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FACULDADE GOVERNADOR OZANAM COELHO – UBÁ (MG) LUCAS MAGALHÃES DE OLIVEIRA [ 1 ] EMERGÊNCIAS GLICÊMICAS LUCAS MAGALHÃES DE OLIVEIRA – FAGOC – 2018/2 CETOACIDOSE DIABÉTICA ® É a complicação mais grave do DM tipo 1, com uma mortalidade em torno de 100% se não tratada. ® Fisiopatologia: As alterações metabólicas presentes na cetoacidose podem ser compreendidas como uma exacerbação do que ocorre normalmente no jejum. É marcada por três achados clínicos: - Hiperglicemia - Cetonemia - Acidose metabólica com ânion-gap elevado ® Fatores de Risco: Sexo feminino, doenças psiquiátricas, baixo nível socioeconômico, episódios prévios de cetoacidose. ® No Dm tipo 2, a ocorrência de cetoacidose é mais rara, geralmente surgindo em condições de estresse (infecções graves). ® Cetoacidose também pode ser encontrada nos casos de diabetes secundário, como ocorre em algumas doenças endócrinas (acromegalia, Cushing, hipertireoidismo), pancreatite, dentre outras. ® Quando o organismo é privado de fontes energéticas exógenas, há queda da glicemia e dos níveis plasmáticos de insulina, com elevação concomitante dos hormônios contrainsulínicos (glucagon, cortisol, GH e catecolaminas). As reservas energéticas endógenas passam a ser utilizadas, ocorrendo consumo do glicogênio hepático, lipólise com produção de ácidos graxos e glicerol e catabolismo muscular, gerando aminoácidos. No fígado, os ácidos graxos serão convertidos em cetonas (cetogênese). No jejum, este processo é revertido pela alimentação, quando ocorre aumento da secreção de insulina. No DM tipo 1, a ausência de insulina perpetua e agrava este desarranjo metabólico, com um aumento absurdo da produção hepática de corpos cetônicos, levando a graves consequências clínicas. HIPERGLICEMIA ® É consequência, principalmente, do aumento de produção hepática de glicose. Além da diminuição relativa de sua utilização pelos tecidos, à hemoconcentração resultante da diurese osmótica e pela diminuição da excreção de glicose na urina secundária à deterioração da função renal. ® Varia entre 400-800 mg/dL (Isoladamente não serve como parâmetro). CETONEMIA ® Os corpos cetônicos são produzidos em larga escala devido à lipólise excessiva (liberando grande quantidade de ácidos graxos livres na circulação). ® Principais cetoácidos produzidos: ácido beta- hidroxibutírico, ácido acetoacético e acetona. - A acetona é eliminada na respiração, caracterizando o quadro de cetoacidose diabética por hálito cetônico. - A excreção dos cetoácidos pelo rim depende da função renal prévia e do grau de desidratação do paciente. ® Parte dos ácidos graxos livres resultantes da lipólise no tecido adiposo é convertida em triglicerídeos no fígado, resultando em hipertrigliceridemia grave. ® A cetonúria (identificada pela presença de acetato na urina) não pode ser usada como parâmetro no tratamento da cetoacidose pois, à medida que se trata, ocorre conversão de beta-hidroxibutírico em acetato, o que piora paradoxalmente a cetonúria. ACIDOSE METABÓLICA ® Ocorre consequentemente ao excesso de cetoácidos, é do tipo ânion-gap aumentado, devido ao acúmulo dos cetoânions. ® No curso da cetoacidose podem associar-se acidose metabólica do tipo ânion-gap normal (hiperclorêmica) e acidose lática por hipoperfusão tissular (que também cursa com ânion-gap aumentado). DISTÚRBIOS ELETROLÍTICOS ® A elevação da osmolaridade sérica provoca a saída de fluido do compartimento intra para o extracelular, carreando eletrólitos como potássio, cloro e fosfato. Uma vez no espaço intravascular, estes elementos são eliminados em grande quantidade na urina devido à diurese osmótica consequente à hiperglicemia. ® Potássio e Fosfato: Apesar de grande perda urinária e grave espoliação corporal destes elementos, os seus níveis séricos mantêm-se normais ou elevados. Motivos: - (1) A depleção de insulina predispõe a saída de potássio e fosfato das células; - (2) A hiperosmolaridade extrai água e potássio das células; e - (3) A acidemia promove a entrada de H+ nas células em troca da saída de potássio. ANAMNESE E EXAME FÍSICO ® As infecções compõem a causa mais comum de cetoacidose diabética em DM tipo 1. Outras causas comuns de descompensação são o abuso de bebidas alcoólicas, uso de doses inadequadas de insulina e a gestação, principalmente na segunda metade. ® Em 10% dos casos, o diagnóstico de diabetes é estabelecido por ocasião da instalação da cetoacidose. ® Sinais e Sintomas: Paciente refere poliúria, polidipsia ou polifagia, associados a astenia e perda ponderal. Dor abdominal (principalmente em crianças) pode estar presente e ser intensa a ponto de simular um abdome cirúrgico. O paciente tipicamente se apresenta hipo- hidratado, taquicárdico e hiperventilado (Kussmaul). FACULDADE GOVERNADOR OZANAM COELHO – UBÁ (MG) LUCAS MAGALHÃES DE OLIVEIRA [ 2 ] ® A ausência de derrame pleural ou infiltrado pulmonar no paciente severamente hipovolêmico não exclui o diagnóstico de infecção respiratória, podendo evidenciar-se com a reidratação. ® O Hálito Cetônico é característico. ® Alterações do nível de consciência, incluindo coma, podem ocorrer, especialmente com níveis muito elevados de glicemia. LABORATÓRIO ® Leucocitose é a regra, entre 10.000-25.000/mm3 com ou sem desvio à esquerda, mesmo na ausência de infecção, devido à intensa atividade do córtex adrenal, com aumento dos glicocorticoides. ® Na cetoacidose, é comum encontrarmos normocalemia e a hipercalcemia. O mesmo vale pro fosfato. A ureia e a creatinina podem se elevar pela desidratação. DIAGNÓSTICO ® O diagnóstico definitivo exige a presença de hiperglicemia, acidose metabólica e cetonemia/cetonúria significativa. ® A não detecção dos corpos cetônicos na urina não exclui a presença destes. ® Uma forma mais confiável é a pesquisa indireta através do cálculo do ânion-gap: ânion-gap = Na+ - (Cl- + HCO3-), caso o valor encontrado esteja acima do normal, basta a exclusão de hiperlactatemia grave (lactato arterial acima de 5 mM/L) para inferir a presença de cetonemia. CONDUTA ® Reposição Volêmica Vigorosa – SF a 0,9%, com um volume na primeira hora em torno de 1.000mL. - Objetivos: repor déficit de água, manter a pressão arterial, reduzir os níveis de glicemia e melhorar a perfusão tissular e renal, o que contribui para a reversão da acidose. ® Após a primeira hora de hidratação, o ideal é a dosagem do sódio sérico, que deve ser corrigido pela hiperglicemia. Se o sódio sérico corrigido estiver normal ou elevado (> 150 mEq/L), a reposição deve continuar com salina a 0,45%, se baixo, a solução continua sendo o SF a 0,9%. ® Quando a glicemia atinge 250 mg/dL, a reposição de fluidos deve ser feita com solução glicosada a 5% e com NaCl a 0,45% para prevenção de hipoglicemia e de edema cerebral, que poderia ocorrer com uma queda muito rápida da glicemia. A infusão deve variar entre 150-250 ml/h, mantendo-se a glicemia entre 150-200 mg/dL. ® Insulinoterapia: Só será eficaz se as medidas para restabelecimento da volemia estiverem em curso. O início da insulina antes da reposição volêmica pode agravar a hipovolemia e precipitar o choque hipovolêmico, pois a insulina promove a captação celular de glicose, que promove a entrada de água nas células. ® Deve ser feita, inicialmente, uma dose de ataque de insulina regular intravenosa (0,1 a 0,15 U/kg) para sensibilizar os receptores insulínicos, seguida de infusão venonsa contínua de 0,1 U/kg/h. - Objetivo: Queda média da glicemia de 50 a 75 mg/dL/h. - A dose da infusão deve ser dobrada caso esta queda não seja observada.® A ausência de queda da glicemia pode sugerir a presença de quadro infeccioso ou de hidratação inadequada. ® Na presença de hipocalemia (K < 3,3), a insulina não deve ser iniciada. ® Os critérios de resolução da Cetoacidose Diabética são: - pH > 7,3 - Bicarbonato > 18 mEq/L - Glicemia < 200 mg/dL ® Reposição de Potássio e Fosfato: Apesar de a hiponatremia ser o distúrbio mais frequentemente visto no momento do diagnostico da cetoacidose diabética, são as variações do potássio sérico que carreiam maior risco para o paciente. A reposição de potássio deve ser iniciada caso os níveis séricos estejam < 5 mEq/L, na presença de um fluxo urinário adequado. - Se < 3,3 → Reposição com 40 mEq de K+. - Se ≥ 3,3 e < 5,0 → Adicionar 20-30 mEq de K+ por soro. - Se ≥ 5,0 → Não administrar K+ inicialmente, e checá-lo de 2/2h. ® Obs.: Manter K+ entre 4,0-5,0 mEq/L e verificar o fluxo urinário. COMPLICAÇÕES ® Edema Cerebral ® Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo ® Acidose Metabólica Hiperclorêmica ® Mucormicose ® Trombose Vascular PROGNÓSTICO ® A mortalidade é geralmente menor que 5% nos centros de medicina de ponta e está mais relacionada aos fatores precipitantes da cetoacidose (infecção, infarto...). ® O coma e a hipotermia são sinais de mau prognóstico. FACULDADE GOVERNADOR OZANAM COELHO – UBÁ (MG) LUCAS MAGALHÃES DE OLIVEIRA [ 3 ] ESTADO HIPERGLICEMICO HIPEROSMOLAR ® Associa hiperglicemia grave, hiperosmolaridade sérica e depressão do sensório, sem cetoacidose. ® Trata-se de uma forma de descompensação típica do portador de DM 2 idoso e, se comparada à cetoacidose, com mortalidade mais elevada. ® Para que ocorra é necessária a presença de hiperglicemia e ingesta de líquidos inadequadamente baixa. ® O fator precipitante mais comum é infeccioso. PATOGÊNESE ® Pode ser compreendida como um progressivo aumento da osmolaridade sérica consequente à hiperglicemia e à hipernatremia, nem uma elevação equivalente da osmolaridade intracelular. ® A diurese osmótica provocada pela hiperglicemia leva à perda de água em maior proporção que de eletrólitos, agravando a hiperosmolaridade sérica. ® O estado hiperosmolar só se desenvolve naqueles pacientes cujo mecanismo da sede (ou acesso a fluidos) está prejudicado. ® Se assemelha à cetoacidose, distinguindo-se essencialmente pela ausência de acidose ou cetonemia. Como no DM 2 há insulina circulante, mesmo em pequenos níveis séricos, já é suficiente para prevenir a lipólise e a cetogênense, mas não a gliconeogênese excessiva. ANAMNESE E EXAME FÍSICO ® Tipicamente há relato de desidratação progressiva ao longo de vários dias, associado à pneumonia ou infecção urinária. Pacientes demenciados ou acamados estão sob maior risco de desenvolver o estado hiperglicêmico hiperosmolar devido à incapacidade de ajustar sua ingesta hídrica. DIAGNÓSTICO ® Critérios Diagnósticos: - Glicose plasmática > 600 mg/dL - pH arterial > 7,3 - HCO3 > 18 - Osmolaridade Plasmática Efetiva > 320 mOsm/kg ® A diferenciação laboratorial vai além da presença ou não de cetonemia. Os principais critérios estão na tabela abaixo: Cetoacidose EHH Tipo DM DM 1 DM 2 Idade Jovens Idosos Glicemia > 250 > 600 pH arterial < 7,3 > 7,3 HCO3 < 15 > 18 Cetonemia/Cetonúria ++++ 0/+ Osmolaridade Sérica Variável > 330 Ânion-gap > 10-12 < 12 Índice de Mortalidade < 5% 15% CONDUTA ® A avaliação clínica e laboratorial segue os mesmos passos daquela proposta para a cetoacidose. A identificação e correção dos fatores desencadeantes são feitas paralelamente à instituição das medidas específicas. ® Um aspecto da conduta terapêutica merece ser destacado: Enquanto na cetoacidose a insulinoterapia venosa sem a concomitante correção do déficit hidroeletrolítico é simplesmente ineficaz, no estado hiperglicêmico hiperosmolar constitui uma medida extremamente arriscada, podendo levar ao colapso vascular imediato. HIPOGLICEMIA ® É a complicação mais frequente do tratamento do DM e a causa mais comum de coma nesses pacientes, ocorrendo geralmente em pacientes sabidamente diabéticos, que deixam de se alimentar regularmente, abusam de insulina ou submetem-se a algum exercício imprevisto. Pode também ser precipitada por falência renal ou hepática, etilismo agudo, drogas ou associação com outras endocrinopatias, como a doença de Addison. FACULDADE GOVERNADOR OZANAM COELHO – UBÁ (MG) LUCAS MAGALHÃES DE OLIVEIRA [ 4 ] ® Classificação da hipoglicemia: - Hipoglicemia Grave: Evento que requer assistência de outra pessoa para administração de carboidrato, glucagon, etc. Esta forma implica em neuroglicopenia suficiente para induzir convulsão, alteração do comportamento ou coma. - Hipoglicemia Sintomática Documentada: Evento com sintomas e glicemia < 70 mg/dL. - Hipoglicemia Assintomática: Evento sem sintomas típicos, mas com glicemia < 70 mg/dL. - Hipoglicemia Sintomática Provável: Evento no qual os sintomas não são confirmados por glicemia. - Hipoglicemia Relativa: Evento no qual o paciente com DM apresenta sintomas de hipoglicemia com glicemia > 70 mg/dL. Isto pode ser observado quando o controle glicêmico é inadequado e ocorre uma queda brusca e acentuada da glicemia. ® Alguns fatores de risco para hipoglicemia em diabéticos são: Omissão ou atraso das refeições, sobredose de insulina ou hipoglicemiante oral, excesso de álcool, variação na absorção de insulina, exercícios prolongados, uso de drogas que prejudicam o reconhecimento da hipoglicemia, dentre outros. O mais comum é a omissão ou atraso de refeições, seguido pela dose excessiva de insulina ou hipoglicemiante oral. ® A presença de HbA1C < 7% é um fator de risco para a ocorrência de hipoglicemia. ® Diante um paciente que vem apresentando hipoglicemias frequentes, devemos investigar a ocorrência de situações que cursem com menores necessidades de insulina, como por exemplo insuficiência renal, hipotireoidismo, insuficiência adrenal, etc. ® O quadro clínico inclui sinais e sintomas relacionados ao excesso de adrenalina circulante (sudorese, tremor, taquicardia, ansiedade e fome) e à disfunção do sistema nervoso central por deficiência de seu principal substrato energético (cefaleia, vertigem, mal-estar, escurecimento da visão, confusão mental, convulsão e coma). CONDUTA ® Na suspeita clínica de hipoglicemia grave a conduta imediata é a coleta de sangue para avaliação da glicemia, seguida da administração de 25-50g de glicose intravenosa (50-100 mL de glicose a 50%), enquanto se aguarda o resultado. ® Sempre que houver a possibilidade de associação com etilismo crônico ou desnutrição, a administração de glicose deverá ser precedida pela aplicação IM (ou EV lenta) de 100 mg de tiamina ou 5-10 ampolas de complexo B, para prevenção da encefalopatia de Wernicke. ® Pacientes conscientes com sintomas de hipoglicemia devem ingerir alimentos contendo açúcar. Para pacientes inconscientes, que apresentam hipoglicemia e ambiente extra-hospitalar, um acompanhante pode aplicar glucagon IM ou SC (1mg para adultos e 0,5 mg para crianças), caso disponível, que costuma restaurar a consciência do paciente em 10-15 minutos. Uma vez consciente, o paciente deve ingerir algo contendo açúcar. ® A resposta à infusão de glicose é imediata. Entretanto, se a hipoglicemia for consequente do uso excessivo de NPH ou hipoglicemiante oral, poderá ocorrer nova queda após utilização da dose de glicose oferecida. Nestes casos, deve-se manter uma infusão contínua de glicose (soro glicosado a 10%) e estreita monitorização da glicemia por, pelo menos,24 horas.
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