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Hérnias Inguinais e Femorais Luiz Fernando Amancio Pereira de Oliveira Etiopatogenia: Das causas e fatores de risco para o aparecimento de hérnias da parede abdominal podemos citar aqueles congênitos e os adquiridos; os anatômicos e os histológicos. São ainda subdividos naqueles que contribuem para a formação de hérnia inguinal indireta e nas demais. Por exemplo, a permanência do conducto peritoniovaginal contribui apenas para o surgimento de hérnias inguinais indiretas. Fatores Congênitos: Dos fatores classicamente descritos classificados neste tipo de malformação o mais famoso é a presença da do conducto peritônio vaginal patente, o que favorece o aparecimento de hérnias inguinais indiretas. Tal fato explica porque as hérnias inguinais são mais comuns à direita (Associado ao fato do efeito tamponante do mesosigmóide) – A migração do conducto peritônio vaginal desse lado ocorre de forma mais lenta e retardada, podendo ocorrer de forma incompleta ao término do desenvolvimento da parede abdominal. Entretanto sabe-se que não é necessária a pré existência de tal má formação para a ocorrência de hérnia inguinal indireta. Cerca de 20% dos pacientes autopsiados por Berliner apresentaram conducto peritônio vaginal patente e nunca apresentam hérnia indireta durante a vida. Além disso, tal teoria não explica o aparecimento de hérnias inguinais à esquerda. Outro fator congênito importante é aquele que se refere à anatomia dos músculos da parede abdominal. Sabe-se que alguns pacientes apresentam inserção alta dos músculos transverso abdominal e oblíquo interno, tornando a parede posterior do canal inguinal incapaz de suportar os aumentos da pressão abdominal, favorecendo assim o surgimento da hérnia inguinal direta. Fatores Anatômicos: Existem duas possíveis áreas de fragilidade da parede posterior do canal inguinal, por onde ocorrem a grande maioria das hérnias diretas. Destas duas áreas podemos citar o trígono de Hasselbach, limitado medialmente pela borda lateral do músculo reto abdominal, inferiormente pelo ligamento inguinal e pelo ligamento de Thompsom e lateralmente pelos vasos epigástricos. Por vezes, há a presença da foice inguinal que delimita o trígono em um outro menor, o trígono de Hessert. Tais trígonos, associados ao anel inguinal profundo e ao espaço subinguinal são denominados em conjunto de anel miopectíneo de Fruchaud. É através deste anel miopectíneo que se formam a grande maioria das hérnias da região inguinal. Alguns mecanismos musculares dinâmicos podem agir como fatores de proteção à parede posterior do canal inguinal e o aparecimento de hérnias podem estar associados às falhas nestes mecanismos. A contração dos músculos oblíquo interno e transverso do abdome os aproxima do ligamento inguinal reduzindo a área do trígono de Hasselbach e reforçando a parede posterior do canal inguinal – É o denominado efeito shutter muscular. Outro mecanismo interessante é a contração do músculo transverso abdominal que traciona o ligamento de Hasselbach provocando a mobilização do anel inguinal interno em sentido superior e lateral, tornando-o mais profundo e posterior aos músculos do arco transverso abdominal. Fatores Histológicos: Alterações do metabolismo do colágeno são responsáveis em grande parte pelas hernioses – Qualquer alteração das proporções dos colágenos no corpo provocam enfraquecimento da fáscia transversalis. Pacientes com colagenoses como por exemplo portadores da síndrome de Marfan, Ehlers-Danlos e outros são mais propensos a desenvolverem hérnias. Nestas duas síndromes observou-se alterações no metabolismo da decorina, uma proteoglicana envolvida no processo da fibrilogênes do colágeno e na adesão celular. Mesmo a idade avançada e o tabagismo, que influenciam no metabolismo do colágeno, tornam o indivíduo mais susceptível ao desenvolvimento de hérnia, ou mais corretamente denominado, de herniose. Atualmente, indicou-se indivíduos portadores de herniose aqueles que apresentavam uma hiperprodução por mutação genética da metaloprotease II (MMPII), uma enzima capaz de converter colágeno I (De fibras organizadas e competentes quanto à resistência) em colágeno III (Com fibras pouco organizadas e rede pouco resistente). A desproporção entre o colágeno III e o I provoca o enfraquecimento da fáscia transversalis e o enfraquecimento da parede posterior do canal inguinal. Epidemiologia: De um modo geral, as hérnias inguinais indiretas são mais comuns em homens jovens, as diretas são mais comuns em homens idosos e as femorais são mais comuns (Mas não as mais comuns) em mulheres. Quanto à proporção entre os sexos, os homens apresentam maior incidência de hérnias devido aos fatores acima correlacionados, dentre eles a presença de um conducto peritoniovaginal patente. Dos fatores de risco podemos citar, idade avançada, tabagismo, síndromes do colágeno, os fatores etiológicos descritos acima, condições que provocam aumento da pressão intra abdominal como DPOC, tosse crônica, constipação, tumores do trato gastrointestinal, ascite, prática de trabalhos braçais, carregamento de peso constante e intenso, obesidade e outros. Classificação Clínica: Hérnias Redutíveis: São aquelas que retornam à cavidade abdominal de forma espontânea ou através da manobra de taxes. Podem ser coercíveis ou incoercíveis. No primeiro caso, após reduzida a hérnia, esta tende a se protruir novamente através da parede abdominal quando o paciente realiza esforço, no segundo caso o mesmo ocorre mas sem relação com o esforço, protruindo-se mesmo após a redução por taxes. Hérnias Encarceradas: São aquelas que não retornam à cavidade abdominal através da manobra de taxes. São consideradas uma urgência cirúrgica já que há grandes taxas de estrangulamento nesse tipo de hérnia. Hérnias Estranguladas: Consiste de uma hérnia em que há comprometimento da vasculatura da estrutura que ocupa o saco herniário. É uma emergência cirúrgica sendo necessária a pronta abordagem da região inguinal. Podem ocorrer mais comumente por estrangulamento da hérnia pelo anel herniário ou por rotação do pedículo herniário devido aos movimentos que variam desde 90º até mais de 360º realizados pelo conteúdo do saco herniário afim de se vencer a resistência imposta pelo encarceramento. Dos tipos de estrangulamento o mais comum é aquele em que há apenas acometimento da borda antimesentérica de uma alça, a hérnia de Richter, já outras formas mais raras de estrangulamento são as hérnias de estrangulamento retrógrado (Quando o meso que possui vasos nutrícios de vísceras abdominais não herniadas é o conteúdo do saco herniário – Mais comum ocorrência com o mesoapêndice) ou o estrangulamento em ‘’W’’ ou em terceira alça, conhecido com hérnia de Maydl-Laroyenne. Hérnias Obstruídas: São aquelas que provocam obstrução do trato gastrointestinal. Classificação Anatomopatológica: Das inúmeras classificações utilizadas para as hérnias inguinais, a mais utilizada é aquela proposta por Nyhus. Tipo I: Hérnia indireta com manutenção da integridade do anel inguinal interno; Tipo II: Hérnia indireta com alargamento do anel inguinal interno; Tipo III: Hérnias com destruição da parede posterior do canal inguinal. Subclassificam-se em tipos IIIa (Direta), IIIb (Mista ou em pantalona) e IIIc (Femoral); Tipo IV: São as hérnias recidivadas. Subclassificam-se em IVa (Direta), IVb (Indireta), IVc (Femoral) e IVd (Mista). Para fins práticos dividem-se as hérnias em diretas e indiretas. As primeiras são aquelas que se originam através de um defeito na parede posterior do canal inguinal, causando protrusão de conteúdo peritoneal através do trígono de Hasselbach ou do trígono deHessert, quando existente, medialmente aos vasos epigástricos inferiores. As hérnias diretas são aquelas que crescem lateralmente aos vasos epigástricos inferiores, dissecando espaço através da passagem do funículo espermático. Pode-se subclassificá-las em anelares, cuja extremidade atinge apenas o nível do anel inguinal interno, funiculares, aderidas ao funículo, ou orquioceles, a variedade inguinoescrotal. Hérnias Especiais: Hérnia de Amyand: Hérnia inguinal contendo o apêndice vermiforme dentro do saco herniário. Antigamente, descrita por Amyand, era considerada apenas aquela hérnia na qual havia o apêndice em processo inflamatório agudo dentro do saco herniário, mas devido à sua baixíssima incidência, considera-se atualmente hérnia de Amyand qualquer hérnia inguinal contendo o apêndice vermiforme do ceco, inflamado ou não. Hérnia de Béclard: Hérnia crural estendendo-se através do orifício das veias safenas. Hérnia de Cloquet: Hérnia crural passando por detrás dos vasos femorais e descansando sobre o músculo pectíneo. Hérnia de Gibbon: Hérnia inguinal com hidrocele. Hérnia de Goyrand: Qualquer hérnia inguinal que não desce até o escroto. Hérnia Intersticial: Hérnia entre as camadas musculares do canal inguinal. Hérnia de Littré: Hérnia portando um divertículo de Merckel dentro do saco herniário. Hérnia de Richter: Hérnia com estrangulamento da porção antimesentérica de uma alça intestinal. Diagnóstico: Quadro Clínico: A pesquisa sobre o quadro clínico deve-se basear nas duas características que levam o paciente buscar o médico nos casos da hérnia: Dor e tumor. Devemos avaliar a localização de ambos assim como intensidade, irradiação, relação com micção ou defecação, latejo, aderência aos planos superficiais e profundos, mobilidade e outros. Quanto à história do paciente deve-se pesquisar se há algum fator desencadeante de herniose abdominal como qualquer um que aumente a pressão intra abdominal, por exemplo DPOC, tosse crônica, tumores abdominais, ascite, HPB, tumores da próstata, realização de exercícios intensos, trabalho braçal, constipação crônica etc. Devemos avaliar ainda a possibilidade da existência de doenças relacionadas ao colágeno como habitus marfanóides, síndrome de Ehlers-Danlos, mucopolissacaridose e colagenoses em geral. Além disso devemos sempre buscar por antecedentes de cirurgias abdominais, traumas abdominais ou histórico de hérnias. Ao exame físico devemos sempre nos lembrar de que as hérnias são melhor visualizadas do que palpadas. Devemos inicialmente observar o paciente deitado em várias posições e em ortostase, avaliando a variação da dor e do tamanho do tumor com tais variações. Além disso, deve-se pedir ao paciente que realize manobra de Valsalva em ortostase e em decúbito, manobra de tosse e manobra de hiperflexão combinada da cabeça e dos membros inferiores com o paciente deitado, sempre observando as variações da dor e do tumor durante tais movimentos. Deve-se ainda observar sequencialmente as variações da coloração local ao longo das horas, incluindo vermelhidão, cianose ou até mesmo presença de equimose local, indicando sofrimento do conteúdo herniário. Na palpação devemos avaliar a redutibilidade do tumor com a manobra de taxes, que consiste de tentar, com a mão espalmada, reduzir a hérnia através de seu orifício com o paciente em decúbito dorsal e com o membro ipsilateral em ligeira flexão, por no máximo 5 segundos de tentativa. A manobra de taxes deve ser evitada nas seguintes situações: se existe obstrução intestinal, se existe eritema, hipertermia ou edema de pele sobre o tumor. Deve-se avaliar ainda a presença de frêmitos e pulsações afim de se excluir doenças vasculares como aneurismas da artéria femoral ou mesmo dilatações de vasos safenos; e peristalse para os casos de hérnias contendo alças intestinais. Deve-se sentir também a temperatura da região, já que calor indicaria presença de processo inflamatório subjacente. A avaliação de crepitação também é importante afim de se determinar a presença de ar local por infecção clostridiana, fasciítenecrotisante ou fístulas pioestercorais ou mesmo por perfuração da alça. À percussão, o som surdo obtido indica uma provável hérnia lipomatosa enquanto som timpânico pode indicar a presença de alça no local. O frêmito hidático é percebido quando há líquido ou mesmo nível hidroaéreo subjacente, que é percebido como o percutir de estofado sobre molas. À ausculta podemos percebemos gargarejo de alças, peristalse, ruídos venosos (Principalmente em pacientes cirróticos – Estes podem apresentar ascite e hérnia secundária a esta e ao mesmo tempo ruídos venosos por dilatação do plexo pampiniforme no funículo espermático), sopros arteriais contínuos dos aneurismas da artéria femoral. Sinal de Bailey: É um sinal mais comumente observado em mulheres. Neste achado semiótico a paciente refere que a dor irradia-se para os grandes lábios. Neste caso assegura-se que, em caso de hérnia, esta consiste de inguinal. No caso de hérnia femoral a irradiação da dor é irradiada para a coxa ou mesmo apresenta irradiação indeterminada. Sinal de Cooper: Devido a dor sentida pelo paciente, este mantém sua coxa ligeiramente fletida e quando se tenta estende-la acusa dores na raiz da coxa acomoanhada de náuseas e angustia gástrica. Sinal da Corda Epiplóica: Sinal raro, mas de grande valia quando encontrado, consiste da palpação de objeto deslizante que desce em direção ao ligamento inguinal. Indica a presença da protrusão de parte do epiplon herniado. Sinal de Gangolphe: Consiste da efusão serosanguinolenta na parede abdominal ou na coxa nos casos em que hå hérnia estrangulada. Sinal de Magalhães: Apos a redução de uma tumoraçao inguinal em um paciente em decúbito dorsal, pede-se que assuma postura ortostática, mantendo compressão acima da arcada crural. Se for um hérnia durante a ortostase a tumoraçaonao voltara a aparecer, entretanto se for uma adenolinfocele o oposto ocorre. Manobra de Malgaine: Sinal em pinça para a determinação de uma hérnia femoral de uma inguinal apos manobra de taxes. Aliviando-se alternadamente um dos dedos da pinça colocados um no anel inguinal e outro no anel crural. Sinal de Cruveilhier: Utilizado para a diferenciação de hérnia inguinal ou femoral de uma variz de veia safena. Neste sinal palpando-se o tumor, pede-se para que o paciente tussa e, no caso da existência de uma variz de veia safena pode se sentir um frêmito durante a palpação e à tosse. Ultrassonografia Abdominal: Apresenta certo grau de sensibilidade quanto ao diagnóstico de hérnias da parede abdominal demonstrando imagem sugestiva de órgão abdominal ou de gordura pré peritoneal no local da dor ou mesmo do abaulamento. Tomografia Computadorizada: Apresenta mais sensibilidade e especificidade que a USG demonstrando protrusão de estruturas intraperitoneais ou pré peritoneais através das camadas da parede abdominal, podendo ou não ultrapassar todas as camadas. Tratamento da Hérnia Inguinal: O tratamento das hérnias inguinais é estritamente cirúrgico. As indicações para a hernioplastia inguinal são: 1- Paciente sintomático; 2- Hérnia encarceirada ou estrangulada, sendo tais situações consideradas emergências cirúrgicas; 3- Cirurgia estética para grandes hérnias. Neste caso deve-se avaliar a necessidade de preparo intestinal e de sessões de pneumoperitônio progressivo, visto que nos casos em que as hérnias são muito grandes, pode haver perda de domicílio abdominal e o retorno abrupto do conteúdo do saco herniário para dentro da cavidade abdominal pode provocar IRpA grave no pós operatório. Quanto à anestesia para a cirurgia de correçãodas hérnias inguinais pode ser realizada a peridural, a raquianestesia ou mesmo a anestesia local. Neste resumo só abordaremos a anestesia local que pode ser realizada pelo cirurgião, sendo as outras técnicas de incumbência do anestesista. Técnica de Anestesia Local Para Correção das Hérnias Inguinais: Pode ser realizada de duas formas, uma consiste de bloqueios dos nervos ílio-hipogástrico, ílio-inguinal e ramos genital e femoral do nervo genitofemoral associados à infiltração anestésica no local da incisão; outra consiste da infiltração dos planos cirúrgicos acompanhando as etapadas da cirurgia. O bloqueio é realizado com uma agulha de raquianestesia, utilizando-se anestésico de preferência que pode ser lidocaína, bupivacaína, ropivacaína associados ou não à epinefrina ou bicarbonato de sódio, sempre se respeitando as doses máximas seguras de cada um. A técnica convencional deve ser realizada da seguinte forma: 1- Marque um ponto 2 cm medial à parte superior da EIAS e faça um botão anestésico. Neste ponto a agulha de raquianestesia é inserida perpendicular à pele até ultrapassar a fáscia, onde deve-se injetar 8-10 mL da solução anestésica para bloquear os nervos ílio-inguinal e ílio-hipogástrico; 2- O ramo genital do nervo genitofemoral é bloqueado com 2,3 mL da solução anestésica injetados imediatamento lateral ao tubérculo púbico; 3- O ramo femoral do nervo genitofemoral é anestesiado com 3-5 mL da solução injetados no subcutâneo imediatamento abaixo do ligamento inguinal; 4- Infiltração local da pele a ser incisada com 3,5 mL do anestésico. A técnica por planos de Parviz deve ser realizada da seguinte forma: 1- Prepare uma solução com uma mistura de 1:1 de lidocaína a 1% e bupivacaína a 0,5%. Sempre se respeitando as doses máximas de cada anestésico, sendo necessários 45 mL de solução para o bloqueio; 2- Infiltração subdérmica na linha de incisão com 5 mL da solução utilizando agulha de raquianestesia; 3- Infiltração intradérmica com 3 mL de solução; 4- Infiltração do tecido subcutâneo inserindo-se a agulha verticalmente na pele mantendo-se intervalo de 2cm entre as infusões; 5- Faz-se janela cirúrgica na parte lateral da linha de incisão através do tecido celular subcutâneo até a aponeurose do músculo oblíquo externo. Injeta-se 8-10 mL da solução imediatamente abaixo da aponeurose e então se completa a incisão do tecido subcutâneo; 6- Pode-se infiltrar o saco herniário e o tubérculo púbico. Além disso, sedativos associados como baixas doses de midazolam são sempre indicadas para que se reduzam a ansiedade e a quantidade de anestésico local necessário para o bloqueio. Anestésicos venosos como opióides fortes, por exemplo o fentanil, também podem ser utilizados. A Inguinotomia: 1- Incisão linear de 10 cm transversal, acima e paralela ao ligamento inguinal. Pode- se realizar a incisão sob a prega mais inferior do abdome para fins estéticos; 2- Dissecção dos planos subcutâneos até a fáscia do músculo oblíquo externo. Vasos epigástricos superficiais podem ser seccionados durante a abertura dos planos – Estes devem ser cauterizados; 3- Identificação do anel inguinal superficial; 4- Secção da aponeurose do músculo oblíquo externo a partir do anel inguinal superficial afim de se expor o canal inguinal. Tal secção pode ser realizada com o auxílio de uma pinça de Kelly afastando-se as estruturas subjacentes (Em especial o nervo ílioinguinal) abrindo-se a pinça e cortando com o eletrocautério, bisturi frio ou mesmo tesoura de Metzenbaum. Alguns cirurgiões preconizam ainda a identificação precoce do nervo ílio inguinal e a sua secção proposital com cauterização de preferência no local em que este emerge da musculatura subjacente para se ‘’esconder’’ o nervo no músculo. Alega-se que em técnicas em que se adapta tela de Marlex no canal inguinal, há grande possibilidade de se aprisionar ou irritar o nervo, sendo de mais fácil abordagem a parestesia da região inguinal e da base do escroto (Que tende a readquirir sua sensibilidade com o tempo ou com terapia à laser) do que nevralgia dos nervos locais (Deve ser abordada com nova cirurgia); 5- O cordão espermático é mobilizado no tubérculo púbico por cominação de dissecção romba e cortante. Na realizada o que é mobilizado é um bloco contendo o saco herniário, o funículo espermático e o músculo cremáster. Devemos isolar o funículo do saco herniário com dissecção que pode ser realizada com uma pinça de Kelly, sempre em sentido inferior e medial para se evitar a lesão de estruturas do funículo. O músculo cremáster deve ser seccionado para facilitar a mobilização do funículo espermático e os vasos cremastéricos podem ser cauterizados; 6- Passa-se um dreno de Penrose através do funículo para melhor mobilização e isolamento do saco herniário dos elementos do cordão espermático; 7- Deve-se abrir o saco herniário, examiná-lo quanto ao seu conteúdo e ligar o colo após a reintrodução ou remoção das estruturas internas do saco. Reparo de Bassini: Consiste na sutura no arco transverso abdominal e do tendão conjunto ao ligamento inguinal com fio não absorvível. Deve-se realizar incisão de relaxamento sobre o folheto anterior do músculo reto abdominal. Reparo de Zimmerman: Consiste no reparo da parede posterior do canal inguinal através da sutura da fáscia transversalis ao ligamento de Thompsom, desde o tubérculo púbico até a borda do anel inguinal interno, estreitando-o; Reparo de Shouldice: É essencialmente a evolução da técnica de Bassini realizada em múltiplas camadas. 1- Primeiro plano: Inicia-se uma sutura contínua em chuleio a partir do tubérculo púbico ou do ligamento de Henle até o anel inguinal interno, como na técnica de Zimmerman, suturando-se a fáscia transversalis ao ligamento de Thompsom e à borda inferior livre da incisão composta pela aponeurose do músculo oblíquo externo onde se reflete em fáscia lata e e ligamento inguinal; 2- Segundo plano: A borda superior da incisão é suturada desde o fim do primeiro plano até o tubérculo púbico ligando-a ao ligamento inguinal; 3- Terceiro plano: Liga-se o arco transverso abdominal, músculos trasnverso abdominal e oblíquo interno ou tendão conjunto caso existente ao ligamento inguinal através de sutura contínua e mais profunda; 4- Quarto plano: Realiza-se sutura de reforço nas estruturas aproximadas acima através de pontos contínuos mais superficiais. Em seguida fecha-se a aponeurose do músculo oblíquo externo. Técnica de Lichtenstein: 1- Realiza-se o reforço da parede posterior através da técnica de Zimmerman, passo que pode ser não realizado caso não haja hérnia direta associada; 2- Corta-se a tela de Marlex com uma ponta em arco com a convexidade mantida e a outra mantém-se quadrada. Deve-se seccionar a ponta quadrada dividindo-a em três terços, sendo 1 inferior e 2 superiores ainda ligados entre si; 3- Coloca-se a tela frente à parede posterior envolvendo-se o anel inguinal interno na fenda formada na borda quadrada da tela. Dá-se uma sutura através da tela e do tubérculo púbico de onde se segue com sutura contínua envolvendo o ligamento de Thompsom e as porções mais profundas do ligamento inguinal até o nível do anel inguinal interno; 4- Com pontos separados une-se a porção superior da tela aos músculos suprajacentes como o arco transverso, músculo oblíquo interno ou transverso abdominal. Fixa-se de modo a não existir tensão sobrea tela; 5- Na borda fendida da tela faz-se uma espécie de gravata sobre o funículo espermático com as duas porções livres, suturando-as entre si e em seguida ao músculo oblíquo interno ou transverso abdominal posteriormente.Vale ressaltar que devemos deixar uma folga de uma ponta de pinça Kelly para que não haja estrangulamento do funículo; 6- Fecha-se a aponeurose do músculo oblíquo externo, planos subcutâneos e pele. Técnica de Amarcix: Consiste na abertura da fáscia transversalis como num acesso de Jalaguier afastando-se os vasos epigástrios inferiores lateralmente. Em seguida disseca- se o reto abdominal da fáscia trasnversalis posteriormente e do folheto posterior de sua bainha, criando um espaço por onde introduz-se a tela de Marlex. Nenhuma sutura é utilizada nesta técnica e o que segura a tela é apenas a pressão intra abdominal contra a parede abdominal. Outra vantagem desta técnica é a capacidade da introdução de grandes telas que podem ocluir ao mesmo tempo as hérnias indiretas, diretas, femorais, de Spiegel e obturadoras. Técnica de Gilbert: Consiste na confecção de um tampão em formato de guarda chuva invertido, ou cone que é inserido através do anel inguinal profundo, suturando-o aos tecidos adjacentes. Em seguida, de forma semelhante à técnica de Lichtenstein, coloca- se uma tela nos planos intermusculares dissecados entre si, mas nesta técnica não se sutura esta tela. Técnica de Stoppa: Consiste da colocação de um grande pedaço de tela no espaço de Bogros através de uma incisão semelhante à de Pfannenstiel ou infra umbilical mediana. É indicada em casos de hérnias bilaterais e hérnias recindivadas, já que pode-se esquivar das áreas de fibrose e distorção anatômica das cirurgias prévias. É também chamada de GMPR (Giant Mesh Prothesis Repair). O espaço de Bogros deve ser dissecado até uma distância de 8-10 cm além do defeito e a prótese deve ser grande o suficiente para cobrir uma área de 5-6 cm além do defeito. Não há necessidade de sutura. PHS: Prolene-Hérnia-System. É um dispositivo que é composto de duas telas ligadas entre si por um tubo de tela conector. Existe ainda um dispositivo UHS (Ultra Hernia System) que é semelhante ao PHS só que é feito de uma tela com uma face absorvível e outra face inabsorvível. A absorvível é situada no espaço de Bogros enquanto a inabsorvível é situada como na técnica de Gilbert. Tratamento Cirúrgico das Hérnias Femorais: Toda hérnia femoral é considerada uma urgência cirúrgica pois apresentam altas taxas de estrangulamento (25%). Técnica de MacVay: Consiste na ligadura do arco transverso do abdome ou do tendão conjunto ao ligamento de Cooper fechando-se o anel crural. Hoje em dia, devido às grandes taxas de recindiva desta técnica, os cirurgiões preferem modificar a técnica de Lichtenstein para a ligadura do primeiro ponto de ancoragem da tela de Marlex ao ligamento de Cooper. Vale a pena ressaltar que a via por inguinotomia é sempre preferível para a abordagem desse tipo de hérnia. Deve-se sempre delimitar bem o anel crural, sempre tentando trazer as estruturas herniadas à região inguinal. Caso não seja possível pode-se realizar a manobra de Delangeniére que consiste da secção da arcada crural ou a manobra de Humberto Barreto que consiste da desinserção da arcada crural do púbis. Caso o acesso inguinal não seja possível, pode-se tentar um acesso crural. Neste acesso, após o tratamento adequado do saco herniário, a breca através do anel crural é fechada com uma ‘’rolha’’ de tela de Marlex que é fixada à arcada crural, ao ligamento de Cooper e ao ligamento inguinal.
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