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1 DIREITO INTERNACIONAL – TAE 1 andrematta.blogspot.com.br DIREITO INTERNACIONAL TRABALHO ACADÊMICO EFETIVO – AULA 1 Questionário 1. Quais são os sujeitos de direito internacional público? O que significa ser sujeito de direito? E os demais são o quê? Os sujeitos de direito internacional público são somente os Estados e as Organizações Internacionais (formadas por Estados). Pois, sujeitos de direito são aqueles capazes de ser titulares de direitos e obrigações. Os demais sujeitos são considerados apenas atores internacionais, pois, de alguma forma, participam das relações jurídicas e políticas internacionais. Isso é o que ocorre, por exemplo, com o exercício de alguns direitos por indivíduos, como a capacidade postulatória em tribunais internacionais para a proteção de direitos humanos; por empresas, em órgãos internacionais de solução de controvérsias sobre investimentos; ou por organizações não governamentais, em diferentes instâncias1. 2. Quais são as principais características do direito internacional público? As principais características do direito internacional público são: - a obrigatoriedade de normas para todos os Estados que assinaram o tratado (tem um conjunto normativo obrigatório para todos); - é um conjunto normativo com poderes de sanção; - inexistência de subordinação dos sujeitos de direito internacional público a um Estado; - inexistência de uma norma constitucional acima das demais normas; - inexistências de atos jurídicos unilaterais obrigatórios, oponíveis a toda a sociedade internacional2. 3. Quais são os princípios norteadores do direito internacional público? Os princípios norteadores do direito internacional público que dão organicidade e lógica ao sistema jurídico são: 1. Princípio da Igualdade Soberana, que pressupõe que todos os Estados são iguais perante o direito. 2. Princípio da Autonomia, da Não Ingerência nos Assuntos Internos dos Outros Estados, que significa que o Estado pode governar-se de acordo com seus próprios interesses. Está estreitamente ligado ao princípio da não ingerência nos assuntos internos dos outros Estados, que determina a não interferência nos demais Estados. 3. Princípio da Interdição do Recurso à Força e a Solução Pacífica das Controvérsias, que na verdade são dois princípios intimamente relacionados, significa que os sujeitos de direito internacional devem procurar resolver suas diferenças pelos instrumentos pacíficos existentes. 1 VARELLA, Marcelo D. Direito Internacional Público. 4 ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 23. 2 Ibid., p. 24-25. 2 DIREITO INTERNACIONAL – TAE 1 andrematta.blogspot.com.br 4. Princípio do Respeito aos Direitos Humanos, que significa que todos os Estados devem buscar a proteção dos direitos humanos, hoje considerado um valor comum a todos os sistemas de direito. 5. Princípio da Cooperação Internacional, que significa que os Estados devem agir em conjunto, colaborando para a busca de objetivos comuns3. 4. Quais são as fontes de direito mencionadas no artigo 38 do Estatuto da Corte Internacional de Justiça? Fale sobre cada uma delas. O artigo 38 do Estatuto da Corte Internacional de Justiça menciona as seguintes fontes de direito internacional: 1. as convenções internacionais, quer gerais, quer especiais, que estabeleçam regras expressamente reconhecidas pelos Estados litigantes; 2. o costume internacional, como prova de uma prática geral aceita como sendo o direito; 3. os princípios gerais de direito, reconhecidos pelas nações civilizadas; 4. as decisões judiciárias e a doutrina dos publicistas mais qualificados das diferentes nações, como meio auxiliar para a determinação das regras de direito. 3 VARELLA, Marcelo D. Direito Internacional Público. 4 ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 26-27. 1 DIREITO INTERNACIONAL – TAE 2 andrematta.blogspot.com.br DIREITO INTERNACIONAL TAE – AULA 02 – QUESTIONÁRIO 1. Quais são as características gerais dos tratados? As características gerais ou princípios gerais dos tratados ou do direito dos tratados são: a) Consensualismo, que se fundamenta sobre a autonomia da vontade dos sujeitos de direito internacional. Um tratado precisa de, ao menos, dois sujeitos de direito internacional (Estados ou Organizações Internacionais) para existir. Os próprios sujeitos definem as características do futuro tratado. b) Ausência de hierarquia, pois não há hierarquia entre os tratados. Cada fonte normativa cria normas próprias que não tem relação hierárquica com outras normas existentes. A exceção à regra é o "jus cogens", considerado uma espécie de norma obrigatória a todos os Estados e que, portanto, coloca-se acima dos demais tratados. c) Ausência de formalismo, pois, embora os tratados devam ser realizados por escrito, não há procedimentos específicos, rígidos para a redação dos tratados. Em que pese haver, mesmo não sendo obrigatória, na maioria das vezes, uma lógica própria, construída costumeiramente, no processo de elaboração dos tratados. Também não há uma uniformidade de nomenclatura dos tratados, como existe nas normas de direito interno1. 2. Como são classificados os tratados? Os tratados são classificados segundo dois critérios: de ordem formal (forma dos tratados) ou conforme a natureza material (conteúdo dos tratados). As classificações mais úteis de ordem formal dos tratados são: 1. em função do número de partes : bilaterais (dois Estados) ou multilaterais (mais de dois Estados); 2. quanto à qualidade das partes : entre Estados ou entre Estados e Organizações Internacionais; 1 VARELLA, Marcelo D. Direito Internacional Público. 4 ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 40. 2 DIREITO INTERNACIONAL – TAE 2 andrematta.blogspot.com.br 3. quanto ao procedimento de assunção do compromisso pelos Estados: exibilidade ou não da ratificação para o engajamento definitivo dos Estados, ou seja, se o ato é suficiente para o comprometimento definitivo. Em relação à natureza material dos tratados (conteúdo dos tratados), tem-se: 1. em função da natureza do tratado : contrato ou norma. Tratados-norma criam regras de direito, em geral comuns às partes, sem uma contraprestação específica dos Estados. Tratados-contrato criam benefícios recíprocos, em geral de cunho econômico ou financeiro. 2. em função da matéria : direitos humanos ou tratados em geral. Os tratados de direitos humanos são considerados, por muitos Estados, como de importância diferenciada, por vezes de hierarquia superior, fundamentado no sentido da norma, pois o tratado não seria uma obrigação em relação aos demais Estados, mas uma obrigação em relação aos indivíduos de cada Estado2. 3. Qual a particularidade dos tratados em direitos humanos? Como eles são tratados pelo ordenamento jurídico brasileiro? Os tratados de direitos humanos são considerados, por muitos Estados, como de importância diferenciada, por vezes de hierarquia superior. Essa ideia tem como fundamento o sentido da norma, pois o tratado não seria uma obrigação em relação aos demais Estados, mas uma obrigação em relação aos indivíduos de cada Estado. No ordenamento jurídico brasileiro, após a Emenda Constitucional nº 45/2004, que incluiu o § 3º ao art. 5º, há a previsão de que, se um tratado for considerado de direitos humanos, ele poderá ser submetido ao procedimento de aprovação similar ao de uma emenda constitucional. Se aprovado com o “quorum” de emenda constitucional,terá força de norma constitucional. Se não for aprovado com esse “quorum”, terá força de norma infraconstitucional3. 2 VARELLA, Marcelo D. Direito Internacional Público. 4 ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 45-46. 3 Ibid., p. 46. 1 DIREITO INTERNACIONAL – TAE 3 andrematta.blogspot.com.br DIREITO INTERNACIONAL TAE – AULA 3 1. Qual a diferença entre assinatura e ratificação? A assinatura do tratado é o ato emanado pelo representante do Estado, concordando com seu conteúdo. O procedimento se concretiza com a troca de notas ou cartas entre as partes. Cada Estado ou Organização Internacional tem a competência de indicar a pessoa responsável pela assinatura. Em geral, a assinatura é realizada pelo Chefe do Poder Executivo, competência determinada pela Constituição1. Por sua vez, a ratificação é ato formal do Estado pelo qual indica seu consentimento em estar submetido a um determinado tratado. Também é conhecida por aceitação, aprovação ou ato formal de confirmação. Nos tratados bilaterais, a ratificação é realizada com a troca de notas diplomáticas entre os sujeitos envolvidos. Nos tratados multilaterais, para ser considerada válida, a ratificação precisar ser registrada no secretariado da Convenção ou do respectivo órgão depositário. Cada Estado pode definir quem será competente para ratificar tratados. Em geral, a sua aprovação é privativa do Poder Legislativo, sendo em seguida realizada pelo Poder Executivo. 2. Como se dá a ratificação no Brasil? Ela é suficiente para que o tratado seja incorporado ao ordenamento brasileiro? De quem é a competência para a ratificação dos tratados? E para a denúncia dos tratados? No Brasil, a ratificação de um tratado se dá por meio de um processo administrativo que percorre o seguinte trâmite: - O Ministério das Relações Exteriores traduz o texto negociado para o português, prepara uma Minuta da Mensagem Presidencial, faz a análise jurídica da legalidade do texto e encaminha ao Presidente da República; - a Casa Civil da Presidência da República faz uma análise da legalidade e do mérito do tratado, tecendo suas considerações; - o Presidente, estando de acordo, envia a Mensagem, acompanhada da Exposição de Motivos à Câmara dos Deputados; - O Senado Federal aprova o tratado; - O Presidente do Senado Federal promulga, então, um Decreto Legislativo, que é publicado no Diário Oficial do Senado. Este ato representa o referendo do Congresso Nacional. 1 VARELLA, Marcelo D. Direito Internacional Público. 4 ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 63. 2 DIREITO INTERNACIONAL – TAE 3 andrematta.blogspot.com.br - O Poder Executivo ratifica o tratado, com o depósito do instrumento de ratificação perante o órgão depositário. O Poder Executivo ratifica o tratado porque ele é o único com competência para agir internacionalmente em nome do Estado. Após a autorização pelo Congresso, o chefe do Poder Executivo, por meio do Ministério das Relações Exteriores, procede à ratificação. A partir de então, o Brasil se compromete perante os demais Estados-partes. - O Poder Executivo publica o Decreto Executivo, promulgando e internalizando o tratado, a partir do momento em que este integra a ordem jurídica interna. Os tratados podem ser denunciados pelos próprios Estados2. 3. Como é efetuado o engajamento parcial ou condicional em tratados? O engajamento parcial ou condicional em tratados se refere à possibilidade de o Estado ou da Organização Internacional limitar seu consentimento a parte do texto do tratado ou então aceitá- lo, desde que seja interpretado em determinado sentido, opondo, para tanto, reservas ou declarações interpretativas. A reserva é uma declaração unilateral, feita por um sujeito de direito internacional ao assinar, ratificar, aceitar ou aprovar um tratado ou a ele aderir, com o objetivo de excluir ou modificar o efeito jurídico de certas disposições do tratado em sua aplicação nesse Estado ou Organização Internacional. As reservas limitam os efeitos jurídicos do tratado para uma das partes, em relação às demais. As declarações interpretativas é a manifestação unilateral do Estado ou da Organização Internacional, pela qual concorda com o engajamento ao tratado, condicionando a que determinada parte do texto do tratado seja interpretada de uma forma particular3. 4. Soft norms são importantes para o direito internacional? Por quê? As “soft norms” são importantes sim para o direito internacional vez que, embora não tenham o mesmo grau de atribuição de capacidades nem são tão importantes quanto às normas restritivas, os Estados comprometem-se a cooperar e a respeitar os acordos realizados, sem submeter-se, no entanto, a obrigações jurídicas. Essa modalidade de comprometimento representa uma atribuição de capacidade, sendo que o Estado permite à comunidade internacional garantir primeiramente um controle moral sobre as disposições dos acordos e, depois, porque esses acordos servem como base à realização de futuros acordos restritivos. Por isso, constituem uma etapa intermediária da atribuição de capacidade, já portadora de consequências concretas. 2 VARELLA, Marcelo D. Direito Internacional Público. 4 ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 75. 3 Ibid., p. 77-80. 3 DIREITO INTERNACIONAL – TAE 3 andrematta.blogspot.com.br 5. Quais são as condições de validade dos tratados? Quais são os vícios de consentimento? Para ser válido, o tratado precisa atender a três critérios: 1. ter partes capazes para o ato; 2. ter objeto lícito e possível ; 3. ser o resultado do consentimento livre das partes4. Os vícios de consentimento são: - o erro, que deve ser de fato e não de direito; - o dolo, que é o vício de consentimento gerado por conduta fraudulenta, que cria uma situação fictícia para conduzir o Estado ou a Organização Internacional a manifestar sua vontade em desacordo com a realidade; - a coação, que ocorre quando o representante é obrigado a comprometer o Estado ou Organização Internacional, seja por pressão psicológica, seja pelo uso da violência ou grave ameaça; - e a corrupção, que ocorre quando a manifestação da vontade do representante do Estado ou da Organização Internacional foi motivada por vantagem pessoal direta ou indireta, oferecida pela outra parte ou por particular 5. 6. Quais são os limites territoriais e temporais dos tratados? Quanto ao limite territorial, o tratado é válido somente para as partes que o ratificaram (“pacta tertiis Nec nocent Nec prosunt”). Qualquer incidência sobre terceiros pode ser considerada violação ao princípio da liberdade de consentimento e da igualdade soberana entre os Estados, que estariam submentidos a um texto sem seu consentimento. Todavia, há três exceções possíveis a essa regra: 1. O tratado atinge indiretamente terceiros, prejudicando-os. Nesse caso, não importa qual seja o dano, cabe responsabilidade internacional e reparação. 2. O tratado atinge diretamente um terceiro Estado, beneficiando-o. 3. Em alguns casos, o tratado pode gerar efeitos sobre terceiros que não o ratificaram. Trata- se da regra da não oponibilidade do contrato a terceiros6. Quanto ao limite temporal, os tratados não geram efeitos retroativos. Ou seja, os tratados são exigíveis somente a partir de sua entrada em vigor. A única situação em que os tratados podem retroagir ocorre quando os Estados aceitam a retroatividade no próprio tratado de forma expressa no seu texto ou quando a interpretação dos efeitos do tratadoapenas pode ocorrer se a retroatividade for possível7. 4 VARELLA, Marcelo D. Direito Internacional Público. 4 ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 99. 5 Ibid., p. 107-111. 6 Ibid., p. 113. 7 Ibid., p. 116. 4 DIREITO INTERNACIONAL – TAE 3 andrematta.blogspot.com.br 7. Como pode ser controlada a efetividade dos tratados? Este controle fere o consentimento dos Estados? A efetividade dos tratados pode ser controlada por meio de mecanismos ou de instrumentos disponibilizados pelos próprios Estados que atribuem capacidades de fiscalização de seus atos aos demais Estados ou às Organizações Internacionais. Por esse motivo, esses mecanismos de controle de efetividade dos tratados não ferem o consentimento dos Estados. Esses instrumentos de controle são: - relatórios, que são documentos produzidos pelos Estados ou Organizações Internacionais que descrevem a implementação do tratado em seus territórios ou em temas sob seus domínios; - inspeções, que são verificações, por representantes externos, das atividades realizadas por um Estado para cumprimento de um tratado. - organizações internacionais de controle, que têm por objetivo a uniformização dos critérios de elaboração dos relatórios, seu controle, a difusão de informações produzidas pelos Estados- membros, pelas organizações não governamentais, pelos meios científicos e por outras Organizações Internacionais, a transferência de tecnologia, entre outras. Elas servem também como fórum de negociações para os avanços dos demais tratados sobre o mesmo tema. São comissões ou secretariados criados a partir de um tratado. - medidas unilaterais negativas e positivas. Embora não sejam consideradas instrumentos típicos de controle. As medidas unilaterais positivas são estímulos de Organizações Internacionais ou de Estados em face de resultados favoráveis ao cumprimento de determinado tratado. As medidas negativas são punições por seu não cumprimento8. 8. Quais são as modalidades de interpretação dos tratados? Em qual situação eles são incompatíveis? As modalidades de interpretação dos tratados são: 1. autêntica, quando realizada pelos próprios Estados na dúvida ou com base na percepção da vontade dos Estados à época da negociação do tratado (princípio da contemporaneidade); 2. não autêntica, quando operada pelos tribunais. Essa é feita pelos juízes ou árbitros internacionais9. Os tratados são incompatíveis quando têm dispositivos contrários, válidos entre as mesmas partes, ao mesmo tempo10. 8 VARELLA, Marcelo D. Direito Internacional Público. 4 ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 119-125. 9 Ibid., p. 126. 10 Ibid., p. 132. DIREITO INTERNACIONAL – TAE 4 andrematta.blogspot.com.br DIREITO INTERNACIONAL TAE – AULA 04 1. Quais são os elementos que formam o costume? Há um tempo mínimo para a formação do costume? Quando um costume é extinto? Os constumes internacionais são práticas aceitas pelos Estados como direito aplicável, durante um período razoável de tempo. Nesse sentido, tem-se que o costume é formado por três elementos : 1. o objetivo ou material : o uso (a prática de direito aplicável) ; 2. o subjetivo : a aceitação pelos Estados como direito aplicável; 3. o espacial : se o costume é universal ou regional (local)1. Todavia, inexiste um período de tempo mínimo para a configuração do costume. Pois, com o avanço da internacionalização do direito e da globalização, a configuração dos costumes pode ocorrer em espaços curtos de tempo. A determinação do tempo dependerá da configuração da aceitação (elemento subjetivo) pelos Estados e do objeto em discussão2. Quanto à extinção do costume, essa se dá quando : - o costume deixa de ser praticado pelos sujeitos de direito internacional; - um tratado, contrário ao costume, é ratificado entre os mesmos Estados. 2. Princípios gerais de direito e princípios jurídicos são a mesma coisa? Dê exemplos de PGD. Princípios gerais de direito não são o mesmo que princípios jurídicos, pois enquanto esses são aplicados apenas a alguns sistemas nacionais, ou seja, são reconhecidos somente no direito interno, aqueles são regras amplamente aceitas pela sociedade internacional, consolidadadas por constumes internacionais. Essa consolidação pode decorrer da repetição em tratados, ou no uso em razões de julgamento comumente aplicadas nos tribunais nacionais e internacionais São exemplos de princípios gerais : - Princípio da Igualdade Sobera ; - Princípio da Autonomia, não ingerência nos assuntos internos dos outros Estados ; - Princípio da Interdição do Recurso à Força e Solução Pacífica das Controvérsias ; - Princípio do Respeito aos Direitos Humanos ; - Princípio da Cooperação Internacional3. 1 VARELLA, Marcelo D. Direito Internacional Público. 4 ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 147. 2 Ibid., p. 148. 3 Ibid., p. 154-155. DIREITO INTERNACIONAL – TAE 4 andrematta.blogspot.com.br 3. Atos unilaterais constituem norma de direito ou meros atos jurídicos? Qual a diferença entre eles? Somente estados editam atos unilaterais? No Direito Internacional Público os atos unilaterais constituem normas de direito, não sendo considerados meros atos jurídicos, pois esses geram efeitos sem criar obrigações. Os atos unilaterais em Direito Internacional Público são manifestações autônomas e não equívocas de uma vontade formulada publicamente por um ou vários Estados ou Organizações Internacionais, endereçadas a um ou vários Estados da sociedade internacional em geral ou de uma Organização Internacional, com a intenção de criar obrigações jurídicas no plano internacional. Ante o exposto, nota-se que tanto os Estados como as Organizações Internacionais editam atos unilaterais4. 4. Qual a importância da doutrina, jurisprudência, analogia e equidade como fonte de direito internacional? A doutrina é importante como fonte de direito internacional por representar o conhecimento gerado pelos estudiosos do direito internacional, por meio de livros e artigos que iluminam interpretações e abrem novos caminhos para a construção e utilização do direito5. A jurisprudência é uma fonte importante de direito internacional porque é inegável que as interpretações anteriores dos tribunais exercem uma influência importante nos julgados futuros. Todavia, para que um precedente jurídico internacional seja considerado, é importante que seja oriundo de um tribunal internacional, em geral dos casos paradigmáticos (leading cases), que primeiro analisaram a fundo o problema6. A analogia – embora não prevista no art. 38 da Corte Internacional de Justiça e também não ser considerada um fonte de direito propriamente dita, mas sim um método de raciocínio jurídico – mostra-se importante para o direito internacional por, quando não houver uma regra para o caso, aplicar-se-á uma regra de um caso similar. A equidade – embora não seja propriamente uma fonte de direito, mas um técnica de interpretação judicial – é importante para o direito internacional por permitir a busca por uma solução justa, pois permite que o julgador utilize a interpretação da norma que mais favoreça a consecução da justiça. Todavia, o uso da equidade no direito internacional só é permitida quando autorizada pelas partes envolvidas7. 5. Qual a diferença entre a personalidade jurídica dos Estados e das OIs? A natureza jurídica dos Estados e das Organizações Internacionais é a mesma : pessoa jurídica dedireito internacional. A personalidade jurídica internacional se subdivie em: originária, dos Estados, que decorre do contrato social e em virtude da soberania de cada Estado; e derivada, das Organizações Internacionais, que decorre da vontade dos Estados. As Organizações 4 VARELLA, Marcelo D. Direito Internacional Público. 4 ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 160. 5 Ibid., p. 167. 6 Ibid., p. 165-166. 7 Ibid., p. 166. DIREITO INTERNACIONAL – TAE 4 andrematta.blogspot.com.br Internacionais têm limites de competência predeterminados pelos próprios membros que a constituem, possuem capacidade funcional. Já os Estados têm capacidade universal. A principal diferença é a origem do fundamento: nos Estados, existe uma justificativa interna para a personalidade jurídica, originada da faceta interna da soberania. Nas Organizações Internacionais, o único elemento justificador é externo, derivado apenas da soberania dos Estados-membros. 6. Indivíduos e empresas publicas ou privadas têm personalidade jurídica internacional? Não, pois são meros atores de direito internacional, somente os sujeitos de direito internacional possuem personalidade jurídica internacional. Todavia, para alguns doutrinadores, os indivíduos possuem personalidade internacional restrita (capacidade postulatória em tribunais sobre direitos humanos). 1 DIREITO INTERNACIONAL – TAE 5 andrematta.blogspot.com.br DIREITO INTERNACIONAL TAE – AULA 05 1. O que é nacionalidade? Bens e empresas possuem nacionalidade? A nacionalidade é o vínculo jurídico-político de fidelidade entre o Estado e o indivíduo, atribuído pelo Estado, no exercício de seu poder soberano. Da nacionalidade derivam direitos e obrigações de ambos os lados1. Bens e empresas não possuem nacionalidade, pois, essa, como elemento constitutivo do Estado, aplica-se apenas a pessoas físicas. Contudo, o conceito de nacionalidade é extensível a pessoas jurídicas (empresas) e coisas (bens). A atribuição de nacionalidade às pessoas jurídicas ou às coisas tem natureza diversa2. 2. Qual a diferença entre nacionalidade originária e derivada? Quais são os critérios para atribuição de nacionalidade originária? A nacionalidade originária, também chamada de primária, relaciona-se a elos diretos com o Estado. Natos são os detentores da nacionalidade originária, ou seja, é a adquirida no nascimento. A nacionalidade derivada ou adquirida é aquela solicitada por vontade própria, por uma decisão do indivíduo. Ocorre após um processo de naturalização que requer o preenchimento de alguns critérios. Naturalizados são os detentores de nacionalidade derivada. A nacionalidade originária pode ser atribuída por diferentes critérios: 1. Critérios territoriais, fixados pelo local do nascimento (do latim “jus solis”). 2. Critérios familiares (descendentes), fixados por laços sanguíneos (do latim “jus sanguinis”). 3. Critérios mistos, quando considerados os dois critérios anteriores conjuntamente3. 3. Como se dá a aquisição de nacionalidade brasileira? E a perda? A aquisição da nacionalidade brasileira se dá conforme as seguintes situações: 1. brasileiros natos; 2. brasileiros naturalizados; 3. dupla nacionalidade; 4. portugueses no Brasil4. A perda da nacionalidade brasileira é estabelecida na Constituição Federal e aplicável quando o brasileiro: 1 VARELLA, Marcelo D. Direito Internacional Público. 4 ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 176. 2 Ibid., p. 179. 3 Ibid., p. 182. 4 Ibid., p. 183. 2 DIREITO INTERNACIONAL – TAE 5 andrematta.blogspot.com.br 1. tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de atividade nociva ao interesse nacional ; 2. adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos : a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira ; b) de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro residente em Estado estrangeiro, como condição para permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis5. 4. Quais são os limites e possibilidades de possuir a dupla nacionalidade brasileira? A dupla nacionalidade é admitida pela legislação brasileira em dois casos: 1. reconhecimento da nacionalidade estrangeira pela lei brasileira; 2. imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro residente em Estado estrangeiro, como condição para permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis6. 5. Em quais situações estrangeiros podem permanecer no Brasil de modo regular? A entrada de um estrangeiro no Brasil depende de um visto de entrada. O visto é uma autorização dada pela autoridade brasileira para a permanência do estrangeiro no país por um determinado período de tempo. É concedido pela autoridade consular brasileira no exterior ou pela Polícia Federal no Brasil. O visto não assegura a entrada automática do estrangeiro no Brasil, pois esse está sujeito à discricionariedade de uma reavaliação da Polícia Federal da decisão de entrada quando o estrangeiro chega aos postos de fronteira nacionais. Os vistos brasileiros podem ser de diferentes modalidades: 1. turista, concedido por 90 dias prorrogáveis por igual período, não podendo exceder 180 dias em 12 meses; 2. temporário, com prazos variados para estudantes, negócios, esportes, cientistas, jornalistas, religiosos. 3. permanente; 4. outros, concedidos pelo Ministério das Relações Exteriores, como o visto cortesia, o diplomático ou o oficial. Outras formas de entrada e permanência de estrangeiros no Brasil são por meio de asilo e de refúgio. O direito de asilo é a proteção concedida pelo Estado nacional ao estrangeiro perseguido por suas opiniões políticas, religiosas ou raciais. No Brasil, trata-se de garantia constitucional, (art. 4º, X, CF/1988). Há duas formas de asilo: o asilo diplomático, que é concedido ao estrangeiro pela autoridade diplomática brasileira no exterior; e o asilo territorial, que é concedido ao estrangeiro no Brasil. 5 VARELLA, Marcelo D. Direito Internacional Público. 4 ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 194. 6 Ibid., p. 192. 3 DIREITO INTERNACIONAL – TAE 5 andrematta.blogspot.com.br O direito de refúgio é a proteção do Estado nacional ao estrangeiro ou a um grupo de estrangeiros perseguidos em função de sua raça, religião, nacionalidade ou opção política, desde que haja fundado temor de perseguição em seu país, onde não haverá um julgamento justo, com o devido processo legal7. 6. Quais são as modalidades de retirada forçada de estrangeiros do Brasil? Aponte as especificidades de cada uma e o procedimento utilizado. As modalidades de retirada forçada do país são: 1. Deportação: é a retirada do território nacional do estrangeiro irregular no Brasil, por questões administrativas ou causas diversas, como: a) entrada irregular no território nacional; b) circulação por municípios para os quais o estrangeiro não tem autorização de ir, o que ocorre com aqueles habitantes de municípios fronteiriços e que podem circular por determinados municípios brasileiros sem visto; c) expiração do visto; d) exercício de atividade remunerada pelo detentor de visto de turista, de trânsito temporário; e) não comunicação ao Ministério da Justiça da mudança de endereço, até 30 dias após a efetivação da mudança. Apurada a irregularidade, a Polícia Federal notifica o estrangeiro para que saia do país, concedendo-lhe um prazo quegeralmente é exíguo (até oito dias). Se o estrangeiro não sair do território nacional, ele será deportado. O próprio estrangeiro deve arcar com os custos da deportação. Se não tiver recursos, o Tesouro Nacional arcará com os custos e o deportado será enviado a seu país de origem ou a outro que o aceite, caso não queira retornar a seu país. De qualquer forma, o estrangeiro não poderá retornar ao Brasil sem ressarcir ao Tesouro Nacional as despesas incorridas em sua deportação. 2. Expulsão: é a retirada forçada do estrangeiro do território nacional, por ter cometido crime no Brasil ou por questões de segurança nacional (questões políticas). Trata-se de ato unilateral do governo brasileiro. São hipóteses de expulsão: a) atentar contra a ordem política ou social, a tranquilidade ou a moralidade pública e a economia popular; b) praticar procedimentos que o torne nocivos à conveniência e aos interesses nacionais; c) praticar fraude a fim de obter sua entrada ou permanência no Brasil; d) havendo entrado no território nacional com infração à lei, dele não se retirar no prazo que lhe for determinado para fazê-lo, não sendo aconselhável a deportação. e) entregar-se a à vadiagem ou a mendicância; f) desrespeitar proibição especialmente prevista em lei para estrangeiros. Nos casos de expulsão, instaura-se um inquérito administrativo no âmbito do Ministério da Justiça. Verificada a incidência de uma das hipóteses de expulsão, o Presidente da República, após uma análise de conveniência e oportunidade, irá decretar ou não a 7 VARELLA, Marcelo D. Direito Internacional Público. 4 ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 197198. 4 DIREITO INTERNACIONAL – TAE 5 andrematta.blogspot.com.br expulsão do estrangeiro, ato que necessita de fundamentação. Quando se tratar de atentado à segurança nacional, não é necessário que o processo judicial tenha terminado, podendo ocorrer a expulsão a qualquer momento. O Poder Judiciário pode rever o ato apenas no que se refere a sua legalidade, jamais em relação ao mérito, pois se trata de ato discricionário do Presidente da República. Não pode ocorrer a expulsão de estrangeiro casado com brasileira. O casamento deve ser efetivo, há mais de cinco anos, não sendo considerado quando houve divórcio ou separação, ainda que de fato. Também não há expulsão se o estrangeiro tiver filho brasileiro sob sua guarda e este dependa do estrangeiro economicamente. 3. extradição: é o envio do estrangeiro por ter cometido crime no exterior, para ser processado ou julgado, ou então, para lá cumprir sua pena, depois de ter sido condenado. Trata-se de um ato bilateral, pois depende, de um lado, da solicitação do Estado interessado na extradição do estrangeiro que se encontra em território nacional e, de outro, da manifestação de vontade do estado brasileiro. A extradição é realizada em geral a partir de tratados bilaterais entre os Estados envolvidos. O processo de extradição se inicia com o decreto da prisão do extraditando. A prisão preventiva tem por objetivo garantir e eficácia da extratição e não se confunde com a prisão sanção no Estado requerente, mas, por regra geral, tem-se que o tempo de prisão preventiva no Brasil é computado como pena executada pelo Estado requerente. O controle de legalidade é executado pelo país que extradita. O Judiciário controla a legalidade do procedimento, verifica se houve ou haverá violação dos direitos fundamentais do acusado e se as normas entre os dois Estados são compatíveis entre si8. 7. Quais são as principais diferenças entre o TPI e a CIJ? O Tribunal Penal Internacional (TPI), também conhecido com Corte Penal Internacional (CPI), é o primeiro tribunal penal internacional permanente. Foi estabelecido em 2002 em Haia, cidade nos Países Baixos, onde inclusive fica a sede do Tribunal, conforme estabelece o artigo 3º do Estatuto de Roma. O objetivo do TPI é promover o Direito internacional, e seu mandato é de julgar os indivíduos e não os Estados (tarefa do Tribunal Internacional de Justiça). O TPI é competente somente para os crimes mais graves cometidos por indivíduos: genocídios, crimes de guerra e crimes contra a humanidade. Julga os crimes de agressão quando correlacionados com os anteriores. O nascimento de uma jurisdição permanente universal é um grande passo em direção da universalidade dos Direitos humanos e do respeito do direito internacional9. A Corte Internacional de Justiça (CIJ), também chamada de Tribunal Internacional de Justiça, é o principal órgão judiciário da Organização das Nações Unidas. Tem sede em Haia, nos Países Baixos. Por isso, também costuma ser denominada como Corte de Haia ou Tribunal de Haia. Sua sede é o Palácio da Paz. Sua principal função é de resolver conflitos jurídicos a ela submetidos pelos Estados e emitir pareceres sobre questões jurídicas apresentadas pela 8 VARELLA, Marcelo D. Direito Internacional Público. 4 ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 199-203. 9 http://pt.wikipedia.org/wiki/Corte_Penal_Internacional 5 DIREITO INTERNACIONAL – TAE 5 andrematta.blogspot.com.br Assembleia Geral das Nações Unidas, pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas ou por órgãos e agências especializadas acreditadas pela Assembleia da ONU, de acordo com a Carta das Nações Unidas10. Dessa forma, as principais diferenças entre o TPI e a CIJ são que: O Tribunal Penal Internacional (TPI), também conhecido com Corte Penal Internacional (CPI), é órgão independente, com competência para julgar os indivíduos que cometeram crimes de genocídios, crimes de guerra, crimes contra a humanidade e os crimes de agressão. Enquanto que a Corte Internacional de Justiça (CIJ), também chamada de Tribunal Internacional de Justiça, é órgão jurisdicional da Organização das Nações Unidas, com competência para julgar os Estados e não indivíduos, em questões que envolvam violação de tratados, segurança coletiva e paz internacional. 10 http://pt.wikipedia.org/wiki/Corte_Internacional_de_Justi%C3%A7a 1 DIREITO INTERNACIONAL – TAE 6 andrematta.blogspot.com.br DIREITO INTERNACIONAL TAE – AULA 06 – QUESTIONÁRIO 1. Quais são os elementos que formam o Estado? Os elementos que formam o Estado, conforme um padrão internacional, seguido pela Convenção de Montevidéu sobre Direitos e Deveres do Estado (de 1933), são: população permanente, território determinado, governo e capacidade de entrar em relações com outros Estados1. 2. Qual a diferença entre delimitação e demarcação? A delimitação de um território significa o estabelecimento de seus limites, o que é feito por tratados ou costumes. A demarcação de um território significa a implantação de marcos físicos sobre o território, que podem ser portes, cercas, muros, balizas, entre outros2. 3. Quais são as formas de expansão do território do Estado? As formas de expansão do território, ou de expansão do domínio soberano do Estado sobre novos territórios, são classificadas em: a) ocupação efetiva, que ocorre quando um Estado toma posse de um território que não pertencia anteriormente a nenhum outro Estado; b) conquista, que é a transferência do domínio de um território de um Estado para outro, por meio da guerra; c) secessão, que é a independência de parte do território, que se torna um Estado autônomo; d) cessão convencional, que ocorre quando um Estado transmite uma porção de seu território a outro Estado por manifestação livre de sua vontade; e) fusão convencional, que ocorre com a junção completade dois ou mais Estados para a criação de um outro Estado resultante; f) decisão unilateral, que ocorre quando uma Organização Internacional ou comissão arbitral decide um litígio entre dois ou mais Estados, determinando os limites territoriais de cada um3. 4. Qual a diferença entre fronteira e limite? Limite é um ponto que determina com certa precisão até aonde vai o território do Estado. Fronteira é uma região em torno do limite territorial, sobre a qual o Estado tem interesse de zelar para garantir sua segurança nacional4. 1 VARELLA, Marcelo D. Direito Internacional Público. 4 ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 171. 2 Ibid., p. 213. 3 Ibid., p. 215-225. 4 Ibid., p. 214. 2 DIREITO INTERNACIONAL – TAE 6 andrematta.blogspot.com.br 5. Quais são as formas de fixação de território nos rios? As formas de fixação de territórios nos rios ou de fixação do limite em rios contíguos (limítrofes ou de fronteira) são: a) no talvegue, sendo o talvegue a linha do nível mais baixo do leito do rio em toda sua extensão. Tem natureza estratégica porque indica o melhor curso de navegação. b) em condomínio, que significa que os dois Estados podem utilizar o rio, tanto para navegação quanto para exploração comercial, sem discriminação em função da nacionalidade dos usuários c) no meio do rio, que ocorre quando é difícil estabelecer o talvegue ou quando a navegação é igualmente possível por diferentes partes do rio ou ainda quando o rio não é muito utilizado para navegação. d) em uma das margens do rio, que configura uma situação incomum, mas possível de ser encontrada, quando o rio é de uso exclusivo de apenas um dos Estados, ficando o outro Estado proibido de utilizar os recursos fluviais. 6. Diferenciar mar territorial, zona contígua, zona econômica exclusiva e plataforma continental. Qual a extensão de cada uma delas? O mar territorial compreende uma faixa de doze milhas de largura, a contar da linha de baixa-mar do litoral continental e insular. Nessa região, o Estado exerce sua soberania de forma plena. A zona contígua compreende uma faixa que se estende de doze a vinte e quatro milhas marítimas, contadas a partir das linhas de base que servem para medir o mar territorial. Essa região não integra o território, mas o Estado tem a possibilidade de exercer seu poder de polícia de modo a garantir a segurança nacional, prevenir a entrada de clandestinos, fiscalizar o cumprimento das normas alfandegárias, sanitárias e ambientais. A zona econômica exclusiva compreende a faixa de terra e a coluna d’água que se estendem a priori doze a duzentas milhas marítimas, também contadas a partir da linha de base que servem para medir o mar territorial. A plataforma continental é a extensão natural do solo mar adentro, até o limite da talude continental. Talude continental é a região de declividade mais acentuada do fundo marinho (do solo dentro do mar)5. 5 VARELLA, Marcelo D. Direito Internacional Público. 4 ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 232. 3 DIREITO INTERNACIONAL – TAE 6 andrematta.blogspot.com.br 7. O que é patrimônio comum da humanidade? Dê exemplos e a especificidade de cada um. O patrimônio comum da humanidade corresponde às regiões que não estão sob o domínio direto de Estado algum e cuja preservação é de interesse de toda a humanidade. São exemplos: a) O alto-mar, que compreende as regiões além da zona econômica exclusiva dos Estados. b) A Antártica ou Antártida, continente que fica no Polo Sul, pode ser utilizada somente para fins de pesquisa científica pacífica; trata-se de uma “reserva natural dedicada à paz e à ciência”. c) O espaço geoestacionário, que compreende a região ao redor da Terra, numa altitude de aproximadamente 36 mil quilômetros acima do Equador, ideal para o posicionamento de satélites. d) O espaço sideral e os corpos celestes, que são regulados por um tratado firmado em 1967. Esse acordo internacional nasceu dos esforços para a chegada à Lua, surgindo um “costume internacional instantâneo“, declarando o direito tradicional de toda a humanidade sobre todo o universo e os demais planetas. Buscava evitar a alegação de que a Lua e outros planetas eram “res nullius” e, a partir de então, passíveis de apropriação pelo primeiro Estado que lá colocasse sua bandeira6. 6 VARELLA, Marcelo D. Direito Internacional Público. 4 ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 240-243. DIREITO INTERNACIONAL – TAE 7 andrematta.blogspot.com.br TAE – Aula 07 Questionário 1. Reconhecimento de um novo Estado e de um novo governo é a mesma coisa? Não. O reconhecimento de um novo Estado é a manifestação unilateral e discricionária de outros Estados ou Organizações Internacionais no sentido de aceitar a criação do novo sujeito de direito internacional, portanto, com direitos e obrigações.1 O reconhecimento de um novo governo ocorre no contexto de um Estado já reconhecido, mas cuja direção política é alterada. 2 2. Quem pode reconhecer um novo Estado? Um novo Estado pode ser reconhecido por outros Estados ou por Organizações Internacionais, que se manifestam unilateral e discricionariamente para o reconhecimento.3 3. Qual a importância do reconhecimento de um novo Estado? A importância do reconhecimento de um novo Estado é porque: a) Demonstra a vontade política de interagir com o Estado reconhecido; b) Demonstra que considera que a nova entidade detém as condições fáticas para tornar-se um sujeito de direito internacional. c) Cria juridicamente um “estoppel”, tornando, nesse caso, impossível ao Estado que reconheceu o novo Estado mudar a manifestação de sua vontade.4 1 VARELLA, Marcelo D. Direito Internacional Público. 4 ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 246. 2 Ibid., p. 251. 3 Ibid., p. 246. DIREITO INTERNACIONAL – TAE 7 andrematta.blogspot.com.br 4. Em que contexto um novo governo pode ser reconhecido? O reconhecimento de um novo governo ocorre no contexto de um Estado já reconhecido, mas cuja direção política é alterada5. 5. Cite três tipos especiais de personalidade jurídica internacional, explicando cada um deles. São exemplos de tipos especiais de personalidade jurídica internacional: 1. entidades políticas legalmente próximas dos Estados: são arranjos políticos criados por Estados ou por Organizações Internacionais. Essas figuras híbridas podem ser regiões com um governo autônomo e população, mas que não são Estados propriamente ditos. Essas ficções jurídicas têm poderes para celebrar tratados, manter a ordem e exercer a jurisdição em seu território. No entanto, não se pode dizer que sejam entes soberanos. 2. Territórios internacionalizados: são regiões administradas por outros Estados, não em nome próprio, mas em nome da Comunidade Internacional em geral, ou por Organizações Internacionais. Geralmente são administradas por um período de tempo determinado. 3. Estados com “status nascendi”: são regiões com governos, população e territórios próprios, mas ainda não reconhecidos pela comunidade internacional. Por conveniência jurídica, assume-se que existe certa personalidade jurídica, para que os atos praticados antes do reconhecimento sejam considerados válidos retroativamente. 4. Comunidades beligerantes: são movimentos de independência, de liberação nacional, que participamde fato de negociações internacionais, para atingir seus objetivos e, portanto, têm um “status” intermediário e parcialmente reconhecido pelo direito internacional. 4 Ibid., p. 249. 5 Ibid., p. 251. DIREITO INTERNACIONAL – TAE 7 andrematta.blogspot.com.br 5. Microestados: são Estados com território muito pequeno, mas que têm soberania reconhecida pela Comunidade Internacional, muito embora seus direitos soberanos não sejam os mesmos dos demais Estados. 6. Governos em exílio: muito embora tenham poderes limitados, alguns Estados, em geral aliados, reconhecem algumas capacidades e competências soberanas a chefes de Estado em exílio ou mesmo a líderes de movimentos revolucionários fora do território disputado, certamente com capacidades e competências muito reduzidas em relação aos governos com exercícios plenos de poder. 6 6. Cite duas capacidades e duas competências que o Estado soberano possui. As capacidades e as competências são os meios pelos quais a soberania se consolida. As capacidades estão relacionadas à vida internacional, dentre as quais, podem-se identificar as seguintes: - produzir normas jurídicas internacionais; - ser sujeito ativo de ilícitos internacionais; - pedir indenização por danos ilícitos cometidos por outros Estados; - ter acesso aos sistemas internacionais de solução de controvérsias; - tornar-se membro e participar plenamente da vida das Organizações Internacionais; - Estabelecer relações diplomáticas e consulares com outros Estados. As competências estão relacionadas à vida interna, dentre as quais, podem-se identificar as seguintes: - exercer o domínio sobre seu território, independentemente da vontade de qualquer outra fonte de poder; 6 VARELLA, Marcelo D. Direito Internacional Público. 4 ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 256-257. DIREITO INTERNACIONAL – TAE 7 andrematta.blogspot.com.br - criar normas internas e julgar os atos cometidos em seu território; - atribuir a nacionalidade de seu Estado; - determinar o direito sobre as pessoas físicas e jurídicas.7 7. Soberania pode ser transferida? Por quê? Não. A soberania não pode ser transferida, porque transferir implica perder uma parte do que se estar transferindo. E a soberania persiste, com bastante força. Ela é a base do direito internacional e das relações entre os Estados. Os Estados atribuem poderes aos outros atores internacionais, sem, no entanto, deixar de ter estes poderes para si próprios. Trata-se, assim, de uma atribuição. As Organizações Internacionais e os outros atores que recebem os poderes não têm soberania. Eles não são soberanos. Os Estados não perdem seus poderes. Os Estados continuam a poder criar, executar e julgar seus atos jurídicos. Ao contrário da ideia de transferência, a atribuição de competências e capacidades soberanas guarda a ideia de temporalidade e de não exclusividade.8 8. O que é sucessão de Estados? Nesses casos há transferência de soberania? A sucessão de Estados é a substituição de um Estado por outro na responsabilidade das Relações Internacionais de um determinado território. A sucessão de Estados dá origem à criação de novos direitos soberanos ou à expansão dos direitos soberanos de um Estado sobre o outro território. Não se trata, portanto, de transferência de soberania. Não se deve falar em herança de soberania com o nascimento do outro Estado. Há o nascimento do direito soberano, independente dos direitos do Estado predecessor.9 7 Ibid., p. 264. 8 VARELLA, Marcelo D. Direito Internacional Público. 4 ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 268. 9 Ibid., p. 270-271. DIREITO INTERNACIONAL – TAE 7 andrematta.blogspot.com.br 9. Quais são as modalidades de sucessão de Estado? Existem quatro principais modalidades de sucessão de Estado: a) Aquisição de um território cujo domínio a ninguém pertencia anteriormente (“res nullius”); b) Transferência ou fusão de território de um Estado a outro; c) Perda de uma parte do território de um Estado a outro; d) Dissolução de um Estado e a respectiva formação de dois ou mais novos Estados.10 10. Qual é o principio norteador na sucessão de Estado? Explique. O princípio jurídico norteador da sucessão de Estado é o da continuidade do Estado. Presume-se que há a continuação do Estado anterior no novo Estado, em relação à responsabilidade de direitos e obrigações. Isso implica também o respeito às obrigações assumidas por um governo que toma o poder, ainda que decorrente de revolução ou golpe de Estado, porque não há um novo Estado, mas o anterior, agora com um novo governo. Nesses casos, o Estado continua o mesmo, ainda que o novo governo não reconheça os atos praticados por seu predecessor.11 11. Em que momento ocorre a extinção jurídica do Estado? A extinção jurídica do Estado apenas ocorre com sua dissolução ou, então, com sua fusão a outro Estado.12 10 Ibid., p. 271. 11 Ibid., p. 272. 12 Ibid., p. 272. DIREITO INTERNACIONAL – TAE 7 andrematta.blogspot.com.br 12. Qual é o principio seguido na sucessão de Estados em relação aos tratados? Explique. O princípio seguido na sucessão de Estados em relação aos tratados é o princípio da manutenção seletiva dos tratados em vigor anteriormente. Embora exista a presunção de que o Estado sucessor continua parte nos tratados em vigor, sendo que, em alguns casos, o Estado sucessor declara que continuará sendo parte em todos os tratados de seu predecessor, o Estado sucessor poderá posteriormente decidir em quais tratados será ou não parte, conforme seus interesses.13 13. O que ocorre com os tratados em caso de fusão ou de dissolução do Estado? Quando há fusão de dois ou mais Estados, dando origem a um novo Estado, distinto dos anteriores, presume-se que o novo Estado participa de todos os tratados e Organizações Internacionais integradas pelos anteriores. O mesmo se estende aos tratados negociados, que esperam por assinatura ou ratificação. Todos os atos podem ser praticados pelo novo Estado unificado, exceto quando: a) Não há interesse de sua parte; b) Os demais não aceitam sua participação; c) A sua participação seria incompatível com a finalidade do tratado.14 No caso da dissolução (separação) do Estado em diversos Estados distintos, presume-se que os novos Estados têm o direito de dar continuidade a todos os tratados relacionados ao Estado anterior. Se foi negociado pelo Estado anterior, podem aderir. Se aderiram, podem assinar ou mesmo ratificar. No entanto, há algumas considerações que limitam esse poder de escolha: 13 VARELLA, Marcelo D. Direito Internacional Público. 4 ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 273. 14 Ibid., p. 275. DIREITO INTERNACIONAL – TAE 7 andrematta.blogspot.com.br a) Se o tratado se refere a todo o território, todos os Estados têm direito idêntico ao predecessor ; b) Se o tratado se refere à parte do território do Estado predecessor, que agora pertence apenas a um ou a alguns Estados sucessores, somente estes terão o direito de integrar o novo tratado; c) Os demais Estados partes no tratado devem aceitar a participação dos novos; d) A participação dos sucessores não pode ser contrária aos objetivosdo tratado em vigor.15 14. O que acontece com os bens, arquivos e dívidas na sucessão de Estados? Em relação aos bens, na sucessão de Estados, a criação de um novo Estado implica a transferência de bens do Estado predecessor. Trata-se dos bens públicos, que incluem não apenas imóveis, mas direitos e interesses pertencentes ao Estado. 16 Na sucessão de Estados, todos os arquivos públicos devem ser transferidos com a sucessão do Estado. Essa transferência é feita, em geral, sem compensação financeira e segue a seguinte lógica: a) Os documentos que se referem ao território do sucessor devem ser destinados ao mesmo; b) O Estado predecessor deve fornecer os títulos territoriais relativos ao território e seus limites territoriais, na melhor forma possível. c) O predecessor pode cobrar do sucessor os valores referentes aos custos da realização das cópias. Em relação às dívidas do Estado predecessor, “a priori”, essas se transferem ao Estado sucessor “pro rata”. A sucessão de Estados não 15 Ibid., p. 276. 16 Ibid., p. 277. DIREITO INTERNACIONAL – TAE 7 andrematta.blogspot.com.br pode prejudicar credores. O mais indicado é a realização de um acordo entre as partes. Se não houver acordo, alguns princípios devem ser seguidos: a) Quando há transferência de parte do território de um Estado para outro Estado, o sucessor deve assumir as dívidas do predecessor proporcionalmente ao território transferido ; b) Se for um novo Estado independente, não se deve transferir a dívida ; c) Quando se trata de União entre os Estados, as dívidas são assumidas pelo Estado que se forma ; d) Se for dissolução do Estado, a dívida é dividida proporcionalmente. 17 17 VARELLA, Marcelo D. Direito Internacional Público. 4 ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 279. DIREITO INTERNACIONAL – TAE 8 andrematta.blogspot.com.br TAE – AULA 08 1. Conceitue Organizações Internacionais? Organizações Internacionais ou intergovernamentais são pessoas jurídicas de direito internacional. Têm ordens jurídicas próprias, diferentes dos Estados que as integram. 1 2. OIs podem ter como membros pessoas físicas ou jurídicas de direito interno? O que serão nesses casos? Uma Organização Internacional (OI) não poderá ter como membros pessoas físicas ou jurídicas de direito interno, tais como indivíduos, empresas ou organizações não governamentais, visto que são as OIs resultado de manifestação de vontade dos sujeitos de direito internacional e não de sujeitos de direito interno. Quando uma organização que opera no âmbito internacional tem membros que não são Estados (ainda que também tenham Estados-membros), ela não será uma Organização Internacional, mas uma organização não governamental (ONG). 2 3. Qual a natureza jurídica de uma OI? Qual o fundamento para sua criação? As Organizações Internacionais têm natureza de pessoa jurídica de direito internacional, de caráter institucional. A criação de Organizações Internacionais fundamenta-se no poder soberano dos Estados. Essa natureza jurídica é, portanto, a mesma dos Estados, mas com limites de competência predeterminados pelos próprios membros que a constituem. A principal diferença é a origem do fundamento: nos Estados, existe uma justificativa interna para a personalidade jurídica, derivada da faceta interna da soberania. Nas Organizações Internacionais, o único elemento justificador é externo, derivado apenas da soberania dos Estados- membros. 3 1 VARELLA, Marcelo D. Direito Internacional Público. 4 ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 285. 2 Ibid., p. 285. 3 Ibid., p. 286. DIREITO INTERNACIONAL – TAE 8 andrematta.blogspot.com.br 4. OIs podem criar outras OIs? Sim. As Organizações Internacionais podem criar outras Organizações Internacionais. Neste caso, a organização instituidora atribuirá parte de suas capacidades e competências à outra, também decorrente da vontade dos Estados.4 5. Qual a importância do tratado constitutivo da OI? Qual a particularidade destes? O tratado constitutivo das Organizações Internacionais, em geral, denomina-se estatuto, é ratificado por Estados ou outras Organizações Internacionais e determina as estruturas, as competências, as finalidades, os meios de execução, os procedimentos para alteração de seu estatuto e suas formas de extinção. Para cada estrutura, define os instrumentos e critérios para composição de cargos e a forma de exercício do poder. Esses tratados são documentos solenes, que não aceitam reservas. Os membros devem aceitar a Organização Internacional tal como foi negociada. Também não podem alegar outros tratados posteriores para esquivar-se de cumprir o tratado constitutivo porque este tem primazia sobre outros tratados. 5 6. Qual é a motivação dos Estados para criarem OIs? Os Estados criam Organizações Institucionais com diferentes propósitos, como institucionalizar o controle de determinados temas, criar instituições independentes da burocracia nacional, possibilitar a existência de foro permanente de negociações ou viabilizar a coordenação de determinados temas, a partir do amadurecimento de um processo de cooperação multilateral. 6 4 VARELLA, Marcelo D. Direito Internacional Público. 4 ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 288. 5 Ibid., p. 289. 6 Ibid., p. 290. DIREITO INTERNACIONAL – TAE 8 andrematta.blogspot.com.br 7. Cite e explique três estruturas mais comuns nas OIs. Embora cada Organização Internacional possa definir o conjunto de estruturas mais apropriado para seu funcionamento, existem algumas estruturas gerais, comumente encontradas na maioria das Organizações Internacionais, como: a) Assembleia Geral ou Conselho Ministerial, que é o órgão que reúne todos os Membros. Trata-se de órgão máximo de deliberação, com poder de alterar os tratados em vigor. Pode-se reunir permanentemente, ou periodicamente (a cada dois anos, por exemplo). b) Secretário Geral, que é um órgão unipessoal, ocupado por um indivíduo escolhido pelos membros. Em geral, o cargo é ocupado por um agente de carreira da própria OI, que tem mais conhecimento da estrutura da instituição. Isso busca também demonstrar a neutralidade na escolha do secretário em relação aos Estados-membros. c) Mecanismo de Solução de Controvérsias, que é cada vez mais frequente nas Organizações Internacionais, devido à multiplicação das fontes normativas em direito internacional, cada conjunto de normas jurídicas cria mecanismos próprios para buscar efetividade do direito em seu subsistema. Assim, mesmo Organizações Internacionais mais antigas buscam instrumentos próprios de solução de controvérsias. d) Órgãos específicos, que têm por objetivo controlar e implementar os objetivos da organização. Em geral, têm de um terço a um quinto dos membros da organização. 7 8. Qual a classificação dos membros de uma OI? Os membros de uma OI são classificados segundo três modalidades de vínculo: permanente, observador e temporário. a) Os membros permanentes são aqueles que podem participar ativamente de todas as atividades da Organização Internacional, com direito a voz e a voto. 7 VARELLA, Marcelo D. Direito Internacional Público. 4 ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 293-294. DIREITO INTERNACIONAL – TAE 8 andrematta.blogspot.com.br b) Os observadorestêm acesso às reuniões e podem inclusive ter direito a voz, mas não terão direito a voto. c) Os temporários são convidados para reuniões específicas, para discussão de pontos que lhe interessam, ou apenas durante um período restrito e, em geral, predeterminado. 8 9. De que forma os Estados podem deixar de serem membros de uma OI? Os Estados podem deixar de ser membros de uma Organização Internacional, como sanção pelo não cumprimento de suas obrigações ou por vontade própria. O primeiro caso é raro, porque são preferidas outras sanções menos graves do que a exclusão do Estado, mesmo porque essa medida impede que a Organização Internacional possa continuar agindo sobre o Estado, no futuro. O segundo caso, em geral, é resolvido após um determinado período de tempo, com a mudança das circunstâncias que levaram o Estado a pedir seu afastamento. 9 10. Explique a teoria das capacidades ou dos poderes implícitos? Quais são suas limitações? Os Estados atribuem capacidades às Organizações Internacionais. Atende- se ao princípio da especialidade, ou seja, a Organização Internacional tem capacidade apenas para os fins específicos para os quais foi criada. Nesse sentido, as Organizações Internacionais têm uma capacidade funcional, ou seja, para aquelas funções para as quais foram criadas, e não uma capacidade universal, como os Estados, que têm irrestrito poder de agir no âmbito de sua soberania. O princípio da especialidade pressupõe uma interpretação ampla, na qual se evoca com frequência a teoria das capacidades implícitas. Tais capacidades evoluem com o amadurecimento da organização e com as novas dimensões dos meios para alcançar seus fins (conhecida como teoria dos poderes implícitos). Assim, além dos 8 VARELLA, Marcelo D. Direito Internacional Público. 4 ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 295. 9 Ibid., p. 296. DIREITO INTERNACIONAL – TAE 8 andrematta.blogspot.com.br poderes das Organizações Internacionais indicados em seus tratados constitutivos e nos demais arranjos entre os Estados, ao longo de sua existência, reconhecem-se poderes implícitos, não expressamente atribuídos pelos Estados, mas sem os quais os atos dessas Organizações Internacionais teriam baixa efetividade. Não há dúvida alguma de que a teoria dos poderes implícitos amplia bastante as capacidades e competências das Organizações Internacionais. A teoria dos poderes implícitos encontra seus limites numa análise sistemática do direito internacional e do contexto no qual uma Organização Internacional se insere. Assim, uma organização especializada (com um tema de atuação), vinculada a uma organização maior, com objetivos mais amplos, não pode ter competências que se sobreponham à competência da organização à qual está vinculada nem a outras organizações específicas vinculadas ao mesmo sistema. 11. Cite três capacidades institucionais das OIs, explicando cada uma delas. As Organizações Internacionais têm capacidades para: a) celebrar tratados com outros sujeitos de direito internacional, o qual deriva tanto da natureza jurídica de direito internacional das OIs como das competências atribuídas pelos Estados-membros. Assim, a OI tem competência para firmar todos os atos necessários para atingir os objetivos para os quais foi criada. b) Enviar e receber representantes diplomáticos, pois, como os demais sujeitos de direito internacional, as OIs têm o direito de acreditação passivo e ativo. Os diplomatas das OIs têm os mesmos privilégios e imunidades dos diplomatas dos Estados. c) Promover e participar de conferências internacionais, pois as OIs são um foro constante de negociações internacionais. Podem promover conferências para discutir os temas que considerem importantes para o avanço internacional. d) Apresentar reclamações perante tribunais internacionais; DIREITO INTERNACIONAL – TAE 8 andrematta.blogspot.com.br e) Ser depositária de tratados. f) Operar navios e aeronaves com bandeira própria, reguladas por sua própria legislação. Trata-se de uma ferramenta importante que busca não vincular as atividades da Organização Internacional a Estado algum. 10 12. De quem é a competência de interpretar o tratado constitutivo da OI? A interpretação do tratado constitutivo é feita pela própria Organização Internacional e não pelos Estados que a integram. Logo, em caso de controvérsias, a Organização Internacional irá decidir sobre seu tratado constitutivo. 11 13. Quais são os procedimentos de tomada de decisões nas OIs? A tomada de decisões ocorre por meio da produção de atos jurídicos pelos órgãos colegiados das Organizações Internacionais que são chamados de resoluções. Em função de sua obrigatoriedade as resoluções são classificadas em: recomendações, que não são obrigatórias, mas indicam uma posição da Organização Internacional sobre o tema; e decisões, que são de caráter obrigatório e devem ser seguidas pelos Estados, pois quando não cumpridas, podem dar origem a sanções. Via de regra, a adoção de decisões é precedida por uma ou várias recomendações indicando a posição da Organização Internacional a respeito de um determinado tema. Trata-se, nesse sentido, de um procedimento escalonado. 12 14. De que forma uma OI pode ser controlada? Qual é a forma de extinção de uma OI? Os principais instrumentos de controle das OIs são: a) O controle interno, de caráter político, que é realizado pelos órgãos deliberativos e judiciais da própria Organização Internacional. 10 VARELLA, Marcelo D. Direito Internacional Público. 4 ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 299-301. 11 Ibid., p. 305. 12 Ibid., p. 310. DIREITO INTERNACIONAL – TAE 8 andrematta.blogspot.com.br b) O controle interno, de caráter judicial, que é realizado quando a Organização Internacional tem um órgão judicial interno, competente para controlar seus próprios atos. c) O controle externo, de caráter político, que é realizado por outras Organizações Internacionais, quando há subsídio, ou mesmo pelos Estados-membros. d) O controle externo, de caráter judicial, que pode ser realizado pelos tribunais internacionais e pelos tribunais nacionais. 13 A extinção da Organização Internacional ocorre com a desconstituição da personalidade jurídica pelos membros. A sucessão ocorre quando outra Organização Internacional é criada a partir daquela que foi extinta. 14 15. Quais são os instrumentos jurídicos que regem o direito diplomático? *O direito diplomático consiste no conjunto de normas e costumes, aceitos internacionalmente, para regular as relações diplomáticas entre os Estados e Organizações Internacionais. Trata-se de um direito autossuficiente, construído pela via costumeira e consolidado por diferentes tratados multilaterais e bilaterais.15 * NÃO ACHEI A RESPOSTA EXPLÍCITA NO LIVRO. ACREDITO QUE ESTEJA IMPLÍCITA NO PARÁGRAFO CITADO. 16. O que guia as relações diplomáticas? As relações diplomáticas são tradicionalmente guiadas pelos Ministérios das Relações Exteriores e Chefes de Estados (Chefe do Poder Executivo). Todavia, essas relações começam a coexistir com mais frequência com uma paradiplomacia guiada pelos demais ministérios, pelos chefes dos 13 VARELLA, Marcelo D. Direito Internacional Público. 4 ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 311, 312. 14 Ibid., p. 312. 15 Ibid., p. 331. DIREITO INTERNACIONAL – TAE 8 andrematta.blogspot.com.br demais poderes do Estado (Judiciárioe Legislativo), pelos Estados e Municípios.16 17. Quem possui direito de legação? Isso implica no reconhecimento do Estado? Apenas os sujeitos de direito internacional têm direito de legação, que é o direito de receber e enviar diplomatas. Como o direito de legação depende do reconhecimento do sujeito de direito internacional, a aceitação do estabelecimento de relações diplomáticas significa, por consequência, do outro Estado ou da Organização Internacional no reconhecimento do Estado.17 18. Qual a diferença entre acreditante e acreditador? País acreditante é o que envia diplomatas, também chamado de Estado de origem. País acreditador é aquele que recebe diplomatas, também chamado de Estado de acolhimento.18 19. Qual a diferença entre embaixada e consulado? E entre acreditação dupla ou múltipla e representação comum? A embaixada diz respeito à representação política do Estado, enquanto que o consulado é responsável pela representação comercial e administrativa, sobretudo notarial.19 A acreditação dupla ou múltipla ocorre quando a mesma representação diplomática representa seu governo perante diversos Estados ao mesmo tempo. A representação comum, por sua vez, ocorre quando a mesma embaixada representa dois ou mais Estados perante um terceiro Estado. Nesse caso, a missão diplomática é comum, podendo ter funcionários de todas as nacionalidades representadas ou apenas de uma delas.20 16 VARELLA, Marcelo D. Direito Internacional Público. 4 ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 331. 17 Ibid., p. 332-333. 18 Ibid., p. 334. 19 Ibid., p. 334. 20 Ibid., p. 336. DIREITO INTERNACIONAL – TAE 8 andrematta.blogspot.com.br 20. Estrangeiros podem representar o Estado em uma missão diplomática? Sim, pois os sujeitos de direito internacional têm a liberdade de escolher seus representantes que, em geral, são nacionais seus. Em alguns casos, os Estados nomeiam estrangeiros como seus diplomatas. A escolha de um nacional ou de um estrangeiro é um direito soberano do Estado e não pode ser questionado pelos demais Estados.21 21. Somente diplomatas podem ser chefe da missão diplomática? Não, pois a função de chefe da missão diplomática, que é chamado de embaixador, pode ser ocupada por qualquer pessoa, de qualquer nível da carreira diplomática (mesmo um iniciante) ou até mesmo alguém estranho à carreira.22 22. Qual a natureza dos membros da missão? Os membros do pessoal da missão diplomática podem ser de três naturezas: a) Membros do pessoal diplomático: diplomatas que integram a missão, tais como ministros, conselheiros, secretários ou adidos. São agentes diplomáticos o chefe da missão, bem como os membros do pessoal diplomático. b) Membros do pessoal administrativo e técnico: responsáveis pelo trabalho técnico-burocrático, como secretários ou arquivistas. c) Membros do pessoal de serviço: os demais funcionários responsáveis pela manutenção da missão, como o serviço de jardinagem, garçons, cozinheiros e limpeza.23 23. Cite três funções da missão. 21 VARELLA, Marcelo D. Direito Internacional Público. 4 ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 338. 22 Ibid., p. 338. 23 Ibid., p. 339. DIREITO INTERNACIONAL – TAE 8 andrematta.blogspot.com.br Entre as principais funções da missão diplomática (art. 3º da CVRD) encontram-se: a) Representar o Estado de origem (acreditante) junto ao Estado de acolhimento (acreditador); b) Proteger os interesses do Estado de origem de seus nacionais junto ao Estado de acolhimento, dentro dos limites estabelecidos pelo direito internacional. c) Negociar com o governo do Estado de acolhimento. d) Obter licitamente informações sobre a evolução dos eventos de toda natureza no Estado de acolhimento e informar seu próprio governo. e) Promover relazões de amizade e desenvolver relações econômicas, culturais, científicas entre o Estado de acolhimento e o Estado de origem.24 24. Qual a diferença entre imunidade e privilégio? Imunidades diplomáticas são benefícios previstos no direito internacional e concedidos pelo Estado de acolhimento ao Estado de origem, para que este exerça certas capacidades e competências soberanas em seu território. Privilégios são benefícios concedidos pelo direito dos próprios Estados de acolhimento, além de suas obrigações assumidas pelas normas multilaterais.25 25. Descreva duas imunidades atribuídas aos Estados. Primeiramente deve-se esclarecer que as imunidades e os privilégios diplomáticos podem ser de duas naturezas: funcional e individual. A imunidade funcional busca proteger o Estado, por meio da proteção ao agente, que atua em seu nome, no exercício de suas funções. A imunidade pessoal ou individual busca proteger os atos do próprio agente, em nome 24 VARELLA, Marcelo D. Direito Internacional Público. 4 ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 341. 25 Ibid., p. 342. DIREITO INTERNACIONAL – TAE 8 andrematta.blogspot.com.br próprio, para dar-lhe melhores condições para exercer seu trabalho com tranquilidade. Desta forma, as seguintes imunidades são atribuídas aos Estados: a) Imunidades pessoais de natureza tributária. Os membros da missão diplomática estão isentos de todos os impostos e taxas de qualquer nível federativo, federais, estaduais e municipais. Os bens da missão diplomática são isentos de todo os impostos de qualquer ente federativo. b) Imunidades de natureza trabalhista. Os agentes diplomáticos submetem-se às normas trabalhistas do Estado de acolhimento quando contratam nacionais deste como membros do pessoal de serviço. Já os membros do pessoal técnico e os agentes diplomáticos contribuem para a seguridade social do Estado de origem. c) Imunidades da missão diplomática. Esta garante o direito de inviolabilidade do: local da missão; correios; e documentos e arquivos. A inviolabilidade do local da missão diplomática é a impossibilidade de qualquer autoridade do Estado de acolhimento ingressar no local da missão, ainda que com mandado judicial, sem a expressa autorização do Estado de origem. d) Imunidade de jurisdição e de execução. A imunidade de jurisdição impede que o Poder Judiciário julgue os diplomatas do outro Estado. A imunidade de execução impede que as sanções e julgados, quando possíveis, sejam executados.26 26. As imunidades se estendem a todos os membros da missão? Não, pois nem todos os membros da missão diplomática gozam das mesmas imunidades. Os chefes da missão têm imunidade mais ampla do que o pessoal do corpo técnico ou de serviços.27 26 VARELLA, Marcelo D. Direito Internacional Público. 4 ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 344-351. 27 Ibid., p. 359. DIREITO INTERNACIONAL – TAE 8 andrematta.blogspot.com.br 27. Qual a diferença entre imunidade de jurisdição e de execução? Explique. A imunidade de jurisdição impede que o Poder Judiciário julgue os diplomatas do outro Estado. A imunidade de execução impede que as sanções e julgados, quando possíveis, sejam executados.28 28. O que é a teoria das imunidades relativas? A teoria das imunidades relativas dos Estados soberanos exclui a imunidade de jurisdição quando o Estado ou seus agentes praticam atos estranhos a seu “jus imperii”. Busca evitar o prejuízo sofrido pelo dano por nacionais provocados injustamente por representantes diplomáticos, ainda que em nome de Estadosestrangeiros, mas na prática de atos estranhos à atividade diplomática.29 29. Rompimento de relações diplomáticas implica no rompimento de relações consulares? Qual é o fundamento das relações consulares? O rompimento das relações diplomáticas não impõe o rompimento das relações consulares, pois tanto o estabelecimento como o rompimento das relações consulares seguem uma lógica própria, diferente das relações diplomáticas. Isso porque a representação diplomática e a representação consular têm objetivos diferentes. Enquanto a representação diplomática cuida de questões políticas, a representação consular pode ter funções bastante variadas, cuidando principalmente de atos administrativos e promoção comercial.30 30. Quais são as funções do consulado? As funções do consulado são as mais variadas. Entre as mais comuns encontram-se aquelas previstas na Convenção de Viena, de 1963 (art. 5º): a) Conceder vistos a estrangeiros que desejem visitar o país; 28 Ibid., p. 351. 29 VARELLA, Marcelo D. Direito Internacional Público. 4 ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 353. 30 Ibid., p. 363. DIREITO INTERNACIONAL – TAE 8 andrematta.blogspot.com.br b) Emitir novos passaportes para seus nacionais que estejam fora de seu território, quando da sua expiração, ou em caso de perda ou subtração. c) Registrar nascimentos, casamentos e óbitos; d) Autenticar documentos ou traduções oficiais, entre outros; e) Proteger o interesse de seus nacionais no Estado de acolhimento. 31. Cite duas diferenças entre as imunidades e privilégios do pessoal da missão diplomática e do consulado. As principais diferenças entre as imunidades e privilégios do pessoal da missão diplomática e do consulado são: a) Imunidades tributárias: não são automáticas e dependem de acordo entre os dois Estados. b) Imunidades trabalhistas: os empregados estrangeiros permanentes da repartição consular não precisam de visto de permanência no país, tal como aplicável aos estrangeiros em geral. c) Imunidades do local da missão: o prédio do consulado é inviolável, devendo o Estado receptor proteger o local e seus arquivos, mesmo em caso de guerras. Em caso de incêndio ou outro sinistro de natureza grave, no entanto, presume-se a permissão. No entanto, a residência do cônsul não tem imunidade, como ocorre com a residência do chefe da missão diplomática. d) Imunidade do correio consular: tem proteção relativa e, caso haja suspeita séria de porta objetos estranhos à atividade consular, o Estado acreditador pode solicitar sua abertura, sem o que a mala é retornada a sua origem. e) Imunidade de jurisdição: os membros do pessoal consular podem ser presos, em casos de crimes graves. f) Extensão aos familiares: as imunidades não se estendem aos familiares, como ocorre em relação às imunidades diplomáticas.31 31 VARELLA, Marcelo D. Direito Internacional Público. 4 ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 367-368. DIREITO INTERNACIONAL – TAE 8 andrematta.blogspot.com.br 32. O Estado é obrigado a manter relações diplomáticas e consulares com os demais? E em caso de guerra o que acontece? Não, pois a ruptura das relações diplomáticas e consulares é um ato discricionário de qualquer um dos Estados envolvidos. O Estado de acolhimento pode expulsar os diplomatas de seu território, assim como o Estado de origem pode retirá-los e fechar o local da missão diplomática. O ato tem um significado político importante, por que transmite a informação de que o canal de diálogo entre os mesmos será interrompido. Em caso de guerra, a ruptura das relações diplomáticas é automática. Em geral, a missão é chamada logo antes do conflito iniciar, até porque é difícil assegurar a integridade dos diplomatas e da missão, em caso de conflito armado.32 32 VARELLA, Marcelo D. Direito Internacional Público. 4 ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 369. DIREITO INTERNACIONAL – TAE 9, 10 e 11 andrematta.blogspot.com.br TAE 9, 10 e 11 Questões dirigidas DIPr – Processus 1. Dê exemplos de situações que podem ser tratadas pelo DIPr? O Direito Internacional Privado (DIPr) pode tratar das seguintes situações: casamento de pessoas de diferentes nacionalidades; contratos assinados entre empresas localizadas entre Estados diferentes ou; pessoas que falecem e possuem bens em mais de um Estado. 2. Qual a particularidade dos casos tratados pelo DIPr? E qual a particularidade das regras de DIPr em relação aos demais ramos do direito? No DIPr, não há julgamento do caso concreto, mas a decisão ocorre acerca da lei que deverá ser aplicada ao caso concreto. 3. Qual o objeto do DIPr? O objeto do DIPr é a solução de conflito de lei no espaço. Concorrência entre legislações aplicadas. Na verdade, não julga o caso concreto, mas decide sobre a lei que deverá ser aplicada ao caso concreto. Trata de relações privadas com conexão internacional. 4. Quais são as fontes de DIPr? Existe hierarquia entre elas? As fontes de DIPr são, em primeiro lugar, a lei interna dos Estados, seguida dos Tratados, da doutrina, da jurisprudência e dos costumes. A novidade das fontes do DIPr é a questão da hierarquia existente, o que não ocorre no Direito Internacional Público. DIREITO INTERNACIONAL – TAE 9, 10 e 11 andrematta.blogspot.com.br 5. O que é qualificar? Qualificar é definir um termo, por exemplo, aquelas normas que não se constituem em diretas ou indiretas. Em relação a sua estrutura, podemos classificar as normas como unilaterais, bilaterais e justapostas. As normas unilaterais são aquelas em que o Estado se preocupa em determinar a esfera de vigência (neste caso a vigência espacial), como por exemplo, ao determinar que uma lei brasileira se aplicará aos brasileiros fora do país. Já a norma bilateral se preocupa com a determinação da norma vigente, assim pode-se usar como exemplo a norma que determina que um fato seja regulado pela legislação do país daquele nacional. Normas justapostas são duas normas unilaterais que se complementam e por isso acabam se tornando uma norma bilateral. 6. Quais são as teorias existentes para a qualificação? Discorra sobre os argumentos e dificuldades de cada uma delas. Teoria da territorialidade: Parte da doutrina entende que, quando os tribunais de um Estado, chamados a conhecer de um conflito emergente de uma relação jurídico-privada com caráter internacional tivessem de encarar a possibilidade de encontrar uma regulamentação diferente daquela que, diretamente, resultasse do seu direito interno, este Estado não é obrigado. A teoria da “lex fori materialis” (da lei do foro) é negada a quaisquer fatos e situações que lhe sejam estranhos (ou seja, que não tenham com ela qualquer conexão espacial), pois, esta, violaria gravemente o princípio universal do direito segundo o qual, visando a norma jurídica regular os comportamentos humanos que se desenvolvem no seio de uma sociedade, não poderá considerar-se aplicável a condutas que se situem fora da sua esfera de eficácia (fora, portanto, do alcance do seu preceito), e isso quer em razão do tempo (princípio da irretroatividade das leis), quer em razão do lugar onde se verificam (princípio da não transatividade das leis). DIREITO INTERNACIONAL – TAE 9, 10 e 11 andrematta.blogspot.com.br O princípio da não transatividade das leis consiste no princípio segundo o qual nenhuma lei ― a do foro ou qualquer outra ― deve considerar-seaplicável a um fato ou situação que não se acha (por qualquer dos seus elementos) em contato com ela. O não acatamento deste princípio universal de direito traria inevitavelmente consigo o perigo da ofensa de direitos adquiridos ou de expectativas legítimas dos indivíduos. 7. Como se dá a qualificação no Brasil? Existem exceções? No Brasil, adota-se a teoria da “Lex fori” (lei do foro), mas existem duas exceções que são o art. 8º e 9º da LINDB. Nesse caso, aplica-se a lei do país onde o contrato foi instituído. 8. Questão prévia e qualificação é a mesma coisa? Não. Questão prévia significa que o juiz não pode apreciar questão judicial principal sem ter-se pronunciado anteriormente a respeito de uma ou outra que, pela lógica, precede- a. Esta, em regra, só é aplicada após a homologação. 9. O juiz brasileiro pode remeter um caso que considere da competência de outro juízo? Na verdade, o que o juiz fará não é remeter da competência, mas deverá apropriar-se da lei estrangeira e aplicá-la no Brasil. 10. De que forma pode se dá a aplicação da lei estrangeira? O juiz poderá aplicar a lei estrangeira de ofício. DIREITO INTERNACIONAL – TAE 9, 10 e 11 andrematta.blogspot.com.br 11. Quais são os meios de prova da lei estrangeira? A quem incumbe o ônus? A prova dos fatos ocorridos em país estrangeiro rege-se pela lei que nele vigorar, quanto ao ônus da prova e aos meios de produzi-los, não se admitindo os tribunais brasileiros provas que a lei brasileira desconheça. 12. O que é o retorno/reenvio? Ele é possível no direito brasileiro? O reenvio, retorno ou devolução é o modo de interpretar a norma de direito internacional privado, mediante a substituição da lei nacional pela estrangeira, desprezando o elemento conexão apontado pela ordenação nacional, para dar preferência à indicada pelo ordenamento jurídico. 13. Quais são os limites de aplicação da lei estrangeira? Discorra sobre cada um deles. As normas jurídicas, como normas de conduta que são, veem o seu âmbito de eficácia limitado pelos fatores tempo e espaço: - não podem, por um lado, ter a pretensão de regular os fatos que se passaram antes de sua entrada em vigor; - nem, por outro lado, os que se passem ou se passaram sem qualquer contato com o Estado que as editou. Ou seja, o ordenamento jurídico de um Estado não pode chamar a si a orientação daquelas condutas que se passaram para além da sua possível esfera de influência. Há que respeitar-se os direitos adquiridos ou situações jurídicas constituídas à sombra da lei eficaz, isto é, da lei sob cujo império ou dentro de cujo âmbito de eficácia o direito foi adquirido ou a situação jurídica se constituiu, dado que a natural expectativa dos indivíduos na continuidade e estabilidade das suas relações jurídicas ou direitos é um pressuposto fundamental da existência do Direito como ordem implantada na vida humana de relação. DIREITO INTERNACIONAL – TAE 9, 10 e 11 andrematta.blogspot.com.br 14. Como se dá a aplicação indireta da lei estrangeira? O juiz conhece o direito e, em razão disto, cabe ao mesmo aplicar o direito estrangeiro de ofício mesmo quando a parte interessada não o provar ou não o alegar. 15. Qual a diferença entre homologação de sentença e execução de sentença? Homologação de sentença estrangeira não é o mesmo que execução, mas para que a sentença seja executada, é necessária sua homologação. O STJ não é obrigado a homologar, mas o Juiz Federal é obrigado a cumprir. Portanto, homologação e execução são momentos diferentes. 16. Para que servem as cartas rogatórias? As cartas rogatórias servem para decisões interlocutórias. São momentos processuais anteriores à sentença, mas que interferem na decisão do juiz. A carta rogatória chega ao Brasil, vai para o STJ. Este emite uma carta de sentença ao Juiz Federal. 17. A concessão ou denegação do exequatur faz coisa julgada material? A concessão ou denegação do “exequatur” só fará coisa julgada material caso a sentença proferida em país estrangeiro esteja em conformidade com as leis internas do país exequente. Todavia, caso ocorra discrepância entre a sentença prolatada no estrangeiro e a sentença que poderá ser prolatada internamente, esta não fará coisa julgada material. 18. De que modo deve ocorrer a citação de parte domiciliada no Brasil? Vale ressaltar que o requisito da citação pessoal é regra de direito processual material de extrema importância, tratando-se de um processo em que uma das DIREITO INTERNACIONAL – TAE 9, 10 e 11 andrematta.blogspot.com.br partes seja domiciliada no Brasil, é necessário que sua citação tenha sido feita por carta rogatória e não por citação postal ou qualquer outro meio prescrito pelo direito estrangeiro, devendo-se observar três princípios: a) O comparecimento voluntário do réu ao processo no exterior dispensa a existência e citação e também regulariza a citação viciada; b) A falta de citação pode ser suprida quando a parte que requer a homologação é a própria parte que deixou de ser citada; c) Caso as partes não sejam domiciliadas no Brasil, a citação no exterior deverá ser realizada de acordo com a lei onde foi instaurado o processo. 19. Quais são os objetivos da homologação no âmbito interno? O objetivo do processo homologatório é o reconhecimento da eficácia jurídica da sentença estrangeira perante a ordem jurídica brasileira. A concentração dessa competência, perante um único órgão jurisdicional, favorece a produção de uma jurisprudência uniforme e assim, também, a certeza de direito. Homologáveis são, segundo a lei, apenas sentenças estrangeiras, não importando se tratar de sentenças declaratórias, constitutivas ou condenatórias. 20. Quais são as decisões passíveis de homologação? Toda e qualquer sentença que envolva direito privado é passível de homologação. Aquelas que tratam de Direito Público não o são. Para ser homologada, a sentença deve ter viés privado. Sentença declaratória agora é passível de homologação. Antes não era. 21. Descreve o sistema de homologação utilizado no Brasil? O Brasil adota o juízo de delibação. Por este, o juiz brasileiro não analisa mérito. Questionar uma sentença proferida por um outro Estado, para o Brasil, configuraria ferimento à Soberania daquele Estado. Por isso o Brasil não verifica DIREITO INTERNACIONAL – TAE 9, 10 e 11 andrematta.blogspot.com.br mérito. A não verificação de mérito não significa ausência de análise de conteúdo, ou seja, da materialidade. O juiz não verifica o mérito, mas verifica o conteúdo, pois as leis, atos e sentenças de outro Estado não terão validade no Brasil se tiver conteúdo que afete a ordem pública, os direitos humanos, a soberania nacional e os bons costumes. 22. Discorra sobre os requisitos necessários para a homologação de sentença? Os dois objetivos da homologação de sentença são dar força executiva à sentença estrangeira em território nacional e atribuir autoridade de coisa julgada àquela sentença estrangeira (sentença não pode mais ser discutida). Para que essa sentença seja homologada, é necessário que ela tenha sido emitida por juiz competente (competência nacional, art. 89, CPC). Outro requisito é que as partes tenham sido citadas (por carta rogatória) e verificada a revelia. A sentença deve ter transitado em julgado e esteja revestida das formalidades necessárias para as decisões que não tenham mais recursos. 23. Sentença homologanda gera litispendência em relação à lide na justiça brasileira? Não. Conforme o art. 90 do CPC, o objeto da sentença é diferente, portanto,aquela ação que transitar mais rapidamente em um dos Estados, interrompe a outra. 24. Há coincidência entre objetos e partes do processo de homologação e da sentença estrangeira? Não. Não há coincidência entre os objetos da sentença estrangeira e do processo de homologação. E os sujeitos do processo da sentença estrangeira não necessariamente são os mesmos sujeitos do processo de homologação. DI - TAE 1 - respostas.pdf DI - TAE 2 - respostas.pdf DI - TAE 3 - respostas.pdf DI - TAE 4 - respostas.pdf DI - TAE 5 - respostas.pdf DI - TAE 6 - respostas.pdf DI - TAE 7 - respostas - v2.pdf DI - TAE 8 - respostas - v2.pdf DI - TAE 9, 10 e 11 - respostas.pdf