor). Esta forma de relação marcará o aparelho psíquico 
do sujeito de forma estruturante e poderá ser atualizada ao longo de toda a vida 
posterior do mesmo. 
Nesse sentido, o desenvolvimento humano em quatro fases: 1) fase oral, de 0 
a 2 anos; 2) fase anal, de 2 a 3 anos; 3) fase fálica, de 3 a 6 anos; e 4) fase genital, 
 
 
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 41 
11/12 anos (puberdade) em diante. Entre a fase fálica e a fase genital, a criança 
atravessa o período de latência, em que a libido não está investida no corpo, mas fora 
do mesmo. É o momento da aprendizagem formal, descoberta de hobbies, formação 
dos grupos de amigos, entre outros. 
 
 
OBJETIVOS 
 
1) Identificar noções básicas de psicanálise; 
2) Explicar o aparelho psíquico, composto pelas instâncias ID, EGO e 
SUPEREGO; 
3) Descrever o modelo de desenvolvimento psicossexual. 
 
 
 
 
 
 
 
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 42 
4.1 – Conceitos Básicos de Psicanálise 
 
 O início da Psicanálise está vinculado à histeria, transtorno psíquico que gerava 
um sintoma no corpo. Tanto que Freud, devido a seu interesse pela histeria vai 
estudar com outro médico francês que ganhou notoriedade desenvolvendo o 
tratamento de pessoas histéricas com a hipnose, Jean Charcot (RAPPAPORT; 
DAVIS; FIORI, 1981). Para Charcot, “a histeria era uma incapacidade congênita de 
integração psíquica” (RAPPAPORT; DAVIS; FIORI, 1981, p.12). 
 
 
Freud usa uma boa imagem parara representar a teoria de Charcot, 
comparando a histeria a uma mulher sobrecarregada de pacotes, que 
não lhe cabem nos braços. Um deles cai e, ao abaixar-se para apanhá-
lo, outro se precipita. Ou seja, é como se o psiquismo, inatamente 
frágil, apresentasse uma defasagem na coordenação de suas funções. 
(ibid.) 
 
 
 
O nome histeria vem do grego Hyster, ou útero. Tal denominação surge devido 
a crença de que a histeria estaria vinculada à sexualidade. Seus sintomas apareciam 
em forma de cegueira, surdez, paralisia, entre outros, sem que houvesse qualquer 
questão neurológica evidenciada. 
Nesse sentido, o grupo de médicos que Freud pertencia, entendia que, por 
conta de algum evento traumático, as pessoas reprimiam na memória este 
conhecimento e, tal fator, desencadeava os sintomas corporais. Por causa deste 
processo de “esquecimento”1 do que havia gerado o sofrimento psíquico, iniciou-se a 
utilização da hipnose2 como método para se chegar ao evento traumático “escondido”, 
e consequentemente, possibilitar a liberação do sintoma corporal. A ideia era que se 
o paciente conseguisse lembrar do evento traumático e liberasse o afeto (ou as 
emoções) reprimidas juto com o trauma o paciente estaria “curado” dos sintomas. 
 
1 Este “esquecimento” é denominado de repressão ou recalque na Psicanálise. 
2 A hipnose pode ser entendida como a alteração do estado de consciência, em que o paciente fica mais suscetível 
à indução dos comandos do psicoterapeuta. 
 
 
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 43 
O caso de Ana O. é emblemático para construção da teoria. A paciente iniciou 
com quadro de paralisia, movimentos oculares inquietos, tosse nervosa e hidrofobia e 
estados de absence que teve início com o falecimento do pai. Na terapêutica da 
paciente, foi aplicada a hipnose para que a mesma recordasse o que havia suscitado 
os sintomas. Os eventos eram relatados durante o estado hipnótico e desapareciam 
quando ela voltava ao estado normal de consciência (RAPPAPORT; DAVIS; FIORI, 
1981). 
Dessa forma, percebe-se a ocorrência de um evento traumático reprimido, que 
não faz parte da percepção consciente e que, ao ser recordado em estado alterado de 
consciência, e guiado por um especialista, permitia a vivência da emoção reprimida. 
Ou seja, a recordação consciente do trauma, com a correspondente descarga de 
emoções reprimidas, faz com que os sintomas desapareçam. Este método ficou 
conhecido como método catártico, e será abandoado posteriormente por Freud, da 
mesma forma que a hipnose, quando Freud assume como técnica a associação livre. 
Diante da evidência de que haviam conteúdos que eram esquecidos 
deliberadamente pelo aparelho psíquico para evitar o sofrimento e que tal processo 
não estava na ordem da razão ou consciência dos pacientes, Freud estabelece as 
noções de inconsciente e recalque ou repressão (RAPPAPORT; DAVIS; FIORI, 1981). 
 
A teoria de origem da neurose, elaborada por Breuer, baseava-se nos estados 
de “absence”. Julgava ele que as histéricas

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