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Disciplina: Química Orgânica I Professor: Influência estrutural no princípio ativo do anestésico local 06 de novembro de 2017. 2 Sumário 1. Introdução ....................................................................................... 3 2. Estrutura dos ALs ........................................................................... 4 3. Conclusão ....................................................................................... 8 4. Referência Bibliográfica .................................................................. 9 Figura 1: Estrutura de AL com ligação éster ............................................ 4 Figura 2: Estrutura de AL com ligação amida .......................................... 4 Figura 3: AL extremamente hidrofóbico ................................................... 5 Figura 4: AL pouco hidrofóbico ................................................................ 5 Figura 5: AL moderadamente hidrofóbico ................................................ 5 Figura 6: Protonação de AL com ligação amida ...................................... 7 Figura 7: Protonação de AL com ligação éster ........................................ 8 3 1. Introdução O primeiro anestésico local utilizado foi a cocaína, que provém das folhas da coca. Após o seu isolamento, foi constatado suas propriedades anestésicas o que levou a sua ampla utilização, porém anos mais tarde, experiências demonstraram seu grande potencial para desenvolver dependência química, levando a sua proibição. Com isso, surgiu a necessidade de desenvolver anestésicos sintéticos com propriedades análogas à cocaína (ARAUJO, Daniele Ribeiro, 2008). Atualmente, os anestésicos locais (AL) são amplamente utilizados e consistem, quimicamente, por grupos orgânicos como amino ésteres, amino amidas, entre outros, localmente aplicadas para impedir temporariamente a condução do estímulo nervoso em várias situações, desde uso em queimaduras até procedimentos cirúrgicos de grande porte (SCHULMAN, Joshua M.,2013). Os ALs atuam sobre o nervo periférico que é composto por diferentes tipos de fibras nervosas envolvidas por três membranas protetoras, epineuro, perineuro e endoneuro, que são compostas de tecido conjuntivo e membranas celulares. As moléculas do anestésico devem ultrapassar as membranas protetoras antes de alcançar as neuronais pois eles são injetados fora da camada mais externa (epineuro) para evitar lesão mecânica do nervo pela agulha. A ação do fármaco não é seletiva para as fibras de dor pois bloqueiam também outras fibras sensoriais, motoras, autônomas e potenciais de ação nos músculos esquelético e cardíaco, pois todas elas estão contidas em um mesmo nervo periférico (SCHULMAN, Joshua M.,2013). 4 2. Estrutura dos ALs A estrutura típica de um anestésico local é formada por um grupo aromático, cuja estrutura influencia à hidrofobicidade do fármaco, um grupo amina, que determina a velocidade de início e a potência do medicamento e por um grupo éster ou amida, que une os dois grupos anteriores e é responsável pela duração da ação e dos efeitos colaterais (SCHULMAN, Joshua M.,2013). Anel Aromático A hidrofobicidade de um anestésico, determinada principalmente pelo anel aromático e também pela cadeia de hidrocarbonetos presente entre os grupos, facilita que o fármaco atravesse as membranas das células nervosas. Os ALs pouco hidrofóbicos não são capazes de permear eficientemente a dupla camada lipídica que compõe a membrana celular, ficam, então, retidos, em sua maioria, ao ambiente extracelular. Os extremamente hidrofóbicos são retidos na dupla camada lipídica. Já os moderadamente hidrofóbicos são os ALs mais efetivos tendo em vista que se distribuem e difundem na membrana e depois se dissociam. Portanto, compostos que são lipossolúveis de forma adequada penetram mais facilmente a membrana celular para exercer seu efeito. Quanto mais equilibrada for sua propriedade hidrofóbica, mais potente será o AL e menor será a quantidade que deverá ser ministrada para causar o efeito requerido (EDGCOMBE, Hilary). Figura 1: Estrutura de AL com ligação amida(ARAUJO, Daniele Ribeiro, 2008). Figura 2: Estrutura de AL com ligação éster(ARAUJO, Daniele Ribeiro, 2008). 5 Amina As aminas são responsáveis pela hidrofilia do composto, sendo que sua forma protonada gera essa característica. O fármaco deve apresentar pKa na faixa de 8 a 10 (característica de uma base moderadamente fraca) pois tendo em vista que o pH fisiológico está em torno de 7,4, um valor de pKa muito elevado representaria uma base forte fazendo com que a amina exista, em sua maioria, na forma protonada (segundo teoria de Brönsted-Lowry) o que dificultaria as propriedades hidrofóbicas do composto, impedindo sua penetração na camada lipídica. Já para valores de pKa muito baixos, dificilmente a amina assumiria a forma protonada que é necessária para que Figura 4: AL extremamente hidrofóbico(SCHULMAN, Joshua M.,2013). Figura 3: AL pouco hidrofóbico(SCHULMAN, Joshua M.,2013). Figura 5: AL moderadamente hidrofóbico(SCHULMAN, Joshua M.,2013). 6 ocorra afinidade com o sítio alvo do fármaco. Portanto, as bases moderadas são ideais, pois ajudam o composto a atravessar a camada lipídica, em sua forma neutra, e uma vez na célula nervosa, assume forma protonada ajudando na ativação do composto (EDGCOMBE, Hilary). Amida e éster Os grupos amida e éster são fundamentais para o princípio de ação do anestésico local e ambos agem quando em forma ionizada, pois os ALs ligam- se de modo específico a proteína canal de sódio, impedindo-os de despolarizar a célula, ou seja, seria a responsável pelo efeito anestésico (ligação direta no canal). Essa ligação especifica ocorre no meio intracelular, por isso é necessário que o AL ultrapasse a membrana plasmática para então bloquear os canais de sódio, sendo assim, restaria à forma neutra dos ALs (a mais hidrofóbica) a função de facilitar a penetração dos anestésicos nas membranas (ARAUJO, Daniele Ribeiro, 2008). A forma como os ALs interagem com as proteínas do canal de sódio, o qual é responsável pela propagação de impulsos elétricos que propiciam a comunicação no sistema neural (DE CASTRO, Fábio, 2012), ainda não é conhecida, mas acredita-se que ocorra uma interação com os componentes lipídicos da membrana para que ocorra fechamento do canal através de mudanças na conformação da estrutura do canal, sendo esta conhecida como hipótese lipídica. Outra hipótese para a forma como os ALs funcionam indica que ocorrem interações em diversos sítios do canal de sódio com cada parte da molécula do anestésico, sendo tais interações favorecidas pela conformação do composto. Essa última indica também que o anestésico pode ter efeito com diferentes estados conformacionais do canal e não somente o inativo (ARAUJO, Daniele Ribeiro, 2008). Dependendo do grupo presente, algumas características da molécula podem mudar. A ligação éster é mais fácil de ser quebrada que a amida, sendo assim, os ésteres são mais instáveis em solução, consequentemente não podem ser armazenados por muito tempo. Outra diferença é o metabolismo desses dois grupos, o do éster resulta na produção de ácido para- aminobenzóico, que pode causar reações alérgicas, enquanto que as amidas 7 são termoestáveis (resistentes à temperatura) e pouco causam reações alérgicas. Essa diferença pode ser exemplificada pela gravidez, como o éster é rapidamente metabolizado, a sua concentração na circulação não é suficiente para ultrapassar a placenta, já a amida tem maior tendência a transpassar, além disso, as amidas com menor grau de ligação proteica atravessam em maior quantidade (ARAUJO, Daniele Ribeiro, 2008). O comprimento da cadeia intermediária que liga o anel aromático ao grupamento amina, e o grau de ligação proteica do composto são responsáveis pela duração dos efeitos do AL. Para cada fármaco, o grau da ligação proteica garante maior tempo de duração de forma diretamente proporcional, ou seja, quanto maior o grau da ligação, maior será o efeito do composto assim como seus efeitos colaterais. Por exemplo, o grau de ligação proteica da lidocaína é 65% enquanto o da bupivacaína é 95%, então esta última possui efeitos mais duradouros (EDGCOMBE, Hilary). Figura 6: Protonação de AL com ligação amida (SCHULMAN, Joshua M.,2013). 8 3. Conclusão Observe-se, portanto, dependência estrutural para atividade do fármaco que será empregado como anestésico. A capacidade de penetração do composto na camada lipídica é dependente de características ligadas ao grupo aromático presente no composto, sendo também vinculada a estrutura da cadeia carbônica que liga os grupos presentes na molécula. O número de carbonos que está presente nas cadeias afeta diretamente os grupos amina e amida ou éster uma vez que o efeito do tamanho da cadeia acentua a capacidade de protonação das aminas e na força das ligações proteicas. Observa-se que o comportamento químico de um produto está fundamentalmente vinculado a sua estrutura, não somente no que diz respeito aos grupos, mas também no que se refere as características de arranjo molecular entre os tais grupos afetando consideravelmente a forma como cada um deles afetará as propriedades de ação do composto. Figura 7: Protonação de AL com ligação éster (SCHULMAN, Joshua M.,2013). 9 4. Referência Bibliográfica ARAUJO, Daniele Ribeiro; DE PAULA, Eneida. Anestésicos locais: interação com membranas biológicas e com o canal de sódio voltagem-dependente. Quim. Nova, vol. 31, no. 7, 1775-1783. 2008. Disponível em: http://submission.quimicanova.sbq.org.br/qn/qnol/2008/vol31n7/31- RV06506.pdf?agreq=priloca%C3%ADna%20estrutura&agrep=jbcs,qn,qnesc,qn int,rvq. Acesso em: 25 out. 2017. DE CASTRO, Fábio. Cientistas descobrem funcionamento de canais de sódio. 1ª. Disponível em: < https://exame.abril.com.br/ciencia/cientistas-descobrem- funcionamento-de-canais-de-sodio/>. Acesso em: 09 nov. 2017. EDGCOMBE, Hillary; HOCKING, Graham. Farmacologia dos anestésicos locais. Disponível em: http://grofsc.net/wp/wp- content/uploads/2013/05/Farmacologia-dos-anestesicos-locais.pdf. Acesso em 25 out. 2017. SCHULMAN, Joshua M.; STRICHARTZ, Gary R. Farmacologia dos anestésicos locais. 2013. Disponível em: http://leg.ufpi.br/subsiteFiles/lapnex/arquivos/files/Farmacologia%20dos%20ane stesicos%20locais.pdf. Acesso em: 25 out. 2017.
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