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Impactos das Transformações Sócio-espaciais na Vila Residencial da UFRJ: percepção na voz dos moradores

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO PROGRAMA DE GRADUAÇÃO GESTÃO PÚBLICA PARA O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL
ROSELEA BARBOSA VALADÃO 
	
 Impactos das Transformações Sócio-espaciais 
 na Vila Residencial da UFRJ: percepção na voz dos moradores
Rio de Janeiro
Outubro/2015
ROSELEA BARBOSA VALADÃO
Impactos das Transformações Sócio-espaciais 
 na Vila Residencial da UFRJ: percepção na voz dos moradores
 Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Programa de Graduação em Gestão Pública para o Desenvolvimento Econômico e Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de bacharel em Gestão Pública para o Desenvolvimento Econômico e Social.
 Orientadora: Prof.ª Maria Julieta Nunes de Souza. 
Rio de Janeiro
Outubro/2015
ROSELEA BARBOSA VALADÃO 
Impactos das Transformações Sócio-espaciais 
 na Vila Residencial da UFRJ: percepção na voz dos moradores
Banca Examinadora:
Data da aprovação: __/__/__
Orientador (a) – Professora Doutora Maria Julieta Nunes de Souza.
Professor (a) Soraya Silveira Simões
Professor (a) Doutor Pablo Benetti
Agradecimentos
Agradeço a Deus, que em todas as ocasiões foi minha luz guia, dando-me a certeza de conseguir transpor qualquer barreira com determinação e humildade.
A minha família. Meu marido, meu filho e meu enteado pela paciência que tiveram comigo ao longo desses quatros anos e meio, aturando meu mau humor nos momentos de dificuldades e sorindo comigo nos momentos de alegrias.
À minha professora orientadora, Profª. Drª. Maria Julieta Nunes de Souza, que através de seus ensinamentos, atenção, dedicação e carinho, durante três anos e meio de orientação, pôde me certificar da importância do assunto dentro da esfera pública e da necessidade de profissionais engajados na sua efetivação.
A todos os demais docentes do Curso de Gestão pública para o desenvolvimento Econômico e Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro, nosso querido GPDES. Pela contribuição na minha formação não só como futura gestora pública, mas também, e principalmente, como ser humano.
À Vila Residencial e a Associação de Moradores a AMA-VILA, em especial, à Joana Angélica, por me aproximar mais do tema desenvolvido neste trabalho através da atenção e carinho que sempre teve comigo. Aos moradores, pela paciência e atenção, com que me receberam. Valeu a pena trabalhar com vocês.
Finalmente, a todos que participaram direta e indiretamente na construturação deste trabalho e aos companheiros de classe do Curso de Gestão Pública da Universidade Federal do Rio de Janeiro, com os quais aprendi muito, a cada discussão e debate, resultando no meu crescimento pessoal e profissional. 
Resumo
	A Vila Residencial da UFRJ, nos últimos anos, vem apresentando uma expressiva dinamização do setor habitacional, assim como do populacional. As melhorias urbanísticas, a regularização fundiária, a demanda gerada por estudantes que chegam à UFRJ por via da nova política de acesso à educação superior através do ENEM e a existência do parque tecnológico localizado no campus universitário, são fatores que contribuíram para a dinamização e formação desse novo mercado imobiliário e de um cenário urbano até então inexistentes na Vila Residencial. Acompanhando essas transformações, sob a marca do novo período, assistiu-se à chegada de novos moradores na qualidade de “inquilinos” e a transformação de antigos moradores em “locadores”, provocando fortes repercussões nas relações de vizinhança na Vila. O objetivo do trabalho é explicitar os impactos de políticas públicas em assentamentos precários, na opinião dos moradores da Vila, considerando o significado da regularização fundiária para os diversos segmentos da comunidade. A metodologia adotada para demonstrar a influência desses eventos no processo transformador pelo qual passa a Vila Residencial foi a pesquisa de campo, entrevistas semiestruturadas com moradores e líderes comunitários da Vila, consultas bibliográficas e documentais e a experiência de três anos e meio de trabalho de extensão no local. A partir do que foi apurado com os questionários, os resultados assinalaram que as melhorias urbanísticas e a regularização fundiária, se por um lado contribuíram para a melhoria do espaço urbano da Vila Residencial, por outro tem gerado grandes transformações no uso das moradias – em que parte significativa das mesmas volta-se integral ou parcialmente à oferta de vagas de aluguel –, e na comercialização das casas. O novo cenário marcado pela presença de um contingente cada vez maior de ‘novos moradores’, dentre os quais inquilinos e ‘empresários’, vem ocasionando fortes conflitos internos entre novos e antigos moradores.
 Palavras-chaves: Vila Residencial; Políticas Públicas; Conflitos Internos.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.……………………………………………………...…….. 06
A SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL E A VILA RESIDENCIAL DA UFRJ.......................................................................................................09
Processo de segregação espacial urbana.…………………….………….. 09
A questão da Vila Residencial da UFRJ………..……………………….… 10
3. A VILA RESIDENCIAL DA UFRJ..................................................................... 15
	3.1 Antecedentes..............................................................................................16
	3.2 A mudança: onde tudo recomeça.................................................................17
Associação de Moradores: uma via de mão dupla.........................................21
4. RAZÕES DASTRANSFORMAÇÕES..................................................................23
	4.1 Programa de inclusão social Vila Residencial-UFRJ:
melhorias urbanísticas e regularização fundiária …………………………… 23
	4.2 A nova forma de ingresso nas universidades públicas: ENEM-SiSU…….. 25
O mercado informal de aluguel na Vila Residencial.…………………… 27
 5. IMPACTOS DAS TRANSFORMAÇÕES DA VILA NA VOZ DE SEUS 	MORADORES.........................................................................................33
A respeito das entrevistas............................................….…………… 33
Relatos das entrevistas.………………………………………................ 34
5.2.1 Relato de morador dono de república……………………….……..34
5.2.2 Relato de morador com comércio na Vila – mercado.........................37
5.2.3 Relato de comerciante não morador – mercado.................................33 5.2.4 Relato de moradora........………………………………………….. 39
5.2.5 Relato de moradora...........……………………………………….. 40
5.2.6 Relato de moradora.……………………………………………….. 42
5.2.7 Relato de comerciante morador – salão..................………………. 43
5.2.8 Relato de aluna inquilina – quitinete.…………………..…………. 44 5.2.9 Relato de aluna inquilina – vaga de ocasio...................................45
5.2.10 Relato de morador com casa alugada – empresa.........................46
5.2.11 Relato da liderança atual……………..…………………………...48
Relato da UFRJ.……………………………………………...……. 49
Conclusão das entrevistas……………………………………...…………...50
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................53
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................56
INTRODUÇÃO
	De uns anos para cá a Vila Residencial tem ganhado destaque e maior visibilidade nos murais e corredores da universidade. O mercado imobiliário informal que floresceu no interior da Vila é o mais novo cenário que se configura no momento e pode ser observado pelo número de vagas para estudantes e moradias de aluguel oferecidas nos murais e internet. A venda e o aluguel de casas e as novas construções visam atender a este novo mercado, refletindo nos preços dos imóveis e dos aluguéis e acompanhando a lógica especulativa de mercado, ganhando uma valorização nem sempre real. 
Quando indagados nas entrevistas a respeito dos preços e da qualidade oferecidapelas vagas, alguns proprietários consideram o preço proporcional ao oferecido, e quando comparados a imóveis em melhores condições em outros pontos da cidade, afirmam que a Vila atende com qualidade e de modo generoso, em vários fatores: trata-se de local seguro, agradável, nos arredores do local de estudos e que, a depender do caso, pode até se chegar a pé ou de bicicleta, com oferta de alimentação, condução gratuita e, ao mesmo tempo, articulado à temida, mas desejada, metrópole carioca, como assim descreveu (NUNES, 2015).
Na condição de bolsista, tivemos a oportunidade de acompanhar de perto durante três anos e meio as atividades desenvolvidas dentro do projeto de Regularização Fundiária, ainda em curso na Vila Residencial. Vivenciamos o quanto essas ações influenciaram os valores das moradias, logo abrangendo os moradores. De certo modo, isso fez com que parte deles, os mais antigos, astutos e também os mais pobres a comercializassem com a compra e venda de casas, produção de repúblicas e vagas de ocasião. Com a intensa procura o cenário se transformou, refletindo no aumento da população e no elevado preço dos imóveis provocando a divergência de opinião dos moradores e gerando, assim, uma espécie de conflito interno até então inexistente na Vila Residencial.
	Segundo relato de alguns moradores entrevistados, a questão não é vista com bons olhos. Para alguns, a ideia de transformar a residência em meio de hospedagem pode ser prejudicial para o processo de Regularização Fundiária, implicando na não entrega do título por parte do órgão responsável, comprometendo os que não praticam a comercialização dos imóveis. Como previsto na legislação, a titulação garante somente a função de moradia, como concretização dos princípios constitucionais da função social – Concessão de Uso Especial para Fins de Moradia (CUEM). O problema não se encerra com isso, já que a comercialização das moradias e o crescimento desordenado da Vila implicariam também em questões estruturais, de redução dos padrões sanitários, de esgotamento das infraestruturas e relacionamento de moradores da Vila. [1: SPU - Secretaria do Patrimônio da União, ligada ao Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, é o órgão legalmente imbuído de administrar, fiscalizar e outorgar a utilização, nos regimes e condições permitidos em lei, dos imóveis da União.]
	Quando a Vila recebeu tratamento nas áreas de esgoto, água, drenagem, iluminação, calçamento de vias e estruturação do espaço público, tornando o ambiente agradável e realizando o sonho de todos moradores, as obras foram pensadas e projetadas para atender aos requisitos necessários para a população. Levou-se em consideração o valor quantitativo da população existente, a margem de crescimento considerável e aceitável da população, e um prazo de cinco anos de validade para as obras realizadas. Porém, não foi o que aconteceu, a Vila cresceu desordenadamente, ultrapassando algumas de suas capacidades estruturais, espaciais e temporais. Esse adensamento tem apresentado sérios problemas no cotidiano de vida dos moradores. 
	Com esse trabalho, pretendemos identificar os posicionamentos dos moradores da Vila Residencial quanto às mudanças vividas nos últimos anos, especialmente a partir da formação do mercado de aluguel. Enfatizamos que, junto às melhorias urbanísticas e da regularização fundiária pelas quais a Vila passou, fatores externos ligados ao novo cenário marcado pela presença de “novos moradores” contribuíram para o surgimento de novas formas de relação entre eles. 
	Para melhor compreensão, o trabalho foi dividido em quatro partes: a primeira refere-se ao processo de segregação socioespacial urbana em um contexto político geral de nosso país, e a exposição do problema da Vila Residencial hoje, derivado do surgimento do mercado de aluguel, impulsionado pela nova política de educação – Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) – e a forte demanda por moradias no local, por parte de estudantes e, em menor número, trabalhadores. 
	No segundo capítulo, apresentaremos um breve histórico da Vila Residencial e seus desdobramentos até os dias atuais, atentando ainda para o importante papel desempenhado pela AMA-Vila. O terceiro capítulo destacará os aspectos que originaram as rápidas transformações vividas, as melhorias urbanísticas, a regularização fundiária da vila residencial e as mudanças da forma de ingresso na universidade pública. No quarto é ultimo capítulo apresentaremos os impactos das transformações da vila na voz de seus moradores, resultado da pesquisa realizada na localidade, seguida das considerações finais.
	Para a concretização desse trabalho foi feita a pesquisa de campo no local, entrevistas semiestruturadas com moradores e liderança da Vila, consultas bibliográficas e documentais. Além das entrevistas aplicadas, referências bibliográficas anteriores, dados sobre as transformações do mercado imobiliário na vila residencial apresentados na V Semana de Integração Acadêmica da UFRJ em 2014 complementarão a pesquisa. A colaboração dos entrevistados, membros da comunidade, e a liderança local foram de suma importância para aferição das informações aqui apresentadas.
2. A SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL E A VILA RESIDENCIAL DA UFRJ
 
2.1 Processo de segregação espacial urbana 
A segregação socioespacial encontrada nas cidades brasileiras, em especial no Rio de Janeiro, como bem sabemos, é marcada pela falta ou precária ação do poder público. Os loteamentos clandestinos, os bairros de baixa renda e as favelas, ocupados pela população com baixo poder aquisitivo, são retratos dessa realidade. Locais totalmente desprovidos de qualquer infraestrutura e serviços básicos, marcados pela discriminação racial, cultural e econômica, opondo-se totalmente a concorrência de equipamentos e serviços dispostos predominantemente em áreas centrais da cidade. Essas desigualdades sociais tem se aprofundado a cada tentativa do governo em promover solução através das políticas públicas direcionadas a atender de forma ineficiente as classes menos favorecidas. 
Nas décadas de 60/70, com a criação do Banco Nacional de Habitação (BNH), essa política habitacional foi responsável pelo maior programa habitacional da América Latina. “Contudo, apesar de terem sido buscadas ações bem elaboradas na sua concepção, o programa apresentou deficiências na gestão, em grande parte relacionada a especulações e desvirtuamentos por parte dos empreendedores” (VILLEFORT, 2004).
 Ao promover a reestruturação e/ou inserção dessa população na cidade legal, fazendo jus aos princípios constitucionais e jurídicos da função social da propriedade urbana e da função social da cidade, reconhecendo e respeitando os direitos à moradia digna, o poder público gerou uma ambiguidade em suas intervenções: desenvolveu políticas que, apesar de atenderem às exigências das classes populares, se limitam a manter a dominação social. O exemplo seria o Estado capitalista que tende a representar hegemonicamente os interesses das classes dominantes e que, nesse caso, são os grandes agentes imobiliários. Ao mesmo tempo em que responde pelas demandas sociais, esses interesses acabam sendo contraditórios entre si. A consequência disso é a promoção da irregularidade, (re)produção da cidade ilegal dos dias atuais. A impressão é que andamos em círculos que nunca se completam. 
Com a Constituição Federal de 1988 (CF/98), a criação do Estatuto da Cidade a lei 10.257/2001, e em 2009 a Lei Federal nº 11.977/2009 que definiu a regularização fundiária como o “conjunto de medidas jurídicas, urbanísticas, ambientais e sociais que visam à regularização de assentamentos irregulares e à titulação de seus ocupantes, de modo a garantir o direito social à moradia, o pleno desenvolvimento das funções sociais da propriedade urbana e o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado” se teve um grande avanço na questão organizacional e de planejamento do espaço urbano na esfera local. 
Ao recomendarem o planejamento urbanocomo uma política pública, materializada na forma do Plano Diretor exigido para as cidades e municípios com mais de 20 mil habitantes, para o seu melhor desenvolvimento e organização, automaticamente estariam conduzindo a uma vida social com melhor qualidade. De certa maneira, a um primeiro olhar, concordamos que sim. Essa municipalização da política urbana dependeria diretamente da assistência da Prefeitura e da comunidade, integrando a política de provisão de moradias com a fundiária e a de controle de uso e ocupação do solo; enfim, aumentando as possibilidades de atender a características especiais do cidadão. A função seria assegurar a produção de melhores condições de convivência nas cidades, tanto para o presente como para o futuro, removendo problemas institucionais com o objetivo de viabilizar a construção de espaços públicos e privados mais justos. 
Porém, não é esse o resultado encontrado nas pesquisas e nas literaturas existentes. Após as intervenções do Poder Público com programas de reurbanização e regularização urbanística e fundiária de favelas e loteamentos clandestinos e/ou irregulares, o que temos visto é um processo inverso cada vez mais acentuado; a exclusão social e a segregação espacial são exemplos disso. Esses fenômenos são gerados pela valorização do solo urbano e pela aparição de um mercado especulador imobiliário, que age na contramão do sistema, servindo de ardil para a população de baixa renda, refém do próprio sistema. O que resta como “solução” é a mobilização desses moradores impulsionados pelo próprio mercado, dando lugar a novos moradores, na esperança de um ganho fácil, no aumento de suas reservas ou simplesmente por não terem meios de arcar com os custos da legalidade. Com isso, o Governo, ao invés de promover sua integração gera, na verdade, uma forma de exclusão socioespacial e a promoção de novos loteamentos informais em outras áreas precárias da cidade.
	2.2 A questão da Vila Residencial da UFRJ
Não muito diferente e nem muito distante da realidade da cidade do Rio de Janeiro, na Cidade Universitária na Ilha Fundão, onde está inserida a Vila Residencial, a questão habitacional tem levantado questões que ainda encontram-se sem respostas. Escondida por anos, a Vila Residencial hoje desfruta de um reconhecimento gerado pelo processo de Urbanização e Regularização Fundiária ainda em curso, que visa garantir a permanência das moradias. Com isso, os valores das moradias foram logo impactados, não demorando muito a “projetos empresariais” perceberem as oportunidades nascentes e interessarem-se pela área. 
Estas buscas elevaram ainda mais o valor da terra, que passou a ser intensamente disputada, realimentando o ciclo de valorização continuada. Muitas casas foram vendidas a preços modestos por antigos moradores, em sua maioria os menos favorecidos economicamente, por meio de contratos de compra-e-venda comprados em “papelarias”, sem legalidade alguma. Por iniciativas de moradores, outras residências foram convertidas em “moradias de ocasião”, oferecendo vagas a demandantes, estudantes e empregados do parque tecnológico e da contrução civil do Rio de Janeiro, passando a significar nova fonte de recursos para a renda familiar (NUNES, 2006).
Figura 1 – Casas à venda na Vila Residencial
 
Fonte: Fotos feitas pela autora do trabalho.
Embora a finalidade principal da Regularização Fundiária seja a de garantir o usufruto direto do bem e não aquele gerado por sua comercialização, essa prática poderia ser encarada como um mecanismo de geração de renda, cumprindo a tal “função social” alegada pelos que praticam essa atividade. Segundo eles, estariam provendo de oportunidade, ou seja, moradias a estudantes carentes, já que a Universidade não tem condições de supri-las sem contrariar o princípio, na sua essência. 
A vila, conhecida por muitos como a Vila dos funcionários da UFRJ, hoje perdeu sua identidade. Marcada por um contexto histórico de ocupação, datada praticamente do período da construção da própria universidade e pela luta dos moradores por reconhecimento, vive hoje um conflito interno. Os moradores antigos se sentem desrespeitados e sem voz diante das atitudes de alguns e dos moradores mais novos. 
A falta de um lugar com boas condições, próximo da universidade e com preços acessíveis na cidade do Rio de Janeiro parece ter influenciado a procura pelos estudantes e outros moradores por vagas na Vila. Nem todos que conseguem passar no processo seletivo (vestibular), têm condições de se manter na universidade. Na verdade são poucos aqueles cujos pais ajudam a manter-se fora do seu Estado, de sua casa, até mesmo de seu país. [2: Hoje, por meio da democratização do ensino pela nova política de educação, a forma de ingresso nas universidades tem sido realizada através do ENEM/ Sisu. ]
A dificuldade do aluno em se instalar em locais onde a segurança e oferta de bens e serviços sejam satisfatórios, não é uma tarefa fácil e muito menos acessível a todos. Os preços são alarmantes, desencorajando os que acabam de chegar. Refletidos nos preços estão as ofertas de bens e serviços prestados a população, que se quiser desfrutar de algo melhor, terá que pagar caro por isso. A solução para os que estão chegando oriundos de outros Estados e até de outros países é a oferta de moradias em localidades mais afastados, como as favelas, cortiços, vagas em casa de famílias e vilas ou mesmo onde não há a possibilidade de viver com qualidade e desfrutar de muita coisa, como é o caso dos estudantes da UFRJ que residem na vila residencial, economizando em alimentação e transporte, representando muito no orçamento ao fim do mês.
A universidade conta com um alojamento estudantil para atender a demanda dos alunos, porém, não é suficiente, já que o número de alunos é muito superior ao número de vagas oferecidas, além de submeter aos que lá vivem a condições precárias de moradia. Segundo relatos de alguns alojados, a falta de estrutura, poucos apartamentos e uma má organização, são fatores que contribuem para o mau funcionamento da unidade. Por falta de condições financeiras e não de opção, os novos alunos que chegam oriundos de diversos lugares do Brasil e de outros países se dirigem, então, para a Vila Residencial. 
A Vila Residencial neste contexto é alvo certo e propício, até inusitado na cidade do Rio de Janeiro. Uma cidade universitária com “Vila para estudantes”, foi assim que uma das alunas entrevistadas, moradora do Estado Minas Gerais, referiu-se a Vila Residencial da UFRJ como “Vila dos Alunos”. Essa referência faz alusão ao texto de Ligia Melo em relação ao direito à moradia no Brasil, em que a cidade desempenha sua função social, sendo os mecanismos de transformação decorrentes de vários processos históricos, culturais, econômicos e políticos, por exemplo, responsáveis por movimentar essa dinâmica. 
Com a mudança na forma de seleção e ingresso ao ensino superior, foi definido pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC), a partir do ano de 2009, o Exame Nacional de Ensino Médio (ENEM), com repercussões para a UFRJ a partir de 2013 quando aderiu ao Sistema de Seleção Unificada (SISU), permitindo que candidatos brasileiros originados de qualquer unidade da federação viessem a disputar vagas na UFRJ, (NUNES, 2015). O número de alunos que era de 5 % passou para mais de 25%, segundo o Pró-Reitor de Extensão Acadêmica, Professor Doutor Pablo Benetti, responsável também pelo plano diretor da cidade Universitária e que afirmou em entrevista que o plano diretor da cidade universitária é anterior a nova política de educação do governo, não sendo possível prever todo esse aumento populacional acadêmico. Isso tem gerado sérios problemas para os novos estudantes, sem local para morar, assim como para a Vila Residencial que tem enfrentado problemas de relações pessoais, estruturais e espaciais com a produção de novas moradias, e também para a própria universidade que não está preparada para receber todo esse quantitativo de estudantes.
O número de pessoas na vila aumentoumuito nos últimos anos. Hoje são desconhecidos os moradores de fato, com dificuldades para diferenciar o morador do estudante e dos funcionários da construção civil e/ou parque tecnológico, chamado por alguns dos moradores, como os “peões de obra” e que hoje se misturam e circulam pela vila delineando um novo perfil de morador totalmente diferente do que foi há algum tempo atrás.
Com o processo de urbanização seguido da Regularização Fundiária ainda em curso e a nova política de governo para atender a questão da Educação superior no Brasil, a Vila Residencial passa ser esse espaço político e social em crescente expansão onde os indivíduos buscam, sistematicamente, mecanismos de subsistência, crescimento e desenvolvimento individual e coletivo (MELO, 2010 p. 27). 
Com isso, a Vila Residencial vem desempenhando seu novo papel social e político comercializando suas casas e suas moradias de forma a atender a toda essa demanda. A criação de repúblicas, a compra e venda de casas para aluguel, são as atividades praticadas por vários proprietários desrespeitando os demais moradores e os princípios constitucionais da legislação vigente. 
Nesse jogo de interesses, há outro grupo também interessado nessa questão, ou seja, os estudantes, uma vez que não lhes restam outra solução de moradia. As entrevistas realizadas confirmam que morar na vila, apesar de algumas restrições, é bem cômodo, mais barato do que em outro lugar da cidade, seguro e muito sossegado para os estudos. Porém, essas afirmativas não reforçam as ideias que os entrevistados têm em relação ao modo como é estruturado esse comércio. 
Nesse sentido, fica claro que quem mais está ganhando com esse negócio são os donos das repúblicas e os que têm casas alugadas, que a cada ano aumentam seu número de vagas para atender cada vez mais alunos, sem a menor organização, controle e fiscalização do trabalho. A falta de uma documentação mais esclarecedora sobre serviços ou até limitadora das ações dos proprietários em relação ao que deve ser feito ou não com sua moradia, ainda é inexistente. Sendo assim, os estudantes que são obrigados a viverem na vila por questões econômicas e os moradores que não praticam a comercialização de suas casas e são moradores atingos, vivem sofrendo os impactos dessa desordem. Repúblicas mal equipadas, sem segurança, valores abusivos nos aluguéis e sem contar, a falta de respeito com alguns alunos, são relatos que apresentaremos adiante. Os moradores locais, por sua vez, sofrem com a deteriorização da estrutura. 
Os moradores, de certo modo, reconhecem que os projetos de regularização fundiária e as obras de infraestrutura viabilizaram ações e serviços públicos que antes não existiam, bem como o interesse mercantil. Isso é o contrário do que acontece nas favelas que recebe esse tratamento. Os moradores, por pressão do mercado e com dificuldade de adaptação, são forçados a sairem de seu local de moradia. Na vila, os próprios moradores saem por opção, dando lugar aos novos (estudantes) e ao novo comércio, as repúblicas, esquecendo-se das lutas que travaram para que o lugar e eles próprios fossem reconhecidos. 
3. A VILA RESIDENCIAL DA UFRJ
Figura 2 – Ilha do Fundão
 
 Fonte: Google Maps/ Cidade Universitária 
	Localizada em um dos extremos da Ilha do Fundão na Cidade Universitária, a Vila Residencial é composta por mais ou menos 620 moradias, e aproximadamente 3000 moradores nos dias atuais. Segundo relato da liderança local, todas as moradias estão distribuídas em 18 ruas, ocupando uma área de aproximadamente 180 mil m2, em área sobre aterro remanescente da ilha de Sapucaia.
	O único acesso à vila se dá pela Rua Paulo Emídio Barbosa, que ganha o nome de Rua das Papoulas quando adentra a Vila. Esta localização no interior da Ilha como lugar “fim de linha” descrita há algum tempo atrás, hoje perde seu significado. Muita coisa mudou em seu interior de uns anos para cá, contribuindo para sua transformação e também visibilidade. 
	Com os processos de urbanização e regularização, a Vila Residencial tem sofrido os impactos dessas ações no que tange as melhorias realizadas no local, corroborando para a realidade atual, um contingente enorme de pessoas de todos os lugares e a todo tempo demandando enorme número de vagas para residir ali. 
 Mas a Vila não era assim tão visível. Por um bom tempo foi um lugar considerado realmente, “fim-de-linha”, pouco conhecido pela maioria dos que circulam no campus universitário e pouco frequentado, a não ser pelos próprios residentes. 
	A mesma ergueu-se sob um desapropriado canteiro de obras delineado para abrigar os funcionários e seus familiares na construção da Ponte Rio-Niterói no final da década de 70. Segundo escreveu Luna (2014), formou-se ali uma “pequena cidade” guarnecida de diversos serviços técnicos, 180 residências familiares e individuais, um refeitório, um mercado, uma escola e uma praça de esportes. 
	Após o término das obras esse lugar se tornaria ponto estratégico para a prefeitura universitária, direcionando seus funcionários e moradores dispersos pelo campus em função da construção da cidade universitária, assim como os próprios funcionários da universidade que ali não residiam, além dos moradores das antigas ilhas. Para os que ali não residiam, vislumbravam a possibilidade de economia e tempo, morando próximo ao trabalho, uma vez que a universidade não lhes garantia o vale transporte. Já para os moradores das antigas ilhas, o que faltava era o reconhecimento. Nesse contexto de interesse de ambas as partes, começa surgir a Vila Residencial dos Funcionários da UFRJ.
	3.1 Antecedentes
Convidados pelos engenheiros do Escritório Técnico Universitário (ETU), formado por arquitetos e engenheiros responsáveis por dar suporte à construção da Cidade Universitária, uma vez que disponham de habilidades e disposição para o trabalho, os antigos moradores das ilhas que foram aterradas com o objetivo de formar a Cidade Universitária. 
Com o intuito de abrigar os novos trabalhadores, a primeira vila dos funcionários foi construída na Ilha do Catalão, onde hoje é localizada a prefeitura da Cidade Universitária, a vila dos funcionários da ETU (LUNA/2014). Essa vila tinha como objetivo abrigar os operários, engenheiros, técnicos e os arquitetos próximos do local de trabalho. As casas dos engenheiros, arquitetos, eram casas amplas, com varanda e garagens. Já os galpões abrigavam os peões de obra.
Acreditamos ter sido utilizada pela universidade (Prefeitura universitária) a cultura das grandes fábricas do início sec. XIX à primeira metade do séc. XX. O operário dividia seu local de trabalho (espaço fabril) com sua vida particular e cotidiana, ou seja, morando na vila operária, caracterizando assim um padrão específico de dominação existente entre o patrão e o funcionário para além da esfera de produção. Havia ali um interesse latente por parte da universidade em mantê-los por perto como forma de garantia da realização do trabalho. Muitos deles vieram de outros estados para trabalhar e não tinham onde morar. Todos os moradores e/ou funcionários ali residentes viram na própria construção da universidade uma oportunidade de emprego e ao mesmo tempo moradia na cidade do Rio de Janeiro.
Os trabalhadores e suas famílias que moravam na Vila da ETU (também conhecida como “da guarita”) e os que viviam espalhados pelo campus foram direcionados aos poucos para o então canteiro desativado de obras da ponte Rio-Niterói, ao extremo sul da Ilha do Fundão, dando início a existência da Vila Residencial dos Funcionários da UFRJ. Isso ocorreu após a ocupação praticamente oficializada pela prefeitura da cidade universitária e o aval da reitoria, no ano de 1975, após a frustração por não serem contemplados com a nova política de habitação da época, que consistia na remoção de favelas da cidade do Rio de Janeiro e suas transferências para Conjunto Residencial da CEHAB. Soma-se a isso a notícia de que a Vila dos funcionários da ETU, na ilha do catalão, seria desativada porconta da obra da Linha Vermelha (projeto no qual só veio a ser concretizado nos anos 90). Esse lugar foi tomando formas e características de um novo lar após a chegada dos novos moradores. 
Por falta de uso e manutenção, as casas de tábuas se encontravam totalmente degradadas pelo tempo, após terem sido desocupadas pelos operários da ponte Rio Niterói, dada a conclusão das obras da Ponte. A vila havia sido projetada como canteiro de obras para atender as necessidades dos operários, técnicos e seus familiares na construção da ponte Rio-Niterói por tempo determinado, e não para abrigar moradores definitivos. O projeto obedeceu a uma hierarquia entre os funcionários – engenheiros, arquitetos, mestre de obra e operários. A Vila foi dividida em lotes e casas que atendiam as necessidades das famílias que ali residiriam.
	3.2 A mudança: onde tudo recomeça
A partir do traçado urbano da localidade, as ruas seguem o padrão do antigo canteiro de obras da construção da ponte Rio-Niterói, com o predomínio de ruas e quadras regulares. Os moradores são orientados ainda pelo antigo endereço para se localizarem no espaço, pois demoraram a aceitar o novo endereço. No início dos anos 90 as ruas adotaram nomes de flores. Anos depois os moradores não entendiam a mudança. Em nossas visitas pela vila era muito comum ouvir dos moradores mais antigos, quando entrevistados:
“Não entendo porque mudaram, era muito mais fácil quando era por número – agora ficou essa bagunça – eu prefiro dizer que moro na rua tal [...], diziam o antigo número ao invés do novo nome”.
Assim como o endereço das ruas, as casas e seus moradores também passaram por um processo gradual de mudanças. Conforme foram habitadas pelos novos moradores, funcionários da UFRJ, as melhorias e consequentemente sua multiplicação, ocorriam paulatinamente. Hoje, todas as casas da vila são de alvenaria, a exceção de uma, que ainda é de tábua, localizada na Rua Tulipas, herança do velho canteiro de obras e pertencente a algum morador antigo.
	Nesse processo de transformação que se seguiu ao longo de mais de trinta anos, os moradores também passaram por um processo de transformação, seguido de três fases, tanto na questão quantitativa quanto na qualitativa, do perfil do próprio morador da Vila. 
	Na primeira fase, que foram os primeiros anos, os moradores eram em sua totalidade funcionários da UFRJ, e moradores das ilhas aterradas. Naquela época alguns foram incorporados na instituição. Uma vez lá, direcionaram seus familiares para o mesmo trabalho, isso incluía filhos, sobrinhos e irmãos. Essa dinâmica entre pais e filhos e familiares como funcionários da mesma instituição se seguiu até a mudança da legislação e a exigência de contratação de funcionários públicos, com a Constituição Federal de 1988. Nessa mesma época, a relação quantitativa dos moradores ainda permanecia estável, característica que reforçava ainda mais o sentimento de pertencimento daquela gente no local onde viviam. O antigo canteiro de obras passou a ser chamado de “Vila dos funcionários da UFRJ”.
A segunda fase iniciou-se devido às mudanças ocorridas com a nova Constituição Federal de 1988, que impôs a exigência de processo de seleção rigoroso, mediante realização de concurso público para preenchimento de vagas nas instituições públicas. Os moradores que não tinham requisitos suficientes para ingressar no serviço público foram obrigados a procurar trabalho fora da Vila, ou criar meios para sobreviver na Vila. Nesse momento a relação funcionário/morador começa a perder proporção e poucos foram os que conseguiram entrar na instituição como funcionário após a nova legislação. Muitos foram embora, outros abriram comércio no local. Houve ainda os que começaram a alugar quartos em suas casas para funcionários e alunos da UFRJ como meio de subsistência. O vínculo existente com a UFRJ desenhava um novo cenário. A cada Censo Demográfico era identificado um número cada vez maior de moradores independentes da instituição. 
A respeito do fator quantitativo, ainda na segunda fase, no que se refere à habitação e população, alguns aspectos merecem atenção e fazem parte do cotidiano da comunidade. O matrimônio, que segundo alguns dos moradores mais antigos, é um dos fatores que contribuiu bastante para a multiplicação das residências dentro da Vila Residencial. No trabalho de extensão em que participamos, foi aplicado um questionário para o cadastramento dos moradores. Nesse cadastramento era muito comum ouvir dos mais velhos, ou seja, dos pais, a relação de dependência existente entre os filhos com o espaço onde habitavam na companhia de seus pais. Após se casarem e/ou constituírem famílias, os filhos se viam necessitados a construírem suas casas nos espaços livres no terreno dos pais. Os pais foram obrigados a ceder espaço no quintal, dentro da própria casa, redesenhando alguns cômodos ou cedendo a laje da casa para novas construções e, assim, abrigando novas famílias. 
Com novas famílias e perspectivas de vida diferente da anterior, o cenário molda-se de uma nova forma. Moradores, procurando meios pra sustentar suas famílias, buscam formas diversificadas de trabalho. A criação do próprio negócio é um fator presente nessa fase. Isso se refere não apenas à abertura de um estabelecimento comercial, que em sua maioria é dividido entre espaço de moradia com o comércio, mas aos que, de alguma maneira, começaram a produzir alguma coisa para aumentar a renda. Alguns moradores produzem salgadinhos, quentinhas, sacolés, açaí dentro das suas próprias casas para serem comercializados. Outros já alugam um quarto na casa, como forma de aumentar a renda e garantir uma condição melhor de vida. 
Já a terceira e última fase, podemos identificá-la com a fase atual, marcada pelas ações e relações existentes entre os moradores, tanto daqueles que ainda mantêm um vínculo com a universidade, como aqueles que não têm; é a comercialização das moradias na forma de aluguéis e/ou compra e venda. 
O surgimento desse mercado imobiliário e seus impactos têm afetado direta e indiretamente as relações de convivência dos moradores dentro do espaço habitado, despertando o interesse pela mesma prática aos que estão chegando, como é o caso de alguns alunos relatados por entrevistados que, após morarem com inquilinos, optaram por comprar a casa e fazer dela uma república.
 Após ter passado pelo processo de Regularização Urbanística e Fundiária em curso desde ano de 2002 até o momento, acreditamos que o atual cenário tenha sido definido após o novo modelo de política pública voltado para a democratização do ensino superior através do ENEM e o impacto gerado pelo crescimento do Parque Tecnológico na demanda por mão de obra. Os moradores da Vila Residencial e a própria Vila Residencial têm vivenciado esse processo de transformação surpreendente no que se refere à questão populacional e habitacional. 
Outro setor que também sofreu os impactos dessas transformações na Vila foi o do comércio, hoje mais diversificado, embora sua rotatividade seja bem intensa, pois a Vila conta com mercadinhos, bares, restaurante, sorveteria, salões de beleza, padarias, lojas de material de construção etc. Essa rede de comércio é mantida pelos moradores da vila e visitantes que por ali passam ao longo do dia. Segundo seus proprietários, o movimento melhorou muito e garante a estabilidade das atividades. Embora diversificado, este comércio não atende todas as demandas da população. Na vila como no campus, por regulamento da UFRJ, é proibida a comercialização de medicamentos, por esse motivo, não se encontram farmácias pela redondeza e nem na vila, apenas uma perfumaria aberta recentemente.
No que se refere à saúde, a vila conta apenas com o Hospital Universitário e com um programa de extensão conduzido por professores e alunos da universidade, que oferecem atendimentos aos moradores da Vila, feitos regularmente na associação dos moradores. No que se refere aos equipamentos de educação, temos uma escola e uma creche dentro do campus universitárioque atende aos moradores. Quanto ao transporte, que é gratuito, apenas a frota interna da universidade atende a vila.
 No tocante ao lazer, a diversão é dividida e limitada. As crianças contam com algumas casas de jogos, pequenas lan houses, a praça e o campo de futebol. Os adultos utilizam-se também do campo de futebol, onde acontecem os encontros semanais, a famosa “pelada” entre os amigos. Os bares são outra opção de lazer nos momentos de folga ou após o trabalho. Esse espaço também é utilizado pelos alunos, que no final do dia ou nos fins de semana se reúnem para o happy hour. Já para os moradores adeptos de alguma religião, a vila conta com alguns templos. Existe uma igreja católica em ponto estratégico da Vila, em frente à praça, local agradável, ponto de encontro dos moradores, e uma Igreja da Assembleia de Deus, localizada atrás da associação dos moradores, em frente ao campo de Futebol e outra Assembleia de Deus, mais ao fundo da Vila.
Outro ponto importante na Vila Residencial a ser citado, são os atores externos. Ela é cercada por três grandes eventos, a própria UFRJ, o parque tecnológico e a favela da Maré. A Vila encontra-se no núcleo onde todos os pontos convergem para ela, colocando-a em evidência, porém, isso não parece intimidá-la. Limitada horizontalmente, a vila cresce verticalmente tentando sobreviver em meio a tantas investidas que reforçam seu caráter excludente. 
	3.3 Associação de Moradores: uma via de mão dupla
Organizados, estabelecidos e com opiniões próprias, os moradores da Vila residencial contam com o apoio da Associação dos Moradores e Amigos da Vila Residencial da UFRJ (AMA-VILA). A Instituição foi criada no ano de 1980 e nasce com o intuito de organizar e controlar conflitos existentes entre os moradores, mas também de atender as demandas e interceder pelos moradores com melhorias nas condições de vida, no espaço habitado. A comunidade ganha um importante aliado na organização e manutenção do local, responsável por gerir todo o espaço dentro da vila de forma a manter equilibrada a convivência entre moradores e vizinhos.
A associação é responsável por controlar os espaços livres, emitir comprovantes de residência, fornecer recibo de compra e venda de terrenos e casas e realizar contratos sobre o estabelecimento de atividades comerciais em áreas públicas. Para a realização desses trabalhos e a manutenção do espaço da associação dos moradores é cobrado uma pequena taxa de R$10,00 de todos os moradores sócios, juntamente com os aluguéis das lojas pertencentes ao mesmo espaço, que abrigam a padaria, sacolão e os mercadinhos. Todos esses imóveis pertencem à associação e a renda arrecadada é toda revertida para sua manutenção. 
A associação de moradores é uma instituição importantíssima para a localidade. É através de sua existência que a participação dos moradores acontece, lideranças se levantam e é possível o diálogo entre a população, as autoridades e os órgãos competentes. No processo de regularização fundiária ainda em curso na vila, assistimos a algumas das reuniões promovidas dentro desse espaço onde notamos o potencial desenvolvido pelos moradores no processo de decisão e a relevância dos assuntos discutidos para tornar público o que ali era pensado para melhor atender as necessidades dos moradores. A mistura do saber técnico com o conhecimento da prática é fantástico em seus efeitos. 
Desde os anos 90, a AMA-VILA conta com apoio de professores de diferentes unidades da UFRJ, acompanhando o seu crescimento ao longo do tempo, destacando-se a Escola de Enfermagem Ana Neri e a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. 
No ano de 2002, um importante passo foi tomado em direção ao reconhecimento, com a elaboração de um documento solicitando ao Magnífico Reitor, Professor Carlos Lessa, que colocasse em pauta a questão da Regularização Fundiária, utilizando como argumento central, a existência da Medida Provisória 2.220/2001, que dispunha sobre a Concessão de Uso Especial para fins de Moradia – CUEM. A partir desse documento, em 2004 nasce o Programa de Inclusão Social – Vila Residencial da UFRJ. Um programa de extensão com participação de várias unidades acadêmicas, cada uma com sua importância para a universidade e para a comunidade, no sentido de formação para os alunos e professores envolvidos no processo de aprendizado, como para a sociedade receptora dos trabalhos desenvolvidos no local. Nesse sentido, a sociedade é beneficiada com os conhecimentos técnico-científico, cultural e artístico de que necessita para a sua organização social, econômica e política, voltada para a afirmação dos indivíduos como sujeitos de direitos e fornecedores de experiência para mestres e alunos, que são levados de volta às salas de aulas, submetidos à reflexão teórica que possibilita a geração de novos saberes.
4. RAZÕES DAS TRANSFORMAÇÕES
 	No ano de 2010, a vila residencial e seus moradores vivenciaram uma conjugação de fatores que derivou em fortes transformações da realidade da Vila. As melhorias urbanísticas e a regularização fundiária foram ações que marcaram a vida dos moradores e que serão apresentadas neste capítulo.
	4.1 Programa de Inclusão Social Vila residencial – UFRJ: melhorias urbanísticas e regularização fundiária
Datado do ano de 1995, o apoio a melhorias urbanísticas na Vila passou por inúmeras dificuldades até o ano de 2002, quando houve a presença de uma reitoria mais comprometida com a área social. As ações foram retomadas, porém com um desafio maior, o de construir um projeto multidisciplinar envolvendo outras áreas do saber. O projeto possuía duas frentes de atuação paralela. Uma embasada no saber técnico dos professores, e a outra política, dentro e fora da Universidade, com o objetivo de angariar recursos e apoio político. 
De caráter multidisciplinar, o projeto contava, além do curso de arquitetura e urbanismo, com os cursos de direito, área da saúde, gestão pública, dentre muitos outros. Esse conjunto de cadeiras vai compor o projeto de inclusão urbana da vila residencial da UFRJ, projeto que trouxe grandes melhorias na qualidade de vida dos moradores. Com o projeto foi possível levar para a comunidade um pouco mais de dignidade aos seus moradores e acessibilidade a alguns direitos, até então inexistentes. 
O projeto tinha como foco várias formas de atendimento a moradores por alunos bolsistas inseridos nos diversos projetos que compunham, dentre eles, o Projeto de Inclusão Urbana, conduzido pela FAU, incumbido de projetar melhorias urbanas e apoiar o processo de Regularização Fundiária. Na área da saúde eram (e ainda são) feitos atendimentos aos idosos hipertensos e diábeticos, às mulheres e crianças, com acompanhamento ginecológico e vacinação. Na área do direito, os alunos bolsistas prestam atendimento aos moradores sanando as dúvidas referentes aos seus direitos individuais e sociais e processos judiciais de violência e crimonologia, além de Regularização Fundiária. O programa de Graduação em Gestão Pública para o Desenvolvimento Econômico e Social (GPDES) participou do Projeto de Inclusão Urbana realizando os últimos levantamentos populacionais para o cadastramento de moradores. Essa oportunidade de um contato próximo da realidade com os moradores da Vila foi muito positivo, pois numa esfera micro mostrou como o desenvolvimento e o crescimento da população e das cidades são elementos complexos, necessitando de políticas públicas voltadas para atender com eficiência e eficácia a todos os problemas relacionados ao seu desenvolvimento. No que se refere a seviços públicos essenciais prestados à comunidade via Poder Público, foi possível observar a inexistência de quase todos eles, e o mais importante, a falta do reconhecimento jurídico da posse de moradia e a insegurança dos moradores em perder o seu bem maior, sua casa.
Todo esse trabalho realizado na vila residencial foi e é de extrema importância para o reconhecimento do direito dos moradores como cidadãos e o desenvolvimento da Vila Residencialcomo um todo.
Figura 3 – Vila Residencial antes das obras de urbanização
 
Fonte: Arquivos da Vila 
Com a atuação da AMA-VILA em parceria com demais atores foram promovidas ações de melhorias urbanísticas garantindo o tão sonhado direito à moradia via regularização fundiária, o segundo passo dado em direção ao seu desenvolvimento. Esse processo logo se iniciou atendendo a legislação vigente da cidade do Rio de Janeiro, a fim de garantir o direito à moradia e à legitimação da ocupação para a população de baixa renda da cidade. A Regularização Fundiária e Urbanística na Vila Residencial foi um processo marcado por profundos esforços de ambos os lados, moradores e universidade. Os moradores juntamente com colaboradores, como os professores da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU/UFRJ) e a Associação dos Moradores (AMA-VILA), signatária de vários convênios que deram suporte a estas ações, fizeram grandes investidas até ser aprovado o projeto de regularização. A Regularização Fundiária é o processo para se possuir um título de propriedade. Não é um processo simples, porém muito importante e uma vez concedido valerá para sempre.
Apoiado na legislação vigente, ou seja, no Estatuto das Cidades, os moradores da Vila Residencial terão seus direitos reconhecidos através dos instrumentos disponibilizados pela lei CUEM e CDRU. É direito de todo cidadão usufruir de uma cidade com moradia, saneamento básico, transportes, escolas, áreas de lazer e hospitais públicos de boa qualidade. 
A Regularização Fundiária do Programa de Inclusão Social Vila Residencial trouxe grandes melhorias nas condições da vila e de seus moradores. Com a promessa do título definitivo de propriedade, foram abertas as portas para as conquistas de melhoria no espaço urbano através das ações de implementação de infraestrutura, com instalações e reformas na rede elétrica, na pavimentação das vias, na rede de drenagem, de água e esgoto da Vila. 
Como nem tudo são rosas, o processo de regularização trouxe consigo um dos grandes problemas enfrentados pelas favelas, bairro de baixa renda e loteamentos clandestinos que passaram e passam pelos mesmos processos, ou seja, a valorização imobiliária e o mercado especulativo abordado mais abaixo. Entretanto, outros fatores independentes da realidade da vila, não previstos, trouxeram grandes consequências e incremento ao mercado imobiliário informal, como o ingresso de alunos na UFRJ via Exame Nacional do Ensino Médio – ENEM e os funcionários do parque tecnológico. 
Figura 4 – Vila Residencila após a urbanização
 
Fonte: Arquivos da Vila
	4.2 A nova forma de ingresso nas universidades públicas: ENEM-SISU
	O Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) foi criado em 1998. Nesse momento o exame era apenas usado como mecanismo de avaliação dos alunos que concluíram o Ensino Médio. Foi criado, não com a finalidade de acesso, mas para aferir o aprendizado dos alunos do ensino médio, colaborando na elaboração de políticas precisas visando o avanço do ensino. Com o passar do tempo, acompanhando a evolução e a necessidade de melhor atender a sociedade, o exame passou por várias mutações nas formas de suas aplicações de modo que se tornou também uma forma de acesso ao ensino superior. 
	Quando iniciou, algumas instituições privadas passaram a utilizá-lo como meio de acesso para seus processos seletivos em primeira fase do vestibular, por preservar as vagas para os alunos com notas mais altas ou para aumentar a nota dos alunos no vestibular. Contudo, com a criação do Programa Universidade para Todos (Prouni), que oferecia bolsas de estudos para os egressos de instituições públicas de ensino básico ingressarem em instituições particulares de ensino superior, o exame ganhou popularidade como forma de acesso, pois a participação no Enem passou a ser uma atividade imprescindível para participar do processo do Prouni. 
	Enfim, o Exame adquire novas dimensões e passa a atender também as instituições públicas de ensino superior no ano de 2009. Porém, é só a partir do ano de 2012 que a Universidade Federal do Rio de Janeiro adere ao Enem como forma única de entrada. A partir desse período, recai sobre a Vila Residencial o papel social que é desempenhado por alguns de seus moradores através das locações de casas na forma de quitinetes, repúblicas ou vagas, no auxílio aos alunos ingressantes e oriundos de vários lugares do país.
	Com a carência da UFRJ em assistir esses alunos no alojamento estudantil e a dificuldade de se estabilizarem na cidade do Rio de Janeiro, a vila parece ser a direção certa a ser tomada pelos alunos e por alguns operários do parque tecnológico e/ou da construção civil, no que tange a questão de moradia. Próximo do local de estudo, condução interna gratuita, almoço e jantar a preços módicos no restaurante universitário, disponível incluisve aos sábados, são fatores que reforçam a procura por vagas na vila residencial. 
	Dados obtidos na pesquisa sobre as transformações do mercado imobiliário na vila residencial, apresentado na V Semana de Integração Acadêmica da UFRJ, ajudaram a reforçar a tese de que os alunos oriundos dos mais diversos Estados do país dirigem-se para a Vila na procura por moradia, alimentando o mercado informal de aluguel ali existente.
	Ainda não se pode precisar em números a quantidade de alunos que a cada ano ingressam na UFRJ nessas condições. Porém é notório que ocupam uma estatística cada vez maior. Isso é visível não só no movimento populacional, que segundo moradores aumentou muito dentro da vila – hoje não é mais possível viajar nos ônibus sentados, pois estão todos lotados, com dificuldade de horários, bem como as próprias construções que não param de nascer. No ano de 2013 quando visitamos o local, em algumas fotografias tiradas na comparação com as atuais é possível observar a ampla expansão das moradias, visando acomodar todo o quantitativo populacional demandado a partir do período de abertura das universidades ao novo sistema de educação superior.
Figura 5 – República de Estudante
 
 Fonte: Fotos tiradas pela autora no período da pesquisa em jun/2013e mar/2015.
	4.3 O mercado informal de aluguel na Vila Residencial 
	Seguido do processo de transformação que a Vila passou nos últimos anos, o surgimento de um mercado imobiliário informal no interior da Vila é questão ainda pouco estudada. As informações aqui lançadas resultaram da pesquisa no âmbito do programa de extensão no ano de 2014 em que apuramos as seguintes modalidades e categorias habitacionais ofertadas na vila residencial: república para estudante, república para firma, unidade de aluguel de vaga, unidade de aluguel de quarto, complexos de casas e quitinetes. 
	A modalidade mais praticada são as “repúblicas” que se caracterizam pelo aluguel de vagas (leitos) em quartos individuais ou coletivos e visam o maior número de vagas disponíveis e a ocupação completa da casa, implicando na saída do dono. Há também as repúblicas alugadas para as firmas, tanto do parque tecnológico, como para diversas firmas do Grande Rio. Essa modalidade é pouco restrita, não muito comum e mau vista por alguns dos moradores da Vila, uma vez que atrai para o interior da Vila pessoas estranhas de vários lugares e completamente independentes da relação universidade versus Vila, o que não acontece com as modalidades que concentram apenas estudantes da universidade. Tal como a primeira, essa modalidade também implica na saída do dono de seu domicílio. Normalmente esse possuidor vai morar fora da Vila, em localidades próximas, como Ilha do Governador e Bonsucesso ou aluga uma das quitinetes disponíveis dentro da própria Vila, com um aluguel mais barato, conseguindo, desta forma, aumentar sua renda mensal. 
	Já a modalidade que denominamos hospedaria – unidade de aluguel de vaga, unidade de aluguel de quarto – que são poucas unidades, se caracterizam pela quantidade de vagas limitadas, de duas a três vagas, utilizando-se apenas umou dois cômodos da casa. Essa modalidade implica na permanência dos donos nas moradias pelas quais foram beneficiados, utilizada apenas para geração de renda excedente.
	As casas que foram construídas pelos moradores como uma segunda moradia, no mesmo lote e/ou na parte superior, com entradas independentes e finalidades diversas, foram denominadas complexo de casas pela sua multiplicação no mesmo espaço e por possuírem diferentes formas de uso. Segundo os moradores, as casas foram sendo construídas com o intuito de absorver a família que havia crescido, por exemplo, um filho que se casou. Porém, com a demanda por vagas, essas mesmas casas, quando não habitadas pelos donos, foram colocadas à disposição do mercado de aluguel.
	E por último, a oferta de pequenas casas para aluguel, denominadas quitinetes, compostas por apenas três cômodos. Essas quitinetes com quarto, banheiro e uma pequena cozinha, no geral são feitas nos fundos dos lotes, no segundo piso ou até mesmo no terceiro piso e são destinadas a atender um ou mais locatários, na sua maioria estudantes. Diferente do complexo de casas, foram feitas com o intuito de serem postas ao mercado de aluguel, visando atender a demada por alunos e operários. Com essa modalidade o aluno e/ou inquilino tem um pouco mais de privacidade, optando por morar sozinho ou dividir com algum outro amigo de maneira a minimizar as despesas, nesse caso, divididas entre eles. 
Figura 6 – Repúblicas da Vila Residencial
 
Fonte: Fotos feita pela autora do trabalho mar/2015.
	Para atender as necessidades dos estudantes, as repúblicas estudantis funcionam da seguinte maneira: a maioria das repúblicas da Vila Residencial são mistas, habitadas por meninos e meninas que convivem juntos, ou seja, utilizam os espaços comuns como: cozinha, sala de estar e de estudos e área de serviço, de forma cordial. Os quartos em uma república mista são o único espaço limitado aos gêneros, às meninas dormem com meninas e os meninos com os meninos. 
	Não é muito comum encontrar república na Vila para atender a um só sexo, mas existem, são as repúblicas exclusivamente femininas ou masculinas, embora predominem as mistas. Quando há interesse de algum aluno em alugar um espaço com maior privacidade, nesse caso, como a oferta é pouca, é dado preferência ao aluguel de um quarto ou pelas quitinetes que oferecem a possibilidade de dividir com um amigo e/ou amiga ou morar sozinho. 
	Esses alunos, em sua maioria, são jovens e assumem variadas posições sociais. Há alunos desprovidos, de classe média, ou até mesmo os que teriam condições de morar em outra parte da cidade com melhores condições, mas por conta de algumas comodidades optaram por morar ali mesmo. Segundo declaração de donos de República com quem conversamos, a segurança que a Vila Residencial transmite aos pais, principalmente em relação aos estudantes menores de 18 anos de idade e que tenham vindo de outros Estados, é fator fundamental para mantê-los na Vila. Embora não ofereça grandes opções de mercados, lojas e lazer, estão protegidos da violência e da criminalidade dos grandes centros. Alguns, insatisfeitos com a precariedade na oferta de serviços, depois de um tempo acabam migrando para outros lugares da cidade com maior oferta de serviço ou, como afirmamos anteriormente, acabam comprando uma residência na vila e fazendo dela uma nova república quando se sentem mais seguros. No geral, trata-se de estudantes com melhores condições de vida. 
	Já os estudantes residentes do próprio Estado do Rio e que vivem na vila, justificam a escolha pelo acesso fácil e rápido à faculdade, uma vez que o trânsito em nossa cidade está cada vez pior. Morar na vila significa uma melhor qualidade de vida. Esses alunos, segundo relato, conseguem chegar no horário, passar mais tempo na universidade para estudos e pesquisas nas bibliotecas, têm a vantagem de conduzir uma bicicleta ou mesmo ir a pé assistir às aulas. Ainda contam com mais uma vantagem, por estarem pertos de suas cidades conseguem, nos finais de semana ou por quinzena, retornar para a casa de seus familiares. Esse fator é um ponto positivo levantado pelos locatários para se defender dos ataques de moradores que não concordam com a prática do aluguel para estudantes na Vila. Durante a semana os estudantes passam o dia todo na universidade, vão à vila apenas para necessidades básicas e dormirem, sendo que aos finais de semana esses estudantes, em sua maioria, retornam às suas casas. Isso os eximiria de assumir responsabilidades de algum problema que porventura viesse a surgir na Vila, como por exemplo, o entupimento do esgoto. 
	Segundo os moradores entrevistados, a regularização fundiária e as melhorias urbanísticas trouxeram, além de reconhecimento da Vila como parte integrante da Cidade Universitária, a oportunidade da ampla oferta de aluguéis. Alguns moradores afirmaram em entrevista que se a vila fosse como era antes, seria impossível que algum aluno ou qualquer outra pessoal fosse morar lá. Entendem que, com os aluguéis, a situação de todos melhorou bastante e muita coisa mudou na Vila. Há também moradores que não concordam com isso e acreditam que a superlotação da vila tem trazido sérios problemas estruturais.
	No mapa abaixo é possível observar em azul mais escuro, a multiplicação das moradias com oferta de aluguel por toda a Vila nesses dois últimos anos.
Figura 07 – Levantamento das moradias temporárias – nov/2014
Fonte: equipe de pesquisa para o levantamento das moradias temporárias.
Com esse mapa é possível observar e termos a dimensão da problemática. Elaborado em novembro do ano passado, chama nossa atenção para a questão da predominância de moradias expostas ao mercado de aluguel. Esse número atualmente só tende a crescer se nada for feito. Em um futuro próximo, acreditamos que ocupará sua totalidade. 
Embora a finalidade principal da regularização fundiária seja a de garantir o usufruto direto do bem e não aquele gerado por sua comercialização, práticas como vagas temporárias de aluguel em residências poderiam ser encaradas como um mecanismo de geração de renda para a população, sem contrariar o princípio do direito à moradia, na sua essência, desde que não levasse seu morador a habitar outra residência. De fato, este “outro” que está sendo abrigado pode ser entendido como “famíliar convivente”, enquadrado no “deficit habitacional”, realidade que por muito tempo ainda permanecerá, em que pesem os esforços, nem sempre bem sucedidos, da recente política de construção de moradias do Programa Minha Casa Minha Vida (MCMV), a princípio voltado a suprir estas necessidades (NUNES, 2006). Porém, se não houver uma regulamentação da actividade de forma a conter os exageros, a vila em pouco tempo deixará de ser uma vila de funcionários e passará a ser uma vila de estudantes, como assinalou uma entrevistada.
5. IMPACTOS DAS TRANFORMAÇÕES DA VILA NA VOZ DE SEUS MORADORES
	Como apontado anteriormente, os moradores da Vila Residencial têm vivido grandes transformações em suas moradias e também na vida cotidiana, gerando novas relações que desejamos agora focalizar na voz de moradores. Para tanto, será apresentada uma breve descrição da metodologia aplicada e, logo a seguir, os relatos dos moradores.
		
	5.1 A respeito das entrevistas 
	
Para a realização das entrevistas as questões foram organizadas com perguntas abertas e fechadas direcionadas a cinco categorias, atingindo um total de 10 participantes moradores da vila, um roteiro específico para a universidade e um para a Associação dos Moradores. Os segmentos selecionados para a entrevista obedeceram às categorias: 1 - Moradores “não locadores”; 2 - os que alugam, donos de repúblicas; 3 - comerciante não morador; 4 - comerciante morador; 5 - estudantes da UFRJ. 
	Dada a diversidade de entrevistados, o roteiro de entrevista recebeu perguntas específicas quando se mudava de categoria. No geral, as questões incluídasno roteiro visavam às seguintes informações: conhecer a história do morador, a relação de vizinhança, a percepção desse morador acerca das transformações ocorridas e a percepção sobre a regularização fundiária. 
	Quando os entrevistados foram estudantes, os critérios basearam-se em: quando chegaram? Qual a motivação ou informação para ele ir morar na vila? E a qualidade da moradia oferecida? Para a liderança local (associação dos moradores), as perguntas basearam-se em apenas dois pontos: diferentes posicionamentos dos moradores frente à situação e o posicionamento da associação em relação aos moradores e à UFRJ. Para a universidade, o roteiro de entrevista foi direcionado ao posicionamento da instituição frente às demandas da Vila diante da situação do mercado informal de aluguéis.
	Esses agentes selecionados para as entrevistas foram responsáveis por abrir caminhos para se chegar aos verdadeiros posicionamentos desempenhados por cada morador da Vila. As entrevistas foram capazes de demonstrar as várias ações simultâneas de um mesmo agente que, na maioria das vezes, é também morador.
	As entrevistas foram feitas a esses moradores e lideranças, por entender que são representantes-chave na problemática da comunidade a partir do surgimento do mercado de aluguel informal operando sistematicamente na provisão de moradias para alunos e operários dentro da Vila Residencial da UFRJ. 
	5.2 Relatos das entrevistas
		5.2.1 Relato de morador dono de República
	O primeiro entrevistado é um morador satisfeito com a situação atual da Vila. Veio morar na Vila Residencial já adulto e com sua família. Chegaram há quarenta anos. Era procedente de São Luiz do Maranhão e veio para o Rio por intermédio de sua irmã, que já residia na vila. Nessa época, foi trabalhar como mecânico em uma oficina própria, fora da Vila. Relata que a vila era completamente abandonada pela prefeitura universitária, um lugar inclusive de desova de cadáveres, carros roubados etc., resultado de um completo abandono. Foi nessa época que chegou e conseguiu se instalar e construir sua casa. Sua irmã não foi contra, pois se tratava de seu irmão, mas também não o apoiava na construção. Segundo ela (a irmã), não achava correto. Nesse interim é denunciado por outros moradores funcionários da UFRJ à prefeitura universitária, por construir no local sem ser trabalhador dali e é chamado a se explicar com o prefeito. Relata que se esquivou o máximo que pôde, até que um dia foi reconhecido por um funcionário. Por conta da amizade entre os dois, foi orientado a não se apresentar. Nesse período o prefeito estava finalizando seu mandato. O funcionário foi até o prefeito e relatou a história. Passado um tempo foi chamado na prefeitura e ganhou do prefeito o direito de permanecer na vila, assim como os demais moradores que eram funcionários. Após algumas trocas de prefeito ao longo do tempo e no auge da crise, no ano de 1995, a vila passa a contar com uma “subprefeita” e com ela uma subprefeitura com a entrada de um reitor mais apático às questões sociais, disposto a pensar muito além dos muros da universidade e na própria vila residencial, com ideia de reorganização, reforçando a institucionalização da UFRJ. Essa subprefeitura tinha como objetivo cuidar de todos os assuntos relativos à Vila Residencial e garantir a segurança do campus diante do visível crescimento da localidade, recuperando a sua “essência” como uma “Vila de Funcionários”. A subprefeitura tinha a sua frente a Aldenise, conhecida como a “Prefeita baixinha”. A “subprefeita”, nas falas do entrevistado, colocou “ordem na casa”, derrubou várias construções ilegais querendo inclusive retirá-lo da vila por não ser funcionário da UFRJ. A subprefeita, segundo o entrevistado, desconhecia o aval concedido pelo antigo prefeito para permanecer na vila. Quando apresentou o documento, segundo ele, as ordens foram para que nada mais fosse construído ali, “E assim foi!” disse ele.
Segundo relato, mais tarde, agora desenvolvendo a atividade de pedreiro, iniciou a primeira obra com o intuito de construir sua primeira república de estudantes “mista” (meninas e meninos). A universidade dispunha apenas de um alojamento e com condições muito precárias e nenhum projeto para melhorar a situação. Na época em que ele conseguiu implantar seu projeto de república, a universidade elaborou um projeto para a construção de outro alojamento para atender a demanda dos alunos, mas a obra até os dias atuais não se concretizou. Como solução paliativa, a universidade mais uma vez investiu em outro projeto: a reforma do alojamento estudantil, que encontra-se na mesma situação da obra do novo alojamento, parada. Com a situação se agravando, a solução para os alunos foi recorrer à Vila Residencial. A procura por vagas era muito grande e constante, relatou o entrevistado. Não podendo atender a todos, a solução foi ampliar o negócio.
A república do entrevistado dispõe de vários atendimentos diferenciados, atendimentos que, segundo ele, as outras repúblicas não têm. Atende tanto meninas quanto meninos separados por alas, serviços de limpeza, reposição de material de primeira necessidade, papel higiênico, roupa de cama lavada, luz, água, internet etc. A república também gera renda para mais duas funcionárias. Ele diz contar com uma secretária administrativa que também é sua sócia e uma faxineira, 
“Quando iniciei o negócio, não gerava lucros suficientes para me manter, não pude abandonar meu trabalho de mecânico”.
 Então foi preciso dividir os gastos com essa amiga, como ele a chama, dividindo as atividades para manter o negócio funcionando. Essa sócia é responsável por toda parte administrativa e o funcionamento da república; a faxineira realiza a limpeza semanal do local. Quando questionado a respeito dos valores das vagas, em um primeiro momento disse não saber, mas logo se lembrou, disse ser em média de R$ 350,00 a vaga. A república dispõe de quartos múltiplos com banheiro, quartos individuais, duas cozinhas equipadas com geladeira, máquina de lavar roupa, uma sala com tv e outra de estudo. O mesmo foi dito quando indagado sobre o número de estudante que ali residia, disse não saber. Porém, uma coisa tem certeza, a república não comporta mais alunos. No restante de terreno ainda disponível ao fundo da república (casa), foram construídas mais residências para abrigar estudantes. Agora, são 18 quitinetes divididas em dois pisos e um terceiro piso para área de lazer. 
Questionamos o entrevistado a respeito da regularização fundiária, sinceramente ele parece muito descrente da situação. Afirma: 
“Virou bagunça, isso não irá se resolver. É uma história longa! E caso a universidade queira nos tirar daqui será uma briga muito grande e com uma indenização muito boa. A respeito da última reunião e a ordem dada pela reitoria, não acredito ter regras e muito menos ordem a ser respeitada. Tenho um conhecido aqui na vila que é policial e sua esposa é funcionária da UFRJ. A casa do casal é alugada para estudante e eles não voltaram para a vila, moram em Bonsucesso [...] ele me disse ‘Posso fazer sim, não tem perigo, ele já falou com seu advogado, e está tudo certo’. No momento, isso não me preocupa”. 
Quanto aos problemas que a vila tem enfrentando em relação ao esgoto, a superlotação etc, o entrevistado é certo e convicto que
“As obras que foram feitas apresentaram um sério problema técnico, a meu ver, que na época fui fiscal de obras pela Associação, ‘não sou engenheiro’ mas o projeto deixou a desejar no que se refere ao esgoto da vila […] ele foi limitado e eu não pude fazer nada e hoje está gerando problema de entupimento, fiz uma comparação com um prédio residencial, a tubulação da vila, é a mesma, de 100, sendo ineficiente para atender todos que moram, antes mesmo dela inchar […] As coisas mudam a todo o tempo, se transformam, é incontrolável, tinham que ter pensado nisso e levado em consideração”. 
Com essa fala, o entrevistado deixa claro que o problema na verdade não é a superlotação e nem seu adensamento, issojá era de se esperar, pois o que vem acontecendo na vila, segundo suas observações, é que no início, o tamanho da vila o preocupava, por ser pequena, mas agora não. Pode inclusive constatar que as pessoas que estão chegando estão ocupando o lugar dos antigos moradores, “eles se mudam”, dando lugar para os alunos, que na maioria do tempo permanecem na universidade e aos finais de semana retornam às suas casas, “não acredito que seja esse os motivos dos problemas na Vila”. Assim, a tranquilidade do lugar permanece como sempre foi, concluiu.
	5.2.2 Relato de morador com comércio na Vila – mercado
	O comércio é conhecido como tem tudo. É comercializado do alimento para preparação a refeições prontas. Funciona há 13 anos no mesmo local, na área em que foi destinada ao comércio da Vila, acoplados a Associação de Moradores. A proprietária do estabelecimento afirma que o movimento melhorou muito depois de 2010. Atribuiu à melhora no comércio e em questões gerais devido ao mercado de aluguel que surgiu na vila:
“A renda das famílias aumentou muito, isso faz com que o morador apresentasse mais poder de compra”.
A melhora foi tão grande que a dona do mercado, além do mercado, possui uma casa de material de construção na Vila e uma segunda casa (2º piso) alugada para uma empresa. Dessa maneira atende e acompanha o crescimento da Vila em questões econômicas. Essa comerciante chegou a Vila no ano de 1997 e é a favor de alugar as casas para empresas e não para alunos, pois, segundo ela: 
os inquilinos (homens) passam o dia fora, saem de manhã muito cedo e chegam à noite, não sendo os causadores dos tais entupimentos ocorridos na Vila”.
Na verdade os problemas de esgoto são antigos, diz ela:
“A obra quando foi feita deixou bastantes coisas erradas em relação isso, eu presenciei muita coisa errada em frente a minha casa mesmo!”.
Quantos aos alunos, disse que realmente a vila está bem cheia deles, são pessoas boas e tranquilas. Disse que são clientes, compram fiado, no cartão e no dinheiro e ainda contribuem quando podem e são solicitados por ela para resolver questões técnicas, afirma sorrindo. Pretende ampliar mais os seus negócios, pretende comprar outra casa para fazer outro mercadinho, agora, com um restaurante. 
Os quarenta e minutos em que passamos no mercado percebemos o quanto o local é movimentado nos dois sentidos, na venda de mercadorias e na hora do almoço, com a venda de refeições, pois muitos funcionários do parque almoçam no seu estabelecimento. Diante desse momento bom que a Vila está passando e refletindo na vida “de todos”, como ela disse, perguntamos sobre a questão fundiária da vila, qual o conhecimento que tinha sobre o assunto. Afirmou ter pouco conhecimento, o que sabe é que existe uma promessa de entrega dos títulos, mas também já suspeita que a UFRJ tenha a intenção de retirá-los dali. Sobre a questão de casas sendo alugadas e moradores indo embora, acredita sim, que pode prejudicar os demais moradores e possivelmente a entrega dos títulos. Em relação a algum comunicado da associação ou da universidade em relação a esse assunto, disse nunca ter havido, também disse desconhecer qualquer ação por parte da UFRJ para controlar a situação. Ou seja, enquanto não se faz nada, vão “ganhado a vida”.
	5.2.3 Relato de comerciante não morador - mercado
	
O Mercado da Vila, como é chamado, é o mais antigo da Vila, existe há 20 anos no mesmo local. O dono do comércio não é morador da Vila, isso torna suas repostas e observações importantes para o trabalho. A visão de uma pessoa inserida em um contexto no qual não faz parte por completo são observações munidas de críticas muito relevantes. Todo o crescimento da Vila será visto com bons olhos por ele, tanto para ele como para os moradores locais. O fato de ele não fazer parte do local o coloca distante dos problemas que surgem no cotidiano de morador. Por mais que possua informação por estar o dia inteiro no seu estabelecimento ouvindo dos moradores os problemas, não os vivencia na prática.
O dono do comércio reconhece com bons olhos essa dinâmica, a melhora nos dois sentidos, tanto no aumento da população, que deu visibilidade e destaque para a localidade, como no poder de compra dos moradores da Vila que, a partir de 2010 aumentou bastante. O mercado passou a trabalhar com algumas mercadorias que tempos atrás não eram procuradas e que rendem muito lucro. Devido a presença dos alunos começou a ter variedades de mercadorias, e isso reflete em uma mudança de perfil do seu estabelecimento, que agora está muito mais sortido visando atender melhor a todos os clientes, inclusive os novos.
O mercado também notou a mudança dos hábitos alimentares. O comércio passou a vender mais frutas e legumes, aumentando bastante sua venda. O mercado não trabalha com cartões e nem com a venda de produtos fiados, ele diz que é por opção, pois movimento para isso tem. Com essa particularidade os clientes acabam se adequando ao método do mercado. Todos ali têm que pagar na hora, e isso não é motivo para o mercado não vender. A visão do dono frente a esse momento bom é de ampliar o mercado no futuro próximo, pois acredita que, mesmo com os alojamentos que estão sendo feitos para os alunos pela universidade, seu comércio continuará a atendê-los. Mesmo não sendo morador da vila, perguntamos sobre a situação fundiária. A informação que tem é referente ao cadastramento que ainda está parado. Segundo o entrevistado, todos têm conhecimento da situação, e essa nova prática de aluguel, caso a União resolva mesmo dar o título, será um entrave na hora da legalização. Acredita que na questão das vendas isso não seja tão complicado, pois quem comprou passará a ter o direito de posse, necessitando apenas de um novo recadastramento. 
	5.2.4 Relato de Moradora
	
A entrevistada é moradora da Vila Residencial há 37 anos, afirma ter vindo de Campo Grande direto para a Vila Residencial com o tio que a criou, no ano 1979. O tio era funcionário da UFRJ, hoje, um senhor aposentado. Mais tarde passou a ser funcionária da universidade como o tio. Atualmente nossa entrevistada também é aposentada. Afirma gostar muito de morar na Vila, a tranquilidade, o pouco de paz que ainda resta faz do lugar algo característico de cidade do interior. A relação com os novos moradores (os alunos, nesse caso), é uma relação boa, porém com algumas limitações.
“Às vezes faço concertos de roupas para alguns, quando pedem!”. 
Nessa relação de convivência, o conflito com os alunos é quase inexistente. Mas afirma:
“Já houve casos entre o pessoal de empresa (inquilinos). Eles brigam por estarem alcoolizados, tudo é motivo de brigas, brigam inclusive munidos de facas”. 
Diante de tudo isso, ainda parece uma cidade do interior! Um ambiente familiar, com a troca de favores entre os moradores, a compra fiado no supermercado, o bate papo com o vizinho. Coisas inexistentes em uma comunidade controlada pelo tráfico, por exemplo. O bom da vila é justamente essa tranquilidade em poder se movimentar por ela sem se preocupar. O ruim ainda é a falta de transporte, lazer e alguns problemas que estão surgindo com essa nova fase.
As transformações na vila trouxeram grandes mudanças nesses últimos anos, e mudanças boas. A vila era um lugar completamente abandonado, as casas eram todas de tábuas, as ruas eram de chão batido, tudo muito precário,
“hoje, conseguimos ter um pouco mais de dignidade. Porém, junto com as transformações, vieram outras coisas que não esperávamos. Hoje não sabemos mais quem são as pessoas que circulam e moram na Vila. Já fui obrigada a chamar a atenção de alguns inquilinos (operários) e levar o problema à prefeitura universitária”. 
A moradora conta que em frente a sua casa há um grupo de trabalhadores morando. São empregados de uma obra em Copacabana. Durante alguns dias, um ônibus parava em frente sua casa às 05h da manhã para pegar os operários e acelerava o carro incomodando todos ao redor. Depois de comunicar o fato à universidade isso deixou de ocorrer. Mas confessa ter medo:

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