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a protecao internacional do patrimonio mundial cultural e natural e o patrimonio cultural brasileir

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1 
 
 
 
A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DO PATRIMÔNIO MUNDIAL, CULTURAL E 
NATURAL E O PATRIMÔNIO CULTURAL BRASILEIRO 
 
Solange de Holanda Rocha 
Procuradora Federal em exercício na Procuradoria Federal em Mato Grosso 
Professora de Direito Previdenciário – Unirondon 
Mestranda em Direito Agroambiental pela Universidade Federal de Mato Grosso 
Especialista em Direito Público Lato Sensu e em Direito Constitucional 
 
 
 
SUMÁRIO: Introdução; 1 Conceito unificador 
de patrimônio mundial; 2 Classificação e 
regime jurídico dos bens integrantes do 
patrimônio mundial; 3 Patrimônio cultural 
brasileiro: paisagem cultural e patrimônio 
cultural imaterial; Considerações finais; 
Referências. 
 
RESUMO: A tendência internacional de integração do patrimônio cultural e 
natural inaugurada pela Convenção relativa à Proteção do Patrimônio Mundial, 
Cultural e Natural de 1972 foi seguida pela Constituição brasileira de 1988, que 
adotou uma concepção ampla de patrimônio cultural, abrangente e democrática, 
que engloba tanto o patrimônio material, composto de bens naturais e culturais, 
como o patrimônio imaterial, representado pelas tradições, expressões orais, 
artísticas, práticas sociais, conhecimentos e técnicas artesanais. Este artigo 
destaca dois exemplares do patrimônio cultural brasileiro recentemente 
reconhecidos como patrimônio da humanidade: a cidade do Rio de Janeiro 
incluída na Lista do Patrimônio Mundial, na categoria de paisagem cultural 
urbana, e o ritual indígena yaokwa praticado pela comunidade Enawene Nawe, 
do noroeste do Estado de Mato Grosso, incluído na Lista do Patrimônio Cultural 
Imaterial em Necessidade de Salvaguarda Urgente. 
PALAVRAS-CHAVE: Convenção Relativa à Proteção do Patrimônio Mundial, 
Cultural e Natural. Patrimônio Cultural Brasileiro. Paisagem Cultural. Patrimônio 
Cultural Imaterial. 
ABSTRACT: The international trend of integration of cultural and natural 
heritage inaugurated by the 1972 World Heritage Convention was followed by 
the 1988 Brazilian Constitution, which adopted a broad conception of cultural 
heritage, inclusive and democratic, encompassing both the material assets, 
consisting of natural and cultural assets as intangible heritage represented by 
traditions, oral and artistic expressions, social practices, knowledge and craft 
techniques. This article highlights two examples of Brazilian cultural heritage 
recently recognized as world heritage: the city of Rio de Janeiro included on the 
World Heritage List, in the category of urban cultural landscape, and indigenous 
ritual yaokwa practiced by the community Enawene Nawe, from the 
Northwestern State of Mato Grosso, included on the List of Intangible Cultural 
Heritage in Need of Urgent Safeguarding. 
KEYWORDS: World Heritage Convention. Brazilian Cultural Heritage. Cultural 
Landscape. Intangible Cultural Heritage. 
 
2 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
O presente trabalho intitulado A proteção internacional do Patrimônio Mundial, 
Cultural e Natural e o patrimônio cultural brasileiro* tem por objetivo abordar 
alguns aspectos da proteção internacional do Patrimônio Mundial, Cultural e 
Natural, com os olhos voltados para o patrimônio cultural brasileiro, à luz da 
Convenção Internacional de 1972 e da Constituição Federal de 1988 e sob a 
ótica do Direito Internacional do Meio Ambiente. 
Inicialmente, pretende-se analisar o conceito unificador de patrimônio 
mundial, com as qualificações cultural e natural, criado pela Convenção relativa 
à Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural, adotada em 1972 sob a 
égide da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e 
a Cultura), bem como demonstrar que a tendência internacional de integração 
do patrimônio cultural e natural foi seguida pela Constituição brasileira de 1988. 
Na sequência, serão examinados a classificação e o regime jurídico internacional 
a que estão submetidos os bens que integram a Lista do Patrimônio Mundial. 
Ao tratar do patrimônio cultural brasileiro, daremos enfoque a dois fatos 
recentes, a inclusão do Rio de Janeiro na Lista do Patrimônio Mundial, como 
primeira cidade do mundo a receber o título de paisagem cultural urbana, e do 
ritual indígena yaokwa praticado pela comunidade Enawene Nawe, do noroeste 
do Estado de Mato Grosso, na Lista do Patrimônio Cultural Imaterial em 
Necessidade de Salvaguarda Urgente, com o intuito de ressaltar nosso 
patrimônio regional. 
1 CONCEITO UNIFICADOR DE PATRIMÔNIO MUNDIAL 
O conceito de patrimônio mundial representado por bens existentes na 
natureza, como montanhas, formações rochosas, cavernas e paisagens não 
construídas pelo homem, conjuntamente com os bens criados pela criatividade 
humana e que ganharam significativa valoração histórica, foi desenvolvido no 
Direito Internacional, mas sem ligação direta com o meio ambiente. 
A primeira referência a patrimônio comum da humanidade no Direito 
Internacional Público é encontrada no preâmbulo do Tratado de Constituição da 
UNESCO1 de 1945. A UNESCO foi criada em 1945 durante a Conferência de 
Londres. É uma organização internacional de caráter governamental vinculada à 
Organização das Nações Unidas (ONU), especializada em promover uma política 
de cooperação cultural e educacional. As principais decisões são tomadas na 
Conferência Geral, constituída pelos representantes dos Estados-membros da 
Organização, que se reúne a cada dois anos. 
No magistério de Cançado Trindade2, a noção de patrimônio comum da 
humanidade está associada ao conceito de interesse comum da humanidade 
(common concern of mankind) constituído dos seguintes elementos: 
concentração em questões fundamentais a toda a humanidade, consoante a 
noção de commonness, afetando toda a humanidade, desprovidas de conotações 
proprietárias; engajamento necessário dos países e das sociedades; dimensão 
temporal de longo prazo, abrangendo gerações presentes e futuras; ênfase no 
 
1 Disponível em: <http://unesdoc.UNESCO.org/images/0014/001472/147273por.pdf>. Acesso em: 
30 jul. 2013. 
2 TRINDADE, Antonio Augusto Cançado. Direitos Humanos e Meio-Ambiente. Paralelo dos Sistemas 
de Proteção Internacional. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 1993. p. 217-218. 
3 
 
 
 
elemento da proteção, com base em considerações de ordem pública, 
transcendendo a reciprocidade; atenção primária nas causas dos problemas, 
tanto para prevenção quanto para dar respostas aos efeitos consequentes; 
partilha equitativa das responsabilidades como princípio subsidiário instrumental 
na aplicação do próprio princípio de interesse comum da humanidade. 
Segundo Silva3, a noção de patrimônio comum da humanidade pressupõe o 
reconhecimento da humanidade como sujeito de Direito Internacional, titular de 
direitos e obrigações, que contempla os seres humanos da atual e das futuras 
gerações, para que os recursos desse patrimônio possam ser utilizados para 
atender às necessidades do presente, sem comprometer sua fruição pelas 
gerações vindouras, sob pena de extinção de toda a espécie humana. 
A UNESCO foi criada com a preocupação de resguardar a cultura e a 
civilização, tanto em tempos de guerra como de paz. Antes de sua criação, as 
questões relacionadas com a preservação de bens culturais eram discutidas, de 
forma mais restrita, para hipóteses de conflitos armados4, com exceção do Pacto 
Roerich5 de 1935, adotado no Continente Americano, que disciplinava a proteção 
de bens imóveis em tempos de guerra e de paz. 
Para proteção de bens culturais em tempo de paz, a princípio, foram 
aprovadas, em sede de Conferências Gerais da UNESCO, a Convenção sobre as 
Medidasa Serem Adotadas para Proibir e Impedir a Importação, Exportação e 
Transferência de Propriedade Ilícitas dos Bens Culturais6 (Paris, 1970) e a 
Convenção relativa à Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural7 (Paris, 
1972). 
O conceito unificador de Patrimônio Mundial, com suas qualificações natural 
e cultural, foi criação da Convenção relativa à Proteção do Patrimônio Mundial, 
Cultural e Natural de 1972. Na lição de Silva8, com alicerce na doutrina de Kiss9, 
o interesse comum da humanidade sobre os bens desse patrimônio é o “traço 
comum” entre eles, ou seja, é o elemento que unifica ambas as categorias sob o 
mesmo signo. A Convenção em foco dispõe em seu preâmbulo que o 
 
3 SILVA, Fernando Fernandes da. As Cidades Brasileiras e o Patrimônio Cultural da Humanidade. 2 
ed. São Paulo: Peirópolis, 2012. p. 38-39. 
4 As Convenções de Haia de 1899 e 1907, codificadoras dos costumes de guerra, estabelecem a 
obrigação dos Estados beligerantes respeitarem os monumentos históricos o quanto possível. A 
Convenção de Genebra Relativa à Proteção de Civis em Tempo de Guerra de 1949 proibia 
destruições de bens móveis e imóveis em caso de ocupações militares, salvo quando 
absolutamente necessárias. A Convenção para a Proteção dos Bens Culturais em Caso de Conflito 
Armado (Convenção de Haia de 1954), primeiro tratado internacional que trata exclusivamente 
da proteção de bens culturais em caso de guerra. 
5 Primeiro tratado multilateral adotado para tratar exclusivamente da proteção de bens culturais. 
Foi elaborado no âmbito de uma organização internacional de caráter regional, mas não fazia 
restrições às adesões de Estados não membros da União Pan-Americana (criada em 1890 na I 
Conferência Internacional Americana em Washington, com denominação original de Sociedade 
Internacional das Repúblicas Americanas). 
6 Promulgada no Brasil pelo Decreto 72.312, de 31 de maio de 1973. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1970-1979/D72312.htm>. Acesso em: 28 jul. 
2013. 
7 Promulgada no Brasil pelo Decreto 80.978, de 12 de dezembro de 1977. Disponível em: 
<http://www2.cultura.gov.br/site/wp-content/uploads/2007/10/decreto-80978.pdf>. Acesso em: 
28 jul. 2013. 
8 SILVA, op. cit. p. 43. 
9 Cf. KISS, Alexandre Charles. La Notion de Patrimoine Commun de Humanité. Recueil des Cours. 
Académie de Droit Internacional de La Haye, Haia, v. 175 (II), 1982. 
4 
 
 
 
desaparecimento do patrimônio cultural e natural constitui um empobrecimento 
nefasto do patrimônio de toda a humanidade. Neste sentido, Silva10 explica que 
os interesses comuns da humanidade na proteção de bens culturais decorrem da 
ideia de sobrevivência, de tradicionalismo, de romantismo, de enriquecimento 
espiritual, científico e histórico, de fonte de prazer e contemplação, entre outros 
elementos. 
No rol de instrumentos normativos internacionais para proteção do 
Patrimônio Mundial, algumas recomendações da UNESCO11 fazem referência a 
um patrimônio cultural da humanidade. Trata-se de um conceito aberto, que 
abrange bens materiais (tangíveis) e imateriais (intangíveis) e engloba a 
diversidade cultural como objeto de proteção. 
Nas palavras de Kretzmann12: 
Não somente os monumentos, prédios históricos e obras 
arquitetônicas são importantes para a memória e cultura de um 
povo. O modo de agir, de ser e viver é o que define os contornos 
de sua história, enche-a de cores, vozes e movimentos, dando 
sentido à vida desse povo. A riqueza cultural é expressa na 
diversidade cultural e em suas manifestações, sempre valiosas, 
em todas as suas formas e independentemente de sua origem. 
Com bastante propriedade, Lybdek V. Prott13, Jurista Chefe da Seção de 
Normas Internacionais da Divisão de Patrimônio Cultural da UNESCO, acentua 
que não há consenso doutrinário acerca dos conceitos de patrimônio da 
humanidade, patrimônio mundial e patrimônio comum utilizados nos 
instrumentos normativos da UNESCO, porém, prevalece o ponto de vista, de que 
este patrimônio deve ser gerido com vistas ao interesse geral e a sua 
transmissão às gerações futuras. E arremata dizendo: 
Apesar destas flutuações e divergências de interpretação, o uso 
crescente do conceito de “patrimônio cultural da humanidade” é 
considerado como uma boa indicação da aceitação geral do 
processo de elaboração de regras aplicáveis em escala mundial, 
para definir o dever de proteção. 
Assim, a proteção jurídica deve recair não apenas sobre o patrimônio 
natural composto de paisagens naturais de especial significado para a ciência, 
mas também sobre o patrimônio cultural, herdado de gerações passadas, uma 
vez que os bens culturais integram o hábitat do homem moderno. 
Nesta esteira, bastante elucidativa a doutrina de Soares14: 
Tal patrimônio natural e, sobretudo, o cultural encontram-se de 
tal maneira associados ao modo de vida do ser humano, que 
exigem preservação, para as gerações futuras, sob pena de 
quebrar um evolver da história e obrigar as futuras gerações a 
 
10 SILVA, op. cit. p. 44. 
11 O texto das recomendações da UNESCO está disponível em: 
<http://portal.UNESCO.org/es/ev.php-URL_ID=12026&URL_DO=DO_TOPIC&URL_SECTION=-
471.html>. Acesso em: 29 jul. 2013. 
12 KRETZMANN, Carolina Giordani. Multiculturalismo e diversidade cultural: Comunidades 
Tradicionais e a Proteção do Patrimônio Comum da Humanidade. Caxias do Sul: 2007. p. 100. 
13 Tradução livre do texto original em espanhol. Disponível em: 
<http://132.248.35.1/cultura/informe/Art14.htm>. Acesso em: 29 jul. 2013. 
14 SOARES, Guido Fernando Silva. Direito Internacional do Meio Ambiente: emergências, obrigações 
e responsabilidade. São Paulo: Atlas, 2003. p. 343. 
5 
 
 
 
viverem sem uma herança cultural, que caracteriza o habitat do 
homem. 
Explica Soares15 que a tutela do meio ambiente natural e cultural, por meio 
de normas internacionais preservacionistas, destina-se a garantir a convivência 
harmoniosa entre o passado, o presente e o futuro, e assim conclui: 
 Portanto, ainda que as origens históricas das atuais normas 
internacionais sobre preservação do patrimônio natural e cultural 
tenham tido motivações distintas daquelas próprias às atuais 
considerações sobre a preservação de hábitats ou da diversidade 
biológica, há um encontro nos objetivos de ambas as 
regulamentações. 
No plano do direito interno, a Constituição Federal de 1988 seguiu a 
tendência internacional de considerar de forma integrada o patrimônio natural e 
cultural, ao consagrar a noção de patrimônio cultural no artigo 21616 constituído 
de bens de natureza material (obras, objetos, edificações, conjuntos urbanos, 
sítios históricos) e imaterial (formas de expressão, criações, modos de vida). 
Para Milaré17, a Constituição brasileira abraçou modernos conceitos 
científicos sobre a matéria: 
Assim, o patrimônio cultural é brasileiro e não regional ou 
municipal, incluindo bens tangíveis (edifícios, obras de arte) e 
intangíveis (conhecimentos técnicos), considerados 
individualmente e em conjunto; não se trata somente daqueles 
eruditos ou excepcionais, pois basta que tais bens sejam 
portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos 
diferentes grupos que formam a sociedade brasileira. 
Relevante registrar que o enunciado do referido artigo 216 é 
exemplificativo, podendo abranger outros bens não relacionados, de acordo com 
critérios técnicos definidos pelo Poder Público. Tais critérios estão pautados na 
existência de nexo vinculante entre a identidade, a ação e a memória dos 
diferentes grupos formadores da sociedade brasileira. Ensina Machado18 que a 
identidade é construída a partirde um conjunto de atributos culturais fornecido 
pela história, geografia, biologia, instituições produtivas e revelações de cunho 
religioso. A ação é revelada por realizações materiais ou imateriais, consideradas 
individual ou coletivamente. A memória cultural é a conservação de fatos ou 
ações do passado ou do presente visando ao tempo futuro. 
 
15 Ibid, p. 452. 
16 Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, 
tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à 
memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: 
I - as formas de expressão; 
II - os modos de criar, fazer e viver; 
III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas; 
IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações 
artístico-culturais; 
V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, 
paleontológico, ecológico e científico. 
17 MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. A gestão ambiental em foco. Doutrina. Jurisprudência. 
Glossário. 7. ed. São Paulo: RT, 2011. p. 318. 
18 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 15. ed. revista, atualizada e 
ampliada. São Paulo: Malheiros, 2007. p. 919. 
6 
 
 
 
Desse modo, a proteção do patrimônio cultural, atribuída ao Poder Público 
com a colaboração da comunidade, como previsto no artigo 216, § 1º19, do texto 
constitucional pátrio, importa na proteção conjunta do patrimônio cultural e 
natural. 
É dessa integração de cultura e natureza que surge a noção de meio 
ambiente cultural ou patrimônio ambiental cultural. Como é cediço, o meio 
ambiente não está limitado à natureza e ao equilíbrio ecológico, pois 
abrange elementos criados pelo ser humano, de maneira que toda a riqueza que 
compõe o patrimônio ambiental transcende a matéria natural e incorpora 
também um ambiente cultural, revelado pelo patrimônio cultural20. 
Importante destacar que as discussões e os acordos firmados durante a 
Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, 
realizada no Rio de Janeiro em 1992 (ECO92), foram o ponto de partida para dar 
uma nova dinâmica ao conceito de patrimônio cultural, fazendo a interface com 
o meio ambiente21. 
Desde então, o tema passou a ser objeto de estudo do direito ambiental e, 
além das fronteiras do direito interno, do Direito Internacional do Meio 
Ambiente. Isto se deve principalmente às políticas destinadas a garantir os 
direitos dos povos indígenas e das populações tradicionais sobre recursos 
genéticos, que foram adotadas na Convenção sobre Diversidade Biológica22 
durante a ECO92, idealizadas a partir do reconhecimento da estreita relação 
entre a preservação dos recursos naturais e os conhecimentos, costumes e 
tradições dessas populações. 
A associação entre patrimônio natural e cultural também foi albergada 
como princípio norteador da Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável 
dos Povos e Comunidades Tradicionais, cujas ações e atividades dirigidas à 
consecução de seus objetivos devem observar o reconhecimento, a valorização e 
o respeito à diversidade socioambiental e cultural dos povos e comunidades 
tradicionais, conforme expresso no art. 1º, I, do Anexo do Decreto nº 
6.040/200723. 
Neste contexto, a preservação da biodiversidade depende da valorização 
da diversidade cultural dessas comunidades. Daí emergindo a compreensão 
valorativa dos bens que integram o patrimônio ambiental de um Estado, que se 
unificam em duas categorias: o patrimônio natural e o patrimônio cultural. 
 
 
19 § 1º - O Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio 
cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e 
de outras formas de acautelamento e preservação. 
20 REISEWITZ, Lúcia. Direito Ambiental e Patrimônio Cultural: direito à preservação da memória, 
ação e identidade do povo brasileiro. São Paulo: J. de Oliveira, 2004. p. 63. 
21 BOSH, Queli Mewius. Responsabilidade Civil por danos causados ao Patrimônio Ambiental 
Cultural. Direito Ambiental e Sociedade. v. 1, n. 1, jan./jun. 2011. p. 217. 
22 Promulgada no Brasil pelo Decreto 2.519, de 16 de março de 1998. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D2519.htm>. Com texto integral em anexo. 
Acesso em: 29 jul. 2013. 
23 Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
2010/2007/decreto/d6040.htm>. Acesso em: 28 dez. 2013. 
7 
 
 
 
2 CLASSIFICAÇÃO E REGIME JURÍDICO DOS BENS INTEGRANTES DO 
PATRIMÔNIO MUNDIAL 
O artigo 1º da Convenção relativa à Proteção do Patrimônio Mundial, 
Cultural e Natural considera como patrimônio cultural os monumentos (obras 
arquitetônicas, elementos ou estrutura de natureza arqueológica, entre outros 
grupos de elementos com valor universal excepcional do ponto de vista histórico, 
artístico ou científico), os conjuntos (grupos de construções isoladas ou reunidas 
com valor universal excepcional do ponto de vista histórico, artístico ou 
científico) e os lugares notáveis (obras do homem ou obras conjugadas do 
homem e da natureza, bem como as zonas, inclusive lugares arqueológicos, com 
valor universal excepcional, do ponto de vista histórico, estético, etnológico ou 
antropológico). 
A Convenção reconhece a valorização das obras criadas pelo homem em 
qualquer tempo, sejam antigas ou modernas, pois a qualificação decorre da 
importância da proteção e conservação dessas obras para as gerações futuras. 
De acordo com o artigo 2º da Convenção, são considerados como 
patrimônio natural: os monumentos naturais constituídos por formações físicas e 
biológicas ou por grupos de tais formações, que tenham valor excepcional do 
ponto de vista estético ou científico; as áreas que constituem hábitat de animais 
e vegetais ameaçados e que tenham valor universal excepcional, do ponto de 
vista da ciência ou da conservação; os lugares notáveis de excepcional beleza 
natural. 
A Convenção estabelece um sistema de cooperação e assistência 
internacional24, destinado a envidar esforços para preservar e identificar o 
patrimônio mundial, cultural e natural. A cooperação está prevista no Tratado 
Constitutivo da UNESCO, cujo preâmbulo estabelece a cooperação entre as 
nações para educação, ciência e cultura como formas de alcançar a paz 
internacional e o bem-estar geral da humanidade. A cooperação e prestação de 
assistência internacional realizam-se tanto na qualificação ou delimitação do 
patrimônio cultural, por meio da inscrição do bem cultural na Lista do Patrimônio 
Mundial25 ou na Lista do Patrimônio Mundial em Perigo26, assim como nas ações 
desenvolvidas nos planos técnico (estudos, pesquisas e assistência técnica), 
educativo (atividades de formação e informação) e financeiro (concessão de 
empréstimos e financiamentos). 
No âmbito da cooperação técnica, a assistência é desenvolvida conforme as 
necessidades do Estado beneficiado, podendo ser preparatória, por meio da 
elaboração de lista indicativa ou de atividades preparatórias para a inscrição do 
bem cultural na Lista do Patrimônio Mundial, ou de emergência, para 
conservação de bens inscritos ou que poderão ser inscritos, diante da ocorrência 
de graves danos ou de fenômenos súbitos e inesperados, tais como fenômenos 
da natureza, ou de acompanhamento, por meio do sistema de monitoramento27 
 
24 Convenção Relativa à Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural, artigo 7º.25 Cf. Lista do Patrimônio Mundial disponível em: <http://whc.unesco.org/en/list>. Acesso em: 01 
ago. 2013. 
26 O bem inscrito na Lista do Patrimônio Mundial em Perigo passa a receber assistência internacional 
imediata, em razão de perigos sérios e concretos que poderão provocar o seu desaparecimento. 
27 O Comitê do Patrimônio Mundial promoveu um encontro de especialistas em Cambridge, Reino 
Unido, em 1993, que apontou três categorias de monitoramento que poderão ser implementadas: 
sistemático (elaboração de relatórios periódicos); administrativo (execução de recomendações e 
decisão do Comitê do Patrimônio Mundial) e ad doc (relatórios ad doc e estudos de impactos para 
8 
 
 
 
do estado de conservação dos bens culturais inscritos na Lista do Patrimônio 
Mundial. 
Compete aos Estados-partes apresentar, na medida do possível, 
inventários dos bens situados em seu território e que possam ser incluídos na 
Lista do Patrimônio Mundial. A técnica de arrolamento ou inventário dos bens 
culturais para inclusão em lista indicativa28 é semelhante ao processo de 
tombamento, instituto jurídico adotado na legislação brasileira, regulamentado 
pelo Decreto-lei nº 25 de 1937, pelo qual se faz a proteção do patrimônio 
histórico e artístico, através da imposição de limitações administrativas à 
propriedade privada ou pública, por meio da inscrição do bem no livro do tombo. 
A Lista do Patrimônio Mundial é elaborada pelo Comitê do Patrimônio 
Mundial29 com o propósito de arrolar, divulgar e proteger os bens culturais e 
naturais de valor universal excepcional que representam o patrimônio cultural e 
natural da humanidade, conforme previsto no artigo 11, parágrafo 4 da 
Convenção Relativa à Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural. 
Cabe ao Comitê do Patrimônio Mundial formular e atualizar as listas de 
bens integrantes do Patrimônio Mundial e receber e estudar os pedidos de 
assistência internacional formulados pelos Estados-partes. Além disso, o Comitê 
é responsável pela elaboração dos instrumentos normativos que definem os 
critérios de inclusão ou exclusão de um bem cultural na Lista do Patrimônio 
Mundial previstos nas Orientações Técnicas para Aplicação da Convenção do 
Patrimônio Mundial30. 
Entende-se por valor universal excepcional31 a importância cultural ou 
natural tão excepcional que transcende as fronteiras nacionais e se reveste de 
caráter inestimável para as gerações atuais e futuras de toda a humanidade. 
Para ser considerado de valor universal excepcional, um bem deve atender 
aos critérios de autenticidade e/ou integridade, assim como ser beneficiado de 
um sistema de proteção e gestão adequado para sua salvaguarda32 
proporcionado pelo Estado interessado em promover sua inscrição na Lista do 
Patrimônio Mundial. 
 
circunstâncias excepcionais que afetam o estado de conservação dos bens). Posteriormente, as 
Orientações do Comitê incorporaram essas modalidades de monitoramento na forma de 
monitoramento reativo, para avaliar as condições de perigo que possam acarretar danos ao bem 
cultural, e nos relatórios periódicos entregues periodicamente pelos Estados à Conferência Geral 
da UNESCO e ao Comitê do Patrimônio Mundial. 
28 Convenção Relativa à Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural, artigo 11, parágrafo 2º. 
29 O Comitê do Patrimônio Mundial é órgão executivo permanente instituído pela Convenção, de 
caráter intergovernamental, composto por vinte e um representantes dos Estados signatários. As 
demais instituições previstas na Convenção, que compõem a estrutura da autoridade 
internacional de proteção são: O Conselho Internacional de Monumentos e Lugares de Interesse 
Artístico e Histórico (ICOMOS), o Centro Internacional de Estudos para a Conservação e 
Restauração dos Bens Culturais (ICCROM) ou Centro de Roma e o Fundo para a Proteção do 
Patrimônio Mundial, Cultural e Natural ou Fundo do Patrimônio Mundial. Ao lado do ICOMOS, 
órgão consultivo do Comitê do Patrimônio Mundial para sítios culturais, a União Internacional para 
a Conservação da Natureza (IUCN), organização internacional criada em 1948, atua como órgão 
consultivo para sítios naturais. 
30 Cf. Operational Guidelines for the Implementation of the World Heritage Convention. Disponível 
em português em: <whc.unesco.org/archive/opguide11-pt.doc>. Acesso em: 01 ago. 2013. 
31 Cf. Orientações, capítulo II.A, parágrafo 49. 
32 Cf. Orientações, capítulo II.D, parágrafo 78. 
9 
 
 
 
Em linhas gerais, a autenticidade é avaliada pelas características originais e 
subsequentes do patrimônio cultural, com base no grau de credibilidade ou 
veracidade atribuído às fontes de informação relativas a esse valor, enquanto a 
integridade é examinada pela apreciação de conjunto e do caráter intacto do 
patrimônio natural ou cultural, a partir dos elementos ou características que 
exprimem a importância desse bem. 
A exclusão do bem cultural da Lista do Patrimônio Mundial decorre da 
perda de suas características ou de suas qualidades intrínsecas, seja pela 
cessação das condições que legitimaram sua inscrição ou pela inexecução das 
medidas protetoras impostas pela Convenção aos Estados-partes. 
Na inclusão de um bem na Lista do Patrimônio Mundial, o Comitê faz a 
distinção de bens do patrimônio cultural ou do patrimônio natural, ou ainda 
pertencentes a ambas categorias. Atualmente, a lista contempla 981 bens, 
sendo 759 culturais, 193 naturais e 29 mistos, distribuídos por 190 Estados-
partes da Convenção. Durante a 37ª sessão do Comitê do Patrimônio Mundial, 
realizada até 27 de junho de 2013, em Phnom Penh e Siem Reap (Camboja), 19 
novos sítios foram acrescidos à Lista do Patrimônio Mundial, sendo 14 culturais e 
5 naturais33. 
A inscrição de um bem na Lista do Patrimônio Mundial submete-o a um 
regime jurídico internacional, que estabelece duplicidade de direitos e deveres, 
ou seja, obrigações que incumbem aos Estados-partes onde os bens estão 
situados, tais como tomar medidas jurídicas, científicas, técnicas, administrativas 
e financeiras para proteção, conservação e revalorização do patrimônio, e 
aquelas imputadas à comunidade internacional, com destaque para o dever de 
assistência financeira. Para este fim, foi instituído um Fundo do Patrimônio 
Mundial (World Heritage Fund – WHF), constituído por fundos pagos 
regularmente pelos Estados-partes, com vistas a dar efetividade à atuação da 
UNESCO, no intento conservacionista do patrimônio cultural. Como leciona 
Mazzuoli34, a UNESCO faz parte do rol de organizações internacionais que exerce 
um papel mais diferenciado do que o habitual, ligado aos deveres de prevenção 
e proteção do meio ambiente. 
De acordo com Silva35, citando Kiss, o regime diferenciado de gestão do 
Patrimônio Mundial é baseado em uma relação de trust, segundo a qual a gestão 
dos bens é atribuída aos Estados e organizações internacionais, que, no papel de 
tutores, assumem a missão de depositários dos interesses comuns da 
humanidade, zelando pela conservação dos bens a serem transferidos às futuras 
gerações. Esclarece Silva36 que o descumprimento das obrigações impostas pela 
Convenção aos Estados-partes implica na ruptura do pacto de compromissos 
mútuos firmado entre os Estados e a comunidade internacional, constituído de 
obrigações assumidas pelos Estados para proteção dos bens culturais e 
benefícios oferecidos pela comunidade internacional em contrapartida à proteção 
nacional, com base no regime de cooperação internacional. 
 
33 Para mais informações sobre os 19 novos sítios em inglês.Cf. New Inscribed Properties disponível 
em: <http://whc.unesco.org/en/newproperties/>. Acesso em: 01 Ago. 2013. 
34 MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Curso de direito internacional público. 7. ed. revista, atualizada e 
ampliada. São Paulo: RT, 2013. p. 1033. 
35 SILVA, op. cit. p. 40. 
36 Ibid, p. 118-119. 
10 
 
 
 
3 PATRIMÔNIO CULTURAL BRASILEIRO: PAISAGEM CULTURAL E 
PATRIMÔNIO CULTURAL IMATERIAL 
A preservação do patrimônio cultural teve início com a proteção de 
monumentos isolados, em especial os arqueológicos e arquitetônicos. Em 
meados do século XX, os enquadramentos foram estendidos às cidades 
históricas, centros históricos, bairros antigos e conjuntos urbanos inteiros, com 
base em critérios de antiguidade e excepcionalidade, além de outros aspectos 
como o vernacular e o moderno na arquitetura e no urbanismo. A par desses 
avanços, percebeu-se a necessidade de dar novo tratamento aos patrimônios 
dinâmicos, em permanente construção e mutação, integrados ao território e 
dotados de dimensão imaterial. Foi assim, que se chegou até a paisagem 
cultural, por definição o cenário resultante da interação da ação humana 
(material ou imaterial) com os espaços da natureza. 
O conceito de paisagem cultural foi adotado pela UNESCO em 1992 e 
incorporado como uma nova tipologia de reconhecimento dos bens culturais, 
para fins de inscrição na Lista do Patrimônio Mundial. Desde então, os sítios 
reconhecidos mundialmente como paisagem cultural estavam relacionados a 
áreas rurais, sistemas agrícolas tradicionais, jardins históricos e outros locais de 
cunho simbólico, religioso e afetivo, até que o reconhecimento da cidade do Rio 
de Janeiro, com suas paisagens entre a montanha e o mar, culminou em nova 
visão e abordagem sobre os bens culturais inscritos na Lista do Patrimônio 
Mundial. 
A concepção de patrimônio cultural adotada pela UNESCO também evoluiu 
em outra vertente, que será abordada neste estudo, qual seja, a identificação, 
reconhecimento e salvaguarda do patrimônio imaterial. 
Ao focar no patrimônio cultural brasileiro, sob a perspectiva do Direito 
Internacional do Meio Ambiente, optamos por destacar, primeiramente, a 
inclusão de uma cidade brasileira como primeira paisagem cultural urbana 
inscrita na Lista do Patrimônio Mundial e, na sequência, o registro do ritual 
indígena yaokwa praticado pela comunidade Enawene Nawe, do Vale do Rio 
Juruena no noroeste do Estado de Mato Grosso, na Lista do Patrimônio Cultural 
Imaterial em Necessidade de Salvaguarda Urgente, a fim de ressaltar nosso 
patrimônio regional. 
Atualmente, há 19 bens brasileiros inscritos na Lista do Patrimônio 
Mundial37, dos quais 7 são naturais e 12 culturais. 
Os bens naturais correspondem às seguintes áreas de preservação 
permanente: Complexo de Áreas Protegidas da Amazônia Central/AM, Parque 
Nacional do Iguaçu/PR, Complexo de Áreas Protegidas do Pantanal - MS/MT, 
Costa do Descobrimento BA/ES, Reserva Mata Atlântica SP/PR, Áreas Protegidas 
do Cerrado/GO e Ilhas Atlânticas/PE. 
Já os bens culturais podem ser inscritos em três classes: monumentos, 
conjuntos ou sítios culturais, e lugares notáveis (também denominados sítios 
mistos ou paisagens culturais). 
Na classe dos monumentos, estão inscritos os seguintes bens culturais 
brasileiros: Ruínas de São Miguel das Missões/RS e o Santuário do Bom Jesus de 
Matosinhos em Congonhas do Campo/MG. 
 
37 Disponível em: <http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/culture/world-heritage/list-of-world-
heritage-in-brazil/>. Acesso em: 08 ago. 2013. 
11 
 
 
 
Os conjuntos ou sítios culturais brasileiros são compostos dos centros 
históricos das cidades de Ouro Preto/MG, Olinda/PE, Salvador/BA, São Luiz do 
Maranhão/MA, Diamantina/MG, Goiás/GO e São Cristóvão/SE, dos sítios 
arqueológicos do Parque Nacional Serra da Capivara/PI e do Plano Piloto de 
Brasília/DF, primeiro núcleo urbano construído no século XX incluído na Lista do 
Patrimônio Mundial. 
Por último, a cidade do Rio de Janeiro tornou-se a primeira do mundo a 
receber o título de Patrimônio Mundial como paisagem cultural urbana. Em 
setembro de 2009, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - 
IPHAN38 entregou a UNESCO o dossiê completo da candidatura da cidade, 
justificando seu valor universal excepcional pela interação da sua beleza natural 
com a intervenção humana. Por ocasião da 36ª Sessão do Comitê do Patrimônio 
Mundial, em São Petersburgo, na Rússia, iniciada em 24 de junho de 2012, o 
comitê técnico da candidatura defendeu as paisagens cariocas entre a montanha 
e o mar. Na apresentação, o Rio de Janeiro foi mostrado como uma cidade onde 
a paisagem urbana se funde com uma natureza exuberante que dá origem a 
uma cultura de rua, com grandes espaços abertos, parques públicos, jardins e 
orla que são parte da vida cotidiana dos cariocas. A candidatura foi aprovada 
pelo Comitê em 1º de julho de 2012. 
O Comitê do Patrimônio Cultural destaca o caráter evolucionista da ação 
humana como definidor das paisagens culturais e as divide em três categorias: 
1) Paisagens claramente definidas, que são aquelas desenhadas e criadas 
intencionalmente, como jardins e parques; 2) Paisagens evoluídas 
organicamente, que se subdividem em paisagens cujo processo de construções 
terminou no passado e paisagens com processos evolutivos em curso; 3) 
Paisagens culturais associativas, que são valorizadas de acordo com associações 
feitas acerca delas, como as associações espirituais de povos tradicionais com 
determinadas paisagens. 
No Brasil, o instrumento jurídico para reconhecimento e proteção de 
paisagens culturais é denominado chancela e foi instituído pela Portaria Iphan nº 
127/200939. De acordo com a Portaria, qualquer pessoa natural ou jurídica é 
parte legítima para requerer a instauração de processo administrativo, visando à 
chancela de paisagem cultural brasileira. A chancela das paisagens culturais 
brasileiras deve ser revalidada no prazo máximo de 10 anos, em vista do caráter 
dinâmico da cultura e da ação humana sobre porções do território. 
Os processos administrativos de chancela de Paisagem Cultural40 devem 
prever o estabelecimento de pactos que configurem acordos entre o poder 
público, a sociedade civil, a iniciativa privada e entidades culturais, além de 
outros interessados e envolvidos. É um importante instrumento para a 
continuidade de práticas responsáveis pela configuração da paisagem, atuando 
especialmente sobre os aspectos socioeconômicos e culturais. A prática dos 
inventários de referências culturais em sítios urbanos tem demonstrado que a 
valorização do patrimônio imaterial sensibiliza a comunidade local para a 
 
38 Autarquia Federal vinculada ao Ministério da Cultura criada pela Lei 378, de 13 de janeiro de 
1937. 
39 Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br/portal/baixaFcdAnexo.do?id=1236>. Acesso em: 09 
ago. 2013. 
40 Cf. Reflexões sobre a Chancela da Paisagem Cultural Brasileira disponível em: 
<http://portal.iphan.gov.br/portal/baixaFcdAnexo.do?id=1757>. Acesso em: 09 ago. 2013. 
 
12 
 
 
 
preservação do patrimônio edificado, facilitando o trabalho de orientação e 
fiscalização. 
A chancela da Paisagem Cultural e o título de Patrimônio Mundial podem 
atuar com eficácia para preservação da natureza desses bens culturais: 
destacando o sítio e suas práticas, reconhecendo e transferindo valor, inclusive 
econômico, motivando os protagonistas para a continuidade de suas atividades e 
instituindo medidas de proteção e fomento. No caso do Rio de Janeiro, vários 
locais da cidadevalorizados com o título de Patrimônio Mundial serão alvo de 
ações integradas visando à preservação da sua paisagem cultural. São eles o 
Pão de Açúcar, o Corcovado, a Floresta da Tijuca, o Aterro do Flamengo, o 
Jardim Botânico, a praia de Copacabana, além da entrada da Baía de Guanabara, 
que deverá ser beneficiada com projeto de despoluição. Os bens cariocas 
incluem o forte e o morro do Leme, o forte de Copacabana e o Arpoador, o 
Parque do Flamengo e a enseada de Botafogo. 
Para Santilli41, a chancela das paisagens culturais pode ser considerada um 
novo instrumento de proteção à biodiversidade, tanto de seus componentes 
materiais (espécies, variedades, ecossistemas, etc) como imateriais 
(conhecimentos e saberes associados à biodiversidade). Destaca que o objetivo 
da chancela é contribuir para a preservação do patrimônio cultural, 
complementando e integrando os instrumentos de promoção e proteção 
existentes,42 a exemplo do registro de bens culturais imateriais. 
Em conformidade com nossa Constituição Federal, o patrimônio cultural 
brasileiro é constituído de bens de natureza material e imaterial, incluindo as 
formas de expressão, os modos de criar, fazer e viver, devendo ser protegido 
pelo Poder Público, com o apoio da comunidade, por meio de inventários e 
registros (art. 216, incisos I e II e § 1º). A Constituição também assegura 
proteção às manifestações das culturas populares, indígenas e afro-brasileiras, 
além de outros grupos participantes do processo civilizatório nacional (art. 215, 
§ 1º). Ademais, reconhece a organização social dos índios, seus costumes, 
línguas, crenças, tradições e os direitos originários sobre as terras que 
tradicionalmente ocupam (art. 231). 
Neste contexto, pertinente a lição de Sirvinskas43: 
Percebe-se que o texto constitucional consagra o pluralismo 
cultural decorrente da interação dinâmica dos diversos 
segmentos sociais, dando ênfase não apenas aos bens que 
ostentam valor econômico intrínseco mas a todos os que, 
materiais ou imateriais, sendo reflexo de nossa identidade, ação 
e memória, guardem referência com a cultura brasileira [...]. 
A despeito de o normativo constitucional existir desde 1988, a 
regulamentação das práticas de conservação do patrimônio cultural imaterial 
demorou a ser instituída, vindo a ocorrer por meio do Decreto nº 3551/200044, 
que estabeleceu o Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial, dividindo o 
 
41 SANTILLI, Juliana. Novos Instrumentos de Proteção: A Chancela da Paisagem Cultural. I Fórum 
Nacional do Patrimônio Cultural. Sessão Temática 4. v. 2, 2011. p. 245. 
42 Ibid, p. 244. 
43 SIRVINSKAS, Luís Paulo. Manual de Direito Ambiental. 6 ed. revista, atualizada e ampliada. São 
Paulo: Saraiva, 2008. p. 492. 
44 Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D3551.htm>. Acesso em: 09 ago. 
2013. 
13 
 
 
 
registro nos Livros dos Saberes, das Celebrações, das Formas de Expressão e 
dos Lugares45. 
Para Sant´Anna46, o instituto do registro é um instrumento de 
reconhecimento patrimonial que firma o compromisso do Estado com o 
fortalecimento das condições que propiciam a continuidade dos bens culturais 
imateriais. O registro gera obrigação dos poderes públicos de promover ações de 
salvaguarda, a fim de apoiar a continuidade e as condições sociais e materiais 
que possibilitam a existência do bem cultural imaterial47. 
O registro deve ser refeito a cada 10 anos do reconhecimento oficial, com o 
intuito de reavaliar a continuidade e reprodução desse bem. Isto se justifica pelo 
caráter dinâmico das práticas e expressões culturais, que são transformadas, 
reiteradas e atualizadas com o passar do tempo, sendo assim, passíveis de 
desaparecimento, tanto por ameaças ou fatores exógenos, como por eventual 
perda da função simbólica, tecnológica ou econômica junto ao grupo social que 
as sustentam. Por isso, explica Sant´anna48, como documentação exaustiva da 
expressão cultural, o Registro permite preservar sua memória para a 
posteridade. 
Na esfera internacional, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) 
adotou a Convenção nº 169, durante a 76ª Conferência Internacional do 
Trabalho em 1989, que revisou a Convenção nº 107 de 1957, sobre povos 
indígenas e tribais. A Convenção em comento foi ratificada pelo Brasil em 2002 e 
promulgada no direito interno por meio do Decreto nº 5051/200449. De acordo 
com seu art. 4º, deverão ser adotadas medidas especiais para salvaguardar as 
pessoas, as instituições, os bens, as culturas e o meio ambiente dos povos 
interessados. Neste prisma, o registro de bens culturais imateriais pode ser 
classificado como uma medida especial para dar efetividade ao compromisso 
internacional assumido pelo Estado brasileiro de salvaguarda da cultura e 
identidade dos povos indígenas, desde que assegurados os direitos de consulta e 
participação dos povos interessados. 
Já a UNESCO inicialmente identificava patrimônio cultural com patrimônio 
material. Tal identificação foi revista após a Declaração Universal da Diversidade 
Cultural de 200250, bem como adoção em 2003 da Convenção para a 
Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial51 e posterior aprovação em 2005 
 
45 Lista dos bens registrados pelo Iphan disponível em: 
<http://portal.iphan.gov.br/portal/montarPaginaSecao.do?id=12456&retorno=paginaIphan>. 
Acesso em: 10 ago. 2013. 
46 SANT´ANNA, Márcia. A política federal salvaguarda do patrimônio cultural imaterial. Desafios do 
desenvolvimento. ed. especial. Brasília: Ipea. Jun./jul. 2010. p. 45. 
47 O Decreto 3551/2000 também criou o Programa Nacional do Patrimônio Imaterial (PNPI) 
e consolidou o Inventário Nacional de Referências Culturais (INCR). O Programa estabelece 
planos de salvaguarda, em que são definidas as formas de salvaguardar o bem, que podem 
incluir ajuda financeira a detentores de saberes, organização comunitária ou facilitação de acesso 
a matérias-primas. 
48 Idem. 
49 Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-
2006/2004/decreto/d5051.htm>. Acesso em: 28 dez. 2013. 
50 Disponível em: <http://unesdoc.unesco.org/images/0012/001271/127160por.pdf>. Acesso em: 
10 ago. 2013. 
51 Disponível em: <http://unesdoc.unesco.org/images/0013/001325/132540por.pdf>. Acesso em: 
10 ago. 2013. 
14 
 
 
 
da Convenção sobre a Proteção e a Promoção da Diversidade das Expressões 
Culturais52. 
O Brasil é signatário das referidas Convenções de 2003 e 2005, que foram 
promulgadas através dos Decretos 5753/2006 e 6177/2007, respectivamente. 
Para os fins deste trabalho, releva destacar do texto da Convenção para a 
Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial, o artigo 2, item 1, que traz a 
definição de patrimônio cultural imaterial e os artigos 16 e 17, que dispõem 
acerca das Listas do Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, transcritos 
abaixo: 
Entende-se por “patrimônio cultural imaterial” as práticas, 
representações, expressões, conhecimentos e técnicas - junto 
com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que 
lhes são associados - que as comunidades, os grupos e, em 
alguns casos, os indivíduos reconhecem como parte integrante 
de seu patrimônio cultural. Este patrimônio cultural imaterial, 
que se transmite de geração em geração, é constantemente 
recriado pelas comunidades e grupos em função de seu 
ambiente, de sua interação com a natureza e de sua história, 
gerando um sentimento de identidade e continuidade e 
contribuindo assim para promover o respeito à diversidade 
cultural e à criatividade humana. [...] 
Artigo 16: Lista representativa do patrimônio cultural imaterialda humanidade 
 1. Para assegurar maior visibilidade do patrimônio cultural 
imaterial, aumentar o grau de conscientização de sua 
importância, e propiciar formas de diálogo que respeitem a 
diversidade cultural, o Comitê, por proposta dos Estados Partes 
interessados, criará, manterá atualizada e publicará uma Lista 
representativa do patrimônio cultural imaterial da humanidade. 
2. O Comitê elaborará e submeterá à aprovação da Assembléia 
Geral os critérios que regerão o estabelecimento, a atualização e 
a publicação da referida Lista representativa. 
Artigo 17: Lista do patrimônio cultural imaterial que requer 
medidas urgentes de salvaguarda 
1. Com vistas a adotar as medidas adequadas de salvaguarda, o 
Comitê criará, manterá atualizada e publicará uma Lista do 
patrimônio cultural imaterial que necessite medidas urgentes de 
salvaguarda, e inscreverá esse patrimônio na Lista por 
solicitação do Estado Parte interessado. 
No que toca à Convenção sobre a Proteção e a Promoção da Diversidade 
das Expressões Culturais, interessa-nos a observação de Lima53 quanto à 
relevância de se reconhecer, por meio desse instrumento normativo 
internacional, os imperativos dos valores endógenos, da valorização do 
pluralismo, do reconhecimento de minorias, dos direitos à diferença e, 
sobretudo, da obrigação de zelarmos pela proteção dos atributos socioculturais 
identitários. 
 
52 Disponível em: <http://unesdoc.unesco.org/images/0015/001502/150224POR.pdf>. Acesso 
em:10 ago. 2013. 
53 LIMA, Antonio Augusto Dayrell de. Por que uma Convenção sobre a Proteção da Diversidade 
Cultural? Estudos Avançados 19 (54), 2005. p. 452-453. 
15 
 
 
 
Na órbita do patrimônio cultural regional, o ritual yaokwa do povo indígena 
Enawene Nawe, que habita a região noroeste do estado de Mato Grosso, foi 
inserido em 2010 no Livro de Registro das Celebrações54 mantido pelo Iphan, e 
inscrito na Lista de Patrimônio Cultural Imaterial em Necessidade de 
Salvaguarda Urgente em 23 de novembro de 2011. A decisão foi tomada durante 
a 6ª Reunião do Comitê Intergovernamental para Salvaguarda do Patrimônio 
Imaterial, em Bali, Indonésia, que acolheu a justificativa de que o yaokwa 
representa um ecossistema extremamente delicado e frágil, cuja continuidade 
depende diretamente da sua conservação. 
O ritual é a celebração mais importante realizada por esse povo indígena, 
com duração de sete meses, marcando o início do calendário ecológico-ritual 
Enawene que abrange as estações seca e chuvosa. No ciclo anual, o grupo 
realiza mais três rituais, o Lerohi, o Salomã e o Kateokõ. Uma das principais 
fases do ritual é quando os homens saem para a chamada pesca de barragem, 
construindo armações que são dispostas de uma margem a outra do rio. Este 
ponto do ritual começa em janeiro, com a coleta das matérias-primas para a 
construção das barragens e com a colheita da mandioca. A população é 
composta de aproximadamente 540 indivíduos que vivem em uma única aldeia, 
na terra Enawene Nawe, localizada numa região de transição entre o cerrado e a 
floresta Amazônica, no estado do Mato Grosso. 
Por se tratar de um ritual regulado pelos ciclos da natureza, a preservação 
do ecossistema é indispensável para sua continuidade, pois envolve 
determinadas condições ambientais para garantir a obtenção dos produtos 
animais e vegetais necessários à execução do rito, notadamente o peixe. 
Engloba também um repertório de tradições orais, danças, cantos, instrumentos 
e outros conhecimentos tradicionais, que constituem o traço emblemático da 
etnia daquele povo. 
A indicação do ritual para a Lista de Patrimônio Cultural Imaterial em 
Necessidade de Salvaguarda contou com a anuência da comunidade Enawene 
Nawe e sua inclusão na Lista confere à celebração não apenas a proteção 
brasileira, mas também a proteção internacional. 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
A Convenção relativa à Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural, 
adotada em Paris, em 1972, sob a égide da UNESCO, tem por objetivo definir e 
proteger os bens pertencentes ao patrimônio mundial, composto de bens 
naturais e culturais, conhecido como Patrimônio Cultural da Humanidade. 
Ao subscrever a Convenção, o Brasil assumiu um compromisso 
internacional de proteção e salvaguarda dos bens integrantes do patrimônio 
cultural nacional. Os bens protegidos são aqueles de excepcional valor universal, 
que devem ser preservados para as atuais e futuras gerações. 
A inclusão de bens brasileiros na Lista do Patrimônio Mundial, criada pela 
Convenção de 1972, e na Lista de Patrimônio Cultural Imaterial, introduzida pela 
Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial de 2003, pode 
contribuir com eficácia para preservação da natureza desses bens culturais, 
 
54 O dossiê Iphan sobre o ritual Yokwa pode ser acessado em: 
<http://portal.iphan.gov.br/portal/baixaFcdAnexo.do?id=3228>. Trata-se de um documento 
elaborado por uma equipe multidisciplinar com registros detalhados do território e das práticas 
culturais do Povo Enawene Nawe. 
16 
 
 
 
especialmente pela prestação de assistência internacional de ordem técnica, 
educativa e, até mesmo, financeira, através dos recursos do Fundo do 
Patrimônio Mundial criado pela UNESCO. 
A Constituição brasileira de 1988, seguindo a tendência internacional, 
adotou uma concepção ampla de patrimônio cultural, de orientação pluralista e 
multicultural, que valoriza a sociodiversidade brasileira e protege as 
manifestações culturais dos diferentes grupos sociais e étnicos, incluindo 
indígenas e outras comunidades tradicionais, como formas de concretizar os 
direitos à cidadania e garantir a continuidade de suas tradições, por meio da 
interação harmônica da ação humana com os espaços da natureza. Dessa 
integração entre cultura e natureza, exsurge a noção de meio ambiente cultural 
permeada pela necessidade de harmonização do homem com o meio ambiente 
que o cerca, cuja degradação crescente pode afetar sua própria existência. 
A legislação brasileira estabelece diversos instrumentos jurídicos, tais como 
o tombamento de bens imóveis, a chancela de paisagens culturais e o registro 
de bens culturais imateriais, que devem ser utilizados de forma integrada, por 
meio da atuação conjunta dos poderes públicos e dos grupos sociais envolvidos, 
para dar efetividade à tutela do meio ambiente, assim como fortalecer a 
identidade cultural brasileira. 
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Cultural. Direito Ambiental e Sociedade. v. 1, n. 1, jan./jun. 2011. 
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Disponível em: <http://tede.ucs.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=93>. Acesso em: 
29 jul. 2013. 
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Fórum Nacional do Patrimônio Cultural. Sessão Temática 4. v. 2, 2011. 
17 
 
 
 
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Sistemas de Proteção Internacional. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 1993.

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