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documento 2015 2214410 (1)

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ASR
Nº 70066582560 (Nº CNJ: 0343634-41.2015.8.21.7000)
2015/Cível
APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PRIVADO NÃO ESPECIFICADO. dívida paga. manutenção indevida em cadastro de inadimplentes por cinco dias. indenização por dano moral. devida. valor reduzido diante das peculiaridades do caso concreto.
repetição do indébito. preclusão. 
1. Segundo o princípio da eventualidade ou da concentração da defesa, o réu deve alegar na contestação toda matéria de defesa possível, de forma que não tendo se insurgido no momento oportuno, opera-se a preclusão consumativa. 
2. No caso, a ré não impugnou o pedido de repetição do indébito da parcela objeto da restrição negativa, operando-se a preclusão consumativa quanto a essa matéria. 
DANOS MORAIS. CONFIGURADOS. VALOR REDUZIDO. 
1. Comprovada a indevida manutenção do nome da autora em cadastros de inadimplentes, os danos morais se presumem, verificam-se “in re ipsa”, ou seja, decorrem da força dos próprios fatos, pouco importando inexista prova nos autos quanto ao efetivo prejuízo sofrido pela vítima em face do evento danoso.
2. Montante da indenização minorado para R$ 2.000,00, tendo em vista as peculiaridades do caso concreto, notadamente a reduzida repercussão da permanência nos órgãos de restrição ao crédito, pois o nome da autora foi mantido indevidamente registrado no rol de inadimplentes por 05 (cinco) dias.
Honorários advocatícios mantidos. 
RECURSO DE APELAÇÃO PARCIALMENTE PROVIDO. 
	Apelação Cível
	Décima Quinta Câmara Cível
	Nº 70066582560 (Nº CNJ: 0343634-41.2015.8.21.7000)
	Comarca de Passo Fundo
	MANZOLI S.A. COMÉRCIO E INDÚSTRIA 
	APELANTE
	ANA PAULA CARDOSO GONçALVES 
	APELADO
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os autos. 
Acordam os Desembargadores integrantes da Décima Quinta Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em dar parcial provimento ao recurso de apelação. 
Custas na forma da lei.
Participaram do julgamento, além da signatária, os eminentes Senhores Des. Vicente Barroco de Vasconcellos (Presidente e Revisor) e Des. Otávio Augusto de Freitas Barcellos.
Porto Alegre, 16 de dezembro de 2015.
DES.ª ADRIANA DA SILVA RIBEIRO, 
Relatora.
RELATÓRIO
Des.ª Adriana da Silva Ribeiro (RELATORA)
Trata-se de recurso de apelação interposto por MANZOLI S.A. COMÉRCIO E INDÚSTRIA, em face da sentença das fls. 64/68 que, nos autos da ação declaratória de inexistência de débito cumulada com indenização por danos morais e repetição de indébito, movida por ANA PAULA CARDOSO GONÇALVES, assim dispôs:
Isso posto, julgo procedentes os pedidos deduzidos na inicial, para: 
a) declarar inexistente o débito relativo à prestação vencida em 01/08/2012, em face do pagamento efetuado;
b) condenar a parte ré, com fulcro no art. 14 CDC e art. 5º, X, da Constituição Federal, a indenizar à parte autora os danos morais a que deu causa, no valor de R$ 3.500,00 (três mil e quinhentos reais), com correção monetária pelo IGP-M a partir da publicação desta sentença (súmula 362 STJ), e juros de 1% ao mês (art. 406 CC, c/c art. 161, §1.º, CTN) a partir da inscrição no SPC (18/09/2012), conforme a súmula 54 STJ;
c) codenar a ré a pagar à autora o valor da prestação ensejadora da restrição de crédito, com correção monetária pelo IGP-M, desde a inscrição negativa e com juros de 1% a contar da citação (art. 405 CC);
d) condenar a parte demandada a suportar as custas processuais e honorários ao procurador da parte autora, no valor equivalente a 15% sobre a condenação imposta nos itens “b” e “c” acima, tendo em conta o trabalho exigido daquele profissional e a pequena expressão econômica da reparação deferida (art. 20, §3.º, CPC);
e) por fim, torno definitiva a antecipação de tutela já deferida nos autos.
Com o trânsito em julgado, recolhidas as custas e nada sendo requerido, arquivem-se os autos.
Em suas razões recursais, sustenta a parte apelante que, diferentemente ao alegado na sentença, não houve a manutenção da inscrição do nome da apelada nos órgãos restritivos de crédito, porquanto cancelou tal apontamento em menos de 10 (dez) dias da data da negativação e antes do ajuizamento da ação.
Salienta que jamais foi procurada pela apelada para resolver o problema, pela via extrajudicial, observando que, para caracterizar a responsabilidade civil, esta deve decorrer do ato praticado pela parte, caracterizando dano, o que não ocorre no caso em epígrafe. 
Menciona o disposto nos artigos 186 e 927, do Código Civil, frisando que agiu nos termos estritos da lei, ao enviar as informações da apelada ao arquivista para proceder a baixa no seu nome, inexistindo ato ilícito capaz de lhe causar dano.
Assevera que meros aborrecimentos ou contratempos não se caracterizam como dano moral, pois esse atinge a esfera psíquica da parte.
 Refere ser descabida a restituição dos valores a que foi condenada, uma vez que não reteve qualquer importância, sendo tal determinação passível de causar enriquecimento sem causa da apelada. 
 Pugna pelo provimento do presente recurso com o fito de reformar a sentença para julgar improcedente a ação ou para reduzir o valor arbitrado na condenação a titulo de danos morais (fls. 73-79).
A apelação foi recebida à fl. 81. 
Foram apresentadas contrarrazões às fls. 83/95.
Vieram-me os autos conclusos para julgamento.
Registro, por fim, que foi observado o previsto nos artigos 549, 551 e 552, do Código Processual Civil, tendo em vista a adoção do sistema informatizado.
É o relatório.
VOTOS
Des.ª Adriana da Silva Ribeiro (RELATORA)
Eminentes Colegas!
O Recurso está em condições de ser conhecido, pois preenchidos os requisitos de admissibilidade, sendo tempestivo e preparado (fl. 80). 
Trata-se de ação declaratória de inexistência de débito, repetição de indébito e indenização por danos morais ajuizada em 11/10/2012, narrando a autora que, em 02/07/2012, efetuou compras no estabelecimento comercial da requerida, adquirindo bens que totalizaram R$ 984,20, incluindo os encargos financeiros. Parcelou tal valor em dez mensalidades fixas de R$ 98,42, vencendo a primeira em 1º/08/2012. Pagou a primeira e a segunda parcela com pontualidade, e, a terceira, com atraso de 15 dias. Contudo, no dia 19/09/2012, ao tentar fazer compras no comércio, foi informada que estava cadastrada no rol de inadimplentes. 
Pois bem, vejamos os documentos juntados aos autos. 
Pelo que se observa dos documentos acostados aos autos, a parcela vencida em 1º/09/2012, foi paga no dia 15/09/2012 (fl. 17). E a primeira parcela, vencida em 01/08/2012, foi paga em 06/08/2012. 
Ressalte-se, ainda, que o registro da Câmara de Dirigentes Lojistas de Passo Fundo difere da CDL de Porto Alegre, sendo semelhante quanto à data da divulgação do cadastro negativo. Vejamos.
 
CDL PASSO FUNDO: 
DT. ENTRADA: 18/09/2012 
DT. ATRASO: 01/08/2012
 CDL PORTO ALEGRE:
DT. INCLUSÃO: 05/09/2012
DT. DIVULGAÇÃO: 18/09/2012
DT. EXCLUSÃO: 27/09/2012. 
O Julgador “a quo” entendeu que a restrição de crédito imposta pela ré à autora diz respeito à prestação vencida em 01 de agosto de 2012, tal como demonstra o documento de fl. 18. No entanto, aquela obrigação havia sido paga, de acordo com o que se vê no recibo de pagamento da fl. 17, emitido pela própria requerida. 
Logo, a dívida ensejadora da inscrição no SPC já estava quitada, o que leva à procedência do pleito de declaração de inexistência do débito. 
Feita tal exposição, passa-se a analisar as questões devolvidas a este Tribunal: repetição do indébito da prestação ensejadora da restrição de crédito e indenização por danos morais no valor de R$ 3.500,00. 
Da repetição do indébito: 
No que concerne à repetição do indébito, efetivamente, a contestação cingiu-se a impugnar tão só pleito de indenização por danos morais. 
Nos termos do art. 300 do CPC: Compete ao réu alegar, na contestação, toda a matéria dedefesa, expondo as razões de fato e de direito, com que impugna o pedido do autor e especificando as provas que pretende produzir. Ou seja, segundo o princípio da eventualidade ou da concentração da defesa, o réu deve alegar na contestação toda matéria de defesa possível, de forma que não tendo se insurgido no momento oportuno, opera-se a preclusão consumativa. 
Por conseguinte, uma vez praticado o ato processual, ele não pode ser repetido ou complementado, exceto surja um novo fato, inexistente, ou desconhecido, no momento da apresentação da peça de defesa.
A respeito do tema, lecionam Nelson Nery Junior e Rosa Maria de Andrade Nery “in” Código de processo civil comentado e legislação extravagante. 11. ed. rev., ampl. e atual. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010, p. 592: 
Princípio da Eventualidade. Por este princípio, o réu deve alegar, na contestação, todas as defesas que tiver contra o pedido do autor, ainda que sejam incompatíveis entre si, pois na eventualidade de o juiz não acolher uma delas passa a examinar a outra. Caso o réu não alegue, na contestação, tudo o que poderia, terá havido preclusão consumativa, estando impedido de deduzir qualquer outra matéria de defesa depois da contestação, salvo o disposto no CPC 303. A oportunidade, o evento processual para que ele possa se defender é a contestação
Desse modo, é de ser mantida a sentença no particular, pois não houve contestação a respeito desse pedido. 
Dos danos morais: 
O Magistrado singular entendeu que a autora provou ter pagado a prestação vencida em 01/08/2012, em 06/08/2012, e, nada obstante, ocorreu a inscrição do seu nome no SPC, em 18/09/2012, sendo apontada a observação de que a “data do atraso” fora 01/08/2012. Ou seja, ao tempo da inscrição na CDL Passo Fundo, a prestação estava adimplida há 43 dias. 
Confrontando-se as inscrições efetuadas pelas CDLs, verifica-se que ocorreu equívoco da CDL Passo Fundo, ao anotar a data do vencimento da prestação, isto é, deveria constar 01/09/2012 e não 01/08/2012, como erroneamente figurou, uma vez que, como acima referido, ambas as divulgações da restrição se deram em 18/09/2009, sendo excluída em 27/09/2012, o que, aliás, é corroborado pela informação acostada ao feito pela autora, que data de 19/09/2012, pois, em que pese a ação fosse protocolizada em 11/10/2012, a demandante não juntou aos autos informação mais atualizada, o que não consistiria em tarefa complexa, bastando dirigir-se à CDL de Passo Fundo, como fez em 19/09/2012. 
Acrescente-se, ainda, que o entendimento do STJ, submetido ao regimento do art. 543-C do CPC, é de que o credor deve requerer, em cinco dias úteis, contados da data do efetivo pagamento, a exclusão do nome do devedor dos serviços de proteção ao crédito, sob o risco de responder por dano moral. Vejamos a ementa desse julgado:
INSCRIÇÃO DO NOME DO DEVEDOR EM CADASTRO DE INADIMPLENTES. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DA CONTROVÉRSIA. QUITAÇÃO DA DÍVIDA. SOLICITAÇÃO DE RETIFICAÇÃO DO REGISTRO ARQUIVADO EM BANCO DE DADOS DE ÓRGÃO DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO. INCUMBÊNCIA DO CREDOR. PRAZO. À MÍNGUA DE DISCIPLINA LEGAL, SERÁ SEMPRE RAZOÁVEL SE EFETUADO NO PRAZO DE 5 (CINCO) DIAS ÚTEIS, A CONTAR DO DIA ÚTIL SUBSEQUENTE À QUITAÇÃO DO DÉBITO. 1. Para fins do art. 543-C do Código de Processo Civil: "Diante das regras previstas no Código de Defesa do Consumidor, mesmo havendo regular inscrição do nome do devedor em cadastro de órgão de proteção ao crédito, após o integral pagamento da dívida, incumbe ao credor requerer a exclusão do registro desabonador, no prazo de 5 (cinco) dias úteis, a contar do primeiro dia útil subsequente à completa disponibilização do numerário necessário à quitação do débito vencido". 2. Recurso especial não provido.
(REsp 1424792/BA, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 10/09/2014, DJe 24/09/2014) – Grifei. 
Por conseguinte, a dívida foi paga em 15/09/2012, vencendo os cinco dias úteis para exclusão em 21/09/2012. Ou seja, o nome da autora permaneceu indevidamente inscrito no rol de inadimplentes por 05 (cinco) dias – de 21 a 26/09/2012 (exclusão em 27/09/2012). 
Restando, pois, comprovada a indevida manutenção do nome da autora em cadastros de inadimplentes, os danos morais se presumem, verificam-se “in re ipsa”, ou seja, decorrem da força dos próprios fatos, pouco importando inexista prova nos autos quanto ao efetivo prejuízo sofrido pela vítima em face do evento danoso.
Os danos morais, nessas circunstâncias, são inerentes ao próprio cadastramento indevido, decorrendo daí o dever de indenizar, sem exigir qualquer outro elemento complementar para sua demonstração. 
Concernente à quantificação dos danos morais, há de se levar em conta os critérios da razoabilidade, proporcionalidade e equidade, sem olvidar o grau de culpa dos envolvidos, a extensão do dano, bem como a necessidade de efetiva punição do ofensor, a fim de evitar que reincida na sua conduta lesiva.
No que concerne ao “quantum” indenizatório, a reparação serve para atenuar o sofrimento da vítima e ainda de sanção ao causador do dano, como fator de desestímulo, para que não volte a praticar aquele ato lesivo à personalidade do ser humano. 
Acerca do tema, leciona Maria Helena Diniz, “apud” Carlos Roberto Gonçalves, “in” Direito Civil Brasileiro, Responsabilidade Civil, Volume 4º, São Paulo: Saraiva, 8ª edição, 2013.
 [...] a reparação pecuniária do dano moral é um misto de pena e de satisfação compensatória, tendo função: a) penal, ou punitiva, constituindo uma sanção imposta ao ofensor, visando à diminuição de seu patrimônio pela indenização paga ao ofendido, visto que o bem jurídico da pessoa –integridade física, moral e intelectual- não poderá ser violado impunemente, subtraindo-se o seu ofensor às consequências de seu ato por não serem reparáveis; e b) satisfatória ou compensatória, pois, como o dano moral constitui um menoscabo a interesses jurídicos extrapatrimoniais, provocando sentimentos que não têm preço, a reparação pecuniária visa proporcionar ao prejudicado uma satisfação que atenue a ofensa causada.
Ademais, o arbitramento do valor indenizatório deve atender aos fins a que se presta a indenização, considerando as peculiaridades de cada caso concreto, de modo a evitar que a repercussão econômica da indenização se converta em enriquecimento injusto da vítima, ou ainda, que o valor seja tão ínfimo, que se torne inexpressivo, não causando qualquer impacto sobre o patrimônio do agente causador do dano. 
No que diz respeito ao “quantum” indenizatório, colacionam-se excertos do brilhante voto proferido pelo douto Ministro Paulo de Tarso Sanseverino nos autos do REsp. n.º 959.780-ES Data de Julgamento: 26/04/2011, T3 - TERCEIRA TURMA)), in verbis:
O arbitramento equitativo da indenização constitui uma operação de concreção individualizador na expressão de Karl Engisch, recomendando que todas as circunstâncias especiais do caso sejam consideradas para a fixação das suas conseqüências jurídicas (ENGISCH, Karl. La idea de concrecion en el derecho y en la ciência jurídica atuales. Tradução de Juan José Gil Cremades. Pamplona: Ediciones Universidade de Navarra, 1968, p. 389).
No arbitramento da indenização por danos extrapatrimoniais, as principais circunstâncias valoradas pelas decisões judiciais, nessa operação de concreção individualizadora, têm sido a gravidade do fato em si, a intensidade do sofrimento da vítima, a culpabilidade do agente responsável, a eventual culpa concorrente da vítima, a condição econômica, social e política das partes envolvidas.
No IX Encontro dos Tribunais de Alçada, realizado em 1997, foi aprovada proposição no sentido de que, no arbitramento da indenização por dano moral, o juiz.... deverá levar em conta critérios de proporcionalidade e razoabilidade na apuração do quantum, atendidas as condições do ofensor, do ofendido e do bem jurídico lesado.
Maria Celina Bodin de Moraes catalagou como aceites os seguintes dados para a avaliação do dano moral: o grau deculpa e a intensidade do dolo (grau de culpa); a situação econômica do ofensor; a natureza a gravidade e a repercussão da ofensa (a amplitude do dano); as condições pessoais da vítima (posição social, política, econômica); a intensidade do seu sofrimento (MORAES, Maria Celina Bodin de.Danos à Pessoa Humana. Rio de Janeiro: Renovar, 2003, p. 29).
Assim, as principais circunstâncias a serem consideradas como elementos objetivos e subjetivos de concreção são:
a) a gravidade do fato em si e suas conseqüências para a vítima (dimensão do dano);
b) a intensidade do dolo ou o grau de culpa do agente (culpabilidade do agente);
c) a eventual participação culposa do ofendido (culpa concorrente da vítima);
d) a condição econômica do ofensor;
e) as condições pessoais da vítima (posição política, social e econômica).
No exame da gravidade do fato em si (dimensão do dano) e de suas conseqüências para o ofendido (intensidade do sofrimento). O juiz deve avaliar a maior ou menor gravidade do fato em si e a intensidade do sofrimento padecido pela vítima em decorrência do evento danoso.
Na análise da intensidade do dolo ou do grau de culpa, estampa-se a função punitiva da indenização do dano moral, pois a situação passa a ser analisada na perspectiva do ofensor, valorando-se o elemento subjetivo que norteou sua conduta para elevação (dolo intenso) ou atenuação (culpa leve) do seu valor, evidenciando-se claramente a sua natureza penal, em face da maior ou menor reprovação de sua conduta ilícita.
Na situação econômica do ofensor, manifestam-se as funções preventiva e punitiva da indenização por dano moral, pois, ao mesmo tempo em que se busca desestimular o autor do dano para a prática de novos fatos semelhantes, pune-se o responsável com maior ou menor rigor, conforme sua condição financeira. Assim, se o agente ofensor é uma grande empresa que pratica reiteradamente o mesmo tipo de evento danoso, eleva-se o valor da indenização para que sejam tomadas providências no sentido de evitar a reiteração do fato. Em sentido oposto, se o ofensor é uma pequena empresa, a indenização deve ser reduzida para evitar a sua quebra.
As condições pessoais da vítima constituem também circunstâncias relevantes, podendo o juiz valorar a sua posição social, política e econômica.
A valoração da situação econômica do ofendido constitui matéria controvertida, pois parte da doutrina e da jurisprudência entende que se deve evitar que uma indenização elevada conduza a um enriquecimento injustificado, aparecendo como um prêmio ao ofendido.
O juiz, ao valorar a posição social e política do ofendido, deve ter a mesma cautela para que não ocorra também uma discriminação, em função das condições pessoais da vítima, ensejando que pessoas atingidas pelo mesmo evento danoso recebam indenizações díspares por esse fundamento.
[...] – Grifei. 
 Segundo dispõe o art. 944 do Código Civil, “a indenização mede-se pela extensão do dano”. 
A extensão do dano é medida considerando o bem ou interesse jurídico lesado (honra, imagem, intimidade, saúde, etc.), a gravidade do dano (pequeno, médio ou grande) e a duração do dano (temporário, de curto, médio ou longo prazo, ou permanente). 
No caso dos autos, a autora se qualifica como “do lar” e litiga ao pálio da gratuidade judiciária, enquanto que a ré (Lojas Manlec) é uma sociedade que tem por objeto o comércio de móveis, eletrodomésticos, artigos de bazar, etc., possuindo várias filiais nesta Capital e no interior deste Estado. 
 Desse modo, sopesados tais vetores, considerando a gravidade e extensão dos danos extrapatrimoniais que, no presente caso, foram de pequena monta, reputo adequado reduzir o montante da indenização por danos morais arbitrado na sentença (R$ 3.500,00) para R$ 2.000,00 (dois mil reais), pois proporcional às peculiaridades do caso concreto. 
Ante o exposto, voto, pois, em dar parcial provimento ao recurso de apelação para reduzir o valor arbitrado a título de indenização por danos morais para R$ 2.000,00 (dois mil reais).
Mantida a sucumbência, fixada em percentual da condenação.
 
Des. Vicente Barroco de Vasconcellos (PRESIDENTE E REVISOR) - De acordo com o(a) Relator(a).
Des. Otávio Augusto de Freitas Barcellos - De acordo com o(a) Relator(a).
DES. VICENTE BARROCO DE VASCONCELLOS - Presidente - Apelação Cível nº 70066582560, Comarca de Passo Fundo: "“DERAM PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO DE APELAÇÃO. UNÂNIME.”"
Julgador(a) de 1º Grau: SEBASTIAO FRANCISCO DA ROSA MARINHO
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