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FACULDADE GOVERNADOR OZANAM COELHO – 2018/2 LUCAS MAGALHÃES DE OLIVEIRA [ 1 ] PANCREATITE AGUDA LUCAS MA GALH ÃES DE OLIVEIRA – FAG OC – 2018/2 DEFINIÇÃO ® Uma condição inflamatória do pâncreas, com acometimento variável das estruturas peripancreáticas e órgãos à distância, cuja gênese depende da autodigestão tecidual pelas próprias enzimas pancreáticas. ® Pode se comportar, nos casos mais graves, como uma doença multissistêmica e leva à Síndrome da Resposta Infamatória Sistêmica (SIRS). A pancreatite aguda caracteristicamente não deixa sequelas pancreáticas após a resolução do quadro. ® 80-90% dos casos de pancreatite aguda cursam apenas edema do pâncreas, sem áreas extensas de necrose, sem complicações locais ou sistêmicas e de curso autolimitado em 3-7 dias – Pancreatite Aguda Edematosa. ® 10-20% dos casos restantes cursam com extrema necrose, hemorragia retroperitoneal, quadro sistêmico grave e uma evolução de 3-6 semanas – Pancreatite Aguda Necrosante (ou grave). ® Epidemiologia: Houve aumento da incidência nos últimos 40 anos por razoes desconhecidas, sendo que o número de casos aumenta com a idade. Há predomínio na população negra, principalmente em homens (exceto na pancreatite com etiologia biliar). Em geral é autolimitada e em 10-20% dos casos tem curso fulminante. ® Etiologias: - Cálculos Biliares: A obstrução da papila maior causa refluxo da bile para o ducto pancreático, dando início ao processo inflamatório. É a causa mais comum nos países ocidentais; Representa 35-50% dos casos de pancreatite; Mortalidade de 10%. - Álcool: Pode cursar por três mecanismos, a motilidade anormal do esfíncter de Oddi, a toxicidade direta e por efeitos metabólicos e por obstrução por coágulos de proteína. É a segunda causa nos países ocidentais. - Pâncreas Divisum: Anomalia congênita mais comum (10% da população). É representada por fusão incompleta ou ausente dos ductos dorsal e ventral durante o desenvolvimento embrionário. - Induzida por Fármacos: É um evento incomum. Pode estar relacionada à hipersensibilidade ou a um efeito tóxico direto. A classe de drogas mais relacionada a pancreatite aguda são os imunossupressores (azatioprina, 6MP, ciclosporina e tacrolimo). Outras classes envolvidas são os antibióticos, anti-inflamatórios, diuréticos, anticonvulsivantes e anti- hipertensivos. - Outras Causas: Microlitíase, trauma abdominal, viroses, bacterianas, infestações parasitarias, vasculite e idiopática. CLÍNICA ® Os principais sintomas são dor abdominal (andar superior de abdome), náuseas e vômitos. A dor é contínua e pode se localizar em mesogátrico, quadrante superior direito, ser difusa ou – raramente – à direita. ® Anamnese: - Dor epigástrica que irradia para o dorso (dor em barra). Ao contrário da dor biliar, que permanece por 6-8 horas, a dor pancreática se mantém por dias. - Náuseas e Vômitos quase sempre acompanham a dor epigástrica (85% dos casos). Inquietação, agitação e alívio em posição de flexão anterior do tórax também são sintomas notados. ® Exame Físico: - Febre, sinais de desidratação, taquicardia e, em casos mais graves, choque e coma. - Na pancreatite Necrosante, o paciente pode se apresentar em mau estado geral, toxêmico, pálido, hipotenso, taquicárdico (100-150 bpm), taquipneico (por dor ou acometimento pulmonar), febril e com o sensório deprimido (confusão mental, torpor ou coma). - Derrame pleural à esquerda é comum e pode contribuir para a dispneia. - Outros achados incluem a distensão abdominal e massa palpável, equimoses periumbilical (S. Cullen) e flanco (S. Grey-Turner) e pode haver ascite (fístula pancreática). DIAGNÓSTICO ® Exames Laboratoriais: - Aumento de AMILASE e LIPASE em 3 vezes aos valores de referência. O aumento combinado oferece sensibilidade e especificidade de 90-95%. - Ocorre redução ou normalização da AMILASE em 24-48h. - É comum ocorrer leucocitose, principalmente nos casos graves. - O aumento de PROTEÍNA C REATIVA é outro marco laboratorial de gravidade. - As provas hepáticas podem estar alteradas, revelando aumento das aminotransferases, fosfatase alcalina e bilirrubina. TGP (> 3x) indica relação com colecocolitíase. ® Exames Radiológicos: - Rotina de Abdome Agudo: [Tórax] Derrame pleural e infiltrados alveolares. [Abdome] Alça sentinela paravetebral e sinal do CUT-OFF. - Ultrassonografia Abdominal: Litíase biliar, aumento da glândula pancreática (pâncreas só é bem visualizado em 30-50% dos casos; Há limitação por distensão gasosa, obesidade e pelo operador do exame. - TC Abdominal (Contraste Venoso): Ideal para pancreatite aguda e complicações. Identifica necrose do parênquima e orienta punções. FACULDADE GOVERNADOR OZANAM COELHO – 2018/2 LUCAS MAGALHÃES DE OLIVEIRA [ 2 ] - Exames Endoscópicos: [CPER] Etiologia biliar, pancreatite aguda recorrente. [CPER com MANOMETRIA ODDI]: Suspeita disfunção E. Oddi. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL ® Quadro Leve: Cólica biliar; Úlcera péptica complicada; Doença pleuropulmonar; Doenças Hepáticas Agudas; Obstrução intestinal incompleta. ® Quadro Grave: Isquemia ou perfuração de víscera oca; Aneurisma roto de aorta; Infarto agudo do miocárdio. ® Outros Diagnósticos Diferenciais: Colelitíase, coledocolitíase e colecistite aguda; Isquemia mesentérica; Gravidez ectópica. PROGNÓSTICO ® Critérios de Ranson: São 11 critérios – Cinco avaliados na admissão e refletem a gravidade e a extensão do processo inflamatório, assim como a idade; Os outros seis critérios são avaliados ao longo das 48 horas iniciais e refletem o desenvolvimento das complicações sistêmicas e o grau de perda volêmica para o “terceiro espaço”. ® Critérios de APACHE-II: Considera-se como “grave” a pancreatite que soma 8 ou mais pontos. A principal diferença entre os critérios de APACHE-II e os critérios de Ranson é que o APACHE-II pode ser calculado nas primeiras 24 horas. CRITÉRIOS DE RANSON ADMISSÃO DURANTE AS 48H INICIAIS Idade > 55 anos ↓ Hematócrito acima de 10% Leucocitose > 16.000/mm3 ↑ Ureia > 10 mg/dL Glicose > 200 mg/dL Cálcio < 8 mg/dL LDH > 350 UI/L PaO2 < 60 mmHg TGO (AST) > 250 UI/L Base excess mais negativo que 4 Perda líquida > 6L CRITÉRIOS PRESENTES EM RELAÇÃO COM A LETALIDADE: 0-2: 1% 3-4: 16% 5-6: 40% >6: 100% REGRA MNEMÔNICA – PANCREATITE AGUDA I – IMPORTANTE Idade > 55 anos L – LEMBRAR Leucometria > 16.000/mm3 T – TOTALMENTE DA TGO > 250 UI/L G – GRANDE Glicemia > 200 mg/dL L – LISTA LDH > 350 UI/L P – PARA PO2 < 60 mmHg E – EVITAR Excesso de Bases (Base Excess) S – SEQUESTRO DE Sequestro de Líquidos (Perda Líquida) H – HOMENS NA Hematócrito reduzindo-se mais que 10% UR Ureia se elevando em mais de 10 mg/dL CA Cálcio < 8 mg/dL TRATAMENTO ® Forma Leve (APACHE < 8 / Ranson < 3): - Internação e medidas de suporte. Dieta zero, hidratação venosa, reposição eletrolítica e analgesia, além de controle ácido-básico. - A forma leve geralmente é a manifestação da pancreatite intersticial (edematosa) e nesses casos não é necessária a realização de TC. - Reintrodução da Dieta: Quando houver remissão da dor, redução da amilasemia, ausência de complicações e resolução do íleo. Na etiologia BILIAR, realizar colecistectomia vídeo- laparoscópica 2-4 semanas após resolução do evento agudo. ® Forma Grave (APACHE ≥ 8 / Ranson ≥ 3): - Internação em CTI: Ressuscitação hidroeletrolítica vigorosa, analgesia (meperidina é a droga de escolha, pois a morfina pode aumentar o tônus do esfíncter de Oddi), suporte nutricional (enteral é a mais indicada atualmente; Nutrição parenteral só é indicada nos pacientesque não toleram a enteral), avaliar a necessidade de CPER (em causas biliares). NÃO faz antibioticoprofilaxia. COMPLICAÇÕES LOCAIS ® Pseudocistos de Pâncreas: Coleção líquida intra ou peripancreática não infectada, envolvida por uma cápsula de fibrose e tecido de granulação, que se manteve ou que se instalou após 4 semanas do início do quadro de pancreatite aguda. - Os pseudocistos complicam 10% das pancreatites agudas, sendo causados pela evolução das coleções liquidas agudas ou de áreas de necrose do pâncreas, em comunicação com a árvore ductal pancreática. - Deve ser suspeitado quando houver massa palpável no epigástrico, podendo ser responsável por um novo aumento da amilase e lipase. - Complicações: Obstrução gastroduodenal, obstrução biliar, hemorragia e pseudoaneurisma, rotura aguda de cavidade peritoneal e fístula pancreática. - Indicações de Intervenção: (1) Expansão do pseudocisto; (2) Presença de sintomas; e (3) Presença de complicações. - Condutas (Drenagem): (1) Cirúrgica – método de escolha; (2) Punção guiada pela TC ou US; e (3) Descompressão endoscópica ou por CPRE. ® Pancreatite Necrosante Complicada: O quadro clínico desses pacientes é de uma piora clínica após melhora inicial ou aparece um quadro novo da febre, leucocitose ou qualquer outro sinal de sepse. - Geralmente ocorre após 10 dias do inicio da pancreatite. - Diagnóstico: Se a TC mostrar gás no pâncreas ou no tecido peripancreático (sinal da bolha de sabão), é bastante indicativo de infecção. Caso contrário, o diagnóstico é feito pela punção do tecido necrótico guiada por TC. ® Abscesso Pancreático: Coleção líquida infectada, geralmente se desenvolvendo mais de 4 semanas após o inicio do quadro clínico. É um pseudocisto infectado. - Tratamento: Além de antibioticoterapia, deve visar sempre a drenagem.
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