Buscar

Regras, estimulos descriminativos e alteradores de função Volume 9 GUILHARDI, H. J. et al. Sobre Comportamento e Cognição. 126 131

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 6 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 6 páginas

Prévia do material em texto

Capítulo 12
Regras: Estímulos dicriminitivos ou 
estímulos alteradores de função
flisa Tavares Sanabio 
Universidade Católica de C/oiJs
/ose/e A breu-Kodrigues 
Universidade de HrasHia
Quando estímulos antecedentes exercem funções opmnnte*, eles «Ao axnumente dasstflr«dos como estímulos disorimmativo» 
(S°n) Tais nstlmulos exercem efeitos evocativos, pois. umn vn/ estando presente. produ/em um iiumonto Imodlata, mas 
itKxmntÃnoo, na frequência do comportamento Entretanto, alguns estímulos, freqüentei nonte definidos como S"8, produ/em 
mudanças duradoumano comportamento e quo podem ser observadas uxnanta apôs um perhxlodo ntrano. Essns estímulos nflo 
evocam diretamente comportamentos, sendo seu principal efeito altorar a função de outros eventos comportamentais (FASs). A 
partir dessa distinçAo entre SDe FAS, alguns autores apontam quo o defmiçAo do termo rmjra como um S” verbal é inadequado 
e propõem que osse termo se|a empregado somente quando o estimulo verbal exercer efeitos alteradores de funçAo. Uma das 
principais dificuldades metodológicas da pesquisa empírica sobre FAS consiste «m diferenciar o» efeitos dlscrlminativos dos 
efeitos alteradores de furvçfto A «stwWiyi* uWt/ada alguns autoros tem stdo separar Uimpomlmw\te o estimulo vurbal do 
wxnportamento por ele especificado, permitindo, assim, <jue o efeito atrasado seja observado. Os resultados empíricos (ainda om 
pequena quantidade), aliados ás análises conceituais, sugerem que <1 distinçAo entro S1’ e FAS deveria ser mais amplamente 
investigada pelos analistas do comportamento
Palavras-chave: regra, estimulo discrlminntivo, estimulo «Iterador de funçAo
When antecedent stlmull axart operant functions thoy are usually classlfied as dlscrlmlnativo stlmuli (S"s). Such 
stlmuli are said to have evocativa effects because they produce an immediate but monientary effect on tha fraquoncy 
of behavior. Howover, some stlmuli, often deflned as Su, produce •nduring changes on behavior which are obseived 
only after a d»l»y perlod. These stlmuli do not evoke behavior dlrectly; rathar, their maln efect I* to alter the functlon 
of other behavioral events (FASs). From this distinctlon between S° and FAS, some authors have polnted out that 
deflnlng ru/aa as Sus is Inapropriate and suggest that such term should be employed only when verbal stlmuli exert 
functlon-altarlng/ffacts One of the maln methodologlcal difflcultles of the emplrlcal research on FAS is to differentiate 
discrlminatlve and functlon-alterlnf effects. The strategy used by some authors has been to Impose a temporal gap 
between the verbal stimulus and the corraspondent behavior such that the delayed effect can be observed. The 
emplrlcal results (yet In a small amount), together with conceptual analyses, suggest that the distinctlon between 8° 
and FAS should be throughly investlgated by behavior analysts.
Key words. rule, discrlminatlve stimulus, functlon-alterlng stimulus.
Na tentativa de melhor compreender o comportamento e suas variáveis de controle, 
analistas do comportamento procuram identificar as condições ambientais das quais o 
comportamento é função. Para tanto, utilizam-se do conceito de contingência, definida 
como uma relação entre eventos ambientais ou entre comportamento e eventos ambientais, 
na forma “se, então" (Todorov, 1985). Contingências operantes comumente incluem três 
itens: (1) condições presentes ou antecedentes, (2) comportamento e (3) conseqüências 
ambientais de tal comportamento. Quando estímulos antecedentes exercem funções
114 FIIíu Tuvurcs Sanabio e foseie Abreu Roílrigue*
operantes, eles são freqüentemente classificados como estímulos discriminativos (SDs). 
Recentemente, a literatura vem questionando essa classificação, tentando estabelecer 
uma diferenciação entre SDs e estímulos alteradores de função (FASs).
De acordo com Michael (1982), classificamos um estímulo como discriminativo 
quando (1) dada a efetividade momentânea de um reforçamento, ocorre (2) um aumento na 
freqüência de uma dada resposta (3) devido a uma história de reforçamento diferencial na 
presença desse estímulo. Dizemos, então, que tal estímulo possui efeitos evocativos, 
pois, uma vez estando presente, produz um aumento imediato e momentâneo na freqüência 
do comportamento.
É comum observar estímulos sendo classificados como Süs simplesmente porque 
exercem um controle antecedente sobre o comportamento, como é o caso dos estímulos 
verbais que chamamos de regras. O interesse por estes estímulos surgiu quando Skinner 
(1969) diferenciou dois tipos de comportamentos. Segundo ele, o comportamento pode 
ser o resultado do contato direto com as contingências, ou seja, um organismo se comporta 
de uma certa forma porque seu comportamento foi seguido por um determinado tipo de 
conseqüência no passado. Nesse caso, denominamos tal comportamento de comportamento 
modelado por oontingências. Entretanto, as pessoas aprendem a descrever seus comportamentos, 
as condições em que eles ocorrem e suas conseqüências e são, de alguma forma, afetadas 
por estas descrições. Esse segundo tipo de comportamento, produto de descrições verbais 
das contingências, ó chamado de comportamento governado por estímulos verbais. Embora 
esses dois tipos de comportamento apresentem processos de aquisição e manutenção 
diferenciados, um ponto comum entre eles deve ser destacado: ambos são comportamentos 
operantes e, enquanto tais, são controlados por suas conseqüências ambientais.
Tendo feito essa distinção, Skinner (1969) definiu os estímulos verbais a partir de 
dois critérios. De acordo com o primeiro, um critério formal, estímulos verbais são descritos 
como estímulos especificadores de contingências (ou CSS, do inglês contingency-specifying 
stimuli). De acordo com o segundo critério, que enfatiza a função de tais estímulos, 
estímulos verbais são descritos como estímulos discriminativos, ou seja, SDs. A partir de 
então, esta definição funcional é encontrada no trabalho de muitos analistas do 
comportamento, tais como Baldwin e Baldwin (1981), Baum (1999), Catania (1998), Cerutti
(1989), Galizio (1979) e Hayes, Brownstein, Zettle, Rosenfarb e Korn (1986).
Sem dúvida alguns estímulos verbais podem controlar comportamento enquanto 
estímulos antecedentes e estas relações de controle parecem ser claramente operantes. 
De acordo corrf Schlinger (1993), entretanto, devemos ser cuidadosos ao classificar um 
estímulo antecedente como sendo um SD. Considere o estímulo verbal ‘‘Quando os hóspedes 
chegarem, prepare um café", sendo apresentado a um indivíduo pela primeira vez. Apesar de 
preceder o comportamento de preparar o café, esse estímulo verbal não deve ser classificado 
como Sn, pois não atende dois importantes critérios para que um estimulo seja considerado 
discriminativo. Primeiro, tal estímulo verbal não evoca o comportamento de preparar o café, 
no sentido de produzir um aumento imediato e momentâneo na freqüência desse 
comportamento. Uma análise cuidadosa revelaria que a ocorrência de tal comportamento foi 
ocasionada pela chegada dos hóspedes. Assim, não seria apropriado afirmar que o estímulo 
verbal evocou o comportamento, pois tal função evocativa parece ter sido exercida pelos 
hóspedes. Segundo, para que esse estímulo verbal fosse considerado SD, seria preciso 
identificar uma história de reforçamento diferencial que resultou no estabelecimento de tal 
função. Entretanto, uma vez que tal estímulo foi apresentado pela primeira vez, o
Sobre Comportamento e CoflniçAa 115
comportamento especificado por ele ainda nâo teve a oportunidade de ser reforçado em sua 
presença e, assim, não é possível identificar tal história.
Um outro exemplo pode ajudar na compreensão dessas duas funções. Consideremos 
a primeira vez que uma pessoa recebe o estímulo verbal "Tire as roupas do varal quando a 
chuva cair". De acordo com a sugestão de Schlinger (1993), o comportamentode tirar as 
roupas do varal não está sob controle discriminativo do estímulo verbal, uma vez que o 
comportamento em questão ocorreu horas depois que esse estímulo foi dado, tendo sido 
evocado pela ocorrência da chuva em si. Além disso, não é possível identificar uma história 
de reforçamento diferencial, pois, como no exemplo anterior, o estimulo verbal está sendo 
apresentado a primeira vez e ainda não foi possível que o comportamento de tirar as 
roupas do varal tenha sido reforçado em sua presença.
Nesses dois exemplos apresentados, qual seria, então, a função dos estímulos 
verbais? Segundo Schlinger e Blakely (1987), Blakely e Schlinger (1987), Schlinger (1990), 
Schlinger, Blakely, Fillhard e Poling (1991) e Schlinger (1993), esses estímulos devem ser 
chamados de alteradores de função. "O termo alteradorde função é usado para se referir 
a operações ambientais que alteram funções comportamentais de outros estímulos" 
(Schlinger, 1993, pág. 11). Os estímulos alteradores de função possuem efeitos que podem 
ser observados somente após um período de atraso e que são considerados duradouros. 
Além disso, tais estímulos não evocam comportamentos como os SDs, sendo seu principal 
efeito alterar a função de outros eventos comportamentais. Sendo assim, nos exemplos 
apresentados anteriormente, cada um dos estímulos verbais pode ser considerado como 
alterador de função: o estímulo “Quando os hóspedes chegarem, prepare um café"altera o 
papel da chegada dos hóspedes, que passa a ter a funções evocativas sobre o comportamento 
de preparar o café; da mesma maneira, o estimulo "Tire as roupas do varal quando a chuva 
cair" alterou o papel da chuva, que passou a exercer funções evocativas sobre o 
comportamento de tirar as roupas do varal.
A partir dessa discussão, Schlinger e Blakely (1987), Blakely e Schlinger (1987), 
Schlinger (1990), Schlinger e cols. (1991) e Schlinger (1993) propõem uma revisão conceituai 
do termo regra, com base em dois argumentos. Primeiro, se um estímulo verbal é definido 
como SD verbal e se o SD verbal exerce funções semelhantes àquelas exercidas pelo Su 
não verbal, por que atribuir ao primeiro um nome especial (regra)? Segundo, a definição 
amplamente utilizada de regra como um SD verbal é considerada inadequada por esses 
autores, que sugerem que esse termo seja empregado somente quando o estímulo verbal 
exercer efeito^alteradores de função.
Os estímulos alteradores de função podem atuar de diversas maneiras sobre os 
eventos ambientais (Schlinger e Blakely, 1987). Eles podem, por exemplo, alterara função 
evocativa dos SDs, seja estabelecendo uma nova relação discriminativa, como mostram 
os dois exemplos anteriores, seja alterando (fortalecendo ou enfraquecendo) uma relação 
discriminativa já existente. Nesse último caso, por exemplo, o estímulo "Permaneçam na 
sala após tocar o sinal do recreio” altera uma relação discriminativa, uma vez que o sinal 
não mais irá funcionar como um SD para o comportamento de sair da sala. Esses estímulos 
também podem alterar a função evocativa de operações estabelecedoras (OEs), produzindo 
uma nova relação entre variáveis motivacionais e o comportamento. Por exemplo, o estímulo 
“Fiquei sabendo que a loja X está com uma liquidação ótima" estabelece uma relação 
motivacional entre a loja descrita e o comportamento de consumir seus produtos. É possível 
também que eles alterem uma relação motivacional já existente. Por exemplo, o estímulo
116 hlisd Tavares San.ibio c Joscle Abrcu-Rodri#u«
verbal “A sua loja preferida aumentou os preços"aItera a relação motivacional já estabelecida 
entre a loja e o comportamento de consumo. Esses estímulos alteradores de função 
também podem estabelecer propriedades reforçadoras para as conseqüências do 
comportamento. Um exemplo desse efeito é encontrado em muitos estudos com sujeitos 
humanos, quando o experimentador fornece um estímulo verbal do tipo "Tente ganhar o 
máximo de pontos possível. Ao final da sessão, seus pontos serão trocados por dinheiro" 
(Schlinger, 1993). Ou seja, os pontos ganhos durante a sessão adquirem propriedades 
reforçadoras em decorrência do estímulo verbal fornecido.
O efeito alterador de função ó observado não apenas em relações operantes. 
Muitas relações respondentes podem, também, ser modificadas. O estímulo verbal "Quando 
você receber a prova, você sentirá um frio na barriga "pode alterar a função da prova. Ou 
seja, o estímulo prova pode passar a eliciar diversos respondentes, o que não ocorria 
antes da emissão desse estímulo verbal.
Em suma, os efeitos alteradores de função, de acordo com Schlinger (1993), 
representam os processos que comumente chamamos de aprendizagem. Por exemplo, 
as seguintes operações são consideradas alteradoras de função: (a) condicionamento e 
extinção respondentes: (b) condicionamento e extinção operantes, reforçamento, punição, 
treino discriminativo; (c) operações que produzem reforços e punições condicionadas; (d) 
escolha de acordo com o modelo; e (e) operações induzidas por esquemas. Ou seja, 
qualquer operação que resulte na mudança de alguma função de um estímulo, como 
essas citadas anteriormente, pode ser considerada como alteradora de função. Além 
disso, esses efeitos podem ser exercidos também por estímulos não verbais. Por exemplo, 
quando um som alto (estímulo incondicionado) é emparelhado com uma luz (estímulo 
neutro), a luz tem sua função alterada e passa a exercer funções de estímulo condicionado 
ao eliciar respostas de sobressalto.
A sugestão que muitos estímulos, sejam verbais ou não, podem exercer efeitos 
alteradores de função esbarra na dificuldade de se demonstrar tais efeitos de maneira 
empírica. Uma das principais dificuldades metodológicas consiste em separar os efeitos 
discriminativos dos alteradores de função, principalmente quando um estímulo verbal é 
emitido e o comportamento especificado por ele é observado logo em seguida. Por exemplo, 
consideremos o estímulo verbal "Permaneçam na sala após tocar o sinal", citado 
anteriormente, sendo apresentado a um grupo de alunos. Caso os alunos seguissem o 
estímulo verbal nomomento que ele havia sido dado, como saber se tal estímulo exerceu 
efeitos evocativos (imediatos e momentâneos) ou efeitos alteradores de função? Em 
situações como essa, quando o estímulo verbal e o comportamento descrito ocorrem ao 
mesmo tempo, sempre haverá a possibilidade do estímulo verbal exercer apenas um dos 
efeitos ou os dois efeitos simultaneamente. Para que esses dois tipos de efeitos possam 
ser diferenciados, a estratégia metodológica utilizada tem sido separar temporalmente o 
estímulo verbal do comportamento por ele especificado, permitindo, assim, que o efeito 
atrasado, característico dos estímulos alteradores de função, seja observado.
Essa estratégia metodológica é encontrada nos estudos de Mistr e Glenn (1992), 
Reitman e Gross (1996) e Hupp e Reitman (1999), que tinham como objetivo diferenciar os 
efeitos evocativos e os efeitos alteradores de função. A tarefa experimental utilizada nos 
três estudos foi bastante semelhante: o experimentador fornecia a informação (estímulo
Sobre C om portam ento e Cognlv'<So 117
verbal) de que a criança deveria guardar, numa cesta ou caixa, brinquedos (Mistr & Glenn, 
1992) ou blocos de madeira (Reitman & Gross, 1996; Hupp & Reitman, 1999), espalhados 
pelo chão. Durante algumas condições, os participantes tinham oportunidade imediata de 
responder, ou seja, os brinquedos ou blocos de madeira já estavam no chão e poderiam 
ser guardados logo após a emissão do estímulo verbal. Durante outras condições, a 
oportunidade para responder era atrasada por alguns minutos, ou seja, minutos após a 
emissão do estímulo verbal, o experimentador colocava os objetos no chão para que as 
crianças pudessem guardá-los. Quando o responder ocorreu sob a contingência imediata, 
os autores sugeriram que esse estímulo estariaexercendo tanto efeitos evocativos como 
efeitos alteradores de função. Por outro lado, quando o responder foi observado na 
contingência atrasada, os autores concluíram que o estímulo verbal estaria exercendo 
apenas efeitos alteradores de função, isto é, o estímulo “Coloque os blocos de madeira 
dentro da caixa” teria alterado a função evocativa dos blocos e da caixa, que passaram a 
exercer a função de SD para o comportamento de guardá-los.
A análise teórica de Schlinger e Blakely, aliada aos resultados empíricos obtidos 
até o momento (ainda em pequena quantidade), sugere que a distinção entre SD e FAS 
deveria ser mais amplamente investigada pelos analistas do comportamento. Do ponto de 
vista conceituai, essa distinção é importante na medida que auxilia a resolver problemas 
relacionados à maneira como os analistas do comportamento falam sobre estímulos verbais. 
Quando o controle exercido por um estímulo verbal é observado após um período de atraso 
e é interpretado como discriminativo, é comum o surgimento de análises mediacionais, 
que tentam preencher a lacuna temporal inferindo a ocorrência de controle por eventos 
privados. Tais análises, obviamente, apresentam problemas relacionados ao referencial 
teórico da Análise do Comportamento. O controle por eventos privados deve ser considerado 
com cautela, pois a ocorrência desses eventos não é condição necessária, e nem suficiente, 
para a emissão de um determinado comportamento público (Abreu-Rodrigues e Sanabio, 
2001). Existem várias possibilidades de relações funcionais envolvendo eventos privados e 
comportamentos públicos: o evento privado pode não ocorrer, pode ocorrer e influenciar o 
comportamento público, pode ocorrer e não influenciar o comportamento público e pode 
ocorrer e ser ele próprio influenciado pelo comportamento público. Uma análise mediacional 
assume, por inferência e a priori, que eventos privados ocorrem e influenciam 
comportamento, desconsiderando outras relações funcionais possíveis. Para evitar esse 
problema mediacional, uma alternativa seria considerar tais estímulos como FASs, ou 
seja, estímulos que alteram as funções de outros eventos e que, assim, afetam o 
comportamento mesmo após longos períodos de tempo.
Do ponto de vista prático, a interpretação de que estímulos verbais são S°s 
desconsidera outras possíveis funções que tais estímulos poderiam exercer. Por exemplo, 
estímulos antecedentes, verbais ou não, podem exercer papéis respondentes, motivacionais, 
discriminativos e alteradores de função e cada uma dessas funções irá determinar 
processos diferentes de aquisição, manutenção e extinção do comportamento. Sendo 
assim, o planejamento de intervenções eficazes requer a identificação e análise adequadas 
das funções dos estímulos antecedentes. Considerando a relevância conceituai e prática 
da distinção entre FASs e SDs, torna-se necessária a realização de estudos empíricos 
adicionais sobre a questão.
118 Elitd Tavares Sanabio e Joscle Abrru-kodritfuti
Abreu-Rodrigues, J. & Sanabio, E. T. (2001). Eventos internos em uma psicoterapia 
externallsta: causa, efeito ou nenhuma das alternativas? Em H. E. Guilhardi, M. B. B. P. Madi, P. 
P.Queiroz, & M. C. Scoz (Orgs.), Sobre Comportamento e Cognlçflo - Expondo a Variabilidade 
(pp. 206-216). Santo Andró, SP: ESETec Editores Associados.
Baldwin, J. D. & Baldwin, J. I. (1981). Behayior principlfis Jn sverydayJlfe. Englewood Cliffs, 
NJ: Prentice-Hall.
Baum, W. M. (1999). Compreendendo o Behaviorismo: Ciência, comportamento e cognlção- 
Porto Alegre: Artmed.
Blakely, E., & Schlinger, H. (1987). Rules: Function-altering contingency specifying stimuli. 
The Behavior Analyst, 10,183-187.
Catania, A. C. (1998). Learning. Upper Saddle River, NJ: Prentice-Hall.
Cerutti, D. T. (1989). Discrlmination theory of rule-governed behavior. Journal of the Experi- 
mentaLAnalysis of BehaYior. 51, 259-276.
Galizio, M. (1979). Contingency-shaped and rule-governed behavior; Instructional control of 
human loss avoidance. Journal.of the Experimental Analysis_QLBfihavjor, 31, 53-70.
Hayes, S. C., Brownstein, A. J., Zettle, R. D., Rosenfarb, R., & Korn, Z. (1986). Rule-govorned 
behavior and sensitivity to changing consequences of responding. Journal of the Experimental 
Analysis of Behayior, 45. 237-256.
Hupp, S. D. A., & Reitman, D. (1999). The effects of stating contingency-specifying stimuli on 
compliance in children. ThfiLAnalyâiS.OÍ.Vert)aL_BehavÍQr, 15, 17-27.
Michael, J. (1982). Distinguishing between discriminative and motivational functions of stimuli. 
JoumaLof lhe. Experimental Analysis of Behavior, 21, 149-155.
Mistr, K. N., & Glenn, S. S. (1992). Evocative and function-altering offects of contingency- 
specifiying stimuli. The Analysis of Yerbal Behavior, 1Q. 11-21.
Reitman, D., & Gross, A. M. (1996). Delayed outcomes and rule-governed behavior among 
"noncompliant" and "compliant" boys: A replication and extension. The Analysis of Verbal Behavior, 
13, 65-77.
Schlinger, H. D. Jr. (1990). A reply to behavior analysis writing about rules and rule-governed 
behavior. The Analysis of Verbal Behavior. 8, 77-82.
Schlinger, H. D. Jr. (1993). Separating discriminative and function-altering effects of verbal 
stimuli. The Bahâvior Analyst. lfi. 9-23.
Schlinger, H. D. Jr., & Blakely, E. (1987). Function-altering effects of contingency-specifying 
stimuli. The Behavior Analyst. 10, 41-45.
Schlinger, H. D. Jr., Blakely, E., Fillhard, J., & Poling, A. (1991). Defining terms in behavior 
analysis: Reinforcer and discriminative stimulus. The Analysis of Verbal Behavior, 9, 153-161.
Skinner, B.F. (1969). Contingencies of reinforcement: A theoretical analysis. New York: 
Appleton-Century-Crofts.
Todorov, J. C. (1985). O conceito de contingência tríplice na análise do comportamento 
humano. Psicologia: Teoria e Pesquisa, t. 75-85.
Referências
Sobre Com portam ento c CognlçAo 119