Buscar

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 50 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 50 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 50 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Continue navegando


Prévia do material em texto

Brasília-DF. 
Ensino E PEsquisa
Elaboração
Deborah Farah Sobrinho
Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração
Sumário
APrESEntAção ................................................................................................................................. 4
orgAnizAção do CAdErno dE EStudoS E PESquiSA .................................................................... 5
introdução.................................................................................................................................... 7
unidAdE ÚniCA
EpistEmologia, tEoria E mEtodologia, conhEcimEnto ciEntífico E rEalidadE social ............. 9
CAPítulo 1
EpistEmologia, tEoria E mEtodologia, conhEcimEnto ciEntífico E 
rEalidadE social .................................................................................................................. 9
CAPítulo 2
objEtividadE E subjEtividadE .............................................................................................. 24
CAPítulo 3
principais corrEntEs tEórico-mEtodológicas pEsquisa. o positivismo, dialética, os 
EnfoquEs comprEEnsivos, o Estrutural-funcionalismo, o Estruturalismo ............... 29
CAPítulo 4
a pEsquisa Empírica: construção dE instrumEntos. técnicas dE colEta E 
análisE dE dados: a EnquEtE, a EntrEvista, a biografia, a história dE vida, 
a obsErvação participantE, intErprEtação E métodos narrativos .............................. 42
rEfErênCiAS .................................................................................................................................. 49
4
Apresentação
Caro aluno
A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se 
entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. 
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela 
interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da 
Educação a Distância – EaD.
Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos 
conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da 
área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que 
busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica 
impõe ao mundo contemporâneo.
Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo 
a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na 
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.
Conselho Editorial
5
organização do Caderno 
de Estudos e Pesquisa
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em 
capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos 
básicos, com questões para refl exão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar 
sua leitura mais agradável. Ao fi nal, serão indicadas, também, fontes de consulta, para 
aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares.
A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de 
Estudos e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes 
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor 
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fi m de que o aluno faça uma pausa e refl ita 
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante 
que ele verifi que seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As 
refl exões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Sugestão de estudo complementar
Sugestões de leituras adicionais, fi lmes e sites para aprofundamento do estudo, 
discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.
Praticando
Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer 
o processo de aprendizagem do aluno.
6
Atenção
Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a 
síntese/conclusão do assunto abordado.
Saiba mais
Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões 
sobre o assunto abordado.
Sintetizando
Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o 
entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.
Exercício de fi xação
Atividades que buscam reforçar a assimilação e fi xação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não 
há registro de menção).
Avaliação Final
Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso, 
que visam verifi car a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única 
atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber 
se pode ou não receber a certifi cação.
Para (não) fi nalizar
Texto integrador, ao fi nal do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem 
ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.
7
introdução
Inicialmente, apresentaremos informações relativas à Epistemologia, também 
conhecida como Teoria do Conhecimento, a qual se propõe a estudar todos os aspectos 
que circundam a referida seara, sua estruturação, critérios de validade e métodos 
utilizados na sua obtenção.
A Teoria e a Metodologia também terão seus conceitos esclarecidos e serão diferenciadas, 
ao mesmo tempo, será demonstrada a relação existente entre estes elementos 
integradores da pesquisa. 
Reflexões são construídas em torno do conhecimento científico e realidade social, 
demonstrando como cada um se desenvolve e em que ponto estes se interligam e se 
relacionam, assim, como as consequências e efeitos que um pode gerar sobre o outro.
Será demonstrada a importância do estudo das correntes teórico-metodológicas, sendo 
explicitadas as características específicas de cada uma e seus precursores.
Abordaremos, ainda, a questão da pesquisa empírica, explicando como ocorre a 
construção de instrumentos das investigações científicas, deixando assente como a 
pesquisa se desenvolve a partir deste momento.
Outro assunto que será objeto de estudo serão as técnicas de coleta de dados, sendo 
especificada cada uma em concreto, como também, a análise e interpretação de dados 
será objeto de aprendizagem na presente disciplina.
objetivos
 » Levantar aspectos relevantes acerca da epistemologia, teoria e 
metodologia, conhecimento científico e realidade social. 
 » Analisar os temas referentes à objetividade e subjetividade.
 » Conhecer noções sobre as principais correntes teórico-metodológicas. 
 » Reflexões preliminares sobre o positivismo, dialética, os enfoques 
compreensivos, o estrutural-funcionalismo, o estruturalismo.
8
9
unidAdE 
ÚniCA
EPiStEmologiA, tEoriA 
E mEtodologiA, 
ConhECimEnto 
CiEntífiCo E rEAlidAdE 
SoCiAl
CAPítulo 1
Epistemologia, teoria e metodologia, 
conhecimento científico e 
realidade social
Epistemologia
Epistemologia é um termo de origem grega e que seria a junção de “conhecimento”; e 
“teoria”. Trata-se de um ramo filosófico que aborda e discute a denominada “teoria do 
conhecimento”.
A discussão na teoria do conhecimento busca se afastar do senso comum, que muitas 
vezes se apresenta como um conhecimento falso, pois não é construído de forma 
adequada tornando-se dotado de inconsistências, demonstrando ainda que é circundado 
de visões parciais, havendo íntima relação com a subjetividade.
O conhecimento ou a episteme advinda da construção da teoria do conhecimento se 
importaria com a verdade e não percepções dotadas de parcialidade.Esta nomenclatura 
foi pensada primeiramente por filósofos alemães e o conhecimento diz respeito à 
relação entre o “conhecedor” e o “objeto de conhecimento” e como alguns elementos 
deste processo podem ser citados a consciência, a intuição e a descoberta.
A consciência se reflete na vontade de estabelecer a relação com determinado objeto 
e a intuição que pode se desenvolver por meio de sentidos individuais ou por meio da 
apreensão intelectual.
O conhecimento de viés discursivo se forma por meio de um processo que envolve a 
elaboração de definições classificados em etapas a partir de juízos e ideias formuladas 
que ensejam a chegada a uma conclusão.
10
unidAdE ÚniCA │ EPiStEmologiA, tEoriA E mEtodologiA, ConhECimEnto CiEntífiCo E rEAlidAdE SoCiAl
A busca pela verdade acompanha todo o processo de conhecimento, entretanto, há que 
se alertar que a verdade não corresponde em certas circunstâncias à realidade, afinal 
o conteúdo de um não significa automaticamente o do outro. A noção de realidade, 
da existência real de um objeto não perpassa por um juízo de valor e sim por uma 
constatação, já a afirmativa sobre algo ser verdadeiro ou falso baseia-se em uma análise 
de valor.
figura 1. círculo da verdade.
fonte: <http://nepo.com.br/2013/09/24/o-detalhamento-do-processamento-da-producao-da-verdade/>
Nas concepções contemporâneas, a verdade é um dos elementos fundamentais para 
deferir força aos argumentos apresentados, assim, a existência de contradições seria 
inapropriada neste processo, a ênfase recai sobre a lógica. Algumas correntes teóricas 
debatem a questão do conhecimento e sua validade, as três dotadas de maior visibilidade 
seriam o dogmatismo, o ceticismo e o pragmatismo. Observem os quadros explicativos 
a seguir:
figura 2.
fonte: <http://filosofia-conhecimento.webnode.pt/o-racionalismo-dogmatico-de-descartes/dogmatismo/>
11
EPiStEmologiA, tEoriA E mEtodologiA, ConhECimEnto CiEntífiCo E rEAlidAdE SoCiAl │ unidAdE ÚniCA
figura 3. teoria do conhecimento.
fonte: <http://slideplayer.com.br/slide/1221014/>
Após compreender o conceito de epistemologia e observar que o conhecimento é a 
sua estrutura basilar pode ser esta definida como “função ou ato psíquico que tem por 
efeito tornar um objeto presente aos sentidos ou à inteligência”1 (LALANDRE, 1999, 
p. 172), ou como afirma outro doutrinador, significaria “(...) trazer para o sujeito algo 
que se põe como objeto, não toda a realidade em si mesmo, mas a sua representação 
ou imagem, tal como o sujeito a constrói, e na medida das “formas de apreensão” do 
sujeito correspondente às peculiaridades objetivas.2 (REALE, 1962, p. 48)
Ainda visando explicar de que forma poderia ser adquirido o conhecimento é possível 
citar duas correntes - os racionalistas e os empiristas – com seus adeptos mais famosos 
como se pode vislumbrar a seguir.
figura 4.
fonte: <http://eniac.fmrp.usp.br:8080/servlet/sbreadresourceservlet?rid=1127869043000_1072340522_1610&partname=htmltext>
1 LALANDE, A. Vocabulário técnico e crítico da filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
2 REALE, M. Filosofia do direito. São Paulo:Saraiva, 1962.
12
UNIDADE ÚNICA │ EpIstEmologIA, tEorIA E mEtoDologIA, CoNhECImENto CIENtífICo E rEAlIDADE soCIAl
teoria e metodologia
As teorias buscam sempre fornecer respostas às perguntas realizadas ou questões 
suscitadas pela filosofia. É relevante não só compreender a importância das teorias, 
mas que elas se relacionam aderindo a outras ou contrapondo-se.
figura 5.
fonte: <http://nepo.com.br/wp-content/uploads/2012/03/tripe_projetos.jpg>
O que são, e como as teorias científicas se relacionam e representam a verdade do 
mundo? Como um termo teórico conduz seu significado e como está relacionado com a 
observação? Qual a estrutura e o conteúdo de conceitos como: causalidade, explicação, 
confirmação, teoria, experimento, modelo, redução e probabilidade? Quais regras, se 
existirem, governam a mudança teórica na ciência? Qual é a função dos experimentos? 
Qual o papel que os valores, epistêmico e pragmático jogam nas decisões científicas e 
como eles se relacionam com fatores e gêneros sociais e culturais? (PSILLOS; CURD, 
2008, p. XVIII. Ênfase nossa. Tradução Livre).3
figura 6.
Conceitos Relações
Definições
TEORIA
Proposições
FENÔMENO
FENÔMENO = apectos da realidade que 
podem ser percebidos ou vivenciados.
fonte: <http://www.ebah.com.br/content/abaaabd9gab/teorias-enfermagem>
3 PSILLOS, S; CURD, M. Introduction. IN: The Routledge Companion To Philosophy Of Science, Cap. 1. New York: Routledge 
Philosophy Companions, 2008
13
EpistEmologia, tEoria E mEtodologia, conhEcimEnto ciEntífico E rEalidadE social │ UnidadE Única
figura 7. recorte do modelo de avaliação de teoria de meleis.
fonte: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s0080-62342004000300005&script=sci_arttext>
No que tange a constituição da ciência é importante esclarecer que: 
A estrutura formal de uma ciência, precisamente compreende estes 
quatro níveis: o epistemológico, o teórico, o metodológico e o técnico. 
Cada um deles tem uma autonomia relativa no sistema científico, 
embora sejam níveis somente se aceitamos a totalidade.(...) A aceitação 
da totalidade científica nos quatro níveis antes indicados conduz a 
aceitação da noção de processo de produção do conhecimento e, por 
outra parte, conduzirá a concepção da realidade como realidade 
concreta constituída por múltiplos sistemas dotados de especificidade.4 
(LADRÓN de GUEVARA, 1979, p.103)
Há certo equívoco quando se propõe que a “Teoria” e a “Metodologia” seriam 
equivalentes ou se corresponderiam dentro do cenário da pesquisa ou ensino. A teoria 
teria um viés mais abstrato, de formulações e já a metodologia teria um aspecto mais 
concreto permeado por técnicas, o problema se insere pois tal diferenciação é melhor 
percebida no âmbito das ciências exatas e não nas humanas tendo em vista que estes 
aspectos inerentes a cada uma não é tão demarcado, definido.
A teoria visa obter ou formular compreensões sobre algumas situações ou fenômenos, 
se incumbe da formulação de definições e conceitos para apresentar uma percepção 
acerca da realidade observada.
Cabe ainda asseverar que as teorias criam generalizações ainda que recaiam sobre um 
objeto específico, já no caso da metodologia relaciona-se a ideia de como utilizar os 
dados, a forma de retirar destes o que se deseja e por qual meio este processo ocorreria 
dentro da seara do assunto em estudo.
4 LADRON DE GUEVARA, Lauriano, Lógica de la Investigación Social y Problema de Dise±o, in ROA SUAREZ, Hernando, La 
Investigación Científica en Colombia, Hoy, Bogotá: Guadalupe, 1979, 95-104.
14
UNIDADE ÚNICA │ EpIstEmologIA, tEorIA E mEtoDologIA, CoNhECImENto CIENtífICo E rEAlIDADE soCIAl
Ainda tratando do método e da metodologia, cabe explicitar o posicionamento de 
Minayo e Minayo-Gómez (2003, p.118) que pode nos fazer refletir:
1. Não há nenhum método melhor do que o outro, o método, “caminho 
do pensamento”, ou seja, o bom método será sempre aquele capaz de 
conduzir o investigador a alcançar as respostas para suas perguntas, 
ou dizendo de outra forma, a desenvolver seu objeto, explicá-lo ou 
compreendê-lo, dependendo de sua proposta (adequação do método ao 
problema de pesquisa). 
2. Os números (uma das formas explicativas da realidade) são uma 
linguagem, assim como as categorias empíricas na abordagem qualitativa 
o são e cada abordagem pode ter seu espaço específico e adequado. 
3. Entendendo que a questão central da cientificidade de cada uma delas é de 
outra ordem [...] a qualidade, tanto quantitativa quanto qualitativa depende 
da pertinência, relevância e uso adequado de todos os instrumentos.5
4. Realizam atividades concretas visando à solução almejada para determinadacircunstância, é uma atuação mais ativa que a praticada na teoria, sendo 
esta a forma de demonstração de um pensamento e a metodologia o modo 
de realizar este mais concretamente.
O obscurantismo abraça a ideia de que, a menos que os resultados sejam fáceis e os métodos 
infalíveis, devemos parar com qualquer investigação racional – e talvez aceitar autoridade 
religiosa e a tradição em seu lugar. Este tipo de visão é uma profecia que se autorrealiza. Se 
pararmos de tentar buscar a verdade sobre algo, porque os resultados não são fáceis e os 
métodos são desconhecidos, nunca iremos criar métodos capazes de produzir resultados. 
Cientistas foram vítimas deste tipo de atitude no século XVII, quando poucas pessoas 
acreditavam que medição cuidadosa, experimentação e modelação matemática poderiam 
acarretar resultados sólidos sobre a realidade. Se tivessem parado ali, não teríamos a 
ciência moderna em lugar algum. Se os Filósofos tivessem interrompido as discussões 
entre si sobre a natureza dos átomos, ou se realmente são átomos (no século V a. C.), 
provavelmente nunca desenvolveriam métodos adequados para evidenciar se existem os 
átomos. É equivocado afirmar que devemos propor métodos confiáveis de investigação 
antes que possamos formular questões relevantes. Perguntas difíceis e enigmáticas são as 
que conduzem à criação de novos métodos de investigação. Interrompa a formulação de 
tais questões e você interrompe a criação desses métodos de pesquisa. (MURCHO, 2006, 
pp. 53-54)6
5 MINAYO, M. C. S.; MINAYO-GOMÉZ, C. Difíceis e possíveis relações entre métodos quantitativos e qualitativos nos estudos de 
problemas de saúde. In: GOLDENBERG, P.; MARSIGLIA, R. M. G.; GOMES, M. H. A. (Orgs.). O clássico e o novo: tendências, 
objetos e abordagens em ciências sociais e saúde. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2003. pp.117-42.
6 MURCHO, D. Does science need philosophy? Revista Eletrônica Informação e Cognição, Marília, v. 5, n. 2, 2006. Disponível 
em: <http://www.portalppgci.marilia.unesp.br/reic/include/getdoc.php?id=182&article=49&mode=pdf%3E>
15
EpistEmologia, tEoria E mEtodologia, conhEcimEnto ciEntífico E rEalidadE social │ UnidadE Única
Os cientistas têm, às vezes, que conceber métodos novos de investigação porque 
enfrentam problemas que os fazem repensar os fundamentos da teoria. Uma 
familiaridade apropriada com a Filosofia pode lhes conceder certa vantagem porque 
este é precisamente o que nós fazemos na filosofia: insistimos em pensar racionalmente 
mesmo quando não há nenhum método conhecido à disposição para pensar 
racionalmente sobre um dado problema particular. Ao agirmos assim, nós inspiramos 
cientistas a pensar de forma original e criativa e criar novos métodos racionais de 
investigação. Nós mapeamos o território possível, por assim dizer, antes que qualquer 
um possa realmente vir a ele e verificar. Muitos dos resultados científicos atuais eram 
enigmas filosóficos séculos atrás e é difícil crer que toda a ciência realmente inovadora 
possa ser feita se nos recusarmos a encarar os enigmas filosóficos baseando-nos no fato 
de que esses enigmas não são científicos, que não são problemas bem-comportados. 
(MURCHO, 2006, p. 54)7
figura 8.
fonte: <http://www.ebah.com.br/content/abaaabqlqal/metodologia-pesquisa-cientifica?part=2>
Ludke (1992, p. 37) trata da questão do método e da metodologia e ressalta que é preciso 
buscar o que este denomina de um “caminho feliz”:
Inspirando-me na raiz grega do termo método, que evoca caminho, e 
atentando para a evolução da própria concepção de metodologia, que 
hoje se preocupa muito mais com o percurso que levará o pesquisador 
à construção do conhecimento do seu objeto de estudo, do que com as 
regras que ele deverá seguir, gostaria de compartilhar com os colegas as 
lições de um caminho feliz.8
7 MURCHO, D. Does science need philosophy? Revista Eletrônica Informação e Cognição, Marília, v. 5, n. 2, 2006. Disponível 
em: <http://www.portalppgci.marilia.unesp.br/reic/include/getdoc.php?id=182&article=49&mode=pdf%3E>
8 LUDKE, M. Aprendendo o caminho da pesquisa. In: FAZENDA, I. (Org.) Novos enfoques da pesquisa educacional. São Paulo: 
Cortez, 1992.
16
unidAdE ÚniCA │ EPiStEmologiA, tEoriA E mEtodologiA, ConhECimEnto CiEntífiCo E rEAlidAdE SoCiAl
Conhecimento científico e realidade social
Neste ínterim, é relevante obter um melhor entendimento acerca do conhecimento 
científi co e de sua interação com a realidade social que o cerca, se interagem e de que 
forma isto ocorre. 
figura 9. o sistema ciência-sociedade.
fonte: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s1413-24782007000300007&script=sci_arttext>
figura 10. método científico (esboço).
fonte: <http://pt.wikipedia.org/wiki/teoria>
17
EPiStEmologiA, tEoriA E mEtodologiA, ConhECimEnto CiEntífiCo E rEAlidAdE SoCiAl │ unidAdE ÚniCA
O conhecimento é indispensável ao indivíduo e a sua formação coletiva, e assim, a 
relação entre ambos existe, sendo dotada de complexidades, em que um é dependente 
e formador do outro: 
todo conhecimento torna-se, devido à necessária vinculação do meio 
ao indivíduo que pertence ao próprio meio, um autoconhecimento. 
Essa interação faz-se cogente pela gênese unívoca entre os muitos 
integrantes do mundo da vida, sem olvidar que o homem é um desses 
integrantes. [...] Ocorre, deste modo, um acoplamento estrutural entre 
o sistema nervoso do observador e o meio, proporcionando, assim, uma 
mútua transformação/adaptação. O ser é modificado pelo meio ao qual 
o próprio ser pertence e modifica. (2007, p. 97)9
O que diferencia o conhecimento científico das concepções do senso comum seria a 
forma como o conhecimento é constituído.
figura 11.
fonte: <http://mpcdrielerodrigues.blogspot.com.br/>
9 TRINDADE, André. Os direitos fundamentais em uma perspectiva autopoiética. Porto Alegre: Livraria dos Advogados. 2007.
18
unidAdE ÚniCA │ EPiStEmologiA, tEoriA E mEtodologiA, ConhECimEnto CiEntífiCo E rEAlidAdE SoCiAl
O conhecimento científico é produzido pela investigação científica, por meio de seus 
métodos. Resultante do aprimoramento do senso comum, o conhecimento científico 
tem sua origem nos seus procedimentos de verificação baseados na metodologia 
científica. É um conhecimento objetivo, metódico, passível de demonstração e 
comprovação. O método científico permite a elaboração conceitual da realidade que 
se deseja verdadeira e impessoal, passível de ser submetida a testes de falseabilidade. 
Contudo, o conhecimento científico apresenta um caráter provisório, uma vez que pode 
ser continuamente testado, enriquecido e reformulado. Para que tal possa acontecer, 
deve ser de domínio público.10 Fonseca (2002, p. 11)
Assim, pode-se assentar que “A realidade é interpretada não mediante a redução a 
algo diverso de si mesma, mas explicando-a com base na própria realidade, mediante 
o desenvolvimento e a ilustração das suas fases, dos momentos do seu movimento” 
(KOSIK, 1976, p.29).11
Leia trechos abaixo do texto “Epistemologia e metodologia, notas sobre a 
Cooperação para o Desenvolvimento”, do autor Eduardo Sarmento da Coleção 
Documentos de Trabalho no 83, no qual apresenta aspectos relevantes acerca 
da epistemologia como sua origem, paradigma e problemas, após a leitura, 
apresente sua percepção sobre o objeto de estudo.
Epistemologia e metodologia, notas sobre a 
cooperação para o desenvolvimento
O nascimento da sociologia do conhecimento o termo “sociologia do conhecimento” 
surgiu na década de 1920, na Alemanha com Max Scheler num determinado contexto 
filosófico (o autor era filósofo) e numa determinada situação da história alemã. Este 
fato fez com que inicialmente os outros sociólogos europeus encarassem na altura 
esta disciplina como uma especialidade periférica. A agravar este fato, alguns autores 
consideravamque a sociologia do conhecimento padecia de uma constelação de 
problemas, o que lhe causava uma considerável fraqueza teórica (BERGER, 1966). 
Apesar de historicamente terem sido apresentadas inúmeras definições é geralmente 
aceite que a sociologia do conhecimento centra a sua atenção nas relações entre o 
pensamento humano e o contexto social no qual ela surge. No entanto, as dificuldades 
teóricas são semelhantes às que surgiram quando outros fatores (históricos, psicológicos, 
biológicos etc.) foram propostos com o valor de determinantes do pensamento humano 
(BERGER, 1966). Os acontecimentos intelectuais imediatos da sociologia provêm de três 
criações do pensamento alemão do século XIX: o pensamento marxista, o nietzscheano e 
10 FONSECA, J. J. S. Metodologia da pesquisa científica. Fortaleza: UEC, 2002. Apostila.
11 KOSIK, Karel, Dialética do Concreto, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976. 
19
EPiStEmologiA, tEoriA E mEtodologiA, ConhECimEnto CiEntífiCo E rEAlidAdE SoCiAl │ unidAdE ÚniCA
o historicista. A partir da “invenção” de Scheler da sociologia do conhecimento assistiu-se 
a um enorme debate sobre a validade, âmbito e aplicabilidade desta nova disciplina que 
transpôs fronteiras e chegou a Karl Mannheim, o que é o mesmo que dizer, ao mundo de 
língua inglesa. Com este autor, a sociologia do conhecimento tornou-se verdadeiramente 
um método positivo de estudo das várias facetas do pensamento humano. 
Depois deste breve enquadramento, é útil estruturar de uma forma mais ou menos 
aleatória algumas perspectivas diferentes e que ajudarão a melhor delimitar e 
compreender o conceito de epistemologia. De acordo com Piaget (1967), a epistemologia 
consiste na constituição dos conhecimentos legítimos, isto é, no estudo da passagem 
de uma etapa com menos conhecimentos para outra com mais conhecimentos. Piaget 
defendeu que a epistemologia deve ser encarada não só como uma filosofia da ciência, 
mas também como uma mudança de paradigmas em que se utilizará uma abordagem 
hermenêutica do sentido e não apenas o método indutivo, dedutivo ou dialético 
(POPPER, 1977).
Para Fichant (1969), a epistemologia é entendida como a teoria da produção específica 
dos conceitos e da formação das teorias de cada ciência. Balibar (1974) definiu 
epistemologia como o estudo das condições de possibilidades de produção dos 
conhecimentos científicos. Bartley (1990) propõe uma concepção de epistemologia 
que pode ser encarada como um complemento do conhecimento. Na sua acepção, a 
epistemologia estará mais preocupada com o conteúdo das ideias, com a sua força 
potencial e, no fundo, com o estudo do crescimento do conhecimento, enquanto que 
a sociologia do conhecimento – que muitas vezes pretende ser a cadeira teórica da 
história intelectual – está mais interessada com a aceitação das ideias e com a descrição 
das estruturações sociais correntes do que com o poder atual. 
De acordo com Dancy (1995), a epistemologia é o estudo do direito às crenças que as 
pessoas têm. Isto genericamente pressupõe que o ponto de partida seja as denominadas 
“posturas cognitivas” que poderão assumir diversas dimensões. Assim, tanto devem 
incluir as crenças quanto ao conhecimento (o que pensamos ser) como as atitudes 
relativamente às várias estratégias e métodos que se podem utilizar para adquirir novas 
crenças e abandonar as antigas. Neste contexto, a epistemologia é algo normativo, na 
medida em que trata de saber se se agiu corretamente ao formar as crenças que temos 
ou ao manter determinadas posturas (de forma responsável ou irresponsável). 
A investigação nesta área não deve obviamente limitar-se à reflexão sobre as crenças e 
as estratégias iniciais. Deve questionar a existência de outras que seriam convenientes 
ter e se não existem outras que deveríamos ter. Por sua vez, Cetina (1999) focaliza a 
sua atenção no que designou de culturas epistémicas e que podem ser genericamente 
entendidas como “culturas que criam e garantem conhecimento”.
20
unidAdE ÚniCA │ EPiStEmologiA, tEoriA E mEtodologiA, ConhECimEnto CiEntífiCo E rEAlidAdE SoCiAl
Neste sentido, pode-se então concluir que a epistemologia pode ser estruturada a partir 
de três principais modos de delineamento do seu estatuto disciplinar, a saber (POMBO, 
s/d): 
1. Epistemologia enquanto ramo da filosofia – no prolongamento da reflexão 
gnoseológica e metodológica, a epistemologia pode ser compreendida 
como uma reflexão filosófica sobre o conhecimento científico, constituindo 
pois uma área de excelência para a intervenção dos filósofos.
2. Epistemologia como atividade emergente da própria atividade científica – 
a epistemologia é aqui considerada como uma tarefa que só o cientista 
poderá concretizar, analisando e refletindo sobre a sua própria atividade 
científica, explicitando as suas regras de funcionamento, o seu modo 
próprio de conhecer. Neste contexto, o cientista como que ultrapassa o 
seu papel assumindo o papel de filósofo.
3. Epistemologia como disciplina autônoma – a epistemologia pode ser 
considerada como uma investigação meta científica, uma “ciência da 
ciência”, disciplina de segundo grau constituindo domínio de epistemólogos 
e apresentando o seu próprio objeto e o seu próprio método. 
Paradigma da sociologia do conhecimento Merton (1973) apresentou um novo conceito 
ligado ao que apelidou de paradigma da sociologia do conhecimento. Ele pode ser 
estruturado a partir de cinco linhas mestras. Em primeiro lugar, o autor refere que a 
base existente das produções mentais se pode localizar em duas áreas: 
I. as bases sociais;
II. as bases culturais. 
Em segundo lugar, o autor afirma que as produções mentais que estão a ser sociologicamente 
analisadas provêm:
I. das esferas morais, das crenças, das ideologias, das ideias, das normas 
sociais;
II. analisam diversos aspectos. 
O terceiro paradigma prende-se com a forma de relacionamento entre as produções 
mentais e a base existencial. Podem assumir duas formas: 
I. relações casuais ou funcionais;
II. relações simbólicas ou reais. 
21
EPiStEmologiA, tEoriA E mEtodologiA, ConhECimEnto CiEntífiCo E rEAlidAdE SoCiAl │ unidAdE ÚniCA
Em quarto lugar, aparece a tentativa de se perceber a razão de existir uma relação. 
Finalmente, o último ponto do paradigma tem que haver com a preocupação em se 
explicar quando é que existe uma convergência entre as relações da base existente e do 
conhecimento. Com base neste paradigma pode-se então estruturar os principais eixos 
de leituras: Marx, Scheler, Mannheim, Durkheim e Sorokin.
Problemas da epistemologia perante a reflexão avançada na secção anterior e a 
variedade de possibilidades de análise e de autores envolvidos, facilmente se antecipa 
a possibilidade de existência de divergência de pontos de vista bem como da existência 
de constrangimentos que condicionarão o sentido de uma determinada teoria do 
conhecimento. Nesta secção, pretende-se analisar mais pormenorizadamente alguns 
dos principais problemas com que a epistemologia se depara. Podemos então tipificar 
alguns dos principais tipos de problemas: O problema da conflitualidade das Ciências 
Sociais. Um problema levantado pelas várias ciências sociais, ou em última instância no 
âmbito de uma mesma, decorre do fato de, por vezes, perante um determinado objeto 
real ser possível construir objetos científicos distintos (NUNES, 1980). 
É evidente que vários fatores concorrem para esta situação. Em primeiro lugar, podemos 
destacar através das palavras de Sedas Nunes (1980) o estado de subdesenvolvimento 
científico patente nas ciências sociais que ainda perdura nos nossos dias. Por outro lado, 
o fato das sociedades serem estruturalmente diferentes condicionam as orientações 
teóricas das várias ciências. Outro ponto fundamental prende-se com a dialética daprodução teórica, na medida em que qualquer avanço que se verifique numa ciência ou 
numa teoria tem de partir do conteúdo e dos conceitos então disponíveis e pré-existentes. 
Em quarto lugar, deparamo-nos com algumas limitações teóricas da produção científica 
como consequência de num universo conceptual limitado, as rupturas que permitem o 
progresso das ciências sociais serem particularmente difíceis de atingir. Finalmente, 
existem as limitações teóricas da produção científica inerentes a uma qualquer classe 
social como acontece com o conceito apresentado por Goldmann (1971) de “máximo de 
consciência possível”. 
Segundo o autor, as construções sociais da realidade variam de acordo com as posições 
que as pessoas ocupam na estrutura social, o que se traduz no fato de uma determinada 
realidade (aparente) da sociedade poder ser subjetivamente diferente para cada grupo. 
De fato, é mais ou menos consensual que potencialmente existe uma identificação 
dos investigadores com os grupos melhores posicionados nas hierarquias do poder. 
Consequentemente, na sequência desta limitação Sedas Nunes (1980) salienta a 
necessidade de objetividade, enviezamento e desconhecimento na produção científica 
vinculada à “consciência” das classes dominantes. O problema da uniformidade no 
conflito sociológico. Podem-se apresentar três ordens de argumentos. Primeiro, os 
22
unidAdE ÚniCA │ EPiStEmologiA, tEoriA E mEtodologiA, ConhECimEnto CiEntífiCo E rEAlidAdE SoCiAl
relatórios elaborados sobre a sociologia nacional centralizam-se, como é expectável e 
natural, nos tipos de trabalho dominante em cada país. Este fato exige que quando 
se pretender comparar diferentes sociologias naturais, se tenha de considerar a forma 
como a organização social da vida intelectual afeta os resultados sociológicos de cada 
país. Segundo, tendo em atenção que as controvérsias existentes são de carácter público, 
este tipo de discussão pode acabar por tornar-se mais numa batalha de estatuto do que 
uma procura da verdade, o que se não for devidamente salvaguardado, pode conduzir 
ao aparecimento de estereótipos ou de conclusões especulativas. 
Desta forma, os investigadores de cada “facção” desenvolverão percepções seletivas sobre 
os trabalhos dos outros. Nestas controvérsias polarizadas, normalmente existe pouco 
espaço para a intervenção de uma terceira entidade independente que possa converter 
o conflito social em crítica intelectual. Finalmente, encontra-se a inconsistência do 
inquérito científico, pois é dificilmente perceptível, por exemplo, qual será uma ótima 
afetação de recursos neste campo (MERTON, 1973). O problema da autorregularão e do 
progresso. Quando se está integrado num processo de análise de fatos sociais, qualquer 
estruturação que se efetue pressupõe a tendência para incorporar no seu equilíbrio um 
processo oposto e complementar. Todavia, esta tendência para o equilíbrio pode deixar 
mais tarde ou mais cedo de constituir a resposta ótima para a necessidade de encontrar 
um equilíbrio significativo entre o sujeito coletivo e o seu meio ambiente.
O problema da sociologia abstrata ou formal versus a sociologia concreta. 
Outro ponto de clivagem decorre da referência sobre os perigos da sociologia 
“meramente” formal. Para alguns, a sociologia formal é apenas um epíteto individual 
atribuída aos “defensores da ordem estabelecida” que expressamente secundarizam a 
mudança social e negam a existência de uniformidades na mudança social. Para outros, 
a sociologia concreta é encarada como tendo alguma utilidade, mas pagando o preço 
de abdicar da procura das regularidades sociais que presumivelmente ocorrerão em 
culturas das mais diferentes épocas (MERTON, 1973). 
o problema analítico
Esta limitação relaciona-se com a tentativa de dar uma explicação ou definir o conceito, 
de forma mais precisa possível sobre, o que se deve entender por “conhecimento” de 
uma forma geral ou conseguir desmontar sincrónica e diacronicamente o objeto de 
estudo (WILLIAMS, 2001; DANCY, 1995). Os dados da experiência imediata estão por 
norma, descontextualizados, o que significa que estão separados da sua essência. Só 
através de um processo de estruturação de um novo equilíbrio poderão ser julgados 
quanto ao seu objetivo e à sua importância no conjunto. Assim sendo, o passo inicial de 
um trabalho, deve consistir na desmontagem do objeto do seu estudo, o que significa a 
23
EPiStEmologiA, tEoriA E mEtodologiA, ConhECimEnto CiEntífiCo E rEAlidAdE SoCiAl │ unidAdE ÚniCA
descoberta de uma totalidade que viabilize que se atinja o significado objetivo de uma 
parte significativa dos fatos empíricos que se pretende estudar bem como das suas 
transformações (GOLDMANN, 1984). 
o problema da demarcação
Este problema pode ser dividido em dois subproblemas. Primeiro, o problema 
“externo”. Supondo-se que se sabe de algum modo o que é o conhecimento, pergunta-
se se será possível determinar à partida as coisas que se podem esperar conhecer. Ou 
como se refere amiúde, será possível definir o âmbito e os limites do conhecimento 
humano? Será que há assuntos acerca dos quais podemos ter conhecimento, enquanto 
há outros acerca dos quais não podemos ter mais do que uma opinião (ou fé)? Será 
que há uma quantidade significativa de formas de discurso que ficam simultaneamente 
fora do domínio do “factual” ou do que “tem sentido”? Concluindo, o objetivo que se 
pretende atingir é conseguir delimitar uma fronteira que permita distinguir a província 
do conhecimento de outros domínios cognitivos. Em segundo lugar temos o problema 
“interno” que questiona a existência de fronteiras significativas no interior do domínio 
do conhecimento. Por exemplo, muitos filósofos têm defendido que há uma distinção 
fundamental entre o conhecimento a posteriori ou “empírico” e o conhecimento a priori 
ou “não empírico”. 
O conhecimento empírico depende (de uma forma ou de outra) da experiência ou 
observação, ao passo que o conhecimento a priori é independente da experiência, 
fornecendo a matemática o exemplo mais claro. Contudo, outros filósofos negam que 
se possa fazer tal distinção. Ainda no âmbito desta discussão, podemos reforçar o fato 
do pensamento dialético não conseguir dissociar o sujeito do objeto, o que significa 
que sem se cair na unilateralidade do idealismo que reduz o objeto do sujeito, ou do 
materialismo que reduz o sujeito ao estatuto de objeto, deve-se verificar que a dualidade 
sujeito - objeto só pode ser concebida e pensada de uma maneira válida desde que se 
consiga integrá-los numa estrutura de conjunto, caracterizada – e é nisto que reside a 
dificuldade de formulação de qualquer pensamento dialético - pelo fato de não poder 
constituir objeto de pensamento adequado nem objeto de ação (GOLDMANN, 1984).
o problema do método
Relaciona-se com o modo como obtém ou se procura o conhecimento. Neste âmbito, 
podem-se sistematizar três categorias de sub-problemas. A primeira categoria está 
associada ao problema da “unidade”. No fundo, pretende-se saber se existe apenas uma 
forma para adquirir conhecimento, ou há várias, dependendo do tipo de conhecimento 
em questão.
24
CAPítulo 2
objetividade e subjetividade
Adentrando o tema da objetividade e subjetividade no âmbito da pesquisa, inúmeros 
questionamentos surgem como: o que significa uma e outra expressão?; Qual a relação 
entre estes?; São totalmente distantes e sem interação?; Seria possível uma pesquisa 
dotada dos dois elementos ou poderia esta ser dotada exclusivamente de cada um?
Segundo Rorty, as expressões poderiam ser esclarecidas da seguinte forma:
“Objetividade” (...) era uma propriedade de teorias que tendo sido 
exaustivamente discutidas, são escolhidas por consenso entre 
argumentantes racionais. Por contraste, uma consideração “subjetiva” éuma que foi, ou seria, ou deveria ser posta de lado por argumentantes 
racionais – uma que é vista como sendo, ou deveria ser vista 7 como sendo 
irrelevante ao assunto tema da teoria. Dizer que alguém está introduzindo 
considerações “subjetivas” numa discussão onde se deseja a objetividade 
é dizer, mais ou menos, que está introduzindo considerações que os 
outros consideram irrelevantes. (RORTY, 1994, p. 333)12
Há outra definição no que tange a objetividade que de certa forma reafirma o ressaltado 
pelo autor anterior, alia o conceito a questão da tradição crítica de dogmas aceitos como 
dominantes em certas circunstâncias de tempo e lugar:
O que pode ser descrito como objetividade científica é baseado 
unicamente sobre uma tradição crítica que, a despeito da resistência, 
frequentemente torna possível criticar um dogma dominante. A fim de 
colocá-lo sob outro prisma, a objetividade da ciência não é uma matéria 
dos cientistas individuais, porém, mais propriamente, o resultado social 
de sua crítica recíproca, da divisão hostil-amistosa de trabalho entre 
cientistas, ou sua cooperação e também sua competição. Pois esta razão 
depende, em parte, de um número de circunstâncias sociais e políticas 
que fazem possível a crítica. (POPPER, 1978, p. 23)13
O foco, o elemento que sustenta a ideia da objetividade é justamente o afastamento do 
sujeito do objeto de estudo:
A regra fundamental da objetividade científica é a separação entre 
sujeito do conhecimento e objeto do conhecimento, separação que 
12 RORTY, Richard. A Filosofia e o espelho da natureza. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1994.
13 POPPER, Karl. Lógica das Ciências Sociais. Rio de Janeiro: Editora Tempo Brasileiro; Brasília: Editora da Universidade de 
Brasília, 1978.
25
EPiStEmologiA, tEoriA E mEtodologiA, ConhECimEnto CiEntífiCo E rEAlidAdE SoCiAl │ unidAdE ÚniCA
garante a objetividade porque garante a neutralidade do cientista, que 
pode, assim, tratar relações sociais (relações entre seres humanos) 
como coisas diretamente observáveis e transparentes para o olhar do 
sociólogo. Para o sociólogo cientista, o ideológico é um resto, uma sobra 
de ideias antigas, pré-científicas. Durkheim as considera pré-conceitos 
e pré-noções inteiramente subjetivas, individuais, ‘noções vulgares’ ou 
fantasmas que o pensador acolhe porque fazem parte de toda a tradição 
social em que está inserido (CHAUI, 2002, pp. 31-32).14
A objetividade é alcançada a partir da utilização de um método que é dotado de razão 
e justificativas, ou seja, teria um apoio mais sólido que as tentativas de construções do 
senso comum:
O método da razão é, portanto, nesse domínio, exatamente o mesmo 
que nas ciências da natureza e no conhecimento psicológico. Consiste 
em partir de fatos solidamente estabelecidos pela observação, mas em 
não se ater, por certo, a esses simples fatos como tais: não basta que os 
fatos estejam “ao lado” uns dos outros, é preciso que eles se encaixem 
uns “nos” outros, que a simples coexistência se revele, quando tudo foi 
bem apurado, como dependência, e a forma de agregado converta-se 
em forma de sistema. 15(CASSIRER, 1994, p. 42)
Weber defende uma posição diferenciada ao aduzir que as construções científicas acerca 
dos fenômenos sociais não seriam produzidas exclusivamente por elementos objetivos:
Não existe uma análise científica totalmente ‘objetivada’ da vida 
cultural [...], ou dos ‘fenômenos sociais’, que seja independente de 
determinadas perspectivas especiais e parciais, graças às quais estas 
manifestações possam ser, explicita ou implicitamente, consciente 
ou inconscientemente, selecionadas, analisadas e organizadas na 
exposição, enquanto objeto de pesquisa (WEBER, 2001, p. 124).16
Há uma crítica que se constrói sobre o positivismo e a tentativa de transferência do 
método exclusivamente objetivo utilizado no âmbito das ciências exatas para os fatos 
ou fenômenos sociais objeto das ciências humanas:
No entanto, podemos nos aperceber de que o positivismo só retoma 
por sua conta uma caricatura do método das ciências exatas sem ter 
acesso ipso facto a uma epistemologia exata das ciências do homem. E, 
14 CHAUI, Marilena. O que é ideologia. São Paulo: Brasiliense, 2002.
15 CASSIRER, Ernest. O Pensamento da Era do Iluminismo. In: ____________. A Filosofia do Iluminismo. Campinas: Editora 
da Unicamp, 1994. pp. 19 – 61.
16 WEBER, Max. A “objetividade” do conhecimento na ciência social e na ciência política. In: ________. Metodologia das 
Ciências Sociais. Parte 1. Tradução de Augustin Wernet. 4. ed. São Paulo: Cortez; Campinas, SP: Universidade Estadual de 
Campinas, 2001. pp. 107-154.
26
unidAdE ÚniCA │ EPiStEmologiA, tEoriA E mEtodologiA, ConhECimEnto CiEntífiCo E rEAlidAdE SoCiAl
de fato, trata-se de uma constante da historia das ideias que a critica 
do positivismo mecanicista sirva para afirmar o caráter subjetivo dos 
fatos sociais e sua irredutibilidade aos métodos rigorosos da ciência. 
Assim, percebendo que “os métodos que os cientistas ou pesquisadores 
fascinados pelas ciências da natureza tentaram, muitas vezes, aplicar 
à força às ciências do homem nem sempre foram necessariamente os 
que os cientistas seguiam, de fato, em seu próprio campo, mas antes 
os que eles acreditavam utilizar”, Hayek conclui daí imediatamente 
que os fatos sociais diferem “dos fatos das ciências físicas porque são 
crenças ou opiniões individuais” e, por consequência, “não devem ser 
definidos a partir do que poderíamos descobrir a seu respeito por meio 
dos métodos objetivos da ciência, mas a partir do que a pessoa que age 
pensa a seu respeito”. (BOURDIEU et al, 2000, p.16)17
Ainda reforçando a crítica ao positivismo e a tentativa de inserção de uma pura 
objetividade para análise de estruturas e transformações sociais, a pesquisa sobre a 
realidade social deve ser cuidadosa, pois aquela é dotada de tamanha dinamicidade, 
cambiando constantemente.
a objetividade nas ciências da sociedade não pode consistir no estreito 
molde do modelo científico-natural e que, ao contrário do que pretende 
o positivismo em suas múltiplas variantes, todo conhecimento e 
interpretação da realidade social estão ligados, direta ou indiretamente, 
a uma das grandes visões sociais de mundo, a uma perspectiva global 
socialmente condicionada, isto é, o que Pierre Bourdieu denomina, 
numa expressão feliz, “as categorias de pensamento impensadas que 
delimitam o pensável e pré-determinam o pensamento”. E que, por 
conseguinte, a verdade objetiva sobre a sociedade é antes concebida 
como uma paisagem pintada por um artista e não como uma imagem 
de espelho independente do sujeito; e que, finalmente, tanto mais 
verdadeira será a paisagem, quanto mais elevado o observatório ou 
belvedere onde estará situado o pintor, permitindo-lhe uma vista 
mais ampla e de maior alcance do panorama irregular e acidentado da 
realidade social. (LÖWI, 1987, p.13)18
E a noção de subjetividade como pode ser explicada? A subjetividade é construída de 
forma distinta da objetividade, baseia-se no social e em valores que se forma ao longo 
de anos:
17 BOURDIEU, Pierre; CHAMBOREDON, Jean-Claude; PASSERON, Jean Claude. A profissão de sociólogo – preliminares 
epistemológicas. Petrópolis: Vozes (2ª edição), 2000.
18 LÖWY, Michael. As aventuras de Karl Marx contra o Barão de Münchhausen – Marxismo e Positivismo na Sociologia do 
Conhecimento. São Paulo, Editora Busca Vida (3ª edição), 1988.
27
EPiStEmologiA, tEoriA E mEtodologiA, ConhECimEnto CiEntífiCo E rEAlidAdE SoCiAl │ unidAdE ÚniCA
O ponto fundamental é o seguinte: a subjetividade é instituída 
socialmente. Ela é uma criação da sociedade, da mesma forma que a 
língua, as regras de parentesco, os valores ou os métodos de trabalho.Toda sociedade, para sobreviver como tal necessita produzir modos 
de aculturação eficazes, isto é, capazes de transformar recém-nascidos 
em membros daquele grupo, aptos a funcionar segundo suas regras e 
eventualmente transgredi-las, e também aptos a, chegado o momento, 
transmitir à geração seguinte o que faz da sua sociedade aquela e 
nenhuma outra (MEZAN, 1997, p. 15)19
Popper demonstra a existência de duas formas de conhecimento: um seria um 
conhecimento subjetivo e o outro um conhecimento objetivo. 
O referido autor ainda realiza uma análise interessante ao afirmar que o conhecimento 
objetivo não é absoluto: “Não só nossas teorias nos controlam, como podemos controlar 
nossas teorias (e mesmo nossos padrões); existe aqui uma espécie de retrocarga. E se 
nos sujeitarmos a nossas teorias, fá-lo-emos então livremente, após deliberação; isto 
é, depois da discussão crítica de alternativas e depois de escolher livremente entre as 
teorias concorrentes, à luz daquela discussão crítica” (POPPER, 1975, p. 220).20
Desta forma, observamos as conceituações em torno da objetividade e subjetividade 
e analisamos algumas críticas em relação a sua aplicação, permitindo ser ressaltado 
que nas ciências humanas não se consegue trabalhar de forma absoluta e exclusiva 
com apenas um dos objetos de estudo, afastando totalmente os dois elementos, estes 
convivem e devem ser limitados ou aplicados de acordo com aqueles que realizam o 
estudo, justificando a oportuna utilização.
LUDKE, Menga. Pesquisa em educação - Abordagens Qualitativas - 2ª Ed. 2013. 
DEMO, Pedro. Pesquisa participante - Saber pensar e intervir juntos - Vol. 8. 2004. 
ASTOR, Antônio Diehl.; TATIM, Denise Carvalho. Pesquisa em ciências sociais 
aplicadas: métodos e técnicas. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2004. 
GAMBOA, Silvio Sánchez.; SANTOS FILHO, Jose Camilo dos. Pesquisa educacional 
- Quantidade-qualidade - Col. Questões da Nossa Época - Vol. 46 - 8ª Ed. 2013. 
DENCKER, Ada de Freitas Maneti. Pesquisa empírica em Ciências Humanas. 3ª 
Ed. 2012. 
RODRIGUES, Rui Martinho. Pesquisa acadêmica - como facilitar o processo de 
preparação de suas etapas. São Paulo: Atlas, 2007.
19 MEZAN, R. Subjetividades contemporâneas? Revista Subjetividades Contemporâneas, no 1, pp. 12- 17. São Paulo: Instituto 
Sedes Sapientiae,1997
20 POPPER, K. R. Conhecimento objetivo: uma abordagem evolucionária. Belo Horizonte: Itatiaia. São Paulo: EDUSP, 1975.
28
unidAdE ÚniCA │ EPiStEmologiA, tEoriA E mEtodologiA, ConhECimEnto CiEntífiCo E rEAlidAdE SoCiAl
GREZZANA, Jose Francisco; SILVA, Sidinei Pithan da. Pesquisa como princípio 
educativo - metodologia do ensino na educação superior. 2009.
BUZZI, Rita Rausch.; SILVA, Neide de Melo Aguiar. Pesquisa em educação - 
pressupostos epistemológicos e dinâmicas de investigação. EDIFURB. Santa 
Catarina. 2011. 
BRITO, Valéria.; MERENGUE, Devanir.; MONTEIRO, André. Pesquisa qualitativa e 
psicodrama. Ed Ágora, São Paulo. 2006.
MOREIRA, Marco Antonio.; MASSONI, Neusa Teresinha. Epistemologias do 
século XX. UFRGS. 2005.
DANCY, Jonathan. Epistemologia contemporânea. Edições 70. 1985.
29
CAPítulo 3
Principais correntes teórico-metodológicas 
pesquisa. o positivismo, dialética, os enfoques 
compreensivos, o estrutural-funcionalismo, 
o estruturalismo
Correntes teórico-metodológicas pesquisa
Inúmeras teorias guiam as pesquisas formando chamados paradigmas ou modelos. E 
a partir destas se identificam as técnicas a ser utilizadas e os métodos de aplicação dos 
aspectos traçados pela teoria.
Os objetivos da pesquisa são alcançados a partir de técnicas e métodos consistentes 
escolhidos para tal, justamente neste momento que é possível visualizar a importância 
das teorias e correntes que são formuladas.
O método não é algo constante, invariável, este se concretiza e se transforma a partir de 
seu pesquisador/investigador. E os métodos não se aplicam de forma isolada sempre 
deve ater sua atenção para as peculiaridades histórico-sociais do cenário da pesquisa e 
as construções teóricas.
o Positivismo
Quando tratamos do tema das correntes de pensamento com grande relevância para a 
filosofia e também para a seara do direito é o positivismo, que se subdividiu em jurídico 
e filosófico. 
O positivismo é uma corrente filosófica surgida na primeira metade 
do século XIX através de Auguste Comte (1798-1857). O positivismo 
se originou do “cientificismo”, isto é, da crença no poder exclusivo e 
absoluto da razão humana para conhecer a realidade e traduzi-la sob a 
forma de leis naturais. Essas leis seriam a base da regulamentação da 
vida do homem, da natureza como um todo e do próprio universo. Seu 
conhecimento pretendia substituir as explicações teológicas, filosóficas 
e de senso comum por meio das quais – até então – o homem explicava 
a realidade.21 (COSTA, 1997, pp. 46-47)
21 Cristina Costa, Sociologia: Introdução á ciência da sociedade, Editora Moderna , São Paulo, 1997, pp. 46 e 47. 
30
unidAdE ÚniCA │ EPiStEmologiA, tEoriA E mEtodologiA, ConhECimEnto CiEntífiCo E rEAlidAdE SoCiAl
O positivismo deve ser observado de forma abrangente, pois sua influência e aplicação 
teve grande disseminação em várias searas e possui aspectos peculiares, conforme se 
verifica abaixo:
Uma filosofia das ciências, uma política e uma religião: a primeira é 
conhecida por querer substituir a explicação “teológica” por uma 
causalidade transcendente ou a explicação “metafísica” por um simples 
conceito (a papoula faz dormir porque tem uma “virtude dormitiva”) 
uma explicação positiva visa a instaurar uma ordem social adaptada à 
“idade industrial”, onde o poder espiritual distingue-se do político, onde 
a classe especulativa (sábios, artistas, filósofos) acha-se oposta à classe 
ativa (comerciantes, industriais, agricultores); finalmente, a religião 
positiva não tem por objeto um Deus transcendente e inacessível, mas é 
a religião da Humanidade22 (JULIA, 1964, p. 258).
O positivismo possui bases semelhantes ao empirismo, apesar de se diferenciar na 
explicação dos fenômenos. Esta corrente também se subdivide em outras como no 
positivismo clássico, neopositivismo, empirismo lógico, dentre outras.
(...) o positivismo compõe-se essencialmente de uma filosofia e de uma 
política que são necessariamente inseparáveis, uma constituindo a base 
e a outra o fim de um mesmo sistema universal no qual a inteligência 
e a sociabilidade se acham intimamente combinadas (COMTE apud 
COSTA, 1959, p30).23
Moore apresenta alguns princípios ou características peculiares do positivismo 
(principalmente da vertente lógica), que seriam as seguintes:
a. que os métodos da ciência são a única via para o conhecimento válido, 
e que os métodos da ciência partem do estabelecimento do significado 
de uma proposição sobre a natureza, por meio da especificação do 
método de sua verificação experimental; proposições que não podem 
ser verificadas experiencialmente simplesmente não têm significado 
para a ciência; 
b. que a ciência não é nada mais do que a reflexão conceitual sobre os 
conteúdos da experiência imediata de um cientista, e que afirmações 
científicas devem, portanto, ser interpretadas como proposições que 
reportam o que é dado na experiência imediata do cientista; 
22 JULIA, D. (1964): Dicionário da Filosofia. Trad. José Américo da Motta Pessanha. Rio de Janeiro: Editora Larousse do Brasil.
23 COSTA, João Cruz. Augusto Comte e as origens do positivismo. Origens da filosofia e da política de Augusto Comte. São Paulo: 
Companhia Editora Nacional, 1959.
31
EPiStEmologiA, tEoriA E mEtodologiA, ConhECimEnto CiEntífiCo E rEAlidAdE SoCiAl │ unidAdE ÚniCA
c. que reivindicações de conhecimento baseadas em elementos a priori, 
metafisicamente dados, devemse rejeitadas, visto que tais reivindicações 
não podem ser experiencialmente verificadas; 
d. que toda a ciência pode ser unificada sob a análise de como os cientistas 
operam sobre os conteúdos de sua experiência imediata, e como eles 
empregam definições fisicalistas (i.e., procedimentos intersubjetivamente 
verificáveis e leituras intersubjetivamente verificáveis de medidores, 
marcadores e contadores) em apoio a seus conceitos; e 
e. que a linguagem é um sistema sintático para estruturar o conhecimento, e 
que uma compreensão da expressão desse conhecimento exige, também, 
uma compreensão dos papéis da lógica e da sintaxe no que diz respeito 
à construção, substituição, transformação, redução e prova.24 (MOORE, 
1985, p. 54)
A dialética
A dialética remota à Grécia antiga, e diz respeito ao diálogo. O precursor teria sido 
Zênon de Eléa ainda em 490-430 a.C., ou seja, não é uma corrente recente segundo o 
pensador Aristóteles. 
A concepção dialética na atualidade prima pela discussão da realidade e de suas 
contradições dentro da dinâmica de transformações que se apresenta de forma contínua.
Esse termo, que deriva o seu nome do diálogo, não foi empregado, 
na história da filosofia com um significado unívoco, que possa 
determinar-se e esclarecer-se uma vez por todas; mas recebeu 
significados diferentes, diferentemente aparentados entre si e não 
redutíveis uns aos outros ou a um significado comum25 (1970, p. 252.). 
Segundo Hegel a dialética seria “a compreensão dos contrários em sua unidade ou do 
positivo no negativo”, e esta traria um maior entendimento acerca de um sistema de 
categorias dotado de maior totalidade de acepções que se formaria a partir de noções 
parciais surgidas e derivadas de outras, haveria a tese, a antítese e enfim a síntese.
Triviños explicita que “talvez uma das ideias mais originais do materialismo dialético 
seja a de ter ressaltado, na teoria do conhecimento, a importância da prática social 
como critério da verdade”.26 (1987, p.51)
24 Moore, J. (1985). Some historical and conceptual relations among logical positivism, operationism, and behaviorism. The 
Behavior Analyst, 8, 53-63
25 ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. Trad. Alfredo Bosi. SP: Mestre Jou, 1970. 
26 FOULQUIÉ, Paul. A dialética. Trad. Luis A. Caeiro. 3. ed. Publicações EuropaAmérica. 1978 (coleção saber)
32
unidAdE ÚniCA │ EPiStEmologiA, tEoriA E mEtodologiA, ConhECimEnto CiEntífiCo E rEAlidAdE SoCiAl
Assim, a dialética ainda de acordo com Hegel se desenvolveria ou revelaria o implícito 
ou conduziria a consertar certa ausência observada.
Hegel afastou a história da metafísica, vislumbrando-a de forma dialética, resultando 
na tese do materialismo dialético, alguns consideravam tal noção demasiadamente 
idealista, por tal circunstância Marx e Engels realizaram à dialética hegeliana. 
Estes críticos salientavam que a história sim seria uma ciência real e as bases da 
economia que eram lançadas e suas explicações afastavam-se da verdadeira concepção 
que deveriam observar que era o contexto social e político. Mais adiante (1845) Marx 
lança o materialismo histórico dialético. 
Um bom exemplo é o de um educador brasileiro chamado Paulo Freire que em seus 
escritos ou na difusa de suas ideias sempre se utilizou da espitemologia dialética para 
analisar a sociedade de forma crítica ressaltando a existência comum de opressores e 
oprimidos no cerne da sociedade capitalista.
Na contemporaneidade as teorias de viés criticista possuem grande valor ao denunciar 
as discrepâncias e mazelas sociais observadas, pesquisador não se esconderia mais da 
realidade social que o cerca como ora apregoado pelo positivismo, mas isto não significa 
que este perdeu-se da objetividade da pesquisa ou investigação, e sim apenas que este 
não é aquém daquilo que é fundamental para os resultados da pesquisa.
o enfoque compreensivo
O enfoque compreensivo com seu maior precursor e defensor que foi Max Weber seria 
uma nova forma de se pensar os fenômenos sociais, bem distinta da apregoada pelos 
positivistas e por Durkheim.
Weber na busca de um melhor método para análise dos fenômenos sociais, este autor 
enfatizou a necessidade de se afastar; no que se refere ao método; os estudos que se 
realizariam nas ciências humanas, ou sociais, daqueles oriundos das ciências naturais.
Este autor ressaltava que ciências como a sociologia e história possuíam objetos próprios, 
específicos e que por isto deveria seguir direções distintas das ciências naturais.
Os acontecimentos nas Ciências humanas e sociais não podiam ser tratados como 
aqueles que ocorriam nas ciências exatas, naturais a partir de métodos explicativos que 
sempre trazem certezas absolutas em seus resultados ou conclusões.
O método ideal para a sociologia seria uma abordagem, um enfoque compreensivo por 
meio do qual poderia levar a conclusões acerca das ações e relações que se formam e 
desenvolvem no cerne social.
33
EPiStEmologiA, tEoriA E mEtodologiA, ConhECimEnto CiEntífiCo E rEAlidAdE SoCiAl │ unidAdE ÚniCA
E estas ações e relações estariam inseridas em grande subjetividade, permeadas de 
emoções e construções valorativas, demonstrando que as relações sociais não seriam 
objetos como os das ciências naturais, não seriam elementos objetivos.
Justamente por tal característica acreditava na impossibilidade de se alcançar 
conclusões exatas, como as que poderiam ser encontradas nas ciências naturais como 
na química, por exemplo.
A totalidade da compreensão sobre um fenômeno social não poderia ser algo esperado 
por um cientista ou pesquisador por melhor que este seja em seu trabalho ou análise, 
pois haveria vários ensejadores, motivos diversificados que movimentariam as ações e 
os sentidos também seriam múltiplos, assim, a realidade nunca poderia ser apreendida 
metodologicamente de forma total.
Compreender significa, pois, em todos estes casos [compreensão direta 
empírica do significado de um dado ato, compreensão explicativa] 
compreensão interpretativa de: 
a) casos concretos individuais, como por exemplo, na análise histórica; 
b) casos médios, isto é, estimativas aproximadas, como na analise 
sociológica de massa; 
c) um tipo de construção cientificamente formulado de ocorrência 
frequente (WEBER, 2002, p. 16).27
Os acontecimentos sociais nunca seriam descritos com integralidade ou totalidade 
ainda que tivessem vários espectadores deste. Haveria detalhes que uma observaria 
outro não, outros que nenhum veria, assim, o cientista deveria ater-se e acostumar-se a 
ideias de apreensões parciais da realidade, que podem ir sendo aperfeiçoadas ao longo 
do tempo por outros estudos.
Weber discordava de Durkheim com a ideia de totalidade discutida por este quando 
aduzia que as leis sociais, todas estas, poderiam ser sistematizadas; também não seguia 
pelo viés positivista, pois não acreditava na ideia da neutralidade completa do cientista 
na pesquisa no âmbito social, ele defendia a neutralidade do pesquisador, porém não 
guardava falsas esperanças de que esta seria conquistada em sua completude.
O cientista seria marcado por tradições, valores, concepções que o levariam a inclusive 
motivar a escolha do objeto de pesquisa.
O autor defendia o afastamento destes elementos da pesquisa, porém não acreditava na 
retirada total de todos aqueles como outros autores insistiam.
27 WEBER, M. Conceitos básicos de sociologia. São Paulo: Centauro, 2002.
34
unidAdE ÚniCA │ EPiStEmologiA, tEoriA E mEtodologiA, ConhECimEnto CiEntífiCo E rEAlidAdE SoCiAl
o Estrutural-funcionalismo e o estruturalismo
Quase no encerramento da década de 50, teria ocorrido um corte epistemológico 
originada da obra de Marx, que teria deparado-se com o método estrutural-funcionalista 
que era o utilizado até o momento sob análise.A base metodológica do estrutural-funcionalismo era ressaltar a perspectiva ontológica, 
com enfoque histórico-estrutural, possibilitando melhor conhecimento da conjuntura 
social.
Busca o entendimento da sociedade, porém sem contextualizá-la no espaço e tempo, 
sendo assim a sistemática isenta de conflituosidade e sim harmônica. Assim, salienta 
Mills (1965) que “eliminação mágica do conflito e a incrível realização da harmonia 
eliminam dessa teoria ‘sistemática’ e ‘geral’ a possibilidade de lidar com a mudança e 
a história”. 28
Neste interim, é fácil a compreensão que esta concepção abstraiar-se-ia dos 
antagonismos e conflitos inerentes as relações sociais, considerando estes externos 
a estas formas relacionais, tais concepções foram importantes para a denominada 
sociologia do desenvolvimento, onde eram definidos os parâmetros para se analisar o 
grau de desenvolvimento de uma sociedade.
O processo descritivo tinha predominância nas investigações onde observava-se a 
configuração social e suas peculiaridades e posicionavam acerca da vantagem ou não 
de transformações em searas sociais específicas.
O funcionalismo estudava o funcionamento das instituições que atuavam no âmbito 
da sociedade e com estas a afetavam, assim, analisavam as consequências que uma 
atuação inadequada poderia causar a coletividade.
O estrutural-funcionalismo baseava-se na ideia de que a sociedade era dividida em 
diversas partes e que cada uma destas era possuidora de uma função relevante que devia 
ser cumprida adequadamente a fim de que a harmonia social pudesse ser mantida.
Os focos desta corrente são o estudo funcional da sociedade e das instituições existentes 
nesta, e como ocorre a integração de todo o sistema.
[...] o termo funcionalismo ganhou força nos Estados Unidos a partir da 
década de 1970, passando a servir de rótulo para o trabalho de linguistas 
como Sandra Thompson, Paulo Hopper e Talmy Givón, que passaram 
a advogar uma linguística baseada no uso, cuja tendência principal é 
28 MILLS, C.W. A imaginação sociológica. Rio de Janeiro: Zahar, 1965.
35
EPiStEmologiA, tEoriA E mEtodologiA, ConhECimEnto CiEntífiCo E rEAlidAdE SoCiAl │ unidAdE ÚniCA
observar a língua do ponto de vista do contexto linguístico e da situação 
extralinguística.29 (MARTELOTTA, 2003, p. 23)
Passando a análise para a corrente do Estruturalismo, faz-se mister ressaltar como era 
visto inicialmente o desenvolvimento desta estruturação filosófica:
O estruturalismo, ou o que quer que se designe por este nome, tem sido 
considerado como algo completamente novo e revolucionário para a 
altura; ora, isto, segundo penso, é duplamente falso. Em primeiro lugar, 
até no campo das humanidades o estruturalismo não tem nada de 
novo; pode-se seguir perfeitamente esta linha de pensamento desde a 
Renascença até ao século XIX e ao nosso tempo. Mas essa ideia também 
é errada por outro motivo: o que denominamos estruturalismo no 
campo da Linguística ou da Antropologia, ou em outras disciplinas, não 
é mais que uma pálida imitação do que as ciências naturais andaram a 
fazer desde sempre.30 
O estruturalismo fora difundido para diversas áreas das ciências humanas e possuía 
vários defensores ardorosos, por isto há certa dificuldade em localizá-lo no âmbito 
puramente filosófico e os métodos utilizados concentravam–se em explicações acerca 
das estruturas. Paul Garvin define o estruturalismo de forma diferenciada: 
O estruturalismo não é uma teoria nem um método; é um ponto de 
vista epistemológico. Parte da observação de que todo conceito num 
dado sistema é determinado por todos os outros conceitos do mesmo 
sistema, e nada significa por si próprio. Só se torna inequívoco, quando 
integrado no sistema, na estrutura de que faz parte e onde tem um lugar 
definido. A obra científica do estruturalismo é, portanto, uma síntese da 
visão romântica — cuja base cognitiva é a dedução a partir de um sistema 
filosófico que classifica e avalia os fatos a posteriori, e a posição empírica 
do positivismo — que, ao contrário, constrói a sua filosofia a partir dos 
fatos que comprovou pela experiência. Para o estruturalista, há uma 
inter-relação entre os dados, ou fatos, e os pressupostos filosóficos, em vez 
de uma dependência unilateral. Daí se segue que não se trata de buscar 
u m método exclusivo, que seja o único correto, mas que, ao contrário, 
“o material novo importa em regra numa mudança de procedimento 
científico” (2). Da mesma sorte que nenhum conceito é inequívoco antes 
de integrado na sua estrutura particular, os fatos não são inequívocos em 
si mesmos. Por isso o estruturalista procura integrar os fatos nu m feixe 
29 MARTELOTTA, M. E. ET AL. (orgs.) Lingüística funcional: teoria e prática. Rio de Janeiro: DP & A, 2003. pp. 17 a 55.
30 LÉVI-STRAUSS, Claude. 1978. Mito e significado. Tradução António Marques Bessa, Lisboa, Edições 70.p.17
36
unidAdE ÚniCA │ EPiStEmologiA, tEoriA E mEtodologiA, ConhECimEnto CiEntífiCo E rEAlidAdE SoCiAl
de relações que ponham em evidência a sua inequivocidade dentro de 
uma super ordenação e de uma subordinação. Numa palavra, a estrutura 
global é mais do que uma súmula mecânica das propriedades dos seus 
componentes, pois determina propriedades novas.31
Lévi-Strauss busca explicar a questão da estrutura social e das relações sociais, tecendo 
um interessante esclarecimento:
O princípio fundamental é que a noção de estrutura social não se refere 
à realidade empírica, mas aos modelos construídos em conformidade 
com esta. Assim aparece a diferença entre duas noções, tão vizinhas que 
foram confundidas muitas vezes: a de estrutura social e a de relações 
sociais. As relações sociais são a matéria-prima empregada para a 
construção dos modelos que tornam manifesta a própria estrutura 
social. Em nenhum caso esta poderia, pois, ser reduzida ao conjunto 
das relações sociais, observáveis numa sociedade dada. 32
Abaixo há um quadro explicativo onde são demonstradas algumas das mais importantes 
correntes filosóficas com suas principais características e autores relevantes que as 
defenderam:
quadro 1. correntes epistemológicas e conceitos centrais.
fonte: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s1413-23112013000100002&script=sci_arttext>
31 A Prague School Reader on Esthetics, Literary Structure and Style, se lected and translated from the original Czech by Paul 
Garvin. Washingto n D . C. 1964, p . VIII .
32 LÉVI-STRAUSS, Claude. (1989). A noção de estrutura em etnologia. In. Antropologia estrutural. 3. ed. Tradução de Chaim 
Samuel Katz e Eginardo Pires. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro. p. 316.
37
EPiStEmologiA, tEoriA E mEtodologiA, ConhECimEnto CiEntífiCo E rEAlidAdE SoCiAl │ unidAdE ÚniCA
No que tange a corrente estrutural-funcionalista, é importante uma melhor 
compreensão de sua origem e de seu precursor, assim, proceda à sucinta leitura 
de trechos do texto “Estrutural-funcionalismo antropológico e comensalidade: 
breves considerações sobre a mudança social” do autor César Sabino e reflita 
criticamente. 
introdução 
A denominada “abordagem estrutural” constitui ainda parte significativa do 
perfil sociológico e antropológico contemporâneo. Inúmeras análises, direta 
ou indiretamente, adotam esta abordagem metodológica na investigação de 
objetos de pesquisa no campo da alimentação e das práticas corporais sem nem 
sempre deixarem explícitos paradigmas teóricos ou metodológicos. Porém, 
longe de formar uma “escola” em sentido estrito, esta vertente se fragmenta 
em várias tendências, com inúmeras e crescentes modulações e mesmo 
radicais contraposições, que podem assumir caráter mais empirista ou mais 
intelectualista. Grosso modo, é possível denominar as variações mais amplas 
desta abordagem de estrutural-funcionalistae estruturalista. A primeira, no 
caso da Antropologia Social, está diretamente relacionada ao nome de Alfred 
Reginald Radcliffe-Brown (1881-1955) e é, na origem, marcadamente britânica; 
a segunda, ao nome do maior representante do estruturalismo francês: Claude 
Lévi-Strauss (1908-2009). Porém, as duas tradições citadas se diferenciam, não 
apenas entre elas, mas também internamente em cada um dessas abordagens. 
Tentaremos abordar a seguir algumas especificidades da chamada escola 
estrutural-funcionalista, mais conhecida como Antropologia Social Britânica e, 
em alguns momentos, promover aproximações com questões relacionadas ao 
campo da Alimentação e Nutrição, de modo a motivar o leitor deste periódico à 
interdisciplinaridade.
Pai fundador 
A principal influência teórica e metodológica relacionada ao 
estrutural-funcionalismo (como também ao estruturalismo francês) advém 
da obra de Émile Durkheim (1858-1917). Para o criador da escola sociológica 
francesa, a sociedade caracterizar-se-ia como fato sui generis, irredutível a 
qualquer outra instância explicativa que não àquela radicada no conjunto 
desses mesmos fatos – por ele conceituados fatos sociais. Em seu conjunto, 
fatos sociais seriam sinônimos do que o autor também denominou consciência 
coletiva ou mentalidade coletiva, instância difusa pelo grupamento social 
e radicada no inconsciente dos agentes sociais. Com efeito, essa instância de 
38
unidAdE ÚniCA │ EPiStEmologiA, tEoriA E mEtodologiA, ConhECimEnto CiEntífiCo E rEAlidAdE SoCiAl
caráter representacional apresentaria traços específicos que dela fariam uma 
realidade singular independente dos elementos pessoais, agentes ou indivíduos. 
Em outras palavras, a consciência coletiva poderia ser definida como: “conjunto 
das crenças e dos sentimentos comuns à média dos membros de uma mesma 
sociedade [que] forma um sistema determinado com vida própria“. Esse conjunto 
ou sistema seria independente dos seus elementos (os indivíduos ou “sujeitos”), 
formando o objeto específico e único de estudo da Sociologia. 
Necessário ressaltar que o conceito de consciência coletiva, nos estudos 
durkheimianos, compreende a dimensão da instância moral e a dimensão 
perceptiva, sugerindo que crenças e sentimentos pertencentes à mesma 
consciência coletiva seriam simultaneamente religiosos e cognitivos, ou seja, 
o próprio raciocínio, com suas especificidades classificatórias, seria assim 
condicionado pela ordem das estruturas sociais, sempre relacionadas a um 
à priori de aspecto positivo (sagrado) e negativo (profano). Destarte, o ser 
humano classificaria a realidade por ter sido classificado de antemão pelo 
sistema de normas, valores e crenças as quais dele seriam independentes e as 
quais formariam o conjunto de representações sociais (consciência coletiva) 
produtores das práticas do grupo ao qual ele pertenceria e ao qual deveria 
obrigatoriamente aderir. Vale salientar que os fatos sociais, portanto, caracterizar-
se-iam por serem exteriores, extensivos e coercitivos aos agentes sociais. Além 
do estudo dos fatos sociais e de sua fundamental dimensão representacional, 
a sociologia durkheimiana deveria ainda prestar atenção à dimensão empírica 
da realidade social, comparando diferentes grupos em busca de regularidades 
comuns a maioria deles. 
Seguindo este projeto, o autor busca o estudo da morfologia social e das espécies 
sociais visando, sob a égide do organicismo de sua época, classificá-las. Diante 
disto, as sociedades humanas teriam evoluído de sistemas organizacionais mais 
simples – hordas e clãs – para sistemas mais complexos. Nos primeiros (simples) 
os indivíduos apresentar-se-iam justapostos e similares, sinalizando a força, 
a homogenenidade e a coesão da consciência coletiva em suas dimensões 
simbólicas, tornando rarefeito o processo de desintegração e adoecimento 
do organismo social – por ele denominado anomia. Sociedades simples 
apresentariam maior homeostase em relação às contemporâneas, buscando 
compreender a transformação de sociedades simples em sociedades complexas, 
Durkheim elabora as categorias de solidariedade mecânica e solidariedade 
orgânica, reiterando que a passagem de um estado de solidariedade para outro 
constituiria mudança social. Em sociedades primitivas (simples) predominaria 
a solidariedade amecânica. Nestas, os indivíduos estariam identificados uns 
39
EPiStEmologiA, tEoriA E mEtodologiA, ConhECimEnto CiEntífiCo E rEAlidAdE SoCiAl │ unidAdE ÚniCA
com os outros por intermédio de laços religiosos e familiares, assim como, da 
tradição e dos costumes permanecendo, em geral, independentes e autônomos 
em relação à divisão do trabalho social, porém coesos socialmente, uma vez que 
a consciência coletiva apresentaria a função de exercer poder quase pleno de 
coerção sobre vontades individuais (posto não haver nesses sistemas sociais a 
concepção de sujeito livre, átomo indivisível ao qual as instituições deveriam 
legalmente servir) promovendo a integração da totalidade social. 
Por outro lado, nas sociedades complexas, a mesma coesão deveria ser 
produzida por intermédio da divisão do trabalho social, que tornaria os 
indivíduos cada vez mais interdependentes. Esta interdependência seria, 
nessas sociedades, a garantia maior de coesão, ao contrário da força exercida 
pelos costumes, tradições ou relações sociais estreitas, referentes às sociedades 
simples. Com efeito, a consciência coletiva em sociedades complexas, com 
crescente aumento da divisão social do trabalho, terminou se esgarçando, posto 
que ao se tornarem dependentes uns dos outros, devido às especializações 
das atividades, a mesma produziu autoinsulamento, autonomia pessoal e, 
portanto, o individualismo com todo seu respaldo filosófico cartesiano. O 
estudo de sociedades complexas levou Durkheim a elaborar as concepções 
de normalidade e patologia social. Ao estudar as formas de patologia social, 
como dissemos precedentemente, o autor utiliza o conceito de anomia que 
significaria ausência ou desintegração da ordem e das normas sociais. A 
anomia apresentar-se-ia mais comumente como patologia das sociedades 
complexas, pois estando as mesmas baseadas nas diferenciações individuais 
(na representação social de sujeito), seria necessário, para a efetiva coesão, que 
as tarefas executadas pelos indivíduos correspondessem aos seus desejos e 
aspirações. Como tal processo é passível de não ocorrer, os valores promotores 
da coesão social acabariam enfraquecidos e o sistema social tornar-se-ia 
ameaçado pela desintegração da consciência coletiva e estabelecendo-se o 
perigo de falência da sociedade. Claude Fischler, imbuído de certo pessimismo 
durkheimiano, criou a hipótese de que o surgimento dos fast-foods e dos 
restaurantes self-service são sintomas da anomia social contemporânea, 
representando regressão do gosto e desintegração das relações comensais de 
solidariedade. Segundo ele, há “um abastardamento de folclores culinários na 
era agroalimentar”. De acordo com suas perspectivas, em sociedades adoecidas 
como a moderna, o ato de comer só, rápido, sem cultivar o gosto e assim 
por diante, demonstra o adoecimento social radicado no modelo alimentar 
norte-americano. Destarte, denomina essas práticas contemporâneas de 
alimentação e nutrição (ou mesmo sua ausência) de gastro-anomia. 
40
unidAdE ÚniCA │ EPiStEmologiA, tEoriA E mEtodologiA, ConhECimEnto CiEntífiCo E rEAlidAdE SoCiAl
É possível perceber nos trabalhos durkheimianos a preocupação com 
duas realidades que constituiriam a sociedade: as estruturas subjetivas (as 
representações sociais ou coletivas, a consciência coletiva ou mentalidade 
coletiva) e as estruturas objetivas (a morfologia social