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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA 1ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE TORRES – ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL Processo nº.: MARTA DE OLIVEIRA e JOAQUIM DE OLIVEIRA, ambos devidamente qualificados nos autos do processo de nº. que movem em face de NELCY e DECIO, vêm, perante Vossa Excelência, por intermédio de seu procurador, com fulcro no artigo 1.009 do Código de Processo Civil, interpor recurso de APELAÇÃO, desde já juntando as razões recursais. Torres, 14 de novembro de 2019. ____________________________ FLÁVIA CORRÊA DE LIMA – OAB/RS EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGOR PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL Processo de origem nº.: Apelante: MARTA DE OLIVEIRA e JOAQUIM DE OLIVEIRA Apelado: NELCY e DECIO RAZÕES RECURSAIS COLENDA CÂMARA CÍVEL MARTA DE OLIVEIRA e JOAQUIM DE OLIVEIRA, inconformados com a sentença que julgou parcialmente procedentes os pedidos, vêm, desta recorrer, pelas razões que passa a expor: SÍNTESE DA DEMANDA Os apelantes ajuizaram ação de reparação de danos contra Nelcy, motorista do veículo causador de um acidente e contra Décio, em nome do qual estava registrado o veículo. Em razão do evento, Genésio, pai de Joaquim e esposo de Marta veio a falecer. Os apelantes requereram indenização pelo danos materiais, morais e despesas com funeral. Além disso, houve pedido de pensionamento até que o de cujus completasse 72 anos de idade. Os apelados apresentaram defesa alegando que o evento se deu por culpa exclusiva do falecido Genésio, sendo que Décio requereu, ainda, que fosse acolhida a preliminar de ilegitimidade passiva. O feito foi instruído, sobreveio a sentença que julgou parcialmente procedentes os pedidos, reconhecendo a culpa de Nelcy e condenando-o ao pagamento de danos morais, em R$50.000,00 (cinquenta mil reais) para cada um dos autores. Pensionamento de um salário mínimo mensal até quando Genésio tivesse 65 anos de idade, as despesas funerárias no valor de R$10.000,00 (dez mil reais) e o valor equivalente ao automóvel, em R$25.000,00 (vinte e cinco mil reais). DA ADMISSIBIDLIDADE RECURSAL - Cabimento Conforme antes referido, trata-se de uma sentença que julgou parcialmente procedente os pedidos dos autores. O artigo 1.009 do Código de Processo Civil estabelece que: “Art. 1.009. Da sentença cabe apelação.”. Desta forma, é cabível o recurso. - Tempestividade A sentença foi publicada na data de 24/10/2019 e o artigo 1.003 do Código de Processo Civil estabelece o prazo de 15 dias da publicação da sentença. O recurso foi interposto em 14/11/2019 dentro, portanto, do prazo de 15 dias. Assim, faz-se tempestivo o presente. Ademais, o proceso está regular, as partes possuem interesse e legtimidade, além de estarem devidamente representadas por advogado. Deixa de juntar comprovante de pagamento do preparo, pois litiga sob amparo de gratuidade judiciária, conforme se verifica nas fls. Desta forma, presentes os requisitos de admissibilidade NO MÉRITO Como antes referido, no que se refere a legitimidade, a decisão foi no sentido de manter a responsabilidade civil somente em relação a Nelcy e afastar a de Décio acolhendo a tese de ilegitimidade passiva. A sentença foi no sentido de reconhecer a culpa exclusiva de Nelcy condeno-o ao pagamento de indenização a título de danos morais no valor de R$50.000,00 (cinquenta mil reais) para cada um dos apelantes. O juízo determinou que o pensionamento devido seria apenas de um salário mínimo mensal até quando o falecido Genésio tivesse 65 anos de idade. Determinou ainda o pagamento das despesas funerárias no valor de R$10.000,00 (dez mil reais), além do valor equivalente ao automóvel, alçado em R$25.000,00 (vinte e cinco mil reais). Porém, em parte, merece ser modificada a sentença, vejamos: I - Da legitimidade passiva do apelado Como antes referido, o juízo entendeu por bem declarar que o apelado Décio é parte ilegítima para figurar no polo passivo da ação, sob o fundamento de que o mesmo juntou contrato de compra e venda do veículo e recibo de quitação com data anterior ao evento danoso objeto da ação. No entanto, o juízo deve levar em conta que existem fotos nos autos de Décio na posse do bem, em diversos dias da semana, inclusive em finais de semana, o que denota que o veículo pertence realmente a Décio. Também foi juntado aos autos anúncio de venda do bem em jornal local após o evento, onde consta que o proprietário é Décio e não Nelcy, conforme fls. Sendo assim, o contrato de venda do veículo e o respectivo recibo são provas ilícitas, além da prova testemunhal, mais especificamente as declarações de Luiz Alberto Baldissera e de João Carlos Bonatti, que tudo indica que faltaram com a verdade, agindo de má-fé e em conluio com o demandado Décio. Ou seja, tentam induzir o julgador em erro, produzindo documentos falsos a fim de comprovar a transferência do veículo ao então motorista Nelcy, para que esse arcasse exclusivamente com a condenação, salvaguardando o patrimônio daquele que era o verdadeiro dono do veículo e que efetivamente possui patrimônio apto a indenizar. A transferência de bem móvel, conforme disposto no artigo 1.267 do Código Civil, se dá pela simples tradição. Neste mesmo sentido, cabe mencionar a decisão do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, vejamos: APELAÇÃO CIVIL. DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. REINTEGRAÇÃO DE POSSE. BEM MÓVEL. CERCEAMENTO DE DEFESA. INÉPCIA DA INICIAL. ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM - PRELIMINARES REJEITADAS. AUTOMÓVEL. COMPRA DE VEÍCULO. TRADIÇÃO. PROPRIEDADE DO VEÍCULO OCORRIDA MEDIANTE FRAUDE. NEGÓCIO JURÍDICO NULO. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. SENTENÇA MANTIDA. 1. Preliminares rejeitadas - [...] c) ilegitimidade passiva ad causam: não há que se falar no reconhecimento de ilegitimidade passiva quando, da própria narrativa do apelo, houver o pedido de reconhecimento da posse e propriedade do automóvel objeto da celeuma, afastando o argumento de que não é legítima para figurar na demanda. Dessa maneira, a afirmação de que está com a posse do bem e o pedido de reconhecimento da propriedade do bem torna a parte legítima para figurar no polo passivo da ação. 2. Pela redação do artigo 1.297 do Código Civil - CC, a propriedade de bem móvel se dá no momento da tradição (entrega). 3. A compra e venda de veículo automotor, por intermédio de negócio realizado por quem não é o seu legítimo proprietário, embora gere presunção de boa-fé daquele que o adquire, não transfere a propriedade, sendo hipótese de negócio jurídico nulo, por não haver a manifestação de vontade do verdadeiro proprietário da coisa - artigo 1.268, § 2º do CC. 4. RECURSO CONHECIDO, PRELIMINARES https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111983995/c%C3%B3digo-civil-lei-10406-02 REJEITADAS (CERCEAMENTO DE DEFESA, INÉPCIA DA INICIAL E ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM), E, NO MÉRITO, DESPROVIDO. SENTENÇA MANTIDA. (TJ-DF 20150710299366 DF 0029113-84.2015.8.07.0007, Relator: ROBSON BARBOSA DE AZEVEDO, Data de Julgamento: 12/12/2018, 5ª TURMA CÍVEL, Data de Publicação: Publicado no DJE : 19/12/2018 . Pág.: 484/491) Ainda neste sentido, faz-se mister demonstrar o lecionamento do doutrinador Flávio Tartuce: “Como apontado quando do estudo da posse, a tradição (traditio rei) consiste na entrega da coisa ao adquirente, com a intenção de lhe transferir a sua propriedade. Conforme determina o caput do art. 1.267 do Código Civil, a propriedade das coisas não se transfere pelos negócios jurídicos antes da tradição. A concretizar na prática, contratos como a compra e venda e a doação, por si só, não têm o condão de gerar a aquisição da propriedade móvel, o que somente ocorre com a entrega da coisa.” Ocorre que, acontrário do que entendeo juizo, a prova é pacifica no sentido de que o apelado deve sim compor o polo passivo da demanda, pois tudo aponta que Décio é dono do veículo, já que não houve tradição do bem e, portato, o contrato é fraudulento e, consequentemente, resta caracterizada a fraude processsual através de simulação do negócio jurídico. II - Do dano moral Sustentou o juízo que o valor de R$50.000,00 (cinquenta mil reais) para cada um dos autores é suficiente para repor o dano moral. Porém, esse valor é insuficiente, pois o falecido Genésio, pai e esposo dos recorrentes, era o único que sustentava a família através de seus serviços como autônomo, os quais geravam-lhe uma renda de R$3.000,00 (três mil reais) mensais e que eram utilizados para arcar com as despesas de suas necessidades básicas familiares. Como já comprovado nos autos, a culpa pelos danos ocorridos, inclusive a morte de Genésio, se deu única e exclusivamente por ação do recorrido Nelcy, motorista do veículo no momento do acidente. Em razão disso, o motorista Nelcy e o legítimo proprietário do veículo envolvido Décio, são responsáveis solidariamente pelo gravíssimo e irremediável dano emocional, psicológico e moral ocasionados aos recorrentes, motivo pelo qual faz-se necessário que esse valor seja majorado para R$150.000,00 (cento e cinquenta mil reais) para cada um dos autores e recorrentes, conforme requerido na exordial. Neste sentido, demonstra-se o julgado do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, vejamos: APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL EM ACIDENTE DE TRÂNSITO. AÇÃO INDENIZATÓRIA. MORTE DO COMPANHEIRO E PAI DOS AUTORES. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. DANO MORAL MANTIDO. Deve o proprietário do veículo responder pelo fato da coisa, se comprovada a culpa do seu condutor. Responsabilidade solidária e objetiva. Valor dos danos morais fixado na sentença mantido. APELO DESPROVIDO. UNÂNIME. (Apelação Cível Nº 70074798596, Décima Primeira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Antônio Maria Rodrigues de Freitas Iserhard, Julgado em 16/05/2018). (TJ-RS - AC: 70074798596 RS, Relator: Antônio Maria Rodrigues de Freitas Iserhard, Data de Julgamento: 16/05/2018, Décima Primeira Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 18/05/2018) III - Quanto ao valor e período do pensionamento Como se vê da sentença, o juízo fixou apenas um salário mínimo mensal até que o de cujus completasse 65 anos, sob o fundamento de que este foi o valor demonstrado nos autos como devido. Entretando, a prova é no sentido de que o falecido Génesio ganhava R$3.000 (três mil reais) mensais, conforme fls., sendo o valor de apenas um salário mínimo mensal muito abaixo do necessário para arcar com as necessidades básicas dos apelantes que dependiam única e exclusivamente dos proventos obtidos pelo referido. Neste sentido, já há o entendimento deste tribunal de que o valor do pensionamento deve ser de 2/3 do total que percebia no período compreendido entre a data do falecimento até quanto completasse 75 anos, vejamos: APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL EM ACIDENTE DE TRÂNSITO. AÇÃO D REPARAÇÃO DE DANOS. VÍTIMA FATAL. PENSIONAMENTO. FAMÍLIA DE BAIXA RENDA. DEPENDÊNCIA ECONÔMICA PRESUMIDA. MORTE DE FILHO. É DEVIDO O PENSIONAMENTO MENSAL AOS PAIS DA VÍTIMA. PAGAMENTO QUE SE REGULA, NO CASO CONCRETO, PELO VALOR DE 2/3 DO VALOR QUE PERCEBIA NO PERÍODO COMPREENDIDO ENTRE AS DATA DO FALECIMENTO DA VÍTIMA ATÉ QUE COMPLETARIA 75 (SETENTA E CINCO) ANOS DE IDADE, OU ATÉ QUE OCORRA A MORTE DOS SEUS GENITORES. RECURSO PROVIDO NO PONTO. INDENIZAÇÃO DANO MORAL. VALOR MANTIDO DIANTE DA REALIDADE FINANCEIRA DE AMBAS AS PARTES. UNÂNIME. APELO PROVIDO EM PARTE.(Apelação Cível, Nº 70074785577, Décima Primeira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Katia Elenise Oliveira da Silva, Julgado em: 13-09-2017) Portanto, deve ser majorado o valor e o período do pensionamento, a fim de que se atendam as necessidades básicas da esposa e filho que eram dependentes da vítima fatal. Ante todo o exposto, requer que seja conhecido e provido o recurso para modificar parcialmente a sentença e: a) reconhecer a legitimidade passiva do apelado Décio; b) seja majorado a indenizaçao por dano moral, temas da inicial, ou seja, R$150.000,00 (cento e cinquenta mil reais) por cada apelante; c) seja estabelecido a título de pensionamento mensal o valor de R$2.010,00 (dois mil e dez reais), correspondente a dois salários mínimos a serem pagos aos apelantes; d) seja fixado como período final do pagamento da pensão quando o de cujos fosse completar 75 anos de idade. Porto Alegre, 14 de novembro de 2019. ____________________________ FLÁVIA CORRÊA DE LIMA – OAB/RS EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DO JUIZADO ESPECIAL DA FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE DOIS IRMÃOS – ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL Processo nº.: CAROLINA FARIAS FIGUEIRÓ, já qualificada nos autos do processo que move em face de MUNICÍPIO DE DOIS IRMÃOS DAS MISSÕES-RS, também qualificado nos autos, vem, por intermédio de seu procurador, com base no artigo 4º da lei 12.153/09, interpor RECURSO INOMINADO, requerendo que seja recebido e processado. Dois Irmãos, 14 de novembro de 2019. ____________________________ FLÁVIA CORRÊA DE LIMA – OAB/RS COLENDA TURMA RECURSAL Recorrente: CAROLINA FARIAS FIGUEIRÓ Recorrido: MUNICÍPIO DE DOIS IRMÃOS DAS MISSÕES - RS RAZÕES RECURSAIS Ínclitos julgadores, CAROLINA FARIAS FIGUEIRÓ, inconformada com a decisão que julgou improcedente seus pedidos, vem, desta recorrer, pelas razões que passa a expor: SÍNTESE DA DEMANDA A recorrente ajuizou ação de reparação de danos morais e materiais, sustentando que sofrera acidente de trânsito em razão da falta de sinalização da via pública na qual trafegava, requerendo a condenação do município para o pagamento de indenização por danos morais e materiais, além de lucros cessantes. Citado, o demandado apresentou contestação alegando, em síntese, a culpa exclusiva da autora pelo acidente de trânsito e impugnou os pedidos formulados na exordial. Sobreveio a sentença julgando improcedente os pedidos da autora-recorrente sob o fundamento de que o sinistro se deu por culpa exclusiva da mesma, pois ela trafegava em velocidade inadequada para a via em questão. No entanto, o juízo errou na análise da prova, já que o município demandado não sinalizou as obras naquela via, como poderá ser demonstrado a seguir. DA ADMISSIBIDLIDADE RECURSAL - Cabimento Trata-se de uma sentença do Juizado Especial da Fazenda Pública que julgou improcedentes os pedidos da autora. O artigo 4º da lei 12.153/09 estabelece que: “Art. 4º Exceto nos casos do art. 3º, somente será admitido recurso contra a sentença.”. Desta forma, é cabível o recurso. - Tempestividade A sentença foi publicada na data de 01/11/2019 e o artigo 42 da Lei 9.099/95 estabelece o prazo de 10 dias da publicação da sentença. “Art. 42. O recurso será interposto no prazo de dez dias, contados da ciência da sentença, por petição escrita, da qual constarão as razões e o pedido do recorrente.” O recurso foi interposto em 14/11/2019 dentro, portanto, do prazo de 10 dias. Assim, faz-se tempestivo o presente. Ademais, o proceso está regular, as partes possuem interesse e legtimidade, além de estarem devidamente representadas por advogado. Deixa de juntar comprovante de pagamento do preparo, pois litiga sob amparo de gratuidade judiciária, conforme se verifica nas fls. Desta forma, presentes os requisitos de admissibilidade. NO MÉRITO Conforme antes referido, o juízo de improcedência se deu em razão de entender que o evento se deu por culpa exclusiva da autora-recorrente, pois estava trafegando em alta velocidade. Porém, merece reforma o julgado, vejamos: I - Quanto a velocidade A autora-recorrente trafegava em velocidade adequada paraa pista de chão batido, ou seja 60km/h, dentro, portanto, do limite de velocidade que determina o Código de Trânsito Brasileiro, mais especificamente em seu artigo 61, vejamos: “Art. 61. A velocidade máxima permitida para a via será indicada por meio de sinalização, obedecidas suas características técnicas e as condições de trânsito. § 1º Onde não existir sinalização regulamentadora, a velocidade máxima será de: II - nas vias rurais: c) nas estradas: 60 km/h (sessenta quilômetros por hora).” Desta forma, pode-se verificar que o fator preponderante para os danos foi o estado da pista e ausência de sinalização, pois a autora-recorrente dirigia com cautela e dentro do limite de velocidade da pista. II - Da culpa Veja que a testemunha Daniel Ramos, motorista da Prefeitura disse que a estrada havia sido patrolada e não tinha chovido, que haviam pedras soltas e não tinha sinalização. O testemunho de Everaldo Martins, operador de máquinas, vai neste mesmo sentido, pois ele confirma que a estrada havia sido patrolado na manhã do dia do acidente, que havia passado o rolo e não sinalizado a via. Afirmou ainda que ficam bastante pedras na via. Portanto, as evidências apontam para a exclusão da culpa da condutora e, em contrapartida, caracterizam a responsabilidade do município de, além de não fornecer uma via com condições de trafegar, a falta de sinalização, fatores que foram determinantes para o ocasionamento do acidente causado pela perda do controle do veículo devido a presença de pedregulhos colocados na estrada pelo Município demandado. DO DIREITO Nossa Carta Magna prevê, expressamente a responsabilidade civil do estado, vejamos: Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: § 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa. É o que também se encontra reforçado no Código Civil, mais precisamente no artigo 43, in verbis: Art. 43. As pessoas jurídicas de direito público interno são civilmente responsáveis por atos dos seus agentes que nessa qualidade causem danos a terceiros, ressalvado direito regressivo contra os causadores do dano, se houver, por parte destes, culpa ou dolo. Acerca da responsabilidade civil do estado, demonstra-se o lecionamento do doutrinador Paulo Nader, a seguir: Na moderna experiência brasileira, os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, se obrigam “a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos”, Neste mesmo sentido, extrai-se o julgado do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, vejamos: Ementa: RECURSO INOMINADO. PRIMEIRA TURMA RECURSAL DA FAZENDA PÚBLICA. RESPONSABILIDADE CIVIL. MUNICÍPIO DE SANTA VITÓRIA DO PALMAR. ACIDENTE DE TRÂNSITO. BURACO EM VIA PÚBLICA. OMISSÃO DO ENTE PÚBLICO NA FISCALIZAÇÃO, CONSERVAÇÃO E SINALIZAÇÃO. DANOS PATRIMONIAIS. DEVER DE INDENIZAR. SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA MANTIDA PELOS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS. RECURSO INOMINADO DESPROVIDO. UNÂNIME.(Recurso Cível, Nº 71008199150, Turma Recursal da Fazenda Pública, Turmas Recursais, Relator: José Pedro de Oliveira Eckert, Julgado em: 31-10-2019)[0] Desta forma, restou demonstrada a culpa do município, portanto é devida a indenização por danos morais e materiais suportados pela autora-recorrente. Ante todo o exposto, requer que seja conhecido e provido o presente recurso para reformar a sentença em seu todo, condenando o município demandado ao pagamento de indenização a título de danos morais e materiais a autora-recorrente. Porto Alegre, 14 de novembro de 2019. ____________________________ FLÁVIA CORRÊA DE LIMA – OAB/RS EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGOR PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL Processo nº.: JAIR SOUZA SANTOS e CARLA OLIVEIRA MARTINS, já qualificados nos autos do processo que move contra GOOGLE BRASIL INTERNET LTDA., REDE RECORD DE TELEVISÃO e CASA DO C. FELIZ RESTAURANTE LTDA – SOFAZÃO, também qualificados nos autos, vem, por seu procurador, com base no artigo 1.029 do Código de Processo Civil e artigo 105 da Constituição Federal, interpor RECURSO ESPECIAL contra decisão que violou lei federal, requerendo seja recebido e processado. Porto Alegre, 14 de novembro de 2019. ____________________________ FLÁVIA CORRÊA DE LIMA – OAB/RS SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA Recorrente: JAIR SOUZA SANTOS e CARLA OLIVEIRA MARTINS Recorrido: GOOGLE BRASIL INTERNET LTDA., REDE RECORD DE TELEVISÃO e CASA DO C. FELIZ RESTAURANTE LTDA – SOFAZÃO COLENDA CAMARA Nobres Ministros, JAIR SOUZA SANTOS e CARLA OLIVEIRA MARTINS, inconformados com a decisão que julgou improcedentes os pedidos dos autores-recorrentes, vem, desta recorrer, pelas razões que passa a expor: RELATORIO Os autores-recorrentes ajuizaram Ação de Obrigação de Fazer c/c Reparação de Danos Materiais em face dos recorridos sustentando que houve grave violação ao direito de imagem e intimidade. O juízo de primeira instância decidiu por acolher os pedidos dos autores, condenando os réus-recorridos ao pagamento de indenização a título de danos morais. No entanto, entendendo que o valor da indenização deveria ser majorado por tamanho abalo moral e psicológico, os autores-recorrentes interpuseram recurso de apelação. O mesmo fizeram os réus, sustentando que a indenização não era devida. A apelação dos réus foi provida, decidindo por reconhecer improcedente a ação proposta pelos autores-recorrentes. No entanto, essa decisão merece reforma, conforme será demonstrado a seguir. DA ADMISSIBIDLIDADE RECURSAL - Cabimento Conforme se vê, no julgamento não foi observado o artigo 186 do Código Civil, contrariando, portanto, a Lei Federal nº. 10.406, de 10 de janeiro de 2002 e ainda o artigo 5º da Constituição Federal, sendo cabível assim o presente recurso, em obediência ao artigo 105, III, a da Constituição Federal. - Tempestividade A sentença foi publicada na data de 24/10/2019 e o artigo 1.003 do Código de Processo Civil estabelece o prazo de 15 dias da publicação da sentença. O recurso foi interposto em 14/11/2019 dentro, portanto, do prazo de 15 dias. Assim, faz-se tempestivo o presente. Ademais, o proceso está regular, as partes possuem interesse e legtimidade, além de estarem devidamente representadas por advogado. Junta, neste ato, comprovante de pagamento da guia de preparo. Desta forma, presentes os requisitos de admissibilidade. PREQUESTIONAMENTO A matéria objeto do recurso já foi discutida no curso do processo. No entanto, cabe ainda reforçar a não observância em juízo dos artigos 186 do Código Civil e o artigo 5º da Constituição Federal, já que os autores-recorrentes sofreram grave abalo emocional e psicológico por culpa dos demandados. NO MÉRITO Conforme se vê da decisão, o juízo foi de improcedência, sob fundamento de que não houve o abalo e dano moral sofrido por parte dos autores-recorrentes e, portanto, não há necessidade de indenizá-los. Ocorre que, ao contrário do que entendeu o juízo, houve sim forte abalo psicológico aos autores-recorrentes, restando caracterizado o dano moral sofrido por estes e causado por ação dos réus-recorridos. Quanto à isso, há a necessidade de valoração da prova, pois a divulgação das imagens com cunho de ofendera integridade moral dos recorrentes assim o fez, sofrendo assim grave e irreparável dano moral. Neste mesmo sentido há uma colisão de direitos fundamentais, cuja solução não impõe o afastamento integral de um de outro, mas sim a adequação proporcional de ambos, com eventuais preponderâncias. Nesse caso, a necessidade da ponderação dos princípios da liberdade de expressão versus o direito a intimidade, devendo haver um limite razoável entre eles, o que não ocorreu no caso em questão, já que o cunho informativo e relevante para a sociedade não foi observado pelos demandados, restando caracterizado, por tanto, o dano moral sofrido pelos autores-recorrentes. DO DIREITO Neste diapasão, cabe mencionar o artigo 186 do Código Civil, in verbis: “Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.” Ainda neste mesmo sentido, vale ressaltar que o direito a imagem está previsto expressamente em nossa Lei Maior, inclusive mencionando o cabimento de indenização por dano moral caso seja violado, se não vejamos no artigo 5º, incisos V e X: “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem; X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação.” O doutrinador Humberto Theodoro Júnior preleciona neste sentido: “Quanto à prova, a lesão ou dor moral é fenômeno que se passa no psiquismo da pessoa e, como tal, não pode ser concretamente pesquisado. Daí por que não se exige do autor da pretensão indenizatória que prove o dano extrapatrimonial. Cabe-lhe apenas comprovar a ocorrência do ato lesivo, de cujo contexto o juiz extrairá a idoneidade, ou não, para gerar dano grave e relevante, segundo a sensibilidade do homem médio e a experiência da vida.” Acerca da necessidade de indenização, Paulo Nader discorre: “A indenização por danos morais não visa à reparação, pois não há como a vítima se tornar indene; condena-se com dupla finalidade: a de proporcionar à vítima uma compensação e para se desestimular condutas desta natureza.” Desta forma, percebe-se que decisão fere o artigo 186 do Código Civil, contrariando a Lei Federal, inclusive o artigo 5º da Constituição Federal e, portanto, merece reforma. Ante todo o exposto requer que seja conhecido e provido o presente recurso para reformar a decisão que julgou improcedente os pedidos dos autores-recorrentes, condenando os réus-recorridos ao pagamento de indenização a título de danos morais cometidos por estes. Porto Alegre, 14 de novembro de 2019. ____________________________ FLÁVIA CORRÊA DE LIMA – OAB/RS
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