Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
* Dos Crimes Contra a Pessoa e o Patrimônio Crimes Contra o Patrimônio Roubo Prof. Anderson Rodrigues da Silva * Introdução. Proteção constitucional: Preceitua o art. 5.º, caput, da Constituição Federal que todos são iguais perante a lei, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à propriedade, considerado, pois, um dos direitos humanos fundamentais. Por isso, o Código Penal tutela e protege o direito de propriedade especificamente neste Título II. * * Introdução. Crime complexo: O roubo nada mais é do que um furto associado a outras figuras típicas, como as originárias do emprego de violência ou de grave ameaça. “É a reiteração da fórmula do furto a que se incorporam circunstâncias, de maneira tal que um roubo não pode existir sem que previamente seja furto” (LAJE ROS, La interpretación penal en el hurto, el robo y la extorsión, p. 250-251). * * Roubo. Sujeito ativo: Qualquer pessoa Sujeito passivo: Qualquer pessoa. É preciso ressaltar que também a vítima somente da violência, mas não da subtração, pode ser sujeito passivo. Isto se deve aos objetos jurídicos protegidos pelo roubo, que incluem, além do patrimônio, a integridade física e a liberdade do indivíduo. * * Roubo. Princípio da insignificância: Não pode ser aplicado no contexto do roubo. Obs: Trata-se de crime complexo, que protege outros bens além do patrimônio, de forma que a violência ou a grave ameaça não podem ser consideradas de menor relevância, configuradora do delito de bagatela. * * Roubo. Não serve para caracterizar o roubo a violência exercida contra coisa, exceto se, de algum modo, atingir pessoa humana. STJ: “Para a configuração do crime de roubo é necessário que a violência empregada seja direcionada à vítima, e não à coisa, sendo certo que a configuração do delito previsto no art. 157, caput, do Código Penal – na hipótese de violência dirigida ao objeto – ocorrerá apenas se a violência repercutir na pessoa, impedindo-a de (...) * * Roubo. oferecer resistência, o que não é a hipótese dos autos” (AgRg no AREsp 742.765-MG, 5.a T., rel. Jorge Mussi, 16.06.2016, DJe 24.06.2016). * * Roubo. Elemento subjetivo: É o dolo. Exige-se o elemento subjetivo específico, consistente em subtrair a coisa para si ou para outrem. No § 1.º, observa-se a seguinte finalidade específica: assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para si ou para terceiro. Não se pune a forma culposa. * * Roubo. Roubo de uso: Não existe tal forma em nosso entendimento, pois o agente, para roubar – diferentemente do que ocorre com o furto –, é levado a usar violência ou grave ameaça contra a pessoa, de forma que a vítima tem imediata ciência da conduta e de que seu bem foi levado embora. * * Roubo. Logo, ainda que possa não existir, por parte do agente, a intenção de ficar com a coisa definitivamente (quer um carro somente para praticar um assalto, pretendendo depois devolvê-lo, por exemplo), consumou-se a infração penal. * * Roubo. Grave ameaça: É o prenúncio de um acontecimento desagradável, com força intimidativa, desde que importante e sério. Violência: Toda forma de constrangimento físico voltado à pessoa humana. Atenção: A violência, na essência, é qualquer modo de constrangimento ou força, que pode ser física ou moral. * * Roubo. Logo, bastaria mencionar nos tipos, quando fosse o caso, a palavra violência, para se considerar a física e a moral, que é a grave ameaça. Por tradição, preferiu o legislador separá-las, citando a grave ameaça (violência moral) e a violência, esta considerada, então, a física ou real. * * Roubo. Violência imprópria não existe, mas, sim, violência presumida, que é própria. Ex.: Aquele que droga a vítima para, enquanto ela está desacordada, levar-lhe os pertences está cometendo roubo, e não furto. Atenção: Não se deve confundir essa prática com outras figuras do furto qualificado (fraude, abuso de confiança ou destreza). * * Roubo. No caso do art. 155, § 4.º, II, a fraude é utilizada para ludibriar a vítima que não se programa para resistir, pois é enganada pelo ardil utilizado; não há abuso de confiança, pois nem a relação de confiança se estabeleceu entre agente e ofendido; inexiste destreza, pois não se trata de agilidade das mãos do autor para tomar os bens da vítima. * * Roubo. Objeto material: É a coisa subtraída pelo agente e também a pessoa que sofre a violência, direta ou indireta, ou a grave ameaça. Objetos jurídicos: São o patrimônio, a integridade física e a liberdade do indivíduo. * * Roubo. Roubo contra várias pessoas através de uma ação: Concurso formal. Como regra, a ação desencadeada pelo agente envolve uma única grave ameaça, voltada a determinados ofendidos, confinados num local. Eles se desfazem dos seus pertences, quase ao mesmo tempo, constituindo cenário único. * * Roubo. Por isso, caracteriza-se a figura do art. 70 do Código Penal. Ex.: O autor ingressa num ônibus, anuncia o assalto e pede que todos passem os bens. Concretiza-se o concurso formal perfeito, pois o agente não possui desígnios autônomos, vale dizer, dolo direto em relação a cada uma das vítimas, que nem mesmo conhece. * * Roubo. Eventualmente, pode-se falar em concurso formal imperfeito (art. 70, caput, segunda parte, CP), desde que se prove o desígnio autônomo (dolo direto) do autor do crime no tocante a cada um dos ofendidos. * * Roubo. Roubo seguido de resistência: Concurso material – artigo 69 do CP. Ambos os delitos tutelam bens jurídicos diversos: patrimônio e administração da justiça. Ademais, normalmente, quando a polícia chega o roubo já se encontra consumado, momento em que o agente investe contra os policiais, agressivamente, para evitar a prisão. * * Roubo. Roubo e estado de necessidade: Embora a corrente majoritária na jurisprudência não aceite a possibilidade de se alegar estado de necessidade quando se pratica um roubo, não vemos óbice legal a tanto. É evidente que o que se pretende coibir é o abuso e a falsa alegação de necessidade. * * Roubo. Em casos excepcionais, no entanto, cremos possível haver a excludente de ilicitude, mesmo no contexto do roubo. Destaque-se que a excludente do art. 24 do Código Penal permite que, em situação de perigo não gerada pelo autor do fato necessário, pode-se até matar. Ex.: Náufrago. * * Roubo. Veículo com rastreador: A recuperação do carro, por dispor de rastreador, não influi na consumação do roubo, pois o agente teve a posse do automóvel, retirando-o da esfera de vigilância da vítima. * * Roubo. Súmula 582 do STJ: Consuma-se o crime de roubo com a inversão da posse do bem mediante emprego de violência ou grave ameaça, ainda que por breve tempo e em seguida à perseguição imediata ao agente e recuperação da coisa roubada, sendo prescindível a posse mansa e pacífica ou desvigiada. * * Roubo. O termo fora do cenário é desvigiada. No fundo, o STJ chancelou a noção de ser o crime de roubo um delito material – e não formal. É preciso a perda, mesmo que momentânea, do bem. * * Roubo. Concurso de roubo e extorsão: É possível haver, pois são crimes de espécies diferentes, cada qual previsto num tipo penal. Ex.: O agente que ingressa numa residência, subtraindo coisas com violência ou grave ameaça, e, em seguida, delibera obrigar a vítima a dar-lhe a senha do caixa eletrônico ou faz com que o ofendido vá retirar o dinheiro, trazendo-o até o agente, comete roubo e extorsão, em concurso material. * * Roubo. STF: “Apesar da eventual dificuldade, em casos práticos, da distinção entre roubo e extorsão, havendo condutas autônomas, inviável o reconhecimento de crime único. 2. Não há como reconhecer a absorção de uma conduta pela outra, poiso roubo não constitui meio para a prática da extorsão ou vice-versa” (RHC 112.676-MG, 1.a T., j. 21.08.2012, v.u., rel. Rosa Weber). * * Roubo. Roubo próprio: É a autêntica forma de realização do roubo. O agente usa a violência ou a grave ameaça para retirar os bens da vítima. Roubo impróprio: É o emprego da violência ou grave ameaça do autor após ter o bem em suas mãos, tendo por finalidade assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa definitivamente. * * Boa noite!!!
Compartilhar