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JUSTA CAUSA 3.pdf

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506 INICIAÇÃO AO DIREITO DO TRABALHO
Souza Netto^"'' considera como justas causas "todas aquelas que
tornam impossível a continuação do contrato, tendo em vista a confiança
e boa-fé que devem existir entre os contratant8S<". Para Evaristo de Moraes
Filho, a justa causa é conceituada como "todo ato doioso ou culposa-
mente grave, que faça desaparecer a confiança e a boa-fé que devem
entre elas (as partes) existir, tornando assim impossível o prosseguimento
da relação". Configura-se "por todo ato faltoso grave, praticado por uma
das partes, que autorize a outra a rescindir o contrato de trabalho que as
unia, sem prévia manifestação judiciai" {Wagner Giglio)S^^^ Segundo
Sonhomme,'"'"objetiva a seleção do homem de trabalho, capaz no sen
tido do interesse social, ordeiro no âmbito da produção e a defesa da
empresa organizada contra â ação dissolvente e nociva do mau trabalha
dor. Por via de conseqüência, além da feição de pena disciplinar, a norma
punitiva tem o poder liberador da responsabilidade patrornai pela ruptura
do contrato, excluindo a obrigação de qualquer indenização".
E — FORMA DA DISPENSA. Completa-se a noção de
dispensa com justa causa com algumas apreciações sobre três
aspectos: a forma, o local e o tempo.
Quanto à forma, a comunicação da dispensa não é
revestida de forma prevista em lei. com o que pode ser mera
mente verbal. Há convenções coletivas e sentenças normati
vas prevendo carta de dispensa. Da Carteira de Trabalho e Pre
vidência Social constará apenas a baixa, e não õ motivo da
extinção do contrato.
F SINDICÂNCIA. Há empresas que fazem sindicância
para apuração dos fatos e definição das responsabilidades, mas
não se trata de exigência legal. Em alguns países, nos quais as
empresas adotam o sistema da representação dos trabalhado
res, a dispensa deve ser comunicada a esse órgão. Em outros,
como a França, é obrigatório um diálogo com o empregado
antes da efetivação da dispensa.
G LOCAL DO ATO. Quanto ao iocal da sua prática, a
justa causa ocorrerá no estabelecimento ou fora dele. Há em
pregados que exercem funções externas, com o que o seu lo-
(22) Da Rescisão do Contrato de Trabalho de Duração Indeterminada. São Pau
lo: Saraiva, 1937, p. 73.
(23) A Justa Causa na Rescisão do Contrato de Trabalho. Rio de Janeiro: Fo
rense, 1968, p. 150.
(24) Justa Causa para Despedimento do Empregado. Florença, 1966, p.
(25) Despedida Justa. Guaíra, p. 162.
DISPENSA ARBITRARIA OU SEM JUSTA CAUSA 507_
cal de trabalho é a área geográfica ampla em que atuam, na
qual praticam a justa causa. Outros, embora exercentes de fun
ções internas, podem ter comportamento fora da empresa
qualificador também da justa causa, como a prática de atos de
concorrência ao empregador.
H — PRAZO PARA DESPEDIR. Quanto ao fator tempo,
não há prazo para que o empregador despeça, mas há a exi
gência já mencionada da imediação. Significa que entre a dis
pensa e a justa causa deve haver uma proximidade no tempo.
Como essa exigência é doutrinária, não se poderá explicitar
nada mais, a não ser indicar que, se a dispensa não se cumprir
nos dias imediatamente seguintes, pode descaracterizar-se a
justa causa. De outro lado, não o dia da falta, mas o do conhe
cimento da falta pelo empregador, é que é levado.am conta. Se
o empregador abriu sindicância, a partir das conclusões desta
é que se medirá a imediação.
I — CULPA RECÍPROCA. Finalmente, esclareça-se que
por culpa recíproca designa-se a dispensa de iniciativa do em
pregador, verificando-se em juízo que houve justa causa dos
dois sujeitos do contrato.
2. FIGURAS DE JUSTA CAUSA
Estão enumeradas na CLT (art. 482) e descritas em se
guida. Há algumas em outros dispositivos legais também indi
cados. Serão enunciados os conceitos ilustrados com exem
plos de jurisprudência.
A — IMPROBIDADE. É o ato lesivo contra o patrimônio da
empresa, ou de terceiro, relacionado com o trabalho. (Ex.: furto,
roubo, extorsão, falsificação de documentos para receber, hojas
extras, apropriação indébita de valores da empresa etc).
B — INCONTINÊNCIA DE CONDUTA. A incontinência de
conduta traduz-se pelo comportamento irregular do emprega
do, incompatível com a moral sexual. (Ex.: assédio sexual).
C — MAU PROCEDIMENTO. É o comportamento irregu
lar do empregado, incompatível com as normas exigidas pelo
senso comum do homem médio. Pequena é a diferença entre
mau procedimento e incontinência de conduta. Em ambas as
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iniciação a
o
 direito do trabalho
figuras os pressupostos são idênticos, a violação a u
m
a
 regra
de conduta admitida pelo homem c
o
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u
m
 c
o
m
o
 valida no grupo
social. No entanto, enquanto o mau procedimento e qualquer
ato infringente da norma ética, a incontinencia de conduta e
apenJro ato de natureza sexual. (Ex.: tráfico de drogas)
D 
—NEGOCIAÇÃO HABlTUAL.Trata-se de u
m
a
 figura que
encontra as suas raízes no Código Comercial de 1850, tanto
Issim que a expressão negociação habituai e comerciai, como
frisa Souza Netto: "Negociação e a ação de negociar. P!'3j,"car
u
m
 ato de comércio e, sendo habitual, importa e
m
 comerciar'
Acrescenta que, "embora a lei declare que a negociação
habitual possa ser por conta própria ou alheia, nao incli^, cer
tamente 
os casos e
m
 que o empregado tenha mais de urn
emprego desde que a coexistência deles nao acarrete prejuí
zos ^qualquer dos empregadores". Assim, é o ato de concor
rência desleal a
o
 empregador ou o inadequado exercício para-
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o
 cotinércio a sua causa. (Ex.: a
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^ia de uma ernpresa
para realizar o m
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o
 tipo de negocios do s
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 CONDENAÇÃO CRIMINAL SEM SURSiS. O
 traba
lhador Dode envolver-se n
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a
 questão criminal. Esta sujeito a
ím procesL crime, movido pelo Ministério Públ.co, e a uma
condenação do Juiz Criminal
.
 Essa pena, e
m
 alguns casos,
não é cumprida, pois o Juiz Criminal, considerando os antece
dentes do réu ou a natureza do ato que praticou, suspende a
sua execução. Sursis significa suspensão condicionai da pena.
denado por a
s
s
alto).
E
 
DESÍDIA. Desempenhar as funções com desídia é
fazê-lo com negligência. Desde que haja gravidade, configura-
se a justa causa (Ex. 15jaltas reiteradas ao serviços sem.jus-
tificação).
G 
—
 EMBRIAGUEZ. A embriaguez, resultante do álcool e
de tóxicos, é justa causa para o despedimento do empregado
(26) Souza Netto. Da Rescisão do Contrato de Trabalho de Duração Indetermi
n
ada. São Paulo: Saraiva. 1937, p.73
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(Ex.: O
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mpregado que s
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mbriaga n
o
 serviço). Quanto à e
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briaguez habituai, fora do s
e
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viço e
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a
 vida privada do e
mprega
do, desde que transpareçam n
o
 a
mbiente de trabalho o
s
 efeitos
dessa situação de ebriedade pela C
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 é justa c
a
u
s
a
.
 Porém, o
Código Civil (art. 4-), considerou relativamente incapazes o
s
 ébrios
habituais e
 o
s
 viciados e
m
 tóxicos. N
ã
o
 houve ainda interpretação
definitiva pelos Tribunais s
obre o
s
 efeitos da lei civil n
a
 justa c
a
u
s
a
 trabalhista e
 a
s
 interpretações são divergentes, para u
n
s
 não
havendo n
e
nhum efeito porque a
 lei trabalhista é e
special c
a
s
o
e
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 que não é cabível aplicação subsidiária do direito c
o
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u
m
,
enquanto que para outros a
s
 n
o
v
a
s
 disposições do Código Ci
vil r
e
v
ogaram n
e
s
s
e
 ponto a
 lei trabalhista.
A
 jurisprudência v
e
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 alterando a
 interpretação do dispo
sitivo legal que c
o
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sidera e
mbriaguez habitual justa c
a
u
s
a
,
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o
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 vê peloseguinte a
córdão do Tribunal Superior do Trabalho:
"Justa C
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 Alcoolismo Crônico. Art. 4
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1. N
a
 atualidade, o
 alcoolismo c
rônico é formalmente r
e
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o
nhe
cido c
o
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o
 doença pelo Código internacional de Doenças (CID)
da Organização Mundial de Saúde O
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.
 que o
 classifica s
ob o
título de síndrome de dependência do álcool (referência F-10.2).
É patologia que gera c
o
mpulsão, impele o
 alcoolista a
 c
o
n
s
u
mir descontroladamente a
 s
ubstância psicoativa e
 retira-lhe a
c
apacidade de discernimento s
obre s
e
u
s
 atos. Clama, pois, por
tratamento e
 
não por punição. 2. O
 dramático quadro social
advindo desse m
aldito vício impõe q
u
e
 s
e
 dê s
olução distinta
daquela que imperava e
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 1943, quando passou a
 viger a
 letra
fria e
 hoje c
aduca do art. 482, f, da CLT, n
o
 que tange à e
mbria
guez habitual. 3. Por conseguinte, incumbe a
o
 e
mpregador, seja
por motivos humanitários, seja porque lhe toca indecUnável res
ponsabilidade social, a
o
 invés de optar pela resolução do c
o
n
trato de e
mprego, s
e
mpre que possível, afastar o
u
 m
a
nter afas
tado do serviço o
 e
mpregado portador dessa doença, a
 fim de
que s
e
 s
ubmeta a
 tratamento médico visando a
 recuperá-lo.
4. Recurso de e
mbargos c
o
nhecido, por divergência jurispru-
dencial, e
 provido para restabelecer o
 a
córdão regional." (TST-
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 586.320/1999.1 
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 Rei. Min. J
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 21.5.04 
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 p. 401)
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IOLAÇÃO D
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 A
 violação de s
egredo é
a
 divulgação não autorizada das patentes de invenção, méto
dos de e
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ução, fórmulas, escrita comercial e, enfim, de todo
fato. ato o
u
 c
oisa que, de u
s
o
 o
u
 c
o
nhecimento exclusivo da
INICIAÇÃO AO DIREITO DO TRABALHO
empresa, não possa ou não deva ser tornado público, sob pena
de causar prejuízo remoto, provável ou imediataà empresa (Ex.;
p empregado de confiança que desenvolvia software.para usa
do empregador e o passava para outra empresa)
I indisciplina. Indisciplina é o descumprimento de
ordens gerais de serviço. Portanto, é a desobediência às determi
nações contidas em circulares, portarias, instruções gerais da em
presa escritas ou verbais. (Ex.: sair do estabelecimento durante
o horário do trabalho sem avisar ó"chefe e injuslificadamente)
j insubordinação. Insubordinação é o descumpri-
mento de ordens pessoais de serviço. Difere da indisciplma por-
nue a ordem infringida não tem o caráter de generalidade, mas
sim de pessoalidade. (Ex.: recusar-se a mover umaJi^uina ^
que é da sua funçãq,^ contrariando as oeTerminaçoes do.ch^Té)
L _ abandono de emprego, Para alguns, não se
trata de iusta causa, mas de um modo de extinção do contrato
de trabalho por iniciativa do empregado. Porem, a lei brasi eira
incluiu o abandono de emprego entre as justas causas. Configu
ra-se o abandono de emprego medianíe a ausência continuada
do empregado com o ânimo de não mais trabalhar.
Dois requisitos o caracterizam: o decurso de um período
determinado de ausência ao serviço (elemento objetivo) e a
intenção manifesta do empregado em romper o_ contrato (ele
mento subjetivo). Ambos, em conjunto, rnas nao apenas um
deles isoladamente, dão vida à questionada figura^ Nao basta,
portanto, a omissão prolongada de trabalhar. Nao ha um prazo
fixado pela lei para que o abandono se configure. A jurispru
dência exige, às vezes, 30 dias. Porém, mesmo em prazos
menores, o abandono pode estar plenamente configurado quan
do não se configurar em prazo maior. (Ex.: o ,empregado que
após alta médica no INSS,não comparece mais a empresa, so
"o fazendo depois de 40 dias sem justificação)
M _ ato lesivo a honra E boa FAMA. É a ofensa a
honra, do empregador ou terceiro, nesse caso r_elacionada com
o serviço, mediante injúria, calúnia ou difamaçao. (Ex.: expr^-
sões de baixo calão, usadas como resposta^^ma solicitação
diretãrdo empregador, desrêspêitosas~e cõr^nUJito pfensjyq).
N — OFENSA FÍSICA. É a agressão, tentada ou consu
mada, contra o superior hierárquico, empregadores, colegas
DISPENSA ARBITRARIA OU SEM JUSTA CAUSA 5U
ou terceiros, no locai do trabalho ou em estreita relação com o
serviço. Há uma impropriedade da lei quando se utiliza da ex
pressão ofensa física, que dá a idéia da necessidade, como
requisito configurador da falta, da existência efetiva de lesão
corporal ou ferimento no ofendido. As vias de fato estariam,
assim, excluídas. Porém, mesmo que tal ocorra, ainda que não
haja lesões, a falta existirá. O local da agressão será a empre
sa ou outro qualquer, desde que a violência em sl tenha rela
ção direta com o serviço. (Ex.: briga com lesões corporais en
tre dois empregados, no locárdè~sè7y!çõJT7\ Iégrtrrfrá"àéfesa é
êxcludenté dá justa caüsá."
O — PRÁTICA CONSTANTE DE JOGOS DE AZAR. São jo
gos de azar apenas aqueles assim descritos pela legislação
contravencional em vigor no País. (Ex.: jogo de bicho, rífas não auto
rizadas, apostas de corridas de cavalo fora de local autorizado etc).
Desde que o empregado se dedique constantemente a
jogos de azar, estará praticando justa causa.
A habitualidade é necessária para a configuração da falta.
P — OUTRAS JUSTAS CAUSAS. Quanto ao bancário, a
falta contínua de pagamento de dívidas legalmente exigíveis
(art. 508 da CLT); a falta reiterada do aprendiz aos trabalhos
escolares do curso de aprendizagem em que esteja matricula
do (art. 432, § 2-)\ a recusa do ferroviário ao cumprimento de
horas extraordinárias, em se tratando de casos de urgência ou
acidentes (art. 240, parágrafo único); a recusa injustificada de
observar as Instruções expedidas pelo empregador e o uso dos
equipamentos por ele fornecidos, para segurança do trabalho
(art. 158, parágrafo único). A expressão "ato faltoso" eqüivale a
justa causa, tanto assim que a recusa, em questão, configura
ato de indisciplina ou insubordinação (CLT, art. 158).
3. QUESTIONÁRIO
1) Que é sistema genérico de justa causa?
2) Que é sistema taxativo de justa causa?
3) Quais são os elementos da estrutura da justa causa?
4) Há forma prevista em lei para a dispensa do empregado não
estável?

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