Buscar

DIREITO ROMANO

Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO 
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS/CCSo 
 
 
 
ANNA GABRIELA VIEIRA SANTOS 
ANTÔNIO ELIAS LOPES JÚNIOR 
FELIPE DE SOUZA FREIRE 
LORENA SILVA PINHEIRO 
PEDRO HENRIQUE ROQUE LIMA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A LEI DAS XII TÁBUAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SÃO LUÍS 
2017 
 
ANNA GABRIELA VIEIRA SANTOS 
ANTÔNIO ELIAS LOPES JÚNIOR 
FELIPE DE SOUZA FREIRE 
LORENA SILVA PINHEIRO 
PEDRO HENRIQUE ROQUE LIMA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A LEI DAS XII TÁBUAS 
 
 
Trabalho apresentado como pré-requisito para 
obtenção de nota na disciplina de Direito 
Romano, no Curso de Direito da Universidade 
Federal do Maranhão. 
 
Orientador: Prof. Dr. Roberto Carvalho Veloso 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SÃO LUÍS 
2017 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
Partindo do pressuposto que para entender a lei das XII Tábuas, deve-se refletir e 
analisar criteriosamente, mediante os fatos históricos, os fatores que antecederam e 
contribuíram para sua criação. 
Antes da Lei das XII tábuas, os direitos sociais e fundamentais eram restritos aos 
membros das Gens, de seus vassalos e emanados pelo Rei em consonância ao interrex 
(representante do senado). A Plebe nesse cenário, não possuía direito, muito menos acesso a 
qualquer outro privilégio. Os plebeus viviam às margens das cidades e sua origem se deu 
inicialmente, segundo alguns estudiosos, pelo agrupamento de famílias de povos derrotados. 
 
 
“Como se sabe, a primeira forma de governo adotada pelos romanos 
foi a Realeza, que perdurou das origens de Roma até, segundo a 
tradição, a expulsão do sétimo rei romano, Tarquínio, o Soberbo, de 
origem etrusca, em 510 a.C., por meio de uma revolução que 
idealizava atribuir a administração da civitas ao povo” (AGATI, s.d., 
p.02). 
 
Com a deposição do rei Tarquínio, o Soberbo, deu-se o fim ao período monarca e 
iniciou-se a era republicana que propiciou avanços significativos tanto no quesito das leis 
quanto na democracia popular. No início da República, Roma era rigorosamente 
hierarquizada, composta por: Patrícios (minoria com domínio político e econômico); 
eqüestres que eram os comerciantes; plebeus (homens livres); clientes (agregados dos 
patrícios); escravos (maior camada social). E apesar de possuir um ideal democrático, o voto, 
em Roma, era baseado na renda (censitário). Sendo assim, apenas os mais favorecidos 
(Patrícios) eram detentores desse direito. 
Os plebeus, em contrapartida, eram responsáveis pelo trabalho manual e não possuíam 
nenhum privilégio. Tal discrepância, aliada com o crescimento exponencial dos mesmos, 
ocasionou no século IV a.C, algumas revoluções por parte da plebe, em prol da 
regulamentação de suas reivindicações. 
Adiciona-se ao contexto, que foi por meio destas revoltas que os plebeus conquistaram 
vários direitos sociais e políticos, entre eles podemos destacar: o fim da escravidão por 
dívidas; a criação dos tribunos da plebe (direito a vetar decisões do Senado que fossem 
prejudiciais aos plebeus); igualdade civil (liberação de casamento entre plebeus e patrícios); 
igualdade religiosa (direito de atuarem como sacerdotes) e ampliação de direitos políticos 
(eleger representantes para diversos cargos políticos). Mas foi somente a partir de 450 a.C, 
1. MOREIRA ALVES, J. C. Direito Romano. 16. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014. 
que essa classe adquiriu maior autonomia e regulamentação formal de suas reivindicações 
através da criação da Lei das XII tábuas que passou a conceber diversos direitos à plebe. 
Nesse sentido, para SERRAO: 
 
“As reivindicações plebéias deram-se nos mais variados 
campos: econômico, social, político e jurídico. Quanto ao 
primeiro aspecto, pleiteavam os plebeus a participação na 
distribuição de terras. Do ponto de vista social, almejavam a 
igualdade de direitos e a abolição das distinções jurídicas de 
classe. No que diz respeito aos aspectos político e jurídico, 
requeriam participação no poder e a conquista da certeza do 
direito a ser-lhes aplicado” (SERRAO, s.d., p.26) 
 
. 
Vale Ressaltar ainda que a Lei das XII Tábuas resultou da luta entre a plebe e o 
patriciado, tendo como um dos objetivos principais, acabar com a incerteza do direito por 
meio da elaboração de um código, em que viria diminuir o arbítrio dos magistrados patrícios 
contra a plebe
1
. . 
Antes de tornar-se o maior império de sua época, Roma passa por inúmeras 
transformações que ocorreram durante o ano de 753 a.C, data de sua fundação, até os meados 
do século 4 d.C, data de sua decadência. Vale aqui destacar que o processo da criação da lei 
das XII tábuas, deu-se não em um período específico da história romana, mas sim em um 
longo espaço de tempo que foi marcado por conflitos, mortes e reivindicações de mais 
igualdade. 
 
2. LEI DAS XII TÁBUAS 
 
 
2.1 O processo de elaboração das XII Tábuas 
 
Na Roma Antiga existiam três classes sociais: os patrícios, os clientes e os plebeus. Os 
patrícios usufruíam de todos os privilégios e direitos, pois se consideravam como 
descendentes dos primeiros povos de Roma. Os clientes, por sua vez, eram ligados aos 
patrícios, a quem deviam servidão. Por último, existiam os plebeus que mesmo sendo a 
maioria da população, não possuíam direito a participar da organização política, econômica e 
social da cidade, embora fossem habitantes. 
Nesse sentido, surge a iniciativa de se criar uma lei que envolvesse todas as classes, pois 
após o contato entre Roma e Grécia, muito famílias patrícias incorporaram sua cultura, com 
seus costumes e doutrinas igualitárias. 
Em primeira análise, o processo de elaboração das XII tábuas foi fortemente criticado
 
pelo Senado da época e abandonado durante certo tempo. Depois de feitas algumas ressalvas, 
o processo foi aceito e a partir disso formou-se uma comissão de plebeus e patrícios para 
produzir leis cruciais capazes de garantir a igualdade e a liberdade. 
De acordo com Lívio, historiador romano da época, em 451 a.C. um decenvirato (grupo 
formado por dez homens, todos patrícios) foi convocado para preparar o projeto do código. 
Afirma-se que os romanos enviaram uma delegação para estudar o sistema legal dos gregos, 
particularmente as leis de Sólon, provavelmente nas colônias gregas do sul da Península 
Itálica, conhecida como Magna Grécia. Nas palavras de MOREIRA ALVES: 
 
 
“Em 454 a.C segue para a Grécia uma embaixada, composta de 
três membros, para estudar a legislação de Sólon. Quando de seu 
retorno, em 452 a.C, são eleitos os decênviros, que, durante o 
ano de 451 a.C, elaboram um código em 10 tábuas. Mas, como o 
trabalho estava incompleto, elege-se novo decenvirato (do qual 
faziam parte alguns membros do primeiro, e - o que era inovação 
- alguns plebeus), que, em 450 a . C , redige mais duas tábuas, 
perfazendo, assim, o total de 12 (por isso: Lei das XII Tábuas)” 
(MOREIRA ALVES, 2014, p.26). 
 
De início, foram criados dez códigos, porém o projeto estava incompleto e desse modo, 
organizou-se um novo decenvirato para elaborar duas novas tábuas, essas que seriam 
complementares às primeiras. No período de formulação das leis, o decenvirato adquiriu 
poderes militares e civis e suspendeu as magistraturas patrícias e plebeias. 
Diante de tais constatações, DE MARTINO defende: 
 
 “que as dez primeiras tábuas da lei sejam certamente leges 
rogatae e que, tendo em vista que os comícios não tinham o 
poder de emendara lei, esta tenha sido aprovada com algumas 
disposições ainda desfavoráveis à plebe. Quanto às duas últimas 
tábuas, acredita que também estas possam ter sido aprovadas nos 
comícios, mas considera que tal questão ainda esteja “aberta” 
(1951, p.251). 
 
 
Logo após a promulgação das XII tábuas, Ápio Cláudio provocou uma revolta no povo 
para que se rebelasse contra o decenvirato e o destituísse com apoio de Senado. Depois disso, 
com a morte de Virgínia, muitos dos decênviros foram mortos com o consenso da população. 
Logo após esse episódio, foram eleitos dois cônsules M. Valério e M. Horácio que 
publicaram em bronze, o conjunto de leis, denominado por Cícero tabulae iniquae, que foi 
fixado no Fórum Romano para visualização e leitura de todos. 
Assim, as XII tábuas representaram o primeiro documento legal, bem como a 
 
oficialização do Direito Romano, em que a partir deste, surgiram todos os corpos e 
ordenamentos jurídicos do Ocidente. Esse conjunto de leis reúne de forma sistemática todo o 
direito que era vigente na época. Possui uma série de interpretações acerca do direito privado 
e procedimentos, estabelecendo a família e rituais como negócios formais. O texto oficial foi 
perdido quando Roma foi incendiada em 390 a.C. Atualmente, restam apenas fragmentos não 
oficiais realizados por historiadores e outros autores. 
 
2.2 Reconstituição do texto da lei das XII tábuas 
 
Considerando-se que o texto oficial da Lei das doze tábuas foi perdido, muitos 
historiadores, desde o Medievalismo, procuram reconstituir o tema das leis. Dessa maneira, 
todo o conteúdo que se tem acerca da Lei das doze tábuas é fruto do trabalho árduo de muitos 
pesquisadores que realizaram e realizam diariamente estudos regenerativos, utilizando 
referências e estudos elaborados por juristas, poetas e estudiosos romanos do conteúdo da lei. 
Essas referências ajudam na localização e no conteúdo dos dispositivos da Lei. As 
tábuas originais foram exibidas em praça pública para que os habitantes pudessem tomar 
conhecimento, porém logo após sessenta anos foram queimadas no episódio em que a cidade 
de Roma foi incendiada pelos gauleses. 
Desse modo, o que ajudou efetivamente e de maneira grandiosa foi a tradição oral a 
perpetuar o conteúdo das leis em todos os lugares, como por exemplo, nas escolas primárias 
de Roma. Esse processo de reconstituição da Lei das doze tábuas se deu a partir de 1515, 
quando vários romanistas decidiram estabelecer uma classificação por tábuas e leis, 
considerada como elemento essencial da reconstituição da Idade Moderna. 
Nessa perspectiva, por meio dos relatos de Gaio, sobre a forma como as leis estavam 
organizadas, concluiu-se que os livros estavam divididos em seis e cada livro apresentava um 
comentário de duas tábuas. Entretanto, há romanistas que acreditam que cada tábua se 
referisse a cada lei. Nesse sentido de divergências de opiniões acerca da divisão da Lei e do 
conteúdo da mesma, alguns historiadores acreditam que o decenvirato não seguiu uma ordem 
lógico-jurídica no processo de sistematização das normas, pois para esses romanistas, essas 
conclusões possam ser ilusórias e erradas. 
Neste âmbito, mesmo com todas as dificuldades acerca do processo de reconstituição do 
conjunto de leis que vigoraram na Roma Antiga e foram as primeiras a tornar o Direito 
romano oficial, observa-se que o decenvirato e a as doze tábuas é legítimo. Além disso, sabe-
se que a Lei das Doze Tábuas consistia acerca da organização e procedimento judicial, 
 
normas para os inadimplentes, poder pátrio, sucessão e tutela, propriedade, servidões, delitos, 
direito público e direito sagrado, além de alguns assuntos complementares. 
 
 
2.3 Conteúdo da lei das XII Tábuas 
 
No que diz respeito ao seu conteúdo, o texto originário não chegou até nossos dias de 
forma completa, senão alguns fragmentos transcritos por literários e jurisconsultos 
(MOREIRA ALVES, 2014, p.26). 
Embora algumas poucas alterações na ortografia e morfologia de certas palavras, 
Talamanca (1990, p.100) comenta que o texto das XII Tábuas de que dispunham os romanos 
nos últimos dois séculos da República e no Principado era substancialmente autêntico ao 
original. 
Nesse sentido, muitos historiadores acreditavam que a lei das XII tábuas era fonte do 
direito público e privado, embora apresentassem apenas alguns dispositivos sobre estes. Com 
base nisso, é substancial fazer uma pequena abordagem superficial do conteúdo da lei das XII 
tábuas, mediante a reconstrução de seu texto. 
A primeira tábua trata dos aspectos processuais, do comparecimento do réu, da 
resolução de litígios e do acordo entre as partes. A segunda tábua diz respeito aos furtos, 
roubos e assaltos e suas classificações quanto ao agente cuidam também do abatimento das 
arvores de outrem. A terceira tábua expõe sobre as relações entre credores e devedores e do 
abatimento das dívidas e punições caso não haja abatimento. A quarta tábua dita sobre o 
pátrio poder e a legitimidade dos filhos. A quinta tábua discorre sobre o direito de herança, 
tutela e sucessão. A sexta tábua assenta sobre direitos de propriedade e posse, como também 
contém disposições de natureza familiar e obtenção de direitos como o manus pelo tempo de 
convivência entre homem e mulher. 
A sétima tábua trata das punições de alguns dos principais ilícitos do âmbito privado, 
como caso de dano causado por animal, bem como a pena de morte para quem incendiar casas 
ou campos de trigo próximos a uma casa e sobre as punições contra ofensas à integridade 
moral. A oitava tábua estabelece direitos prediais, de posse de frutos e poda de arvores com 
mais de quinze pés. A nona tábua estabelece direitos políticos, discorre sobre a não existência 
de privilégios em leis, sobre a recuperação dos direitos daqueles que tiveram suas dívidas 
quitadas, e a principal disposição desta tábua é a instituição de uma jurisdição popular. 
A décima tábua relata sobre o direito sacro. Estabelece que os mortos sejam enterrados 
fora dos limites da cidade, a vestimenta do cadáver, e o comportamento em funerais. As 
 
tábuas décima primeira e décima segunda discorrem sobre diversas normas como a proibição 
do casamento entre patrícios e plebeus, “que a vontade do povo tenha força de lei” (Tábua 
XI). A décima segunda trata sobre a posse do escravo que cometeu delitos com o 
conhecimento de seu patrono. 
 
2.4 Pátrio poder e poder estatal na Roma das XII Tábuas 
 
Com o advento da República Romana e com a elaboração de um código escrito com o 
propósito de romper a desigualdade civil entre os membros constituintes da sociedade 
romana, é comum o pensamento de que as antigas gens, organizações familiares comandadas 
pelo pater, extinguiram-se, porém pelo contrário, a Lei das XII Tábuas fundamentou em suas 
normas várias ações relacionadas ao poder do pater, ora lhe conferindo a garantia de um 
poder, ora restringindo um poder que outrora fora absolutamente seu. 
Nesse interem, é preciso aprofundar a ideia do que era a família e a extensão desta que 
eram as gentes, tais grupos eram formados por laços de sangue e o detentor do poder absoluto 
era o indivíduo mais velho do sexo masculino, esse possuía a Dominica potestas, que consiste 
no poder sobre seus descentes e sobre seus escravos, a manus que dizia respeito ao poder 
sobre todas as integrantes do sexo feminino, ou seja, tanto sua esposa, quanto as esposas de 
seus filhos, e possuía também o dominium que consistia no poder quanto aos bens materiais. 
Desse modo, é equívoco pensar que o poder do pater era exercido de uma forma 
unilateral, quando na verdade, dependia de a quem se direcionava o ordenamento. 
Como fora dito inicialmente, a Repúblicae a Lei das XII Tábuas não anulava o caráter 
que o pater possuía anterior à invasão dos etruscos, o código de leis reafirma tal poder e 
limita em determinados casos, visto que a sociedade romana estava enquadrada no regime 
republicano, visto isso, alguns casos ilustram a afirmação do poder ou limitação deste por 
parte do pater, podemos citar a venda de um filho (ius vendendi) que consistia na perda de 
“poder” sobre esse filho caso o mesmo fosse vendido pela terceira vez, essa venda era 
justificada caso algum desses filhos cometessem um delito, visto que os descendentes do 
pater não possuíam autonomia jurídica para responder por seus delitos, os mesmos eram 
direcionados àquele e caso a sanção fosse de cunho pecuniário, a venda do filho seria 
justificada como forma de cumprimento da sanção estabelecida. 
Analisando essa restrição do poder do pater nesse caso, Cantarella (2003) pontuou o 
fato de que os censores analisavam os casos recorrentes em que os patres haviam escravizado 
seus filhos de forma humilhante e proibiam a ascensão desses ao Senado, como forma de 
 
punição. 
Outro fato abordado no código normativo das XII Tábuas, mais especificadamente na 
Lex XII Táb. IV, 4, afirma a legitimidade de um filho que nascera no décimo mês após a 
separação de seus genitores, mais uma vez limitando de certa forma a soberania do patre, já a 
Lex XII Táb IV, 2, afirmava o poder absoluto do pater quanto ao direito de vida e morte (ius 
vitae ac necis) sobre quaisquer descendentes. 
Na Lex XII Táb. XI, 1 é abordada a questão do casamento por usucapião, tal fato 
consistia em uma “venda” fictícia, onde o marido “comprava” sua esposa, e com o uso do 
princípio jurídico do usucapião, ela passava a se tornar sua propriedade ao fim de um certo 
período. Visto isso, dependendo do poder aquisitivo de um plebeu, o mesmo poderia adquirir 
poder marital pela usucapião, mesmo que o ius conubium fosse vedado, logo, a norma 
presente na Lex XII Tab. XI, 1 possuía pouca eficácia, porém nos conceitos de kelsenianos, 
não se reduzia à observância visto que em alguns casos, era válida. 
Retornando a um dos poderes concedidos ao pater, o dominium, que diz respeito ao 
poder em relação aos bens materiais, a noção de proprietas significa o poder jurídico absoluto 
e exclusivo sobre uma coisa corpórea. Partindo do ponto que Roma ao estabelecer o regime 
republicano o fez por conta das inúmeras transformações sociais de sua sociedade, surge 
também em função dessas transformações o ager privatus, a propriedade privada, que servia 
como parâmetro à classificação social censitária que se gerenciava. 
Ao passo que há o surgimento da propriedade privada, criam-se conjuntamente as 
relações entre os proprietários, que por questão de ordem precisavam ser regulamentadas, 
algo que fora possível com o advento da Lei das XII Tábuas, e também se vê a importância de 
um organismo que não se restringe ao plano gentílico, daí surge o poder estatal que 
reconhecia e fazia a guarda da propriedade privada. Ilustrando a facticidade do homem de 
dispor de seus bens da maneira que lhe era interessante, a questão da sucessão das terras não 
públicas só era atribuída ao pater ou seus sui heredes caso não houvesse ausência de 
testamento, nesse ponto já se vislumbrava um enfraquecimento do sistema dos gens e como 
Weber (1999, p.14) afirmou “a Lei das XII Tábuas encaixava-se nos conceitos de liberdade 
contratual, garantindo aos cidadãos proteção contra terceiros no que concerne à disposição 
sobre a propriedade”. 
A Roma do século V caracterizou-se pelo “fazer Direito” que antes era reservado às 
instituições sociais específicas, a Lei das XII Tábuas expressa o aumento da ação penal por 
parte do Estado, ao passo que absorve delitos antes julgados e sancionados apenas pela figura 
do pater, e atribui deveres a essa mesma figura. Embora aparentemente traga à noção de 
 
revolução, esse código normativo criado, como afirma Machado Neto (1987, p.167) “possuía 
um papel conservador que legitimava o poder político”. 
Com base nisso, vale destacar a situação das cidades, em que nas palavras de 
Antiqueira: 
“Posto assim, quanto mais a cidade se alterava, mais o direito 
se adequava às novas condições, fenômeno este que 
vislumbramos na codificação da Lei das XII Tábuas, por 
intermédio das medidas referentes ao pátrio poder e à 
conseqüente tentativa de delimitação de sua amplitude. Uma 
vez que as leis conferiam ao pater certos papéis na 
comunidade, as implicações destes foram traçadas de modo 
estrito. Isso não significa, porém, que na civilização romana as 
relações entre pais e filhos desconhecessem modos de 
afetividade”. (ANTIQUEIRA, 2007, p.15). 
 
 
2.5 O “fim” da desigualdade civil entre plebeus e patrícios com a Lei das XII 
Tábuas. 
 
O objetivo da criação da Lei das XII Tábuas visou primordialmente a redução do 
domínio das normas por parte dos patrícios e dos pater. Esse objetivo fora alcançado, se 
observássemos a partir do prisma de que a escrita possibilitou uma maior veracidade à lei e 
reduziu a quantidade de mudanças que seriam realizadas caso a mesma ainda fosse oral. 
Desse modo, os plebeus adquiriram esse benefício com a elaboração da Lei das XII 
Tábuas, porém, sabe-se que o domínio da escrita e da leitura era quase que exclusivamente 
uma vantagem nos nobres de Roma, dessa forma, os plebeus permaneceram em desvantagem 
no que diz respeito ao pleno entendimento das normas estabelecidas naquele código. 
Ademais, a Lei das XII Tábuas possuiu um papel inovador e revolucionário ao atribuir 
direitos e deveres a quem antes não possuía, como por exemplo, o casamento plebeu pelo 
princípio jurídico da usucapião, que já fora citado no tópico Pátrio Poder e Poder Estatal na 
Roma das XII Tábuas deste trabalho, e a restrição ao poder do pater limitando as formas as 
quais o mesmo poderia vender membros de sua família. 
Um código que abrangia as camadas sociais da sociedade romana era um dos sinais de 
avanço na luta pela igualdade, posterior a elaboração da Lei das XII Tábuas e por conta desse 
código, muitas outras revoluções sociais foram estabelecidas e ao longo dos séculos em Roma, 
a plebe adquiriu mais direitos civis e posteriormente políticos, ocupando cargos antes 
reservados apenas aos patrícios e instituindo comícios exclusivos de seu domínio. 
 
 
 
2.6 A Lei das XII Tábuas e o Código Civil Brasileiro 
 
É perceptível que no código civil brasileiro de 2002, o que se assemelha ao pátrio poder, 
no código brasileiro é representado pelo poder familiar. Este fenômeno acontece devido ao 
princípio da igualdade presente no artigo 5° da constituição federal. 
A Tábua IV fala sobre o poder do pater sobre seus submissos (a mulher e os filhos). Em 
primeira análise, diz que é permitido ao pai matar o filho que nasceu disforme, mediante o 
julgamento de cinco vizinhos. Em segunda análise, diz que o pai terá sobre os filhos nascidos 
de casamento legitimo o direito de vida e de morte e o poder de vendê-los. Além disso, diz 
que se o pai vender o filho três vezes, esse não recai mais sob seu poder paterno. 
Nesse interem, é observável que o pater detinha sobre os filhos o poder de decisão da 
vida e da morte, porém, observa-se no terceiro tópico que o poder do pater não era de caráter 
ilimitado, podendo ser superado ou cassado pelo estado e transferido ao próprio filho o poder 
de decidir sobre sua própria vida. Observa-se os reflexos desse poder no código civil Art. 
1630 do C.C. parágrafo único, “Os filhos estão sujeitos ao poder familiar enquanto menores”, 
sendo os filhos submetidos aos cuidados e guarda dos pais, e os pais por sua vez responsáveis 
pelos seus filhos. 
Assim como o pátrio poder era limitadoo poder familiar também pode ser extinto em 
caso de abuso dos pais, o não cumprimento de suas obrigações e de algum modo causar 
destruição dos bens de seus filhos. Com base nessa afirmativa, relaciona-se com o Art. 1635 
do CC. “Extingue-se o poder familiar”, II- “pela emancipação” nos termos do Art. 5º C.C., 
parágrafo único, “Cessara para os menores a incapacidade”, a suspensão do poder familiar 
ocorre quando à perda desse poder. 
De igual maneira os filhos adotivos foram entendidos como filhos no contexto brasileiro, 
bem como os filhos do pater que não necessariamente eram seus filhos diretos, mas sim 
aqueles que se subordinavam as relações de pátrio poder em uma gens, mesmo igualmente 
submetidos aos deveres e poderes do patriarca. 
Relacionam-se aqui, as disposições dos direitos e deveres dos filhos sem relações 
sanguíneas: Dispondo do Art. 1596 C.C. de 2002 “Os filhos havidos ou da relação de 
casamento ou por adoção, terão o mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer 
designações discriminatórias relativas a filiação”. Não sendo mais discriminando os filhos por 
serem legítimos ou ilegítimos ou por serem adotivos. Pois não se faz mais distinção ou 
classificação dos filhos, este tem direitos iguais. 
Portanto, a Lei Das doze Tábuas é um marco na história do direito por trazer a 
 
codificação daquilo que em sociedade era norma vigente em forma de costume. O Brasil 
tendo herdado do direito português o sistema jurídico entendido como direito continental 
europeu ou civil law, é herdeiro do direito romano. E é possível observar tal correlação nos 
direitos à posse de bens, e como explanados anteriormente, o direito na relação de poder 
familiar. 
 
3. CONCLUSÃO 
 
 
Diante do exposto, a lei das XII Tábuas, considerada um marco na evolução do Direito 
Romano, é apontada como o primeiro registro escrito da letra da lei na civilização romana. 
Dessa forma, como outras leis primitivas, esta lei apresenta penas rigorosas e procedimentos 
severos. Vale destacar que o texto original perdeu-se quando os gauleses invadiram Roma em 
390, chegando aos nossos dias apenas fragmentos escritos de outros autores, de modo que, 
estes foram fundamentais na reconstrução de lacunas de conteúdos. Ademais, mesmo em 
época em que muitas leis adequavam-nas às novas realidades, o respeito às XII Tábuas 
manteve-se consistente. A importância da Lei das XII Tábuas não está relacionada apenas ao 
seu conteúdo, mas muito mais ao seu aspecto simbólico, responsável por fomentar a transição 
da oralidade à textualidade, da insegurança à segurança, do hermético à laicidade. Assim, a lei 
das XII Tábuas retrata as reivindicações populares, fundamentais para sua criação e para as 
conquistas plebéias. Além disso, tal lei reflete muito os corpos jurídicos ocidentais, sobretudo, 
quando sua organização, procedimento judicial, normas gerais, conteúdos sobre propriedade, 
sucessão, tutela, delitos, direito público e sagrado, entre outros, são esboços na construção de 
vários outros códigos. Diante disso, é perceptível que a Lei das XII Tábuas reúne todos os 
direitos que eram praticados durante sua época e tão desejados pelos plebeus. Portanto, por 
ser a primeira lei a ditar normas sobre a eliminação das diferenças de classes, atribuindo a tais 
um grande valor, trouxe certa “igualdade” política entre a população romana, o que foi 
fundamental, esta lei foi muito importante, não apenas a história de Roma, mas para toda a 
posteridade, uma vez que sua veridicidade e substancialidade permaneceram inabaláveis no 
decorrer dos séculos. 
 
REFERÊNCIAS 
 
ANTIQUEIRA, M. Pátrio poder e poder estatal na Roma das XII Tábuas. Disponível em: 
<https://www.tjrs.jus.br/export/poder_judiciario/historia/memorial_do_poder_judiciario/memorial_jud
iciario_gaucho/revista_justica_e_historia/issn_1677065x/v7n13/PATRIO_PODER_E_PODER_ESTA
TA__NA_ROMA_DAS_XII_TABUAS.pdf>. Acesso em: 31 Maio 2017. 
 
 
AGATI, M. E. M. A Lei das XII Tábuas. Disponível em: < http://docslide.com.br/documents/a-lei-
das-12-tabuas.html>. Acesso em: 30 Maio de 2017. 
 
 
ALBERGARIA, B. Histórias do Direito – Evolução das Leis, Fatos e Pensamentos, 2ª ed. São Paulo: 
Editora Atlas. 
 
 
CANTARELLA, E. Fathers and sons in Rome. The Classical World , New York, vol. 96, n. 3, p.281-
298, 2003. 
 
 
DE MARTINO. Storia della Costituzione Romana, Napoli, Jovene, vol. I, 1951, 
 
 
DINIZ, M. L. Curso de Direito Civil Brasileiro. 5º volume: Direito de Família / Maria Helena Diniz, 
- 21ª ed. rev. e atual. De acordo com o novo Código Civil (Lei n. 10.406, de 10-01-2002) e o Projeto 
de Lei n. 6.960/2002. – São Paulo: Saraiva, 2006. 
 
 
GONÇALVES, C. R. Direito Civil Brasileiro. 6º volume: Direito de Família / Carlos Roberto 
Gonçalves, - 5ª ed. rev. e atual. – São Paulo: Saraiva, 2008. 
 
 
MACHADO NETO, A. L. Sociologia jurídica. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 1987. 
 
 
MOREIRA ALVES, J. C. Direito Romano. 16ª ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2014. 
 
 
SERRAO, Classi, Partiti e Legge nella. Repubblica Romana, Pisa, Pacini. 
 
 
TALAMANCA, Istituzioni di Diritto Romano, Milano, Giuffrè, 1990. 
 
 
WEBER, M. História Agrária Romana. Tradução Eduardo Brandão. São Paulo: Martins 
Fontes,1994..

Continue navegando