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ARTIGO INDISCIPLINA E SUPERVISÃO

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O PAPEL DO SUPERVISOR PEDAGÓGICO FRENTE ÀS QUESTÕES RELACIONADAS À INDISCIPLINA ESCOLAR.
RESUMO
 A questão da indisciplina escolar vem sendo motivo de discussão e preocupação na escola. O tema em questão vem crescendo e é fruto de uma sociedade na qual os valores humanos vem sendo ignorados. A indisciplina escolar sempre me chamou atenção. Continuamente questiono-me sobre como lidar com estes impasses que fazem parte do cotidiano escolar , e que, na maioria das vezes, dificulta o aprendizado , não só do educando indisciplinado , mas de todos os que se encontraram na sala de aula , por tanto, através deste projeto pretendo compreender melhor quais as razões que fazem com que os aluno s sejam indisciplinados, que fatores contribuem , além de buscar entender quais são os diversos conceitos que envolvem os termos (in)disciplina .
Por exercer, entre outras, a função de subsidiar os professores no seu fazer pedagógico o supervisor encontra-se muitas vezes sem respostas a tais queixas e questionamentos frente às expressões de indisciplina dos alunos relatadas por professores. Este artigo objetiva propor uma reflexão sobre o trabalho da supervisão escolar frente às questões de indisciplina na escola.
Palavras-chaves: Indisciplina escolar, supervisor pedagógico, professor.
INTRODUÇÃO
Este trabalho tem como objetivo apresentar algumas reflexões sobre o papel do pedagogo que atua na supervisão escolar frente às questões relacionadas à indisciplina escolar.
Constatamos, através de nossa prática, a existência de inquietações atreladas a um interesse, por parte dos profissionais que atuam na educação básica, dentre eles o supervisor escolar, acerca da indisciplina escolar, haja vista que a mesma tem sido motivo de inúmeras queixas reveladas por professores que fazem parte do cotidiano profissional dos supervisores escolares.
Nesse sentido, inicialmente apresentamos algumas reflexões sobre a supervisão escolar no cenário educacional que se apresenta, bem como a atuação do supervisor. Em seguida, discutimos aspectos relacionados à indisciplina escolar propriamente dita. Para finalizar, analisamos a atuação do supervisor frente às questões relacionadas à indisciplina escolar.
SOBRE A SUPERVISÃO ESCOLAR
As mudanças pelas quais o mundo passa na atualidade, frente a realidades desafiadoras e complexas como a questão de responder aos desafios de uma sociedade globalizada, centrada na informação e nas tecnologias, requer da escola o repensar de suas ações de maneira que as práticas pedagógicas estejam em contínua e permanente reconstrução.
O supervisor escolar e os demais participantes desse processo pedagógico precisam esforçar-se para acompanhar as novas características dessa sociedade que se apresenta de forma complexa, dinâmica e desafiadora. 
Nesse sentido e ao contrário do que acontecia no passado, fica afastado qualquer indício de que o trabalho do supervisor deva estar centrado no controle puro e simples do trabalho do professor.
Medina (2004, p. 32) ressalta essa questão ao afirmar que
[...] é o trabalho do professor [...] que dá sentido ao trabalho do supervisor no interior da escola. O trabalho do professor abre o espaço e indica o objeto da ação/reflexão, ou de reflexão/ação para o desenvolvimento da ação supervisora.
Dessa forma, podemos constatar que a ação do supervisor escolar está longe de uma função mecanizada e baseada em uma rotina burocrática, como acontecia há décadas atrás, uma vez que, na atualidade, torna-se necessário e espera-se que o mesmo desenvolva ações baseadas na reflexão sobre o processo pedagógico, onde o professor torna-se o principal instrumento dessa reflexão, e não mais um agente a ser controlado no interior das escolas.
Assim, passamos a elencar alguns pontos que consideramos de relevância e que estão relacionados a esse novo perfil esperado e relacionado ao trabalho do supervisor escolar.
Conviver com a diversidade é um dos desafios pelo qual passa a escola moderna e, ao supervisor escolar, cabe trabalhar essa realidade com os professores no sentido de explicitar as contradições e os conflitos conseqüentes dessa diversidade.
A leitura que se deve ter da escola hoje, é de uma escola singular, porém inserida numa pluralidade e, ao supervisor, compete fazer com que o professor reflita sobre esse fato e aja de maneira tal, que suas ações locais se reflitam globalmente.
Também é importante ressaltar que o supervisor escolar deva se colocar na função de problematizador frente ao ofício do professor a fim de fazer com que este reflita constantemente sobre sua ação na e para a educação.
Ainda cabe ao supervisor escolar ter clareza e levar os professores a refletirem sobre o fato de que o conhecimento é um dado relativo, ou seja, que os procedimentos utilizados pelos professores não devem mais se apresentar de forma linearizadas, uma vez que a produção deles se dá em um movimento de ensinar e aprender. 
Além disso, também é necessário que o supervisor tenha uma atitude clara diante do processo ensino-aprendizagem, diante da função social da escola e de todos os outros aspectos que envolvem o fazer na e pela educação. 
E ainda, é na proposta pedagógica da escola que o supervisor deve ver uma possibilidade de reconstrução da mesma, propondo momentos de reflexão, confrontando a ação, principalmente dos docentes, com o que se apresenta na proposta e desta com a realidade social da escola. 
Há que se trabalhar “visando não mais um tipo ideal de homem, mas trabalhar tendo em vista o sentido da vida humana”. (Medina, 2004 p.27)
SOBRE A INDISCIPLINA ESCOLAR
Diante de suas forma suas formas de expressão, causas e implicações a indisciplina escolar desafia os profissionais da educação a refletir, propor e repensar as estratégias de ação pedagógica.
Sabemos que a indisciplina não pode ser considerada com um fenômeno estático e suas expressões na escola têm se mostrado numa complexidade crescente nas últimas décadas. (Garcia, 1999)
Tal fato não nos causa estranheza se levarmos em consideração
[...] a expansão da escolaridade obrigatória e a conseqüente multiplicação dos alunos em espaços que, por vezes, mal os comportam e se considerarmos a própria evolução das sociedades ocidentais, com seus desequilíbrios sociais e econômicos e suas crises de valores e autoridade que não podem deixar de se refletir na escola. (Estrela, 2002, p.28).
Constatamos através de nossa prática profissional em escolas de educação básica que a preocupação por parte do professor com a indisciplina escolar vem aumentando cada vez mais. Compõe a fala desses professores a queixa de que a indisciplina é responsável pelo estresse entre eles e pelo insucesso muitas vezes constatado no processo de ensino-aprendizagem.
Tais fatos nos levam a refletir sobre a indisciplina escolar inserida numa perspectiva de gestão pedagógica.
Devido às configurações adquiridas pelas expressões de indisciplina na escola exige-se dos profissionais da educação um repensar sobre o conceito de indisciplina, que não mais pode ser considerado como “problema de comportamento”, uma vez que, de acordo com Garcia (1999) esse conceito deve ser superado e outras dimensões devem ser consideradas. É importante considerar
[...] a indisciplina no contexto das condutas dos alunos, dentro ou fora da sala de aula, nas diversas atividades pedagógicas, a dimensão dos processos de socialização e relacionamentos que os alunos exercem na escola e também considerar a indisciplina contextualizada o desenvolvimento cognitivo desses alunos. (Garcia, 1999 p. 102).
Desta forma, aquele aluno considerado indisciplinado não o é somente por haver rompido com regras da escola, mas porque não está desenvolvendo suas possibilidades cognitivas, atitudinais e morais. (Garcia, 2002).
Desta forma
[...] a indisciplina escolar não podeser vista como existindo em si mesma, como uma qualidade inerente ao próprio comportamento, mas tem antes que ser analisada e compreendida no contexto da relação pedagógica em que a situação emerge e é categorizada enquanto tal. É no contexto da relação pedagógica que o professor categoriza alguém ou algum ato como sendo indisciplinado e, sendo assim, ao mesmo tempo que emerge a relatividade deste conceito, é todo o contexto pedagógico que aparece implicado na situação e não apenas o sujeito que praticou um dado ato. (Carita e Fernandes,1987, p.17).
Portanto, a indisciplina nos dias atuais deve ser vista como um “fenômeno interativo que ocorre no contexto de sala de aula”.(Amado, 2001 p.17).
Dessa forma, a indisciplina escolar está intimamente ligada a tudo que diz respeito ao ensino, aos objetivos, às práticas e perspectivas que a orientam, além dos “condicionantes próprios da aula, da escola, da comunidade e do sistema”. (Amado, 2001 apud Oliveira, 2004, p. 45).
A ATUAÇÃO DO SUPERVISOR FRENTE À INDISCIPLINA ESCOLAR
Como vimos anteriormente o papel do supervisor escolar vem tomando novos rumos, pressionado pelo contexto da sociedade que exige uma educação voltada para o sentido da vida humana.
Vimos também que a indisciplina escolar deve ser encarada como fenômeno de aprendizagem, ou seja, além daquilo que ocorre no contexto da sala de aula todos os seus intervenientes devem ser considerados.
Entendemos que por ser o profissional de educação que estabelece um contato mais direto com o trabalho docente, cabe ao supervisor escolar fomentar discussões sobre o processo ensino-aprendizagem e a indisciplina escolar.
Dessa forma, cabe ao supervisor escolar analisar, em ação conjunta com os professores, as contradições existentes entre o fazer pedagógico e a proposta pedagógica da escola. Também é necessário que o mesmo demonstre, fundamentado cientificamente, que quando se trata de indisciplina na escola as ações voltadas para a prevenção desta são mais eficazes do que medidas baseadas em mecanismos de intervenção, ou seja, é fundamental que se avance para uma mentalidade preventiva quando o assunto é indisciplina escolar, encarando esse fenômeno como previsível e deixando de vê-lo apenas no nível de intervenção. 
Enfim, quando as ações disciplinares estiverem alinhadas ao projeto pedagógico da escola como resultado de uma construção coletiva baseada na reflexão por parte da comunidade escolar, entre os quais encontram-se professores e supervisores, certamente a prioridade recairá sobre a prevenção da indisciplina escolar, reduzindo, com isso, situações de estresse e exaustão por parte dos professores e demais membros que compõem a equipe pedagógica da escola. Em situações contrárias a essa, ou seja, aquelas nas quais se prioriza a prática de mecanismos intervencionistas, certamente os problemas relacionados à indisciplina escolar tenderão a se repetir, a se aprofundar, tornando-se, conseqüentemente crônicos. 
REFERÊNCIAS
AMADO, J. S. Interacção pedagógica e indisciplina na aula. Porto: Asa, 2001.
CARITA, A.; FERNANDES, G. Indisciplina na sala de aula: Como prevenir? Como remediar? Lisboa: Presença, 1997.
ESTRELA, M. T. Relação pedagógica, disciplina e indisciplina na aula. 3. ed. Portugal: Porto, 1992.
GARCIA, J. Indisciplina na escola. Revista Paranaense de Desenvolvimento, Curitiba, n. 95, p. 101-108, jan./abr. 1999.
GARCIA, J. Indisciplina na escola: alguns aspectos críticos para a gestão educativa. In: CONGRESSO LATINOAMERICANO DE ADMINISTRACIÓN DE LA EDUCACIÓN, 6, 2002, Universidade Católica do Chile, Santiago, 2 e 3 de maio 2002.
MEDINA, A. S. Supervisor Escolar: parceiro político-pedagógico do professor. In: RANGEL, M; SILVA JUNIOR, C. A. (Orgs.). Nove olhares sobre a supervisão. 10. ed. Campinas: Papirus, 2004.
OLIVEIRA, R. L. G. As atitudes dos professores relacionadas à indisciplina escolar. 2004. Dissertação de Mestrado (Mestrado em Educação) – Faculdade de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Tuiuti do Paraná, Curitiba, 2004.

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