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1 SÍNDROME CÓLICA EM EQUINOS Prof. Erica Guirro AVALIAÇÃO CLÍNICA DO PACIENTE EQÜINO COM CÓLICA CONSIDERAÇÕES GERAIS CÓLICA EQÜINA Cólica Abdômen agudo Síndrome cólica A cólica, definida como transtorno agudo do TGI, pode resultar na morte do eqüino conforme o grau de comprometimento do TGI, do desequilíbrio hidro-eletrolítico e ácido-base e da dor do paciente. ANATOMIA Estômago (A) intestino delgado (B) duodeno jejuno íleo intestino grosso ceco (C) cólon (D) cólon dorsal direito cólon dorsal esquerdo cólon ventral esquerdo cólon ventral direito cólon menor (E) reto (F) EPIDEMIOLOGIA DA CÓLICA Incidência difícil de ser estabelecida ≈ 30%: resolução espontânea ou tratamento doméstico População de 100 cavalos: 4 a 10 casos/ano 10-15% recidivas 2 a 4 episódios/ ano ETIOLOGIA DA CÓLICA Mudanças de manejo: dieta, habitat e/ou atividades físicas AVALIAÇÃO CLÍNICA EXAME CLÍNICO DO TGI DE EQÜINOS Emergência, independente do grau de dor Atenção contínua até a resolução do problema Atendimento veterinário, exclusivamente Buscar o diagnóstico ou aproximar-se dele: identificação, anamnese, exame físico e exames complementares 2 IDENTIFICAÇÃO Sexo, idade, raça, sexo, etc. ANAMNESE Manejo Dieta alimentar e hídrica Controle antiparasitário Início e característica do processo Manifestação e tratamento de episódios anteriores Defecação e micção Estado imunitário e reprodutivo EXAME FÍSICO GERAL Inspeção: - Atitude, comportamento, aparência externa, forma do abdômen, etc. - Mímica de dor, grau e tipo de dor - Parâmetros vitais: FC, f, T°, pulso TPC, cor das mucosas, hidratação, etc EXAME FÍSICO ESPECÍFICO Exame da boca, esôfago e abdômen (palpação externa, percussão, auscultação, etc.) EXAMES COMPLEMENTARES Sondagem nasogástrica Abdominocentese Palpação retal Laboratoriais: hematócrito, proteína total, etc. IDENTIFICAÇÃO Idade Raça Sexo Pelagem Tamanho Atividade Escore corporal Conformação Temperamento ANAMNESE Histórico início dos Sinais Clínicos alteração de comportamento antes dos sinais de dor medicação já realizada Episódios anteriores de cólica há quanto tempo? tipo de tratamentos recebidos? restabelecimento do animal? Rotina do animal e alterações condições do habitat estado reprodutivo e imunitário doenças graves ou traumatismos trabalho, intensidade, horário programa de vermifugação estado de outros animais Dieta alimentação: tipo, quantidade e qualidade; programa alimentar; alterações água: qualidade e quantidade 3 3 EXAME FÍSICO alterações clínicas ← SÍNDROME CÓLICA → alterações comportamentais Sinais Clínicos: Aumento de freqüência cardíaca 25-40bpm Aumento da pressão arterial (PAM, PAS, PAD) Coloração de mucosas: róseas (normal), congestas, toxêmicas, cianóticas Aumento do TPC 1-2seg Aumento da freqüência respiratória 10-20mpm Aumento de temperatura (?) 37,5-38,5°C Desidratação Alterações Comportamentais: esticar-se ajoelhar-se escavar o chão decúbito freqüente ou tentativas frustradas de deitar-se rolar pelo chão debater-se de forma descontrolada depressão ou excitação olhar ansioso e repetido para o flanco e abdômen bruxismo e resposta/sinal de Flehming sede espúria = “brincar com a água, sem beber” escoicear inapetência tenesmo vesical (espasmo no esfíncter da bexiga) sudorese ereções Auscultação Abdominal: sistemática motilidade intestinal distingüir gás de fluido 1- cólon menor; 2- intestino delgado; 3- cólon ventral esquerdo; 4- ceco; 5- cólon ventral direito Forma de Notação: esq. dir. ceco cólon ventral direito intestino delgado cólon ventral esquerdo Sendo: - ausência de motilidade +- movimento peristáltico incompleto + hipomotilidade ++ motilidade normal +++ hipermotilidade 4 4 Sondagem nasogástrica procedimento diagnóstico e terapêutico permite a saída de gases, a retirada do refluxo enterogátrico e, també, auxilia no retorno do peristaltismo verificar: Aspecto Volume pH Considerar: Passagem da sonda nasogástrica Calibre da sonda / fenestração Métodos: passivo (bomba de vácuo) ativo (sifonagem) EXAMES COMPLEMENTARES Abdominocentese: coleta de fluido abdominal tricotomia e antissepsia local: 15 cm caudal ao processo xifóide Falhas de técnica: agulha (ou cânula) curta ou perfuração de alça intestinal Fluido Abdominal do Eqüino: Células nucleadas/µl 1800-4600 Neutrófilos (%) 24-62 (43) Linfócitos (%) 4-36 (20) Macrófagos (%) 17-50 (34) Eosinófilos (%) 1-6 (2) Eritrócitos/µl 0 Proteína total (g/dl) 0,5-1,5 Fibrinogênio (mg/dl) <10 Densidade específica 1,000 – 1,015 Cor Amarela Turbidez Ligeiramente turva DECISÃO CIRÚRGICA / INDICAÇÕES CIRÚRGICAS PARA O EQÜINO COM CÓLICA Início repentino Rápida piora do quadro clínico Dor persistente e refratária a analgésicos Irresponsividade ao tratamento clínico Distensão abdominal severa Ausência de motilidade intestinal Refluxo gástrico persistente Anormalidades na palpação retal Fluido abdominal com presença de sangue 5 5 TERAPÊUTICA NA SÍNDROME CÓLICA EM EQÜINOS Objetivos do Tratamento 1. redução da dor 2. restauração da motilidade 3. correção e manutenção do equilíbrio hidro-eletrolítico e ácido-base 4. prevenção/tratamento da endotoxemia Analgesia flunixin-meglumine: 1,1mg/kg, iv ou im, 1-3 X/dia (1ª escolha) dipirona: 5 a 22mg/kg, IM ou IV, até 4 vezes/dia xilazina: 0,2-0,5mg/kg, iv ou im (analgesia e severa sedação por 10-40min) butorfanol: 0,05-0,1mg/kg, iv ou im (analgesia potente por 10-90min) Neuroleptoanalgesia: 0,4mg/kg xilazina + 0,03mg/kg butorfanol 0,4mg/kg xilazina + 0,001mg/kg buprenorfina 0,4mg/kg xilazina + 0,04mg/kg meperidina 0,4mg/kg xilazina + 0,06mg/kg morfina Antiespasmódicos Espasmos dor Obstruções simples N-butilescopolamina: Bloqueio colinérgico relaxamento e atonia mm. lisa Dose: 0,2 a 0,3mg/kg, IV Descompressão Sondagem nasogástrica: saída de gases retirada do refluxo enterogástrico auxilia no retorno do peristaltismo Passagem da sonda nasogástrica Calibre da sonda Métodos: passivo (bomba de vácuo) ativo (sifonagem) Tiflocentese/Cecocentese e Colonocentese saída de gases antissepsia cirúrgica catéter 14 ou 16G local: Ceco: na fossa paralombar direita, entre a última costela e tuberosidade ilíaca Cólon: procedimento idêntico, porém mais perigoso AB (peritonite): Penicilina G benzatina: 40000UI, cada 48h, im 6 6 Fluidoterapia desidratação > 7% expansão volêmica correção eletrolítica Fluidoterapia Intravenosa Administração rápida de fluido Metade do fluido perdido deve ser reposto na primeira hora Taxa de infusão: 15-30l/hora, por 1-2h Cateter, equipo longo, frascos de soro (bolsas, bombas) Desbalanços eletrolíticos: pH<7,2 fornecer bicarbonato de sódio - 500ml de NaHCO3 5%para cada 5 litros de soro sem Ca ↓Cai - gluconato de cálcio 20% 125-250ml /cada 5l fluido, até 500ml ↓Mg - 1-5g sulfato de magnésio Tipos de FluidosCristalóides: Ringer simples Ringer lactato NaCl 0,9% hipertônica (NaCl 7,2 à 7,5%) 4-6ml/kg, 10-30min associada à reposição de fluido isotônico Colóides hidroxietilamido $$ Fluidoterapia Oral Ausência de refluxo enterogástrico Indicada nos casos de compactação Ingestão voluntária ou sonda nasogástrica 5 litros a cada 3 horas Regulação da Motilidade Intestinal Ileus adinâmico ou paralítico: hipovolemia hipotensão desbalanço eletrolítico dor enterocolite peritonote endotoxemia isquemia distensão por gás, material líquido ou sólido Fármacos pró-cinéticos agem sobre a motilidade Cisaprida: 0,1 – 0,2mg/kg, iv ou im Betanacol: 0,025-0,03mg/kg, sc, 4-6X/dia Lidocaína: 1,3mg/kg em 5min + 0,05mg/kg/min infusão continua por mais de 24h, iv 7 Laxantes ou Catárticos facilitam o amolecimento das fezes e sua eliminação compactação introdução após a descompressão gástrica Principais: Óleo mineral: até 4 litros Psilium: 450g em 4-8 litros de água Dioctyl sodium sulfosuccinate (DSS, 4%): 10-30mg/kg, 8 litros de água, até 2X, QOD Sulfato de magnésio: 0,5-1,0g/kg em 8 litros de água, SID, até 3 dias Emolientes Lubrificam fezes e mucosas, sem interferir no peristaltismo Vaselina, glicerina ou óleo mineral: 5 a 10ml/kg, cada 24h Antiácidos Tamponam a acidez gástrica Hidróxido de magnésio (Leite de Magnésia®) Hidróxido de alumínio (Pepsamar®) Associação de ambos (Mylanta® ou Malox®) 50ml/100kg, cada 4h Inibidor de Receptor H2 Cimetidina (Tagamet ®): 8,8mg/kg, TID, VO ou 4,4 a 6,6mg/kg, TID, IV Ranitidina (Antak ®): 4,4 a 6,6mg/kg, BID ou TID, VO ou 1,5mg/kg, IV, TID Famotidina (Famoset ®): 4mg/kg, TID, VO Nizatidina (Axid ®): 6,6mg/kg, TID, VO Inibidor da Bomba de H + Bloqueia a secreção de HCl Omeprazol: 1,5mg/kg, SID, VO 0,5mg/kg, SID, IV Sucralfato Polissacarídeo sulfatado com afinidade por áreas lesadas da mucosa (5X) 1 a 2g/100kg, BID ou TID é quebrado em sais de alumínio e adere às úlceras proteção contra a ação do HCl e da pepsina Antibióticos Duodeno-jejunite: Penicilina (20000 a 40000 UI/kg, BID) + metronidazol (15mg/kg, QID) Colite: Enrofloxacina (2,5mg/kg, BID, IV) Ciprofloxacina (2,5mg/kg, SID, VO) Ceftiofur (2 a 4mg/kg, BID, IV) 8 Suporte Adicional observação dos primeiros sinais de laminite, palmilhas amortecedoras instituir nutrição adequada assim que houver melhora dos Sinais Clínicos acompanhamento do animal até a completa resolução do quadro 9 PRINCIPAIS TIPOS DE CÓLICA EM EQUINOS Cólica Espasmódica alterações neurovegetativas (nervosas) contração da musculatura da parede do intestino Isquemia Tratamento: SN Antiespasmódicos escopolamina Fluidoterapia, se necessário Sobrecarga Gástrica e Cólica Gasosa Dilatação gástrica por: excesso de alimento ingestão de alimentos fermentáveis processos obstrutivos na região do piloro Tratamento: SN Alívio da dor Fluidoterapia, se necessário Timpanismo Timpanismo alimentos não digeridos fermentação distensão intestinal redução do peristaltismo Timpanismo intestinal primário Timpanismo cecal Tratamento: SN Alívio da dor Descompressão Fluidoterapia, se necessário Gastrite e Ulceração Gástrica Potros de 2 dias adultos (atletas!!!) Sinais de cólica, bruxismo e possível diarreia 10 Tratamento: SN Anti-ácidos (14-21 dias) + sucralfato (potros) Inibidor da bomba H+ omeprazol Suspensão das atividades atléticas Duodeno-jejunite Proximal Síndrome clínica inflamação do ID Tratamento: Empírico e agressivo! SN – retirada do refluxo Fluidoterapia IV (50-100l/dia na fase aguda) Sol. glicose-aa-vits: Stimovit, Aminovit AINE: flunixim-melglumine (0,5mg/Kg, BID-QID, IM) Risco de Infecção: Penicilina (20000 a 40000 UI/kg, BID) + metronidazol (15mg/kg, QID) + gentamicina ou cefalosporina Laparotomia exploratória??? Colite ou Colite X Agressivo SN Fluidoterapia AINEs: flunixim meglumine: 0,5mg/Kg, BID – QID, IM Carvão ativado: Enterex Tratamento antimicrobiano: Enrofloxacina (2,5mg/kg, BID, IV) Ciprofloxacina (2,5mg/kg, SID, VO) Ceftiofur (2 a 4mg/kg, BID, IV) Óleo mineral e/ou sulfato de magnésio – eliminação de CHOs endotoxinas Compactação acúmulo de alimentos em qualquer parte do TGI bloqueio total ou parcial do trânsito do conteúdo intestinal Geralmente: alimentos de baixo valor nutricional baixa ingestão de água água com areia Tratamento: SN Alívio da dor Fluidoterapia intesna reposição da volemia: Reequilíbrio hidro-eletrolítico Amolecimento da massa compactada Laparotomia exploratória 11 Deslocamentos e Torções Fatores predisponentes: poucos pontos de fixação do intestino movimentação das alças intestinais Fatores desencadeantes: alterações dos movimentos intestinais, principalmente: diarréias movimentos intestinais bruscos rolamento Conseqüências: obstrução da passagem do conteúdo intestinal Prejuízo da irrigação sanguínea morte tecidual As lesões são mais graves conforme a proximidade ao estômago Torção da raiz do mesentério!!! Sinais Clínicos: Dor intensa e incontrolável Rápida deterioração do estado clínico Deslocamentos e Torções – cont. Diagnóstico: Palpação retal Abdominocentese Laparotomia exploratória Tratamento: SN Fluidoterapia, se necessário Laparotomia exploratória Enterolitíase Enterólitos = cálculos intestinais encontrados no IG (cólon menor) Composição: sais de fósforo e magnésio precipitados num pequeno núcleo pequenos pedaços de plástico, borracha, esponja, arame e pedriscos Tamanho, peso e número variável 5 a 15 centímetros de diâmetro 200g a 3,6kg velocidade de formação é desconhecida (2 anos???) patogenia é incerta, mas parece ser multifatorial: elevado consumo de proteína e magnésio alfafa farelo de trigo Alta incidência em determinadas áreas geográficas: solo, pasto e água confinamento e menor tempo de pastoreio e exercícios Diagnóstico: palpação retal: somente 40% da cavidade abdominal é palpável líquido peritoneal normal, exceto quando há necrose compressiva laparotomia exploratória 12 Tratamento: SN laparotomia pela linha média (ou flanco em alguns casos) taxa de sobrevida: 80-90% redução da taxa: lesão na parede da alça intestinal localização do enterólito em porções não exteriorizáveis do intestino peso excessivo do enterólito Hérnia Ínguino-escrotal Exame físico: Visual Palpação Encaminhamento imediato para a cirurgia Tratamento: Herniorrafia Orquiectomia? Intussuscepção BIBLIOGRAFIA 1. Colahan, P. T.; Mayhew, I. G.; Merritt, A. M.; Moore, J. N. Eqüine Medicine and Surgery. Missouri: Mosby, 1999 (5 a ed.), v.1 e 2 2. Speirs, V. C. O Sistema Alimentar. In.: __ Exame Clínico de Eqüinos. São Paulo: Artmed, 1999. p.269-306. 3. Goloubeff, B. Abdome Agudo Eqüino. São Paulo: Varela, 1993. 4. Smith, B. P. Tratadode Medicina Interna de Grandes Animais. São Paulo: Manole, 1994, v. 1 e 2. 5. Mair, T.; LOVE, S.; Schumacher, J.; Watson, E. Equine Medicine, Surgery and Reproduction. Philadelphia: Saunders, 1998. 6. Viana, F. A. B. Fundamentos de Terapêutica Veterinária – ed.2000. Disponível http://www.vet.ufmg.br/clinica, em 24/05/2006 7. Murray, M. J. The Gastrointestinal System. In.: Robinson, N. E. Current Therapy in Equine Medicine – 4. Philadelphia: W. B. Saunders, 1997. p.165-191.
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